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ESCUELA DE LENGUAS
Año: 2017
INTRODUÇÃO
A notícia forma parte dos gêneros jornalísticos de cunho informativo, nela o texto
deve transmitir um efeito de objetividade. Assim, neste gênero de textos a voz da pessoa
que escreve, o enunciador, não aparece de forma explícita. Porém, seguindo os postulados
de Bronckart (2003) entendemos que a voz do autor não é a única que manifesta o
posicionamento enunciativo, pois existem outros mecanismos que traduzem avaliações
sobre o conteúdo temático dos textos: as vozes e as modalizações. Em função disso,
escolhemos o mencionado gênero para trabalhar essas categorias em particular.
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OBJETIVOS
- Realizar uma análise contrastiva da manifestação das vozes e das diferentes formas de
modalizar o discurso em notícias (gráficas) atuais no Brasil e na Argentina.
- Selecionar um corpus com textos de dois jornais argentinos Clarín e La Nación e dois
jornais brasileiros O Globo e Folha de S. Paulo (dez notícias em total, cinco em cada
língua).
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RESENHA BIBLIOGRÁFICA
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GÊNERO NOTÍCIA
Características
Partimos das noções de texto e de gênero como são definidas pela corrente do
interacionismo sócio-discursivo
Neste contexto, a notícia é um gênero textual jornalístico, que circula pelos meios
de comunicação. O objetivo das notícias é informar sobre um tema atual e/ou de interesse
para o público.
Em relação aos tipos de discurso, predominam o discurso interativo e o relato
interativo, que correspondem às formas do expor implicado e do contar implicado
respectivamente. Nas notícias se expõem (verbos em presente) ou se narram (verbos em
pretérito ou futuro) fatos, implicando os parâmetros de ação da linguagem através de
dêiticos espaciais e temporais e, o mais importante para esta pesquisa, a apresentação das
vozes dos personagens envolvidos.
É um gênero textual que possui um grau de monitoramento alto. Os jornais têm
manuais de redação e estilo que indicam aos jornalistas as condições que devem cumprir os
textos para ser publicados neles. O manual de redação do jornal Folha de S. Paulo, por
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exemplo, estabelece: “Deve ser um texto claro e direto. Deve desenvolver-se por meio de
encadeamentos lógicos. Deve ser exato e conciso. Deve estar redigido em nível
intermediário, ou seja, utilizar-se das formas mais simples admitidas pela norma culta da
língua. Convém que os parágrafos e frases sejam curtos e que cada frase contenha uma só
ideia. Verbos e substantivos fortalecem o texto jornalístico, mas adjetivos e advérbios,
sobretudo se usados com frequência, tendem a piorá-lo”. 1 Cada jornal conta também com
editores e redatores que revisam os textos antes de ser publicados.
Plano de texto:
As notícias apresentam uma estrutura de pirâmide invertida, quer dizer que as
informações mais importantes são colocadas no começo do texto. Assim, o manchete ou
título principal resume a notícia e serve para chamar a atenção do leitor, logo, num primeiro
parágrafo (lide), se apresenta a informação mais importante que será ampliada a
continuação no corpo da notícia.2
A parir da observação e da análise do corpus de notícias argentinas e brasileiras
utilizadas nesta pesquisa podemos acrescentar vários elementos que formam parte do plano
de texto destas notícias, como são: seção do jornal, data e hora de publicação, nome do
autor e imagem.
Uma das principais características das notícias, se não a mais importante, segundo
os sites consultados, e também uma ideia do senso comum, é a objetividade e veracidade
que teoricamente apresenta ou deveria apresentar este gênero. Alguns exemplos:
“Las versiones y rumores sobre los hechos - particularmente los de índole política-
no deberían ser calificados como noticias, que son informaciones verdaderas” (Manual de
estilo do jornal La Nación).
“La opinión propia del diario sobre el tema será tratada en la columna de
editoriales” (Manual de estilo do jornal La Nación)
1
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_introducao.htm
2
Informação retirada de: https://estudiantes.elpais.com/programa-al-dia/ver/cmo-redactar-una-
noticia-en-5-pasos
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“Para que el lector no pueda ser inducido al error de confundir noticias con opinión,
y viceversa, los textos que expresan pensamientos, comentarios, juicios de valor, creencias
o interpretaciones de los redactores deben ser presentados gráficamente de un modo
diferente de las crónicas, gacetillas y referencias a hechos y datos registrados por el
periodista” (Manual de estilo do jornal La Nación).
“LA NACION sostiene que el recibir información es uno de los derechos
fundamentales del ser humano y que el ciudadano puede exigir que las noticias publicadas
por los medios sean veraces” (Manual de estilo do jornal La Nación)
“O autor pode e deve interpretar os fatos, estabelecer analogias e apontar
contradições, desde que sustente sua interpretação no próprio texto. Deve abster-se de
opinar, exceto em artigo ou crítica” (Manual de redação do jornal Folha de S. Paulo).
“É necessário que haja uma ética por parte do autor da notícia, no sentido de não
trazer ao leitor informações mentirosas ou incertas. A notícia é o acesso que o leitor tem
aos acontecimentos do mundo ao seu redor, por isso é preciso que o texto seja o mais
impessoal possível, com informações concretas, preferencialmente comprovadas através de
entrevistas com testemunhas do fato, fotos ou filmagens (em caso de telejornais)” (Retirado
do site infoescola. Disponível em: https://www.infoescola.com/redacao/noticia/).
“Recordemos que las noticias deben ser actuales y atrayentes, con un marcado
interés público y por supuesto, veraces.” (Retirado do site do jornal El País. Disponível em:
https://estudiantes.elpais.com/programa-al-dia/ver/cmo-redactar-una-noticia-en-5-pasos).
Podemos observar que conceitos como os de objetividade, veracidade e
impessoalidade aparecem com frequência caracterizando as notícias. O objetivo do presente
trabalho é, precisamente, analisar notícias publicadas nos sites de alguns dos jornais mais
importantes do Brasil e da Argentina para observar se realmente podem se considerar textos
objetivos e verazes, partindo da hipótese de que nenhum texto produzido por um ser
humano pode ser completamente objetivo. Para isto, analisaremos as categorias vozes e
modalizações com o intuito de demonstrar que através destes mecanismos se manifestam
avaliações subjetivas sobre o conteúdo do texto.
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MECANISMOS DE RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA. VOZES E
MODALIZAÇÕES
Definição
Vozes
Assim sendo, podemos definir as vozes como “as entidades que assumem (ou as
quais são atribuídas) a responsabilidade do que é enunciado” (Bronckart; 2003:326).Neste
trabalho analisaremos três vozes diferentes: a voz do autor, as vozes sociais (grupos ou
instituições sociais) e as vozes de personagens (pessoas identificadas com nome). Pensamos
que não acharemos muitas marcas da voz do autor das notícias, numa tentativa de conseguir
um texto o mais objetivo e verídico possível. Porém, como já foi mencionado anteriormente
e será ampliado nas considerações finais da pesquisa, pensamos que a utilização de vozes
sociais e de personagens é uma forma de avaliação do conteúdo, seja consciente ou
inconscientemente.
Modalizações
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São várias as categorias que exercem a função de modalizadores:
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ANÁLISE DO CORPUS
Notícias em português
Notícia 1
Enunciador: jornalista.
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É importante destacar aqui que não só o jornal Folha de S. Paulo, senão todos os jornais com os que
trabalhamos nesta pesquisa exigem, depois de ler um numero muito limitado de noticias, assinar. Por isso,
as noticias destes jornais não estão dirigidas ao público em geral, mas ao seu público assinante.
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Notícia 2
Emissor: -
Notícia 3
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Momento: antes do 22/02/2018 às 4h30min e atualizado às 7h20min.
Esta notícia fala sobre um tema muito polêmico e para abordá-lo a autora utiliza as
vozes de diferentes especialistas na temática. Sejam vozes sociais como o Ipea, a Polícia
Federal, a CPI e o instituto Sou da Paz (podemos considerar também como uma voz social
aos “especialistas” aos que a autora se refere no primeiro parágrafo) e vozes de personagens
como Daniel Cerqueira, José Vicente Filho e Rubem Cesar Fernandes.
Notícia 4
Enunciador: jornalista.
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Momento: antes do 16/02/2018 às 07h51min e atualizado às 08h08min.
No começo da quarta notícia aparece a voz dos “especialistas” a qual poderia ser
considerada uma voz social, após, esses especialistas são citados individualmente, assim,
apresentam-se duas vozes de personagens, a do economista Gil Castello Banco e a do
professor Paulo Corval. Também é utilizada, como em muitas outras das notícias
analisadas, uma voz vagamente individualizada, neste caso no quinto parágrafo: “fontes no
governo afirmaram ao GLOBO”. No entanto, neste caso, poderíamos considerá-la como
uma voz social atribuída a “o governo” considerado como um grupo socialmente
organizado, semelhante à forma “desde o governo afirmaram ao GLOBO”.
Notícia 5
Enunciador: jornalista.
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Destinatário: leitores assinantes do jornal O Globo na sua versão digital.
A avalição da autora sobre o conteúdo temático nesta notícia nos parece muito
evidente. Dos dois mecanismos analisados é através dos modalizadores que podemos
perceber isto claramente. Já desde o título a autora se refere a uma “suposta ameaça”, não é
o mesmo dizer “Deputada aciona PF após receber mensagem com suposta ameaça do
presidente da Assembleia de Roraima” que “Deputada aciona PF por ameaças”. O mesmo
acontece a continuação quando a autora utiliza a forma verbal “se disse intimidada”, uma
forma de neutralizar essa frase seria “Shéridan (PSDB) denunciou a Jalser Renier (SD) por
ameaças. Ele nega as acusações.”; um terceiro caso aparece no primeiro parágrafo onde o
discurso é modalizado através da forma “diz ter recebido” e no segundo parágrafo “teria
mandado”. Todas as modalizações são lógicas, avaliações em relação à veracidade do
conteúdo temático.
Notícias em espanhol
Notícia 1
Enunciador: jornalista.
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Destinatário: leitores assinantes do jornal Clarín na sua versão digital.
Notícia 2
Enunciador: jornalista.
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Âmbito social: jornalismo, política.
O primeiro que achamos importante destacar sobre esta notícia é que aqui cobram
muita importância outros fatores além das palavras em sentido estrito. É uma notícia muito
visual, tem imagens, vídeos e palavras em destaque. Se bem a análise destes elementos
escapa ao presente trabalho, não podemos deixar de assinalar a importância desses recursos
para poder pensar sobre o efeito de objetividade do texto jornalístico.
Notícia 3
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Enunciador: jornalista.
Já no título desta notícia o discurso aparece modalizado através do uso do verbo ser
no futuro do pretérito (condicional). O mesmo tempo verbal é usado depois varias vezes no
corpo da notícia e também o auxiliar “poder” estabelecendo modalizações lógicas: “podrían
sumarle llamados a indagatorias”, “podría ser citada”, “el próximo passo sería lllamado a
indagatoria”, “el pedido de indagatória estaría en puerta”. Podemos perceber que se trata de
hipóteses e não informações objetivas e comprováveis, assim, o objetivo não é informar
senão persuadir. Também aparece como modalizador, no segundo parágrafo o advérbio
“raudamente” indicando uma modalização apreciativa.
Notícia 4
Enunciador: jornalista.
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Objetivo/finalidades: informar sobre o caso Santiago Maldonado, influenciar a
opinião dos leitores.
Esta notícia é uma das mais ricas nos mecanismos analisados. Em relação às
modalizações, achamos que praticamente toda a notícia está escrita em condicional ou
usando o verbo auxiliar “poder”: “pudo haber sido”, “habrían desembocado”, “habrían
tenido la intención”, “no sería casualidad”, “habría sido”, “habrían alertado”,
“pertenecería”, “se habrían acelerado”, “habrían cruzado”, “podría tratarse de”, “habría
decidido” e “sería la consigna”. Todas estas são modalizações lógicas, isto é, avaliações da
veracidade do conteúdo temático. Além desses modalizadores, também encontramos,
chegando ao final do texto, o advérbio “intempestivamente” que pode classificar-se como
uma modalização apreciativa, um juízo de valor subjetivo. Esses modalizadores são
utilizados com o objetivo de influenciar a opinião do leitor, assim, para que ele acredite que
as informações colocadas na notícia são objetivas quando na verdade são opiniões
subjetivas e hipóteses.
Quanto às vozes, o mesmo texto no segundo parágrafo diz: “Este diário reconstruyó,
a partir de diversas fuentes, los hechos que habrían desembocado en una “entrega” del
cadáver del joven al juez Lleral de parte de los indígenas”, porém, o chama a atenção é que
essas “fuentes” não sejam especificadas. Ao referir-se a elas, o autor o faz da seguinte
maneira: “altas fuentes”, “quienes conocen la trama”, “cuentan voces cercanas”, “fuentes
com acceso a la investigación del caso Maldonado” ou “cuentan testigos”. Similarmente,
quando cita supostos ditos de integrantes da comunidade Mapuche, utiliza expressões como
“el flamante referente más violento” e “sería la consigna” sem identifica-los com os seus
nomes.
Notícia 5
Emissor: -
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Destinatário: leitores assinantes do jornal La Nación na sua versão digital.
Esta notícia mostra como este tipo de textos podem ser constituídos quase
completamente por vozes de personagens, neste caso a voz de Hernán Lombardi. A
participação do autor é praticamente imperceptível, já que o único que faz é apresentar a
voz a ser citada.
O objetivo desta notícia é difundir os ditos de uma pessoa. Justamente por isso
consideramos que é importante para o objetivo deste trabalho, porque evidencia a
importância deste mecanismo de responsabilidade enunciativa (as vozes) no gênero
pesquisado. Um caso similar é a segunda notícia do corpus em português. Nas
considerações finais analisaremos mais profundamente como a citação de vozes pode, em
muitos casos, refletir a ideologia do autor interferindo no texto.
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ANÁLISE CONTRASTIVA
Antes das considerações finais faremos uma breve análise contrastiva indicando as
similitudes e diferenças que achamos entre o corpus em português e o corpus em espanhol.
Em relação ao plano de texto, não achamos diferenças entre as notícias nas duas
línguas. Em quase todos os textos analisados aparece o nome do autor, a data e a hora,
imagens, além de acharem-se organizadas da mesma forma: título, lide e corpo do texto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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também não se posicionar abertamente próximo ou distante dessa voz, através de escolhas e
recortes, como que vozes citar, que parte mencionar dos ditos dessas pessoas ou
instituições, com que intenção citá-las, deixa ver sua ideologia.
Para concluir, temos que ser cientes da importância e do poder das palavras. Não é o
mesmo escolher uma forma verbal ou outra, colocar um advérbio ou não colocá-lo e, como
futuros tradutores, devemos ter isto muito presente. Língua e ideologia vão de mãos dadas,
os humanos somos seres sociais e quando falamos o fazemos desde um lugar, dentro de
uma cultura, formando parte de um determinado grupo social. Todos temos um
posicionamento ideológico que atravessa as nossas atividades como seres humanos, e o
jornalismo não está isento. Como pudemos comprovar nesta pesquisa o objetivo das
notícias não é simplesmente informar, senão também influenciar e persuadir. Os meios de
comunicação são formadores de opinião e, ao contrário do que poderíamos pensar, o fazem
também através das notícias servindo-se dos mecanismos analisados neste trabalho.
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BIBLIOGRAFIA
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