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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR - PEDAGOGIA

CARLOS EDUARDO SANTOS DE SOUSA


MYCHELE SANTANA TEIXEIRA
RODRIGO ANTONIO MELO
VICTÓRIA DE FREITAS BENTO

LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS


DOCENTE: JEANIE LIZA MARQUES FERRAZ DE MACEDO

É IMPORTANTE A UTILIZAÇÃO DA LITERATURA SURDA INFANTIL NA


ESCOLA?

NOVA IGUAÇU
2023
SUMÁRIO

Cap. 1 - Literatura Surda, o que é?....………..………………………………………..…1

1.1 - Cultura e identidades surdas……………………………………...……………..…..2

1.2 - Literatura Surda na constituição identitária e subjetiva da criança surda….……4

1.3 - Estratégias para trabalhar com crianças surdas……………………….………….5

Referências Bibliográficas .…………………………………………………….………..6


CAPÍTULO 1 - LITERATURA SURDA, O QUE É?

A infância é uma etapa importante no desenvolvimento cognitivo, emocional e


social das crianças. Neste cenário, a literatura é muito importante para fomentar a
criatividade, a imaginação e o pensamento crítico dos jovens leitores. A literatura
infantil desperta o interesse pela leitura através de histórias divertidas, personagens
atraentes e aventuras emocionantes. Isso ajuda a criar leitores mais criativos e
habilidosos na escrita e na comunicação.

A importância da literatura surda infantil é enfatizada ainda mais. Ao fornecer


livros e materiais adaptados em língua de sinais às crianças surdas, eles podem
acessar conteúdos que são linguisticamente adequados e culturalmente relevantes
para sua realidade. A representatividade é essencial para fortalecer a identidade
surda e promover um sentimento de pertencimento, permitindo que as crianças
surdas se vejam como protagonistas das histórias que leem e se identifiquem com
as narrativas apresentadas nas histórias.

Além disso, a literatura infantil desempenha um papel significativo no


desenvolvimento emocional e no bem-estar das crianças surdas. Esses livros
abordam temas como amizade, superação de desafios, autoaceitação e resiliência.
As crianças surdas podem aumentar sua confiança em si mesmas identificando-se
com personagens surdos que superam desafios e vivenciam experiências positivas.
A literatura surda ajuda as crianças a desenvolver uma identidade positiva e um
espaço seguro para expressar seus sentimentos, emoções e pensamentos. A
literatura surda infantil ajuda a construir uma infância mais enriquecedora e
inclusiva, reconhecendo a diversidade e dando a todas as crianças o poder de
atingir seu maior potencial.

Com isso, a literatura para crianças surdas também pode ser um bom meio
de ensinar a língua de sinais e melhorar a comunicação entre crianças surdas e
ouvintes. O enriquecimento mútuo, uma troca de experiências e conhecimentos que
ocorre quando ambas as comunidades têm acesso à mesma literatura promove a
compreensão e o respeito pelas diferenças linguísticas e culturais. Assim, a
literatura surda infantil não apenas ajuda as crianças a aprender a língua de sinais,
mas também os faz sentir mais perto uns dos outros e trabalhar juntos, o que ajuda
a criar um ambiente escolar mais tolerante e inclusivo.

Por fim, a literatura surda infantil pode servir como uma ferramenta de
sensibilização para todos os membros da comunidade escolar, incluindo pais,
colegas ouvintes e professores. Ao aprender sobre as histórias e experiências das
crianças surdas, todas as partes envolvidas no processo educacional podem
desenvolver uma compreensão mais ampla das demandas e sonhos da
comunidade em que vivem, ao mesmo tempo em que fortalecem os laços de
compaixão e trabalho em equipe. Portanto, incluir literatura infantil sobre surda no
currículo escolar ajuda não apenas as crianças surdas, mas também todos os
alunos, pois promove a diversidade, a igualdade e o respeito mútuo na educação.

1.1 - Cultura e identidades surdas

Ser surdo é uma forma específica de experimentar e viver o mundo. Assim


sendo, a partir dessa vivência particular, se constroem identidades, se produz e
reproduz uma cultura específica, firmada nessa forma de ser.

É muito importante que a criança surda seja introduzida na cultura surda, que
ela acesse e partilhe dos códigos, valores, de modos de ver o mundo dessa cultura.
Para isso, essa criança precisa que na infância lhe seja apresentada a língua de
sinais, forma privilegiada de adentrar no seio dessa cultura.

Durante muito tempo foi negado a pessoas surdas que pudessem se


expressar através de línguas de sinais. No mundo inteiro vemos um processo de
proibição do uso dos sinais como forma de comunicação, coagindo-se através das
instituições para levar essas pessoas à aderirem compulsoriamente ao Oralismo
hegemônico. Forçava-se crianças a aprender a lerem lábios e a falar e
negavam-lhes o direito de ter reconhecidas sua própria cultura e suas identidades.
Essa realidade tem como ponto mais expressivo e representativo o Congresso de
Milão (1880).

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Pautada em discursos médicos, a comunidade surda foi vista como
incompleta, faltante, deficiente, a quem cabia ceder ao universo ouvinte, por meio
de condicionamento (CASTRO JÚNIOR, 2015).

É através da luta histórica de pessoas surdas, sua união e organização


política para exigir direitos, que não só essas práticas foram reconhecidas como
formas de limitação e de sofrimento para essa população, como foi tornado lei o
ensino de Libras nas escolas como primeira língua de pessoas surdas e o
português, na forma escrita, como segunda língua.

Defende-se a importância que desde cedo as crianças tenham contato com


libras, que a família também saiba e que a criança tenha contato com adultos
surdos, com os quais possa efetuar trocas culturais importantes.

A cultura surda é, de acordo com Strobel, “jeito de o sujeito surdo entender o


mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-o com as
suas percepções visuais que contribuem para a definição das identidades” (apud
LIMA, PESSOA & SCHEMBERG, p. 4). Ela é transmitida, ainda,

por produtos gerados por determinados grupos de surdos em relação ao


teatro, poesia visual, brinquedos e a Literatura Surda. Esta transmissão da
cultura surda tem um grande papel na construção da identidade, tonando
possível a expressão das subjetividades (idem, p. 6).

Para a construção de identidades e subjetividades surdas, é fundamental que


a cultura surda seja plenamente apreendida pela pessoa surda.

Essas identidades não são homogêneas. Não há um único jeito de ser e se


identificar para as pessoas surdas. Há diversas realidades sociais que as
atravessam (questões étnicas, de gênero, sexualidade, geográficas, etc) e formam
essas identidades, assim como os percursos pessoais e trajetórias de vida que
geram formas de representação únicas de si e de entendimento do mundo e o estar
nele.

Assim como não podemos homogeneizar essas identidades, devemos


entender que além da cultura surda, outras culturas são vivenciadas pelas pessoas

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surdas, como a cultura do país em que vive, compartilhada com os ouvintes em
certa medida.

1.2 - Literatura Surda na constituição identitária e subjetiva da criança surda

A literatura desempenha um importante papel para o desenvolvimento


infantil, pois explora a imaginação e diversas outras áreas que estimula a
construção de sua subjetividade, e na literatura surda não é diferente, a utilização
da LÍngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) na literatura promove uma inclusão
significativa para a comunidade surda, já que utilizam da sua língua para os
beneficiar e proporcionar plena aprendizagem quando proposto nas escolas.
Para além de promover a aprendizagem, a literatura surda (narrativas que utilizam a
língua de sinais) pode contribuir na construção da identidade da criança surda já
que, ao utilizar das suas expressões visuais ela pode se identificar quando visualizar
a sua língua sendo utilizada em histórias, e assim, promover uma relação para
afeiçoar-se com a sua língua materna.
As adaptações da literatura infantil para LIBRAS, permite à criança surda ter
acesso aos clássicos da literatura infantil, ao utilizar como recurso os desenhos dos
sinais, proporcionando a criança a ter uma ampliação de seu vocabulário Cruz
(2021) apud Stock (2010). Portanto, a literatura surda promove um ajuste para uma
melhor acessibilidade e interação com o seu contexto social.
A Literatura Surda tem o potencial de promover à criança uma auto identificação, já
que ao se ver representada em uma literatura fomentar a suas questões emocionais
e afetivas e auxilia em sua construção identitária, mas a questão de se identificar
varia de acordo com cada cultura da comunidade surda, com aquilo que eles
interpretam.
É a partir das interações sociais que a cultura surda é construída e entendida,
portanto é importante que haja esse contato tanto de crianças surdas quanto de
crianças ouvintes para proporcionar a ambos esse contato com a literatura surda, é
a partir dessas interações que a criança pode expressar a sua subjetividade, já que
a bagagem da criança surda se difere da criança ouvinte por haver uma ampla
diferença nas experiências de cada língua.
Em livros que são apresentados personagens surdos é preciso também se atentar
aos estereótipos pré definidos, já que em muitos podem ser apresentados uma

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distorção da realidade daquele aluno. Por isso, é importante avaliar obras literárias
que contenham narrações sobre os personagens surdos.

1.3 - Estratégias para trabalhar com crianças surdas

Trabalhar com crianças infantis surdas requer abordagens pedagógicas e


métodos de comunicação específicos que sejam eficazes para atender às
necessidades educacionais e emocionais desses indivíduos. Através de uma
combinação de técnicas interativas, recursos visuais e apoio emocional, é possível
proporcionar um ambiente inclusivo e enriquecedor para o aprendizado e
desenvolvimento das crianças surdas. A seguir, destacamos algumas estratégias
fundamentais para trabalhar com esse público:
● Contar histórias usando recursos visuais, como desenhos, objetos, fotos,
vídeos e gestos. Observar se as crianças demonstram compreender o que
está ocorrendo por meio de suas expressões faciais e corporais. Pedir que
elas desenhem ou reescrevam a história depois.
● Fazer atividades de alfabetização associando a escrita ao seu significado.
● Escrever os nomes dos objetos da sala e colá-los nos lugares
correspondentes. Fazer listas, painéis, legendas e rótulos com as palavras
escritas e seus significados. Usar crachás com os nomes de todos na sala.
● Fazer ditados usando desenhos, objetos ou mímicas. Dizer as palavras de
forma bem pausada, olhando para as crianças, para que elas possam fazer a
leitura labial se desejarem.
● Explorar o repertório e os interesses das crianças, relacionando-os com os
temas estudados. Por exemplo, se elas gostam de animais, usar textos,
imagens e vídeos sobre animais para trabalhar diferentes áreas do
conhecimento.
● Estimular a participação das crianças nas atividades coletivas e individuais,
respeitando seu ritmo e suas dificuldades. Dar feedbacks positivos e
construtivos sobre seu desempenho.
● Promover o contato das crianças surdas com outros surdos e com a literatura
surda. Convidar surdos para visitar a escola e contar suas experiências.
Apresentar livros, poemas, contos e vídeos produzidos por surdos ou sobre a
cultura surda.

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Referências Bibliográficas

LIMA, A. et al. CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA SURDA NO


DESENVOLVIMENTO DA SUBJETIVIDADE EM CRIANÇAS SURDAS. [s.l: s.n.].
Disponível em:
<https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/Portals/1/Files/19493
.pdf>.

BOLDO, Jaqueline; SCHLEMPER, Michelle D. S. LITERATURA SURDA: UMA


QUESTÃO DE CULTURA E IDENTIDADE. Transversal – Revista em Tradução,
Fortaleza, v.4, n.7, p.79-92, 2018.
Disponível em:
https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/38108/1/2018_art_jboldomdsschlemper.pdf

CASTRO JÚNIOR, g. Cultura surda e identidade: estratégias de empoderamento na


constituição do sujeito surdo. In: ALMEIDA, WG., org. Educação de surdos: formação,
estratégias e prática docente [online]. Ilhéus, BA: Editus, 2015, pp. 11-26

CRUZ, Lyvia de Araújo. et al. LITERATURA SURDA: ANÁLISE DE UM CONTO INFANTIL À


LUZ DA TRADUÇÃO INTERCULTURAL E INTERMODAL.Cad. Trad., Florianópolis, v. 41, nº
esp. 2, p. 223-249, ago/dez, 2021.
Disponivel em: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2021.e84486

NADAL, Paula. O desafio de ensinar língua portuguesa a alunos: Conheça as expectativas


de aprendizagem para esses
estudantes, desde a Educação Infantil até o 9º ano. Flexibilizar atividades e investir em
experiências visuais contribuem para a inclusão. Nova Escola, 2010. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/1533/o-desafio-de-
ensinar-lingua-portuguesa-a-alunos-surdos. Acesso em: 26 de julho de 2023.

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