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O que é literatura?
Não é de hoje que se questiona o problema do conceito de litera-
tura. Desde a Antigüidade que se procura conceituá-la de modo convincente
e conclusivo. Mas por mais plausíveis que possam parecer as tentativas para
clarificar a questão, o problema continua aberto e os resultados inócuos ou,
no mínimo, pouco convincentes.
A palavra literatura encontra-se intensamente afetada pelo fenô-
meno da polissemia, impossibilitando definições claras e precisas. Pode-se
entendê-la sob diversos aspectos. Para alguns ela é a arte de bem escrever,
para outros, pura ficção. Há ainda quem a considere uma rejeição intencio-
nal dos hábitos lingüísticos (desvio). Múltiplas e desencontradas são as res-
postas dadas à pergunta: o que é literatura?
Segundo sua origem, o vocábulo literatura provém do latim “lit-
tera” e do grego “grammatiké”. Ambos significam a mesma coisa: letra, e
não esclarece em nada o que possa ser a literatura, quando muito, levaram
tes de atos de fala e, como tais, é sempre possível encontrar uma propriedade
comum a dois textos e, portanto, reuni-los numa categoria. O surgimento de
um novo gênero será sempre uma transformação por inversão, por desloca-
mento ou por combinação de um ou de vários gêneros antigos. De modo
que os gêneros não desaparecem, mas aparecem, então, com uma outra rou-
pagem. Dessa forma, embora surjam nomenclaturas novas, a lógica para
classificação é sempre a mesma. E embora todos os gêneros procedam de
atos de fala nem todos os atos de fala resultam em gêneros literários. O pro-
cesso de transformação de certos atos de fala em certos gêneros literários
obedece a critérios ideológicos de uma sociedade. Dessa forma, “o que co-
difica o gênero é, pois, uma propriedade pragmática da situação discursiva”.
(TODOROV, 1980, p.55). De acordo com o pensamento de Todorov, pode-
mos dizer, portanto, que noticiar é, sem dúvida, um ato de fala ou escrita. A
notícia em si, uma vez falada, escrita, publicada, é um gênero que pode ser
literário ou não. Como afirma Todorov (1980, p.58) “não há abismo entre a
literatura e o que não é literatura, (...) os gêneros literários têm por origem,
simplesmente, o discurso humano”.
E o jornalismo?
É sempre bastante complicado precisar a origem de qualquer prática
humana. Com a atividade jornalística não poderia ser diferente. Muitos his-
toriadores tentaram descobrir manifestações jornalísticas já na Antiguidade.
Os babilônicos mantinham historiógrafos encarregados no dia-a-dia de des-
crever os principais acontecimentos. Voltaire, no século XVIII, segundo Cos-
tella (2001, p.18), afirmou que desde milênios os chineses produziam gazetas.
Porém, tudo é muito impreciso. Cabe aos romanos, talvez, o título de pater-
nidade do jornal. AActa Diurna Populi Romani, criada por Júlio César em 69
a.C., já possuía características bem jornalísticas de atualidade e variedade.
Durante a Idade Média havia todo um enclausuramento da cultura
dentro dos limites dos palácios. As notícias só chegavam ao povo através da
poesia e dos cantos dos trovadores e jograis. “O canto era o meio de propa-
gar a notícia” (PIDAL apud RIZZINI, 1977, p.14). Os romances e as can-
ções medievais eram como o prenúncio do periodismo, uma forma
embrionária da informação em movimento. Os trovadores eram incumbi-
dos de fazer a reportagem dos acontecimentos mais ou menos escandalosos
da época. Não transmitiam os fatos reais, mas a sua versão segundo o enredo
da corte e a mordacidade das ruas. Era o eco, o efeito dos acontecimentos
que os jograis levavam e expandiam, numa palavra: a opinião. Como disse
Gautier: “Devemos considerá-los um pouco como mercadores de novidades
políticas.” (apud RIZZINI, 1977, p.15).
Com a chegada do comércio, a troca de informações passou a ser
amplamente valorizada. Surgiram os primeiros comerciantes de notícias,
que atendiam aos interesses dos homens de negócios e de alguns nobres.
Quanto mais se libertavam dos entraves feudais e se entregavam ao comér-
cio, mais os homens reconheciam o valor da informação. Assim, o desen-
volvimento da civilização moderna a partir das revoluções comercial e
industrial e o crescente interesse pela informação promoveram o desenvol-
vimento do jornalismo.
Da metade do século XIX até às primeiras décadas do século XX o
jornalismo tinha ares literários, pois adotava o romance, o conto, a poesia, a
crônica, o teatro, substituindo o livro que era impresso em Lisboa, no Porto ou
em Paris. Além do mais, os escritores da época não conseguiam sobreviver so-
mente do mercado literário, e estavam em sua maioria trabalhando nos jornais.
Este veículo de comunicação era a grande vitrine dos escritores. O jornal con-
seguia, através dos seus folhetins, legitimar, por exemplo, a obra literária.
Assim, somente com a modernização da imprensa e com as mu-
danças que desde então se projetam na produção econômica e cultural, o
jornalismo se enquadra na atividade especializada da notícia, e a literatura
deixa de ser considerada uma parceira do jornal para ser uma profissão.
As definições de jornalismo se articulam, quase sempre, em torno
Jornalismo e Literatura
As relações entre jornalismo e literatura são antigas, e como formas
REFERÊ!CIAS
_________. Outras expressões híbridas In: A criação literária. 15. ed. São
Paulo: Cultrix, 1994.
ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo? 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.