Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Para pensar a literatura infantil, (Silvia, 2009, p.137), “é necessário pensar no seu
leitor: a criança”. Até o século XVII, as crianças conviviam igualmente com os adultos, não
havia um mundo infantil, diferente e separado, ou uma visão especial da infância. Não se
escrevia, portanto, para as crianças. Elas compartilhavam o mesmo tipo de roupa, ambientes
caseiros e sociais como também o trabalho.
[...] a concepção de uma faixa etária diferenciada, com interesses próprios e
necessitando de uma formação específica, só acontece em meio a Idade Moderna. Esta
mudança deveu a outro acontecimento da época: a emergência de uma nova noção de
família, centrada não mais em amplas relações de parentesco, mas num núcleo
unicelular, preocupado em manter sua privacidade (impedindo a intervenção dos
parentes em seus negócios internos) e estimular o afeto entre seus membros
(ZILBERMAN, 1985, p.13).
A partir do século XVIII, (SILVIA, 2009, p.136) “a criança passa a ser considerada
um ser diferente do adulto, passa a ter maior importância nas relações familiares e sociais”.
Neste momento, a criança passa a ser vista como um ser que precisa de cuidados, atenção e
carinho.
Os Contos de fadas
No Brasil, como não poderia deixar de ser, a literatura infantil tem início com obras
pedagógicas e, sobretudo, adaptadas de produções portuguesas, demonstrando a dependência
típica das colônias. Pode-se dizer que a literatura infantil brasileira teve início com Monteiro
Lobato, com uma literatura centralizada em algumas personagens em especial.
Desde o seu surgimento, em meados do século XVIII, a literatura infantil vem sendo
permeada de preconceitos, rótulos e banalizações acerca de sua importância, função pedagógica
e/ou artística, entre outras eventuais questões.
O misto entre a literatura infantil e adulta numa só obra; a intencionalidade por trás
de uma escolha de livro pela escola – que por vezes seleciona obras de acordo com o conteúdo
gramatical a ser estudado; a globalização do conhecimento e facilidade de acesso à todo e
qualquer conteúdo, o fim do hábito de ler no aconchego do colo familiar; a leitura obrigatória
e sem atrativos; a crença de muitos, de que o livro deve informar, mais do que deve entreter e
inspirar; a baixa qualidade de materiais facilmente acessíveis, são pontos negativos que
impedem uma relação significativa da criança com a boa literatura.
Contudo, sabe-se que as histórias desde a antiguidade tinham seus papéis na
sociedade. Os mitos, lendas, contos, carregavam consigo aspectos morais que conduziam um
comportamento desejável ou não. Indicavam o erro e o acerto, o bem e o mal. E ainda que,
inicialmente, não deixassem livres as mentes para refletir e expressar criticamente sobre o que
lhes era ensinado, a reflexão e questionamento são inevitáveis desde então.
A literatura infantil é citada por Emília Ferreiro, em entrevista ao canal Nova Escola
em 2013, como o momento de afeto entre o adulto e a criança, ao sentar-se com ela no colo,
abraçando-a e ao livro. O adulto carrega o mistério com ele enquanto lê aquelas palavras que a
criança ainda não pode, enquanto abre as portas para um mundo imaginário cheio de surpresas
para que ela entre. A criança ouve o adulto ler e percebe o livro como um objeto que se pode
tocar, observar as imagens e entendê-las e que aquelas letras contam um segredo. O ato de
reservar tempo para ler para a criança já mostra, sutilmente o interesse do adulto, a atenção
dedicada à ela. Consequentemente confere ao adulto uma admiração a mais, por parte da
criança.
A Base Nacional Comum Curricular aponta para o uso da literatura infantil desde
cedo, utilizando-se de conhecimentos prévios dos alunos, de contos regionais, de cantigas,
histórias que façam sentido ao mundo da criança. Que se utilize das curiosidades que ela deixa
transparecer, desenvolvendo gosto pela leitura, estimulando com diversidade de gêneros
literários, interpretação de imagens, diferentes formas de se utilizar da escrita. Ao mesmo tempo
em que deve contextualizar com os regionalismos, abre também as portas para as
universalidades simbólicas, como superação, coragem, justiça, benevolência. Precisa ser
utilizada de forma a identificar valores, sociais, culturais e humanos, desenvolver visões de
mundo, reconhecer culturas, identidades, sociedades. Induzir na criança o pensamento profundo
e indagador, a imaginação repleta de possibilidades, respostas.
O documento relaciona, na maioria das referências, a literatura à arte. E pelas
definições de tais conceitos nota-se que são mesmo inseparáveis. O conceito de literatura dá-se
como “a arte de escrever trabalhos artísticos”. Logo, a literatura e a arte estão fundidas e é
incontestável, através da Base Nacional Comum Curricular, que estejam relacionadas,
possibilitando inúmeras oportunidades para se trabalhar em sala de aula, cativando o aluno,
hoje propenso à atratividade das diversas formas de expressão da arte. De fato a criatividade
artística do professor é indispensável para o momento de leitura. Segundo Carlos Nadalim, a
voz do leitor tem o poder de instigar a imaginação e levar a compreender sentimentos sem que
precisem ser explicados. Isso implica a arte de interpretar a arte. Os aspectos da literatura
citados na BNCC consistem em humanização, mobilização, transformação.
E que outra forma mais eficaz e prática possibilitam viagens aos mais diversos
lugares do mundo, senão pela leitura? A descrição apropriada de um lugar, objeto, pessoa,
impulsiona a imaginação ampliando a capacidade de criar. A cena, os cheiros, as sensações,
tudo é possível instigar com palavras.
O leitor adquire esse poder mesmo ao ouvir as palavras norteadoras, quanto mais
ao ler por si só. Ler para uma criança alimenta o vocabulário de pelo menos duas pessoas.
Alimenta também a criatividade, a esperança, a mente, dá sentido às coisas. Os cantinhos de
leitura, que muito se têm feito ou apenas falado, são uma tentativa evidente de retomar aos
costumes da leitura pelo adulto, o aconchego afetivo, proporcionando os prazeres de boas
histórias. As universidades tentam hoje, resgatar o momento que se perdeu nas famílias.
Referências
HTTP://BASENACIONALCOMUM.MEC.GOV.BR/. ncc_ei_ef_110518_versaofinal_site.p
df. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/bncc_ei_ef_110518_versaofinal_site.pdf>.
Acesso em: 02 mai. 2019.
MONOGRAFIAS BRASIL ESCOLA. Pedagogia. Disponível em:
<https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/educacao-infantil-
importancialiteratura-
na-formacao-leitores-mundo.htm#capitulo_5.1>. Acesso em: 01 mai. 2019.
XAVIER, Núbea Rodrigues. Perspectivas sociológicas sobre a infância: de Rousseau a
Norbert Elias. Disponível em:
<https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/perspectivassociologicas-
sobre-a-infancia-de-rousseau-a-norbert-elias/52703> Acesso em 19 de Jun.
de 2019.
XAVIER, Nubea Rodrigues. Perspectivas sociológicas sobre a infância: de Rousseau a
Nobert Elias Disponível
em:<https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/perspectivassociologicas-
sobre-a-infancia-de-rousseau-a-norbert-elias/52703> Acesso em 19 de Jun. de
2019.
file:///C:/Users/Juliana/Downloads/TRAJETORIA%20DA%20LITERATURA%20(1).pdf