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ESCUELA DE LENGUAS
Por sua vez, os dez comentários (cinco da notícia em português e outros cinco da
notícia em espanhol) foram escolhidos devido a que os consideramos representativos da
escolha linguística empregada, em caraterizadores situacionais, pelos comentaristas para
retomar possíveis substantivos/referentes como “presidente/mandatário” e
“professor/acadêmico”, respetivamente, e, ao mesmo tempo, se manifestar contra Macri
e contra Bagno. Julgamos pertinente esclarecer que os comentários seletados são todos
em oposição às posturas deles posto que, no caso de Macri, nos cinco comentários a
favor dele só encontramos casos de substituição por elipse (“Es una verdad muy
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Termo proposto por Irandé Antunes para se referir às expressões descritivas.
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dolorosa la que dice ”2) e de caraterização situacional, mas empregando os mesmos
termos que na notícia, a saber: “Macri”, em duas instâncias, e “o Presidente”, em outras
duas. Já nos comentários da notícia de Bagno, só houve um comentarista que apoiou sua
postura mas empregou um caso de mecanismo de substituição gramatical (“Concordo
com tudo que ele disse”3).
Objetivos
Resenha Bibliográfica
2
Comentário disponível em: https://www.clarin.com/sociedad/furcio-macri-referirse-
educacion-publica_0_B1Xz_RAjl.html.
3
Comentário disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/marcos-bagno-
o-avesso-de-um-intelectual/pagina-comentarios-9/#comments.
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correntes linguísticas na hora de analisar e compreender um texto, como são, por um
lado, o lugar e momento de produção, o suporte no qual esse texto circula, o emissor e o
receptor e, por outro lado, o âmbito social, a finalidade, o enunciador e o destinatário.
Tais unidades inscrevem-se num gênero, o qual é definido por Miranda como
“instrumentos disponíveis e necessários para a organização do uso da linguagem em
unidades de comunicação, ou seja, em textos. Nesse sentido, todo texto é produzido e
interpretado a partir de ‘modelos de gêneros’ que os agentes (produtores e receptores)
conhecem e reconhecem.” (Miranda, 2017: 815-816). Depreende-se dessa definição que
cada “modelo” possui uma certa estabilidade em relação a suas caraterísticas, o que
permite ao produtor escolher o gênero apropriado para cada situação de comunicação.
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Em relação ao mecanismo de coesão, a linguista Irandé Antunes precisa: “A
substituição a que chamei de caracterização situacional tem a particularidade de
retomar um referente textual por meio de uma expressão que funciona como uma
descrição desse referente, conforme o que é relevante focalizar na situação concreta da
enunciação.” (Antunes, 2005: 109, grifo da autora). O uso desse mecanismo não é
exclusivo do gênero analisado, mas pela espontaneidade e pelo fato de que os
comentários surgem como reação a outro texto, não é inusual o emprego de
caraterizadores situacionais por parte dos comentaristas no intuito de acrescentar
informações sobre um determinado referente textual.
Descrição do gênero
A partir das leituras realizadas na disciplina, seria possível afirmar que cada
texto é único, em razão de que é produzido em circunstâncias sociohistóricas
particulares, com um objetivo singular, num contexto determinado, no qual intervêm
enunciadores e destinatários dos mais variados, que têm a necessidade de abordar
conteúdos temáticos específicos, conforme sugere Bronckart, “todo novo texto empírico
[…] é necessariamente construído com base no modelo de um gênero, isto é, ele
pertence a um gênero.” (Bronckart, 2003: 138).
No tocante aos elementos que rodeiam o corpo do texto, eles dependem de cada
portal. Habitualmente contém, na margem superior esquerda, um avatar ou uma imagem
escolhida pelo usuário que faz o comentário e, se o usuário não escolheu nenhuma
imagem, aparece de maneira predeterminada um perfil cor cinza. Em coocorrência com
a imagem, há um nome ou pseudônimo que o usuário pode definir, o qual pode ser real
ou fictício, e que está em negrito ou destaque em relação ao corpo do texto. No caso dos
usuários que ingressam desde alguma rede social, como Twitter, Google+ ou Facebook,
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o nome e a imagem que os identifica se corresponde com aqueles previamente seletados
nessas redes e, em alguns portais, no canto inferior direito da imagem figura o símbolo
dessa rede social. A continuação da imagem e do nome, em geral se expõe em que
momento se publicou o comentário. Tal informação pode aparecer expressada com a
data e hora de publicação ou com a quantidade de dias ou anos que passaram desde a
postagem.
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sendo, um portal de alcance limitado, como uma cidade pequena, provavelmente só
receba comentários produzidos nessa mesma cidade, enquanto portais de alcance
nacional ou mundial vão receber comentários de usuários de diversas partes do país ou,
incluso, do mundo. Não obstante, isso não significa que um jornal digital da Argentina
receberá comentários produzidos exclusivamente na Argentina, posto que existe a
possibilidade de que comentem usuários argentinos que moram em outros países ou
usuários de outras partes do mundo que leem as notícias desse jornal. Prosseguindo para
o momento de produção, é necessariamente posterior à data de publicação da notícia da
qual depende. Normalmente, se atinge a maior quantidade de comentários na data de
publicação da notícia ou nos dois ou três dias posteriores.
No que concerne ao conteúdo temático do gênero, ele pode incluir tanto opiniões
pessoais a favor como contra a notícia, sobre sua relevância ou não no jornal, ou sobre
outras questões que o usuário julgue relevantes. O conteúdo está estreitamente ligado à
finalidade do comentário, a qual pode se manifestar a favor ou contra a notícia,
expressar uma opinião, persuadir, debater com outros comentaristas, gerar consciência,
polemizar, entre outras.
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de termos e condições que os usuários devem acatar no momento de postar os
comentários. Essas regras de conduta incluem, entre outras, a abstenção do emprego de
vocabulário obsceno, discriminatório, abusivo e ofensivo. Em consequência, os
comentaristas devem monitorar minimamente suas produções a fim de evitar que sejam
bloqueados.
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Revolução Francesa, que valorizam a opinião e o debate, que surgem os géneros de
opinião ou de comentário, “géneros que no presente se designam de editorial, carta do
leitor e comentários.” (Teixeira, 2016: 10, grifo da autora).
Análise do corpus
Contexto físico
Receptor: qualquer pessoa que tenha acesso a essa notícia postada na versão online de
Diario Clarín.
Contexto sócio-subjetivo
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Finalidade/s: informar sobre a controvertida declaração do Presidente em relação à
escola pública.
Comentário 1:
Contexto sócio-subjetivo
Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online do Diario Clarín, contra a
declaração do Presidente.
Finalidade/s: manifestar que, em sua opinião, o Presidente não cometeu um erro, senão
que isso é o que realmente pensa da educação pública.
Comentário 2:
Contexto sócio-subjetivo
Papel social do emissor (enunciador): leitora da versão online do Diario Clarín, contra a
declaração do Presidente.
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Finalidade/s: deixar em evidência que as escolas privadas também têm falências e as
falhas do Presidente no momento de se expressar.
Comentário 3:
Contexto sócio-subjetivo
Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online do Diario Clarín, contra a
declaração do Presidente.
Comentário 4:
Contexto sócio-subjetivo
Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online do Diario Clarín, contra a
declaração do Presidente.
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Comentário 5:
Contexto sócio-subjetivo
Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online do Diario Clarín, contra a
declaração do Presidente.
Contexto físico
Receptor: qualquer pessoa que tenha acesso a essa notícia postada na versão online da
revista Veja.
Contexto sócio-subjetivo
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Finalidade/s: informar sobre as controvertidas postagens do professor Marcos Bagno no
Facebook e revelar sua questionável personalidade aos leitores da revista.
Comentário 1:
Contexto sócio-subjetivo
Papel social do emissor (enunciador): leitora da versão online da revista Veja, contra a
postagem de Bagno.
Comentário 2:
Contexto sócio-subjetivo
Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online da revista Veja, contra a
postagem de Bagno.
Comentário 3:
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Contexto sócio-subjetivo
Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online da revista Veja, contra a
postagem de Bagno.
Comentário 4:
Contexto sócio-subjetivo
Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online da revista Veja, contra a
postagem de Bagno.
Comentário 5:
Contexto sócio-subjetivo
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Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online da revista Veja, contra a
postagem de Bagno.
Depois de realizar a análise dos textos, e levando em conta que nos portais
seletados se proíbe o emprego de linguagem obscena, poderíamos alegar que tanto em
espanhol rio-platense como em português brasileiro, os comentaristas de notícias se
valem, na maioria dos casos, de vocábulos de uso cotidiano mas num sentido pejorativo
para se manifestar contra as pessoas em questão. Assim sendo, nos textos analisados, se
empregam palavras cotidianas relacionadas com o reino animal ou vegetal mas que, sem
dúvida, tem valor de insulto já que fazem alusão à ignorância ou à falta de humanidade
de seus referentes.
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Desta forma, alguns vocábulos que significam “pessoa ignorante” poderiam ser
“alcornoque” e “burro”, e aqueles empregados no sentido de “pessoa bruta, com traços
desumanos”, seriam “especimen” [sic], “monstro”, “criatura” e “verme”. Por sua vez,
não seria absurdo pensar que “bestia” e “besta” encaixam dentro das duas
interpretações. Já no caso de “demente”, é uma palavra utilizada exclusivamente para se
referir a pessoas, mas é possível que o comentarista a empregara, não no sentido de
“pessoa enferme, que sofre de demência”, mas como “pessoa extremamente ignorante
ou com falta de inteligência”.
Após a comparação dos dez textos, é destacável que os usuários de ambos países
recorram a vocábulos semanticamente similares, principalmente relacionados ao reino
animal, para retomar um referente com o qual não concordam e, assim, se manifestar
contra eles. Aliás, cabe salientar que, tanto em português como em espanhol, na maioria
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Disponível em: http://dle.rae.es/?id=J0VULIX|J0X0PpO|J0XH87J.
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dos exemplos analisados se acrescentam determinantes antes dos substantivos
empregados como caraterizadores situacionais. Em português, abundam os pronomes
demonstrativos, como “essa besta”, “essa criatura”, “este verme” e “esse demente”. Em
contrapartida, em espanhol, há apenas dois casos de pronomes demonstrativos (“este
especimen” e “este bestia”) e dois casos de artigos definidos (“el burro” e “el gato”).
Podemos deduzir que os demonstrativos têm o objetivo de denegrir ainda mais a figura
tanto do linguista como do presidente, ao passo que os artigos definidos pretendem
enfatizar o fato de que não é apenas o comentarista que se refere ao referente dessa
maneira, mas a comunidade toda conhece e compartilha esse pensamento.
Considerações finais
Consideramos que é importante levar em conta que, como já foi dito, dado que
nos comentários de notícias se proíbe o uso de linguagem vulgar, os comentaristas
recorrem a termos de uso cotidiano mas num sentido depreciativo. Em consequência,
em muitos casos não é viável realizar uma tradução literal desse termo, como faria uma
máquina, já que não produzirá o mesmo impacto nos leitores da tradução. Por exemplo,
no caso do espanhol “gato”, o emprego do português “gato” não comunicará o sentido
de “ladrão” ou “pessoa endinheirada” próprio do uso coloquial argentino. Nesses casos,
é imperioso pesquisar para conhecer o significado do termo nesse contexto específico.
Levando isso em consideração, uma possível tradução de “gato” para se referir ao atual
presidente da Argentina, poderia ser “mauricinho”, alternativa que se afasta da forma
original mas que mantem sua essência e não se considera linguagem obsceno.
Por último, e após a leitura do material teórico e das diversas análises realizadas
sobre os textos, consideramos que é nem só conveniente mas também necessário
aprofundar e levar em conta todos os aspetos que compõem o contexto de produção de
cada texto de modo de propor traduções que reflitam o sentido do autor original e se
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adequem aos parâmetros de produção dos textos originais, operação essencial para
recuperar o sentido de um texto e que as ferramentas de tradução automática,
afortunadamente, não podem propiciar.
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Referências bibliográficas
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Corpus
Anexo 1:
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DIARIO CLARÍN. “El furcio de Mauricio Macri para referirse a la educación
pública”. Notícia da versão digital do jornal. Disponível em:
https://www.clarin.com/sociedad/furcio-macri-referirse-educacion-
publica_0_B1Xz_RAjl.html. Acesso em 20 de outubro de 2017.
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Anexo 2:
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NARLOCH, Leandro. “Marcos Bagno, o avesso de um intelectual”. Notícia da
versão digital da revista Veja. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-
mitos/marcos-bagno-o-avesso-de-um-intelectual/pagina-comentarios-9/#comments.
Acesso em 20 de outubro de 2017.
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