Você está na página 1de 9

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Literatura e seus contributos para o desenvolvimento crítico da criança

The Importance Of Literature In Child Education


Literature and its contributions to the critical development of the child

DANTAS DE SOUZA, Maria De Fátima


Universidade Federal do Rio Grande do Norte

RESUMO: Este artigo visa apresentar o resultado de um Projeto Literário implantado


numa escola de educação infantil na cidade de Natal/RN, numa turma de nível II. O
Projeto consta da criação de um espaço literário dentro da sala de aula para instigar o
interesse das crianças pelos livros infantis. O livro, além de ser um texto escrito, é um
elemento com características particulares, que permitem a criança uma primeira leitura
através dos sentidos. As imagens, para as crianças, servem como uma espécie de pista
para a (re)contagem de histórias, permitindo o desenvolvimento da narrativa e da fala
letrada. Isso comprova o quão essencial é trabalhar com a literatura desde a primeira
infância, em que a criança possa aprender a ler cada imagem e buscar seu significado. É
o tempo visual, da descoberta do olhar.
Por meio da leitura, a criança desenvolve uma conduta crítica, essencial ao seu
desenvolvimento cognitivo, aperfeiçoando a sua capacidade de reflexão. É fundamental
que a Literatura Infantil faça parte da rotina das crianças, tanto na escola quanto em
casa, uma vez que, por meio da leitura, a criança vive a relação imagem-leitor, sentindo-
se autorizada a dar um significado naquilo que vê.

PALAVRAS-CHAVE: educação infantil; infância; literatura; ludicidade.

ABSTRACT: Literature is a valuable tool in early childhood education, however, it is


rare for educators to really understand the depth of the contribution of this learning tool
that is so easily accessible. The images are present everywhere, and from an early age
the child begins to interact with them and to perceive them. This proves how essential it
is to work with literature from early childhood, where the child can learn to read each
picture and seek its meaning. It is the visual time, the discovery of the look. The book,
besides being a written text, is an element with particular characteristics, that allow the
child a first reading through the senses. Images for children serve as a sort of clue to (re)
storytelling, allowing the development of narrative and literate speech.
Through reading, the child develops a critical behavior, essential to their cognitive de-
velopment, improving their capacity for reflection. It is fundamental that Children's Lit-
erature is part of the routine of children, both at school and at home, since, through
reading, the child lives the image-reader relationship, feeling empowered to give a
meaning to what he sees.

KEY WORDS: child education; childhood; literature; playfulness.


Desde o princípio, a literatura surge conectada à função de agir sobre os
pensamentos, influenciando os mais diversos sentimentos. Nesse contato, o ser humano
tem a oportunidade de expandir ou transformar sua própria experiência de vida de uma
forma tão intensa que nenhuma outra atividade poderia proporcionar. Aos poucos o
processo de educação infantil vai expondo um quadro de evolução, e isso se deve a
valorização que tem se dado aos anos iniciais no campo educacional, bem como às
novas metodologias de ensino.
O conceito de Literatura Infantil, até pouco tempo atrás, era de livros coloridos e
bonitos designados à distração e encanto das crianças em folhá-los ou escutar suas
histórias contadas por alguma outra pessoa. Como era vinculado ao entretenimento ou
ao aprendizado das crianças, consequentemente o material literário deveria ser
apropriado a este nível, porém, como a criança era considerada a miniatura de um
adulto, os primeiros textos infantis se fizeram da versão adaptada de escrituras
destinadas ao púbico mais velho.
O reconhecimento da literatura Infantil como fato significativo e de vasta
abrangência no desenvolvimento de reflexões infantis e juvenis é conquista atual. Ela
provocou influências em diversas áreas sociais e proporcionou a revisão de vários
conceitos, inclusive sobre as artes e a própria Literatura. Desta feita, a Literatura ocupou
um lugar ainda maior na sociedade, oferecendo uma linguagem que seduz crianças e os
adultos, mesmo aqueles que não têm muito o hábito de leitura.
Um vez que a Literatura é vista como uma ferramenta capaz de nos induzir à
reflexão sobre a vida social e psicológica do indivíduo, a relação entre o texto e o leitor
precisa ser despertada desde a primeira infância, com a ajuda de todos os recursos, e em
qualquer lugar. Devido o fator literário, hoje, estar estritamente ligado ao princípio
educacional, não se deve pensar em disseminá-lo sem antes ter um conhecimento
adquirido no âmbito escolar.
Abramovich (1997), assegura que as literaturas direcionadas às crianças não
admitem limites determinados, e assim fica complexo constituir suas linhas de ação,
podendo juntar histórias legítimas ou extraordinárias, distinguir gente ou animais,
representar situações humanas, e tudo isso acoplado em um único texto. Ao ler uma
narrativa, é admissível rir ou chorar junto às circunstâncias dos personagens que
provocam o imaginário. Quase sempre o leitor se familiariza com os personagens por
suas qualidades e até mesmo defeitos. Para que uma criança sinta a literatura é
imprescindível que seja passado a ela o sentimento verdadeiro conforme a história.
Assim será imposta à escola a missão de estudar e sugerir, em seus projetos, os livros
infantis.
O exercício pedagógico não se reconstrói somente na reformulação de técnica de
ensino ou na modificação de currículo, mas com uma nova percepção do papel político
a ser realizado pela educação. E é com esse olhar que a Literatura deve ser empregada
como utensílio para a sensibilização da consciência, para a extensão da competência e
interesse de avaliar o mundo, lidar com a ciência, a cultura e a técnica de trabalho, uma
vez que se aborda um discurso subjetivo.
A escola, aos poucos, está aceitando a importância da Literatura em todas as
fases acadêmicas, e procurando metodologias apropriadas para desenvolvê-la.
Entretanto, esse processo de aquisição da Literatura desde cedo ainda lento, em
decorrência do seu descaso fora da sala de aula. É sabido que a educação conseguida na
escola só será eficiente se persistir seu processo além deste tempo obrigatório de estudo.
Yunes (1989) afirma que para que o cidadão ganhe voz dentro da sociedade é
preciso torná-lo um leitor habitual. Da mesma forma, afirma Paulo Freire que, através
do livro, o indivíduo transforma a si mesmo e ao mundo. A Literatura adquire o papel
de cooperar para a constituição do pensamento crítico e age como ferramenta de
meditação, provocando a capacidade de interpretação do leitor, uma vez que
interpretação é o treinamento do próprio pensamento em volta do pensamento de
outrem.

LITERATURA INFANTIL

Em se tratando de Literatura infantil, a combinação entre o autor e o leitor é


ainda mais forte, pois exige do escritor uma abrangência de limites, seja em termos de
linguagens, disposição, seleção e, inclusive, na conversa com o leitor. A leitura para
criança é uma forma de reprodução da realidade, ajudando-a a formular o que é
verdadeiro, sob o âmbito da Literatura.
Conforme Coelho (2000), a criança viaja no mundo da fantasia e do
questionamento através da Literatura, podendo ser vivida, sentida, falada e contada. É
sabido que é por meio da leitura que o aluno desenvolverá seu olhar sobre o mundo e
suas explanações da história, seja na leitura de verbal ou leitura de não verbal. A palavra
traz algo que não está presente; a imagem é a presença. Ao lê-la, a questionamos, ainda
que estejamos fazendo sua interpretação inconscientemente. Busca-se compreendê-la. A
imagem constitui analogias com as coisas e, por consequência, com a mente da criança
que lê.
O objetivo e a importância da utilização de imagens no processo literário
começaram a modificar a prática escolar na década de 80, momento em que o Brasil
iniciou uma manifestação que questionava a educação artística como matéria escolar.
Entretanto, muito tempo se passou para que a imagem garantisse um espaço de
seriedade no ensino. Com a admissão da Lei de Diretrizes e Bases n° 9394/96 e com a
exposição dos Parâmetros Curriculares Nacionais em arte, os docentes encontraram um
enfoque semelhante às discussões atuais. Atualmente, essa matéria é tida como uma
reflexão sobre a arte como objeto de conhecimento.
Para as crianças, as coisas são bonitas ou não são, independente do que as
pessoas julgam ser. De acordo com Leontiev (1991), a criança não tem o domínio do
signo verbal, o que prende sua atenção é a figura e a imaginação. Os critérios mais
utilizados por elas são: a cor, o tema, a disposição das figuras e se tem forma ou não. O
critério da cor na apreciação estética é a primeira que surge quando a criança é bem
pequena. Para ela, é bonita se tiver sua cor predileta, não importa o papel desta cor
numa imagem. Na educação infantil, a criança não diferencia os dados objetivos dos
subjetivos, e acredita que todos veem o que ela vê.
O professor, observando as ideias das crianças, perceberá quando e como
aprimorar as suas leituras, e cooperar para que a leitura possa exercer a função de
enriquecimento da vida e não somente de transmissora de informações.
Estamos na era da cultura visual. Há imagem em todo lugar. As crianças, desde o
início, aprendem a interagir com elas. Segundo Candido (2004), no momento em que o
indivíduo cria uma imagem, ela pode se manifestar através do seu inconsciente ou pelo
inconsciente do seu grupo. A imagem, então, é uma expressão condensada de
experiência humana.
Deste modo, a Literatura é o caminho de um universo independente que excede a
última página de um livro e prevalece no leitor como uma experiência vivida. Esse
mundo é permitido graças ao emprego que o autor faz com a linguagem.
Zilberman (1998) afirma que a literatura e a escola partilham um aspecto em
comum: a natureza formativa. Tanto a obra literária quanto a instituição de ensino estão
direcionadas à formação do indivíduo ao qual se destinam. Entretanto, os livros infantis
apresentam um mundo totalmente lúdico, onde a criança pode idealizar várias coisas
com seu enredo e personagens. É admissível, por meio de um livro, concretizar
atividades diferentes, nas quais a criança deposita sua imaginação e toda sua
criatividade, despertando um novo mundo e uma nova habilidade cognitiva.

O PROJETO

O projeto foi colocado em prática numa escola de educação infantil da rede


municipal de ensino, localizada no bairro do Pitimbu, zona oeste de Natal/RN. A turma
escolhida foi a do nível II, que abrange crianças de 3 a 4 anos de idade, com o total de
22 alunos.
A turma recebeu um cantinho de leitura, com espaço para livros e colchonetes
para que eles ficassem a vontade ao ter contato com as obras literárias.
No primeiro momento, cada criança escolhia um livro e folheava, observando as
imagens e contando, a sua maneira, aquilo que observava (imagens 1, 2 e 3).
Após o contato, eles pediam para que uma de nós lesse as histórias escolhidas.
Durante o projeto, foram lidas cerca de 10 histórias, contextualizando sobre o autor,
suas obras e seus personagens. O mais lido foi Monteiro Lobato, e sobre ele, além da
leitura, confeccionamos a Emília, encenamos (imagem 4) e colorimos alguns de seus
personagens (imagens 5 e 6).

IMAGEM 1 IMAGEM 2 IMAGEM 3

IMAGEM 4 IMAGEM 5 IMAGEM 6


O que se pode observar é que, ao ler uma história para uma criança, não se deve
utilizar descrições gigantescas e ricas em detalhes, já que se deve permitir a
desenvoltura do imaginário da criança, além de não permitir que ela fique dispersa com
tanta informação; empregar as possibilidades da voz, falar de acordo com a situação e
sentimento do personagem; aumentar a voz quando houver confusões, enfim, apreciar
cada tempo da história conduzindo a emoção que a criança tanto anseia.
Durante o trabalho com as crianças, indaguei quais delas ouviam histórias em
casa, e as respostas foram:
A: “Minha mãe só assiste novela e meu pai dorme muito.”
B: “Mainha e painho só ficam no celular e eu fico assistindo dvd.”
C: “Não, a gente fica vendo a novela.”
D: “Minha mãe tem um bebê, meu irmãozinho, e fica com ele no colo.”
E: “Minha avó leu a história da menina que morava na floresta...”
F: “Não, porque eu tenho muitos dvds de histórias.”
G: “Minha mãe trabalha o dia todo e vai dormir e meu pai faz a comida pra
mim.”
H: “Eu fico na casa da minha avó e ela não sabe ler.”

Pode-se concluir que as condições socioeconômicas das famílias, nos dias de


hoje, faz com que os pais fiquem fora de casa durante uma grande parte do dia, não
permitindo mais às crianças momentos íntimos com os familiares, como antigamente,
em que ficávamos ouvindo histórias dos nossos entes mais próximos. Além disso, os
pais e demais familiares são atraídos pela televisão e pelos aparelhos celulares, que
completa seus raros tempos de folga. Assim, as crianças, em consequência, sentem
grande atração pela televisão. A TV está ao alcance delas, os programas são coloridos e
atraentes, agitados, alegres e criativos, e ocasionam surpresas para o público infantil.
Ante essa realidade, a escola passa a ser um espaço específico e privilegiado onde a
criança pode entrar em contato direto com a literatura escrita e contada. Daí a
oportunidade de novos leitores e críticos a serem formados, perante a grande alienação
da massa voltada para a mídia virtual.
Abramovich (1997) afirma que quando a criança ingressa na educação infantil,
ainda não consegue ler e escrever, e é do professor a tarefa de conduzir e apresentar a
leitura ao aluno. Quando a criança lê, a sua maneira, ou escuta uma história, está
ampliando seu senso crítico, questionando, elogiando ou sugestionando. Com a
literatura é possível instigar várias perguntas, e conhecer o lado subjetivo de cada
criança em relação à história contada. A leitura do livro na educação infantil não deve
estar implantada no currículo escolar sem um propósito, pois dela que parte um bom
leitor no futuro. Com os livros literários é possível realizar várias atividades e
desenvolver várias habilidades. Os livros são experimentos da visão, de olhares
múltiplos, desenvolvendo seu senso crítico e seu potencial de imaginação.
Um outro aspecto observado foi que algumas dessas crianças pareciam nunca ter
tido um contato tão direto com o livro literário. Elas pegavam e já entregavam a um
adulto para que lesse, como se não pudessem abri-lo e folheá-lo. Quando dizíamos “leia
o livro, pode abrir”, era percebido um encantamento ao descobrir imagens e palavras
que antes era apenas narrado para eles. As crianças ficam extremamente atentas às
histórias, contadas ou lidas, que são capazes de responder qualquer questionamento e
reconta-las sem dificuldades.
Nos dias de hoje as crianças têm a oportunidade de ter um contato lúdico com os
livros literários, embora, muitas vezes, esses projetos não estejam presentes em todas as
escolas de educação infantil. Conforme a autora Zilberman (1998), a aquisição da
leitura no Brasil se dá nas escolas públicas, na maioria das vezes, com a implantação do
livro didático. A leitura, entretanto, não pode ser refletida apenas como processo
cognitivo ou afetivo, mas também como atuação cultural historicamente constituída, em
que representa a realidade existente nos textos literários. Desta feita, a leitura se
transforma num objeto político, e quanto mais consciência o ser humano tiver, mais
independente será sua leitura.

CONCLUSÃO

É extremamente importante para as crianças usufruírem de situações de


interação, relação e manuseio de materiais escritos para seu crescimento cognitivo e
pessoal no que se refere à leitura e ao letramento. Mais fundamental ainda, se esse
contato e manuseio forem com histórias de literatura infantil, nas quais os desenhos,
muito bem elaborados, estimulam interesse e prazer.
Coelho (1986), afirma que a ficção infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor,
é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da
palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e real, os ideais, e sua
possível/impossível realização.
Por meio das histórias que acontecem sempre num mundo de ilusão, as crianças
navegam, se devolvem e se emocionam e, na maioria das vezes, demonstram interesse
por uma determinada história e acabam pedindo para repeti-la sempre. Desta forma,
através dessas histórias, elas vão lidando com seus próprios conflitos, estabelecendo
comparações para encontrar soluções e, durante esse processo, os professores têm um
papel de fundamental importância, auxiliando na dissolução desses conflitos e
ansiedades.
Assim sendo, a literatura na educação infantil é de fundamental importância,
essencialmente por colocar a criança no mundo simbólico, onde muitas vezes ela se
coloca no lugar das personagens e com eles vivencia diversas situações e sentimentos; e,
simultaneamente, permite a essa criança adquirir, aos poucos, o conhecimento por uma
diversidade de textos.
Nessa fase, o importante é permitir as crianças levarem-se pelas histórias sem
nenhuma preocupação em assimilar conhecimentos literários ou de alfabetização. Ler
para eles e comentar a obra com os alunos é essencial para começar a desenvolver os
chamados comportamentos letrados , dando assim primeiro passo para formação de
leitores que compreendem, interpretam e participam do mundo a sua volta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. São Paulo:


ed.Spicione, 1997.

CANDIDO, Antônio. O direito à literatura . In: Vários escritos . 4ª


ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Duas Cidades/Ouro sobre Azul, 2004.

COELHO, Betty. Contar Histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1986.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil. São Paulo: Ed.


Moderna, 2000.

L E O N T I E V, A . M . A b r i n c a d e i r a é a a t i v i d a d e p r i n c i p a l d a
c r i a n ç a p e q u e n a . I n : Fundação Roberto Marinho. Professor da Pré-Escola. Rio
de Janeiro: FAE, 1991.

YUNES, Eliana. Leitura e leituras da literatura infantil. São Paulo: FTD, 1989.

ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto
Alegre: Mediação, 2003.

ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na escola. 10ª edição - São Paulo:


Global, 1998.

Você também pode gostar