Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURITIBA
2009
2
CURITIBA
2009
3
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ZUSAMMENFASSUNG
Die vorliegende Arbeit geht von zwei Aspekten aus. Auf der einen Seite die
gleichförmige Vorstellung von Goethes Sichtweise der Übersetzung, die durch
theoretische und historiographische Studien verewigt wurde, welche sich auf eine
beschränkte Anzahl von Goethes Texten beziehen. Auf der anderen Seite steht der
Beweis für eine starke Thematisierung der Übersetzungshandlung und ihrer
Reflexion im umfangreichen Werk Goethes. In dieser Arbeit schlagen wir vor, zu
diskutieren, auf welche Art die Überlegungen zur Übersetzung im Werk dieses
Autors geschehen und weisen insbesondere auf die Heterogenität dieser Gedanken
und die vielfältigen Möglichkeiten hin, mit welchen Goethes Gedanken zur
Übersetzung sich ausdrücken.
ABSTRACT
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................8
2. O CONTEXTO
2.1 O CONTEXTO......................................................................................................11
4.1 CARTAS.............................................................................................................. 29
4.2 DIÁRIOS...............................................................................................................31
4.5 CONVERSAÇÕES...............................................................................................37
4.8 AFORISMOS........................................................................................................39
5. CONLUSÃO...........................................................................................................42
REFERÊNCIAS..........................................................................................................44
OBRAS DE REFERÊNCIA........................................................................................46
ANEXOS....................................................................................................................47
8
1. INTRODUÇÃO
____________________________________________________
1
Antoine Berman (1942-1991) foi um lingüista, tradutor, historiador da tradução e pode ser
considerado um teórico de tradução.
2
Christoph Marin Wieland (1733-1813) foi um poeta alemão, tradutor e editor. É considerado um dos
mais significativos escritores do período do Iluminismo alemão (Aufklärung). Dentre suas traduções
para o alemão, destacam-se as obras completas de Marcus Tullius Cícero, Lukian von Samosata e
William Shakespeare. Sobre a Weltliteratur, há um texto de Hans J. Weitz na revista de literatura
comparada Arcadia, no qual ele demonstra que Wieland já havia usado o conceito anterior a Goethe,
segundo Weitz, o conceito de Weltliteratur aparece numa nota das traduções das cartas de Horácio,
vide “Weltliteratur’ zuerst bei Wieland” [Weltliteratur inicialmente por Wieland] in Arcadia número 22
(1987), p. (206-208).
9
entendida como uma literatura que vai além das fronteiras, ou seja, uma literatura de
espírito cosmopolita.
Como afirma Lange3 (1992, p. 3), Goethe aparece como uma figura central
após o reconhecimento da constelação de sua obra. No entanto, conhecemos
Goethe pela imagem e pelo lugar que a crítica constrói para ele. Esse lugar é
construído a partir dos textos a que a crítica tem acesso. A maior parte dos textos
críticos sobre Goethe – nos vários campos de estudo –, está escrita em língua
estrangeira, notadamente em língua alemã4. Percebemos que a crítica precisará
recorrer a traduções para fazer essa construção. Esse é um dos fatores
responsáveis pelo caráter fragmentário e a visão limitada aos textos de Goethe que
encontramos nos estudos da tradução.
Este trabalho quer mostrar que há muito mais textos sobre tradução escritos
por Goethe do que a construção feita pela crítica em relação a esse lugar e essa
imagem de Goethe a serem explorados, especificamente no âmbito dos estudos da
tradução. Para isso, faremos algumas reflexões sobre a seleção de textos presentes
3
Victor Lange (1908-1996) foi um germanista renomado, sendo reconhecido, primeiramente pelo seu
trabalho na universidade de Princeton. Nascido em Leigzig, obteve sua pós-graduação pela
universidade de Toronto e Ph.D. pela universidade de Leipzig. A citação é de um texto sobre a vida e
obra de Goethe, que foi publicado numa edição de livro de bolso em comemoração aos 125 anos da
coleção biblioteca universal da editora alemã Reclam em 1992, porém o texto já apareceu antes no
quarto volume da obra Deutsche Dichter. Leben und Werk deutschsprachiger Autoren [Poetas
alemães. Vida e Obra de autores de língua alemã] publicado em 1989 por Gunter E. Grimm e Frank
Rainer Max em Stuttgard.
4
Para se ter um exemplo, a Goethe-Bibliographie 1950–1990 [Bibliografia de Goethe 1950-1990]
reúne quarenta anos de publicações de 1950 até 1990 sobre a vida e a obra de Goethe, somando um
total de 25 000 publicações em língua alemã. Outra obra é o Goethe-Handbuch que engloba as
publicações críticas em estudos literários. Ela foi publicada pela editora Metzler em 2004 em seis
volumes. Há referências de textos que discutem a relação de Goethe e tradução como: Goethe als
Übersetzer (1988/89) [Goethe como tradutor] por Wolfgang Buztlaff editado no Jahrbuch des Wiener
Goethe Vereins 92/93, p. 33-66; Goethes und Schillers Übertragungen antiker Dichtungen. Mit dem
Urtext (1944), hg. Von Horst Rüdiger [Traduções de poemas clássicos por Goethe e Schiller com o
texto fonte, editado por Horst Rüdiger] Munique; Goethe und die Übersetzung (1982) [Goethe e a
tradução] por György Radó, in Babel, 28, p. 198-224; Goethe’s search for the muses. Translation and
creativity (1979), por David B. Richards, editado pela John Benjamins; Weltliteratur. Die Lust am
Übersetzen im Jahrhundert Goethes (1982) [Literatura mundial: o deleite pela tradução no século de
Goethe], por Reinhard Tgart et alii editado pela editora Kösel em Munique. No entanto, não foi
possível ter acesso integral a esses textos.
10
A quarta parte trata-se de uma descrição de uma busca que foi feita em mídia
digital a partir da palavra-chave “tradução”. As mídias digitais utilizadas neste
trabalho apresentam um sistema interno de busca, o que facilitou o trabalho
consideravelmente. Descreveremos o que foi encontrado e mostraremos, a partir da
evidência de sua variedade de expressão, que as reflexões de Goethe sobre a
tradução não se oferecem como um corpo homogêneo e sistematizado. Esperamos,
assim, que nosso trabalho seja proveitoso para uma reflexão futura sobre tradução,
abrindo a possibilidade de rever o lugar e o teor do pensamento tradutório de
Goethe.
11
2. O CONTEXTO
____________________________________________________
2.1 O CONTEXTO
Segundo John Milton (1998, pg. 61), com a tradução do Novo Testamento por
Martinho Lutero (1530), um padrão de escrita para os vários dialetos da língua
alemã foi aos poucos se estabelecendo. A partir desse momento, a tradução
começou a ganhar importância dentro da cultura alemã, mas é no período do
romantismo alemão que a reflexão sobre tradução se intensifica e isso se justifica
pelo grande número de traduções. As traduções, especialmente das peças de
Shakespeare, aumentam e, aliás, se tornam muito conhecidas entre os alemães
através da pena de Wieland, Eschenburg5, A. W. Schlegel6 entre outros. Ainda vale
a pena lembrar dos esforços de Voss7, por suas contribuição que marcaram a
literatura alemã significativamente.
5
Johann Joachim Eschenburg (1743-1820) nasceu em Hamburg, estudou em Leipzig e foi professor
no Collegium Carolinum em Braunschweig (atualmente Universidade de Tecnologia de
Braunschweig). Eschenburg ficou conhecido por tentar popularizar a literatura inglesa na Alemanha.
Ele publicou várias traduções de escritores como Charles Burney, Joseph Priestley, Richard Hurd e
revisou a tradução de Wieland das obras completas de Shakespeare entre (1762-1766).
6
August Wilhelm Schlegel (1767-1845) foi um poeta, tradutor, crítico, escritor, filósofo e co-fundador
do movimento romântico alemão (Romantik). É irmão de Friedrich Schlegel e juntos estiveram na
organização da edição da revista Athenäum. A importância de Schlegel para a literatura alemã é
fundamental. Ele chamou a atenção dos franceses com o ensaio Comparaison entre la Phèdre de
Racine et celle d'Euripide [Comparação entre a Fedra de Racine e aquela de Eurípedes], pois
atacava o classicismo francês tendo por base o romantismo alemão.
7
Johann Heinrich Voss (1751-1826) foi um poeta e tradudor alemão. Voss ficou conhecido por
traduzir a Odisséia e a Ilíada para o alemão (1781), entretanto ele também traduziu Hesíodo, Virgílio,
Horácio, Teócrito, Propércio entre outros. Goethe comenta suas traduções em cartas e conversações,
e se corresponde com ele por vários anos.
12
Segundo Berman (1984/2002, pg. 259), esse texto faz uma abordagem
“metódica, pois não se trata apenas de analisar, mas deduzir, a partir de definições,
os métodos possíveis de tradução”. O texto é sistemático porque ele
8
Wir Deutsche hatten den Vorteil, daß mehrere bedeutende Werke fremder Nationen auf eine leichte
und heitere Weise zuerst herübergebracht wurden.
13
9
Freitas (2008, p. 99) explica que Schleiermacher acreditava haver duas possibilidades para o
tradutor: O tradutor deixa o autor em paz e leva o leitor até ele; ou o tradutor deixa o leitor em paz e
leva o escritor em direção ao leitor. A autora reforça que a opção escolhida por Schleiermacher como
ideal é a primeira, visto que ele via nessa escolha uma estratégia política que beneficiava o
fortalecimento da cultura e língua alemãs.
14
tipo de exclusão, visto que, a idéia era basicamente a oposição desse modo de
traduzir, como menciona Berman (1984/2002):
10
Andreas Huyssen (1942) é professor de literatura comparada na Universidade de Columbia (EUA).
Fazemos menção ao livro Die frühromantische Konzeption von Übersetzung und Aneignung (1969) [A
pré-concepção romântica de tradução e apropriação].
15
“Sua obra é marcada em relevo pela mesma diversidade rica e vital: ele
praticou todos os gêneros poéticos e literários, produziu trabalhos que
julgava estritamente científicos, escreveu diários e memórias, dirigiu revistas
e jornais.” (BERMAN, 1984/2002, p. 98)
“As idéias de Goethe sobre tradução, que são de uma enorme diversidade,
nunca reúnem sob a forma de uma teoria, mas possuem uma coerência
própria que deriva de sua visão de realidade natural, humana, social e
cultural – visão que se fundamenta, ela própria, em uma interpretação da
11
A publicação em meio eletrônico de alguns livros de Goethe e algumas traduções estão
disponíveis pelo projeto Gutenberg (Gutenberg Project) em alemão, francês, inglês e finlandês. A
universidade de Trier possui um projeto para a digitalização da edição (WA) Weimarer Ausgabe e
seus 133 volumes, mas ainda se encontra em fase experimental, além desse, há o Goethe-
Wörterbuch [Dicionário de Goethe] um projeto em andamento, que está disponível em
:http://germazope.uni-trier.de/Projects/WBB/woerterbuecher/gwb/wbgui?lemid=JA00001. Acesso em:
08/04/2009. Outras páginas reúnem coletâneas, como por exemplo: http://www.wissen-im-
netz.info/literatur/goethe/index.htm e http://www.zeno.org/Literatur/M/Goethe,+Johann+Wolfgang
acesso em 08/04/2009. Existem várias edições das obras completas, dentre as mais conhecidas
estão: (WA) Weimarer Ausgabe que conta com 133 volumes, compilada entre (1887-1919) sob os
auspícios da grã-duquesa Sophie von Sachsen, a edição é também conhecida como Sophie-
Ausgabe. A edição de Weimar é considerada a mais completa, reunindo o conjunto de obras escritas
por Goethe com seus escritos literários e científicos, incluindo as ilustrações e o maior aparato crítico
já editado. A (HA) Harburger Ausgabe dividida em 14 volumes, conta com textos críticos e notas de
Erich Trunz, publicada em (1952). A (BA) Berliner Ausgabe possui 22 volumes, publicada entre
(1965-1978), esta edição deixa de fora os escritos científicos. A (FA) Frankfurter Ausgabe (1985)
possui 40 volumes, sendo altamente recomendada por críticos por causa das suas 15000 páginas de
comentários sobre cada livro. A (MA) Münchner Ausgabe aparece pela primeira vez em 1985 com
seus 20 volumes e com tempo ganha mais treze volumes, chegando a 33 e se equivale em número
de comentários com a (FA).
Para nossas reflexões usaremos duas versões, a versão impressa (HA) Hamburger Ausgabe (1982) e
a versão digitalizada pela Directmedia Publishing (1998), que engloba as edições da (BA) Berliner
Ausgabe para a versão das obras literárias e da (WA) Weimarer Ausgabe para as cartas, diários e
conversações.
16
Falta ainda uma análise mais detalhada dessas noções, será mesmo que elas
são ao mesmo tempo espaciais e temporais como afirma Berman? Uma
desmistificação dessas noções de tradução traria de partida uma abordagem
tradutória mais ampla não só da época de Goethe como também revelaria algumas
questões de prática de tradução que foram tratadas por Goethe durante grande
parte de sua vida.
12
Fritz Strich (1883-1963) atuou como professor e pesquisador literário em Munique e Bern.
17
13
Douglas Robinson é professor na Universidade do Mississippi e presidente da Associação
Americana de tradutores fino-inglesa.
19
14
A seleção consta das seguintes passagens: da autobiografia Aus meinem Leben. Dichtung und
Wahrheit (1811-1833) [Memórias: poesia e verdade], de duas máximas retiradas de Rede zum
Andeken des edlen Dichters, Bruders und Freudes Wieland, [Em memória do nobre poeta, irmão e
amigo Wieland] (1813), de um trecho da coletânia poética West-Östlicher Divan [Divã Oriental e
Ocidental] (1819), de duas máximas do livro Maximen und Reflextionen (1833) [Máximas e Reflexões]
e do ensaio German Romance (1827).
20
O texto traduzido por Robinson (2002) intitulado “Traduções” (1819) tem sido
citado vezes e vezes sem fim e isso talvez se deva ao fato deste texto parecer
“teórico”. Milton (1998, pg. 64) sintetiza as idéias desse texto mencionando uma
divisão tríplice da tradução feita por Goethe.
15
Francis George Steiner nasceu em Paris em 1925 e por causa da perseguição aos judeus na
Europa erradicou-se nos Estados Unidos em 1940. Atuou como professor de literatura inglesa e
literatura comparada, lecionando em universidades americanas e européias conseguiu prestígio
internacional.
16
Goethe não desenvolve textualmente uma teoria de tradução a exemplo dos desdobramentos da
década de 70 com Vinay e Dalbernet, que tem por objetivo demonstrar estratégias, métodos e
técnicas de tradução.
21
encontro de uma prática de tradução. Ainda é importante lembrar que essa prática
de tradução de Goethe está vinculada diretamente a textos literários e a reflexão
elaborada deveria ser entendida a partir desse ponto de vista. Além disso, na época
de Goethe estava se tornando produtivo pensar sobre tradução e implicações acerca
do ato tradutório.
A questão que Steiner (2005) deixa em aberto tende mais para uma
perspectiva do trabalho de Lutero do que ao efeito por ela causado. Como resume
Milton (1998, p. 65), o primeiro tipo de tradução é “uma tradução simples e prosaica
de uma obra a fim de familiarizar o público leitor com a obra estrangeira.” A tradução
de Lutero intencionava causar uma familiaridade por parte do leitor, sendo
considerada por Goethe, segundo Milton: “a forma menos elevada17 de tradução”.
No entanto, para compreendermos o que Goethe demonstra com isso depende de
uma melhor contextualização de suas noções de tradução. Uma abertura para esse
tipo de reflexão não é possível tendo em vista o recorte textual de três passagens
presentes, de modo geral, em antologias de tradução. Os três modelos de Goethe
têm por base as seguintes obras literárias: a tradução do Novo Testamento feita por
Lutero, como o primeiro modelo, as traduções feitas por Wieland, como segundo, e
representando o terceiro tipo, as traduções das obras de Homero feitas por Voß.
Esses modelos apresentam uma seqüência cronológica e podem ser vistos como
uma idealização da formação do processo de tradução para a língua de chegada,
neste caso, a língua alemã.
19
André Alphons Lefevere (1946-1996), era belga e conseguiu seu doutoramento pela universidade
de Essex (Inglaterra). Suas publicações destacam-se em literatura comparada e tradução, sendo que
publicou dez livros sobre tradução.
20
Na publicação digital (1998) foi possível localizar esse texto e verificar que ele está em
conformidade com a referência da data de publicação apontada por Robinson (2002). Na edição da
(BA) Berliner Ausgabe, o texto German Romance se encontra no volume 18 (p. 396-397).
21
Apesar da importância das idéias contidas nesse pequeno trecho, não foi possível identificá-lo
como sendo um texto saído da pena de Goethe, isto é, segundo as indicações de Lefevere (1992).
Ele menciona apenas o título dos livros de Goethe no índice de nomes, excluindo com isso qualquer
possibilidade para se verificar de onde foi retirado o parágrafo em questão.
23
The surest way to truly achieve universal tolerance is to accept the particular
characteristics of individuals and whole peoples, yet at the same time to
adhere to the conviction that the truly valuable is characteristized by its
being part of all mankind. For some time now the Germans have been
contributing to such mediation and mutual acceptance. He who studies
German finds himself in the marketplace where all nations offer their wares.
He plays the role of interpreter while enriching himself.
And that is how we should see the translator, as one who strives to be a
mediator in this universal, intellectual trade, and makes it his business to
promote exchange. For whatever one may say about the shortcomings of
translations, they are and will remain most important and worthy
undertakings in world communication.
The Koran says: “God has given each people a prophet in its own
language”. Thus every translator is a prophet among his people. Luther’s
translation of the Bible has had the greatest impact, even though critics
quibble and carp to this day. And what is the purpose of that gigantic effort of
the Bible Society, but to transmit the gospel to every people in its own
vernacular? (ROBINSON, 2002, p. 225)
O texto Rede zum Andeken des edlen Dichters, Bruders und Freudes
Wieland, [Em memória do nobre poeta, irmão e amigo Wieland] (1813), manifesta a
noção dos dois tipos de tradução, uma requer que o autor de uma nação estrangeira
seja trazido para a nossa de um modo que possamos ver esse autor como nosso, a
outra requer que atravessemos a fronteira e façamos uma adaptação no lugar desse
outro, tomando consciência do uso de sua língua e suas peculiaridades. O contexto
desse texto parece estar presente no título escolhido por Robinson (2002) com a
palavra Oration [oração], mas não está explícito em alguma nota que Goethe, de
fato, leu esse texto no enterro de Wieland em 1813. E apenas com o título torna-se
22
Wer das Dichten will verstehen,
Muß ins Land der Dichtung gehen;
Wer den Dichter will verstehen.
Muß in Dichters Lande gehen.
23
Khwajeh Shams al-Din Muhammad Hafez-e Shirazi (1310-1337), também chamado Hafiz, foi um
poeta e místico persa.
26
24
In translating, quest toward the untranslatable; there you will catch your first glimpse of the foreign
country and its language.
25
Translators should be thought of as busy matchmakers, praising a half-veiled beauty as worthy of
our love: they excite an irresistible yearning for the original. Em alemão: Übersetzer sind als
geschäftige Kuppler anzusehen, die uns eine halbverschleierte Schöne als höchst liebenswürdig
anpreisen: sie erregen eine unwiderstehliche Neigung nach dem Original.
27
26
A noção dos estudos da tradução como área independente de estudo é relativamente recente.
Segundo Arrojo (1998), uma das primeiras propostas para mapear um limite e descobrir a
especificidade da tradução como uma disciplina idealmente autônoma foi feita por Holmes na década
de 70.
29
4.1 CARTAS
27
Esse modelo de divisão textual está presente nas mídias digitais para melhor organização da obra,
apenas distribuímos as ocorrências conforme esse critério.
30
28
Meinen Cellini darf ich Ihnen ja wol nicht empfehlen; ich hoffe, dieser sonderbare Mann soll Ihnen
in der Übersetzung, wenn Sie das Original nicht kennen,noch manches Vergnügen machen.
29
Für Ihre Bemerkungen zu meiner Übersetzung danke schönstes Ich werde sie bey meinem
Studium des Stücks das ich mir nun zur Pflicht mache, immer vor Augen haben.
31
4.2 DIÁRIOS
30
Man hat mir eine Italiänische Überzetzung des Werthers zugeschickt. Was hat das Irrlicht für ein
Aufsehn gemacht! Auch dieser Mann hat ihn wohl verstanden, seine Übersetzung ist fast immer
Umschreibung; aber der glühende Ausdruck von Schmerz und Freude, die sich unaufhaltsam in sich
selbst verzehren, ist ganz verschwunden und darüber weis man nicht was der Mensch will. Auch
meinen vielgeliebten Nahmen hat er in Annetta verwandelt. Du sollst es sehen und selbst urtheilen.
31
Eine Recension der Übersetzung meiner dramatischen Arbeiten hat mir auch viel Vergnügen
gemacht. Verhalt' ich mich doch selbst gegen meine Productionen ganz anders, als zur Zeit, da ich sie
concipirte. Nun bleibt es höchst merkwürdig, wie sie sich zu einer fremden Nation verhalten und zwar
so spät, bei ganz veränderten Ansichten der Zeit.
32
que Goethe leu, ouviu ou observou durante seu cotidiano. Nesse sentido, pouco foi
manifestado nessas anotações que revelam seu pensar sobre tradução, pois esses
comentários aparecem juntos de outras menções ou lembranças, criando uma
impressão de incoerência textual. Seus comentários são breves, em geral não
passam de três linhas. Em linhas gerais, eles fazem menção a lembranças, a
traduções que foram lidas em um dia e correções ou ajustes textuais. Alguns
exemplos dessas menções:
32
Versuch einer Übersetzung der Farbenlehre ins Französische.
33
Über Voßens Übersetzung des Agamemnon.
34
Franz Karl Leopold von Seckendorf-Aberdar (1775-1809) foi um poeta alemão, formou-se em
filosofia e era amigo de Goethe, Schiller e Wieland.
35
Lusiade von Camoens in der Seckendorfischen Übersetzung.
33
Para a obra Aus Meinem Leben. Dichtung und Wahrheit [Memórias: poesia e
verdade] foram encontradas 16 ocorrências divididas entre os livros (1º; 4º; 7º; 10º;
11º; 12º; 13º; 14º e 15º). Essas ocorrências manifestam descrições sobre noções de
traduções, processos tradutórios e análises de traduções. No entanto, devemos
ressaltar que Goethe escreve esse texto no limite entre ficção e realidade. Por isso é
recomendável termos cautela com essas descrições experienciadas e relatadas,
pois alguns fatos dessa narrativa podem não ser factuais. O título do livro convida
para essa leitura, pois a palavra Dichtung pode ser interpretada também como ficção
em oposição a Wahrheit (verdade ou realidade).
Por fim, a tradução do Wieland das "Sátiras" deixou-me infeliz, nem li duas
vezes e já estava enfurecido. (GOETHE, 1829/1998, Viagem à Itália, 11331,
tradução nossa)37
38
Goethe se refere à tradução de A Vida de Benvenuto Celline publicada em 1803.
39
Da ich mich in meinem Leben vor nichts so sehr als vor leeren Worten gehütet und mir eine
Phrase, wobei nichts gedacht oder empfunden war, an andern unerträglich, an mir unmöglich schien,
so litt ich bei der Übersetzung des »Cellini«, wozu durchaus unmittelbare Ansicht gefordert wird,
wirkliche Pein.
40
Die Damen, denen ich das Glück hatte noch immer am Mittwoche Vorträge zu tun, erkundigten sich
darnach, und ich säumte nicht, ihnen davon gewünschte Kenntnis zu geben. Unmittelbar ergriff ich
das Original und arbeitete mich bald dermaßen hinein, daß ich, den Text vor mir habend, Zeile für
Zeile eine verständliche Übersetzung vorlesen konnte. Es blieb der Ton, der Gang, und vom Inhalt
ging auch nichts verloren. Am besten glückt ein solcher Vortrag ganz aus dem Stegreife, weil der Sinn
sich beisammenhalten und der Geist lebendig-kräftig wirken muß, indem es eine Art von Improvisieren
ist Doch indem ich in das Ganze des poetischen Werks auf diese Weise einzudringen dachte, so
versäumte ich nicht, mich auch dergestalt vorzubereiten, daß ich auf Befragen über das einzelne
einigermaßen Rechenschaft zu geben imstande wäre.
35
41
Wie viel ich diesem würdigen Mann schuldig geworden, beweist mein Büchlein in allen seinen
Teilen. Längst war ich auf Hafis und dessen Gedichte aufmerksam, aber was mir auch Literatur,
Reisebeschreibung, Zeitblatt und sonst zu Gesicht brachte, gab mir keinen Begriff, keine Anschauung
von dem Wert, von dem Verdienste dieses außerordentlichen Mannes. Endlich aber, als mir im
Frühling 1813 die vollständige Übersetzung aller seiner Werke zukam, ergriff ich mit besonderer
Vorliebe sein inneres Wesen und suchte mich durch eigene Produktion mit ihm in Verhältnis zu
setzen. Diese freundliche Beschäftigung half mir über bedenkliche Zeiten hinweg und ließ mich zuletzt
die Früchte des errungenen Friedens aufs angenehmste genießen.
36
Wilhelm ocupou-se por um longo tempo de uma tradução de Hamlet. Ele fez
uso do brilhante trabalho de Wieland, pelo qual ele conheceu inicialmente
Shakespeare. (GOETHE, 1795-96/1998, Os Anos de Aprendizagem de
42
Wilhelm Meister, p. 5990, tradução nossa)
– Você não tem nada pra ler? – disse ela. Ele não tinha nada.
– Tenho ali na minha gaveta – prosseguiu ela – a tradução que você fez de
alguns cantos de Ossian; não os li ainda, esperando sempre que você
mesmo os lesse, mas nunca foi dada a ocasião para se fazer isso.
(GOETHE, 1774/1998, Os Sofrimentos do Jovem Werther, p. 5280,
tradução nossa)43
42
Wilhelm hatte sich schon lange mit einer Übersetzung Hamlets abgegeben; er hatte sich dabei der
geistvollen Wielandschen Arbeit bedient, durch die er überhaupt Shakespearen zuerst kennen lernte.
43
»Haben Sie nichts zu lesen?« sagte sie. - Er hatte nichts. - »Da drin in meiner Schublade«, fing sie
an, »liegt Ihre Übersetzung einiger Gesänge Ossians; ich habe sie noch nicht gelesen, denn ich hoffte
immer, sie von Ihnen zu hören, aber zeither hat sich's nicht finden, nicht machen wollen.«
37
pode suscitar desdobramentos que não vamos entrar no mérito da discussão neste
trabalho.
4.5 CONVERSAÇÕES
A sós com Goethe divagando sobre todo tipo de conversas, ele me disse,
que tinha a intenção de incorporar em sua obra a "Viagem pela Suíça no
ano de 1797”. Em seguida falou do "Werther", que não o leu mais do que
uma vez por cerca de dez anos após a sua publicação, mesmo com a
mudança tipográfica não teve interesse de reler. Falamos sobre traduções e
ele disse que para ele é muito difícil verter poemas ingleses para a língua
alemã. "Se queremos expressar as palavras dos ingleses literalmente, com
quatro sílabas ou explícita de modo não fragmentado, toda a força e efeito
serão perdidos”. (GOETHE, 1823/1998, Conversações, p. 30069, tradução
nossa) 44
44
Abends mit Goethe allein, in allerlei Gesprächen. Er sagte mir, daß er die Absicht habe, seine
›Reise in die Schweiz vom Jahre 1797‹ in seine Werke aufzunehmen. Sodann war die Rede vom
›Werther‹, den er nicht wieder gelesen habe als einmal, ungefähr zehn Jahre nach seinem
Erscheinen. Auch mit seinen andern Schriften habe er es so gemacht. Wir sprachen darauf von
Übersetzungen, wobei er mir sagte, daß es ihm sehr schwer werde, englische Gedichte in deutschen
Versen wiederzugeben. »Wenn man die schlagenden einsilbigen Worte der Engländer,« sagte er,
»mit vielsilbigen oder zusammengesetzten deutschen ausdrücken will, so ist gleich alle Kraft und
Wirkung verloren.«
38
45
Die Übersetzung muß, um des lateinischen Sprachgebrauchs willen, oft umschreiben und Phrasen
machen; aber vielleicht sind es eben diese Phrasen, die den Herren, welche sich nichts weiter dabei
denken wollten, am besten zu Ohre gingen.
39
4.8 AFORISMOS
No caso dos aforismos, uma ocorrência foi encontrada no livro Maximen und
Reflexionen [Máximas e Reflexões] (1833). No entanto, devemos tomar precauções
a essa modalidade, porque a manifestação de uma noção de tradução a partir de
aforismos implica invariavelmente em uma simplificação ou fragmentação.
46
Alle diese Gedichte sind uns durch Übersetzungen mitgeteilt, die sich mehr oder weniger vom
Original entfernen, so, daß wir nur ein allgemeines Bild ohne die begrenzte Eigentümlichkeit des
Originals gewahr werden. Der Unterschied ist freilich sehr groß, wie aus einer Übersetzung mehrerer
Verse unmittelbar aus dem Sanskrit, die ich Herrn Professor Kosegarten schuldig geworden, aufs
klarste in die Augen leuchtet.
40
No caso, esse aforismo faz uma crítica a Newton por usar uma tradução latina
muito antiga. O cuidado que se deve ter ao realizar uma abordagem de tradução em
relação aos aforismos é a implicação de uma visão redutora e simplista sobre
tradução.
O que ainda não foi levado em conta para uma reflexão sobre o pensamento
de tradução de Goethe? Em primeiro lugar, o que falta é um pensar reflexivo sobre o
que Goethe escreveu sobre tradução, tendo em vista responder perguntas como
quando, onde e por que esses textos existem. A partir disso, o trabalho se torna
produtivo porque é possível ter em vista uma abertura para desdobramentos futuros.
O levantamento de dados mostra que há, de fato, muito a ser explorado sobre
o que Goethe escreveu, pensou, falou, discutiu e fez sobre tradução. Esses dados
não encerram a discussão, pelo contrário, relatam à necessidade de uma
abordagem mais ampla sobre idéias de tradução presentes na obra goetheana. É
preciso lembrar que a busca não abrange todas as manifestações de um
pensamento tradutório e que o material utilizado não engloba a obra completa do
autor, portanto outros textos que ficaram de fora podem trazer um olhar diferente
para a questão, em especial as traduções feitas por Goethe.
estrangeiro e sua cultura nas traduções. Um fragmento retirado de uma carta escrita
em 1819 sobre uma tradução feita por Adolf Oswalt Blumenthal48 relata que o
tradutor (Blumenthal) só vai conhecer a particularidade de uma nação, se ele
perceber como essa nação se comporta no estrangeiro. Antes de dizer isso, Goethe
comenta uma passagem do Alcorão, que diz respeito ao envio de profetas para
doutrinar os povos, sendo que os profetas só são autorizados a doutrinar em língua
vernácula, i.e., o árabe. A seguir Goethe faz um paralelo dizendo que os alemães só
se tornaram um povo por causa de Lutero e aconselha Blumenthal a não esquecer
essas considerações no exercício de seu trabalho.
48
A edição digital (1998, p. 30060) menciona no índice de nomes que Adolph Oswald Blumenthal
estudava direito em Breslau.
42
5. CONCLUSÃO
____________________________________________________
REFERÊNCIAS
MILTON, John (1998): “Tradução: Teoria e Prática”. 2ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, (p. 61)
OBRAS DE REFERÊNCIA:
ANEXO