Quimbanda e a Soberba

Sobre a imagem:
Especialistas indicam que erguer o queixo, estufar o peito, colocar as mãos na cintura e colocar-se
com os pés separados são comportamentos típicos de pessoas soberbas.

A Quimbanda é uma expressão religiosa que incita a guerra/combate interno para que seus
adeptos se libertem das correntes escravistas do Sistema. Muitos vão à guerra, mas poucos
são os que suportam seus efeitos.

Hoje, após rever alguns conceitos, decidi escrever sobre a soberba e sua relação com a
Quimbanda Brasileira praticada pelo T.Q.M.B.E.P.N.

Alguns alegam que a soberba é um sentimento de superioridade sobre as demais pessoas, a

arrogância infundamentada e o orgulho baseado em variantes fictícias ou reais. Seria como
fingir ser o que não é seguindo cegamente conceitos e ideologias, se escondendo atrás da falta
de senso crítico. Um grupo soberbo pode ser vitimado ou vitimar agindo em conformidade
com suas diretrizes.

A soberba é uma consequência do orgulho. O orgulho nada mais é do que o prazer pela
conquista, pela honra, pelo desbravamento, pelo poder de influência, enfim, o orgulho se
torna pejorativo quando esbarra na arrogância e se torna soberba.

Baseado nesses dois elementos, iniciamos nossa jornada através da soberba.

O cristianismo entende a soberba como o pior dos pecados e formador do próprio Inferno –
pós ‘queda de Lúcifer’. Segundo a doutrina cristã expressa em seu livro sagrado (Bíblia) a
soberba é o oposto da humildade. Essa é uma das supostas virtude gloriosas que
caracterizaram Jesus como manso e humilde de coração (vide- Mt 11,29), assim como também
assinala a vida de Maria como modelo de “Serva do Senhor” (vide -Lc 1, 38). Encontramos
citações a José e todos os Santos da Igreja Católica.

“A soberba é o oposto da humildade. Essa palavra vem de “humus”, aquilo que se acha na
terra, o pó. O humilde é aquele que reconhece o seu “nada”, embora seja a mais bela obra de
Deus sobre a terra, a Sua glória, como dizia santo Irineu, já no século II. São Leão Magno, Papa
e doutor da Igreja, no século V, disse que “toda a vitória do Salvador, dominando o demônio e
o mundo, foi iniciada na humildade e consumada na humildade! ” (Felipe Aquino – Escola da
Fé)
Analisando os conceitos cristãos (tipicamente escravistas) entendemos que o homem deve ser
humilde e adorar o ‘coitadismo’, ‘vitimismo’ e a auto piedade. A humildade e a mansidão são
características dos homens de Deus, assim como o respeito a todas as pessoas e suas escolhas.
Sob essa óptica, a visão do soberbo é egoísta e distorcida, afinal, todos os parâmetros
norteadores devem estar harmonizados segundo os padrões de igualdade, justiça e
fraternidade edificados pela humildade. O homem não deve se orgulhar de seus feitos e
conquistas, não pode se achar superior a ninguém e todos devem ser nivelados.

Dessa forma, a soberba é inimiga de Deus e os homens soberbos são a expressão do próprio
diabo. Os humildes ganham o reino dos Céus e aos Soberbos resta a danação eterna.

Se a Quimbanda é uma expressão religiosa de embate ao Sistema, certamente sua visão e

conceitos sobre a soberba não podem ser caracterizados da mesma maneira. Em primeiro
lugar, entendemos que a soberba seja um impulso necessário para a deificação interna. Se
percebemos que Exus são espíritos humanos que transcenderam as leis cósmicas, barreiras e
concepções mundanas, adoramos o que de mais precioso existe em nossas próprias essências.
O culto necromântico nada mais é do que a magia do Mortos. Um espírito manso, retilíneo,
pacífico e humilde não é o alvo das evocações infernais.

A soberba é a expressão do individualismo. A Quimbanda entende que apesar do trabalho ser

uma Corrente, sua força é medida pelo elo mais fraco. Se o adepto não tiver orgulho de sua
evolução e de suas conquistas internas (que se refletem externamente) está enfraquecendo o
conceito individualista e consequentemente, enfraquecendo sua própria Corrente.

A soberba é um impulso que ocorre inclusive nos primatas. O orgulho era uma forma de
intimidar rivais, uma forma adaptativa às ameaças. A soberba poupa o desgaste energético dos
embates.

“Muitas pesquisas foram feitas a respeito das relações entre a produção de hormônios e a
soberba. Os pesquisadores Allen Mazur e Theodore A. Lamb, da Syracuse University, de Nova
York, descobriram que em eventos positivos em que o mérito é do ser humano ocorreram
aumentos consideráveis de testosterona, comprovando que o hormônio masculino é
importante na formação dessa emoção. ” (Revista Super Interessante)

Sabemos que uma das principais funções da testosterona é o desenvolvimento dos tecidos
reprodutores, como os testículos e próstata, assim como pelo aumento do desejo sexual. Na
essência de Exu está o fogo sexual expresso claramente pelo Ogó que carrega como arma.

A Quimbanda Brasileira possui outro aspecto da soberba: A diferença entre os tipos humanos.
Se entendermos esse conceito, certamente teremos uma visão diferenciada sobre homens de
barro (semelhantes) e homens de fogo. O homem de fogo JAMAIS abaixará sua cabeça para
semelhantes. Sua revolta transforma-o oposto ao homem altruísta, faz dele uma arma capaz
de modificar o Sistema. A soberba é necessária para alavancar esse processo e fazer a mutação
necessária.

A soberba, dentro da Quimbanda Brasileira (T.Q.M.B.E.P.N), é um impulso necessário. O Ego

fraco, manipulado e escravo do ambiente não pode sobreviver, deve ser aniquilado e somente
torna-se possível vivenciando a ruptura de certos padrões, tornando-se um líder de suas
escolhas e dedicando-se a superação dos limites. A soberba é o orgulho e a certeza de não
fazer parte do rebanho, mesmo que dele necessite extrair certas necessidades. É o Direito de
estar ao lado de quem deseja e se não mais deseja apenas se afastar sem medos ou receios,
pois existe controle de todos os impulsos. A soberba nos faz fortes, dignos, temidos e
respeitados.

Aprendemos com nossos mestres, mas temos pernas para andar. Olhamos as pegadas, mas
podemos seguir outros caminhos, somos donos de nossa razão! Porque deveríamos ser
amáveis e respeitadores? Se somos poucos e recorremos às forças predadoras, temos de ser
orgulhosos de nossa escolha, nossa bandeira e nossas conquistas. Esse orgulho só não é
latente nas pessoas que NUNCA OBTIVERAM VITÓRIAS NA GUERRA E JAMAIS ESTARÃO APTAS
AO COMBATE!

Somos soberbos sim! Somos arrogantes também! Essas são nossas armaduras, a cor de nossas
peles, nossa raça e etnia! Rompemos as barreiras até seus limites e sempre desejaremos
superar as limitações. O senso crítico deve ser construído para que os adeptos não se tornem
delirantes, mas jamais devemos aceitar padrões impostos por essa sociedade falida. Nosso
orgulho é constante, porém, nasce de um advento legítimo, autentico e além das verdades
causais. Renascemos com as bênçãos de uma força real! Se qualificam-nos como exagerados,
pouco nos importa, pois qualificamos as pessoas como rebanho de abate.

“Conforme a interpretação cristã, a soberba leva à arrogância e ao desejo de glória, o que

bloqueia a presença de Deus, um pecado que destruiria todas as virtudes - afinal, nada pode
ser pior que querer ser superior ao próprio Deus. ” (Revista Super Interessante)