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ISBN:978-85-5971-123-3 - ANAIS EPLIS II

POR QUE LER A LITERATURA SURDA NA ESCOLA? ALGUMAS


CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DE LITERATURA.

Larissa Silva Rebouças(UFS)

Resumo A literatura sempre permeou a humanidade, sendo uma representação da sociedade em


que está inserida. Para perceber isto, deve-se ter em mente o contexto histórico que antecedeu
cada movimento literário. Com essa afirmação não queremos dizer que a obra não tenha
significação isolada, pelo contrário, ela é livre, porém um aprofundamento no contexto histórico
ajuda na sua interpretação. A literatura ocidental sofreu influências da sociedade, assim como as
demais escolas literárias. Por outro lado, o termo Literatura Surda pode ser novo nos estudos de
hoje, mas já era uma prática nas comunidades surdas tanto nas reuniões familiares em que os
mais velhos contam histórias aos mais novos quanto nas associações de surdos onde é encontrada
a circulação de histórias próprias da cultura local entre os sujeitos membros dessa agregação. O
sujeito pertencente a tal grupo construiu e representou suas características próprias por meio
desta. O diferencial está no canal em que a mensagem foi passada. A língua de sinais não é
executada geralmente de forma escrita condicionando o corpus literário desta comunidade à
memória. Porém, tal quadro tem mudado e feito com que se torne conhecido este tipo de
literatura, independente do gênero, produzida em língua de sinais por pessoas surdas e para
pessoas com as mesmas características, tendo em seu enredo aspectos da cultura surda.
Percebese que ainda faltam métodos de divulgação da literatura surda, assim como um mercado
motivador de leitores desse tipo de arte. Sendo a literatura uma das ferramentas de construção
adequada do sujeito, observa-se que há dificuldade para o surdo se constituir enquanto pessoa
pertencente a uma comunidade própria. Isto se dá pela escassez de elementos que o ajude a
entender sua identidade e se firmar enquanto diferente diante do outro. O objetivo da pesquisa é
analisar a função da literatura surda para a construção do sujeito, a sua importância, o seu
desenvolvimento hoje e de como tem sido utilizado por professores para a construção de uma
identidade surda Para isso, se faz necessário que a criança entre em contato com textos próprios
da literatura surda por meio da contação de história, ela é importante pelo fato de ajudar na
construção do indivíduo. As análises desses livros específicos da comunidade surda tornam
visíveis aspectos da sua cultura e identidade. A literatura é importante para a construção de
qualquer indivíduo. O professor analisará textos da comunidade surda despertando nos alunos a
interação entre grupos de culturas diferentes. As análises desses livros específicos da
comunidade surda tornam visíveis aspectos da sua cultura e identidade. A literatura é importante
para a construção de qualquer indivíduo. A escola deve ser atuante na formação do aluno, cabe a
ela criar estratégias para melhor ensinar. Não se tem divulgação de literatura surda nas escolas
regulares. Os campos ainda são muito restritos à comunidade surda. Precisamos de professores
qualificados e de material disponível na educação básica. Oferecer as crianças que estão em fase
de construção de identidade a possibilidade se escolher e se desenvolver diante das diversas
oportunidades. Por esses motivos que esse trabalho também busca abordar novos métodos para o
exercício da literatura surda, sobretudo, na educação básica.

Palavras-chave: Literatura surda, Surdo, Identidade, educação básica.

ABSTRACT: Literature has always permeated humanity, being a representation of the society
in which it operates. To understand this, one must keep in mind the historical context that
preceded each literary movement. With this statement we do not mean the work is not isolated
meaning, on the contrary, it is free, but a deepening in the historical context helps in its
interpretation. Western literature has been influenced society, as well as other literary schools.
On the other hand, the term Deaf Literature may be new studies today, but it was a practice in
deaf communities both at family gatherings where elder tell stories to younger as the deaf
associations in which is found the circulation of stories own local culture among the subjects
members of aggregation. The man belonging to such a group built and represented its own
characteristics through this. The difference is the channel on which the message was passed. Sign
language is not usually performed in writing conditioning the literary corpus of this community
memory. However, this framework has changed and made it to become known this kind of
literature, regardless of genre, produced in sign language for deaf people and people with the
same characteristics, in its plot aspects of deaf culture. It is noticed that there are still methods of
disseminating the deaf literature, as well as a motivating market players such art. As the
literature of the appropriate building tools of the subject, it is observed that it is difficult for the
deaf to be as a person belonging to a community itself. This is done by the scarcity of elements
that will help you understand your identity and to establish itself as different on the other. The
objective of the research is to analyze the function of deaf literature for the construction of the
subject, its importance, its development today and how it has been used by teachers for the
construction of a deaf identity. For this, it is necessary that the child contact with the texts
themselves deaf literature through storytelling, it is important because help in the individual
building. The teacher will analyze texts of the deaf community awakening in students the
interaction between different cultures groups. Analyses of specific books of the deaf community
make visible aspects of their culture and identity. The literature is important for the construction
of any individual. The school must be active in the student's education, it is up to develop
strategies to better teach. It does not have deaf literature disclosure in mainstream schools. The
fields are still very restricted to the deaf community. We need qualified teachers and materials
available in basic education. Offer children who are in identity construction the chance to choose
and develop in the face of various opportunities. For these reasons, this work also seeks to
address new methods for the exercise of deaf literature, especially in basic education.

Keywords: deaf literature, Deafness, Identity, basic education

LITERATURA PARA QUÊ?

A inquietude encontrada neste trabalho não é de agora, por muitos anos conversas
informais pairaram os círculos ora sinalizados, ora escritos das autoras. A princípio poderia
pensar-se que duas pessoas de culturas diferentes não poderiam conviver e promover o
crescimento mútuo visto que, a diferença está no fato de uma ser Surda e a outra ouvinte sem
fluidez na língua de sinais na ocasião em que se conheceram. Porém, a vontade de interação foi
maior que qualquer “barreira” aparente de comunicação. Criou-se estratégias para quebrar este
estigma de que essas comunidades culturais distintas não poderiam conviver sem perda para
nenhum dos lados. As conversas iniciais começaram no papel que se movimentava em mão em
mão. Hoje, ao passar dos anos não é mais necessário, mas foi uma época interessante que
comprova que não há obstáculos quando o objetivo é a interação. São dois perfis diferentes que
pesam na construção desse texto, como já dito anteriormente, uma surda falante de LIBRAS que
conhece e vivenciou os processos de desenvolvimentos dos surdos enquanto cidadãos e a outra,
ouvinte, graduada em Letras-Português e mestre em Literatura que desconhecia a trajetória do
sujeito surdo e não tinha acesso a sua língua. Nessa graduação e mestrado aprendeu a pensar na
literatura como texto escrito e por mais que houvesse estudado literaturas e suas manifestações
em diferentes culturas na universidade, não houve o conhecimento de Literatura Surda no seu
currículo. O que seria Literatura Surda? Para chegarmos a essa resposta temos que refletir a
priori sobre outros aspectos, os quais são: história, literatura, construção de identidade, a relação
desses termos e o sujeito Surdo. Após ter em mente esses conceitos podemos chegar ao
entendimento do que é a Literatura Surda e sua funcionalidade. Aprendemos desde cedo na
escola que a história é narração de fatos que aconteceram no passado, mas à medida que vamos
crescendo, percebemos que ela vai muito mais além do que pensamos. A proposta de
acontecimento que nos é apresentada como real e verdadeira é posto à prova quando paramos
para refletir nas entrelinhas. Exemplo claro disso é o estudo do “descobrimento” do Brasil
ensinado as crianças. Por muitos anos se fizeram acreditar que as terras brasileiras foram achadas
ao acaso pelos portugueses e eles sem interesse material estava disposto a catequizar e “salvar” a
alma da gente que morava aqui. Ao ler a Carta escrita por Pero Vaz de Caminha, observamos
que não é assim. Já era conhecido que havia terra na parte oeste do globo, inclusive já se tinha
comandos de exploração dessas terras desconhecidas. Assim, como pela descrição do texto
percebemos o real intuito dos portugueses no Brasil: explorar riquezas. Ao entrarmos em contato
com os textos literários, levantamos questionamentos sobre a sua função em alguns casos.
Alguns leitores podem oferecer como resposta que ela é apenas diversão ou “representação” da
realidade. Outros podem perguntar o que é a literatura antes mesmo de saber a sua função. É
complexa a definição de literatura por existir áreas diferentes para tal. A função do texto literário
não é fixo. Todorov (2010, p. 76) afirma que: a literatura pode muito. Ela pode nos estender a
mão quando estamos profundamente deprimidos, nos tornar ainda mais próximos dos outros
seres humanos que nos cercam, nos fazer compreender melhor o mundo e nos ajudar a viver.
Não que ela seja, antes de tudo, uma técnica de cuidados para com a alma; porém, revelação do
mundo, ela pode também, em seu percurso, nos transformar a cada um de nós a partir de dentro.
A literatura sofre condicionamentos e influências da sociedade em que está inserida. Ela é uma
representação da sociedade, mesmo não tenho essa obrigação. A cada escola literária percebemos
o quanto ela espelha os processos da humanidade em cada época. No Trovadorismo encontramos
dentro de sua poesia aspectos do medieval como, por exemplo, a vassalagem, no Humanismo
assim como no Classicismo, influenciados pelas ideias do Renascimento, é elaborado uma poesia
mais voltado para o homem e sua humanidade. Seguindo a frase proferida por Protágoras: “O
homem é a medida de todas as coisas”. O Barroco por sua vez, dentro de sua manifestação
poética, revela um homem em conflito e duvidoso. E assim se desenrolam a literatura ocidental.
A literatura não tem a obrigação de falar do mundo, ou ser metalinguística, mas as relações
colocadas diante do leitor nos interligam ao mundo seja ele qual for, visto que “se a literatura não
fala do mundo, traz dele muitas versões, que lhe permitem existir no tempo” (SAMOYAULT,
2008, p.115). Antonio Candido exclarece que “a literatura pode ser um instrumento consciente
de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrições dos direitos ou de negação
deles, como a miséria, a servidão, a mutilação espiritual” (1995, p. 256). A literatura caminha
por situações de cunho social; porém, a literatura é “um meio expressivo que é tão contaminado
ideologicamente quanto qualquer outro, pelo simples fato de ser construído, avaliado e
legitimado em meio a disputas por reconhecimento e poder” (DALCASTAGNÈ, 2008, p. 7).
Cabe ao escritor agir nos mundos, para apresentar ao leitor. O SER SURDO Ser surdo não é
simplesmente não possuir audição. Há dois termos que parecem iguais, mas são dotados de
cargas sociais diferentes: “Surdo” e “surdo”. O primeiro com letra maiúscula é usado para
aqueles que se identificam com a identidade e cultura surdas, enquanto o segundo é dado às
pessoas com apenas problemas de audição. A atriz americana surda Emmanuelle Laborit (1996)
em seu livro: “Vôo da Gaivota” afirma que “sou surda não quer dizer: ‘Não ouço.’ Quer dizer:
‘Compreendi que sou surda.’ É uma frase positiva e determinante. Na minha mente, admito que
sou surda, compreendo-o, analiso-o, porque me deram uma língua que me permite fazê-lo”. A
pessoa de identidade Surda se identifica com membros comunidade linguística e cultural
diferente. Independente do grau de surdez, o foco principal de aceitação é o uso da língua gestual
como primeira língua (L1), língua natural ou língua materna. No caso do Brasil é a LIBRAS.
Ela, por sua vez permite que seus usuários possam afirmar a sua diferença e sua identidade.
Segundo Gladis Perlin (1998), ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual, isso quer
dizer que é ser falante de uma língua gestual e viver partindo da percepção ocular. Para Laborit
(1996): A língua gestual é a minha verdadeira cultura. O gesto, esta dança de palavras no espaço,
é a minha sensibilidade, a minha poesia, o meu íntimo, o meu verdadeiro estilo. Pois afirmo com
absoluta certeza que a língua gestual é a primeira língua, a nossa, a que nos permite ser seres
humanos “comunicantes. É muito importante saber que se pode utilizar as mãos. É conviver com
as pessoas que, em um universo de barulhos, deparar-se com as pessoas que estão percebendo o
mundo, principalmente, pela visão, e isso faz com que eles sejam diferentes e não
necessariamente deficientes. Antes não se via o Surdo como uma minoria cultural, com
identidade e cultura própria e sim como deficiente. Acredita-se que o problema que atinge os
surdos não é a surdez e sim a representação dos dominantes que não veem o outro como
parceiro, mas como alguém inferior. O Dia Mundial do Surdo veio para não deixar esquecer-se
das lutas históricas e diárias enfrentadas por essa classe.

A CULTURA SURDA

O conceito de Cultura surda é abrangente, mas pode ser definido pela maneira que o
sujeito surdo entende o mundo e como agi para modificá-lo a fim de se torná-lo adequado com as
suas percepções visuais. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e
os hábitos de povo surdo. Descreve a pesquisadora surda Perlin: As identidades surdas são
construídas dentro das representações possíveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com
maior ou menor receptividade cultural assumida pelo sujeito. E dentro dessa receptividade
cultural, também surge aquela luta política ou consciência oposicional pela qual o indivíduo
representa a si mesmo, se defende da homogeneização, dos aspectos que o tornam corpo menos
habitável, da sensação de invalidez, de inclusão entre os deficientes, de menos valia social.
(2004, p. 77-78) Há uma diferença entre cultura e comunidade. A primeira é um conjunto de
comportamentos aprendidos de um mesmo grupo de pessoas que usam a mesma língua, tem os
mesmos valores e regras de comportamentos enquanto a segunda é um sistema social no qual um
grupo de pessoas vivem juntos e compartilham metas comuns. A forma especial de o Surdo ver
deve ser a base de sua educação dialogando com os valores da cultura ouvinte. Para a
comunidade surda, ter uma cultura própria é ser igual as demais comunidades e ao mesmo tempo
ter um estilo de vida diferente em alguns aspectos. Para Skliar (1998, p.28) “A cultura surda não
é uma imagem velada de uma hipotética cultura ouvinte. Não é o seu revés. Não é uma cultura
patológica.” A socialização vem por meio da integração. É por meio da forma que o indivíduo é
inserido na sociedade que ele opta por uma ou outra cultura. Não se pode negar a alguém a
oportunidade de conhecimento de espaços sociais diferentes, assim como negar o direto de sua
própria construção de identidade. A comunicação é importante na construção da identidade.
Quanto mais cedo a criança tem contato com sua comunidade, mas cedo pode adquirir sai língua
materna e características próprias de sua comunidade.

A LITERATURA GERAL

Literatura é uma palavra de origem no termo em latim littera, que significa letra. A
literatura sempre esteve ligada ao processo da escrita. Ela é a arte de construir textos que fogem
ao cotidiano. Uma das ideias mais conhecidas do Formalismo Russo é o conceito de
estranhamento que é definido como o causador da diferença para se distanciar do cotidiano. A
literatura veio para agir na diferença e não no comum. Isso é o que faz a arte ser arte. Chklovski
(1976, p. 45) afirma que: eis que para devolver a sensação de vida, para sentir os objetos, para
provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte. O objetivo da arte é dar a sensação do
objeto como visão e não como reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento da
singularização dos objetos e o procedimento que consiste em obscurecer a forma, aumentar a
dificuldade e a duração da percepção. O ato de percepção em arte é um fim em si mesmo e deve
ser prolongado; a arte é um meio de experimentar o devir do objeto, o que é já “passado” não
importa para a arte. Para Eagleton (2006, p. 6-7) “os formalistas consideram a linguagem
literária como um conjunto de desvios da norma, uma espécie de violência linguística: a
literatura é uma forma ‘especial’ da linguagem, em contraste a linguagem ‘comum”. O conceito
de literatura se desenvolve a cada geração. Há mudanças nas estruturas e nas temáticas
abordadas. O conto reproduz bem essas mudanças. A exemplo, temos contos de Dalton Trevisan
escritos em versos. Podemos pensar que são poesias, mas ao ler e analisar o texto literário
percebemos que é um conto. O conto consegue atuar em diversos âmbitos por ser menor em
extensão e estar inserido na modernidade. Ele sofreu modificações com o tempo pois ele é um
gênero bem antigo. Sempre houve a necessidade de contar e de ouvir histórias. Isso promovia a
união e a construção e divulgação da cultura de um povo.

A LITERATURA SURDA

A literatura surda tem uma tradição diferente da literatura geral, pois ela não é
propriamente escrita. Ela se realiza nas histórias contadas em sinais. Por não ser escrita, a priori,
a literatura era guardada apenas na memória. Hoje temos a oportunidade de usar tecnologia para
gravação de histórias e de textos impressos que apresentam imagens, fotos e/ou traduções para o
português. O registro da literatura surda pode ser possível principalmente a partir do
reconhecimento da Libras e do desenvolvimento tecnológico, que possibilitaram formas visuais
de registro dos sinais. Segundo Karnopp (2006), a literatura surda é: a produção de textos
literários em sinais, que traduz a experiência visual, que entende a surdez como presença de algo
e não como falta, que possibilita outras representações de surdos e que considera as pessoas
surdas como um grupo linguístico e cultural diferente. Espera-se que a literatura surda seja a
literatura com temática relacionada ao mundo do surdo tendo como público-alvo o sujeito surdo.
O autor pode ser ou não ser surdo, mas a temática deve está adequada a essa comunidade. Dentro
das possibilidades de literatura surda podemos exemplificar com textos adaptados da literatura
clássica como Ciderela Surda, Chapeuzinho Surda, Rapunzel Surda, assim como Daniel no
mundo do silêncio. Esses livros contêm histórias que mesclam personagens surdos e ouvintes a
interação entre essas duas comunidades. As suas ilustrações são bem mais expressivas para não
apagar a característica dessa língua visual.

O TRABALHO DE LITERATURA SURDA NAS ESCOLAS

Não há receita fixa para a metodologia do ensino de literatura surda. O trabalho deve
levar em conta as necessidades e o nível da sala. Na escola regular, há a prática de contação de
histórias infantis como também a leitura autônoma de contos de fadas pela criança. Porém, não
existe ainda uma prática recorrente para o desenvolvimento da criança surda em relação às
histórias na escola. Isso se deve ao fato de o professor não dominar a língua de sinais e também
não conhecer histórias da comunidade surda. A contação de história é importante pelo fato de ela
ajudar na construção do indivíduo, além de ensinar a criança a narração, a união de eventos e a
temporalidade nas narrativas. Por meio das histórias a criança aprende conceitos de honestidade,
bondade, gentileza entre outros. O professor ao utilizar e analisar textos da comunidade surda vai
despertar nos alunos, surdos e ouvintes, a interação entre grupos de culturas diferentes. Fazendo
com que ambos se desenvolvam e cresçam em sociedade com respeito mútuo. As análises desses
livros específicos tornam visíveis aspectos cultura e identidade. Por meio dos textos e imagens se
procura autorrepresentação do grupo de surdos.

COMPARAÇÃO ENTRE AS LITERATURAS

Para muitos surdos no Brasil, principalmente filhos de pais ouvintes, o contato


com a literatura surge apenas na adolescência, concomitante com o acesso a Língua
Brasileira de Sinais. Quando o surdo tem contato com a Literatura surda ele percebe a
diferença entre as literaturas regulares. É uma versão do clássico muito difundido pela
Disney. Dentro desse livro encontramos elementos da cultura surda bem como personagens
principais surdos. No livro temos a presença da tradução para o português, escrita de sinais e as
imagens com elaboração significativa de expressões faciais. Este livro foi idealizado por Lodenir
Becker Karnopp, Caroline Hessel e Fabiano Rosa. O livro adaptado para a cultura surda é bem
interessante. Logo de início ambienta os personagens na França. Tanto a Cinderela quanto o
príncipe eram surdos e foram alfabetizados em língua de sinais. O príncipe em especial foi
educado por L’Epeé. Duas informações chamam atenção, pois se relaciona com a história dos
surdos. A França foi o berço do desenvolvimento dos ensinamentos em língua de sinais e L’Epeé
idealizador do ensino para pessoas com surdez. As crianças indiretamente já aprendem um pouco
de sua própria história. Na versão tradicional não há um lugar definido e todos os personagens
são ouvintes. Também há semelhanças nas histórias. Em ambas a mãe morre e o pai se casa com
uma mulher ruim com duas filhas. Após a morte do pai, a madrasta junto com suas filhas
maltrata a Cinderela. A magia da fada madrinha também é semelhante, mas a diferença crucial
nesta obra está no fato de a Cinderela perder sua luva no baile. Para a comunidade surda, as mãos
são a base de sua comunicação. Perder o sapatinho não faria sentido na realidade dessa cultura.
Assim como na história original o príncipe sai a procura de sua amada experimentando a luva em
cada moça da vila.

CONCLUSÃO

A literatura é importante para a construção de qualquer indivíduo. A escola deve ser


atuante na formação do aluno, seja ele ouvinte e surdo. Cabe à escola criar estratégias adequadas
ao ensino de seu alunado. Não se tem divulgação de literatura surda nas escolas regulares. Os
campos ainda são muito restritos à comunidade surda. Precisamos de professores qualificados e
quem saibam atuar e usar o material disponível na educação básica. Não fazendo escolhas
exclusivas de um tipo de cultura em detrimento da outra. Oferecer as crianças que estão em fase
de construção de identidade a possibilidade se escolher e se desenvolver diante das diversas
oportunidades.

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