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Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Instituto de Letras

Departamento de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura


Disciplina: Teoria da Literatura I Conceito e
concepções de literatura / 2023.2

Professor: Maurício C. Gutierrez


Aluna: Cecilia M. Van Den Haspel Borges.

“O QUE É A LITERATURA” POR TERRY EAGLETON


RESUMO.

Eagleton inicia definindo um ponto de partida: a informação de que existem muitas


tentativas de se obter uma definição acerca do que seria ‘Literatura’, de fato. Mas, o que seria
a literatura? A escrita imaginativa? Em um sentido de ficção? O que seria a ficção? No
conceito geral, aquilo que não é literalmente verídico. Em uma comparação de X e Y
autores dentro de um dado recorte temporal do Século XVII, A e B e suas obras são
consideradas literatura, enquanto C e D não se enquadram em tais conceitos.
Basicamente, a critério a ser considerado a fim de demarcar - isto é literatura, era
fato vs ficção. Essa distinção, claramente questionável, não parece ser útil.
Mencionando que, entre o fim do século XVI e século XVII, utilizava-se a palavra
de origem inglesa ‘novel’ tanto para narrações de acontecimentos factuais, isto é,
verídicos, quanto para os fictícios. A aplicação que realizamos simplesmente não era
utilizada. Por esse viés, podemos encontrar uma citação em outro livro do próprio
Eagleton, que nos leva a reflexão,

“Mas ainda que essas obras nasçam de tais contextos, seus significados não se restringem a
eles.” além de que “(...) estão sujeitas a um leque de interpretações.” (EAGLETON, 2017).

Podemos considerar que obras como “Gênese” são consideradas por alguns
como fatos, e para outros, como ficção. Em seu texto, Eagleton traz um questionamento
referente à “linguagem de forma peculiar”, “violência organizada contra a fala comum”. O
afastamento, de determinada maneira, da fala com a qual esbarramos em nosso
cotidiano, seja por meio da tessitura, ritmo, ressonância das palavras “superaria o
significado abstrato.” Nesse caso, abordando como talvez, a desconformidade entre o
significante e o significado, tal qual como apontariam os linguistas.

Apresentando suas contribuições, os formalistas como Sklovski, Jakobson, Brik


e entre outros, (Russia, 1917-1920) focam na realidade material do texto literário. Uma
organização particular da linguagem. Haveria de seguir leis específicas, estruturas, e
mecanismos que deveriam ser estudados em si como fato material. Claro, é importante
destacar que neste mesmo período, se inicia a corrente do estruturalismo gerada por
Saussure, com isso, de certo tais pensamentos poderiam ser influenciados por tais ideias.
A aplicação da linguística daquele recorte temporal, ao estudo da literatura, sendo o
conteúdo a motivação da forma. Todavia, as ideias dos formalistas foram logo silenciadas
pelo Stalinismo.
O estranhamento, a desfamiliarização como distinção de outras formas do discurso,
utilização de muitos, se não todos os recursos literários possíveis a fim da intensificação, geração do
sentido, também é mencionada. Em um esboço de ‘linha de raciocínio’, para os formalistas, atraves
da história e seus entraves, geravam retardamentos com recursos a fim de manter o eventual leitor
atento. Isto, então, geraria a linguagem literária. Um conjunto de desvios da norma, ou formas
especiais contrastando com a linguagem comum.
Mas, a ideia de que se possui hoje ou aquela época uma linguagem ”normal” usada
igualmente por todos os membros da sociedade é ilusória. É importantíssimo considerar a variedade
de discursos. Sendo desta forma, o que se consideraria “estranheza” de texto não é garantia de que
ele sempre foi considerado estranho em todas as partes. Essa questão facilmente se modifica, com
isso, um tal fragmento de texto poderia não mais ser considerado literário a depender da sociedade
que se depara com ele.

Não se queria definir, de fato, a literatura, mas sim a literaturidade, analisando os usos
“especiais” da linguagem. Ou seja, pelo contexto, de certa maneira se poderia considerar algo como
literário. Entretanto, de fato não há nenhuma propriedade específica para demarcar como tal. Eagleton
destaca que todos os textos, a partir do momento que são trabalhados da maneira correta, podem ser
considerados estranhos.

“(...) ‘literatura' pode ser tanto uma questão daquilo que as pessoas fazem com a escrita como daquilo que a
escrita faz com as pessoas.” (EAGLETON, 1983, p. 10).

O autor também traz questionamentos e análises de sentenças comumente lidas que


podem efetivamente ser convertidas em literatura com o tom poético, seguindo essa premissa. Com
as convenções de leitura, mas além da pragmática, com o significado mais amplo, também se pode
encontrar literatura. Entramos então, na questão valor verídico versus relevância prática, destacando
a importância, mas no efeito geral. A definição objetiva da literatura não é possível, mas sim, fica a
depender pela qual alguém resolve ler. Novamente, em “Como ler literatura?” de Eagleton, um
conceito para reflexão semelhante surge:

“Na maioria dos textos práticos, não temos muita escolha sobre o significado.” (EAGLETON, 2017.)

Já no texto em resumo, o autor menciona que, um texto pode começar em outras áreas,
tais quais como filosofia, história, e posteriormente passar a ser considerado literatura. Isto também é
possível. Alguns textos podem nascer literários, mas outros, se tornar literários. Estamos
longe de ter clara a distinção entre maneiras “prática” e “não prática” de nos relacionarmos com a
linguagem. Por isso, é válido considerar que valor é um termo transitivo. Quando ocorrem
transformações profundas, é possível que devido a estas, sociedades não atribuam valor a
determinadas obras consideradas literatura atualmente. Obras literárias, podem e são reescritas
inconscientemente pelas sociedades que as acessam, de tal forma que classificar algo como literatura
é extremamente instável.

A proporção que, nos deparamos com a ideologia, maneira pela qual o que dizemos se
relaciona com a estrutura do poder e relações de poder da sociedade na qual vivemos.

Nem todos os nossos juízos e categorias podem ser efetivamente considerados


ideológicos. Aqui, Eagleton considera que os modos de sentir, avaliar, perceber e acreditar se
relacionam de alguma forma com a manutenção e reprodução social.

Portanto, literatura não é apenas aquilo que queremos chamar de literatura. Os juízos
de valor para tal são historicamente variáveis não ao gosto particular, mas aos pressupostos pelos
quais certos indivíduos ou comunidades exercem e mantêm o poder sobre os outros.

Podemos concluir neste breve resumo que, Eagleton pretende trazer pontos relevantes
sobre a questão: O que é a literatura, mas principalmente como defini-la. Mas, também se pode
absorver que, esta questão não pode ser respondida imediatamente com os meios que achamos
“comuns” ou “certos”, e em cada possível tentativa de definição há um ponto a se considerar para
refutá-la. E, esclarece que nem tudo que pensamos que pode ser e que é literatura de fato está correto.

BIBLIOGRAFIA:

EAGLETON, Terry; DUTRA, Waltensir. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins
Fontes, 1983.

EAGLETON, Terry. Como ler literatura: um convite. L&PM Editores, 2017.

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