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FACULTAD DE HUMANIDADES Y ARTES

ESCUELA DE LENGUAS

TRADUCTORADO PÚBLICO DE PORTUGUÉS

LENGUA Y GRAMÁTICA PORTUGUESA III

TRABALHO DE CONCLUSÃO DA DISCIPLINA

Manifestação de caraterizadores situacionais


em comentários de notícias online de jornais argentinos e brasileiros

Professoras: Ricciardi, Natalia


Rubio Scola, Virginia
Aluna: Marcaccini, María Florencia.
flor.marcaccini@gmail.com
Rosário, 20 de outubro de 2017
Introdução

O presente é o Trabalho de Conclusão da Disciplina (TCD) de Língua e


Gramática Portuguesa III, dos cursos de português da Universidad Nacional de Rosario,
e nele pretendemos descrever e analisar comparativa e contrastivamente o emprego de
caraterizadores situacionais1 em comentários de notícias de sites argentinos e
brasileiros. Esse mecanismo costuma cumprir um papel central na coesão e coerência
dos textos. O motivo da escolha do gênero para abordar esse tipo de mecanismo funda-
se no fato de que, devido à referencialidade caraterística dos comentários, assim como
ao grau relativamente baixo de monitoramento (em comparação, por exemplo, a outros
gêneros jornalísticos, como o artigo de opinião ou a notícia) e aos traços do contexto de
produção físico e socio-subjetivo, a caraterização situacional se manifesta por meio de
seleções vocabulares interessantes e diferentes daquelas às quais se recorre
habitualmente no âmbito jornalístico.

Levando isso em consideração, selecionamos o corpus a partir de duas notícias


nas quais se abordam as declarações controvertidas de duas pessoas relevantes no
âmbito da educação. Assim, por um lado, analisaremos os comentários de uma notícia
da versão online da revista Veja que faz referência a uma postagem sobre política em
Facebook do linguista Marcos Bagno e, por outro, os comentários como reação a uma
notícia publicada na versão online do jornal Clarín na qual se apresenta uma frase que o
atual presidente da Argentina, Mauricio Macri, pronunciou no tocante às escolas
públicas.

Por sua vez, os dez comentários (cinco da notícia em português e outros cinco da
notícia em espanhol) foram escolhidos devido a que os consideramos representativos da
escolha linguística empregada, em caraterizadores situacionais, pelos comentaristas para
retomar possíveis substantivos/referentes como “presidente/mandatário” e
“professor/acadêmico”, respetivamente, e, ao mesmo tempo, se manifestar contra Macri
e contra Bagno. Julgamos pertinente esclarecer que os comentários seletados são todos
em oposição às posturas deles posto que, no caso de Macri, nos cinco comentários a
favor dele só encontramos casos de substituição por elipse (“Es una verdad muy

1
Termo proposto por Irandé Antunes para se referir às expressões descritivas.

2
dolorosa la que dice ”2) e de caraterização situacional, mas empregando os mesmos
termos que na notícia, a saber: “Macri”, em duas instâncias, e “o Presidente”, em outras
duas. Já nos comentários da notícia de Bagno, só houve um comentarista que apoiou sua
postura mas empregou um caso de mecanismo de substituição gramatical (“Concordo
com tudo que ele disse”3).

Objetivos

Entre os principais objetivos gerais visamos contrastar e compreender a


caraterização situacional no gênero comentário com a finalidade de identificar como se
manifesta esse mecanismo de coerência em espanhol e em português. Por outro lado,
entre os objetivos específicos buscamos descrever os traços mais relevantes do gênero e
seu plano do texto, que permitem reconhecê-lo como pertencente a esse gênero em
particular. Também, procuramos identificar as condições de produção dos textos e
descrever os contextos físicos e socio-subjetivos de produção. Por último, no intuito de
identificar diferenças ou semelhanças na seleção vocabular presente nos mecanismos de
caraterização situacional empregados para outorgar coerência aos comentários,
contrastaremos ocorrências em espanhol e em português e refletiremos acerca dos
aportes do presente trabalho para a tradução.

Resenha Bibliográfica

A bibliografia escolhida para realizar o trabalho corresponde à de autores


destacados na corrente teórica do Interacionismo Sócio Discursivo (ISD), como
Bronckart, Antunes, Rosa, Miranda, Koch, Teixeira, Ricciardi e Rubio Scola, entre
outros. O motivo dessa escolha é que o ISD, a diferença de outras correntes, como o
estruturalismo, permite enxergar a questão linguística dentro do contexto social e
discursivo, é dizer, levando em conta os parâmetros relacionados às condições de
produção dos textos. Por esse motivo, adotamos o modelo de análise descendente
proposto por Jean-Paul Bronckart em Atividade de linguajem, textos e discursos (2003)
já que resgata de cada texto informações que não são consideradas relevantes por outras

2
Comentário disponível em: https://www.clarin.com/sociedad/furcio-macri-referirse-
educacion-publica_0_B1Xz_RAjl.html.
3
Comentário disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/marcos-bagno-
o-avesso-de-um-intelectual/pagina-comentarios-9/#comments.

3
correntes linguísticas na hora de analisar e compreender um texto, como são, por um
lado, o lugar e momento de produção, o suporte no qual esse texto circula, o emissor e o
receptor e, por outro lado, o âmbito social, a finalidade, o enunciador e o destinatário.

Em relação ao nosso objeto de análise (o texto), Miranda afirma, “a noção de


texto (…) não é estável, rígida e unívoca” (Miranda, 2015: 297), além disso, existem
várias definições de texto, que dependem do autor e da corrente teórica adotada. Não
obstante, para os fins do presente trabalho, acolhemos a definição proposta por Koch e
Travaglia, para quem o texto é uma “unidade linguística concreta (perceptível pela visão
ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em
uma situação de interação comunicativa, como uma unidade de sentido e como
preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente
de sua extensão.” (Koch/Travaglia, 1992: 10). Com isto, interpretamos que o texto é
uma unidade que permite a comunicação entre enunciador e destinatário, e nele se
empregam elementos tanto linguísticos como não linguísticos (como imagens, cores,
música, entoação, entre outros). Como unidade de comunicação ela é empírica, real e
singular por ser produto de uma interação concreta, num contexto específico e com uma
determinada intenção ou sentido.

Tais unidades inscrevem-se num gênero, o qual é definido por Miranda como
“instrumentos disponíveis e necessários para a organização do uso da linguagem em
unidades de comunicação, ou seja, em textos. Nesse sentido, todo texto é produzido e
interpretado a partir de ‘modelos de gêneros’ que os agentes (produtores e receptores)
conhecem e reconhecem.” (Miranda, 2017: 815-816). Depreende-se dessa definição que
cada “modelo” possui uma certa estabilidade em relação a suas caraterísticas, o que
permite ao produtor escolher o gênero apropriado para cada situação de comunicação.

Como já foi estabelecido, no presente trabalho abordaremos as manifestações do


mecanismo “caraterizador situacional” no gênero “comentário de notícia”. Na seguinte
seção aprofundaremos em relação a suas caraterísticas distintivas, mas como bem
apontam Ricciardi e Rubio Scola, o comentário é um “Género escrito, espontâáneo, que
se produce por reacción, y difiere de otros géneros escritos al modificarse
permanentemente (a través de la edición, la corrección o la eliminación).” (Ricciardi e
Rubio Scola, mimeo).

4
Em relação ao mecanismo de coesão, a linguista Irandé Antunes precisa: “A
substituição a que chamei de caracterização situacional tem a particularidade de
retomar um referente textual por meio de uma expressão que funciona como uma
descrição desse referente, conforme o que é relevante focalizar na situação concreta da
enunciação.” (Antunes, 2005: 109, grifo da autora). O uso desse mecanismo não é
exclusivo do gênero analisado, mas pela espontaneidade e pelo fato de que os
comentários surgem como reação a outro texto, não é inusual o emprego de
caraterizadores situacionais por parte dos comentaristas no intuito de acrescentar
informações sobre um determinado referente textual.

Descrição do gênero

A partir das leituras realizadas na disciplina, seria possível afirmar que cada
texto é único, em razão de que é produzido em circunstâncias sociohistóricas
particulares, com um objetivo singular, num contexto determinado, no qual intervêm
enunciadores e destinatários dos mais variados, que têm a necessidade de abordar
conteúdos temáticos específicos, conforme sugere Bronckart, “todo novo texto empírico
[…] é necessariamente construído com base no modelo de um gênero, isto é, ele
pertence a um gênero.” (Bronckart, 2003: 138).

Destarte, entre os elementos relativamente estáveis, ou seja, aqueles que se


manifestam com maior frequência no gênero comentário de notícia e que permitem
identificar um determinado texto como pertencente a esse gênero, nomearemos os
seguintes:

Em relação ao plano do texto, é comum encontrar, no peritexto, um marcador


autorreferencial, geralmente localizado depois da notícia, que introduz a seção. Tal
marcador, inclui a palavra “Comentários” e, em algumas ocasiões contem, entre
parênteses, a quantidade de comentários postados até o momento.

No tocante aos elementos que rodeiam o corpo do texto, eles dependem de cada
portal. Habitualmente contém, na margem superior esquerda, um avatar ou uma imagem
escolhida pelo usuário que faz o comentário e, se o usuário não escolheu nenhuma
imagem, aparece de maneira predeterminada um perfil cor cinza. Em coocorrência com
a imagem, há um nome ou pseudônimo que o usuário pode definir, o qual pode ser real
ou fictício, e que está em negrito ou destaque em relação ao corpo do texto. No caso dos
usuários que ingressam desde alguma rede social, como Twitter, Google+ ou Facebook,

5
o nome e a imagem que os identifica se corresponde com aqueles previamente seletados
nessas redes e, em alguns portais, no canto inferior direito da imagem figura o símbolo
dessa rede social. A continuação da imagem e do nome, em geral se expõe em que
momento se publicou o comentário. Tal informação pode aparecer expressada com a
data e hora de publicação ou com a quantidade de dias ou anos que passaram desde a
postagem.

Em alguns portais, os usuários têm a possibilidade de interagir com os outros


comentaristas. Nesses casos, no canto inferior esquerdo é habitual encontrar opções para
responder um comentário ou compartilhá-lo em outra rede social, assim como para
gostar ou não gostar dele. Aqueles comentários que receberam respostas, usualmente
apresentam um número que indica a quantidade de respostas recebidas, às quais é
possível aceder clicando no número ou na seta para baixo que o acompanha. Também se
indica a quantidade de polegares para cima ou para baixo de cada comentário, que
representa a aprovação ou desconformidade dos outros usuários em relação a esse
comentário.

O corpo do texto, que contém a opinião do comentarista, é muito variável e se


manifesta de maneira escrita, no centro do texto. Seria oportuno salientar que o gênero
escolhido é pouco rígido quanto à extensão, sendo possível encontrar desde comentários
que incluem uma só palavra (por exemplo, “Concordo”) até outros que se estendem
vários parágrafos. No caso dos sites dos quais foram escolhidas as notícias a partir das
quais foram seletados os comentários, o limite é de 1000 caracteres no portal do Diario
Clarín, e de 65525 no portal da revista Veja.

Tendo em consideração os níveis da análise do contexto físico e sociosubjetivo,


podemos indicar que o âmbito social ao qual pertence o comentário de notícia é o
jornalismo. Por sua parte, o suporte é exclusivamente digital já que, logicamente, os
jornais impressos não permitem o tipo de interação própria dos jornais online e, por
conseguinte, não é possível a manifestação desse gênero. O contexto de circulação são
os sites de Internet dos portais de notícias e, graças à opção de compartilhar os
comentários, pode abranger algumas redes sociais como Facebook, Twitter, entre
outras.

Em relação ao lugar de produção, pode variar amplamente mas, em geral,


depende do local de origem ou do alcance do portal no qual se publica a notícia. Assim

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sendo, um portal de alcance limitado, como uma cidade pequena, provavelmente só
receba comentários produzidos nessa mesma cidade, enquanto portais de alcance
nacional ou mundial vão receber comentários de usuários de diversas partes do país ou,
incluso, do mundo. Não obstante, isso não significa que um jornal digital da Argentina
receberá comentários produzidos exclusivamente na Argentina, posto que existe a
possibilidade de que comentem usuários argentinos que moram em outros países ou
usuários de outras partes do mundo que leem as notícias desse jornal. Prosseguindo para
o momento de produção, é necessariamente posterior à data de publicação da notícia da
qual depende. Normalmente, se atinge a maior quantidade de comentários na data de
publicação da notícia ou nos dois ou três dias posteriores.

No que diz respeito ao enunciador, usualmente são leitores do jornal,


interessados no tema da notícia na qual comentam. Os destinatários são outros leitores
do jornal que, às vezes, podem ser marcados por um enunciador em particular. Contudo,
não é estranho encontrar comentários destinados à pessoa que escreveu a notícia, ao
jornal mesmo, ou às pessoas/instituições, etc. mencionadas na notícia.

No que concerne ao conteúdo temático do gênero, ele pode incluir tanto opiniões
pessoais a favor como contra a notícia, sobre sua relevância ou não no jornal, ou sobre
outras questões que o usuário julgue relevantes. O conteúdo está estreitamente ligado à
finalidade do comentário, a qual pode se manifestar a favor ou contra a notícia,
expressar uma opinião, persuadir, debater com outros comentaristas, gerar consciência,
polemizar, entre outras.

Em referência aos tipos de discurso, dado o traço conversacional e dialógico do


gênero, naturalmente, predominam o discurso interativo e o relato interativo posto que,
na maioria dos casos, os comentaristas se implicam para dar uma opinião e interatuam
com os outros usuários. Todavia, não é inviável encontrar trechos de discurso teórico ou
de narração, frequentemente com o objetivo de exemplificar uma ideia ou respaldar um
argumento.

Também por efeito da dinamicidade e do tom conversacional, à primeira vista, o


grau de monitoramento desse gênero pode parecer baixo por sua espontaneidade, com
uma forte presença de linguagem oral, onomatopeias, uso reiterado de reticências e
signos de exclamação ou interrogação múltiplos e, incluso, displicência em relação às
normas ortográficas e gramaticais vigentes. Apesar disso, os portais possuem uma série

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de termos e condições que os usuários devem acatar no momento de postar os
comentários. Essas regras de conduta incluem, entre outras, a abstenção do emprego de
vocabulário obsceno, discriminatório, abusivo e ofensivo. Em consequência, os
comentaristas devem monitorar minimamente suas produções a fim de evitar que sejam
bloqueados.

Tendo em consideração os mecanismos de coerência e coesão propostos por


Irandé Antunes (2005), encontramos inúmeras instâncias tanto de reiteração, como de
associação e conexão, não sendo possível, por questões de tempo, identificar que
mecanismo é maiormente empregado nos comentários. No entanto, como coloca
Marcuschi (2008) em relação à linguística textual, por causa da estreita dependência dos
comentários com a notícia à qual fazem referência, existe uma notável intertextualidade
que resulta na presença repetida de mecanismos de reiteração em todas suas variantes.
No tocante à conexão ou coesão conectiva, se empregam organizadores discursivos mas
são mais simples e de uso mais coloquial que aqueles usualmente empregados em
outros gêneros jornalísticos.

No que se refere à manifestação das vozes, é habitual o emprego da primeira


pessoa do singular para explicitar a opinião do enunciador, assim como da primeira
pessoa do plural de maneira de representar o pensamento de um grupo, como podem
ser, cidadãos, pessoas contra ou a favor de determinada ideia, profissionais em
particular, etc. Também é frequente detetar vozes sociais e vozes de personagens,
mormente do jornalista ou de alguma pessoa aludida na notícia, por exemplo, para
legitimar uma posição enunciativa no momento de defender ou repudiar uma ideia.

Outro traço relevante e distintivo do gênero, apontado por Ricciardi e Rubio


Scola (2016) em “Un estudio comparativo de los mecanismos de responsabilización
enunciativa en el comentario y el artículo de opinión: elementos para un modelo
didáctico” é sua efemeridade, sendo que o usuário tem a possibilidade de modificar
permanentemente ou inclusive eliminar seu próprio comentário do portal no qual foi
postado.

Por último e, paradoxalmente, quanto à origem do gênero, Carla Teixeira faz um


percurso histórico no qual situa a notícia curta e a posterior emergência da imprensa
como antecedentes dos gêneros jornalísticos. Além disso, revela que é a partir dos ideais
românticos de expressão do sujeito do século XIX e das ideias promovidas durante a

8
Revolução Francesa, que valorizam a opinião e o debate, que surgem os géneros de
opinião ou de comentário, “géneros que no presente se designam de editorial, carta do
leitor e comentários.” (Teixeira, 2016: 10, grifo da autora).

Isto posto, gostaríamos de acrescentar como elemento imprescindível para o


surgimento do gênero o acesso massivo à Internet nos últimos anos da década de 1990,
que permitiu a postagem de notícias em tempo real com suas posteriores réplicas e
debates nos quais intervêm milhões de usuários.

Análise do corpus

Sendo que os textos escolhidos para o presente trabalho dependem


necessariamente de um outro texto (a notícia), julgamos conveniente analisar em
primeiro lugar esse texto, para poder analisar em uma segunda instância os comentários
postados em resposta a ele. Em relação aos comentários, posto que muitos dos dados do
contexto físico se repetem, analisaremos apenas os dados do contexto sócio-subjetivo.

 Análise do Anexo 1: “El furcio de Macri para referirse a la educación pública”

Contexto físico

Lugar e momento de produção: infere-se na Argentina, possivelmente Buenos Aires, em


ou antes de 21 de março de 2017, mas não antes da exposição na qual o Presidente fez a
declaração em questão.

Emissor: não identificável, provavelmente, um jornalista do Diario Clarín.

Receptor: qualquer pessoa que tenha acesso a essa notícia postada na versão online de
Diario Clarín.

Suporte: digital, portal do Diario Clarín.

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: jornalismo, política e educação.

Papel social do emissor (enunciador): jornalista.

Papel social do receptor (destinatário): leitores do jornal, cidadãos da Argentina,


docentes, ex-alunos e pais de alunos da escola pública.

9
Finalidade/s: informar sobre a controvertida declaração do Presidente em relação à
escola pública.

 Comentário 1:

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: jornalismo online, política e educação.

Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online do Diario Clarín, contra a
declaração do Presidente.

Papel social do receptor (destinatário): outros leitores do jornal, comentaristas,


internautas, pessoas interessadas na educação na Argentina.

Finalidade/s: manifestar que, em sua opinião, o Presidente não cometeu um erro, senão
que isso é o que realmente pensa da educação pública.

Manifestação do caraterizador situacional: “el gato”.

 Comentário 2:

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: jornalismo online, política e educação.

Papel social do emissor (enunciador): leitora da versão online do Diario Clarín, contra a
declaração do Presidente.

Papel social do receptor (destinatário): outros leitores do jornal, comentaristas,


internautas, pessoas interessadas na educação na Argentina.

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Finalidade/s: deixar em evidência que as escolas privadas também têm falências e as
falhas do Presidente no momento de se expressar.

Manifestação do caraterizador situacional: “este especimen” [sic].

 Comentário 3:

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: jornalismo online, política e educação.

Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online do Diario Clarín, contra a
declaração do Presidente.

Papel social do receptor (destinatário): outros leitores do jornal, comentaristas,


internautas, pessoas interessadas na educação na Argentina.

Finalidade/s: ironizar acerca da “boa” educação do Presidente.

Manifestação do caraterizador situacional: “alcornoque”.

 Comentário 4:

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: jornalismo online, política e educação.

Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online do Diario Clarín, contra a
declaração do Presidente.

Papel social do receptor (destinatário): outros leitores do jornal, comentaristas,


internautas, pessoas interessadas na educação na Argentina.

Finalidade/s: salientar a ignorância do Presidente.

Manifestação do caraterizador situacional: “el burro”.

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 Comentário 5:

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: jornalismo online, política e educação.

Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online do Diario Clarín, contra a
declaração do Presidente.

Papel social do receptor (destinatário): outros leitores do jornal, comentaristas,


internautas, pessoas interessadas na educação na Argentina.

Finalidade/s: manifestar uma opinião contra o Presidente e sua ignorância.

Manifestação do caraterizador situacional: “este bestia” [sic].

 Análise do Anexo 7: “Marcos Bagno, o avesso de um intelectual”

Contexto físico

Lugar e momento de produção: infere-se no Brasil, em ou antes do 4 de outubro de


2016, mas não antes das postagens em questão realizadas em Facebook por Marcos
Bagno.

Emissor: Leandro Narloch

Receptor: qualquer pessoa que tenha acesso a essa notícia postada na versão online da
revista Veja.

Suporte: digital, portal da revista Veja.

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: jornalismo, política e educação.

Papel social do emissor (enunciador): jornalista e escritor.

Papel social do receptor (destinatário): leitores da revista, cidadãos do Brasil,


acadêmicos, docentes, pessoas relacionadas com a Universidade de Brasília e
interessados nas eleições municipais de Brasil de outubro de 2016.

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Finalidade/s: informar sobre as controvertidas postagens do professor Marcos Bagno no
Facebook e revelar sua questionável personalidade aos leitores da revista.

 Comentário 1:

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: acadêmico, jornalismo online, política e


educação.

Papel social do emissor (enunciador): leitora da versão online da revista Veja, contra a
postagem de Bagno.

Papel social do receptor (destinatário): outros leitores da revista, comentaristas,


internautas, pessoas interessadas na educação e na política do Brasil.

Finalidade/s: sugerir que Bagno seja processado, expressar indignação.

Manifestação do caraterizador situacional: “essa besta quadrada”.

 Comentário 2:

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: acadêmico, jornalismo online, política e


educação.

Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online da revista Veja, contra a
postagem de Bagno.

Papel social do receptor (destinatário): outros leitores da revista, comentaristas,


internautas, pessoas interessadas na educação e na política do Brasil.

Finalidade/s: sugerir que Bagno seja demitido.

Manifestação do caraterizador situacional: “uma monstro” [sic].

 Comentário 3:

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Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: acadêmico, jornalismo online, política e


educação.

Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online da revista Veja, contra a
postagem de Bagno.

Papel social do receptor (destinatário): outros leitores da revista, comentaristas,


internautas, pessoas interessadas na educação e na política do Brasil.

Finalidade/s: expressar sua surpresa perante as declarações de Bagno.

Manifestação do caraterizador situacional: “o cara” e “essa criatura”.

 Comentário 4:

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: acadêmico, jornalismo online, política e


educação.

Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online da revista Veja, contra a
postagem de Bagno.

Papel social do receptor (destinatário): outros leitores da revista, comentaristas,


internautas, pessoas interessadas na educação e na política do Brasil.

Finalidade/s: expressar dessagrado em relação a Bagno e indignação perante o fato de


que Bagno seja professor da universidade pública.

Manifestação do caraterizador situacional: “este verme”.

 Comentário 5:

Contexto sócio-subjetivo

Âmbito social no qual se inscreve o texto: acadêmico, jornalismo online, política e


educação.

14
Papel social do emissor (enunciador): leitor da versão online da revista Veja, contra a
postagem de Bagno.

Papel social do receptor (destinatário): outros leitores da revista, comentaristas,


internautas, pessoas interessadas na educação e na política do Brasil.

Finalidade/s: expressar repúdio perante as incoerências postadas por Bagno.

Manifestação do caraterizador situacional: “esse demente”.

Análise comparativa/contrastiva entre o português e o espanhol

Consoante com os fundamentos expostos por Irandé Antunes, a substituição


lexical é um recurso coesivo que permite “o uso de uma palavra no lugar de uma outra
que lhe seja textualmente equivalente.” (Antunes, 2005: 96, grifo da autora). Aliás, com
diferença de outros mecanismos de coesão, permite acrescentar informações em relação
à referência previamente introduzida. Dentro da substituição, a autora denomina
“caraterizador situacional” ao procedimento mediante o qual o autor do texto substitui
uma palavra por uma expressão que atua como sinônimo mas somente no contexto
desse texto em particular.

No caso do comentário, o caraterizador desempenha um duplo papel: o de


retomar o referente, e o de lhe imprimir a esse referente qualidades que revelam como
ele é percebido pelo autor do texto. Dado que não todas as pessoas se focalizam nos
mesmos aspetos, cada comentarista empregará vocábulos diferentes para expressar a
qualidade que considere mais relevante do referente em questão, o que, em definitiva,
dará como resultado seleções vocabulares estreitamente relacionadas com a
subjetividade dos autores.

Depois de realizar a análise dos textos, e levando em conta que nos portais
seletados se proíbe o emprego de linguagem obscena, poderíamos alegar que tanto em
espanhol rio-platense como em português brasileiro, os comentaristas de notícias se
valem, na maioria dos casos, de vocábulos de uso cotidiano mas num sentido pejorativo
para se manifestar contra as pessoas em questão. Assim sendo, nos textos analisados, se
empregam palavras cotidianas relacionadas com o reino animal ou vegetal mas que, sem
dúvida, tem valor de insulto já que fazem alusão à ignorância ou à falta de humanidade
de seus referentes.

15
Desta forma, alguns vocábulos que significam “pessoa ignorante” poderiam ser
“alcornoque” e “burro”, e aqueles empregados no sentido de “pessoa bruta, com traços
desumanos”, seriam “especimen” [sic], “monstro”, “criatura” e “verme”. Por sua vez,
não seria absurdo pensar que “bestia” e “besta” encaixam dentro das duas
interpretações. Já no caso de “demente”, é uma palavra utilizada exclusivamente para se
referir a pessoas, mas é possível que o comentarista a empregara, não no sentido de
“pessoa enferme, que sofre de demência”, mas como “pessoa extremamente ignorante
ou com falta de inteligência”.

No que concerne ao vocábulo “gato”, encontramos no dicionário da Real


Academia Española4 duas acepções (das mais de vinte recolhidas) que consideramos
relevantes para o emprego desse termo no contexto dos comentários analisados. A
primeira, que corresponde à terceira acepção, utilizada em alguns países de
Centroamérica, emprega-se para fazer referência a uma pessoa de olhos azuis ou verdes,
e a segunda, décima entrada, se emprega coloquialmente para nomear a um ladrão ou a
uma pessoa que rouba com astúcia e engano.

No imaginário argentino, os endinheirados se assemelham fisicamente com os


europeus (homens brancos, de cabelos loiros e olhos azuis), e é frequente o emprego de
termos coloquiais como “cheto” e “careta” para falar das pessoas ricas. Nesse sentido,
também costuma utilizar-se “gato”, principalmente pelas classes sociais mais baixas,
para fazer referência a uma pessoa de uma classe social acomodada. Em relação à outra
entrada, em muitos países americanos se associa aos políticos com a corrupção, e os
presidentes não são a exceção. Por conseguinte, não é de surpreender que se chame ao
atual presidente da Argentina de “corrupto” ou “ladrão”. À vista disso, inferimos que o
emprego do termo “gato” poderia ter relação com essas duas qualidades mencionadas: a
de ladrão e a de pessoa de uma classe social acomodada, que não sofre necessidades e
que, no imaginário social, é branca e de olhos claros.

Após a comparação dos dez textos, é destacável que os usuários de ambos países
recorram a vocábulos semanticamente similares, principalmente relacionados ao reino
animal, para retomar um referente com o qual não concordam e, assim, se manifestar
contra eles. Aliás, cabe salientar que, tanto em português como em espanhol, na maioria

4
Disponível em: http://dle.rae.es/?id=J0VULIX|J0X0PpO|J0XH87J.

16
dos exemplos analisados se acrescentam determinantes antes dos substantivos
empregados como caraterizadores situacionais. Em português, abundam os pronomes
demonstrativos, como “essa besta”, “essa criatura”, “este verme” e “esse demente”. Em
contrapartida, em espanhol, há apenas dois casos de pronomes demonstrativos (“este
especimen” e “este bestia”) e dois casos de artigos definidos (“el burro” e “el gato”).
Podemos deduzir que os demonstrativos têm o objetivo de denegrir ainda mais a figura
tanto do linguista como do presidente, ao passo que os artigos definidos pretendem
enfatizar o fato de que não é apenas o comentarista que se refere ao referente dessa
maneira, mas a comunidade toda conhece e compartilha esse pensamento.

Considerações finais

A modo de conclusão podemos indicar que a análise comparativa e contrastiva


permite confirmar que tanto em português como em espanhol o plano do texto do
gênero abordado é sensivelmente similar e que se emprega uma seleção vocabular
semelhante no mecanismo de caraterizador situacional, não só para outorgar coerência
no momento de retomar o referente, senão também para se posicionar contra
determinada pessoa, insultar e acrescentar outras informações, como são a ignorância e
a desumanidade.

Consideramos que é importante levar em conta que, como já foi dito, dado que
nos comentários de notícias se proíbe o uso de linguagem vulgar, os comentaristas
recorrem a termos de uso cotidiano mas num sentido depreciativo. Em consequência,
em muitos casos não é viável realizar uma tradução literal desse termo, como faria uma
máquina, já que não produzirá o mesmo impacto nos leitores da tradução. Por exemplo,
no caso do espanhol “gato”, o emprego do português “gato” não comunicará o sentido
de “ladrão” ou “pessoa endinheirada” próprio do uso coloquial argentino. Nesses casos,
é imperioso pesquisar para conhecer o significado do termo nesse contexto específico.
Levando isso em consideração, uma possível tradução de “gato” para se referir ao atual
presidente da Argentina, poderia ser “mauricinho”, alternativa que se afasta da forma
original mas que mantem sua essência e não se considera linguagem obsceno.

Por último, e após a leitura do material teórico e das diversas análises realizadas
sobre os textos, consideramos que é nem só conveniente mas também necessário
aprofundar e levar em conta todos os aspetos que compõem o contexto de produção de
cada texto de modo de propor traduções que reflitam o sentido do autor original e se

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adequem aos parâmetros de produção dos textos originais, operação essencial para
recuperar o sentido de um texto e que as ferramentas de tradução automática,
afortunadamente, não podem propiciar.

18
Referências bibliográficas

ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo:


Parábola, 2005.
BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos. São
Paulo: EDUC, 2003.
KOCH, Villaça e TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo:
Contexto, 1992.
LOPES FÁVERO, Leonor. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1991.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, analise de gêneros e
compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
MIRANDA, Florencia. Os textos no ensino de português língua estrangeira:
teorias e práticas. Araquara: Entre Línguas, 2015.
MIRANDA, Florencia. Análise interlinguística de gêneros textuais:
contribuições para o ensino e a tradução. D.E.L.T.A., 2017.
RICCIARDI, Natalia e RUBIO SCOLA, Virginia. La construcción del diálogo
en comentarios online entre brasileños y argentinos: un caso de “diálogo de sordos”.
Mimeo.
RUTE, Rosa. “O plano de texto do comentário linguístico: uma proposta de
análise”. Mimeo.
TEIXEIRA, Carla. “Questões de semiótica e de gramática em comentários
jornalísticos”. Cadernos de Linguagem e Sociedade, Lisboa: Centro de Linguística da
Universidade Nova de Lisboa, 2016.

19
Corpus

Anexo 1:

20
DIARIO CLARÍN. “El furcio de Mauricio Macri para referirse a la educación
pública”. Notícia da versão digital do jornal. Disponível em:
https://www.clarin.com/sociedad/furcio-macri-referirse-educacion-
publica_0_B1Xz_RAjl.html. Acesso em 20 de outubro de 2017.

21
Anexo 2:

22
23
24
NARLOCH, Leandro. “Marcos Bagno, o avesso de um intelectual”. Notícia da
versão digital da revista Veja. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-
mitos/marcos-bagno-o-avesso-de-um-intelectual/pagina-comentarios-9/#comments.
Acesso em 20 de outubro de 2017.

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