Você está na página 1de 8

KURT LEWIN – CAP.

3 AS MINORIAS PSICOLÓGICAS

Primeiro grupo social estudado: o próprio grupo étnico (judeus).

1. Tenta compreender, do ponto-de-vista científico, a perseguição aos judeus

Após, estuda a psicologia dos grupos minoritários

Objeto quase exclusivo das suas pesquisas: que problemas constituem o centro da exploração e da
experimentação da psicologia social

DEMOGRAFIA E PSICOLOGIA

AS MINORIAS JUDIAS

Estudos publicados por Kurt Lewin sobre a psicologia dos judeus:

2. Psychological problem of a minority group (1935)


3. When facing danger (1939)
4. Bringing up the jewsh child (1939)
5. Self-hatred among Jews (1941)

Os estudos têm caráter fenotípico ou sintomático.

1. When facing danger (1939)

Trata do futuro e das possibilidades de sobreviência das minorias judias no ocidente.

Judeus reconhecidos como seres humanos somente a partir da Revolução Francesa e americana.

Judeus: problema essencialmente social – minoria não privilegiada ou discriminada. As pressões e


discriminações contra os judeus crescem ou diminuem conforme as dificuldades econômicas da minoria
crescem ou decrescem.

Necessidade de um bode expiatório. Uma minoria privilegiada consegue mobilizar uma massa cuja
agressão canaliza contra uma minoria rejeitada. O sucesso dos judeus também provoca o anti-
semitismo. Antes, a discriminação era justificada por motivos religiosos. Depois, os nazistas utilizaram
argumentos baseados n antropologia e biologia.

2. Bringing up the jewsh child (1939)

Trata da educação que o jovem judeu deveria receber para evoluir normalmente. Lewin compara a
educação do judeu a de uma criança adotada.

Na medida em que o grupo da status social, o indivíduo sente-se seguro. A segurança ou insegurança no
grupo confere solidez ou fluidez do terreno sobre o qual o indivíduo se mantém.

Isso é especialmente verdadeiro quando se trata do meio familiar.

A estabilidade ou instabilidade da criança no meio familiar determina a estabilidade ou instabilidade


emotiva da criança. O meio familiar forma um único campo de forças.
Conforme seja largo ou restrito o espaço de movimento livre da criança no meio familiar, o indivíduo terá
maior ou menor facilidade de se adaptar à vida social.

Problema de qualquer grupo humano (para Lewin): em que medidade um indivíduo, pertencendo a seu
grupo, pode satisfazer suas próprias necessidades ou aspirações psíquicas sem comprometer
indevidamente a vida e os objetivos do grupo

Princípios pedagógicos para educação do jovem minoritário:

 A criança deve conhecer o mais cedo possível a sua condição de pertencimento a um grupo
discriminado. Explicar que essa é uma questão social.
 Explicar que o que constitui um grupo e dele faz um todo dinâmico é a interdependência da
sorte de seus membros. Perigo para o jovem judeu: ser um marginal na sociedade e permanecer
durante toda a vida como um adolescente incapaz de se identificar ao grupo ao qual pertence ou
quer pertencer.

3. Self-hatred among Jews (1941)

O mais importante dos três estudos. Trata dos mecanismos de auto-depreciação do seu próprio grupo.

O ódio de si pode ser visto como:

 Um fenômeno de grupo: afeta as relações intragrupais no interior da grande família judia. Ex:
judeus alemães culpavam os judeus eslavos pela perseguição dos nazistas e judeus emigrados
para os EUA culpavam judeus alemães.
 Um fenômeno individual: alguns criticam os judeus, outros difamam a família, outros rejeitam a
si próprios. Há também os que rejeitam os costumes, língua, valores, cultura dos judeus.
 Um fenômeno social: para Lewin o ódio de si depende muito mais das atitudes que cada
indivíduo adota em relação ao problema judeu do que das estruturas mentais ou emotivas da
sua personalidade. O ódio de si é observado em todas as minorias discriminadas. Ex. Negros
mais claros discriminam negros mais escuros; 2ª geração de imigrantes americanos
menosprezam os pais. Para judeus: percebem que por serem judeus suas ambições podem ser
frustradas e passam a odiar o seu próprio grupo. Conflito criado pela situação social na qual o
indivíduo é forçado a viver – fenômeno sócio-psicológico. Quando são aceitos em uma
coletividade, os traços de neurose típicos dos judeus desaparecem.

MINORIAS E MINORITÁRIOS

Publica novo estudo, Cultural Reconstruction (1943), onde, a partir dos estudos sobre judeus, tenta
explicar a psicologia de todo grupo minoritário.

Tese principal: toda minoria psicológica tem suas dimensões antes de tudo sociais, em suas origens,
estrutura e em sua evolução.

1. Origem das minorias


A existência de toda minoria só é possível graças à tolerância da maioria no meio da qual ela se insere.
As maiorias sempre têm interesse em privar as minorias de todo direito e privilégio. Em períodos de
tensão e perigo coletivo que a maioria tende a exercer represálias contra as minorias (busca por bode
expiatório)

2. Constituintes, constituídos e constitutivos das minorias


1. Os constituintes das minorias

Em relação à estrutura:

 No centro encontram-se as camadas mais solidificadas – membros que aderem melhor às


instituições, aos costumes, às tradições e aos sistemas de valores, que distinguem seu grupo dos
outros grupos.
 Camadas periféricas: ambivalentes em relação a tudo o que distingue e isola seu grupo da
maioria – membros marginais das minorias. Eles suportam de má vontade ter que viver em um
espaço vital onde são mantidos à força por uma maioria que constrói barreiras psicológicas
instransponíveis à sua migração para a maioria que invejam. Onde se situam os minoritários de
maior sucesso, que esperam que seus sucessos pessoais facilitem sua aceitação por parte da
maioria. É nessas camadas que as minorias buscam recrutar seus dirigentes, na esperança de
melhorarem a relação do grupo com a maioria.

Em relação à Dinâmica do grupo

Dois campos de força:

 Força centrípeda - campo de força exercido sobre seus membros – coesão (traços culturais),
chauvinismo posiivo. Engedram atitudes de lealdade para com o grupo.
 Forças centrífugas – influência dissolvente sobre os membros da minoria. Desejo de pertencer à
maioria, em função dos privilégios / prestígio. Chauvinismo negativo.

2. A minoria como constituída

Constitutivo do grupo: fator de unificação – faz desses indivíduos múltiplos um só grupo coerente.

 Unidades articuladas de modo orgânico: o grupo étnico é percebido com valência positiva.
 Minorias mal ou não integradas: agregação de indivíduos submetidos às mesmas restrições e
privações. Não é um grupo propriamente dito. Querem se integrar à maioria. As ligações entre
os membros do grupo são frágeis. O grupo étnico é percebido com valência negativa.

c. O fator constitutivo das minorias

O fator constitutivo é a interdependência da sorte de seus membros.

Minorias integradas: condição de minoritários é aceita, então unem-se na luta pela emancipação.
Minorias não integradas: condição de minoritários é suportada. Não existe interdependência entre os
membros.

3. O futuro das minorias

O futuro das minorias é social. Define-se em termos de sobrevivência.

Opções possíveis:

 Grupo dos que perdem a crença na sua sobrevivência: buscam tudo que favoreça a sua
assimilação à maioria
 Grupo dos que optam por sua sobrevivência: sobrevivência como emancipação do jugo
arbitrário da maioria.
o Grupo A: querem assegurar a sobrevivência através da integração com a maioria, pela
igualdade de direitos e privilégios. Tendem a destacar os aspectos que os unem à
maioria.
o Grupo B: buscam assegurar a sobrevivência separando-se ou emancipando-se
totalmente da maioria para garantir a integridade da cultura e a conquista da plena
identidade. Para Lewin, só esse grupo tem a possibilidade de assegurar a sua
sobrevivência.

Os outros dois adotam as mesmas atitudes coletivas, tipicamente adolescentes. Caracterizam-se


pela intraagressão, pela autoacusação, exagero de ambições, recusas, protestos e mimetismos.

Cap. 4 – Da Pesquisa à Dinâmica de Grupos

Pesquisa em Laboratório e Pesquisa de Campo

Conclusões metodológicas de Kurt Lewin:

 Toda exploração científica de problemas relativos ao campo da psicologia das relações


intergrupais deve operar-se em constante referência à sociedade global na qual esses
fenômenos de grupo se inserem e se manifestam (interações e interdependência entre
minorias e maioria pela qual é discriminada).
 Para abordar corretamente temas tão complexos seria necessária uma aproximação com
as ciências do social.
o Isso o levou a opor, em psicologia social, pesquisa em laboratório (considerada
artificials) à pesquisa em campo (a única que ofereceria condições válidas de
experimentação).
1. Para Lewin, as hipóteses, leis e teorias da ciência só teriam valor para a psicologia de grupo na
medida em que permitem efetuar modificações dos fenômenos sociais que elas querem explicar.
Reencontro com o “operacionismo” (influência dominante nos EUA):
 Axioma: a validade de uma hiótese, a verdade de uma teoria são proporcionais à exatidão de
suas previsões.
Lewin fixa 2 objetivos para a pesquisa sobre os fenômenos sociais (complementares e indissociáveis):

 Fornecer um diagnóstico sobre uma situação social dada;


 Descobrir ou formular a dinâmica própria da vida de um grupo.

A pesquisa em psicologia social deve originar-se a partir de uma situação concreta a modificar. E deve
inspirar-se nas transformações e componentes novos que surgem durante e sob a influência da pesquisa.

Deve prolongar-se até que seus objetivos sejam alcançados.

2. Os fenômenos sociais não podem ser observados do exterior ou em laboratório (de modo
estático). O pesquisador deve prosseguir suas pesquisas no próprio campo em que se
manifestam os fenômenos que estuda e só tentar modificar sua dinâmica com o consentimento
dos membros do grupo que servem à experimentação.
 O pesquisador deve assumir dois papéis complementares: de observador e participante.

Lewin é um dos principais teóricos do Gestaltismo. Seus estudos em psicologia social baseiam-se em
postulados da Gestalt.

Suas opções metodológicas:

 Plano dos objetos: exploração dos micro-fenômenos de grupo – únicas totalidades


dinâmicas acessíveis à observação e consequentemente à experimentação científica.
o As atitudes sociais individuais ou as atitude coletivas de um grupo só podem ser
compreendidos a partir dos diferentes conjuntos sociais de que fazem parte.
Reciprocamente, estes conjuntos sociais só podem ser compreendidos a partir dos
indivíduos e pequenos grupos concretos que eles englobam.
o Só no pequeno grupo concreto de dimensões reduzidas (célula social bruta) as
relações de reciprocidade tornam-se acessíveis à observação.
 Plano dos Métodos: introduz pequenos grupos-testemunhas (átomos sociais radioativos) –
indivíduos inseridos em um grupo que são instruídos a provocar modificações de estrutura
de uma situação social. Assim, podem observar de dentro os processos e mecanismos desse
desenvolvimeto.

Atitudes Coletivas

Moreno: preocupou-se com o problema da socialização do indivíduo. Teorizou e inventou técnicas e


instrumentos para facilitar o aprendizado das atitudes sociais (psicodrama, jogo do papel, sociodrama).

Até então, os psicólogos sociais orientavam suas pesquisas para determinar o contexto mais propício ao
aprendizado das atitudes sociais democráticas. O meio educacional: o mais apto a formar o cidadão
americano perfeito.

A partir de Lewin: interesse dos pesquisadores volta-se para atitude coletivas, comportamentos em
grupo e atitudes sociais.

Muda a abordagem e metodologia (tornam-se dinâmicas e guestálticas). Para definir cientificamente os


comportamentos em grupo e as atitudes sociais os pesquisadores referem-se ao que são e devem ser os
comportamentos de grupo e as atitudes coletivas.
Lewin não procura a explicação dos fenômenos de grupo na natureza de cada um de seus elementos,
mas nas múltiplas interações que se produzem entre os elementos da situação social em que se situam,
no momento em que são observados e interpretados. As atitudes de um indivíduo são função de sua
relação dinâmica com os diferentes aspectos da situação social que ele assume. É a relação de
reciprocidade entre as atitudes do indivíduo e o conteúdo mental do meio que cria a situação da qual o
comportamento é função.

Situação social: cadeia de fenômenos cuja resultante é o comportamento do grupo. No início e fim
dessa cadeia encontram-se as atitudes coletivas. Tempos da cadeia:

 Nível da percepção: atitudes comuns a um grupo, atitudes coletivas, esquemas mentais e


afetivos de adaptação à situação social. As percepções dos membros de um grupo são
condicionadas por suas atitudes coletivas.
 Nível do comportamento: esquemas coletivos e atitudes pessoais constituem uma inclinação
para certos tipos de comportamento de grupo, que cria uma atração por certos aspectos da
situação e repulsa em direção a outros aspectos.

A cultura do ambiente favorece vetores de comportamento (direções ou barreiras dadas a um


comportamento). A resultante das forças que interessam tal indivíduo em suas relações com um aspecto
do campo dinâmico de que faz parte, é a atitude momentânea deste indivíduo em uma determinada
situação. Esta atitude de grupo se traduzirá por um comportamento de grupo.

Campo Social – conceitos:

 Totalidade dinâmica: conjunto de elementos interdependentes. Os grupos são sempre


totalidades dinâmicas, mas o inverso não é verdadeiro.
 Eu social (círculos concêntricos)
o Eu íntimo (ao centro): núcleo dinâmico formado pelos valores mais importantes para o
indivíduo. Eu fechado.
o Eu social: valores partilhados por certos grupos (ex.: valores de classe, valores
profissionais).
o Eu público (na periferia da personalidade): eu aberto. Região mais superficial da
personalidade, a mais engajada em contatos humanos, aquela em que automatismos
são suficientes. Nesse nível se encontram os fenômenos de massa

o O eu social pode estreitar-se ou dilatar-se a depender da situação social. A


personalidade também interfere: alguns expõem seu íntimo com mais frequência outros
nunca o expõem.
 Campo Social: totalidade dinâmica, constiuída por entidades sociais coexistentes, não
necessariamente integradas entre elas (Gestalt, todo irredutível). Nele podem coexistir grupos,
grupos, indivíduos separados por barreiras socias ou ligados por rede de comunicações.
Hipóteses:
o Campo social: terreno sobre o qual o indivíduo se mantém. Pode ser firme, frágil, móvel,
fluido ou elástico.
o O grupo é para o indivíduo um instrumento para satisfazer suas necessidades psíquicas e
aspirações sociais.
o É uma realidade da qual o indivíduo faz parte, mesmo aqueles que se sentem ignorados,
isolados ou rejeitados. A dinâmica de um grupo tem sempre impacto social sobre os
indivíduos que o constituem.
o O grupo é para o indivíduo um dos elementos ou determinantes do seu espaço vital. É
no interior desse universo social que lhe é livremente acessível que se desenvolve ou
evolui a existência de um indivíduo. O grupo é um setor desse espaço.

Adaptação social: atingir seus objetivos pessoais sem romper os laços funcionais com a realidade
coletiva ou o campo social em que se insere.

Resistências Emotivas à Mudança Social

A liberdade de movimento e a escolha indivdual dependem do clima social que prevalece no grupo. A
conduta do indivíduo depende da dinâmica dos fatos e dos valores percebida em cada situação.

O campo de força que se destaca da interação dos fatos e valores depende de:

 Tendências do eu: maneira única pela qual cada indivíduo percebe cada instante presente em
função do seu passado pessoal.
 Tendências do super-ego: imperativos da sociedade (como foram interiorizados pelo indivíduo)
 A própria situação social – conjunto de fragmentos do universo social com os quais ele está em
estado de interdependência

Eu e super-ego: dinâmica do valores

Situação social: dinâmico dos fatos

Passado e futuro são fundamentais para o comportamento do grupo.

Mudança social – atitudes observadas:

 Conformista – toda mudança de status quo é catastrófica


 Não conformista – mudança de status quo desejada e esperada

Fenômenos em relação à mudança social:

 Os grupos não têm desejo de mudança – comportamentos determinados e condicionados por


preconceitos: constância social (hoje se fala esclerose ou necrose social). A mudança social tem
pouca ou nenhuma chance de acontecer.
 Mudança social iniciada e desejada pelos não conformistas do grupo. São freados pelos
conformistas. As mudanças sociais são lentas e se operam na superfície.
 A maioria do grupo tem inclinação para a mudança.

Modificações nas relações dialéticas para que a mudança social ocorra deve unir:

 As estruturas da situação social


 As estruturas das consciências que vivem nesta situação social
 Os acontecimentos que surgem nesta situaçao social
Determinante para que ocorra a mudança social: o clima de grupo dominante. Para isso é importante
introduzir um novo estilo de autoridade.

Experimentação e Ação Social

 A pesquisa em psicologia social deve ser uma ação social. O observador deve perceber o grupo
como Gestalt, para depois descobrir sua dinâmica essencial, deve empreender de dentro a tarefa
de reestruturá-los.
 Condições para assegurar a validade da experimentação:
o A. operar em pequenos grupos socias engajados em problemas sociais reais e
preocupados em se reestruturar
o B. Deve ser realizado por grupos-testemunhas, engajados em relação às mudanças
sociais que querem introduzir.
 Etapas
o A. Análise das percepções do grupo, sub-grupos e indivíduos.
o Conjecturas sobre a evolução das percepções do grupo
o Prever novos modos de comportamento do grupo em harmonia com a reestruturação
da percepção de grupo.

Você também pode gostar