Você está na página 1de 37

LITERATURA

BRASILEIRA
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA

Sumário
1 O TEXTO LITERÁRIO ..................................................................................... 3
2 A ARTE E A LINGUAGEM DA LITERATURA ................................................. 7
3 A LITERATURA COMO GÊNERO E EXPRESSÃO DE UMA ÉPOCA ......... 11
3.1 Gêneros .................................................................................................. 11
3.1.1 Épico ................................................................................................ 12
3.1.2 Lírico ................................................................................................ 15
3.1.3 Dramático ......................................................................................... 16
3.2 Expressão de uma época ....................................................................... 17
4 AS ORIGENS EUROPÉIAS DA LITERATURA ............................................. 18
4.1 Idade Média ............................................................................................ 18
4.2 Humanismo............................................................................................. 21
4.3 Classicismo............................................................................................. 22
5 A LITERATURA BRASILEIRA DO QUINHENTISMO AO MODERNISMO ... 24
REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ........................................... 35

2
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
1 O TEXTO LITERÁRIO

A literatura brasileira, ao mesmo tempo em que é influenciada, ela


também exerce grande influência na história cultural, social, política e
econômica de todos, pois é de forte contribuição ao desenvolvimento da
sociedade, refletindo sobre os valores vigentes, indagando a respeito de
questões sociais, de relações humanas e de conflitos oriundos desta.

Na realidade, o texto literário, em especial, é a escrita da vivência,


reflexão, entendimento e questionamento de cada indivíduo na sociedade, é a
escrita de tribulações, amores, pensamentos, ideais, lutas, etc. (OLIVEIRA et
al, 2008).

Pois bem, parece simples que introduzir o letramento literário na escola


aconteça em quatro passos básicos e que seja fácil tanto para professores
quanto para alunos executa-los: motivação, introdução, leitura e
interpretação, entretanto, realizar estas ações exige comprometimento,
vontade e disposição, e sejamos sinceros, não temos observado nas escolas
interesse de ambas as partes, mas todos esquecem que vivemos em uma
sociedade letrada, onde as possibilidades de exercício da linguagem é muito
mais importante, a necessidade da linguagem se faz exigente.

Como diz Cosson (2006) todas as transações humanas passam, de uma


maneira ou de outra, pela escrita, mesmo aquelas que aparentemente são
orais ou imagéticas.

A linguagem, a comunicação e a escrita encontram na literatura seu


mais perfeito exercício. A literatura não apenas tem a palavra em sua
constituição material, como também a escrita é seu veículo predominante.

A prática da literatura, seja pela leitura, seja pela escritura, consiste


exatamente em uma exploração das potencialidades da linguagem, da palavra
e da escrita, que não tem paralelo em outra atividade humana.

É no exercício da leitura e da escrita dos textos literários que se desvela


a arbitrariedade das regras impostas pelos discursos padronizados da

3
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
sociedade letrada e se constrói um modo próprio de se fazer dono da
linguagem que, sendo minha, é também de todos (COSSON, 2006).

Na leitura e na escritura do texto literário encontramos o senso de nós


mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos
e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá
porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que um
conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim sem
renúncia da minha própria identidade.

Vamos então, à definição da especificidade do texto literário que pode


partir dos seguintes princípios orientadores:

1. Tradicionalmente, o texto literário distingue-se do texto das ciências da


história, da filosofia, da psicologia, sociologia, etc. Contudo, caracteriza-
o um campo de ação criativa tal que pode ir buscar a todos os outros
campos os termos que hão de ajudar a construir a sua especificidade.

2. O texto literário é ao mesmo tempo igual a todos os outros (em termos


de forma e estrutura) e diferente de todos (pela linguagem); é ao mesmo
tempo igual a todos os outros (em termos de uso de uma linguagem) e
diferente de todos (pela procura de uma forma e estrutura peculiares); é
ao mesmo tempo igual a todos os outros (em termos de forma e
estrutura e uso da linguagem) e diferente de todos (em termos de forma
e estrutura e uso da linguagem). Vale este princípio complexo como o
princípio dos paradoxos da definição referencial de literatura, que anula
qualquer tentativa de institucionalização da literariedade como
explicação do fenômeno literário.

3. O texto literário não é um registro linguístico efêmero, pois tem por


objetivo ser preservado na tradição oral e/ou escrita. Neste sentido, é
intemporal.

4. Em relação ao leitor, por exemplo, a especificidade do texto literário


pode dizer respeito ao efeito catártico que conduz à crença de que a
literatura pode purificar e reeducar a sociedade (assim acreditaram os
neorrealistas).

4
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
5. Em relação aos autores, tal especificidade, pode traduzir-se no fato de o
texto literário poder ser expressivo (propriedade não formal, mas
referente aos registros diretos das experiências pessoais e do caráter do
escritor) ou impessoal (criações que ofuscam a individualidade do
escritor). No primeiro caso, estariam autores como Eça de Queirós ou
Almeida Garrett; no segundo, os escritores surrealistas ou os
concretistas, por exemplo.

6. O fato literário de um texto pode explicar-se como forma de persuasão


(na tradição retórica, mas não na tradição da psicogagia1 sofística)
simplesmente para apresentar um ponto de vista (Antero proudhoniano2)
ou para tentar mudar o mundo (o caso dos poetas futuristas, por
exemplo) (CEIA, 2005).

O uso da literatura como matéria educativa tem longa história, a qual


antecede a existência formal da escola. Zilberman (1990) no seu livro “Sim, a
literatura educa” nos lembra que as tragédias gregas tinham o princípio básico
de educar moral e socialmente o povo. Daí a subvenção dos dramaturgos pelo
Estado e a importância do teatro entre os gregos.

Essa tradição cristaliza-se no ensino da língua nas escolas com um


duplo pressuposto: a literatura serve tanto para ensinar a ler e a escrever
quanto para formar culturalmente o indivíduo. Foi assim com o latim e o grego
antigo, cujo ensino se apoiava nos textos da Era Clássica, para o aprendizado
dessas línguas de uso restrito e para o conhecimento produzido nelas.

A literatura tem sido assim na escola: no ensino fundamental tem a


função de sustentar a formação do leitor e no ensino médio, integra esse leitor
à cultura literária brasileira, constituindo-se, em alguns currículos, uma
disciplina à parte da Língua Portuguesa.

No ensino fundamental, a literatura tem um sentido tão extenso que


engloba qualquer texto escrito que apresente parentesco com ficção ou poesia,
ambas sendo compatíveis com os interesses da criança, do professor e da

1 O poder de erros, de errar.


2 Relativo à doutrina econômica de P. J. Proudhon, economista francês (1809-1865)

5
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
escola. Os textos são curtos, contemporâneos e divertidos, encontrando na
crônica um dos favoritos da leitura escolar.

No ensino médio, o ensino de literatura limita-se à literatura brasileira, ou


melhor, à história da literatura brasileira, usualmente na sua forma mais
indigente, quase como apenas uma cronologia literária, em uma sucessão
dicotômica entre estilos de época, cânone e dados biográficos dos autores. Os
textos literários, quando comparecem, são fragmentos e servem
prioritariamente para comprovar as características dos períodos literários.

Estas críticas pontuadas por Cosson (2006) nos fazem refletir que
realmente ainda é esse o caminho que a escola vem seguindo e que algo
precisa ser feito urgente, pelo menos selecionar um livro, trabalhá-lo
adequadamente em sala de aula.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Língua


Portuguesa (PCNs) é importante que o trabalho com o texto literário esteja
incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma
específica de conhecimento. Essa variável de constituição da experiência
humana possui propriedades compositivas que devem ser mostradas,
discutidas e consideradas quando se trata de ler as diferentes manifestações
colocadas sob a rubrica geral de texto literário (BRASIL, 1997).

A literatura não é cópia do real, nem puro exercício de linguagem,


tampouco mera fantasia que se asilou dos sentidos do mundo e da história dos
homens. Se tomada como uma maneira particular de compor o conhecimento,
é necessário reconhecer que sua relação com o real é indireta.

Ou seja, o plano da realidade pode ser apropriado e transgredido pelo


plano do imaginário como uma instância concretamente formulada pela
mediação dos signos verbais (ou mesmo não verbais conforme algumas
manifestações da poesia contemporânea) (BRASIL, 1997).

Pensar sobre a literatura a partir dessa autonomia relativa ante o real


implica dizer que se está diante de um inusitado tipo de diálogo regido por
jogos de aproximações e afastamentos, em que as invenções de linguagem, a
expressão das subjetividades, o trânsito das sensações, os mecanismos

6
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
ficcionais podem estar misturados a procedimentos racionalizantes, referências
indiciais, citações do cotidiano do mundo dos homens.

A questão do ensino da literatura ou da leitura literária envolve, portanto,


esse exercício de reconhecimento das singularidades e das propriedades
compositivas que matizam um tipo particular de escrita. Com isso, é possível
afastar uma série de equívocos que costumam estar presentes na escola em
relação aos textos literários, ou seja, tratá-los como expedientes para servir ao
ensino das boas maneiras, dos hábitos de higiene, dos deveres do cidadão,
dos tópicos gramaticais, das receitas desgastadas do “prazer do texto”, etc.
Postos de forma descontextualizada, tais procedimentos pouco ou nada
contribuem para a formação de leitores capazes de reconhecer as sutilezas, as
particularidades, os sentidos, a extensão e a profundidade das construções
literárias (BRASIL, 1997).

2 A ARTE E A LINGUAGEM DA LITERATURA

Como acontece com as outras artes, todas as sociedades, todas as


culturas, em todos os tempos e lugares, produziram literatura em sua forma
oral ou escrita. O fato de ter sido produzida por várias culturas em várias
épocas e lugares nos leva a inferir que ela cumpre funções muito importantes
nas diversas sociedades humanas.

Vamos a essas funções, entendidas aqui como o papel que a literatura


desempenha de acordo com o que o público reconheceu como valor.

1 - A literatura nos faz sonhar!

Os textos têm o poder de transportar o leitor, provocar alegria ou


tristeza, divertir ou emocionar. Em outras palavras, a literatura nos permite
“viver” outras vidas, sentir outras emoções e sensações. Ela oferece um
descanso dos problemas cotidianos, quando nos descortina o espaço do sonho
e da fantasia.

7
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA

2 – A literatura provoca nossa reflexão!

Embora a literatura não tenha o poder de modificar a realidade, como


Reconhece Saramago (2004), certamente é capaz de fazer com que as
pessoas reavaliem a própria vida e mudem de comportamento. Se esse efeito
é alcançado, o texto literário desempenha um importante papel transformador,
ainda que de modo indireto.

Por isso dizemos que ela pode provocar a reflexão e responder, por
meio de construções simbólicas, a perguntas que inquietam os seres humanos.

3 – A literatura diverte!

A experiência apaixonante de passar horas lendo um bom livro é familiar


a muitas pessoas em todo o mundo.

Ao acompanhar as investigações de um detetive com uma mente lógica


como a de Sherlock Holmes, por exemplo, ou as análises psicológicas do
investigador Poirot, o leitor se vê preso às páginas do livro para conhecer o
desfecho.

Mais recentemente, O Senhor dos anéis e A saga de Harry Potter


levaram milhares de leitores, não só adolescentes a embarcarem nas
aventuras propostas pelos livros.

4 – A literatura nos ajuda a construir nossa identidade!

É bem verdade que um dos maiores desafios do ser humano está no


enfrentamento e compreensão (não necessariamente nesta ordem) das leis e
regras que deve seguir, ou decidir se deve seguir.

Nos textos literários, de certo modo entramos em contato com a nossa


história, o que nos dá chance de compreender melhor o nosso tempo, nossa
trajetória como nação. Para Abaurre e Pontara (2005) o interessante, porém, é
que essa história coletiva é recriada por meios das histórias individuais, das

8
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
inúmeras personagens presentes nos textos que lemos, ou pelos poemas que
nos tocam de alguma maneira.

Como leitores, interagimos com o que lemos. Somos tocados pelas


experiências de leituras que, muitas vezes, evocam vivências pessoais e nos
ajudam a refletir sobre nossa identidade individual e também a construí-la.

5 – A literatura nos ensina a viver!

Como toda manifestação artística, a literatura acompanha a trajetória


humana e, por meio de palavras, constrói mundos familiares, em que pessoas
semelhantes a nós vivem problemas idênticos aos nossos, e mundos
fantásticos, povoados por seres imaginários, cuja existência é garantida
somente por meio das palavras que lhes dão vida. Também exprime, pela
criação poética, reflexões e emoções que parecem ser tão nossas quanto de
quem as registrou.

Por meio da convivência com poemas e histórias que traçam tantos e


diversos destinos, a literatura acaba por nos oferecer possibilidades de
resposta a indagações comuns a todos os seres humanos.

Na literatura esperamos encontrar, em algumas de suas manifestações,


uma resposta que dê sentido a nossa existência, que nos ajude a compreender
um pouco mais de nos mesmos e de nossas vidas. Trilhar esses caminhos da
literatura nos põe em contato direto com a nossa humanidade e ajuda a revelar
um pouco de nós a nós mesmos.

6 – A literatura denuncia a realidade!

Em diferentes momentos da história humana, a literatura teve um papel


fundamental: o de denunciar a realidade, sobretudo quando setores da
sociedade tentam ocultá-la. Foi o que ocorreu, por exemplo, durante o período
da ditadura militar no Brasil. Naquele momento, inúmeros escritores arriscaram
a própria vida para denunciar, em suas obras, a violência que tornava a
existência uma aventura arriscada.

9
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
A leitura dessas obras, mesmo que vivamos em uma sociedade
democrática e livre, nos ensina a valorizar nossos direitos individuais, nos
ajuda a desenvolver uma melhor consciência política e social.

Em resumo, ela permite que olhemos para a nossa história e,


conhecendo algumas de suas passagens mais aterradoras, busquemos
construir um futuro melhor.

Mas não é apenas em momentos de opressão política que a literatura


denuncia a realidade. Graciliano Ramos, por exemplo, ao contar a saga de
Fabiano e sua família, em Vidas Secas, enuncia a triste realidade de uma parte
do nordeste brasileiro, até hoje condenada à seca e à falta de perspectivas.

O poeta Ferreira Goulart, em vários de seus poemas, aponta para as


injustiças e as estreitas possibilidades de realização das pessoas limitadas por
uma realidade social adversa.

Quanto a linguagem da literatura, a essência da arte literária está na


palavra que estabelece a relação entre um autor e seus leitores/ouvintes.

Podemos usar a palavra com sentido conotativo/figurado ou


denotativo/literal.

O sentido conotativo é uma característica essencial da linguagem


literária. É aquele em que as palavras e expressões adquirem em um dado
contexto, quando o seu sentido literal é modificado. Nos textos literários,
predomina o sentido conotativo. A linguagem conotativa é característica de
textos com função estética, ou seja, que exploram diferentes recursos
linguísticos e estilísticos para produzir um efeito artístico.

Em textos não literários, o que predomina é o sentido denotativo ou


literal, ou seja, a palavra é usada no seu sentido básico. A linguagem
denotativa é típica de textos com função utilitária, ou seja, que têm como
finalidade predominante satisfazer a alguma necessidade específica, como
informar, argumentar, etc. (ABAURRE; PONTARA, 2005).

As metáforas são recursos linguísticos que exploram as possibilidades


criativas da linguagem. Em grego metaphorá significa mudança transposição,
ou seja, quando se faz uso da metáfora estamos em um processo de

10
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
substituição; aproximam-se dois elementos que, em um contexto específico,
guardam alguma relação de semelhança, transferindo-se, para um deles,
características do outro.

3 A LITERATURA COMO GÊNERO E EXPRESSÃO DE UMA ÉPOCA

3.1 Gêneros

A palavra gênero, etimologicamente, significa família, raça ou conjunto


de seres dotados de características comuns, daí pode-se inferir que gênero
literário é um conjunto de obras dotadas de características comuns
(BENEMANN E CADORE, 1984).

Quanto à forma, um texto pode apresentar-se em prosa ou verso.


Quanto ao conteúdo e estrutura e segundo alguns estudiosos clássicos, ele
pode ser enquadrado em três gêneros: lírico, dramático e épico. Platão foi o
primeiro a se preocupar em separar as obras literárias na divisão acima, a qual
prevaleceu até o Renascimento (BRASIL, 1979).

Já no século XVIII, estabeleceu-se de modo rigoroso, a tríade dramática,


épica e lírica. Goethe denominou esses gêneros de ‘Formas naturais da
poesia’, o que aponta para o grau de confusão que se fazia na época entre
história e definição ontológica dos gêneros. A poesia lírica seria aquela na qual
apenas o autor fala; a dramática, aquela onde os personagens falam e a épica
aquela onde autor e personagens falam.

Contra essa concepção, na virada do século XVIII para o XIX, Friedrich


Schlegel e Novalis utilizaram os gêneros de um ponto de vista muito mais livre
e criativo e os transformaram em tons: cada obra poderia ter mais do que um
desses tons atuando na sua estruturação. Com esses autores a poética deixou
de ser uma prescritora de regras para o autor e este se tornou livre para
compor conforme o seu “gênio”. Não devemos esquecer que foram esses
românticos que introduziram uma teoria e concepção fortes do romance como
gênero por excelência na modernidade. Ele representaria justamente a mistura
e superação dos demais gêneros literários. Para Schlegel: “Todos os tipos de
11
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
poesia clássicos, na sua pureza estrita, são agora risíveis”, afirmou ele em
1797, e no mesmo ano ainda: “Sentido para a individualidade poética tem-se
apenas com os modernos”. Ou seja, na modernidade o gênero é dissolvido
pela força da individualidade e do estilo de cada texto. Vale a pena ler mais
uma das suas frases bombásticas: “Pode-se tanto dizer que existem infinitos
tipos de poesia ou que só existe um tipo progressivo. Portanto não existe
nenhum” (BENEMANN E CADORE, 1984).

Ainda segundo Benemann e Cadore (1984), críticos modernos ensinam


que os gêneros literários devem ser estudados indutivamente, a partir das
características da obra e não a partir de nomes classificatórios.

Nos dias atuais e numa divisão mais didática temos quatro gêneros ao
desmembrar do épico, o narrativo.

3.1.1 Épico

O termo Épico vem do grego Epos, narrativa ou recitação. A poesia


épica nasceu no Ocidente com Homero, poeta grego autor do que seriam os
primeiros modelos deste gênero: Ilíada e a Odisseia (BRASIL, 1979).

Já no entendimento de Souza (2007), a palavra epopeia vem do grego


épos, ‘verso’+ poieô, ‘faço’ e se refere à narrativa em forma de versos, de um
fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva,
impessoal, cuja característica maior é a presença de um narrador falando do
passado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, normalmente, um
episódio grandioso e heroico da história de um povo.

Na Idade Média, principalmente entre os séculos XII à XIV, surgiram


várias narrativas que se afastavam dos padrões clássicos. Eram inspirados em
façanhas de guerra da cavalaria andante. Os mais conhecidos são: a Canção
de Rolando, o Romance de Alexandre e os Romances da Távola Redonda
(BRASIL, 1979).

Segundo Souza (2007), as epopeias têm como tema, os feitos históricos


e os grandes ideais de um povo, ou seja, a narrativa é de fundo histórico. O
narrador mantém um distanciamento em relação aos acontecimentos (esse
12
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
distanciamento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: (os fatos
narrados situam-se no passado). Temos um Poeta-observador voltado,
portanto, para o mundo exterior, tornando a narrativa objetiva. A objetividade é
característica marcante do gênero épico. A épica já foi definida como a poesia
da “terceira pessoa do tempo passado”.

Dentre as principais epopeias (ou poemas épicos), destacam-se:

 Ilíada e Odisseia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra entre


Grécia e Tróia).

 Eneida (Virgílio, Roma; narrativa dos feitos romanos)

 Paraíso Perdido (Milton, Inglaterra)

 Orlando Furioso (Ludovico Ariosto, Itália)

 Os Lusíadas (Camões, Portugal)

Na literatura brasileira, as principais epopeias foram escritas no século


XVIII: Caramuru (Santa Rita Durão) e O Uraguai (Basílio da Gama)

O gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico,


enquadrando, neste caso, as narrativas em prosa. Dependendo da estrutura,
da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o romance,
a novela, o conto e a fábula (SOUZA, 2007).

Em qualquer das três modalidades acima, tem-se representações da


vida comum, de um mundo mais individualizado e particularizado, ao contrário
da universalidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela
representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses.

As narrativas em prosa, que conheceram um notável desenvolvimento


desde o final do século XVIII, são também comumente chamadas de narrativas
de ficção.

São elas:

 Romance: narração de um fato imaginário, mas verossímil, que


representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem.
Comparado à novela, o romance apresenta um corte mais amplo da
vida, com personagens e situações mais densas e complexas, com
13
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
passagem mais lenta do tempo. Dependendo da importância dada ao
personagem ou à ação ou, ainda, ao espaço, podemos ter romance de
costumes, romance psicológico, romance policial, romance regionalista,
romance de cavalaria, romance histórico, etc.

 Novela: na literatura em língua portuguesa, a principal distinção entre


novela e romance é quantitativa: vale a extensão ou o número de
páginas. Entretanto, podemos perceber características qualitativas: na
novela, temos a valorização de um evento, um corte mais limitado da
vida, a passagem do tempo é mais rápida, e o que é mais importante, na
novela o narrador assume uma maior importância como contador de um
fato passado.

 Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em um episódio da


vida. O crítico Alfredo Bosi (2006), em seu livro O conto brasileiro
contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do conto “já desnorteou
mais de um teórico da literatura ansioso por encaixar a forma conto no
interior de um quadro fixo de gêneros. Na verdade, se comparada à
novela e ao romance, a narrativa curta condensa e potencia no seu
espaço todas as possibilidades da ficção”.

 Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como


objetivo transmitir uma lição moral. Normalmente a fábula trabalha com
animais como personagens. Quando os personagens são seres
inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo.

Dar-se-á uma importância particular à fábula, uma das mais antigas


narrativas, coincidindo seu aparecimento, segundo alguns estudiosos, com o
da própria linguagem, devido seu uso em sala de aula, o que muito contribui
com o desenvolvimento geral dos alunos, tanto no sentido de enriquecimento
de vocabulário quanto da imaginação.

No mundo ocidental, o primeiro grande nome da fábula foi Esopo, um


escravo grego que teria vivido no século VI a.C. Modernamente, muitas das
fábulas de Esopo foram retomadas por La Fontaine, poeta francês que viveu de
1621 a 1695. O grande mérito de La Fontaine reside no apurado trabalho
realizado com a linguagem, ao recriar os temas tradicionais da fábula. No
14
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
Brasil, Monteiro Lobato realizou tarefa semelhante, acrescentando, às fábulas
tradicionais, curiosos e certeiros comentários dos personagens que viviam no
Sítio do Pica-pau Amarelo, as quais tem lugar cativo nas salas de aula e
bibliotecas escolares (SOUZA, 2007).

3.1.2 Lírico

A palavra lírico vem do latim, que significa lira; instrumento musical


usado para acompanhar as canções dos poetas da Grécia antiga, e retomado
na Idade Média pelos trovadores.

Pode-se dizer que o gênero lírico é a expressão do sentimento pessoal.


“É a maneira como a alma, com seus juízos subjetivos, alegrias e admirações,
dores e sensações, toma consciência de si mesma no âmago deste conteúdo”
(HEGEL apud BRASIL, 1979).

De fato, o poeta lírico é o indivíduo isolado que interessa somente pelos


estados da alma. É aquele que preocupa demasiadamente com as próprias
sensações voltado para si. O universo exterior só é considerado quando existe
uma identificação, ou é passível de ser interiorizado pelo poeta.

Segundo Cunha (1979), a subjetividade lírica é estruturada com ideias,


sentimentos, emoções, recordações, desejos, profundos estados de espírito
que, em muitos casos, chegam ao indefinível, o inefável e que só podem ser
expressos pela musicalidade, pela metáfora e pela poesia. Por essa razão é
que o lirismo encontrou, durante a evolução histórica, a sua mais perfeita e
generalizada forma de expressão no verso, com seu ritmo e rima próprios.

Se a prosa rejeita a rima, o verso a busca, exatamente como


instrumento de expressão das emoções, as quais se afirmam mais pela
repetição e pela simbologia do que pela descrição ou pelo recurso à
caracterização ambiental.

Consequentemente, no poema lírico, não há protagonistas, como na


literatura de ficção, não há ambiente físico caracterizado, nem episódio, nem
enredo, nem temporalidade definida. As emoções profundas do poeta, seu
“eu’’, sua visão do mundo (e não o mundo) são o que vale.
15
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
Ainda segundo Cunha (1979), a linguagem poética é, assim, muito
particular. Se quisermos entendê-la, é preciso que nos familiarizemos com ela
e isso só será possível mediante uma leitura cuidadosa e frequente de poemas.

3.1.3 Dramático

Drama, em grego, significa ‘ação’. Ao gênero dramático pertencem os


textos, em poesia ou prosa, feitos para serem representados. Isso significa que
entre autor e público desempenha papel fundamental o elenco (incluindo
diretor, cenógrafo e atores) que representará o texto.

O gênero dramático compreende as seguintes modalidades:

 Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar


compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era “uma
representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em
linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e
terror”.

 Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no


sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. Sua
origem grega está ligada às festas populares, celebrando a fecundidade
da natureza.

 Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos trágicos e


cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário.

 Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que crítica


a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino Ridendo castigat
mores (Rindo, castigam-se os costumes) (SOUZA, 2007).

O gênero dramático, desde a Antiguidade clássica, teve grande


importância, pois, tanto em suas origens gregas e latinas como medievais,
esteve sempre associado à problemática religiosa, transformando-se, não raras
vezes, em verdadeiro ritual.

16
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
No poema dramático, a história é contada através das falas dos
personagens. As peças de teatro, escritas em verso, constituem forma de
poesia dramática (BRASIL, 1979).

É importante observar ainda que, no teatro, o autor faz uma tentativa de


representar mais a língua falada do que a escrita. Daí os recursos próprios
para enfatizar a entonação, a voz, a mímica, os gestos, etc.

Na Idade Média, o teatro tinha as modalidades de auto (milagre ou


mistério) e farsa. No Classicismo, predominaram a tragédia e a comédia, de
cuja fusão surge, no Romantismo, o drama (CONSOLARO, 2007).

3.2 Expressão de uma época

A literatura tem a incrível capacidade de nos revelar como viveram e o


que pensaram as pessoas em diferentes épocas e sociedades. Essas
informações que ficam registradas nos textos literários e sobrevivem à
passagem do tempo, nos ajudam a entender quem fomos e a avaliar quem
somos (ABAURRE; PONTARA, 2005).

Já que ela é expressão de época, precisamos falar de estilo de época,


que nada mais é do que a constatação de traços comuns na produção de uma
mesma época.

O estudo da literatura depende do reconhecimento dos padrões e das


semelhanças que constituem um estilo de época.

Já o uso particular que um escritor faz dos elementos que distinguem


uma estética define o estilo individual de um autor, sempre marcado pelo olhar
específico que dirige aos temas característicos de um período e pelo uso
singular que faz dos recursos de linguagem associados a uma determinada
estética literária.

Um estilo de época pode estar associado a uma escola literária ou a um


movimento literário. Damos o nome de historiografia literária ao estudo e
descrição das características estéticas das diferentes escolas ou movimentos
literários.

17
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
Quando estudamos os estilos de época e os movimentos literários,
conhecemos os temas e os recursos expressivos preferidos dos autores.

À medida que vamos tendo contato com uma maior quantidade de


textos, observamos que há um número limitado de temas e recursos
expressivos que, de tempos em tempos, são retomados por autores de
diferentes épocas.

4 AS ORIGENS EUROPÉIAS DA LITERATURA

4.1 Idade Média

A Idade Média é um período que tem início com a conquista de Roma,


capital do Império Romano do Ocidente, pelos comandantes germânicos no
ano de 476 (século V) e termina com a queda de Constantinopla, capital do
Império Romano do Oriente, tomada pelos turcos em 1453.

Segundo Abaurre e Pontara (2005) uma das heranças do período de


dominação romana na Europa durante a Idade Média foi o cristianismo. Aos
poucos, a Igreja Católica cresceu, acumulou vastas extensões de terra,
enriqueceu e concentrou um grande poder religioso e secular3. Essa herança
conviveu com mudanças na ordem social que tiveram expressão significativa
na literatura do período.

A literatura desta época era composta de escritos religiosos bem como


de obras seculares. Da mesma forma que a literatura moderna, é um complexo
e rico campo de estudo que vai do totalmente sagrado ao exuberantemente

3 A palavra “secular” vem do latim saecularis (relative a mundo, mundano). Nesse sentido, faz
referência a tudo aquilo que é profano, que se distancia do espírito e, portanto, não está
subordinado à religião. Na Idade Média, a expressão poder secular designava a autoridade que
príncipes, reis e imperadores recebiam do papa para fazer cumprir, no mundo profano, a
vontade de Deus.

18
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
profano, passando por todos os pontos intermediários. Por causa da vasta
extensão de tempo e espaço é difícil falar em termos gerais sem simplificar em
demasia e assim, a literatura é melhor caracterizada por seu lugar de origem
e/ou linguagem, bem como por seu gênero.

Outra característica desta época é o uso do latim como língua literária,


decorrente da dominação romana, o que contribuiu para dificultar o acesso aos
textos.

Aqui cabe lembrarmos-nos do Trovadorismo que encerra alguns


elementos definidores de seu projeto literário: legitimar, por meio da literatura,
uma nova ordem que redefinisse as funções sociais dos cavaleiros na corte do
senhor feudal, elementos estes ilustrados no quadro abaixo:

Literatura oral para entreter os homens e


as mulheres da nobreza

Redefinição do papel dos cavaleiros nas


cortes.
PROJETO LITERÁRIO

DO
Criação de estruturas literárias
TROVADORISMO
equivalentes às da relação de
vassalagem.

19
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA

Sociedade: subserviência total a Deus


(teocentrismo), representado
literariamente pela submissão do trovador
à dama (poesia) ou do cavaleiro à
donzela (novelas de calavaria).

Nesta época temos o nascimento da literatura portuguesa, decorrente da


separação ocorrida em 1140 do reino de Leão e Castela, quando Portugal se
tornou país independente. Os trovadores galego-portugueses desenvolveram
sua lírica amorosa claramente influenciados pela literatura provençal.

Acredita-se que o primeiro texto literário galego-português, seja a


“Cantiga da Ribeirinha” que se supõe ter sido composta em 1198.

Ainda dessa época temos as cantigas líricas divididas em cantigas de


amor e cantigas de amigo e as cantigas satíricas, divididas em cantigas de
escárnio e maldizer.

As novelas de cavalaria foram os primeiros romances, ou seja, longas


narrativas em verso, surgidas no século XII. Elam contam as aventuras vividas
pelos cavaleiros andantes e tiveram origem no declínio do prestígio da poesia
dos trovadores. Tiveram intensa circulação pelas cortes medievais e ajudaram
divulgar os valores e a visão de mundo característico da sociedade desse
período.

Abaurre e Pontara (2005) ressaltam alguns textos e caráter mais


documental que foram produzidos na Idade Média, conhecidos como
cronicões e nobiliários. Os primeiros registravam os acontecimentos
marcantes da vida dos nobres e dos reis em ordem cronológica. Os segundos,
registravam os nascimentos, os casamentos e as mortes de uma determinada
família de nobres.

Por fim, temos as hagiografias, textos que circulavam pelas cortes


medievais relatando a vida dos santos.

20
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
4.2 Humanismo

Movimento artístico e intelectual que surgiu na Itália no final da Idade


Média (século XIV) e alcançou plena maturidade no Renascimento.

É um momento de transição entre o mundo medieval e o moderno. O


projeto humanista não tem características completamente definidas: convivem
o velho e o novo, provocando uma tensão que se evidencia na produção
artística e cultural.

São características do projeto humanístico de literatura:

 Abandono da subordinação absoluta à Igreja Católica;

 Resgate dos valores clássicos.

O contexto de produção da literatura humanista é o mesmo do


Trovadorismo: as cortes e os palácios, mas os objetivos da produção se
modificam. A literatura volta-se para o prazer e a diversão dos aristocratas, ou
seja, o público continua sendo o mesmo, os nobres.

A invenção da imprensa, em 1450, por Johann Gutenberg, revoluciona a


produção de livros na Europa, fazendo com que a cultura oral comece a perder
espaço para a cultura escrita. Essa mudança no contexto de circulação das
obras possibilita aos escritores e poetas explorarem novos recursos de
linguagem, principalmente porque não dependem mais da oralidade e da
memória.

A novidade da literatura humanista fica por conta também da adoção do


soneto como forma poética fixa e o uso da metonímia4.

Quando o humanismo chegou a Portugal, o país passava por uma crise


poética e entre 1350 e 1450 não se tem notícia de circulação de textos
poéticos. Foi um período em que Portugal vivenciou o apogeu da crônica
historiográfica e da prosa doutrinária, tipo de manual escrito por reis e nobres

4 Relembrando o que é metonímia…. Ela ocorre quando se opta por utilizar uma palavra no
lugar de outra. Pode ser empregada em várias situações. Uma delas é quando a parte é
utilizada para representar o todo. Nas cantigas do humanismo, os poetas recorrem às
metonímias para melhor ilustrar os efeitos do amor no eu lírico.

21
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
que apresentava normas e modelos de comportamento para os fidalgos da
corte.

O ressurgimento da poesia se deu no século XV, impulsionado pela


renovação cultural promovida na corte portuguesa durante o reinado de D.
Afonso V.

Lembremos que no humanismo prevaleceu o antropocentrismo (doutrina


que considera o ser humano o centro do universo) sobre o teocentrismo.

Portugal teve cronistas famosos como Fernão Lopes que era, ao mesmo
tempo, cronista de reis e do povo. Gil Vicente com seu teatro crítico e voltado
para o humor, que explorava o uso das alegorias, ou seja, das representações,
por meio de personagens ou objetos, de ideias abstratas geralmente
relacionadas aos vícios e virtudes humanas.

4.3 Classicismo

A mudança de mentalidade, trazendo o ser humano para o centro dos


acontecimentos (relegando Deus todo poderoso para segundo plano), que
começou com o humanismo, chega ao apogeu com o Renascimento do século
XV.

Classicismo é a denominação da tendência artística que revitalizou a


tradição clássica de afirmar a superioridade humana. Ele valoriza as
proporções, o equilíbrio das composições, a harmonia das formas e a
idealização da realidade.

O fascínio pela vida das cidades e o desejo de desfrutar os prazeres que


o dinheiro podia proporcionar levaram a sociedade renascentista a cultivar
cada vez mais os valores terrenos.

O projeto literário do Classicismo revela em seu nome, a principal


característica: retomada dos modelos da Antiguidade Clássica.

No modelo medieval, o homem era atormentado, sempre ajoelhado aos


pés de Deus, ansioso por ver seus pecados perdoados. Essa visão cristã, de
uma vida marcada pelo sofrimento é que permitia a purificação dos pecados.

22
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
A circulação das obras literárias continua sob o impacto da invenção da
imprensa, a maior facilidade de impressão faz com que mais cópias sejam
produzidas, barateando os custos dos livros e tornando-os mais acessíveis a
um maior número de pessoas.

O conceito de originalidade na criação literária desse período é uma


invenção moderna. Os escritores investiram na recriação de temas clássicos e,
retomaram em suas obras, o princípio aristotélico da mimese.

O paradoxo5 e a antítese6 foram duas figuras de linguagem muito


usadas pelos poetas do classicismo.

Em Portugal o classicismo chega junto das grandes navegações, as


descobertas do mundo novo. Encontramos Camões, considerado um dos
maiores poetas da língua portuguesa, o qual imortalizou em suas obras, as
glórias do seu povo; registrou os sofrimentos amorosos e indagou sobre as
inconstâncias e incertezas da vida.

O quadro abaixo apresenta, mesmo que de forma reduzida, as escolas


literárias de acordo com o momento histórico em que se manifestaram.

CARACTERÍSTICAS IDADE MEDIEVAL IDADE MODERNA IDADE


CONTEMPORÂNEA
Teocentrismo,
Arte gótica,
Ambiente palaciano,
Produção oral,
Trovadorismo Cantigas X X
trovadorescas,
Novelas de
cavalaria,
Hagiografias.
Antropocentrismo,
Arte renascentista,
Recuperação de modelos
Classicismo X da Antiguidade, X
Separação entre literatura e
música, clareza, harmonia
e equilíbrio.

5 Associação de ideias contraditórias que foi usada numa tentativa de conciliar razão e
sentimento.
6 Utilizada para apresentar imagens ou características que se opõem.

A diferença entre ambas é mínima: na antítese o amor é bom ou mal, no paradoxo o amor é
bom e mau.
23
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
Retomada dos valores
cristãos,
Tensão,
Barroco X Angústia, X
Rebuscamento,
Conceptismo,
Cultismo.
Iluminismo,
Retomada de postura
racional,
Equilíbrio entre razão e
Arcadismo sentimento,
X X
Arte como imitação da
natureza,
Recuperação dos modelos
clássicos,
Simplicidade formal.
Predomínio da
emoção e
Romantismo subjetividade,
X X
Nacionalismo,
Gosto pelo exótico,
fascínio pela morte.
Predomínio da
razão,
Realismo/ Objetividade,
X X
Naturalismo Cientificismo,
Determinismo,
Análise minuciosa.
Impressionista,
Subjetividade,
Simbolismo Fascínio pela morte
X X
e pelo sonho,
Valorização das
sensações
Retomada das
questões sociais,
Visão crítica da
Modernismo realidade,
X X
Originalidade,
humor, ruptura com
o passado, liberdade
formal e expressiva.

5 A LITERATURA BRASILEIRA DO QUINHENTISMO AO MODERNISMO


24
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA

Evidentemente que nossa historia literária começa logo após o


descobrimento do Brasil, em 1500, deste modo, abaixo temos uma breve linha
do tempo mostrando os períodos que vamos estudar a partir de agora.

1500 1601 1768 1836 1881 1893 1902 1922

Pré-modernismo
Quinhentismo e

Parnasianismo
Literatura de

Romantismo

Modernismo
Naturalismo

Simbolismo
Informação

Arcadismo

Realismo
Barroco

Fonte: De Nicola, 1998, p. 503.

QUINHENTISMO

O Quinhentismo é um movimento paralelo ao Classicismo português e


possui ideias relacionadas ao Renascimento, que vivia o seu auge na Europa.
A literatura do Quinhentismo tem como tema central os próprios objetivos da
expansão marítima: a conquista material, na forma da literatura informativa das
Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante da política
portuguesa da Contra-Reforma e representada pela literatura jesuítica da
Companhia de Jesus (DE NICOLA, 1998).

Ao longo do século XVI, diversas expedições foram enviadas para as


terras brasileiras, e nestas, cada viajante tinha uma missão: descrever a terra e

25
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
o povo nativo; catalogar espécimes da fauna e da flora, identificar possíveis
interesses econômicos para a coroa portuguesa.

Os relatos dessas viagens são o que chamamos de Literatura de


Informação e se caracterizavam como uma espécie de crônica histórica.

Assim, o objetivo da literatura de viagem era exatamente este: informar.


E isto, segundo Abaurre e Pontara (2005) levou os autores a um grande
desafio: como, por meio de palavras, apresentar um retrato compreensível de
uma realidade inteiramente desconhecida e estranha?

Podemos dizer que a característica da estrutura descritiva desses


relatos foi o que, primeiramente, chamou a atenção, pois nada melhor do que a
descrição e na sequência, a comparação para mostrar o novo mundo.

Dentre os principais relatos ou textos escritos, dessa época, além da


Carta de Pero Vaz de Caminha, nós temos:

 Carta de Lisboa (1502) – Américo Vespúcio;

 Tratado da Terra do Brasil (escrito provavelmente em 1570, publicado


apenas em 1826) e História da Província Santa Cruz a vulgarmente
chamamos Brasil – 1576 de Pero de Magalhães Gandavo.

 Duas viagens ao Brasil (1557) – do alemão Hans Staden;

 Viagem à Terra do Brasil (1578) – do francês Jean de Lévy.

 Narrativa Epistolar (1583) – Fernão Cardim;

 Tratado descritivo do Brasil (1587) – Gabriel Soares de Sousa;

Aos textos escritos pelos jesuítas com o objetivo de converter os índios


brasileiros conhecemos como literatura de catequese.

Aqui se incluem os textos literários do Padre José de Anchieta, apóstolo


e poeta que escrever poemas líricos e das primeiras peças teatrais encenadas
no Brasil.

Uma obra de grande importância escrita por Anchieta foi Arte da


gramática da língua mais usada na costa do Brasil, em 1595 (a primeira
gramática da língua tupi).

26
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA

BARROCO

A literatura barroca (em Portugal conhecida como Seiscentismo) no


Brasil foi introduzida pelos portugueses, quando não havia uma produção
cultural significante no país. Por isso, refletindo a literatura portuguesa, a
produção literária nesse período não é reconhecida como genuinamente
nacional, mas um estilo absorvido e resultante do período colonial
(VERÍSSIMO, 1998).

Sua linguagem é rebuscada e ambígua. Como em Portugal, o barroco


caracteriza-se em terras tupiniquins por utilizar largamente figuras de
linguagem: metáfora; antítese; o paradoxo; e a sinestesia.

Destacam-se Gregório de Mattos e Padre Antônio Vieira.

O poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira, publicado em 1601,


apesar de considerado um documento de pouco valor literário, é indicado como
o início do Barroco na Literatura Brasileira. E também é considerado uma cópia
mal elaborada de Os Lusíadas de Camões.

Aqui cabe lembrar da expressão latina Carpe diem, que significa


“aproveita o dia (presente)”, que é um dos temas frequentes da arte barroca. A
mocidade ou a juventude é frequentemente comparada à flor que é bonita por
pouco tempo e logo morre. Daí o apelo dos poetas barrocos.

O Carpe Diem é um tema que vinha já da Antiguidade, mas no Barroco


foi desenvolvido de forma angustiada, pois era uma tentativa de fundir os
opostos, de conciliar o que, no fundo, é inconciliável: a razão e a fé, a matéria e
o espírito, a vida carnal e a vida espiritual.

São características da literatura barroca:

 Culto do contraste: o dualismo barroco coloca em contraste a matéria e


o espírito, o bem e o mal, Deus e o Diabo, céu e a terra, pureza e o
pecado, a alegria e a tristeza, a vida e a morte.

27
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
 Consciência da transitoriedade da vida: a ideia de que o tempo
consome, tudo leva consigo, e que conduz irrevogavelmente a morte,
reafirma os ideais de humildade e desvalorização dos bens materiais, ou
seja sem apego aos bens materiais.

 Gosto pela grandiosidade: característica comum expressa com o auxilio


de hipérboles, ou seja, exageros, figura de linguagem que consiste em
aumentar exageradamente algo a que se está referindo.

 Frases interrogativas: que refletem dúvidas e incertezas,


questionamentos: que amor sigo? Que busco? Que desejo? O que
quero da vida?

 Cultismo: é o jogo de palavras, o estilo trabalhado. Predominam


hipérbole, hipérbatos (isto é, alteração da ordem natural das palavras na
frase ou das orações no período) e metáforas (comparações), como:
diamantes que significam dentes ou olhos.

 Conceptismo: é o jogo de ideias ou conceitos, de conformidade com a


técnica de argumentação. É comum o uso de antítese, ou seja, ideias
contrárias, paradoxos. Enquanto os cultistas tinham a visão direcionada
aos sentidos, já os conceptistas eram direcionados a inteligência
(ARAÚJO, 2006).

ARCADISMO

Arcadismo ou movimento neoclássico mineiro tem início com a


publicação das Obras Poéticas de Claudio Manoel da Costa e fundação da
Arcádia Ultramarina, movimento poético-literário que dá início ao Arcadismo,
em 1768.

O Arcadismo no Brasil desenvolveu-se concomitantemente ao chamado


ciclo do ouro, em Minas Gerais e teve em Vila Rica (atual Ouro Preto) seu
principal centro de difusão. Alguns de seus integrantes estiveram ligados à
Inconfidência Mineira, principal evento político do século XVIII no Brasil
(OLIVEIRA, 2010).

28
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
A riqueza gerada pela mineração criou tardiamente obras arquitetônicas,
esculturas e pinturas no estilo barroco, como se pode ver ainda hoje nas
cidades históricas mineiras. No âmbito das ideias e da literatura, porém, já
sopravam os ventos do iluminismo. O iluminismo, que valorizava a razão,
significava uma ruptura com o barroco, marcadamente religioso. Nesse sentido,
resgatava os ideais do classicismo, inaugurando um neoclassicismo, sob a
inspiração da civilização greco-romana.

Entre as características que se destacam nas obras árcades brasileira,


uma é a valorização da natureza - que reflete o primeiro desencanto da
humanidade com a civilização urbana. Elementos como os campos, rios, vales
e flores têm presença constante nas obras desse período. Por esta razão, era
comum aos poetas árcades, ficcionalmente, assumirem o papel de pastores da
Arcádia - uma região da Grécia antiga. Nos poemas, marcadamente líricos,
expressavam o amor por suas pastoras. Finalmente, marcam o estilo dos
autores árcades a simplicidade da vida bucólica, versos simples, que
propiciassem a integração da poesia com a música e se contrapusessem ao
estilo rebuscado do barroco.

ROMANTISMO

O Romantismo surge por aqui logo após a independência do Brasil


(1822).

O Romantismo assumiu em nossa literatura um significado secundário,


de um movimento anticolonialista e antilusitano, de rejeição à literatura
produzida na época colonial, aos modelos culturais portugueses. Por isso a
primeira geração romântica tinha a preocupação de garantir uma identidade
nacional que nos separassem de Portugal, buscam no passado histórico
elementos de origem nacional.

São apontadas três gerações de escritores românticos:

 Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa. Os poetas que se


destacam são: Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães.

29
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
 Segunda geração: é um período marcado pelo mal do século, apresenta
egocentrismo irritado, pessimismo, satanismo e atração pela morte. Os
poetas que se destacam são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu,
Fagundes Varela e Junqueira Freire.

 Terceira geração: esse período desenvolve uma poesia com caráter


político e social, é formada pelo grupo condoreiro7. O maior
representante dessa fase é Castro Alves (MUNDO EDUCAÇÃO, 2010).

Essas três gerações citadas acima, apenas se aplicam para a poesia


romântica, pois a prosa no Brasil, não foi marcada por gerações, e sim por
estilos de textos - indianista, urbano ou regional - que aconteceram todos
simultaneamente.

José de Alencar foi o principal romancista romântico. Romances


urbanos: Lucíola; A Viuvinha; Cinco Minutos; Senhora. Romances
regionalistas: O Gaúcho, O Sertanejo, O Tronco do Ipê. Romances históricos:
A Guerra dos Mascates; As Minas de Prata. Romances indianistas: O Guarani,
Iracema e o Ubirajara.

No país, entretanto, o romantismo perdurará até à década de 1880. Com


a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, por Machado de Assis,
em 1881, ocorre formalmente a passagem para o período realista.

REALISMO / NATURALISMO / PARNASIANISMO

Iniciou no Brasil na segunda metade do século XIX quando entraram em


crise o romantismo e seus ideais.

O realismo manifesta-se na prosa. A poesia da época vive o


parnasianismo e o simbolismo. O romance – social, psicológico e de tese – é a
principal forma de expressão. Deixa de ser apenas distração e se torna veículo
de crítica a instituições, como a Igreja Católica, e à hipocrisia burguesa. A
escravidão, os preconceitos raciais e a sexualidade são os principais temas,
tratados com linguagem clara e direta.
7 Se associa ao condor, símbolo desse grupo da terceira geração.

30
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
Os escritores e poetas realistas começam a falar da realidade social e
dos principais problemas e conflitos do ser humano. Como características
desta fase, podemos citar:

 Objetivismo,

 Linguagem popular,

 Trama psicológica,

 Valorização de personagens inspirados na realidade,

 Uso de cenas cotidianas,

 Crítica social,

 Visão irônica da realidade.

O principal representante desta fase foi Machado de Assis com as obras:


Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e O
Alienista. Podemos citar ainda como escritores realistas Aluisio de Azedo autor
de O Mulato e O Cortiço e Raul Pompéia autor de O Ateneu.

O parnasianismo (final do século XIX e início do século XX) buscou os


temas clássicos, valorizando o rigor formal e a poesia descritiva. Os autores
parnasianos usavam uma linguagem rebuscada, vocabulário culto, temas
mitológicos e descrições detalhadas. Diziam que faziam a arte pela arte.
Graças a esta postura foram chamados de criadores de uma literatura
alienada, pois não retratavam os problemas sociais que ocorriam naquela
época. Os principais autores parnasianos são: Olavo Bilac, Raimundo Correa,
Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho.

No Brasil, as primeiras obras naturalistas são publicadas em 1880,


sendo influenciadas pela leitura de Émile Zola.

O primeiro romance é O mulato (1881) do maranhense Aluísio de


Azevedo, o escritor que melhor representa a corrente literária do naturalismo
brasileiro. Além dessa obra, foi o responsável pela criação de um dos maiores
marcos da literatura brasileira: O cortiço.

Os romances naturalistas são, com frequência, caracterizados como


literatura de tese, porque desenvolvem uma estrutura pensada para provar ao
31
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
leitor a visão determinista da sociedade. O aviltamento e a perda da dignidade
dos indivíduos que vivem em um meio degradante é a grande tese exposta
nesses romances (ABAURRE; PONTARA, 2005).

SIMBOLISMO

A fase literária do simbolismo (fins do século XIX) inicia-se com a


publicação de Missal e Broqueis de João da Cruz e Souza. Os poetas
simbolistas usavam uma linguagem abstrata e sugestiva, enchendo suas obras
de misticismo e religiosidade. Valorizavam muito os mistérios da morte e dos
sonhos, carregando os textos de subjetivismo. Os principais representantes do
simbolismo foram: Cruz e Souza, Augusto dos Anjos e Alphonsus de
Guimaraens.

PRÉ-MODERNISMO

As grandes mudanças políticas, sociais e econômicas decorrentes dos


primeiros anos da república não deixavam mais espaço para a idealização. Era
o momento de buscar um conhecimento mais real e profundo das condições de
vida que podiam ser observadas em um país tão grande. Por isso, o foco da
produção literária se fragmenta e os autores escrevem sobre as diferentes
regiões, os centros urbanos, os funcionários públicos, os sertanejos, os
caboclos e os imigrantes.

Tudo era motivo de interesse para escritores como Euclides da Cunha,


Monteiro Lobato, Lima Barreto, Graça Aranha e Augusto dos Anjos.

Para Abaurre e Pontara (2005) essa multiplicidade de focos e de


interesses torna impossível tratar o Pré-modernismo como uma escola literária,
por isso é considerado um período de transição: conserva algumas tendências
das estéticas da segunda metade do século XIX e ao mesmo tempo, antecipa
outras que serão aprofundadas no modernismo.

32
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
Vimos falando ao longo deste tópico sobre projeto literário, pois bem,
mesmo não tratando o pré-modernismo como escola e entendendo projeto
como intenção, podemos falar em projeto literário para o pré-modernismo que
era o desejo de revelar o verdadeiro Brasil do século XX: olhar para o Brasil e
usar a literatura como meio para torná-lo mais conhecido pelos brasileiros.

Uma das maneiras foi desviar o olhar dos romances que focava as
classes mais privilegiadas para os personagens de menor expressão.

MODERNISMO

O modernismo foi um movimento literário e artístico do início do séc. XX,


cujo objetivo era o rompimento com o tradicionalismo (parnasianismo,
simbolismo e a arte acadêmica), a libertação estética, a experimentação
constante e, principalmente, a independência cultural do país. Apesar da força
do movimento literário modernista a base deste movimento se encontra nas
artes plásticas, com destaque para a pintura.

No Brasil, este movimento possui como marco simbólico a Semana de


Arte Moderna, realizada em 1922, na cidade de São Paulo, devido ao
Centenário da Independência. No entanto, devemos lembrar que o modernismo
já se mostrava presente muito antes do movimento de 1922.

As primeiras mudanças na cultura brasileira que tenderam para o


modernismo datam de 1913 com as obras do pintor Lasar Segall; e no ano de
1917, a pintora Anita Malfatti, recém-chegada da Europa, provoca uma
renovação artística com a exposição de seus quadros. A este período
chamamos de Pré-Modernismo (1902-1922), no qual se destacam
literariamente, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Augusto
dos Anjos; nesse período ainda podemos notar certa influência de movimentos
anteriores como realismo/naturalismo, parnasianismo e simbolismo.

A partir de 1922, com a Semana de Arte Moderna tem início o que


chamamos de Primeira Fase do Modernismo ou Fase Heroica (1922-1930),
esta fase caracteriza-se por um maior compromisso dos artistas com a
renovação estética que se beneficia pelas estreitas relações com as
33
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
vanguardas europeias (cubismo, futurismo, surrealismo, etc.), na literatura há a
criação de uma forma de linguagem, que rompe com o tradicional,
transformando a forma como até então se escrevia; algumas dessas mudanças
são: a Liberdade Formal (utilização do verso livre, quase abandono das formas
fixas – como o soneto, a fala coloquial, ausência de pontuação, etc.), a
valorização do cotidiano, a reescritura de textos do passado, e diversas outras;
este período caracteriza-se também pela formação de grupos do movimento
modernista: Pau-Brasil, Antropófago, Verde-Amarelo, Grupo de Porto Alegre e
Grupo Modernista-Regionalista de Recife (FARIA, 2007).

Na década de 1930, temos o início do período conhecido como Segunda


Fase do Modernismo ou Fase de Consolidação (1930-1945), que é
caracterizado pelo predomínio da prosa de ficção. A partir deste período, os
ideais difundidos em 1922 se espalham e se normalizam, os esforços
anteriores para redefinir a linguagem artística se une a um forte interesse pelas
temáticas nacionalistas, percebe-se um amadurecimento nas obras dos
autores da primeira fase, que continuam produzindo, e também o surgimento
de novos poetas, entre eles Carlos Drummond de Andrade.

Temos ainda a Terceira Fase do Modernismo (1945- até 1960); alguns


estudiosos consideram a fase de 1945 até os dias de hoje como Pós-
Modernista, no entanto, outras fontes, tratam como Terceira Fase do
Modernismo o período compreendido entre 1945 e 1960 e como Tendências
Contemporâneas o período de 1960 até os dias de hoje. Nesta terceira fase, a
prosa dá sequência às três tendências observadas no período anterior – prosa
urbana, prosa intimista e prosa regionalista, com uma certa renovação
formal; na poesia temos a permanência de poetas da fase anterior, que se
encontram em constante renovação, e a criação de um grupo de escritores que
se autodenomina “geração de 45”, e que buscam uma poesia mais equilibrada
e séria, sendo chamados de neoparnasianos (FARIA, 2007).

Principais representantes da literatura do pré-modernismo e do


modernismo no Brasil: Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto,
Augusto dos Anjos, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Alcântara
Machado, Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo, Carlos D. de Andrade, Cecília
Meireles, Vinicius de Morais, Murilo Mendes, Graciliano Ramos, Rachel de
34
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
Queiroz, Jorge de Lima, José Lins do Rego, Thiago de Mello, Ledo Ivo, Ferreira
Gullar, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Olavo
Bilac, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho, Ribeiro
Couto, Raul Bopp, Graça Aranha, Murilo Leite, Mário Quintana, Carlos
Drummond de Andrade, Jorge Amado, Érico Veríssimo.

Bom, chegamos ao fim de uma apostila que deveria ser o começo de


uma longa jornada para todos nós. Passamos longe, muito longe de esgotar
esse assunto tão vasto e “gostoso” que é a trajetória da literatura brasileira.

Em todos os tempos, em todos os lugares e em todas as culturas,


homens e mulheres produziram arte e dentre suas manifestações temos a
literatura com seu mágico poder de provocação, de ser espaço de reflexão e de
interrogação.

Esperamos que tenham compreendido que a literatura encontra na


palavra a sua essência, que ela pode estabelecer relações, que tem o potencial
de nos fazer sonhar e ao mesmo tempo nos decepcionar, nos transporta a
mundos distantes, nos apresenta realidades próximas que insistimos não
existir.

Enfim, que usem o poder da literatura para incutir nos alunos o gosto
pela palavra, pela leitura e pelas inúmeras possibilidades advindas dela.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS

35
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura Brasileira:
tempos, leitores e leituras. Ensino Médio. São Paulo: Moderna, 2005.

ARAÚJO, Adriene Pereira de. Introdução aos estudos literários -


Movimentos literários. Disponível em:
<http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/adrienearaujo/literatura005.asp>
Acesso em: 04 jul. 2010.

BENEMANN, Milton; CADORE, Luís Agostinho. Estudo Dirigido de


Português, vol. 1, J.São Paulo: Editora Ática, 1984.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 45 ed. São Paulo:


Cultrix, 2006.

BRASIL, Assis. Vocabulário técnico de literatura. São Paulo: Tecnoprint,


1979.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares


Nacionais – Língua Portuguesa. Brasília: MEC, 1997.

CEIA, Carlos. Texto literário e texto não literário. Disponível em:


<http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/T/texto_literario_texto_nao_lit.htm>
Acesso em: 18 jun. 2010.

CONSOLARO, Hélio. Coesão textual. Disponível em:


http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=redacao/teoria/dos/coesa
otextual Acesso em: 12 jul. 2010.

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto,


2006.

CUNHA, Helena P. Os gêneros literários. In: PORTELLA, E. et. al. Teoria


Literária. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1979. 3 ed. Col. Biblioteca Tempo
Universitário 42. (p. 97-106)

DE NICOLA, José. Literatura brasileira: Das origens ao nossos dias. 15


ed. São Paulo: Scipione, 1998.

FARIA, Camila Conceição. Modernismo (2007). Disponível em:


<http://www.infoescola.com/literatura/modernismo/> Acesso em: 12 jul. 2010.

MUNDO EDUCAÇÃO. Romantismo no Brasil. Disponível em:


<http://www.mundoeducacao.com.br/literatura/romantismo-no-brasil.htm>
Acesso em: 12 jul. 2010.

OLIVEIRA, Rosimeire de. Neoclassicismo na literatura mineira. Página 3 –


Pedagogia e Comunicação – Ensino Médio. Disponível em
<http://educacao.uol.com.br/literatura/ult1706u23.jhtm> Acesso em 10 jul.
2010.
36
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
LITERATURA BRASILEIRA

SARAMAGO, José. Entrevista. O globo. Rio de Janeiro. 20 de março de 2004.

SOUZA, Regina Célia de. Gêneros Literários. Disponível em:


<http://www.regina.celia.nom.br/> Acesso em: 12 jul. 2010.
VERÍSSIMO, José. História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Record,
1998.

37
WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521

Você também pode gostar