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AGRADECIMENTOS
À Profª Drª Sílvia Koller pelo carinho, orientação, incentivo e dedicação dispensados
ao longo desta caminhada.
Aos professores Almir Del Prette, Edwiges Silvares, Maria Helena Bromberg e Tânia
Sperb pela sua atenção e sugestões apresentadas para este trabalho.
Às amigas Lísia Ramos Mayer e Paola Biasoli Alves, pelo carinho, apoio, incentivo e
grandiosa troca de idéias, não só nos momentos de trabalho, mas também nos alegres
momentos de lazer e diversão que passamos juntas. Que nosso encontro continue produzindo
frutos e solidificando nossa amizade. Adoro vocês!
Aos diretores e professores das escolas, que tão gentilmente nos acolheram,
proporcionando um espaço para a realização dessa pesquisa.
Às crianças e famílias que fizeram parte desse estudo, por terem proporcionado uma
excelente oportunidade para o meu crescimento profissional e um espaço para a produção
científica.
SUMÁRIO
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SUMÁRIO DE TABELAS
subescalas ....................................................
Tabela 4: Diferenças entre os sexos para a competência social ......................................
Tabela 5: Diferenças entre idades para a competência social .........................................
Tabela 6: Diferenças entre os sexos para a empatia .......................................................
Tabela 7: Freqüência de sinais específicos no desenho da
família ..................................
Tabela 8: Médias da escala global para o desenho da
família .........................................
Tabela 9: Correlação entre competência social e representação mental da relação de
apego .........................................................................................................................
Tabela 10: Comparação das médias de competência social entre os níveis das escalas
da representação
mental ..................................................................................................
Tabela 11: Correlação entre empatia e representação mental da relação de
apego ............................................................................................................................
.......
Tabela 12: Caracterização da amostra de crianças por raça ..........................................
Tabela 13: Caracterização da amostra de crianças por naturalidade ...............................
Tabela 14: Caracterização da cuidadora da criança .......................................................
Tabela 15: Tempo em que a cuidadora está com a criança ............................................
Tabela 16: Escolaridade das cuidadoras .......................................................................
Tabela 17: Ocupação das cuidadoras ...........................................................................
Tabela 18: Escolaridade do pai ....................................................................................
Tabela 19: Ocupação do pai ........................................................................................
Tabela 20: Freqüência dos fatores protetivos, regulares e de risco - História da
gestação ........................................................................................................................
...........
Tabela 21: Freqüência dos fatores protetivos, regulares e de risco - Nascimento da
criança .......................................................................................................................
Tabela 22: Freqüência dos fatores protetivos, regulares e de risco - Características da
criança e relacionamento com os pais ...........................................................................
Tabela 23: Freqüência dos fatores protetivos, regulares e de risco - Limites e vida
escolar .......................................................................................................................
Tabela 24: Freqüência dos fatores protetivos, regulares e de risco - Empatia da
mãe ..............................................................................................................................
.....
Tabela 25: Médias dos indicadores para os grupos de maior e menor
risco ....................
Tabela 26: Comparação das médias das escalas da representação mental da relação de
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RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi avaliar, em dois estudos, a relação entre competência
social de crianças em situação de risco, empatia, representação mental da relação de apego e
qualidade do relacionamento mães-filhos. O primeiro estudo avaliou a competência social, a
empatia e a representação mental da relação de apego de 100 crianças com idades entre seis e
nove anos. O segundo estudo avaliou a qualidade do relacionamento mãe-filho a partir de
entrevista apontando indicadores de risco e proteção no relacionamento. Esses indicadores
foram correlacionados posteriormente com a representação mental da relação de apego, a
empatia e a competência social das crianças. Participaram dessa etapa 30 crianças que fizeram
parte do Estudo I e suas respectivas mães (ou cuidadoras). Os resultados do Estudo I
demonstraram que as crianças mais competentes socialmente tendem a ser mais empáticas e a
possuir uma melhor representação mental da relação de apego do que as crianças menos
competentes. Os resultados do Estudo II demonstraram uma relação entre o nível de risco
existente no relacionamento e a representação mental da relação de apego na criança. Esses
resultados são discutidos com ênfase na abordagem ecológica, subsidiando programas de
intervenção a nível comunitário e escolar, que visem ao desenvolvimento de características
que favoreçam a competência social e a empatia de crianças.
ABSTRACT
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The objective of this study was to evaluate, through two studies, the relationships
among social competence of children at risk situation and empathy, mental representations of
attachment relationships, and the quality of mother-child relationships. The first study
assessed children’s social competence, empathy, and mental representations of attachment
relationships of 100 six and nine years old children. The second study assessed the quality of
mother-child relationships through a mother's interview, evaluating risk and protective factors.
These factors was correlated with children’s mental representations of attachment
relationships, empathy and social competence of thirthy children who had participated in the
Study 1 and their respective mothers (or caretakers). The results of Study 1 demonstrated that
the more socially competent the children, more empathic they tend to be and better tend to be
their mental representation of attachment. The results of Study 2 demonstrated relationships
between the level of risk in mother-child relationships and children’s mental representation of
attachment relationships. This results are discussed with emphasis in ecological approach,
supporting intervention programs in school and community, enhancing the development of
children’s social competence and empathy.
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CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1. 1 Competência Social
Fatores de risco e proteção têm sido definidos pela literatura da área como as duas
faces de uma mesma moeda (Rutter, 1987). Alta religiosidade, por exemplo, pode ser um fator
de proteção contra o uso de drogas. Baixa religiosidade, em contrapartida, pode ser um fator
de risco associado com uso de drogas (Zimmerman & Arunkumar, 1994).
Garmezy e Masten (1994) identificaram três tipos de fatores de proteção em indivíduos
resilientes:
(1) Características individuais, como auto-estima, inteligência,
capacidade para resolver problemas e competência social;
(2) Apoio afetivo transmitido pelas pessoas da família, através de um
vínculo positivo com os cuidadores;
(3) Apoio social externo, provido por outras pessoas significativas,
como escola, igreja e grupos de ajuda.
O conjunto destes fatores, em situações de stress, serve como um recurso que auxilia o
indivíduo a interagir com os eventos de vida e conseguir bons resultados, evitando
conseqüências negativas.
Há algum tempo atrás, teóricos da psicopatologia do desenvolvimento utilizavam o
termo “invulnerabilidade” para referir-se à adaptação (ver Luthar & Zigler, 1991, para uma
revisão completa). Atualmente, a ênfase vem sendo atribuída a aspectos de saúde e
competência manifestos apesar da influência do risco, contrariamente a idéia de imunidade
proposta pelo termo invulnerabilidade. Alguns autores têm utilizado a competência social
como uma variável freqüentemente escolhida para avaliar níveis de ajustamento e adaptação
(Kliewer, 1991; Zigler & Trickett, 1978). Neste sentido, a competência social é vista como
um fator de proteção para o indivíduo, pois está relacionada com a capacidade para uma
adaptação favorável. Vários autores definem competência social dentro deste pressuposto
(Coble, Gantt, & Mallinckrodt, 1996; Del Prette & Del Prette, no prelo; Kliewer, 1991; Tyler,
1984; Zigler & Trickett, 1978).
Zigler e Trickett (1978) destacam duas grandes condições para competência social.
Primeiro, o sucesso da pessoa ao perceber as expectativas do ambiente, ou seja, que tipo de
comportamento se faz necessário em determinada situação. Segundo, a pessoa deve
demonstrar características importantes para seu desenvolvimento, como por exemplo auto-
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formação das relações de amizade, favorecendo o apoio social. O cuidado estável provido por
um adulto responsável, desde os primeiros anos, de vida fortifica o vínculo, auxiliando no
desenvolvimento de características como confiança e segurança. Essas características serão
abordadas detalhadamente a seguir.
1.2 Empatia
Um fator que está relacionado com a competência social em crianças é a empatia. Uma
criança socialmente competente é capaz de ser sensível e empática com seus pares, de se
engajar em atividades sociais positivas, formar relações de amizade e adaptar-se em situações
de stress (Howes, Matheson, & Hamilton, 1994).
Empatia, de acordo com Eisenberg e Strayer (1987), diz respeito a uma resposta
emocional que deriva da percepção do estado ou condição emocional de outra pessoa, sendo
congruente com a situação emocional desta. Empatia consiste em compartilhar uma emoção
percebida de outra pessoa, sentindo a mesma emoção que ela está sentindo. É um sentimento
diferente de simpatia e de angústia pessoal, apesar de estar intimamente relacionado a estes
conceitos. Simpatia refere-se a uma intensa preocupação com o sofrimento de outra pessoa.
Consiste em sentir por outra pessoa, e geralmente refere-se a sentimentos de tristeza ou
lamento. Angústia pessoal, por outro lado, refere-se a experiência de um estado aversivo,
como ansiedade ou preocupação, que não é congruente com o estado de outra pessoa e que
leva a uma relação auto-orientada e egoísta (Eisenberg & Strayer, 1987). Assim, a angústia
pessoal é diferente da empatia, que não é em sua essência uma resposta egoísta nem orientada
para os outros, e da simpatia, que envolve uma clara orientação para terceiros.
A empatia contribui para o desenvolvimento psicológico do indivíduo de várias
maneiras. Uma das funções mais importantes da empatia é vincular as pessoas, especialmente
mães e filhos (Plutchik, 1987; Staub, 1987). No desenvolvimento da criança, quando seus pais
ou cuidadores respondem com empatia às suas necessidades, estas serão melhor preenchidas, e
a criança desenvolverá progressivamente sentimentos positivos com relação a eles e
generalizará tais sentimentos para outras pessoas (Staub, 1987). Deste modo, uma mãe que é
empática com seu filho, é hábil para compreender suas necessidades e sentimentos, e assim,
atender às mesmas. Por outro lado, uma mãe pouco empática pode ser menos envolvida
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emocionalmente com seu filho, e menos atenta a satisfazer suas necessidades. A resposta
empática dos pais é provavelmente experienciada pela criança como uma forma de reforço,
um senso de ser entendido. Este tipo de reforço pode aumentar o apego da criança a seus pais
(Feshbach, 1987). Assim, a empatia dos pais contribui para uma relação segura pais-filhos, o
que, posteriormente, irá influenciar na competência social da criança.
Uma relação segura entre os pais e a criança é considerada importante para o
desenvolvimento da empatia e de comportamentos altruístas. Crianças cujos pais foram
empáticos com suas necessidades e desejos tendem a ser mais empáticas e afetivas com as
pessoas em geral (Waters, Wippman, & Sroufe, 1979; Zahn-Waxler, Cole, & Barrett, 1991).
Barnett, King, Howard e Dino (1980) investigaram os antecedentes da empatia focalizando
quatro aspectos da relação pais-filhos: empatia paternal, afeto, disciplina, e ênfase nos
sentimentos de terceiros. Seus achados demonstraram que a empatia nas meninas estava
significativamente associada com a empatia nas mães, e não nos pais. Tal fato sugere que,
quando a mãe é mais empática do que o pai, a empatia pode ser identificada como um aspecto
relativo ao gênero que passa a ser internalizado com maior intensidade pelas meninas. Além
disso, as mães também demonstraram maiores níveis de afeto na interação com seus filhos,
ênfase nos sentimentos das outras pessoas, e menos uso de disciplina do que os pais (Barnett,
King, Howard, & Dino, 1980).
O desenvolvimento da empatia é considerado, por alguns autores, como relacionado a
expressividade emocional (ver Roberts & Strayer, 1996). Empatia está associada com a
habilidade para experienciar e expressar tanto emoções positivas como negativas. Crianças
que experienciam emoções como medo, tristeza e felicidade, que reconhecem e aceitam estes
sentimentos, e que conseguem manejar sua própria raiva durante as interações sociais, tendem
a ser mais empáticas (Roberts & Strayer, 1996).
A socialização das emoções é um aspecto de central importância para a expressividade
emocional e empatia. A partir das experiências afetivas das crianças com seus pais e irmãos,
estas aprendem a lidar com seus sentimentos e expressá-los (Eisenberg, Fabes, Schaller, Carlo,
& Miller, 1991). Garner, Jones e Miner (1994) referem que o apoio dos pais diante das
emoções negativas dos filhos facilita a regulação da emoção e o reconhecimento das emoções
de outros em diferentes contextos. Para alguns autores, crianças tendem a se comportar de
uma maneira construtiva e demonstrar competência social quando elas aprendem a regular
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suas emoções (Eisenberg, Fabes, & Murphy, 1996). Pais que confortam seus filhos e
conversam sobre suas emoções negativas, ajudam os mesmos a expressá-las de uma maneira
socialmente apropriada, e a modular seu afeto. Em contraste, reações negativas dos pais frente
às emoções dos filhos, dificulta a aprendizagem dos mesmos e interfere de forma negativa no
seu comportamento. A falta de apoio dos pais frente às emoções negativas dos filhos,
especialmente medo, tristeza e ansiedade, pode reduzir o senso de segurança da criança, e
crianças inseguras podem ter dificuldade em regular suas emoções e situações que envolvem
as mesmas. Por outro lado, crianças que têm apoio dos pais desenvolvem sentimentos
positivos com relação a relacionamentos sociais, são mais seguras e, consequentemente,
sabem lidar com suas emoções (Eisenberg, Fabes, & Murphy, 1996). Um estudo sobre a
expressividade social (Luthar, 1991) demonstrou que a habilidade para regular emoções e
expressá-las pode funcionar como um fator de proteção para a criança, resultando na
promoção de competência social através da formação de vínculos de amizade.
Os efeitos do uso da disciplina pelos pais durante a socialização da criança também
têm demonstrado relação com o desenvolvimento da empatia e do comportamento pró-social
(Eisenberg, Fabes, Schaller, Carlo, & Miller, 1991; Krevans & Gibbs, 1996). Um estudo
demonstrou que pais que usam predominantemente a indução de disciplina, ao invés de
asserção de poder, durante a educação, tiveram filhos que apresentaram maiores índices de
empatia e comportamento pró-social (Krevans & Gibbs, 1996). Tal fato sugere que o uso da
indução da disciplina, em contraste com a imposição autoritária da mesma, tende a promover
empatia, e, por conseguinte, comportamentos pró-sociais. Estes achados são consistentes com
os de Baumrind (1991), no qual o tipo de autoridade exercido pelos pais influencia no
comportamento dos filhos e na competência social dos mesmos. O tipo autoritário flexível é
descrito pela autora como o mais relacionado com a competência, pois privilegia relações
harmoniosas, flexíveis, com muito incentivo e proteção.
Vários estudos revelam que as práticas de socialização emocional dos pais interferem
na competência social dos filhos (Eisenberg, Fabes, & Murphy, 1996; Roberts & Strayer,
1987). As respostas dos pais às situações de stress de seus filhos são um aspecto de
fundamental importância na parentagem. Relações harmoniosas e afetuosas, juntamente com
controle paternal, estão relacionadas com a competência social das crianças (Roberts &
Strayer, 1987). Assim, presume-se que a empatia desempenha um papel importante para a
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competência social, uma vez que contribui para o vínculo pais-filhos e para a segurança
emocional.
Parece haver uma relação direta entre o desenvolvimento da empatia e o
relacionamento dos pais com a criança. Pais que respondem com empatia às necessidades e
desejos da criança e que utilizam práticas de socialização emocional que promovem apoio,
proporcionam um senso de segurança que, posteriormente, será transferido para outros
relacionamentos sociais. Este senso de segurança contribui para a competência social da
criança na medida em que se constitui num recurso interno para lidar com situações adversas.
Da mesma forma, a empatia dos pais serve como modelo para o desenvolvimento da empatia
na criança. Uma criança empática é sensível emocionalmente e tem facilidade em estabelecer
vínculos sociais. Assim, pode-se dizer que a empatia contribui para a competência social
através das relações de amizade, que também constituem uma fonte importante de segurança
para lidar com situações de stress.
dela, e a noção de quão aceitável ou inaceitável ela sente que é, aos olhos dos pais. O modelo
das figuras de apego refere-se à idéia que a criança faz de quem são seus pais (quem são suas
figuras de apego), onde podem ser encontrados e como respondem às suas necessidades. Tais
modelos governam o que ela sente em relação a cada um dos pais, em relação a ela mesma, a
forma que ela espera que cada um a trate, e a forma como planeja seu próprio comportamento
em relação a eles (Bowlby, 1984a; 1989).
O processo de apego é uma via de mão dupla: ele se constrói a partir da interação pais-
filhos. Assim, é importante salientar que tanto os pais quanto as crianças desenvolvem um
modelo de funcionamento das relações de apego (Ainsworth, 1969; Bowlby, 1984a;
Bretherton, 1996). Durante a gravidez os pais criam modelos de funcionamento tanto para eles
como para o filho, baseados nas suas próprias experiências precoces de apego. Após o
nascimento, tais modelos devem ser adaptados ao temperamento e às necessidades do filho
(Bretherton, 1996).
Alguns autores afirmam que os modelos de funcionamento internos podem ser
transmitidos intergeracionalmente (Bretherton, 1996; Posada, Gao, et al., 1995; Posada,
Waters, Crowell, & Lay, 1995). Desta forma, as expectativas dos pais em relação às
características dos filhos influenciam no desenvolvimento do vínculo entre ambos. Posada,
Gao e colaboradores (1995) chamam a atenção para as expectativas das mães quanto ao filho
imaginário, pois estas não necessariamente se tornam realidade com o nascimento do filho
real. É provável que essas expectativas e preferências estejam implicadas na determinação de
práticas de maternagem que influenciam no relacionamento da mãe com a criança. A falta de
adaptação entre as expectativas da mãe e o comportamento da criança podem acarretar
distorções no vínculo, que poderão repercutir negativamente durante toda a vida (Farinatti,
Biazus, & Leite, 1993).
Baseado nesse pressuposto, este estudo visa a investigar a representação mental da
relação de apego (conforme descrito por Bretherton, Ridgeway, & Cassidy, 1990; Cassidy,
1988; Fury, Carlson, & Sroufe, 1997; Verschueren et al., 1996) na criança e ao mesmo tempo
avaliar a qualidade do relacionamento mãe-filho a partir do ponto de vista da mãe, através de
uma entrevista. O objetivo desta tarefa é verificar que aspectos do relacionamento da mãe com
a criança contribuem para o desenvolvimento da segurança dentro da relação de apego, da
empatia e da competência social da criança.
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posteriormente. Outra maneira de avaliar a relação de apego que vem sendo muito explorada
por alguns autores, recentemente, é através da comunicação da criança sobre a sua relação
com a mãe (Bretherton, Ridgeway, & Cassidy, 1990; Cassidy, 1988; Fury, Carlson, & Sroufe,
1997; Verschueren et al., 1996). Contrariamente à situação estranha proposta por Ainsworth e
Bell, estes autores procuram avaliar a relação de apego baseados na comunicação da criança
sobre a relação, pois postulam que as experiências precoces de apego foram internalizadas e
transformadas em representações mentais da relação de apego. Uma das maneiras de avaliar
esta representação mental, que será utilizada neste estudo, é através do desenho da família,
proposto por Fury, Carlson e Sroufe (1997). Estes autores referem que as experiências de
apego da criança podem ser representadas através do desenho, e avaliadas de acordo com
determinadas características que possam predizer a qualidade da sua relação de apego. Estas
medidas são importantes, pois permitem avaliar a qualidade do vínculo em crianças numa
idade em que elas já passaram pelo processo de apego e já têm internalizado um modelo
mental de funcionamento do mesmo.
Dentro da abordagem ecológica, o processo de internalização das relações
significativas ocorre através da transformação das díades de atividade conjunta em díades
primárias (Bronfenbrenner, 1979/1996). Para que as relações se tornem significativas e,
posteriormente, internalizadas, é necessário que tenham três características: reciprocidade,
equilíbrio de poder e afeto (Alves, 1997). Reciprocidade requer influência mútua entre as
pessoas em relação, equilíbrio de poder refere-se à passagem de poder da pessoa que possui o
domínio da relação (neste caso, a mãe ou cuidador) para a pessoa em desenvolvimento (a
criança) de acordo com suas necessidades e capacidades. O afeto é uma condição essencial na
relação, que pontua o estabelecimento e a perpetuação de sentimentos positivos no decorrer do
processo. Estas relações são internalizadas e continuam a existir fenomenologicamente mesmo
quando os participantes da díade não estão juntos. As díades exercem uma poderosa influência
na orientação do curso do desenvolvimento, tanto na presença quanto na ausência da pessoa
(Bronfenbrenner, 1979/1996).
Existem muitos indícios que demonstram uma relação entre a representação mental da
relação de apego, a empatia, e o seu papel na determinação da adaptação e competência social
das crianças. Este assunto tem sido o foco de muitas pesquisas atuais na área, que preocupam-
se em estudar, além da representação mental da relação de apego, práticas de parentagem e de
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socialização emocional que possam estar relacionadas com a competência social (Baumrind,
1991; Carson & Parke, 1996; Eisenberg, Fabes, & Murphy, 1996; Garner, Jones, & Miner,
1994).
Tendo em vista que a adaptação tem um papel essencial no desenvolvimento do
indivíduo e que muitas crianças desenvolvem-se em situações de risco, é necessário lançarmos
um olhar cuidadoso sobre os fatores que podem promover adaptação. Neste sentido, a
competência social pode desempenhar um papel protetivo para estas crianças, provendo
recursos para adaptações em situações de risco. Uma boa representação mental da relação de
apego proporciona segurança e confiança à criança. Da mesma forma, uma criança empática
tem mais facilidade para vincular-se a outras crianças, formando relações de amizade. Estes
recursos promovem competência, e podem ser acionados pelo indivíduo durante os momentos
mais difíceis, auxiliando na capacidade de adaptação.
Considerando a importância do tema, esta pesquisa teve como meta avaliar a
competência social de crianças que vivem em situação de risco pessoal e social e relacioná-la
com a empatia, a representação mental da relação de apego das crianças e a qualidade do
relacionamento entre mães (ou cuidadoras) e filhos. Foi dividida em dois estudos: O primeiro
avaliou a competência social, a empatia e a representação mental da relação de apego das
crianças, correlacionando essas variáveis. O segundo avaliou a qualidade do relacionamento
mães-filhos a partir das mães, baseado em indicadores que consideram aspectos do
relacionamento desde a gestação até o momento atual e também aspectos como a percepção da
mãe sobre a empatia de seu filho. Posteriormente, relacionou-se essas variáveis com a
competência social, a empatia e a representação mental da relação de apego das crianças.
HIPÓTESES
ESTUDO I
1. Existe diferença entre os sexos com relação a competência social.
2. Existe diferenças de idade para a competência social.
3. Existe diferença entre os sexos com relação a empatia.
4. Existe diferenças de idade para a empatia.
5. Existe relação entre competência social e empatia em crianças em situação de risco.
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5.1. Crianças que demonstram maiores níveis de empatia são mais competentes
socialmente do que crianças menos empáticas.
6. Existe relação entre competência social e representação mental da relação de apego
em crianças em situação de risco.
6.1. Crianças que têm uma boa representação mental da relação de apego são mais
competentes socialmente do que crianças que não têm.
7. Existe relação entre empatia e representação mental da relação de apego em crianças
em situação de risco.
7.1. Crianças que têm uma boa representação mental relação de apego são mais
empáticas do que crianças que não têm.
ESTUDO II
1. Existe relação entre a empatia da criança e a percepção da mãe sobre a empatia
do seu filho.
2. Existe relação entre a representação mental da relação de apego da criança e os
indicadores de proteção e risco no relacionamento mães-filhos.
3. Existe relação entre a competência social da criança e os indicadores de proteção e
risco no relacionamento mães-filhos .
4. Existe relação entre a empatia da criança e os indicadores de proteção e risco no
relacionamento mães-filhos.
5. Existe relação entre a percepção da mãe sobre a empatia da criança e os indicadores
de proteção e risco no relacionamento mães-filhos.
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CAPÍTULO II
MÉTODO
2.1ESTUDO I
2.1.1 Participantes
Participaram deste estudo 100 crianças (50 meninos e 50 meninas), com idade entre
seis e nove anos, estudantes de 1ª, 2ª e 3ª séries de duas escolas públicas de Porto Alegre. Os
critérios para a seleção dos participantes foram o local de residência das crianças (vilas
próximas às escolas onde o tráfico de drogas e o índice de violência - assaltos, assassinatos -
são altos) e o nível sócio-econômico baixo (renda familiar abaixo de três salários mínimos),
ambos considerados como fatores de risco neste estudo.
Determinada a população a ser estudada, as escolas foram contatadas após uma visita
inicial à Secretaria de Educação do Município feita pela equipe do CEP-RUA, objetivando o
consentimento informado para a realização da pesquisa. A partir desse primeiro contato,
foram realizadas reuniões com a equipe de direção e professores da escola para explicitar os
objetivos do estudo, os procedimentos a serem tomados pela equipe de pesquisadores, bem
como estabelecer que crianças participariam da pesquisa. O contato com os pais e/ou
responsáveis pelas crianças foi realizado durante as reuniões de entrega de boletins, ocasião
em que foi solicitado consentimento verbal para que seus filhos participassem da pesquisa,
além de esclarecer os objetivos da mesma.
Os instrumentos utilizados com as crianças nesse estudo foram uma entrevista inicial,
duas escalas que avaliaram, respectivamente, competência social e empatia, e o desenho da
família, que avaliou a representação mental da relação de apego da criança, descritos a seguir.
Entrevista inicial:
O primeiro contato feito com as crianças foi através de uma entrevista inicial, que
tinha como objetivo estabelecer vínculo e, ao mesmo tempo, coletar dados de identificação
com relação à criança e sua família. Foram coletados dados sócio-demográficos como idade,
constelação familiar, profissão dos pais, local de trabalho e residência (Anexo I).
importantes para a competência social: (1) Confiança, (2) Auto-Eficácia e (3) Iniciativa
(Mondell & Tyler, 1981).
Com relação à avaliação, as histórias podem ser pontuadas com dois, um, ou zero
pontos, de acordo com o Manual de Pontuação (Mondell & Tyler, 1981), também adaptado
para o uso com esta população por Marques, Martins, Krum, Raymundo e Koller (1997)
(Anexo III). Na subescala de confiança, os finais considerados mais competentes são aqueles
com maior grau de otimismo e confiança interpessoal. Finais pessimistas e destrutivos são
considerados menos competentes. Na subescala de auto-eficácia, os finais mais competentes
são aqueles em que os esforços e comportamentos da criança são vistos como responsáveis
pelos resultados. Finais menos competentes são aqueles em que a sorte ou forças externas às
crianças são vistas como responsáveis pelos resultados. Na subescala de iniciativa, os finais
nos quais a criança toma, ativamente, alguma decisão e se esforça para resolver o problema
proposto são vistos como mais competentes. Finais menos competentes são aqueles em que a
criança decide não tomar alguma atitude, desiste, ou permite que outra pessoa resolva o
problema. As respostas mais competentes são avaliadas com dois pontos, respostas mistas ou
ambíguas recebem um ponto e respostas não competentes recebem zero. A soma dos escores
de cada subescala pode totalizar dez pontos, e a soma do escore de competência total pode
totalizar 30 (trinta) pontos.
As respostas atribuídas pelas crianças no teste foram analisadas individualmente por
dois avaliadores treinados para esta tarefa. Posteriormente, foram feitas reuniões com o
objetivo de comparar os resultados com relação à pontuação e obter consenso. Quando não
houve concordância entre os dois avaliadores, um terceiro avaliador igualmente capacitado
intervinha no processo e participava da discussão até obter um consenso.
A análise de fidedignidade do Teste das Histórias Incompletas verificou um coeficiente
de alpha de Cronbach de 0,50, um valor considerado baixo pela literatura para a
fidedignidade. Acredita-se, contudo, que esse resultado deve-se ao número reduzido de itens
em cada subescala (5), o que gera uma certa inconsistência nas respostas, ocasionando uma
baixa relação entre os itens.
Avaliação da empatia:
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A empatia foi avaliada através da Escala de Empatia (Bryant, 1982) (Anexo IV),
adaptada para a utilização no Brasil com crianças de nível sócio-econômico baixo (Ribeiro,
Koller, & Camino, no prelo). Consiste em 22 itens afirmativos e negativos, os quais são lidos
para a criança e esta deve concordar ou não. Respostas empáticas são pontuadas com um
ponto, respostas não empáticas são pontuadas com zero pontos. Assim, quanto maior o
número de pontos obtidos, maior o nível de empatia. Com relação à fidedignidade da escala,
foi verificado um alpha de Cronbach de 0,54.
2.2 ESTUDO II
2.2.1 Participantes
Participaram desse estudo 30 crianças (14 meninos e 16 meninas), que fizeram parte
do estudo anterior, e suas respectivas mães (ou cuidadoras), de nível sócio-econômico baixo,
residentes em vilas próximas às escolas onde as crianças estudavam.
CAPÍTULO III
RESULTADOS
O plano geral de análise de dados desta pesquisa visa a descrever a amostra estudada
nos Estudos I e II, bem como apresentar as médias, diferenças entre grupos e correlações
encontradas entre as variáveis, verificando as hipóteses estabelecidas previamente.
3.1 ESTUDO I
A análise de dados desse estudo objetiva a descrever a amostra estudada em suas
características demográficas, as médias e diferenças entre os grupos de idade e sexo
encontradas para as variáveis competência social, empatia, e representação mental da relação
de apego, além de apresentar as correlações existentes entre estas variáveis.
Dados demográficos
A amostra foi composta por 100 crianças, sendo 50 do sexo feminino e 50 do sexo
masculino, estudantes de duas escolas da rede estadual de Porto Alegre. O número de crianças
em cada escola e a distribuição por sexo foi semelhante: na escola A, 22 crianças eram do
sexo masculino e 27 eram do sexo feminino; na escola B, 23 crianças eram do sexo feminino e
31
28 eram do sexo masculino. As idades das crianças variaram entre seis e nove anos, conforme
mostra a Tabela 1.
A média das idades das crianças foi de 7,81 (dp=0,86). A maioria das crianças
freqüentava a 2ª série (52%), conforme mostra a Tabela 2.
Diferenças de empatia entre grupos etários, entretanto, não foram encontradas nessa
amostra. Apesar dos dados apontarem uma média mais alta para as crianças mais velhas - 8/9
anos (n=36; m=13,42; dp=3,04) do que para as mais novas - 6/7 anos (n=64; m=12,91;
dp=3,25), essa diferença não é significativa. Dessa forma, a hipótese inicial de diferença de
idade para a empatia não é confirmada por esse estudo.
A variável representação mental da relação de apego da criança foi avaliada, nesse
estudo, através do Desenho da Família, que foi analisado por meio de duas escalas: a Escala
34
O número total de desenhos avaliados nessa escala variou para cada item devido a
impossibilidade de avaliar desenhos onde a mãe ou a criança não estavam representados,
35
assim como desenhos que representavam apenas a cabeça, ou representavam apenas o cenário,
sem figuras.
A análise da Escala Global para a Avaliação do Desenho da Família é apresentada na
Tabela 8, onde são exibidas as médias para cada subescala.
entre a escala de auto-eficácia e empatia (r= 0,26; p<0,05) e entre a escala de competência
total e empatia (r= 0,21; p<0,05). Esse dado revela que, quanto mais empática é uma criança,
mais competente socialmente ela tende a ser, confirmando a hipótese desse estudo.
A relação entre competência social e representação mental da relação de apego da
criança foi calculada através do Coeficiente de Correlação de Pearson. Foram encontradas
algumas relações significativas entre as subescalas da competência social e da representação
mental (ver Tabela 9).
Para aprofundar a relação encontrada pela Correlação de Pearson entre essas duas
variáveis, foi realizada uma Análise de Variância (ANOVA), com o objetivo de comparar as
médias de competência social nos diferentes níveis de pontuação das escalas da representação
mental. Para a comparação entre a competência e as oito escalas que avaliam a representação
mental, os níveis originais de pontuação nessas escalas foram agrupados. Os sete níveis
originais de pontuação (7-muito alto, 6-alto, 5-moderadamente alto, 4-moderado, 3-
moderadamente baixo, 2-baixo e 1-muito baixo) foram agrupados em três níveis devido ao
baixo número de observações por grupo. A nova categorização foi feita da seguinte forma:
alto=7, 6; moderado=5, 4, 3; e baixo=2, 1. A partir dessa categorização, a média de
competência social foi observada dentro desses níveis (ver Tabela 10).
Tabela 10: Comparação das médias de competência social entre os níveis das escalas
de representação mental (n=100)
Representação Mental Competência Social F (2,97)
Escalas Níveis N Médias dp
Vitalidade Baixo 23 17,39 3,53 0,58
Moderado 66 17,08 4,19
Alto 11 18,36 4,50
Felicidade Baixo 33 15,82 3,89 3,49*
Moderado 60 18,08 4,06
Alto 7 17,43 3,26
Vulnerabilidade Baixo 4 18,25 2,06 0,74
Moderado 64 17,58 4,08
Alto 32 16,59 4,19
a
Isolamento Baixo 12 17,58 3,40 0,73
Moderado 46 17,87 4,22
Alto 9 16,11 3,52
Tensão/Raiva Baixo 9 18,44 4,39 4,07*
Moderado 76 17,67 3,98
Alto 15 14,67 3,42
a
Papéis invertidos Baixo 20 18,35 2,85 0,60
Moderado 43 17,33 4,18
Alto 4 16,50 6,86
Dissociação Baixo 72 17,63 3,98 1,51
38
Esse dado indica que, quanto mais empática é a criança, maior tende a ser seu
investimento na tarefa de desenhar sua família através do embelezamento e adição de detalhes,
expressando sentimentos de felicidade e proximidade emocional com relação ao grupo
familiar. As demais subescalas não se correlacionaram com a empatia.
3.2 ESTUDO II
A análise de dados desse estudo objetiva, num primeiro momento, descrever as
crianças e as famílias entrevistadas em suas características demográficas. Posteriormente,
serão apresentadas as freqüências obtidas nos fatores protetivos, regulares e de risco dos
indicadores de relacionamento mãe-filho. No final, serão estabelecidas as relações encontradas
entre os indicadores do relacionamento mãe-filho obtidos através da entrevista com as mães, a
40
Dados demográficos
A amostra desse estudo foi composta por 30 crianças e suas respectivas mães (ou
cuidadoras). Dezesseis crianças eram do sexo feminino (53,3%) e 14 (46,7%) do sexo
masculino. A maioria das crianças estava na segunda série (n=16; 53,3%), e o mesmo número
se repetiu na primeira e terceira séries (n=7; 23,3%). A raça das crianças foi, na sua maioria,
branca (ver Tabela 12).
Total 30 100,0
De acordo com a Tabela 14, em 86,7% dos casos o papel de cuidador da criança é
desempenhado pela mãe biológica da criança. Em 6,7%, esse papel é desempenhado por uma
tia e, da mesma forma, em 6,7% é desempenhado pela avó. Cabe salientar aqui que, nos casos
onde a cuidadora é uma tia, a mãe biológica das crianças é falecida. Por outro lado, nos casos
onde a cuidadora é a avó, em um caso a mãe biológica é falecida, e no outro a mãe é viva e
mora ao lado da casa da criança. Nos casos onde a cuidadora da criança não é a mãe biológica,
a Tabela 15 mostra há quanto tempo a cuidadora está desempenhando esse papel.
O único caso observado na Tabela 15 em que a cuidadora está com a criança há mais
de seis anos é o caso em que a mãe biológica é viva. Nos demais casos, a mãe biológica é
falecida.
A idade média das cuidadoras foi de 36,4 anos (dp=8,5). A idade mínima foi de 23 e a
máxima foi de 64 anos. O nível de escolaridade das cuidadoras mais freqüente foi o 1º grau
incompleto (53,3%) (ver Tabela 16).
A ocupação das cuidadoras pode ser observada na Tabela 17. A ocupação mais
freqüente foi a de dona de casa (30%), seguida por faxineira (26,7%) e autônoma (vendas)
(16,7%).
42
Com relação à constelação familiar das crianças, 50% vivem com a mãe e o pai
biológico, 23,3% vivem com a mãe e o padrasto, 3,3% vivem com a cuidadora (avó) e o avô,
e 23,3% vivem só com a cuidadora (tia). O pai biológico é vivo em 86,7% dos casos e
falecido em 13,3% dos casos. A idade média dos pais é de 38,5 (dp=8,7). A idade mínima é
de 26 e a máxima é de 55 anos. O nível de escolaridade mais freqüente entre os pais foi o 1º
grau incompleto (30%), conforme pode ser observado na Tabela 18.
Tabela 18: Escolaridade do pai
Escolaridade do pai Freqüência %
Analfabeto 2 6,7
1º grau incompleto 9 30,0
1º grau completo 6 20,0
2º grau incompleto 1 3,3
2º grau completo 3 10,0
Pai falecido 4 13,3
Sem informação 5 16,7
Total 30 100,0
A ocupação dos pais pode ser observada na Tabela 19. A ocupação mais freqüente foi
a de autônomo (pedreiro, marcineiro, auxiliar de serviços gerais, mecânico, eletricista,
motorista de caminhão) (43,3%), seguida por funcionário público (motorista, gari) (16,7%) e
zelador (13,3%).
Zelador 4 13,3
Pai falecido 4 13,3
Desempregado 2 6,7
Funcionário de empresa particular 1 3,3
Sem informação 1 3,3
Total 30 100,0
O número de irmãos nessas famílias varia de zero a dez, sendo a média de 2,8
(dp=2,6). O número de pessoas que moram no lar varia de dois a doze, resultando numa média
de 5,1 (dp=2,2). O número de pessoas da família que não moram no lar varia de zero a três,
com uma média de 1 (dp=1).
A média de casamentos da mãe é de 1,7 (dp=0,7), variando de um a quatro. A média
de casamentos do pai é de 1,4 (dp=0,5), variando de um a dois. A posição da criança no
genetograma familiar é, em 66,7% dos casos, filho da primeira união da mãe. Trinta por cento
das crianças são filhos da segunda união da mãe, e o restante (3,3%) são filhos da terceira
união da mãe.
10 itens (n=1). Assim, a média dos indicadores foi de 81,59 (dp=10,90), sendo que o número
mínimo foi de 64 e o número máximo foi de 109.
Com relação à primeira parte da entrevista - história da gestação e nascimento da
criança - as Tabelas 20 e 21 mostram a freqüência dos fatores protetivos, regulares e de risco
para o relacionamento. A Tabela 20 apresenta os dados referentes à história da gestação, de
acordo com o Roteiro de Codificação (Anexo X).
Tabela 20: Freqüência dos fatores protetivos, regulares e de risco - História da
gestação (ind. 1-13)
Indicadores Proteção Regular Risco Total (100%)
História da gravidez
1. Planejamento 6 (20,7%) 0 (0,0%) 23 (79,3%) 29
2. Tempo de união 20 (71,4%) 5 (17,9%) 3 (10,7%) 28
Reação dos pais
3. Reação da mãe 22 (75,9%) 2 (6,9%) 5 (17,2%) 29
4. Reação do pai 24 (80%) 3 (10%) 3 (10%) 30
Filho imaginário
5. Sexo 24 (92,3%) 0 (0,0%) 2 (7,7%) 26
6. Características 25 (92,6%) 0 (0,0%) 2 (7,4%) 27
Planos para o filho
7. Durante a gestação 24 (82,8%) 1 (3,4%) 4 (13,8%) 29
8. Atualmente 30 (100%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 30
Vivência da mãe
9. Como se sentiu 17 (58,6%) 1 (3,4%) 11 (37,9%) 29
10. Doença 23 (79,3%) 0 (0,0%) 6 (20,7%) 29
11. Aborto 25 (86,2%) 0 (0,0%) 4 (13,8%) 29
12. Percepção da criança 22 (88%) 0 (0,0%) 3 (12%) 25
13. Tempo de gestação 26 (86,7%) 0 (0,0%) 4 (13,3%) 30
depois de um ano de convivência, o que é considerado fator protetivo. Em 17,9% dos casos a
gestação foi o que precipitou a união (casamento) dos pais, o que é considerado um fator
regular. Em 10,7% dos casos, os pais não ficaram juntos (não casaram) quando a mãe
engravidou, o que é considerado um fator de risco. Com relação à reação dos pais com o
nascimento do filho (indicadores 3 e 4), a maioria dos pais teve uma reação considerada
protetiva (75,9% e 80% para as mães e pais, respectivamente), demonstrando sentimentos de
alegria e responsabilidade para com a criança. Em 6,9% dos casos, a mãe teve uma reação de
surpresa e susto quando ficou sabendo da gestação, o que é considerado um fator regular. Em
17,2% dos casos a reação da mãe foi negativa (tentou abortar, não gostou), o que é
considerado um fator de risco. Em 10% dos casos, os pais estavam se separando ou já estavam
separados quando a mãe engravidou, o que é considerado um fator regular. Da mesma forma,
em 10% dos casos, o pai abandonou a mãe quando ficou sabendo que ela estava grávida, o que
é considerado como um fator de risco para o relacionamento.
Os dados referentes ao filho imaginário (indicadores 5 e 6) demonstram que a maioria
das mães havia imaginado o sexo (92,3%) e as características da criança (92,6%), ambos
considerados como fatores protetivos para o relacionamento. Apenas algumas mães não
haviam imaginado nem o sexo da criança (7,7%), nem suas características (7,4%), o que é
considerado fator de risco. As respostas aos indicadores 7 e 8 (o que a mãe planejava e planeja
atualmente para a criança) revelam que a maioria das mães havia feito planos para o filho
durante a gestação (82,8%) e continua planejando atualmente (100%), fatores também
considerados protetivos. Apenas 3,4% das mães mencionam que não lembram o que haviam
planejado, o que é considerado como fator regular. Em 13,8% dos casos, as mães referem que
não haviam planejado algo para o filho, o que é considerado como fator de risco.
Com relação à vivência da mãe durante a gestação, as respostas ao indicador 9 (como a
mãe se sentiu durante a gravidez) revelam que 58,6% das mães não tiveram problemas físicos
e emocionais, demonstrando sentimentos de alegria e bem-estar durante a gestação, um fator
considerado protetivo. Em 3,4% dos casos, as mães mencionam que não deram muita atenção
à gestação porque trabalhavam muito, o que é considerado um fator regular. Por outro lado,
37,9 % das mães apresentaram tanto problemas de saúde (diabete, pressão alta) quanto
emocionais, como por exemplo, “sofria porque apanhava do marido” ou “não sentiu-se bem
porque não queria o filho”, fatores considerados de risco para o relacionamento da mãe com a
46
O indicador 14 diz respeito aos sentimentos da mãe quando o filho nasceu. A maior
parte delas (79,3%) demostrou sentimentos positivos, como por exemplo “ficou feliz”, “ficou
emocionada” quando o filho nasceu, um fator considerado protetivo para o relacionamento.
Algumas mães tiveram reações de alívio com o nascimento, pois estavam preocupadas com
seu estado de saúde e com o da criança, um fator considerado regular (6,9%). Outras
demonstraram sentimentos negativos, como “ficou decepcionada”, “pensou em nunca mais ter
filhos”, “teve dificuldade para fazer contato, pois parecia que não era seu filho” (13,8%).
Essas respostas foram consideradas fatores de risco. A reação dos familiares com o
nascimento da criança (indicador 15) foi, na maior parte, de apoio e aceitação (89,7%), um
fator protetivo. Somente 10,3% tiveram atitudes de não se importar com o nascimento da
criança, um fator considerado de risco.
Os dados sobre o filho real (indicadores 16 e 17) demonstram que a maioria das mães
havia imaginado algo a respeito do filho (92,9%) e apresentou atitudes de adaptação frente à
criança, revelando sentimentos de felicidade (82,1%), um fator considerado protetivo.
Somente 7,1% das mães não haviam imaginado algo a respeito da criança e 17,9% das mães
demonstraram sentimentos de decepção frente ao filho real, fatores considerados de risco.
Com relação à amamentação da criança (indicador 18), 83,3% das mães amamentaram
seus filhos (fator protetivo), ao passo que 16,7% das mães não amamentaram (fator de risco).
O desmame (indicador 19) foi, em 50% dos casos, lento e gradual, pois as mães mencionaram
que “a criança deixou o peito naturalmente” e/ou “ a mamadeira foi introduzida lentamente”.
Esses fatores são considerados protetivos. Em 23,3% dos casos, o desmame ocorreu devido a
questões circunstanciais, como por exemplo, uma nova gravidez, a mãe foi trabalhar e a
criança foi para a creche, ou a mãe ficou triste com a morte do marido. Esses fatores são
considerados regulares. Em 26,7% dos casos as mães não amamentaram ou, quando o fizeram,
mencionaram que o desmame foi difícil, pois a criança não queria largar o peito. Esse fator é
considerado de risco. Os sentimentos das mães durante a amamentação (indicador 20) foram,
48
em 76,9% dos casos, de satisfação e bem-estar (fator protetivo), ao passo que 23,1% das mães
relataram que não gostavam de amamentar e/ou não amamentaram (fator de risco).
Os dados sobre o sono da criança (indicador 21) revelam que 46,7% das crianças
dormem em um quarto sozinha ou com os irmãos, um fator considerado protetivo. Em 36,7%
dos casos, as crianças dormem no quarto dos pais, em uma cama separada, um fator
considerado regular. Em 16,7% dos casos, as crianças dormem na cama dos pais, um fator
considerado de risco. A maioria das crianças (70%) não costuma passar para a cama dos pais
durante a noite (indicador 22) (fator protetivo); 13,3% das crianças costumam o fazer de vez
em quando (fator regular); e 16,7% das crianças dormem com os pais ou costumam passar
sempre para sua cama (fator de risco).
Com relação aos cuidados da criança durante os primeiros meses (indicador 23),
93,3% das crianças foram cuidadas pelas mães com a ajuda de alguém (marido, filhas, avó),
um fator considerado protetivo. Somente 6,7% das crianças foram cuidadas exclusivamente
pela avó, mesmo quando a mãe morava junto com a criança, um fator considerado de risco
para o relacionamento da mãe com a criança. Atualmente, quem desempenha o papel de
cuidador da criança (indicador 24) é a mãe biológica ou a mãe substituta (caso a mãe
biológica já tenha falecido), algumas vezes com a ajuda de alguém (avó, filhas, marido) em
93,3% dos casos (fator protetivo). Em 3,3% dos casos esse papel é desempenhado
exclusivamente pela avó, mesmo quando a mãe não é falecida (fator regular), e em 3,3% dos
casos a criança costuma ficar sozinha durante o dia, tendo contato com a mãe somente à noite
(fator de risco).
A classificação das respostas da segunda parte da entrevista - características da criança,
interação com os pais, limites e vida escolar - em fatores protetivos, regulares e de risco é
apresentada nas Tabelas 22 e 23. A Tabela 22 mostra a classificação das respostas relativas às
características da criança e relacionamento com os pais, de acordo com o Roteiro de
Codificação (Anexo X).
Características da criança
25. Humor 16 (53,3%) 6 (20%) 8 (26,7%) 30
26. Independência 20 (66,7%) 6 (20%0 4 (13,3%) 30
27. Temperamento 21 (70%) 5 (16,7%) 4 (13,3%) 30
28. Afetividade 27 (90%) 1 (3,3%) 2 (6,7%) 30
Relacionamento com pais
29. Quando está triste 17 (56,7%) 8 (26,7%) 5 (16,7%) 30
30. Quando fica longe 22 (73,3%) 6 (20%) 2 (6,7%) 30
31. Conduta de oposição 13 (43,3%) 4 (13,3%) 13 (43,3%) 30
32. Volta ao normal 30 (100%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 30
33. Sentimento injustiça 10 (33,3%) 0 (0,0%) 20 (66,7%) 30
34. Pedido de ajuda 21 (70%) 0 (0,0%) 9 (30%) 30
35. Relacionamento c/ pais 23 (76,7%) 4 (13,3%) 3 (10%) 30
mãe menciona que a criança não procura ninguém, um fator considerado como de risco. A
reação da criança quando fica longe dos pais (indicador 30) é relatada pela mãe como sendo
de adaptação em 73,3% dos casos, um fator considerado protetivo. Em 20% dos casos, a mãe
menciona que a criança não obedece outras pessoas quando está longe, um fator considerado
regular, e em 6,7% dos casos a mãe menciona que a criança fica muito mal, doente, quando
está longe dos pais, um fator de risco.
Com relação à conduta de oposição (indicador 31), 43,3% das mães mencionam que a
criança não apresenta (fator protetivo). Treze por cento das mães mencionam que as crianças
apresentam conduta de oposição algumas vezes (fator regular), e 43,3% das mães mencionam
que as crianças apresentam freqüentemente (fator de risco). Todas as mães referem que as
crianças costumam voltar facilmente ao normal após ter uma conduta de oposição, um fator
considerado protetivo (indicador 32).
A percepção da mãe sobre os sentimentos da criança de ser tratado injustamente
(indicador 33) é, em 66,7% dos casos, de que a criança se sente injustiçada, o que é
considerado um fator de risco. Em 33,3% dos casos, a percepção é de que a criança não se
sente desta forma, um fator considerado como protetivo. Setenta por cento das mães referem
que as crianças não costumam pedir ajuda desnecessária aos pais para realizar suas tarefas
(indicador 34), o que é considerado um fator protetivo, ao passo que 30% costumam fazê-lo,
o que é considerado um fator de risco. A percepção da mãe sobre o seu relacionamento com a
criança (indicador 35) é, em 76,6% dos casos, de um relacionamento calmo (fator protetivo).
Em 13,3% dos casos, a mãe percebe seu relacionamento com a criança como moderado (fator
regular), e em 10% dos casos o relacionamento é percebido como difícil (fator de risco).
A classificação das respostas referentes à percepção da mãe sobre os limites
apresentados à criança e sobre sua vida escolar, de acordo com o Roteiro de Codificação
(Anexo X), é apresentada na Tabela 23.
.
Tabela 23: Freqüência dos fatores protetivos, regulares e de risco - Limites e vida
escolar (ind. 36-47)
Indicadores Proteção Regular Risco Total (100%)
Limites da criança
36. Repreensão 21 (70%) 0 (0,0%) 9 (30%) 30
37. Negativa 26 (86,7%) 0 (0,0%) 4 (13,3%) 30
51
protetivo). Em 3,3% dos casos a percepção é de que eles tentam fazê-lo algumas vezes (fator
regular), e em 40% dos casos a percepção é de que eles tentam manipular sempre (fator de
risco).
Com relação ao desempenho escolar da criança (indicador 42), 80% das mães
percebem que o desempenho de seu filho é bom, um fator considerado protetivo. Em 16,7%
dos casos a percepção é de que o desempenho é mais ou menos, um fator considerado regular,
e em 3,3% dos casos a percepção é de que o desempenho é ruim, um fator considerado de
risco. A reação da criança quando tira notas baixas (indicador 43) é percebida pelas mães
como “ficar triste” em 80% dos casos (fator protetivo). Em 16,7% dos casos a percepção é de
que a criança “acha normal” tirar notas baixas (fator regular), e em 3,3% dos casos a
percepção é de que a criança fica com medo de ser punido pelos pais quando tira uma nota
baixa (fator de risco). A reação dos pais quando a criança tira uma nota baixa (indicador 44)
é, em 90% dos casos de acolhida (fator protetivo). Em 6,7% dos casos a reação é de “achar
normal” (fator regular) e em 3,3% dos casos a reação é de punir a criança (fator de risco).
A percepção da mãe sobre os sentimentos da criança quando ela foi reprovada na
escola (indicador 45) é de que ela se sentiu triste em 86,7% dos casos, o que é considerado um
fator protetivo. Em 13,3% dos casos, a percepção é de que a criança não se importou, o que é
considerado um fator de risco. A reação dos pais frente à reprovação da criança (indicador 46)
é de acolhida e de aconselhamento em 90% dos casos, o que é considerado um fator protetivo.
Em 10% dos casos, a reação é a de punir a criança, o que é considerado um fator de risco. A
atitude das mães frente a uma possível decisão da criança de parar de estudar (indicador 47) é,
para a maior parte delas (96,7%), de não permitir (fator protetivo). Apenas 3,3% das mães
mencionam que permitiriam que o filho parasse de estudar se quisessem (fator de risco).
A classificação das respostas da terceira parte da entrevista - empatia maternal - em
fatores protetivos, regulares e de risco, de acordo com o Roteiro de Codificação (Anexo X), é
apresentada na Tabela 24.
Tabela 24: Freqüência dos fatores protetivos, regulares e de risco - Empatia da mãe
(ind. 48-57)
Indicador Proteção Regular Risco Total (100%)
Percepção
48. Sentimentos criança 18 (60%) 6 (20%) 6 (20%) 30
53
O sentimento das mães frente à tristeza dos filhos (indicador 53) é, em 86,2% dos
casos, congruente com o sentimento deles (tristeza, irritação), o que é considerado um fator
protetivo. Em 10,3% dos casos as mães mencionam que não vêem o filho triste, o que é
considerado um fator regular. Em 3,4% dos casos, as mães mencionam sentimentos de culpa
pelo fato da criança estar triste, o que é considerado um fator de risco. O sentimento das mães
frente à alegria dos filhos (indicador 54) é, em 96,6% dos casos, congruente com o sentimento
das crianças (alegria, felicidade) (fator protetivo). Em 3,4% dos casos, as mães mencionam
que gostam quando a criança está alegre desde que não incomode os irmãos (fator regular).
As atitudes tomadas pelas mães quando seus filhos estão chorando (indicador 55) são,
em 93,3% dos casos, de consolo e acolhida, um fator considerado protetivo. Em 6,7% dos
casos, as mães mencionam que não costumam ver o filho chorando, um fator considerado
regular. As atitudes tomadas pelas mães quando seus filhos estão sorrindo (indicador 56) são,
em 86,2% dos casos, de rir e brincar junto com o filho (fator protetivo). Em 3,4% dos casos,
as mães mencionam que a “criança não é de rir muito” (fator regular). Em 10,3% dos casos as
mães mencionam não tomar atitude frente a alegria do filho (fator de risco). A percepção das
mães sobre a capacidade da criança para compartilhar seus sentimentos e experiências
(indicador 57) é, em 73,3% dos casos, de que a criança costuma compartilhar (fator
protetivo). Em 6,7% dos casos a percepção é de que a criança costuma compartilhar algumas
vezes (fator regular). Em 20% dos casos a percepção é de que a criança não costuma
compartilhar seus sentimentos e experiências com os pais (fator de risco).
na competência social podem ser explicadas pelo modelo, o que é considerado baixo devido
ao baixo número de observações utilizadas para essa modelagem (n=29). Assim, optou-se por
analisar essas variáveis através do coeficiente de correlação de Pearson e do teste t de Student.
A relação entre a empatia da criança e a percepção da mãe sobre a empatia de seu filho
feita através do Coeficiente de Correlação de Pearson foi significativa (r=0,43; p<0,05). Esse
dado sugere que existe uma relação próxima entre a mãe e a criança, pois quanto maior a sua
percepção sobre a empatia do filho, mais empático ele tende a ser.
Para estabelecer as relações entre os indicadores do relacionamento mães-filhos e as
variáveis representação mental da relação de apego, competência social, empatia e percepção
da mãe sobre a empatia do filho, foi utilizado o Teste t de Student, com o objetivo de
comparar as médias dessas variáveis entre grupos. Para isso, a variável indicador do
relacionamento mães-filhos foi dicotomizada de acordo com a média, sendo construídos dois
grupos: um grupo de crianças de maior risco (escore acima da média) e um grupo de crianças
de menor risco (escore abaixo da média) (ver Tabela 25).
Tabela 26: Comparação das médias das escalas da representação mental da relação de
apego entre os grupos de maior e menor risco (n=29)
Escalas Grupos R.M (médias) dp t(27)
Freqüência Menor Risco 4,94 2,33 -2,55*
Maior Risco 7,33 2,71
Vitalidade Menor Risco 4,00 1,70 1,01
Maior Risco 3,33 1,83
Felicidade Menor Risco 4,18 1,63 2,76*
56
menor risco, não demonstrou diferença entre os grupos. Conforme apresentado na Tabela 27,
não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as médias de
competência social nos grupos de maior e menor risco, entretanto, observa-se que as médias
do grupo de menor risco são maiores do que as médias do grupo de maior risco. Esse dado
aponta para uma possível relação entre o nível de risco existente no relacionamento e a
competência social da criança, que talvez pudesse ser confirmada se o número de casos do
estudo não fosse reduzido.
Tabela 27: Comparação das médias da competência social entre os grupos de maior e
menor risco (n=29)
Escalas Grupos C.S (médias) dp t(27)
Confiança Menor Risco 4,88 1,90 0,36
Maior Risco 4,58 2,57
Auto-Eficácia Menor Risco 6,88 1,32 0,44
Maior Risco 6,58 2,35
Iniciativa Menor Risco 6,47 1,37 0,96
Maior Risco 5,92 1,73
Competência Total Menor Risco 18,24 3,07 0,92
Maior Risco 17,08 3,68
Tabela 28: Comparação da média de empatia entre os grupos de maior e menor risco
(n=29)
Grupos Empatia (média) dp t(27)
Empatia Menor Risco 13,88 3,43 0,70
Maior Risco 13,00 3,16
58
CAPÍTULO IV
DISCUSSÃO
A análise dos resultados obtidos nos dois estudos dessa pesquisa demonstrou relações
significativas entre as variáveis competência social, empatia, representação mental da relação
de apego e a qualidade do relacionamento mães-filhos em crianças em situação de risco. De
uma maneira geral, pode-se dizer que a maioria das hipóteses estabelecidas previamente foram
confirmadas pelos resultados encontrados, sendo que outras não puderam ser confirmadas. Tal
fato remete a uma série de considerações e questionamentos.
Com relação ao Estudo I, que se propôs a investigar a relação entre competência
social, empatia e representação mental da relação de apego, vários aspectos podem ser
ressaltados.
Inicialmente, os dados demográficos obtidos a partir da caracterização da amostra de
crianças por idade e série apontam para um número significativo de crianças com nove anos e
um número reduzido de crianças freqüentando a 3ª série (ver Tabelas 1 e 2). Em termos
ideais, deveriam cursar a 3ª série as crianças que estão entre oito e nove anos. Esse dado
aponta para um possível atraso com relação a vida escolar, podendo ser tanto por reprovação
como pelo ingresso tardio na escola, o que contribui para a caracterização da amostra como
sendo de risco nesse aspecto. Dentro da amostra estudada, pode ser destacado um caso em que
a mãe esperou o filho mais novo completar sete anos para matricular os três filhos na 1ª série:
a mais velha com nove anos, o outro com oito e o mais novo com sete. Essa atitude foi tomada
pela mãe devido a impossibilidade dela para conduzir os filhos à escola. Assim, com as três
crianças matriculadas, elas passaram a ir sozinhas à escola cuidando-se umas às outras, já que
o acesso à escola era perigoso devido ao alto índice de violência dentro da própria vila onde
59
moravam e ao tráfego que as crianças deveriam enfrentar até chegar à escola. Essa situação
remete a uma reflexão sobre as condições de risco. A literatura utiliza a denominação crianças
em situação de risco como aquelas que não tiveram condições físicas, psicossociais e/ou
emocionais de desenvolvimento quando comparadas à média das crianças de sua faixa etária
(Hawkins, 1986). Nesse sentido, parece haver um consenso na literatura de que o baixo nível
sócio-econômico é considerado como um importante fator de risco (Luthar & Zigler, 1991;
Zimmerman & Arunkumar; 1994). Nunes (1994) ressalta que crescer na pobreza consiste
numa ameaça ao bem-estar da criança e numa limitação de suas oportunidades de
desenvolvimento. A dificuldade econômica oriunda de fatores sociais, políticos e econômicos
que operam num nível macrossistêmico ecológico afeta o desenvolvimento das crianças, ao
passo em que restringe as condições dos pais de oferecerem recursos adequados para o seu
crescimento. Assim, o acesso tardio à escola, observado em parte da amostra estudada, reflete
a circunstância de risco enfrentada por essas crianças, que estariam se prejudicando também
por deixar de freqüentar um ambiente considerado como protetivo. Zimmerman e Arunkumar
(1994) referem que a escola, além de constituir uma oportunidade para o desenvolvimento
social e cognitivo das crianças, adquire um papel protetivo, na medida em que possibilita o
desenvolvimento de habilidades para lidar com eventos de risco, bem como promove
experiências para o desenvolvimento da auto-estima, auto-eficácia e crenças de controle.
Apesar da evidência de risco ser um fator constante na amostra, a avaliação da
competência social demonstrou, entretanto, que esse grupo não difere muito em suas
estratégias para adaptação em situações estressantes de outros grupos mais avantajados em
relação às condições sócio-econômicas. O estudo de Mondell e Tyler (1981) sobre
competência social com crianças e adolescentes de nível sócio-econômico médio revelou uma
média de 17,75 (dp=4,20), um resultado semelhante ao encontrado nessa pesquisa (ver Tabela
3). Ao comparar as duas médias através do teste t de Student para uma média populacional,
observa-se que não há diferença significativa entre as duas amostras. A análise isolada de cada
subescala, entretanto, revela resultados diferenciados. Com relação à subescala de confiança, a
média obtida nesse estudo e no estudo de Mondell e Tyler não foram estatisticamente
diferentes. As médias das subescalas de auto-eficácia e de iniciativa, contudo, foram
diferentes estatisticamente. A média de auto-eficácia desse grupo foi superior a do estudo de
Mondell e Tyler, e a média de iniciativa foi inferior à deles. Em seu estudo, Mondell e Tyler
60
observaram que a baixa pontuação na escala de iniciativa estava presente nos grupos menos
competentes, em contrapartida, alta pontuação nas escalas de confiança e auto-eficácia
estavam presentes nos grupos mais competentes. Esse fato era o que basicamente distinguia os
grupos mais competentes dos grupos menos competentes: os grupos mais competentes
demonstravam mais sentimentos de controle pessoal e responsabilidade sobre os eventos de
suas vidas, ao passo que os grupos menos competentes demonstravam mais passividade ao
enfrentar as situações adversas. A baixa pontuação na escala de iniciativa presente nesse
estudo parece ser um indício de que a variável risco possa estar influenciando na capacidade
de interagir com os eventos de vida, interferindo no desenvolvimento de estratégias para ação.
Coble, Gant e Mallinckrodt (1996) enfatizam a importância da capacidade de iniciativa para a
competência social. Os autores atribuem aos comportamentos de busca de solução de
problemas um papel fundamental na determinação do sucesso na adaptação em situações
adversas.
A análise das diferenças entre os sexos para a competência social nessa amostra
demonstrou que as meninas obtiveram melhores resultados do que os meninos nas escalas de
confiança, auto-eficácia e competência total, sendo mais competentes socialmente (ver Tabela
4). Esse achado confirma a hipótese de diferenças entre os sexos para a competência social,
embora não corrobore com os resultados encontrados por Mondell e Tyler (1981). Esses
autores não encontraram diferenças significativas entre os sexos, contudo, observaram que as
meninas pontuaram consistentemente mais alto do que os meninos. Um estudo recente sobre
competência social e avaliação de comportamento traz dados complementares aos desse
estudo, demonstrando que as meninas são mais competentes socialmente e apresentam menos
problemas de comportamento durante a adaptação à escola do que os meninos (LaFreniere &
Dumas, 1996). Essa diferença sugere que a variável sexo esteja associada com a capacidade
para adaptação em situações de stress. De acordo com LaFreniere e Dumas (1996), é provável
que algumas crianças respondam a situações estressantes manifestando comportamentos
disruptivos, e existem evidências na literatura de que esse tipo de comportamento é mais
freqüente em meninos (Zahn-Waxler, Coble, & Barrett, 1991).
Dentro da Psicopatologia do Desenvolvimento há uma distinção comum entre os
autores com relação à direção da manifestação do sintoma: os sintomas direcionados ao
comportamento - externados (agressividade e uso de drogas, por exemplo) (Short & Brokau,
61
que alguns demonstraram diferenças em favor das meninas, outros em favor dos meninos e,
ainda, outros não apontaram diferenças. Os estudos que utilizaram questionários, contudo,
foram os mais consistentes em relação às diferenças de sexo, demonstrando que as meninas
são mais empáticas do que os meninos (Lennon & Eisenberg, 1987). O fato das meninas
demonstrarem maiores níveis de empatia do que os meninos em procedimentos como
questionários é explicado por alguns autores devido às práticas de socialização na família
(Zahn-Waxler, Cole, & Barrett, 1991). Atitudes como cuidar e confortar estão mais ligadas ao
papel da mãe, assim, passa a ser internalizado com maior freqüência pelas meninas, através da
identificação, que desenvolvem características como preocupação e interesse pelos outros
mais do que os meninos (Zahn-Waxler, Cole, & Barrett, 1991).
Diferenças de empatia entre idades não foram observadas nessa amostra, em oposição
aos achados de Bryant (1982). Em seu estudo realizado com crianças e adolescentes de 1ª, 4ª e
7ª séries, foram encontradas diferenças significativas, sendo que os adolescentes de 7ª série
demonstraram ser mais empáticos do que as crianças de 1ª e 4ª séries. Do mesmo modo, a
revisão feita por Lennon e Eisenberg (1987), com relação às diferenças de idade para a
empatia em procedimentos como questionário apresentou dados similares. Em suma, esses
autores concluíram que a empatia aumenta durante os primeiros anos escolares pelo menos
com relação às pessoas do mesmo sexo, entretanto, nenhuma relação aparente entre idade e
empatia foi observada em crianças com mais de onze anos. Apesar desses achados, os autores
referem que os dados das pesquisas sobre empatia são difíceis de interpretar devido à
variabilidade das emoções envolvidas durante a mensuração (Lennon & Eisenberg, 1987).
Dessa forma, a hipótese de diferença entre idade para a empatia não é confirmada por esse
estudo.
A variável representação mental da relação de apego da criança avaliada através da
escala de Freqüência de Sinais Específicos no Desenho da Família encontrou resultados
similares aos de Fury (1996). Dos 24 sinais específicos, nove estão entre os mais freqüentes
em ambos os estudos, que são: (1) figuras incompletas; (2) falta de cenário; (3) figuras
flutuando; (4) inícios falsos; (5) afeto neutro ou negativo; (6) homens e mulheres não
diferenciados por gênero; (7) criança muito longe da mãe; (8) mãe não femininizada; e (9)
exagero nos braços (ver Tabela 7). O sinal mais freqüente no estudo de Fury foi a falta de
cenário, com 57% de freqüência, o que apareceu nessa amostra com o mesmo percentual. O
63
sinal mais freqüente nessa amostra foi figuras incompletas, com 64% de freqüência, o que
apareceu na pesquisa de Fury com apenas 25% de freqüência. Outro sinal muito freqüente
nessa amostra, que não obteve alta freqüência no estudo de Fury, foi a omissão da mãe ou da
criança, que aconteceu em 31% dos casos, ou seja, quase em um terço da amostra. Esse sinal
foi encontrado por Fury em apenas 8,1% dos casos. Por outro lado, o sinal símbolos e cenas
não usuais foi encontrado por Fury com 15% de freqüência, e nessa amostra apareceu com 4%
de freqüência. A discrepância com relação à freqüência desses sinais nos dois estudos pode
estar vinculada com o contexto sócio-cultural das duas amostras estudadas. O fato desse
estudo ter sido realizado com uma população de nível sócio-econômico baixo eleva,
conseqüentemente, o nível de risco existente dentro dessas famílias. Nunes (1994) ressalta que
a miséria econômica é um fator de risco que nunca vem desacompanhado: ela permeia a
relação conjugal, aumentando a incidência de conflitos entre os pais, o que produz um efeito
direto no relacionamento dos pais com a criança. Desta maneira, a angústia dos pais em
relação às dificuldades financeiras aumenta a probabilidade de manifestação de
comportamentos hostis para com a criança (Nunes, 1994). Nesse sentido, a grande freqüência
da omissão da mãe ou da criança nos desenhos pode estar ilustrando a distância emocional
existente no relacionamento. Esse fato demonstra que o desenvolvimento ocorre sempre em
interação com o ambiente, ou seja, o comportamento das pessoas é influenciado amplamente
pelas características do contexto (Bronfenbrenner, 1996; Nunes, 1994).
A análise das médias da Escala Global para avaliação do desenho da família também
traz dados com relação à influência do contexto no desenvolvimento das crianças. Apesar dos
resultados obtidos por esse estudo serem similares aos de Fury (1996), observa-se que as
médias das escalas que avaliam os aspectos negativos no desenho (vulnerabilidade,
isolamento, tensão, papéis invertidos e patologia global) nesse estudo são superiores às de
Fury, (com exceção da média da escala de dissociação, que é menor) (ver Tabela 8). Em
contrapartida, as escalas que avaliam os aspectos positivos no desenho têm uma média
inferior. Esse dado indica, mais uma vez, que a condição de risco enfrentada por essas
famílias aumenta a vulnerabilidade dentro do relacionamento, influenciando na relação de
apego entre a mãe e a criança.
O nível de risco vivenciado pelas pessoas dessa amostra tende a ser, entretanto,
amenizado pela correlação entre dois fatores de proteção: a competência social e a empatia. A
64
relação entre essas duas variáveis demonstra que, quanto mais empática é uma criança, mais
competente socialmente ela é capaz de ser. Esse achado corrobora com estudos anteriores, que
revelam que crianças socialmente competentes tendem a ser sensíveis e empáticas com seus
pares, capazes de estabelecer relações de amizade e habilidosas na resolução de problemas
(Howes, Matheson, & Hamilton, 1994). Uma vez que a empatia favorece o vínculo entre as
pessoas, espera-se que ela contribua para o desenvolvimento das relações de amizade. As
relações de amizade, em situações de stress, funcionam como apoio social, e auxiliam na
capacidade de adaptação (Ladd, Kochenderfer, & Coleman, 1996).
A representação mental da relação de apego também é um fator que influencia na
capacidade de adaptação das crianças. A correlação encontrada entre a competência social e a
representação mental da relação de apego demonstra que a confiança e a segurança
provenientes da primeira relação da criança com seu cuidador favorecem a competência social
(ver Tabela 9). As correlações entre a escala de auto-eficácia e as escalas de freqüência, de
tensão e de dissociação revelam que, quanto mais uma criança acredita em si mesma e se
esforça para conseguir alcançar seus objetivos, menos raiva e ressentimento ela demonstra na
representação de sua relação de apego. Por outro lado, a correlação entre as escalas de auto-
eficácia e felicidade revela o oposto, ou seja, quanto mais uma criança acredita em si e se
esforça para conseguir alcançar seus objetivos mais sentimentos de felicidade e pertencimento
ela denota na representação de sua relação de apego. As correlações entre a escala de
competência total e as escalas de felicidade e de tensão indicam que os sentimentos de
segurança, de proximidade emocional e de satisfação favorecem a competência social, e os
sentimentos de raiva e insatisfação com relação ao cuidador diminuem o senso de segurança e
auto-estima, interferindo de forma negativa na competência social da criança.
Da mesma forma, os resultados obtidos através da comparação das médias de
competência social entre os níveis das escalas da representação mental apontam diferenças
significativas nas médias de competência entre os níveis das escalas da representação mental
(ver Tabela 10). A diferença significativa nas médias entre os níveis nas escalas de felicidade,
tensão/raiva e patologia global indicam que a média de competência difere em pelo menos
dois dos três níveis, revelando que a média varia de acordo com os níveis de pontuação nas
escalas da representação mental. Essa diferença também sugere que existe relação entre
competência social e representação mental da relação de apego, uma questão sustentada por
65
muitos autores (Coble, Gantt, & Mallinckrodt, 1996; LaFreniere & Sroufe, 1985; Ptacek,
1996).
De acordo com LaFreniere e Sroufe (1985) existem duas maneiras pelas quais relações
de apego seguras estão vinculadas com a competência social da criança: primeiro, através da
interação com pares, que é uma importante tarefa evolutiva; segundo, através do
desenvolvimento de habilidades sociais aprendidas no contexto das relações de amizade e de
características como auto-estima, auto-eficácia e iniciativa. Pessoas que tiveram uma relação
de apego segura tendem a ser mais confiantes e a estabelecer relações de amizade que possam
fornecer apoio em situações difíceis (Ptacek, 1996). A capacidade para confiar nas pessoas e
permitir tornar-se dependente delas quando isso for necessário requer um complexo interjogo
de procurar encontrar as necessidades emocionais de uma pessoa, manter um vínculo com ela
e a habilidade para regular suas emoções (Coble, Gantt, & Mallinckrodt, 1996). Essas
habilidades estão relacionadas com apego seguro.
Da mesma forma, relações de apego seguro favorecem o desenvolvimento de uma
representação mental de si mesmo positiva. Crianças que desenvolvem sentimentos positivos
com relação a si mesmo tendem a ser mais competentes e melhor ajustadas do que crianças
com uma representação mental negativa de si mesma (Verschueren, Marcoen & Schoefs,
1996). Assim, observa-se que o fato das crianças dessa amostra terem a presença de um adulto
responsável por seus cuidados contribui para o desenvolvimento de habilidades e
características como confiança, auto-eficácia e iniciativa, que favorecem seu desenvolvimento
e adaptação.
Um fator que também está relacionado com a representação mental da relação de
apego é a empatia. A correlação encontrada nesse estudo entre a empatia e a escala de
vitalidade/criatividade revela que, quanto mais empática é uma criança, mais sentimentos de
felicidade e proximidade com relação ao grupo familiar ela tende a expressar em seu desenho
da família (ver Tabela 11). Vários autores referem que a empatia contribui para o
desenvolvimento do vínculo entre pais e filhos (Feshbach, 1987; Plutchik, 1987; Staub, 1987;
Thompson, 1987). A proximidade emocional entre pais e filhos aumenta a sensibilidade dos
pais para satisfazer as necessidades da criança, o que contribui para o desenvolvimento de uma
relação de apego segura. Da mesma forma, crianças com histórias de apego seguro tendem a
desenvolver sentimentos de valor e estima com relação a si mesmas e aos outros, o que
66
baixa escolaridade é um aspecto considerado por alguns autores como um fator que aumenta a
possibilidade de problemas no relacionamento dos pais com a criança (Farinatti, Biazus &
Leite, 1993; Nunes, 1994). A falta de informação oriunda do baixo nível de escolarização,
aliada a baixa inteligência, faz com que os pais muitas vezes desconheçam as fases normais do
desenvolvimento infantil e adotem práticas educativas que possam trazer prejuízos ao
desenvolvimento das crianças (Farinatti, Biazus & Leite, 1993).
A maioria das cuidadoras não trabalhava, desempenhando somente a função de dona
de casa (ver Tabela 17). Nesses casos, a renda familiar era provida pelo parceiro. Por outro
lado, a ocupação mais freqüente entre os pais foi a de autônomo (ver Tabela 19). Com relação
à ocupação, observou-se uma baixa motivação por parte das cuidadoras para procurar
trabalho, aliada ao conformismo e à situação de dificuldade de encontrar um serviço que
correspondesse às suas expectativas. O relato delas era permeado pela acomodação às suas
condições de vida. Esses fatores, sem dúvida, colaboram para a perpetuação da pobreza, e
acabam interferindo também no futuro das crianças (Duncan, 1991).
O conjunto desses dados permite observar que, apesar das famílias dessa amostra
apresentarem muitas condições consideradas de risco, como baixo salário, baixa escolaridade,
péssimas condições de moradia, algumas com um número grande de filhos, elas ainda mantém
alguns aspectos positivos. A presença constante de um adulto responsável pelos cuidados das
crianças (Garmezy, 1996) e o fato delas estarem freqüentando regularmente a escola
(Zimmerman & Arunkumar, 1994) são dois fatores que podem ser destacados como
protetivos, que tendem a contribuir para a sua adaptação.
As demais questões da entrevista permitem observar, mais claramente, os aspectos que
foram considerados como protetivos, regulares e de risco para o desenvolvimento das
crianças. A análise das respostas das mães possibilitou levantar aspectos dentro do seu
relacionamento com a criança que influenciam na sua relação com ela. A primeira parte da
entrevista trouxe dados acerca da história da gestação da mãe e nascimento da criança. O
aspecto mais freqüente considerado como fator de risco para o relacionamento nessa parte foi
o não planejamento da gestação (ver Tabela 20). Vários autores consideram o planejamento da
gestação como um fator positivo para a relação mãe-filho (Farinatti, Biazus, & Leite, 1993;
Raphael-Leff, 1997). Cabe salientar, entretanto, a importância da adaptação frente a uma
gestação não planejada, pois, uma vez que os pais se adaptam e aceitam, isso passa a ser
68
considerado como um aspecto positivo. Maldonado (1994) salienta que uma reação inicial de
rejeição perante a gravidez pode vir a se tornar numa atitude de aceitação. Desta forma,
observa-se que, nessa amostra, a maioria das mães não planejou a gestação, entretanto, muitas
delas demonstraram, no decorrer da entrevista, atitudes de aceitação e satisfação com relação à
criança que iria nascer.
O segundo aspecto mais freqüente considerado como fator de risco foi com relação à
vivência durante a gestação. Mais de um terço das mães demonstrou sentimentos negativos e
sofrimento durante o período de gestação (ver Tabela 20). Algumas mães manifestaram
sentimentos de rejeição, outras não perceberam a gestação, outras relataram episódios de
conflitos com o marido devido a ele chegar em casa alcoolizado. Algumas mães ainda
relataram episódios de doenças e internações hospitalares devido a complicações durante o
período gestacional. A presença de doenças durante a gestação foi o terceiro fator de risco
mais freqüente nessa amostra, e as doenças mais citadas foram pressão alta e diabete. Algumas
mães sofreram internações hospitalares devido a complicações oriundas dessas doenças. Todos
esses fatores foram considerados aspectos negativos para o relacionamento da mãe com a
criança, pois, de acordo com Raphael Leff (1997), gestações complicadas sob o ponto de vista
da condição física da mãe e dos conflitos familiares e conjugais se constituem como fatores de
risco para o relacionamento.
As demais respostas às questões da entrevista relacionadas à gestação foram
consideradas, de uma maneira geral, como fatores protetivos para o relacionamento da mãe
com a criança. A incidência dos fatores considerados de risco foi inferior à 20%. Com relação
à reação da mãe quando percebeu que estava grávida, a maioria das mães demonstrou
sentimentos positivos, como “gostar”, “ficar feliz” e “estar bem”. Apenas uma pequena
parcela de mães demonstrou não ter gostado da gravidez, referindo que “tentou abortar”,
“ficou chateada” e “não gostou” (ver Tabela 20). A reação da mãe ao perceber a gravidez foi
considerada um aspecto importante para o relacionamento mãe-filho porque, de acordo com
alguns autores, é a partir do momento da percepção da gravidez que se inicia a formação da
relação materno-filial (Farinatti, Biazus & Leite, 1993; Maldonado, 1994). Nesse sentido, esse
estudo considerou importante registrar os aspectos do relacionamento da mãe com a criança
desde o momento da concepção.
69
relevante analisar a reação do pai, já que é um fator que pode contribuir para o vínculo da mãe
com a criança.
O relato das mães de sentimentos positivos com relação a percepção dos movimentos
fetais também foi um fator que obteve uma freqüência alta. Oitenta e oito por cento das mães
relataram sentimentos positivos quando perceberam a criança se mexer, sendo que apenas
12% das mães relataram sentimentos negativos (ver Tabela 20). Esses fatores contribuem de
uma forma positiva para a formação do vínculo da mãe com a criança. De acordo com
Maldonado (1994), é com a percepção dos movimentos fetais que se instalam na mãe
sentimentos de personificação do feto, o que se constitui em mais uma etapa da formação do
vínculo materno-filial.
Os dados com relação ao filho imaginado durante a gestação demonstraram que, de
uma maneira geral, as mães criam uma expectativa a respeito do sexo e das características da
criança que irá nascer (ver Tabela 20). Essa fantasia é importante porque, segundo vários
autores, os pais criam expectativas para seus filhos baseados em suas experiências precoces de
apego que precisam ser adaptadas ao filho real (Bretherton, 1996; Posada, Gao, et al., 1995;
Farinatti, Biazus e Leite, 1993; Posada, Waters, Crowell, & Lay, 1995). Essa adaptação é
considerada muito importante para a formação do vínculo dos pais com a criança.
Nesse sentido, também, a expectativa dos pais com relação ao futuro dos filhos é
importante, porque denota um investimento na tarefa de criar e educar os mesmos. Nessa
amostra, todas as mães referiram que fazem planos para o futuro de seus filhos, o que pode ser
considerado importante para sua relação afetiva com eles.
Ainda na primeira parte da entrevista, os dados referentes ao nascimento da criança
revelam que o fator considerado de risco mais freqüente nessa amostra foi relativo ao
desmame (ver Tabela 21). Quase um terço das mães relatou uma dificuldade em desmamar a
criança, ou por causa da insistência da criança, ou por causa das suas próprias dificuldades em
separar-se do filho. Maldonado (1994) refere que a maneira como é feito o desmame
influencia no processo de separação entre a mãe e a criança, o que pode trazer dificuldades
para o relacionamento entre ambos. O segundo aspecto considerado como risco mais
freqüente também foi com relação ao desmame. Algumas mães relataram que não gostavam
de amamentar, um fator que, segundo alguns autores, poderia influenciar negativamente no
vínculo mãe-filho (Farinatti, Biazus, & Leite, 1993; Maldonado, 1994). Maldonado (1994)
71
O terceiro fator mais freqüente considerado como risco foi com relação ao pedido
desnecessário de ajuda (ver Tabela 22). Esse fato remete à idéia de dependência por parte da
criança, numa fase onde o exercício da autonomia se faz necessário. O quarto fator mais
freqüente considerado como risco foi a respeito do humor da criança. Vinte e seis por cento
das mães relataram que seus filhos são mal-humorados. Crianças consideradas “difíceis”,
como por exemplo, com relação ao humor, temperamento e afetividade, estão em risco e
podem desenvolver baixa auto-estima e habilidades sociais empobrecidas, pois elas
geralmente recebem um retorno negativo das pessoas e são freqüentemente tratadas pelos pais
de uma maneira a tentar evitar conflitos (Joseph, 1994). Por esse motivo, o manejo é quase
sempre difícil, e requer muito esforço por parte dos pais.
As demais respostas às questões da entrevista relacionadas às características da criança
e relacionamento com os pais foram consideradas, de uma maneira geral, como fatores
protetivos para o relacionamento da mãe com a criança. A incidência dos fatores considerados
de risco foi inferior à 20%. Os dados referentes a quem a criança procura quando está triste ou
preocupada revelam que a maioria das crianças procura a mãe nessas ocasiões. Esse fato é
considerado positivo para o relacionamento da mãe com a criança porque demonstra a
capacidade do filho para ter a mãe como uma figura de apoio e segurança.
Os dados relativos à independência e temperamento da criança também revelam um
aspecto positivo: a maioria das mães relatou que seus filhos são independentes para sua faixa
etária e fáceis de lidar (ver Tabela 22). Essas características contribuem para o bom
relacionamento com a criança, pois auxiliam na imposição de regras e limites e no
desenvolvimento da autonomia. Da mesma maneira, o relacionamento da criança com os pais
é visto pelas mães, na maioria dos casos, como calmo e sem muitos conflitos, e a criança é
vista também, na maioria dos casos, como afetiva e carinhosa.
A reação da criança quando fica longe dos pais é relatada pelas mães, de uma maneira
geral, como positiva. Mais de dois terços das mães referem que seus filhos ficam com
saudades quando estão longe dos pais, embora se comportem bem na ausência deles. Todas as
mães dessa amostra referem que seus filhos são fáceis de manejar quando se irritam, sendo
capazes de voltar ao normal facilmente (ver Tabela 22).
Ainda na segunda parte da entrevista, a análise das questões sobre os limites e a vida
escolar da criança permitem observar que o fator de risco mais freqüente foi a tentativa da
74
criança de manipular os pais, segundo o relato das mães (ver Tabela 23). Da mesma forma, o
segundo aspecto mais freqüente mencionado pelas mães foi a teimosia da criança e o terceiro
fator foi a não aceitação de uma repreensão por parte dos pais. Esses fatores contribuem para a
incidência de conflitos no relacionamento, bem como interferem no desenvolvimento de
características e habilidades sociais. Baumrind (1991) define uma criança competente como
aquela que se relaciona bem com pares e adultos, possui um forte senso de identidade, é
responsiva, independente, empática e possui capacidade para resolução de problemas. A
autora ressalta que o desenvolvimento dessas características nas crianças está relacionado com
certas práticas educativas, decorrentes de um estilo de parentagem autoritário-flexível, que
privilegia relações harmoniosas, mas com firmeza e consistência.
As demais respostas da entrevista foram consideradas, de uma maneira geral, como
fatores protetivos. A incidência dos fatores de risco foi inferior à 20%. Com relação à
imposição de limites, a maior parte das mães relatou que se sentem bem nessa tarefa, tendo
facilidade para fazê-la. Da mesma maneira, a maioria das mães mencionam que seus filhos
costumam aceitar os limites e obedecer (ver Tabela 23). Esse aspecto é considerado muito
importante na educação da criança, pois sabe-se que a falta de limites pode interferir tanto na
sua relação com os pais, quanto na sua adaptação em outros ambientes, já que a internalização
de regras é um fator fundamental no desenvolvimento (Koller & Bernardes, 1997).
No contexto da vida escolar, a maioria das crianças dessa amostra demonstrou
sentimentos de tristeza quando foram reprovadas na escola, segundo o relato das mães (ver
Tabela 23). Esse aspecto foi considerado importante, pois o sentimento de tristeza frente a um
fracasso pode motivar a criança para aprender com ele e se esforçar para conseguir melhores
resultados. Nesse sentido, também, a maioria das mães demonstrou ter atitudes de apoio e
acolhida diante da reprovação da criança e de suas notas baixas, o que também contribui para
que ela aprenda com o fracasso e se esforce para conseguir melhores resultados futuramente.
A preocupação da mãe com o desempenho escolar da criança reforça nela a importância de
estudar, principalmente nas séries iniciais, uma questão importante para o desenvolvimento da
criança. Gill, Reynolds e Pai (1995) afirmam que crianças, cujos pais são caracterizados como
envolvidos com a escola e têm altas expectativas com relação à educação de seus filhos,
desempenham significativamente melhor e ajustam-se com mais facilidade à escola do que as
demais crianças. A maior parte das mães dessa amostra mencionou que não permitiriam que
75
CAPÍTULO V
79
CONCLUSÃO
Este estudo teve como objetivo avaliar a competência social de crianças que vivem em
situação de risco pessoal e social e relacioná-la com a empatia, com a representação mental da
relação de apego e com a qualidade do relacionamento entre mães e filhos. Os resultados
encontrados por essa pesquisa possibilitaram uma visão geral acerca do desenvolvimento de
crianças em situação de risco e de suas estratégias de enfrentamento e adaptação a essas
condições. Esses aspectos remetem a uma reflexão sobre o conceito de risco.
O conceito de risco é denominado pela literatura em geral como sendo extremamente
relativo (Cowan, Cowan, & Schulz, 1996). Os teóricos dessa área definem o risco baseado na
probabilidade de uma pessoa apresentar determinado comportamento na presença de uma
característica de risco, em comparação com a probabilidade dela apresentar o mesmo
comportamento na ausência dessa característica (Cowan, Cowan, & Schulz, 1996). Dessa
forma, percebe-se que a sua influência no desenvolvimento da pessoa depende das
características individuais, do momento de vida da pessoa e dos recursos disponíveis que
tendem a auxiliá-la na adaptação.
A definição de risco nessa pesquisa foi baseada, inicialmente, nas condições sócio-
econômicas apresentadas pelos seus participantes: o baixo salário e o local de moradia. As
crianças e as famílias que fizeram parte desse estudo residem em vilas próximas às escolas das
crianças onde o índice de violência nas ruas e o tráfico de drogas é intenso. Contudo, apesar
dessas condições, os dados obtidos pelo Estudo I revelaram que muitas crianças parecem estar
adaptadas, demonstrando competência social.
Vários fatores contribuem para a competência social dessas crianças. Nesse estudo, a
empatia e a representação mental da relação de apego demonstraram estar contribuindo para a
adaptação das crianças. As crianças mais competentes socialmente nessa amostra
demonstraram maiores níveis de empatia e uma melhor representação mental da relação de
apego do que as crianças menos competentes, corroborando com vários estudos na literatura
(Coble, Gantt, & Mallinckrodt, 1996; Howes, Matheson, & Hamilton, 1994; LaFreniere &
Sroufe, 1985; Verschueren, Marcoen, & Schoefs, 1996). Empatia e características como
confiança, segurança e auto-eficácia contribuem para experiências positivas com relação ao
desempenho acadêmico e no relacionamento com pares, o que favorece a competência social.
80
Dessa forma, observa-se que a situação de risco enfrentada por essas crianças foi amenizada
pela interferência de fatores protetivos, que contribuíram para a adaptação. Não se pode
afirmar, contudo, que a influência do risco no desenvolvimento dessas crianças não pôde ser
observada.
Os dados obtidos com o Estudo II forneceram uma visão a respeito da qualidade do
relacionamento da mãe com a criança, onde vários outros aspectos considerados de risco
foram observados. O nível de risco dentro do relacionamento da mãe com a criança está
relacionado com a representação mental da relação de apego da criança. As crianças com
melhor representação mental da relação de apego vivenciam menos aspectos considerados de
risco no relacionamento com a cuidadora. Nesse sentido, o contexto têm uma ampla influência
na relação mãe-filho, pois a relação da mãe com a criança é permeada pela sua relação com o
pai da criança, com os outros filhos, como também pelas suas condições de vida. Assim, a
pobreza tem o poder de interferir no relacionamento, aumentando a incidência de conflitos
conjugais devido à falta de condições financeiras, o que pode influenciar na relação da mãe
com a criança através do aumento de comportamentos hostis para com a criança (Nunes,
1994). Dessa maneira, pode-se levantar a hipótese de que a variável risco definida através da
condição sócio-econômica tenha contribuído para o aumento da incidência dos aspectos
considerados de risco dentro do relacionamento da mãe com a criança, o que também
influenciou na representação mental da relação de apego da criança.
De uma maneira geral, os resultados obtidos através desse estudo confirmaram as
hipóteses estabelecidas previamente. A importância da realização dessa pesquisa reside na
possibilidade de implementar programas de intervenção em escolas e comunidades com o
objetivo de promover o desenvolvimento de características que favoreçam a adaptação em
situações adversas. A idéia básica desses programas consiste na prevenção de comportamentos
mal-adaptados através da redução dos fatores de risco e incremento dos fatores de proteção.
Baseada nesse pressuposto, a implementação de programas de desenvolvimento de empatia e
habilidades sociais em escolas possibilita um aumento dos recursos disponíveis à criança que
tendem a contribuir para sua adaptação. Nesse sentido, também, pode-se pensar em programas
que tenham como alvo profissionais que lidam com as crianças diariamente e que
desempenham o papel de educadores e cuidadores, visando a instrumentalizar esses
profissionais para trabalharem com as crianças, reforçando o vínculo e incrementando
81
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ANEXO I
1. Dados Pessoais
- Nome:
- Data de nascimento:
- Idade:
93
- Sexo:
ANEXO III
MANUAL DE PONTUAÇÃO DO TESTE DAS HISTÓRIAS INCOMPLETAS
(adaptado de Mondell, & Tyler, 1981)
Princípios Gerais
1. Respostas para cada uma das 15 histórias são pontuadas com: 2, 1 ou 0 pontos.
2. Respostas dada em uma categoria predominantemente competente são avaliadas
com 2 (dois) pontos; respostas nas quais ocorre um misto de finais competentes e menos
competentes ou que são ambíguas ou incompetentes, recebem 1 (um) ponto; respostas que
94
caem em uma categoria predominantemente menos competente, são avaliadas com 0 (zero)
pontos.
3. Para as histórias 1a - 1e, os finais mais competentes são aqueles com um maior grau
de otimismo e confiança interpessoal, e finais pessimistas e destrutivos são considerados
menos competentes.
4. Para as histórias 2a - 2e, os finais mais competentes são aqueles em que os esforços
e comportamentos da criança são vistos como responsáveis pelos resultados; finais menos
competentes são aqueles em que a sorte ou forças externas à criança são vistas como
responsáveis.
5. Para as histórias 3a - 3e, os finais mais competentes são aqueles onde a criança toma
ativamente alguma decisão, ou esforça-se para resolver o problema proposto; finais menos
competentes são aqueles em que a criança decide não tomar alguma atitude, desiste ou permite
que outra pessoa (adulto) resolva o problema.
6. ESCALA DE CONFIANÇA = soma dos escores das histórias 1a - 1e, com um
mínimo de 0 (zero) e máximo de 10 (dez) pontos.
7. ESCALA DE AUTO-EFICÁCIA = soma dos escores das histórias 2a - 2e, com um
mínimo de 0 (zero) e máximo de 10 (dez) pontos.
8. ESCALA DE COMPETÊNCIA ATIVA = soma dos escores das histórias 3a - 3e,
com um mínimo de 0 (zero) e máximo de 10 (dez) pontos.
9. ESCORE DE COMPETÊNCIA TOTAL = soma dos escores das três escalas ou
soma dos escores das 15 histórias, com um mínimo de 0 (zero) e máximo de 10 (dez) pontos.
PRINCÍPIOS GERAIS DE PONTUAÇÃO - 1a:
2 pts.: A mãe leva-o para nadar. O tempo limpa. Everton não fica desapontado. As coisas se
resolvem.
1 pt.: Eles vão, mas chove ou vão fazer alguma coisa diferente que Everton também queria
fazer. Mistura de resultados bons e ruins ou ainda algum resultado eventual, incerto, etc.
0 pt.: Chove e eles não vão. Everton fica desapontado. Algum desastre ocorre, etc.
1 pt.: Daiane não foi mandada imediatamente de volta para a cama, mas há uma mínima
consideração ou resposta imediata para os medos ou sentimentos de Daiane.
0 pt.: Daiane é mandada diretamente de volta para a cama e os pais não mostram consciência
ou consideração por seus sentimentos; Daiane é punida ou algum desastre acontece. Para de
chover, o trovão parou, passou o medo dela. Os pais acordaram.
1 pt.: Porque ela foi melhor na ginástica, mais rápida e perfeita (sem muita explicação); ou
mistura de respostas de zero e dois pontos. Mirava bem, jogava bem, fazia ginástica bem. Seu
pai ensinou para ela. Quando se refere à capacidade, que é diferente de esforço.
0 pt.: Por causa da sorte. Ela era “Marta Sortuda”; seu pai roubou para ela; seu pai deu a ela
uma chance no começo ; seu pai ensinou mais para ela do que para os outros; ela roubou e seu
pai deixou.
1 pt.: Respostas mistas ou ambíguas ; ela tem uma idéia com a ajuda de alguém; ela apenas
melhora (sem muita explicação). Tirou nota alta.
0 pt.: Ela fracassa, não toma alguma atitude; alguém diz a ela o que fazer; alguém faz algo
por ela; ela cola.
ANEXO IV
ESCALA DE EMPATIA
Eu vou ler para você algumas frases e você vai me dizer se concorda ou não. Se você
concordar, diga “SIM” , se você não concordar, diga “NÃO”.
SIM NÃO
1. Fico triste quando vejo uma menina que não encontra
ninguém para brincar. ( ) ( )
ANEXO V
DESENHO DA FAMÍLIA
FOLHA DE REGISTRO
Nome:_________________________________________________________Idade:______
Sexo:______________________ Examinador:____________________________________
2º
3º
4º
5º
6º
7º
102
8º
9º
10º
11º
12º
13º
14º
15º
Comentários da Criança:
ANEXO VI
ESCALA DE FREQÜÊNCIA DE SINAIS ESPECÍFICOS PARA AVALIAÇÃO DO
DESENHO DA FAMÍLIA
(adaptado de Fury, 1996)
1. Falta de individuação
Essa critério é pontuado quando a mãe e a criança não aparecem retratados de maneira
diferenciada, não sendo possível uma distinção nem pelas características físicas, nem pelas
vestimentas, nem pelo tamanho.
2. Rigidez nos braços
Esse critério é pontuado quando os braços aparecem muito próximos ao corpo,
denotando uma idéia de inflexibilidade e falta de movimento.
3. Exagero na cabeça
Esse critério é pontuado quando a cabeça é representada numa proporção superior a
metade do tronco (Zennequelli & Wojtun, 1979).
4. Falta de cor
Esse critério é pontuado quando a criança não utiliza nenhuma cor em seu desenho, ou
seja, ele é totalmente preto.
103
Esse critério é pontuado quando a criança desenha as figuras nos cantos da página, ao
invés de utilizar todo o espaço disponível da folha.
13. Exagero das partes do corpo moles (abdômem, glúteos)
Esse critério é pontuado quando há uma ênfase nas partes do corpo moles, como o
abdômem e os glúteos.
14. Exagero das características faciais
Esse critério é pontuado quando há uma ênfase nas características faciais, como por
exemplo olhos ou boca demasiadamente grandes, ou coloridos exageradamente.
15. Exagero das mãos ou braços
Esse critério é pontuado quando as mãos são maiores do que o rosto ou quando os
braços são mais compridos do que o joelho (Zennequelli & Wojtun, 1979).
ANEXO VII
ESCALA GLOBAL PARA AVALIAÇÃO DE DESENHO DA FAMÍLIA
(adaptado de Fury, 1996)
1
Na definição das características para a avaliação dos desenhos, toda vez que elas forem citadas como critérios
para classificação, não significa que o desenho precisa, necessariamente, incluir todas as características citadas.
107
5 Esta categoria age como uma marca na distinção de desenhos que “têm
Moderadamente mais a dizer” do que aqueles que simplesmente não têm. Eles podem ter
Alto poucos detalhes (um animalzinho, nuvens, figuras embaixo da
superfície) ou membros da família mostrando movimento e roupas
interessantes, cabelos e características faciais. Estes desenhos são, de
alguma maneira, interessantes de se olhar.
3 Estes desenhos têm aparência de terem sido feitos sem muita energia ou
Moderadamente entusiasmo. A elaboração dos membros da família e dos detalhes é
pobres ou mínima. As figuras podem estar incompletas ou ser desenhadas ao acaso.
restritos em Não há detalhes e o uso de cores é diminuído. As figuras não estão
sentimentos centradas na superfície da página e podem estar flutuando ou
aglomeradas num canto.
2 Baixo em Esse escore será atribuído a desenhos que começam a ter uma aparência
Vitalidade e improvisada. As figuras podem ser pequenas ou desenhadas num padrão
Criatividade empobrecido. Em alguns casos, podem estar incompletas ou podem
parecer terem sido desenhadas de uma maneira automática com pouca
atenção aos detalhes.
Esta escala está designada para capturar o senso da criança de seu orgulho da família,
pertencimento, segurança, e sentimentos gerais de felicidade expressos no desenho. Com
relação a quem compõe a família da criança no desenho (pai, mãe, padrasto, madrasta, tios,
avós), o objetivo desta escala é avaliar como a criança se sente apoiada pelos adultos
incluídos, e sentimentos de felicidade/infelicidade no grupo familiar.
Indicadores de avaliação superior dessa escala incluem: 1) membros da família
posicionados de uma forma direta, aberta - nem amontoados nem flutuando num padrão
aleatório; 2) figuras completas (características faciais e, se o corpo é incluído, os membros
devem estar incluídos, como mãos e pés); 3) afeto facial positivo; 4) membros da família
emocionalmente próximos, como por exemplo vestindo roupas semelhantes com mínimas
alterações por gênero, ou de mãos dadas sem estarem aglomerados, ou realizando alguma
atividade em conjunto. De um modo geral, os desenhos são coloridos e podem fazer o
examinador se sentir como se estivesse sorrindo.
109
Indicadores de avaliação inferior: 1) parece não haver, ou haver pouca coesão familiar,
orgulho, ou senso de pertencimento por parte da criança; 2) os membros da família podem
estar desenhados sem cores, num padrão automático ou de uma maneira carente, caótica ou
desalinhada; 3) as figuras podem flutuar na página, estar incompletas, ou a criança e/ou a mãe
podem estar omitidas completamente; 4) os membros da família podem estar disfarçados
(retratados como animais, por exemplo) ou escondidos (aparecendo por trás de alguma
barreira, como uma janela, por exemplo) de uma maneira não usual; 5) sinais de afeto
positivo, faciais ou corporais (mãos acenando) ou nas atividades da família estão ausentes.
3. Escala de Vulnerabilidade
2 Baixo Estes desenhos são mais organizados, têm uma aparência mais
unificada e completa. O tamanho das figuras é proporcional tanto ao
cenário quanto à página. Há pouca ou nenhuma indicação de
vulnerabilidade.
113
Esta escala pretende avaliar sentimentos de distância emocional ou solidão por parte da
criança. Desenhos pontuados alto nessa escala diferem daqueles pontuados alto em
vulnerabilidade por estarem mais controlados, completos, e talvez temáticos (incluindo a
presença de sinais, símbolos ou membros da família disfarçados ou ocultos). Em cada desenho
deve-se olhar a localização da criança em relação à mãe, a individuação dos membros da
família (mãe e criança retratados de maneira diferenciada) e a expressão de afeto nas figuras.
Também deve-se observar o contato de olhos entre a criança e a mãe. O uso de cores no
desenho como um todo pode variar na aplicação desta escala.
Ao invés de ter uma aparência de uma criança que se sente oprimida e ambivalente
com relação à sua mãe, estes desenhos podem parecer mais sofisticados e complexos em como
a criança expressa raiva ou distância emocional dentro do relacionamento.
Essa escala está preocupada com o grau de tensão ou raiva que é provocado na criança
com o pedido para desenhar a sua família. A raiva e a tensão serão inferidos com base nestas
dimensões no desenho da família: 1) as figuras parecerão muito rígidas (braços muito
próximos ao corpo ou formando um ângulo de 90°); 2) freqüentemente estão sem cor ou afeto
positivo claro; 3) as figuras podem ter uma aparência “esmagada”; 4) os braços estarão
rigidamente para baixo, ao invés de relaxados, um pouco abertos, ou animados; 5) as figuras
podem estar desenhadas relativamente pequenas e aglomeradas, com um pequeno cenário ou
nenhum ao redor; 6) partes do desenho podem parecer carentes ou rabiscadas.
O desenho também pode incluir inícios falsos, onde a criança começa a desenhar uma
pessoa, apaga ou risca, e depois começa novamente.
1 Muito Baixo Desenhos nesse nível não sugerem nenhuma indicação de tensão
e ansiedade por parte da criança. Esses desenhos são tipicamente
coloridos e animados, com figuras completas demonstrando afeto
positivo ou atividade. As figuras parecem vivas e diferenciadas.
Essa escala procura captar sentimentos da parte da criança que sugerem um tipo de
relacionamento de papéis invertidos com a mãe. Mais especificamente, a mãe é percebida
pela criança como frágil (talvez tendo menos poder e autoridade no relacionamento do que
ela), ou vulnerável, e, dessa forma, inconfiável como uma figura maternal consistentemente de
apoio.
117
4 Moderado Nesse ponto da escala, fica difícil fazer um julgamento claro com
relação à inversão de papéis porque as figuras podem
simplesmente estar levemente diferenciadas por tamanho e
proporção. Talvez todas as figuras (incluindo irmãos) estão
relativamente pequenos e mais ou menos iguais em tamanho.
Ainda, eles podem não estar bem desenvolvidos como humanos,
o que pode estar simplesmente relacionado ao estilo ou
habilidade para desenhar.
7. Escala de Dissociação
Essa escala avalia uma forma particular de raiva expressa pela criança no seu desenho
da família. O interesse aqui é como algumas crianças podem revelar sentimentos de
hostilidade, deslealdade e abandono numa variedade de formas (em seus desenhos). O
objetivo subjacente é acessar o processo inconsciente de raiva e ressentimento.
As dimensões a serem consideradas na aplicação dessa escala são:
1) Sinais e símbolos não usuais: talvez com uma qualidade mórbida, escura ou
agressiva (nuvens negras, árvores mortas, rios de sangue, casas ou castelos como fortalezas) e
rabiscos de raiva no contexto do desenho como um todo;
2) Características faciais agressivas e raivosas (dentes pontudos, exagerados, postura e
olhos raivosos);
119
3) Temas de fantasia nos quais a criança está com poder de alguma forma (retratada
como uma criatura animal, ou um rei num castelo);
4) Marcas não usuais não tendo aparente relação com o desenho como um todo.
1 Muito Baixo Desenhos classificados aqui não contém qualquer dos elementos
designados como marcas dessa escala. Esses desenhos têm uma
aparência de estarem completos, felizes e organizados num
mundo ou cenário real.
Essa escala final de avaliação está designada para captar um grau total de patologia
refletida no desenho da família da criança. A classificação deve focalizar aspectos globais do
desenho como um todo, melhor do que dimensões específicas como tamanho ou proporção
das figuras, uso de cor, etc, apesar de que o conhecimento e experiência adquirida no processo
de completar as escalas anteriores será válido aqui.
Ao fazer essa interpretação, os avaliadores devem considerar a seguinte questão: Como
a criança se sente nessa família? Em algum nível, essa escala poderá ser vista como um índice
total da saúde emocional da criança no contexto da família (conforme retratada no desenho).
Essa escala objetiva captar temas emocionais subjacentes como: ansiedade, medo,
dependência, auto-estima, raiva, alienação, dissociação e depressão.
Observação: Pode ser útil realizar uma classificação prévia dos desenhos em três
categorias: 1) mais perturbados; 2) geralmente “OK” ou incertos; e 3) aqueles que parecem
felizes e completos. Depois de completar esse passo, cada desenho deve ser classificado
dentro de uma das sete categorias seguintes.
2
Esses critérios devem ser utilizados para a classificação em todos os níveis desta escala. Para a pontuação no
nível 7, todos os critérios devem estar presentes; para a pontuação do nível 6 ao 1, não é necessária a presença
de todas essas características.
122
.
4 Moderado Nesse ponto da escala, os desenhos podem ser difíceis de
classificar em termos de sentimentos gerais (positivos ou
negativos) e em termos de como as marcas individuais de
classificação são organizadas dentro do desenho como um todo.
Pode haver alguns pontos negativos, combinados com
características positivas (figuras completas, animandas, com
cenário de detalhes). Essa categoria pode ser usada quando o
avaliador não está certo sobre o tom emocional do desenho. Pode
simplesmente parecer médio ou “OK”.
ANEXO VIII
ENTREVISTA COM A MÃE
I. Identificação da Criança:
1) Nome:
2) Data de Nascimento:
3) Idade:
4) Sexo:
5) Raça:
6) Naturalidade:
7) Endereço:
8) Escola:
9) Série:
Causa:
6) Número de pessoas que moram no lar:
7) Pessoas da família que não moram em casa:
9) Como se sentiu quando o filho nasceu? Quando teve o primeiro contato visual e físico com
ele?
10) Como era a criança que nasceu comparando-a com a criança que imaginavas durante a
gestação?
11) Se era diferente, qual foi a sua reação? Como se sentiu?
12) Como reagiram os familiares após o nascimento?
13) O que planeja atualmente para esta criança?
V. Amamentação e Sono:
1) O bebê mamou no peito?
2) Por quanto tempo?
3) Teve dificuldade de pegar no seio?
4) Como foi o desmame?
5) Como se sentia quando amamentava?
6) Como era o sono da criança?
8) Falava ou gritava dormindo?
9) Com quem dorme atualmente?
10) Passa para a cama dos pais durante a noite?
11) Tem terror noturno?
12) É sonâmbulo?
13) Tem enurese?
VIII. Relacionamento:
Características:
1) Como é a criança com relação a:
* humor?
* independência?
* temperamento?
* afetividade?
Vida Familiar:
1) Quando a criança está triste, com alguma dificuldade, ou irritada com alguma coisa, a
quem ela procura?
2) Como reage quando fica longe dos pais?
3) Como reage quando é elogiada?
4) Irrita-se facilmente com os pais?
5) É fácil voltar ao normal?
6) A criança costuma ajudar os pais?
7) Sente que é tratada ou punida injustamente pelos pais?
8) Sente ciúmes quando os pais estão dando atenção para outros filhos?
9) Pede ajuda mesmo quando não precisa?
10) A criança imita o comportamento dos pais?
11) O relacionamento com os pais é instável ou estável?
12) Como a criança reage frente a pessoas estranhas?
Limites:
1) Como a criança reage quando é repreendida por algum motivo?
2) Como reage diante de uma negativa, da imposição de limites?
3) A criança costuma obedecer os pais?
4) É teimosa?
128
Vida Escolar:
1) Como é o desempenho escolar do filho? Tira boas notas?
2) Qual a reação quando a criança não tira notas boas, ou quando é repreendida pela
professora?
3) O que os pais pensam e como reagem frente a notas baixas?
4) A criança foi reprovada alguma vez?
5) Como se sentiu?
6) Como os pais reagiram?
7) Se a criança quisesse parar de estudar, como você se sentiria?
8) O que acha que a criança vai ser quando se tornar adulta?
Empatia da mãe:
* Percepção:
1) É fácil saber o que seu filho está sentindo, mesmo quando ele não fala?
2) Tu és capaz de perceber quando teu filho está triste?
3) Tu és capaz de saber o motivo?
4) Tu és capaz de perceber quando teu filho está alegre?
5) Tu é capaz de saber o motivo?
* Sentimento:
1) Como tu te sentes quando percebes que teu filho está triste ou preocupado?
2) Como tu te sentes quando percebes que ele está alegre?
* Ação:
1) O que tu fazes quando vês que ele está chorando?
2) O que tu fazes quando vês que ele está dando risadas?
3) A criança costuma dividir sentimentos e experiências com os pais?
129
ANEXO IX
INDICADORES DO RELACIONAMENTO MÃES-FILHOS
Indicadores Questões
130
Parte I
História da gravidez 1. A gravidez foi planejada pelos pais?
2. Quanto tempo após a união (casamento) ?
Dados sobre o filho real 16. Como era a criança que nasceu, comparando com a imaginada?
17. Se era diferente, qual a reação?
Amamentação e Sono 18. O bebê mamou no peito?
19. Como foi o desmame?
20. Como se sentia quando amamentava?
21. Com quem a criança dorme?
22. Passa para a cama dos pais?
Parte II
Características da 25. Como é o humor da criança?
criança 26. Como é a independência?
27. Como é o temperamento?
28. Como é a afetividade?
Parte III
Empatia da mãe
Percepção 48. É fácil saber o que a criança sente?
49. Consegue perceber quando está triste?
50. Consegue perceber o motivo?
51. Consegue perceber quando está alegre?
132
ANEXO X
As respostas das entrevistas com as mães (ou cuidadoras) foram codificadas em três
categorias: fatores protetivos, regulares, e de risco para o relacionamento. Para a codificação
das respostas, a entrevista foi dividida em três partes, sendo que para cada uma delas foi
atribuído um significado diferente para fatores protetivos, regulares e de risco.
Parte I
Na primeira parte da entrevista, foram avaliadas as questões pertinentes à história da
gravidez da mãe, sua vivência durante a gestação, o nascimento da criança e as questões
relativas aos seus primeiros cuidados. O significado para os fatores protetivos, regulares e de
risco foi atribuído a partir das respostas das mães sobre os seus sentimentos e
comportamentos.
133
História da gravidez
1. A gravidez foi planejada pelos pais?
Nessa questão, foi considerado relevante o planejamento da gravidez pelos pais, que,
de acordo com Raphael-Leff (1997), é um fator positivo para o relacionamento da mãe com
seu filho. Dessa forma, consideramos fator protetivo, nesse estudo, quando os pais planejaram
a gravidez, e fator de risco quando os pais não planejaram a mesma. Não houve fatores que
pudessem ser considerados como regulares, já que o que estava sendo avaliado era o
contraponto planejamento/não planejamento.
2. Quanto tempo após o casamento (união)?
Nessa questão, foi considerado relevante o tempo de convivência entre os pais antes da
gestação, já que uma gestação precoce num relacionamento é vista como um fator de risco
para o relacionamento mãe-filho (Raphael-Leff, 1997). A mãe pode sentir que a concepção
veio muito cedo num relacionamento, ou sentir que era muito jovem ou emocionalmente
imatura (Raphael-Leff, 1997). Adotamos como um padrão para essa questão o tempo mínimo
de um ano de convivência antes do nascimento da criança. Dessa forma, consideramos fator
protetivo nesse estudo quando a mãe engravidou pelo menos depois de um ano de convivência
com o pai da criança. Consideramos fator regular quando a união ocorre no momento em que
a mãe engravida, e fator de risco quando os pais não casaram, não foram morar juntos, e/ou
quando o pai abandonou a mãe após saber que ela engravidou.
questões como fatores protetivos, demonstrando adaptação por parte das mães. Dessa forma,
consideramos fator protetivo nesse estudo quando a mãe demonstra sentimentos positivos com
relação à gravidez, como “gostar”, “ficar feliz”, “estar bem”, ou sentimentos como “sentir-se
normal”. Consideramos fatores regulares quando a mãe demonstra sentimentos de surpresa,
como “assustada”, “apavorada”, “não esperava”. Consideramos fatores de risco quando a mãe
demonstra não ter gostado da gravidez, como por exemplo dizendo que “tentou abortar”,
“ficou chateada”, “não gostou”.
4. Como o pai reagiu?
Nessa questão, foi considerada relevante a reação do pai ao saber da gravidez da
mulher, pois, conforme realça Langer (1964), o grau de aceitação da gravidez por parte do
ambiente social imediato influencia na tendência da mulher para a maternidade. Nesse sentido,
consideramos fator protetivo quando o pai assume o filho, fator regular quando a mãe não
relata a reação do pai porque eles já estavam separados ou estavam se separando, e fator de
risco quando o pai não assume a criança e/ou abandona a mãe.
Dados sobre o filho imaginário
5. Que sexo imaginava que a criança seria?
Nessa questão, foi considerada relevante a disponibilidade da mãe para criar uma
fantasia a respeito de como seria a criança imaginada. Essa fantasia, de acordo com Farinatti,
Biazus e Leite (1993), é importante para que, na hora do confronto com o bebê real, a mãe
possa adaptar suas expectativas a ele e estabelecer um bom vínculo. Nesse sentido,
consideramos fator protetivo quando a mãe cria uma expectativa a respeito do sexo do filho,
como menino ou menina, e fator de risco quando a mãe diz não ter imaginado o sexo do filho.
Não foram encontrados fatores que pudessem ser considerados regulares, já que o que estava
sendo avaliado era o contraponto imaginar/não imaginar.
6. Como imaginava que a criança seria?
Da mesma forma que na questão anterior, nessa questão foi considerada relevante a
disponibilidade da mãe para criar uma fantasia a respeito das características da criança
imaginada. Assim, consideramos fator protetivo quando a mãe cria expectativas com relação a
como seria a criança que nasceria, descrevendo características e/ou fazendo comparações com
outras pessoas ou irmãos. Consideramos fator de risco quando a mãe não imagina algo a
135
respeito do filho. Também não foram encontrados fatores que pudessem ser considerados
regulares, já que o que estava sendo avaliado era o contraponto imaginar/não imaginar.
constitui mais uma etapa da formação da relação materno-filial. Um estudo demonstrou que a
percepção dos movimentos fetais tendia a favorecer a aceitação da gravidez em 85% dos casos
estudados (Bonnaud & Revault D’Allones, 1963, citado por Maldonado, 1994). Nesse sentido,
consideramos fator protetivo quando a mãe refere ter se sentido “bem e tranqüila” quando
sentiu a criança mexer, e/ou quando refere ter começado a “aceitar melhor a gestação” no
momento em que sentiu a criança no seu útero. Respostas como “achava engraçado” são
também consideradas como fatores protetivos, porque não demonstram sentimentos negativos
por parte da mãe. Por outro lado, consideramos fatores de risco respostas como “não percebi a
criança mexer”, pois demonstram sentimentos de indiferença por parte da mãe. Não foram
encontradas respostas que pudessem ser consideradas como fatores regulares.
Nascimento da criança
14. Como se sentiu quando o filho nasceu?
Nessa questão, foi considerado relevante o sentimento da mãe diante do filho recém-
nascido. De acordo com Maldonado (1994), a primeira reação da mãe diante do recém-
nascido é, na maioria dos casos, positiva, entretanto, a manifestação de um intenso sentimento
materno nem sempre ocorre na primeira vez que a mãe vê seu filho. Nesse sentido,
consideramos fatores protetivos quando a mãe refere ter se sentido feliz e/ou emocionada
quando o filho nasceu. Da mesma forma, respostas como “me senti normal” também foram
consideradas fatores protetivos, pois não demonstram estar revelando sentimentos negativos
138
por parte da mãe. Respostas como “fiquei aliviada, porque estava com problemas de saúde”
são consideradas fatores regulares, pois demonstram uma preocupação com seu estado de
saúde e o da criança. Da mesma forma, respostas como “eu estava anestesiada” são
consideradas fatores regulares, pois revela uma dificuldade inicial para fazer contato com o
filho devido à anestesia. Respostas como “pensei em nunca mais ter filhos”, “fiquei
decepcionada” e “tive dificuldade para fazer contato, parecia que não era meu filho” são
consideradas fatores de risco, pois, apesar do sentimento de rejeição ter a possibilidade de
desaparecer gradualmente, a primeira impressão é negativa.
15. Como reagiram os familiares quando a criança nasceu?
Nessa questão, foi considerado relevante o apoio emocional que a mãe recebeu da
família com o nascimento da criança. De acordo com Maldonado (1994), quando a mãe é
cercada de pessoas que realmente a conseguem ajudar e apoiar, os sentimentos de auto-
confiança e satisfação emocional tendem a aumentar, assim como a disposição de dar afeto ao
bebê. Nesse sentido, consideramos fatores protetivos quando a mãe refere ter tido apoio dos
familiares, dizendo que “eles gostaram” ou “reagiram bem” ao nascimento da criança.
Respostas como “não se importaram” e “não se envolveram” foram considerados como fatores
de risco. Não foram encontradas respostas que pudessem ser consideradas fatores regulares.
Amamentação
18. O bebê mamou no peito?
Nessa questão, foi considerado relevante o fato da mãe ter amamentado a criança nos
primeiros meses. Maldonado (1994) enfatiza que a amamentação não é apenas um processo
fisiológico de alimentar o bebê, mas envolve um padrão mais amplo de comunicação
psicossocial entre a mãe e o bebê e pode ser uma excelente oportunidade para aprofundar o
vínculo. É importante salientar, entretanto, que as crenças e valores das mães com relação à
amamentação influenciam diretamente na sua decisão de amamentar ou não o bebê. Nesse
sentido, consideramos fator protetivo quando a criança mamou no peito, e fator de risco
quando a criança não mamou no peito. Questões de possível contágio por HIV também seriam
consideradas, caso a mãe estivesse infectada, entretanto, essa situação não apareceu nessa
amostra. Não foram encontradas respostas que pudessem ser consideradas como fatores
regulares.
19. Como foi o desmame?
Nessa questão, foi considerada relevante a maneira relatada pela mãe sobre o desmame
da criança. Maldonado (1994) refere que, quando o desmame é precoce ou feito de forma
abrupta, influencia na maneira como a criança elabora o processo de separação da mãe. Nesse
sentido, consideramos fatores protetivos quando a mãe refere ter introduzido a mamadeira
lentamente, ou quando a criança deixou o peito naturalmente, denotando um curso lento e
gradual para o desmame. Consideramos fatores regulares aqueles em que o desmame ocorreu
por questões circunstanciais, onde a criança foi forçada a parar de mamar, como “a mãe foi
trabalhar”, “a criança foi para a creche”, “a mãe ficou deprimida com o falecimento do
marido”, ou “a mãe engravidou novamente”. Foram considerados fatores de risco quando a
mãe refere ter tido dificuldades para fazer o desmame, porque “a criança não queria largar o
140
peito”, pois remete a uma idéia de conflito durante o desmame, e/ou quando a criança não
mamou no peito.
20. Como se sentia quando amamentava?
Nessa questão, foi considerado relevante o sentimento da mãe frente ao ato de
amamentar, de estar próxima à criança. De acordo com Maldonado (1994), as emoções afetam
a lactação: calma, confiança e tranqüilidade favorecem um bom aleitamento; por outro lado,
medo, depressão, dor, fadiga e ansiedade tendem a provocar o fracasso da amamentação.
Nesse sentido, consideramos fatores protetivos quando a mãe refere sentimentos de alegria e
bem-estar durante a amamentação. Consideramos fatores regulares quando a mãe refere ter se
sentido “bem enquanto a criança era pequena, e ruim depois que cresceu (dois anos)”, pois
denota um sentimento de ambivalência com relação à amamentação. Consideramos fatores de
risco aqueles em que a mãe não refere sentimentos positivos, como “não gostava”, “doía
demais”, ou quando a mãe não amamentou.
21. Com quem a criança dorme?
Nessa questão, foi considerado relevante o limite que os pais impõem à criança, que pode
se manifestar também no lugar que a criança ocupa dentro de casa. É importante ressaltar que,
apesar de termos considerando essa questão como significativa para o relacionamento mãe-
filho, também consideramos a condição sócio-econômica destas famílias. Nesse sentido,
consideramos fator protetivo quando a criança dorme sozinha ou com os irmãos num quarto
separado ou na sala. Consideramos fator regular quando a criança dorme no quarto dos pais,
em uma cama separada ou no chão. Consideramos fator de risco quando a criança dorme na
cama com um dos pais, e o outro em outra cama, ou quando a criança dorme na cama com os
pais mesmo quando existe outra cama que poderia estar utilizando.
22. Passa para a cama dos pais durante a noite?
Nessa questão, da mesma forma que na questão anterior, foi considerado relevante o
limite que os pais impõem à criança. Nesse sentido, consideramos fator protetivo quando a
criança não costuma passar para a cama dos pais durante a noite. Consideramos fator regular
quando ela costuma fazer esporadicamente, ou quando “o primeiro sono é na cama dos pais”,
e fator de risco quando a criança dorme com os pais.
Cuidados da criança
141
Parte II
Na segunda parte da entrevista, foram avaliadas as questões relativas à percepção da
mãe sobre as características da criança e a interação dela com o ambiente familiar e escolar. O
significado para os fatores protetivos, regulares e de risco foi atribuído a partir da percepção
da mãe sobre a sua interação com a criança.
Características da criança
25. Como é o humor da criança?
Nessa questão, foi considerada relevante a percepção da mãe sobre o humor da criança.
Parte-se do pressuposto de que com uma criança bem-humorada é melhor de se relacionar.
142
Desta forma, consideramos fator protetivo quando a mãe percebe a criança como bem-
humorada, fator regular quando a mãe percebe a criança como “mais ou menos bem-
humorada”, e fator de risco quando a mãe percebe a criança como mau-humorada.
Nessa questão, foi considerado relevante a capacidade da criança para ter a mãe (ou
cuidadora) como uma figura de apoio e segurança, pois era o relacionamento entre mãe e filho
que estava sendo avaliado. Nesse sentido, consideramos fator protetivo quando a criança
procura a mãe, ou a mãe ou o pai quando se sente triste. Consideramos fator regular quando a
criança procura outra pessoa que não a mãe (ou cuidadora) quando se sente triste, e fator de
risco quando a criança não procura ninguém.
30. Como reage quando fica longe dos pais?
Nessa questão, foi considerada relevante a capacidade da criança para suportar os
períodos de ausência da mãe de acordo com a sua faixa evolutiva. Sabe-se que uma criança
extremamente apegada à mãe (ou cuidadora) cria uma situação de dependência extrema que é
prejudicial ao seu desenvolvimento. Nesse sentido, consideramos fator protetivo quando a
criança se adapta bem quando está longe da mãe, mesmo sentindo sua falta. Consideramos
fator regular quando a criança não obedece as outras pessoas na ausência da mãe, sugerindo
uma dificuldade para internalizar limites, e fator de risco quando a criança chega a ficar
doente na ausência da mãe.
31. Irrita-se facilmente com os pais (conduta de oposição freqüente)?
Nessa questão, foi considerado relevante o grau de conflito entre os pais e a criança.
Uma criança que se irrita muito facilmente com os pais, apresentando conduta de oposição
freqüente, contribui para o aumento dos conflitos, o que tumultua o relacionamento. Nesse
sentido, consideramos fator protetivo quando a criança não costuma irritar-se freqüentemente
com os pais. Consideramos fator regular quando a criança costuma se irritar mais do que o
habitual, e fator de risco quando a criança costuma irritar-se freqüentemente com os pais,
apresentando quase sempre conduta de oposição hostil.
32. É fácil voltar ao normal?
Nessa questão, foi considerada relevante a capacidade da criança para solucionar os
conflitos e aceitar os limites. Uma criança que tem dificuldade para obedecer os pais contribui
para o aumento dos conflitos na relação. Nesse sentido, consideramos fator protetivo quando a
criança costuma voltar ao normal facilmente após ter ficado irritada com os pais.
Consideramos fator de risco quando a criança não volta ao normal facilmente após ter se
irritado com os pais. Não foram encontradas respostas que pudessem ser consideradas como
fatores regulares.
144
Limites da criança
36. Como reage quando é repreendida?
Nessa questão, foi considerada relevante a capacidade da criança para aceitar limites.
Sabe-se que uma criança que tem dificuldades para aceitar limites contribui para uma relação
conflituosa. Nesse sentido, consideramos fator protetivo quando a criança aceita que fez algo
de errado, mesmo quando inicialmente manifeste sentimentos de raiva, braveza e/ou chore.
Consideramos fator de risco quando a criança não aceita que tenha feito algo de errado,
145
demonstrando não aceitar os limites impostos. Não foram encontradas respostas que pudessem
ser consideradas como fatores regulares.
Nessa questão, também foi considerada relevante a capacidade da criança para aceitar
os limites. Nesse sentido, consideramos fator protetivo quando a mãe refere que a criança não
tenta manipular os pais, fator regular quando a criança tenta algumas vezes, e fator de risco
quando a criança tenta manipular os pais.
fator protetivo quando os pais procuram acalmar o filho quando ele tira notas baixas,
conversando ou ajudando-o. Consideramos fator regular quando os pais referem sempre
“achar normal” o fato do filho tirar notas baixas, sugerindo uma baixa expectativa com
relação ao desempenho escolar da criança. Consideramos fator de risco quando os pais punem
o filho quando ele tira notas baixas.
45. Como a criança se sentiu quando rodou?
Nessa questão, foi considerado relevante o sentimento da criança frente a uma situação
de fracasso. Uma criança que se deprime com um fracasso, mas que consegue aprender com
ele, tem chance de se sair melhor nas próximas vezes. Nesse sentido, consideramos fator
protetivo quando a criança se sentiu triste e chateada quando rodou, e fator de risco quando
ela não se importou com a reprovação. Não foram encontrados fatores que pudessem ser
considerados como regulares.
46. Como reagiram quando o filho foi reprovado?
Nessa questão, foi considerada relevante a capacidade dos pais para apoiarem o filho numa
situação de stress. Conforme mencionado anteriormente, a maneira como os pais interagem
com a criança em situações de stress influencia na sua relação com ela. Atitudes de acolhida,
em contraste com atitudes de repreensão, irão contribuir para que a criança melhore seu
desempenho nas próximas notas. Nesse sentido, consideramos fator protetivo quando os pais
tiveram atitudes acolhedoras quando o filho foi reprovado, como aconselhar, acalmar,
explicar. Consideramos fatores de risco atitudes como brigar, bater na criança e/ou deixá-la de
castigo. Não foram encontradas respostas que pudessem ser consideradas como fatores
regulares.
47. Se a criança quisesse parar de estudar, o que os pais fariam?
Nessa questão, foi considerada relevante a importância atribuída pelos pais ao estudo
da criança. Pais que incentivam que a criança estude estão incentivando também o seu
desenvolvimento como um todo, ao passo que pais que não incentivam podem estar tolhendo
a criança no seu desenvolvimento. Nesse sentido, consideramos fator protetivo quando os pais
referem não permitir que o filho pare de estudar no momento em que se encontram, e fator de
risco quando os pais referem que o filho é quem vai decidir, demonstrando falta de incentivo
para o desenvolvimento e crescimento da criança.
148
Parte III
Na terceira parte da entrevista, foram avaliadas as questões relativas à empatia da mãe.
O significado para os fatores protetivos, regulares e de risco foi atribuído a partir da percepção
da mãe dos sentimentos da criança e suas atitudes e sentimentos relacionados à ela.
Empatia da mãe
Percepção
Nas questões que seguem, foi considerada relevante a capacidade da mãe para perceber
os estados emocionais do seu filho. Uma mãe que consegue perceber os estados emocionais de
seu filho está sendo empática com ele. A empatia, de acordo com alguns autores, contribui
para o vínculo entre as pessoas (Plutchik, 1987; Staub, 1987).
48. É fácil saber o que a criança está sentindo, mesmo quando ela não fala?
Nessa questão, consideramos fator protetivo quando a mãe refere saber o que a criança
está sentindo, mesmo quando ela não fala. Consideramos fatores regulares quando a mãe sabe
algumas vezes o que a criança sente ou quando a mãe refere que “a criança está sempre do
mesmo jeito”, o que parece levantar alguma suspeita com relação à atenção da mãe aos
sentimentos do filho na medida em não é capaz de perceber as alterações em seus estados
emocionais. Consideramos fator de risco quando a mãe refere não conseguir saber o que a
criança está sentindo.
49. Consegue perceber quando o filho está triste?
Nessa questão, consideramos fator protetivo quando a mãe consegue perceber quando a
criança está triste. Consideramos fatores regulares quando a mãe refere que consegue perceber
algumas vezes ou quando a mãe refere que “a criança nunca está triste”, também levantando
alguma suspeita com relação à atenção da mãe aos sentimentos do filho. Consideramos fator
de risco quando a mãe não consegue perceber quando a criança está triste.
50. Consegue perceber o motivo?
Nessa questão, consideramos fator protetivo quando a mãe sabe o motivo pelo qual a
criança está triste, quando ela pergunta o motivo, ou quando a criança fala espontaneamente.
Consideramos fator regular quando a mãe refere saber algumas vezes o motivo, ou quando a
mãe refere que a criança “nunca está triste”, levantando alguma suspeita com relação a
149
atenção aos sentimentos do filho. Consideramos fator de risco quando a mãe não sabe o
motivo e nem quer saber.
51. Consegue perceber quando está alegre?
Nessa questão, consideramos fator protetivo quando a mãe percebe quando a criança está
alegre, fator regular quando a mãe percebe algumas vezes, e fator de risco quando a mãe não
percebe quando a criança está alegre.
52. Consegue perceber o motivo?
Nessa questão, consideramos fator protetivo quando a mãe consegue perceber o motivo
pelo qual a criança está alegre, quando ela pergunta, ou a criança fala o motivo. Consideramos
fator regular quando ela percebe algumas vezes o motivo, ou quando refere que “a criança está
sempre alegre”, levantando alguma suspeita com relação a atenção aos sentimentos do filho.
Consideramos fator de risco quando a mãe não percebe quando o filho está alegre.
Sentimento
Nas questões que seguem, foi considerada relevante a capacidade da mãe para
compartilhar um sentimento com seu filho. Compartilhando a mesma emoção, ela está sendo
empática com ele, também contribuindo para o vínculo entre ambos.
pessoas da família. Não foram encontrados fatores que pudessem ser considerados como risco
para o relacionamento nessa questão.
Ação
Nas duas próximas questões, foi considerada relevante a capacidade da mãe para emitir
um comportamento congruente com o estado emocional de seu filho. O apoio dos pais frente
às emoções dos filhos contribui para o reconhecimento das emoções de outras pessoas em
diferentes contextos e também para sua regulação (Garner, Jones, & Miner, 1994). A
regulação das emoções é um aspecto que contribui para o desenvolvimento da empatia
(Eisenberg, Fabes, & Murphy, 1996).
conforto e segurança. Nesse sentido, consideramos fator protetivo quando a mãe refere que a
criança costuma dividir suas experiências e sentimentos com os pais, e fator de risco quando
ela não costuma compartilhar. Não foram encontradas respostas que pudessem ser
consideradas como fatores regulares.
ANEXO XI
PERCEPÇÃO DA MÃE A RESPEITO DA EMPATIA DA CRIANÇA
152
SIM NÃO