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A LITERATURA INFANTIL ONTEM E HOJE, E SEU PODER

PARA A FORMAÇÃO HUMANA


Cristiane dos Santos Neves
Juliana Paixão da Silva Fernandes
Thaisa Silva Souza
Introdução
O período da infância tem suas peculiaridades, uma vez que, é nesse período que o
indivíduo está aberto ao mundo, disposto a experimentar novas sensações e a explorar
possibilidades que podem ser valorosas para a construção de uma personalidade forte e também
aberta para receber os desafios dispostos na vida com ânimo e força de vontade.
Nesta concepção é importante salientar que essa busca da criança por conhecer o
mundo deve ser encorajada e também facilitada pelo professor e pela família instruindo-a na
busca por novos horizontes.
A ideia de que a literatura infantil é uma das bases para a busca desses
conhecimentos é extremamente pertinente, uma vez que, a criança disposta a descobrir através
dos livros de histórias infantis, torna-se independente, sagaz e comprometida com a educação,
buscando através dos livros e da leitura conhecer mais sobre sua própria existência.
Visando este tema o artigo aqui exposto busca por sua vez, demonstrar não somente
a importância da literatura infantil no processo de formação da criança, mas, por sua vez, expor
as diversas metodologias utilizadas ao longo do tempo para cativar esse público que como já
explicitado nos parágrafos a cima, tem a curiosidade como principal meio de explorar o mundo
e construir sua personalidade e identidade. Busca também analisar as várias oportunidades de
abordagem da literatura infantil propostas pela Base Nacional Comum Curricular.

Concepção da criança e da literatura infantil

A história social da criança configurou ao longo dos tempos, transformações e


ressignificações que passaram a considerar a criança como um ator social, obtendo a partir
disso, uma reflexão sobre a realidade social infantil.

[...] é necessário o reconhecimento das potencialidades da criança, em que defendia


uma educação voltada para o social. Para o pensador, se a criança tivesse uma
valorização de suas especificidades, tendo o contato com as coisas, com a própria
natureza, e fazendo desta, suas experimentações, poder-se-ia realizar um processo de
reflexão sobre seu aprendizado (XAVIER, 2019, online).

Para pensar a literatura infantil, (Silvia, 2009, p.137), “é necessário pensar no seu
leitor: a criança”. Até o século XVII, as crianças conviviam igualmente com os adultos, não
havia um mundo infantil, diferente e separado, ou uma visão especial da infância. Não se
escrevia, portanto, para as crianças. Elas compartilhavam o mesmo tipo de roupa, ambientes
caseiros e sociais como também o trabalho.
[...] a concepção de uma faixa etária diferenciada, com interesses próprios e
necessitando de uma formação específica, só acontece em meio a Idade Moderna. Esta
mudança deveu a outro acontecimento da época: a emergência de uma nova noção de
família, centrada não mais em amplas relações de parentesco, mas num núcleo
unicelular, preocupado em manter sua privacidade (impedindo a intervenção dos
parentes em seus negócios internos) e estimular o afeto entre seus membros
(ZILBERMAN, 1985, p.13).

A partir do século XVIII, (SILVIA, 2009, p.136) “a criança passa a ser considerada
um ser diferente do adulto, passa a ter maior importância nas relações familiares e sociais”.
Neste momento, a criança passa a ser vista como um ser que precisa de cuidados, atenção e
carinho.

Os Contos de fadas

Os contos de fadas conhecidos atualmente surgiram na França, ao final do século


XVII, com Perrault, que editou as narrativas folclóricas contadas pelos camponeses, retirando
passagens obscenas de conteúdo incestuoso e canibalismo.
Assim, acredita-se que, antes do cunho pedagógico, houve o objetivo de leitura e
contemplação pela mente adulta. Acredita-se também que a mitologia grega já possuía um
modo particular de transmitir o contexto da história de “Chapeuzinho Vermelho”.
Posteriormente, Charles Perrault trouxe a história moralizadora e mais adequada
aos ambientes sociais que conviviam na época.
“A literatura infantil surgiu no século XVII com Fenélon (1651-1715), justamente
com a função de educar moralmente as crianças. As histórias tinham uma estrutura
maniqueísta, a fim de demarcar claramente o bem a ser aprendido e o mal a ser
desprezado. A maioria dos contos de fadas, fábulas e mesmo muitos textos
contemporâneos incluem-se nessa tradição” (SILVIA, 2009, p.137).

No Brasil, como não poderia deixar de ser, a literatura infantil tem início com obras
pedagógicas e, sobretudo, adaptadas de produções portuguesas, demonstrando a dependência
típica das colônias. Pode-se dizer que a literatura infantil brasileira teve início com Monteiro
Lobato, com uma literatura centralizada em algumas personagens em especial.
Desde o seu surgimento, em meados do século XVIII, a literatura infantil vem sendo
permeada de preconceitos, rótulos e banalizações acerca de sua importância, função pedagógica
e/ou artística, entre outras eventuais questões.
O misto entre a literatura infantil e adulta numa só obra; a intencionalidade por trás
de uma escolha de livro pela escola – que por vezes seleciona obras de acordo com o conteúdo
gramatical a ser estudado; a globalização do conhecimento e facilidade de acesso à todo e
qualquer conteúdo, o fim do hábito de ler no aconchego do colo familiar; a leitura obrigatória
e sem atrativos; a crença de muitos, de que o livro deve informar, mais do que deve entreter e
inspirar; a baixa qualidade de materiais facilmente acessíveis, são pontos negativos que
impedem uma relação significativa da criança com a boa literatura.
Contudo, sabe-se que as histórias desde a antiguidade tinham seus papéis na
sociedade. Os mitos, lendas, contos, carregavam consigo aspectos morais que conduziam um
comportamento desejável ou não. Indicavam o erro e o acerto, o bem e o mal. E ainda que,
inicialmente, não deixassem livres as mentes para refletir e expressar criticamente sobre o que
lhes era ensinado, a reflexão e questionamento são inevitáveis desde então.
A literatura infantil é citada por Emília Ferreiro, em entrevista ao canal Nova Escola
em 2013, como o momento de afeto entre o adulto e a criança, ao sentar-se com ela no colo,
abraçando-a e ao livro. O adulto carrega o mistério com ele enquanto lê aquelas palavras que a
criança ainda não pode, enquanto abre as portas para um mundo imaginário cheio de surpresas
para que ela entre. A criança ouve o adulto ler e percebe o livro como um objeto que se pode
tocar, observar as imagens e entendê-las e que aquelas letras contam um segredo. O ato de
reservar tempo para ler para a criança já mostra, sutilmente o interesse do adulto, a atenção
dedicada à ela. Consequentemente confere ao adulto uma admiração a mais, por parte da
criança.

A Literatura Infantil para o pré-leitor na BNCC

A Base Nacional Comum Curricular aponta para o uso da literatura infantil desde
cedo, utilizando-se de conhecimentos prévios dos alunos, de contos regionais, de cantigas,
histórias que façam sentido ao mundo da criança. Que se utilize das curiosidades que ela deixa
transparecer, desenvolvendo gosto pela leitura, estimulando com diversidade de gêneros
literários, interpretação de imagens, diferentes formas de se utilizar da escrita. Ao mesmo tempo
em que deve contextualizar com os regionalismos, abre também as portas para as
universalidades simbólicas, como superação, coragem, justiça, benevolência. Precisa ser
utilizada de forma a identificar valores, sociais, culturais e humanos, desenvolver visões de
mundo, reconhecer culturas, identidades, sociedades. Induzir na criança o pensamento profundo
e indagador, a imaginação repleta de possibilidades, respostas.
O documento relaciona, na maioria das referências, a literatura à arte. E pelas
definições de tais conceitos nota-se que são mesmo inseparáveis. O conceito de literatura dá-se
como “a arte de escrever trabalhos artísticos”. Logo, a literatura e a arte estão fundidas e é
incontestável, através da Base Nacional Comum Curricular, que estejam relacionadas,
possibilitando inúmeras oportunidades para se trabalhar em sala de aula, cativando o aluno,
hoje propenso à atratividade das diversas formas de expressão da arte. De fato a criatividade
artística do professor é indispensável para o momento de leitura. Segundo Carlos Nadalim, a
voz do leitor tem o poder de instigar a imaginação e levar a compreender sentimentos sem que
precisem ser explicados. Isso implica a arte de interpretar a arte. Os aspectos da literatura
citados na BNCC consistem em humanização, mobilização, transformação.

[...] destaque-se a relevância desse campo para o exercício da empatia e do diálogo,


tendo em vista a potência da arte e da literatura como expedientes que permitem o
contato com diversificados valores, comportamentos, crenças, desejos e conflitos, o
que contribui para reconhecer e compreender modos distintos de ser e estar no mundo
e, pelo reconhecimento do que é diverso, compreender a si mesmo e desenvolver uma
atitude de respeito e valorização do que é diferente (BNCC, 139).

O manuseio de um livro precisa ser ensinado, demonstrando cuidado e prazer em


fazê-lo. O mistério é despertado na criança, quando ela vê alguém ler com prazer, rindo do que
é cômico, admirando-se do que é admirável, assombrando-se com o que há de assombroso. A
entonação da voz, as nuances.
A criança em fase inicial, sendo ainda uma pré-leitora, pode ser introduzida à
literatura por meio de imagem, pois ela ainda não se atém ao texto longo. É preferível que sejam
os textos lidos em frases curtas e simples e relacionados às imagens ilustrativas. Logo ela será
capaz de recontar a história guiada pelas figuras, imitando o adulto, até que se aproprie de fato,
do texto.
Os livros de imagens são essenciais para esse momento de iniciação do contato da
criança com a literatura. É o tipo de material que propicia a criança a perceber o que acontece
sem que precise de um texto explicativo, capturando a atenção, alimentando e desenvolvendo
a criatividade e imaginação. As informações que a criança já possui são incorporadas à história
como ela compreende, os seres e objetos são reconhecidos ampliando o conhecimento.
A contextualização é o pontapé inicial para a entrada da literatura infantil na vida
das crianças. No decorrer das descobertas do mundo através da literatura, elas aprenderão –
pelo confronto com a diversidade de estilos de vida, culturas, sentimentos, sensações,
pensamentos, os seus opostos – as suas diferenças e o respeito sobre elas. A BNCC orienta:

Construir repertório cultural por meio do contato com manifestações artístico-


culturais vinculadas à língua inglesa (artes plásticas e visuais, literatura, música,
cinema, dança, festividades, entre outros), valorizando a diversidade entre culturas
(BNCC, p.259).

E que outra forma mais eficaz e prática possibilitam viagens aos mais diversos
lugares do mundo, senão pela leitura? A descrição apropriada de um lugar, objeto, pessoa,
impulsiona a imaginação ampliando a capacidade de criar. A cena, os cheiros, as sensações,
tudo é possível instigar com palavras.
O leitor adquire esse poder mesmo ao ouvir as palavras norteadoras, quanto mais
ao ler por si só. Ler para uma criança alimenta o vocabulário de pelo menos duas pessoas.
Alimenta também a criatividade, a esperança, a mente, dá sentido às coisas. Os cantinhos de
leitura, que muito se têm feito ou apenas falado, são uma tentativa evidente de retomar aos
costumes da leitura pelo adulto, o aconchego afetivo, proporcionando os prazeres de boas
histórias. As universidades tentam hoje, resgatar o momento que se perdeu nas famílias.

Referências

HTTP://BASENACIONALCOMUM.MEC.GOV.BR/. ncc_ei_ef_110518_versaofinal_site.p
df. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/bncc_ei_ef_110518_versaofinal_site.pdf>.
Acesso em: 02 mai. 2019.
MONOGRAFIAS BRASIL ESCOLA. Pedagogia. Disponível em:
<https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/educacao-infantil-
importancialiteratura-
na-formacao-leitores-mundo.htm#capitulo_5.1>. Acesso em: 01 mai. 2019.
XAVIER, Núbea Rodrigues. Perspectivas sociológicas sobre a infância: de Rousseau a
Norbert Elias. Disponível em:
<https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/perspectivassociologicas-
sobre-a-infancia-de-rousseau-a-norbert-elias/52703> Acesso em 19 de Jun.
de 2019.
XAVIER, Nubea Rodrigues. Perspectivas sociológicas sobre a infância: de Rousseau a
Nobert Elias Disponível
em:<https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/perspectivassociologicas-
sobre-a-infancia-de-rousseau-a-norbert-elias/52703> Acesso em 19 de Jun. de
2019.
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