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IDENTIDADE NACIONAL
Literatura pode ser entendida como resultado de um uso especial de linguagem que,
por meio de diferentes recursos, sugere o arbitrário da significação, a fragilidade da
aliança entre o ser e o nome. No limite, ela encena a irredutibilidade e a
permeabilidade de cada ser, pois participa de uma das propriedades da linguagem: a
capacidade de simbolizar e de, simbolizando, simultaneamente afirmar e negar a
distância entre o mundo dos símbolos e do dos seres simbolizados (Lajolo, 2018,
p.47).
É por meio desse uso artístico da palavra, que contrapõe outros tipos de escrita
que objetiva apenas informar algo, que o texto literário desenvolve um papel crucial na
sociedade, levando o indivíduo ao estado de reflexão. Cândido (2011, p. 113) enfatiza que
Assim, a literatura é uma atividade que pode servir como base para discussões
acerca da individualidade humana e, mediante outros pontos de vista, conhecer emoções e
sentimentos alheios
Ademais, Cândido (2011, p. 179) explica que, “quer percebamos claramente ou
não, o caráter de coisa organizada da obra literária torna-se um fator que nos deixa mais
capazes de ordenar a nossa própria mente e sentimentos; e, em consequência, mais capazes de
organizar a visão que temos do mundo”. Logo, pode-se destacar que a literatura também
atribui significado e organiza os pensamentos e emoções humanas.
Em suma, são muitos os benefícios do texto literário na formação humana, por
isso, essa atividade deve ser incentivada e praticada desde a infância, para que a criança
alimente sua imaginação, estimule habilidades como a compreensão e desenvolva o gosto pela
literatura, levando-o por toda a vida.
Todavia, nem sempre essa importância foi reconhecida, sendo que, a literatura
infantil e juvenil se desenvolveu e tornou-se uma preocupação central para os escritores e
estudiosos a partir do avanço da educação e, principalmente, da percepção de infância.
Essa obra, lida por várias gerações de brasileiros, foi referenciada por vários
autores consagrados da literatura em suas obras memorialísticas, como, por exemplo, José
Lins do Rego, que por meio do personagem Carlinhos, no romance Doidinho, faz a seguinte
menção
Seria para mim uma vitória abandonar aqueles cadernos amarelos. Mas o meu
grande ideal de aluno estava no Coração. [...] E como era diferente a escola de lá da
do professor Maciel! Distribuíam prêmios, os professores falavam manso, não
existiam palmatórias. O nosso colégio não se parecia com as escolas da Itália. [...]
todo esse livro delicioso me chamava para as suas páginas (REGO, 2011, s.p).
Mas essa obra também despertou opiniões negativas de literatos brasileiros, como
a tecida por Monteiro Lobato em carta endereçada a seu amigo Godofredo Rangel, no ano de
1916: “é de tal pobreza e tão besta a nossa literatura infantil, que nada acho para a iniciação
de meus filhos. Mais tarde, só poderei dar-lhes o Coração, de De Amicis – um livro tendente
a formar italianinhos [...] (LOBATO, 2010, s.p)
Entre menções positivas e críticas, o romance serviu também de inspiração para a
criação de novas obras. Viriato Corrêa, em diversas entrevistas a jornais, destacou: “quando li
o “Coração”, de De Amicis, já era homem formado, e achei o livro uma obra-prima, embora
contivesse dois graves defeitos para a criança brasileira: era muito triste e fazia amar a Itália
(CORRÊA, 1960 apud ORIÁ, 2009, p.79).
Mediante o segundo defeito, o autor, em carta destinada a seu amigo e editor
Ribeiro Couto, anuncia: “[...] estou a trabalhar num outro livro infantil. O título ainda não
achei. É um livro, não digo nos moldes, mas nas intenções do Coração, de Amicis, mas um
Coração verde e amarello, bem brasileiro, bem nosso. Deverá estar concluído em abril, para
sair lá pelo Natal” (CORRÊA, 1936 apud ORIÁ, 2009, p.85). Assim, o autor destaca a
importância do livro Coração para a produção de um clássico da literatura nacional, o
romance Cazuza: memórias de um menino de escola, publicado no ano de 1938.