Você está na página 1de 15

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - UESPI

CAMPUS POETA TORQUATO NETO


LICENCIATURA PLENA EM LETRAS PORTUGUÊS
LEITURA: TEORIAS E PRÁTICA
PROFA. STELA MARIA VIANA LIMA BRITO

LEITURA E DISCUSSÃO DA OBRA 100 MIL SEGUIDORES, DE LUÍS


DILL, COM ALUNOS DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO

Antonia Isla Ximenes Cavalcante1


Francivan Rodrigues dos Santos2

1
Graduanda do 5º período de licenciatura plena em Letras Português pela UESPI - campus Torquato Neto
2
Graduando do 5º período de licenciatura plena em Letras Português pela UESPI - campus Torquato Neto
1. INTRODUÇÃO

Pensando em quão se faz necessária a sistematização da abordagem do texto literário


em sala de aula, o presente trabalho se valeu da proposta de Rildo Cosson3 para a sequência
didática básica. Cosson (2009) apresenta a sequência didática: motivação, introdução, leitura e
interpretação como ferramenta do letramento literário que visa a tornar organizado o ensino da
literatura. Pois, esta, como pontua o autor, "é uma prática e um discurso, cujo funcionamento
deve ser compreendido criticamente pelo aluno. Cabe ao professor fortalecer essa disposição
crítica, levando seus alunos a ultrapassar o simples consumo de textos literários" (p.47, 2009).
Tendo isso em vista, preparamos uma sequência didática para a leitura e discussão da
obra do escritor gaúcho Luís Dill, 100 mil seguidores (2019). A oficina desenvolvida nesta
sequência didática contempla as habilidades da BNCC e apresenta atividades pedagógicas
capazes de cultivar e valorizar o trabalho em grupo, o respeito pela opinião alheia, a
solidariedade, a autoestima do aluno e do professor, a criticidade leitora, dentre vários outros
valores humanos.

3
Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRS).
2. LEITURA E O GÊNERO ROMANCE
Ler é uma prática social que se interliga a outros textos e outras leituras, ou seja,
a leitura de um texto pressupõe em ações conjuntas de valores, crenças e atitudes que
refletem o grupo social em que as pessoas estão inseridas. A leitura não é apenas o
entendimento de um leitor inserido na cultura letrada, mas uma relação de aspectos
sociais e culturais que perpassam pela atividade intelectual em que o leitor utiliza
diversas estratégias baseadas em seu conhecimento linguístico, sociocultural e
enciclopédico (KLEIMAN, 2013, p.16,17).
A escola é uma importante agência de letramento, preocupa-se com ele, porém
falta-lhe a prática social; na sua maioria, enfatiza apenas um tipo de prática de
letramento: “A alfabetização como processo de domínio de códigos (alfabeto e
numérico). Esse processo é geralmente concebido em termos de sua a relação direta com
uma competência individual, imprescindível ao êxito e à promoção no contexto
escolar.” (SOARES, 2004, p.94).
Sobre o letramento literário, Cosson (2018, p.11) afirma tratar-se “da
apropriação da escrita e das práticas sociais que estão a ela relacionadas”. Sendo assim,
para haver uma apropriação da escrita subtende-se, também, a necessidade do domínio
da leitura, e ambos ocorrem de forma processual. Nessa perspectiva, quanto mais o leitor
tiver contato direto com obras, maior será a interação entre leitor e obras literárias.
Kleiman (2013) explica que a leitura é um ato social, entre dois sujeitos - leitor
e autor, interagindo entre si e obedecendo a objetivos e necessidades sociais, e a
compreensão de um texto é caracterizada pelos conhecimentos prévios do leitor, os
quais estão relacionados aos conhecimentos linguísticos, textual e de mundo. Sobre
conhecimentos linguísticos Kleiman (2013, p. 15) relata que:

É aquele conhecimento implícito, não verbalizado, e nem verbalizável na grande


maioria das vezes, que faz com que falemos português como falantes nativos. Esse
conhecimento abrange desde o conhecimento sobre pronunciar português, passando
pelo conhecimento do vocabulário e regra da língua, chegando até o conhecimento
sobre o uso da língua.

A Teoria do Romance é um clássico estudo do crítico húngaro Georg Lukács


sobre um gênero que hoje é a “forma dominante com que a narrativa atingiu o seu
círculo de divulgação e expressão mais altos, a ponto de tornar-se quase sinônimo de
narrativa” (MOTTA, 2006, p. 25).
A etimologia da palavra romance vem da expressão latina romanice loqui, “falar
romântico”, um dos dialetos europeus que surgiu a partir da língua da antiga Roma,
oposta à língua culta da Idade Média, que era o latine loqui. Justamente nesses dialetos
populares contavam-se oralmente muitas histórias de amor e de aventuras cavaleirescas,
assim, a palavra romance passou a indicar uma narrativa sentimental longa, forma
cultural vivida durante a época do Classicismo.
As teorias poéticas da época do Classicismo privilegiaram os textos versificados
e somente a partir do século XVIII, com a queda da poesia épica, a ficção em prosa
passou a adquirir o estatuto de gênero literário. Dessa forma o romance tornou-se a
forma literária mais usada para representar os anseios da burguesia, classe nascida das
revoluções Comercial e Industrial, sendo destinada também à classe média e não
somente a um pequeno grupo de pessoas de classe econômica mais favorecida.
Já para Bakhtin (1988, p. 397-428), em “Epos e romance”, o gênero se constitui
em forma de expressão inacabada, apresentando um ciclo contínuo do homem: assim
como o ser humano, o romance também está em constante evolução, daí a dificuldade
em estabelecer uma teoria do gênero. Em seus estudos, o estudioso russo aborda o
romance como “gênero que está por se constituir, levando-se em conta o processo de
evolução de toda a literatura nos tempos modernos [...]”. O autor afirma que não
construirá “uma definição do cânone do romance que atue em literatura (na sua história)
como um sistema de índices de gênero invariáveis” (BAKHTIN, 1988, p. 403). O crítico
intenciona, portanto, verificar quais são os elementos estruturadores do gênero,
apontados por ele em número de três: a tridimensão linguística e estilística, a
transformação radical na representação do tempo e uma nova estruturação do elemento
da realidade presente (do escritor e do leitor).
Quanto à estrutura do romance, Moisés (2006, p. 172-292) classifica a estrutura
do romance em: i) ação - conflitos que envolvem os personagens da narrativa; ii) espaço
- lugar em que se desenvolvem os acontecimentos; iii) tempo - ponto de partida para os
acontecimentos dos fatos; iv) tempo/espaço - vinculação entre o tempo e o espaço; v)
personagens - pessoas criadas para o desenvolvimento do enredo; vi) linguagem -
elaborada de acordo com as leis que rege a escrita do romance; vii) trama - envolvimento
dos personagens com o conflito; viii) composição - forma como o romancista irá
trabalhar e organizar o drama no texto; ix) planos narrativos - ideias construídas com
desenvolvimento da obra; x) ponto de vista - formulado pelo ficcionista dentro da obra
e por fim, xi) o começo e epílogo - começo e desfecho da obra. Esses elementos
contribuem para a construção da narrativa dentro do gênero romance, levando o leitor a
compreender e interpretar os fatos descritos no texto. Ressalta-se aqui a importância de
apresentar essa estrutura aos alunos em sala de aula, uma vez que, ao adquirirem este
conhecimento teórico aliado à prática, talvez possam ser motivados à leitura, à
compreensão e à interpretação do texto.
Em síntese, o romance, assim como os demais gêneros textuais, possui sua
estrutura dentro do corpo do texto, apresentando narratividade. Terra ressalta que
embora haja características comuns entre o conto e o romance, é possível vermos as
suas diferenças: um conto é uma narrativa condensada enquanto o romance possui uma
narrativa mais extensa.

3. PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Rildo Cosson em Letramento literário: teoria e prática apresenta mecanismos


pertinentes à sistematização da abordagem do texto literário. Para tanto, o autor trabalha dois
tipos de sequências didáticas: a básica e a expandida, aquela foi a escolhida para a proposta
deste trabalho. Em termos de definição, Cosson (p.48, 2009) salienta que

Essas sequências procuram sistematizar a abordagem do material literário em sala de


aula integrando, fundamentalmente, três perspectivas metodológicas. A primeira
dessas perspectivas é a técnica bem conhecida da oficina. Sob a máxima do aprender
a fazer fazendo, ela consiste em levar o aluno a construir pela prática seu
conhecimento. Em nosso caso, o princípio da oficina se faz presente na alternância
entre as atividades de leitura e escrita, isto é, para cada atividade de leitura é preciso
fazer corresponder uma atividade de escrita ou registro. Também é a base de onde se
projetam as atividades lúdicas ou associadas à criatividade verbal que unem as
sequências. A segunda perspectiva é a técnica do andaime.Trata-se de dividir com o
aluno e, em alguns casos, transferir para ele a edificação do conhecimento. Ao
professor, cabe atuar como um andaime, sustentando as atividades a serem
desenvolvidas de maneira autônoma pelos alunos. Em nossa proposta, o andaime está
ligado às atividades de reconstrução do saber literário,que envolvem pesquisa e
desenvolvimento de projetos por parte dos alunos. A terceira perspectiva é a do
portfolio.
A sequência didática básica contempla quatro passos: a motivação, introdução, leitura
e interpretação. Essas quatro etapas nortearão nossa proposta de trabalhar a obra de literatura
juvenil 100 mil seguidores, de Luís Dill.
OFICINA
❖GÊNERO: Romance Juvenil

❖ANO – 1º Ano do Ensino Médio


❖DURAÇÃO TOTAL: 07 aulas de 50 minutos cada.

❖OBJETIVOS:
➔ Despertar nos alunos o gosto e o prazer pela leitura de romances voltado para o
público juvenil;
➔ Ampliar a proficiência leitora e a criticidade dos alunos a partir dos textos
literários de maior extensão e complexidade, como os romances.

❖ HABILIDADE(S) DA BNCC: EM13LP45, EM13LP48, EM13LP52.


➔ EM13LP45: Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos
literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e
as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar
a perspectiva crítica.
➔ EM13LP48: Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes
gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação
livre e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva
da vida humana e social dos romances, a dimensão política e social de textos da
literatura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de
apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.
➔ EM13LP52: Produzir apresentações e comentários apreciativos e críticos sobre
livros, filmes, discos, canções, espetáculos de teatro e dança, exposições etc.
(resenhas, vlogs e podcasts literários e artísticos, playlists comentadas, fanzines,
e-zines etc.).
PROCEDIMENTOS:

● AULA INTRODUTÓRIA - GÊNERO ROMANCE: Antes de iniciar as etapas da


sequência didática 100 mil seguidores, é necessário explicar para a turma o que é o
gênero textual romance.

❖ ANO - 1º ano do Ensino Médio


❖ DURAÇÃO - 01 aula de 50 minutos
❖ OBJETIVOS:
1. Conhecer a estrutura e classificação do gênero textual romance;
2. Despertar nos alunos o interesse pela leitura de romances juvenis de autores
contemporâneos.
3. Proporcionar a formação de jovens leitores a partir da leitura e discussão de
romances.
❖ CONTEÚDO: Romance
❖ HABILIDADE(S) DA BNCC: EM13LP02, EM13LP13, EM13LP19.

PROCEDIMENTOS:
➔ Inicialmente, explique aos alunos que antes de iniciar a proposta de leitura do livro 100
mil seguidores, convém conhecer o gênero romance.
➔ Em seguida, pergunte aos alunos o que sabem sobre esse gênero, e após ouvir as
respostas deles projete slides contendo o conceito, estrutura e classificação do romance
e explique o assunto aos alunos.
➔ Após explicar para os alunos sobre as características e tipos de romances, apresentar
alguns escritores e obras romancistas mais conhecidas, conforme imagens a seguir:
➔ Finalizar a aula, informando aos alunos sobre a proposta de leitura da obra pertencente
ao gênero romance.

RECURSOS DIDÁTICOS: Notebook, Datashow, pendrive.

I ETAPA - MOTIVAÇÃO

● Duração: 1 aula de 50 minutos


● Despertar nos alunos a curiosidade pela temática e
enredo do livro 100 mil seguidores (2019), de Luís
Dill;
● Iniciar a aula com a apresentação do vídeo
“Prevenção ao Suicídio de Adolescentes” da Mayo
Clinic, disponível no link Teen Suicide Prevention.
● Após a exibição do vídeo, o professor deve
perguntar aos alunos o que eles sabem a respeito
desse assunto ´para trazer a discussão para a sala de
aula antes de tecer comentários a respeito do autor
e da obra.
II ETAPA - INTRODUÇÃO

● Duração 1 aula de 50 minutos


● Apresentar o autor Luís Dill e sua obra 100 mil seguidores (2019);
● Utilizar slides para fazer apresentação rápida da vida e obra do autor Luís Dill
★ Perguntar aos alunos se eles conhecem o autor, se já tiveram contato com a obra
que se pretende trabalhar.
● Comentar o porquê da escolha da obra e de sua
importância para o momento presente;
● Explorar o livro físico juntamente com os alunos,
apresentando seus elementos paratextuais: capa,
contracapa, orelha;
● Recursos didáticos:
★ livro: 100 mil seguidores;
★ datashow e notebook para apresentar os
slides.
III ETAPA - LEITURA

● Duração: 2 aulas de 50 minutos.


● Ler o livro através de reprodução impressa ou distribuir aos alunos a versão digital em
pdf através de grupo de whatsapp para a leitura por meio de seus smartphones.
● Iniciar a leitura da obra com a turma, esta etapa até pode ser desenvolvida dentro da
biblioteca, pois, além de favorecer o estímulo à leitura, os alunos aprenderão os hábitos
e funcionamento deste espaço cultural dentro da escola.
● Durante a realização da leitura pelos discentes, pode-se orientá-los a fazer anotações
apresentando seus questionamentos acerca das temáticas presentes na obra, para
posterior socialização, onde serão expostas suas observações e os impactos gerados pela
leitura.
● O mediador pedirá aos estudantes para dar continuidade a aula fazendo a leitura das
demais páginas do livro, seja de forma individual, em duplas ou pequenos grupos.
Porém, o mediador deve estar sempre atento aos questionamentos que poderão surgir
durante a leitura.
● Conhecer o perfil das personagens da obra.
● Interpretar as questões pertinentes levantadas pelo narrador do romance relacionadas ao
uso das redes sociais pelos adolescentes e jovens, e o impacto delas na saúde mental
dessas pessoas.

RECURSOS DIDÁTICOS:
● Livro físico ou arquivo compartilhado em PDF.
● Computadores.

IV ETAPA - INTERPRETAÇÃO
IV ETAPA - INTERPRETAÇÃO

● Duração: 2 aulas de 50 minutos.


● Dois momentos: encontro do leitor com a obra de forma individual (momento interno)
e compartilhamento da experiência literária (momento externo);
● Montar um círculo em sala de aula, como num clube do livro, e incentivar os alunos a
compartilharem suas interpretações, fortalecendo a ideia de que não há apenas uma
interpretação possível do texto. Nesse momento, o professor guiará as discussões,
fazendo perguntas acerca das temáticas (tabu, uso excessivo das redes sociais, discurso
do ódio ao corpo, perfis falsos, automutilação, pais ausentes…);
● Ao final das discussões, propor uma atividade intitulada "Eu indico". Aqui os alunos
redigirão um texto, de no máximo dez linhas, contendo os motivos que os levaram a/não
indicar a obra lida;
● Indicar livros/filmes/séries que dialoguem com a obra e perguntar aos alunos se eles
conhecem alguma outra produção que converse com texto lido.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi trabalhado, pode-se perceber a importância que tem a sistematização
do ensino de literatura tanto para os professores, por guiarem sua atividade docente, quanto para
os alunos, que desfrutam de uma aula planejada, com vistas a aprimorar a criticidade, expandir
o repertório sociocultural, e incentivar o corpo discente a leitura de texto literários.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. São Paulo:
Hucitec, 1988.

BESSI, Oscar. Crianças desaparecidas. http://www.luisdill.com.br/pdf/oscarBessi.pdf


BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio.
Brasília, 2018.
COSSON, Rildo. Letramento literário: leitura e prática. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2009.
, . Letramento literário: teoria e prática. 2ª edição. São Paulo: Contexto, 2018
DILL, Luís. 100 mil seguidores. Porto Alegre: Casa 29, 2019.
KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 9. Ed. Campinas: Pontes, 2013.
LUKÁCS, Georg. A teoria do romance. São Paulo, Editora 34, 2000.
MOISÉS, Massaud. A criação literária: prosa 1 / Massaud Moisés. 20.ed. São Paulo: Cultrix,
2006.
MOTTA, S.V. O engenho da narrativa e sua árvore genealógica. São Paulo: Editora UNESP,
2006.

SOARES, M.B. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de


Educação, São Paulo, n. 25, p. 5-16, jan./abr. 2004.

Você também pode gostar