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NÚCLEO DE PÓS-

GRADUAÇÃO
CURSO DE EXTENSÃO
Coordenação Pedagógica – IBRA

DISCIPLINA

LITERATURA –EJA
SUMÁRIO

1 - LITERATURA ................................................................................ 3

1.1 - Conceito.................................................................................... 5

1.2 - Funções e influências ...............................................................6

2 - A LITERARUTA BRASILEIRA..................................................... 8

2.1 - Divisão da Literatura Brasileira ............................................. 10

3 - TEORIA LITERÁRIA ................................................................... 16

3.1 - Reflexões sobre o ensino da literatura ................................... 17

3.2 - Compreensão da relação entre literatura e ensino ................24

4 - COMUNICAÇÃO LITERÁRIA .....................................................26

4.1 - Criação ou produção? ............................................................ 27

4.2 - Gêneros literários ..................................................................29

5 - A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA EJA ............................ 31

5.1 - O perfil da EJA .......................................................................36

5.2 - Literatura e seu papel na educação da EJA ...........................42

5.3 - Formando de leitores.............................................................46

REFERÊNCIAS................................................................................. 51
1 - LITERATURA

Apesar da palavra literatura significar uso estético da linguagem


escrita; arte literária e originar-se etimologicamente da palavra letra (do
latim, littera, letra), a Literatura surgiu nos primórdios da humanidade,
quando o homem ainda desconhecia a escrita e vivia em tribos nômades,
à mercê das forças naturais que ele tentava entender através dos primeiros
cultos religiosos.

Fonte: https:Serra_da_Capivara

A definição mais antiga comumente usada pelos teóricos da


Literatura é aquela construída por Aristóteles. Para o pensador grego, a
Literatura seria uma imitação ou representação da realidade mediante as
palavras. Na época, o filósofo ainda dividiu a Literatura em três categorias
ou gêneros clássicos – o lírico, o épico e o dramático.
Atualmente, definir Literatura parece não ser tarefa tão simples. Isso
porque, a depender da civilização em que é escrita ou ainda da época da
produção, uma obra pode ou não ser considerada literária.

De todo modo, é possível dizer que Literatura é toda manifestação de


linguagem que tem como uma das finalidades a expressão estética – ou
seja, é Literatura um discurso que não pretende apenas comunicar algo,
mas também construir um dizer que seja belo ou envolvente em um nível
sensível e humanamente profundo.

Fonte: https://i.pinimg.com/originals

Lendas e canções eram transmitidas de forma oral através das


gerações. Com advento da escrita, as paredes das cavernas começaram a
receber pinturas e desenhos simbólicos que passaram a registrar a
tradição oral. Mais tarde surgiram novas formas para armazenar essas
informações, como as tabuletas, óstracos, papiros e pergaminhos. Dessa
maneira as primeiras obras literárias conhecidas são registros escritos de
composições oriundas de remota tradição oral.
1.1 - Conceito

Fonte: https://www.coladaweb.com/wp-content/uploads

Literatura é uma palavra com origem no termo em latim littera, que


significa letra. A literatura remete para um conjunto de habilidades de ler
e escrever de forma correta. Existem diversas definições e tipos de
literatura, pode ser uma arte, uma profissão, um conjunto de produções, e
etc.
Literatura é a arte de criar e compor textos, e existem diversos tipos
de produções literárias, como poesia, prosa, literatura de ficção, literatura
de romance, literatura médica, literatura técnica, literatura portuguesa,
literatura popular, literatura de cordel e etc. A literatura também pode ser
um conjunto de textos escritos, sejam eles de um país, de uma
personalidade, de uma época, e etc.
O conceito de literatura tem sido alterado com o passar dos tempos,
havendo alterações semânticas bastante relevantes. Para alguns povos
latinos, a literatura tinha um teor subjetivo, representando o
conhecimento dos letrados. Neste caso, a literatura não era contemplada
como objeto do conhecimento, que pode ser estudado. Os povos de língua
românica, inglesa e alemã não lhe alteraram o sentido, alteração que só
aconteceu na segunda metade do século XVIII, quando o termo passou a
designar o objeto de estudo, a produção literária, a condição dos
profissionais, etc. A literatura apresenta diversos gêneros, que agradam
vários gostos e que são direcionados públicos diferentes, como por
exemplo, a literatura de cordel, literatura infantil, etc.
Literatura também é uma disciplina no âmbito escolar, onde os
indivíduos estudam diversos autores e suas obras, suas contribuições para
a literatura brasileira, normalmente, e temas como a literatura portuguesa
e a literatura barroca também estão presentes, além do colégio, em provas
de vestibular.

1.2 - Funções e influências

Fonte: https://www.estudarfora.org.br/app

Em cada leitor, a Literatura relaciona-se de um jeito diferente. Para


alguns, ler um poema pode ser uma maneira de entender os próprios
sentimentos. Para outros, um romance pode funcionar como um modo de
conhecer um mundo diferente do seu. Há aqueles que podem encontrar
filosofias de vida em um texto literário. Outros ainda encontram uma
forma profunda de pensar a sociedade e a política lendo livros de
Literatura.
Não há, portanto, como dizer qual é a função da Literatura em si.
Não obstante, é possível dizer que ela tem papel fundamental na
construção do homem enquanto sujeito e cidadão. Por meio do texto
literário, é possível compreender a si mesmo e às diversas dinâmicas
sociais do mundo.
A Literatura teoricamente desempenha quatro funções: a catártica,
cognitiva, estética e político-social.
Lemos para que a palavra nos traga algum alento, consolo. Como é
gostoso quando lemos a Bíblia, uma frase ou um livro que nos estimula
quando estamos abatidos, nesse momento a Literatura está
desempenhando sua função catártica.
Quando lemos e percebemos o belo, um texto, um poema bem
escrito, o belo, a Literatura desempenha a sua função estética.
Um dos objetivos da Literatura é transmitir conhecimento, quando
lemos, sempre estamos aprendendo algo, nesse caso encontramos a
função cognitiva da Literatura.
A Literatura também tem o seu lado que nos faz sermos mais
críticos, a pensarmos se realmente estamos cumprindo nosso dever como
cidadãos, então encontramos a função político-social.
2 - A LITERARUTA BRASILEIRA

Fonte: https://images.pexels.com

A Literatura no Brasil nasceu a partir dos primeiros escritos de


viajantes e missionários europeus que documentavam informações sobre
a terra recém-colonizada. Embora esses primeiros escritos não possam ser
considerados como Literatura de fato, por estarem demasiadamente
presos à crônica histórica, são compreendidos como o ponto de partida
para a formação de nossa identidade literária e cultural.
A Literatura no Brasil está intrinsecamente ligada à Literatura
portuguesa. Durante muito tempo, toda produção literária esteve
subjugada ao pensamento português. A partir do Romantismo, nossa
Literatura emancipou-se, alcançou sua autonomia e criou manifestações
literárias próprias. Sendo assim, para facilitar o estudo de nossa literatura,
didaticamente ela foi dividida naquilo que conhecemos como Escolas
Literárias:

 Quinhentismo (1500 – 1601)


 Barroco (1601 – 1728)
 Arcadismo (1768 - 1836)
 Romantismo (1836 – 1881)
 Realismo e Naturalismo (1881 – 1922)
 Parnasianismo (1882 - 1922)
 Simbolismo (1893 - 1922)
 Pré-Modernismo (1902 - 1922)
 Modernismo (e suas outras correntes que alcançam a Literatura
contemporânea).

Cada uma das escolas literárias apresenta características temáticas


peculiares, cujos textos e autores aproximam-se em estilo e ideologia.
A história da literatura brasileira tem início em 1500 com a chegada
dos portugueses no Brasil. Isso porque as sociedades que aqui estavam
eram ágrafas, ou seja, não possuíam uma representação escrita.
Assim, a produção literária começa quando os portugueses
escrevem sobre suas impressões da terra encontrada e dos povos que aqui
viviam.
Ainda que sejam diários e documentos históricos, esses
representam, as primeiras manifestações escritas em território brasileiro.
2.1 - Divisão da Literatura Brasileira

A literatura brasileira é subdividida em duas grandes eras que


acompanham a evolução política e econômica do País.

Fonte: https://images.pexels.com/photos

A Era Colonial e a Era Nacional são separadas por um período de


transição que corresponde à emancipação política do Brasil.
As datas que delimitam fim e início de cada era são, na verdade,
marcos onde acentua-se um período de ascensão e outro de decadência.
As eras são divididas em escolas literárias, também chamadas de estilos de
época.
A Era colonial da literatura brasileira começou em 1500 e vai até
1808. É dividida em Quinhentismo, Seiscentismo ou Barroco e o
Setecentismo ou Arcadismo. Recebe esse nome pois nesse período o Brasil
era colônia de Portugal.
Quinhentismo
O Quinhentismo é registrado no decorrer do século XVI. Essa é a
denominação genérica de um conjunto de textos que destacavam o Brasil
como terra nova a ser conquistada. As duas manifestações literárias do
período são a literatura de informação e a literatura dos jesuítas.
A primeira possui um caráter mais informativo e histórico sobre o
país; e a segunda, escrito por jesuítas, reúne aspectos pedagógicos.
A obra que mais merece destaque é a Carta de Pero Vaz de Caminha.
Escrita na Bahia em 1500, o escrivão-mor da tropa de Pedro Álvares Cabral
descreve suas impressões sobre a nova terra para o rei de Portugal.
Barroco
O Barroco é o período que se estende entre 1601 e 1768. Tem início
com a publicação do poema Prosopopeia, de Bento Teixeira e termina com
a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, Minas Gerais. Barroco
literário brasileiro desenvolve-se na Bahia, tendo como pano de fundo a
economia açucareira. Dois estilos literários que marcaram essa escola
foram: o cultismo e o conceptismo.
O primeiro utiliza uma linguagem muito rebuscada e, por isso, é
também caracterizado pelo 'jogo de palavras'. Já o segundo, trabalha com
a apresentação de conceitos, portanto, é apontado como 'jogo de ideias'.
Um dos maiores representantes foi o poeta Gregório de Matos,
conhecido como "boca do inferno". Além dele, merece destaque o padre
Antônio Viera e seus Sermões.
Arcadismo
O Arcadismo é o período que se estende e 1768 a 1808 e cujos
autores estão intimamente ligados ao movimento da Inconfidência, em
Minas Gerais. Agora, o pano de fundo é a economia ligada à exploração do
ouro e das pedras preciosas. Além disso, destaca-se o relevante papel
desempenhado pela cidade de Vila Rica (Ouro Preto). A simplicidade, a
exaltação da natureza e os temas bucólicos são as principais características
dessa escola literária.
No Brasil, esse movimento tem início com a publicação de “Obras
Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. Além dele, merece
destaque o poeta Tomás Antônio Gonzaga e sua obra “Marília de Dirceu”
(1792). O período de Transição ocorre entre 1808 a 1836. É considerado
um momento inerte da literatura brasileira, marcado pela chegada da
Missão Artística Francesa, em 1816, contratada por Dom João IV.

A Era Nacional da literatura brasileira começa em 1836 e dura até


os dias atuais. Começa com o Romantismo e perpassa pelo Realismo,
Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-Modernismo,
Modernismo e o Pós-modernismo. Recebe esse nome pois ela aconteceu
após a Independência do Brasil, em 1822. Nesse período o nacionalismo é
uma forte característica, notória na literatura romântica e moderna.
Romantismo
Essa é a primeira escola literária a registrar um movimento
genuinamente brasileiro. O Romantismo no Brasil se inicia em 1836, com
a publicação da obra Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves
Magalhães. Perdura até 1881, quando Machado de Assis e Aluísio de
Azevedo publicam obras de orientação Realista e Naturalista.
O período romântico no Brasil está dividido em três fases. Na
primeira temos uma forte carga nacionalista, onde o índio é eleito herói
nacional (indianismo). Os autores mais importantes são José de Alencar e
Gonçalves Dias.
No segundo momento, os principais temas explorados estão ligados
com o pessimismo e o egocentrismo, onde destacam-se Álvares de
Azevedo e Casimiro de Abreu. Já na terceira fase, a mudança é notória
tendo a 'liberdade' como mote principal. Os principais representantes são
Castro Alves e Sousândrade.
Realismo
O Realismo no Brasil começa em 1881 quando Machado de Assis
publica Memórias Póstumas de Brás Cubas. As principais características
são o objetivismo e a veracidade dos fatos, os quais são explorados por
meio de uma linguagem descritiva e detalhada. Temas sociais, urbanos e
cotidianos são apresentados pelos escritores do período.
Oposto aos ideais românticos, a ideia era mostrar um retrato
fidedigno da sociedade. Além de Machado de Assis, merecem destaque
Raul Pompeia e Visconde de Taunay.
Naturalismo
O Naturalismo no Brasil tem início em 1881 com a publicação da
obra O Mulato de Aluísio de Azevedo. Paralelo ao realismo, esse
movimento literário também pretendia apresentar um retrato fidedigno
da sociedade, no entanto, com uma linguagem mais coloquial.
Da mesma forma que o movimento anterior, o naturalismo era
oposto aos ideais românticos e apresentava muitos detalhes nas
descrições. Entretanto, trata-se de um realismo mais exagerado onde suas
personagens são patológicas. Além disso, o sensualismo e o erotismo são
marcas dessa produção literária.
A obra O cortiço (1890) de Aluísio de Azevedo é um bom exemplo
da prosa naturalista desenvolvida no período. Além dele, destaca-se
Adolfo Ferreira Caminha e sua obra A Normalista, publicada em 1893.
Parnasianismo
O Parnasianismo tem como marco inicial a publicação da obra
Fanfarras, de Teófilo Dias, em 1882. Essa também é outra escola literária
que surge paralela ao realismo e o naturalismo. Todavia, sua proposta era
bem diferente e portanto, foi classificada de maneira independente.
Ainda que os autores do período escolhessem temas relacionados
com a realidade, a preocupação residia na perfeição das formas.
A "arte pela arte" é o mote principal do movimento. Nesse período
os valores estiveram essencialmente voltados para a estética poética, como
a métrica, as rimas e a versificação. Dessa maneira, houve uma forte
preferência pelas formas fixas, por exemplo, o soneto. Os escritores que se
destacaram nesse período formavam a "Tríade Parnasiana": Olavo Bilac,
Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
Simbolismo
O Simbolismo começa em 1893 com a publicação de Missal e
Broquéis, de Cruz e Souza. Ele vai até o início do século XX, quando ocorre
a Semana de Arte Moderna. As principais características dessa escola
literária são o subjetivismo, o misticismo e a imaginação.
Assim, os escritores do período, apoiados em aspectos do
subconsciente, buscavam compreender a alma humana exaltando a
realidade subjetiva. Destacam-se as obras poéticas de Alphonsus de
Guimarães e Augusto dos Anjos. Esse último, já apresenta algumas obras
de caráter pré-modernista.
Pré-Modernismo
O pré-modernismo no Brasil foi uma fase de transição entre o
simbolismo e o modernismo que ocorreu no início do século XX.
Aqui, já se via despontar algumas características modernas como a
ruptura com o academicismo e ainda, o uso de uma linguagem coloquial e
regional. A temática mais explorada pelos escritores do período estiveram
voltadas para a realidade brasileira com temas sociais, políticos e
históricos.Com uma grande produção literária, destacam-se os escritores:
Monteiro Lobato, Lima Barreto, Graça Aranha e Euclides da Cunha.
Modernismo
O Modernismo no Brasil é marcado pela Semana de Arte Moderna,
ocorrida em São Paulo em 1922. É o limite entre o fim e o início de uma
nova era na literatura nacional e nas artes como um todo.
Inspirado nas vanguardas artísticas europeias, o movimento
modernista propõe o rompimento com o academicismo e o
tradicionalismo. É assim que a liberdade estética e diversas
experimentações artísticas são apresentadas nesse momento.
Esse período foi dividido em três fases: a fase heroica, a fase de
consolidação e a fase pós-moderna.
Com uma intensa produção poética, muitos escritores se
destacaram: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira,
Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles,
Clarice Lispector, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Guimarães
Rosa, Graciliano Ramos, Vinícius de Moraes, dentre outros.
3 - TEORIA LITERÁRIA

Quando se discute a presença da literatura na escola, é pertinente


considerar as ideias de alguns autores, como Beach e Marshall, por
exemplo, no sentido de estabelecer distinções entre a leitura da literatura
e o ensino da literatura. A compreensão desses dois níveis implica posturas
distintas em face do objeto literário, o que, consequentemente,
influenciará a interação texto-leitor na escola.

Fonte: https://www.com.br/wp-content

A leitura da literatura está relacionada à compreensão do texto, à


experiência literária vivenciada pelo leitor no ato da leitura, ao passo que
o ensino da literatura configura-se como o estudo da obra literária, tendo
em vista a sua organização estética. Na verdade, esses dois níveis estão
imbricados, na medida em que ao experimentar o texto, por meio da
leitura literária, o aluno também deveria ser instrumentalizado, a fim de
reconhecer a literatura como objeto esteticamente organizado. No
entanto, a escola parece dissociar esses dois níveis, desvinculando o prazer
de ler o texto literário (produzido pela leitura da literatura) do
reconhecimento das singularidades estéticas da obra (proporcionado pelo
estudo/ensino da literatura).

3.1 - Reflexões sobre o ensino da literatura

Fonte: https://nova-escola-producao.

É preciso que a escola amplie mais atividades, visando à leitura da


literatura como atividade lúdica de construção e reconstrução de sentidos.
O aluno-leitor deve sentir-se motivado a ler o texto, independentemente
da imposição das tarefas escolares requeridas pelos professores. Contudo,
parece-nos que o contexto escolar privilegia mais o ensino da literatura,
no qual a leitura realizada pelos professores é diferente daquela efetivada
pelos alunos, pois a diversidade de repertórios, conhecimento de mundo,
experiências de leitura influenciam diretamente o contato do leitor com o
texto. Tanto a leitura da literatura, quanto o ensino da literatura deveriam
estar presentes no contexto escolar de modo articulado, pois são dois
níveis dialogicamente relacionados.
O desafio do professor é ajudar os alunos a elaborar ou rever suas
interpretações iniciais, sem descartar totalmente suas primeiras leituras.
O professor deve colaborar com os alunos, visando à
construção/reconstrução de interpretações e não simplesmente
apresentando leituras já prontas. Uma das formas de mapear alguns
problemas relacionados ao ensino de literatura é considerar a interação
entre professor, alunos e texto.
É preciso, ainda que o professor reconheça dois níveis de leitura.
Por um lado, há a leitura realizada pelo aluno que está construindo sua
interpretação a partir, muitas vezes, de um único contato com o texto. Por
outro lado, há a leitura do professor, em que entram fatores mais
complexos como o saber linguístico, bem como o conhecimento de dados
biográficos e do contexto histórico, enfim, a noção de elementos
instrumentais específicos da teoria e crítica literárias.
Ainda conforme os autores, o professor deve colocar o aluno frente
à diversidade de leituras do texto literário, para que o educando reconheça
que o sentido não está no texto, mas é construído pelos leitores na
interação com textos.
É justamente a partir dessa interação do aluno com textos que o
estudo da literatura em sala de aula torna-se significativo. É fundamental
valorizar o papel do leitor e transformar a visão ainda tradicional que
norteia a prática pedagógica de vários professores, baseada em análises
imanentes em face da obra literária. Objeto de análises superficiais, o texto
literário é geralmente tratado em sala de aula de modo isolado, como
espécie de expressão artística que por si só já carrega significação própria
e independe da atualização do aluno-leitor. Além disso, a escola cultiva
uma visão tradicional da literatura, considerada como um conjunto de
textos a ser admirado, ou ainda, caracterizada por um “bom estilo”, digno
de ser imitado pelos alunos. A concepção de literatura como objeto
artístico ancorado num processo histórico-social precisa ter uma
penetração maior no espaço de sala de aula.
A escola, a crítica literária, a academia e a imprensa são instituições
capazes de conferir e legitimar o estatuto de certas produções artísticas em
detrimento de outras.
Essas entidades estabeleceram e fixaram a concepção de literatura
enquanto “belas letras”, operada a partir da consolidação da sociedade
burguesa e do capitalismo, garantindo sua permanência. A seguir,
passaram a colocar normas e exigências aos criadores, que eles devem
adotar ou não para serem reconhecidos pelo meio e aceitos enquanto
artistas.
A noção da literatura como “belas letras”, ou como um conjunto de
textos marcados pelo uso de uma “bela linguagem”, promove, a nosso ver,
uma elitização das obras literárias, supervalorizando o cânone literário, o
que pode distanciar a literatura do aluno. A visão da escola sobre a
literatura difere consideravelmente da noção que o aluno leitor tem acerca
do literário. É preciso repensar os julgamentos de valores disseminados
pelas instituições que abordam a literatura sob prismas distintos (a escola,
a crítica literária, a imprensa, etc.), quando consideramos que cabe ao
leitor construir o seu próprio “cânone literário”, valorizando seu repertório
de leituras.
Nesse sentido, o texto literário não pode ser compreendido como
objeto isolado, sem as interferências do leitor, sem o conhecimento das
condições de produção/recepção em que o texto foi produzido, sem as
contribuições das diversas disciplinas que perpassam o ato da leitura
literária, inter/multi/transdisciplinar pela própria natureza plural do
texto literário.
Retomamos a conhecida citação de Barthes (In: LAJOLO, 1993: 15),
na qual o autor apresenta uma visão interdisciplinar da literatura: “se, por
não sei que excesso de socialismo ou barbárie, todas as nossas disciplinas
devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina literária que
devia ser salva, pois todas as ciências estão presentes no monumento
literário.” Mas essa visão da literatura como disciplina que envolve e
correlaciona outras áreas do conhecimento
(História, Filosofia, Geografia etc.) ainda precisa ser mais
difundida no espaço escolar.
O texto literário é plural, marcado pela inter-relação entre diversos
códigos (temáticos, ideológicos, linguísticos, estilísticos etc.) e o aluno
deve compreender a interação entre literatura e outras áreas que se inter-
relacionam no momento da constituição do texto. A leitura é um objeto
largamente transdisciplinar”, por isso qualquer discussão teórica sobre o
ato de ler deve considerar a reflexão sob uma perspectiva mais ampla que
envolva as diversas áreas atreladas à prática da leitura como fenômeno
sociocultural.
A literatura, concretizada a partir da leitura, também permite uma
abordagem interdisciplinar, capaz de revelar ao aluno o diálogo entre as
características estéticas do texto e as motivações históricas, sociais,
políticas, filosóficas e psicológicas que contribuíram para a constituição da
polissemia revelada no âmbito textual. No entanto, a literatura ainda
parece ser tratada em sala de aula como objeto descodificável, tendo como
base os limites estreitos da superfície textual e as noções do certo e do
errado. A partir dessas noções, a escola contesta a relatividade do erro na
leitura literária, não levando em consideração a natureza polissêmica do
texto literário e o papel dinâmico do aluno-leitor na recepção textual.
Vários são os fatores que dificultam o tratamento dado à literatura
em sala de aula, um deles refere-se à metodologia utilizada no Ensino
Médio, efetivamente orientada para o vestibular como um fim em si
mesmo. O objetivo principal de muitas escolas e diversos cursinhos é
ensinar para o vestibular, conquistar o maior índice de aprovação nos
exames.
Como explorar nos limites estreitos das questões objetivas,
impostas nos vestibulares, a plurissignificação do texto literário? Como
exigir que o aluno leia as entrelinhas, estabeleça a relação entre texto-
contexto e perceba a dimensão simbólica da literatura, se a metodologia
usada no Ensino Médio volta-se para uma leitura do texto já instituída pela
escola, pelo professor e pelos livros didáticos?
Pode-se constatar que, embora muito discutido do ponto de vista
teórico, o ensino de literatura continua sendo um desafio para
pesquisadores e professores. É preciso que as discussões teóricas não se
percam no vazio, mas que apresentem contribuições significativas para
propostas metodológicas sobre o tratamento do texto literário em sala de
aula. A escola tem papel primordial na formação de leitores/produtores de
textos e a literatura pode contribuir para o desenvolvimento dos alunos
como usuários da língua que ampliarão as estratégias comunicativas, a
partir da leitura crítica, compreensão e produção de textos diversos.
É necessário que o aluno compreenda a literatura como fenômeno
cultural, histórico e social, como instrumento político capaz de revelar as
contradições e conflitos da realidade. No diálogo entre o mundo empírico
e o universo ficcional, a literatura pode produzir um significado para o
contexto em que vivemos.
Ao trabalhar com a leitura literária, o professor deve orientar os
alunos para a função ideológica dos textos literários, na medida em que
“antes de se transformar em discurso estático, subverter a ordem provável
da língua para alcançar determinados efeitos de comunicação, a literatura
‘se alimenta’ na fonte de valores de cultura”. Na maioria das vezes, o aluno
não entende que a obra literária é produto de um contexto amplo e, por
conseguinte, visões de mundo, valores ideológicos de uma época,
costumes, enfim, a diversidade de elementos culturais participa
ativamente da constituição do texto.
Ensinar literatura não pode deixar de ter em conta esta dupla
dimensão dos textos literários pela qual, ao mesmo tempo que fazem parte
da cultura, e por conseguinte do campo da opinião ou das significações
consensuais, são sobretudo o abalar destas.
Assim, ensinar literatura não é apenas elencar uma série de textos
ou autores e classificá-los num determinado período literário, mas sim
revelar para o aluno o caráter atemporal, bem como a função simbólica e
social da obra literária.
O estudo da literatura poderia ser justificado por sua habilidade
para ajudar os alunos a compreenderem a si próprios, sua comunidade e
seu mundo mais profundamente.
É essa integração entre o texto literário e a dimensão sociocultural
que a escola deve proporcionar aos alunos, levando-os a perceber as
possibilidades de significação que o texto literário permite, enquanto
objeto artístico polissêmico que transgrida normas e regras, envolvendo o
leitor num jogo de construção /reconstrução de sentidos. No entanto, a
tarefa de apresentar ao aluno o caráter polissêmico da leitura literária,
valorizando a recepção do leitor na significação textual, ainda parece ser
um desafio no contexto escolar. Os alunos precisam entender o texto
literário como uma forma de (re)descoberta de sua própria identidade, por
meio da reescrita que se concretiza no ato de ler, momento em que o leitor
responde ativamente ao texto.
A obra literária oferece uma oportunidade de o leitor se envolver
numa experiência de reconstrução dos acontecimentos vividos pelas
personagens. Enquanto alguns críticos acreditam que é perigoso deixar o
texto à mercê simplesmente da concentração exclusiva das opiniões
pessoais dos alunos, precisa-se ajudar o aluno a desenvolver uma leitura
estética da obra. Os professores precisam encorajar os alunos para que
estes desenvolvam autonomia no ato da leitura. O papel do professor é
crítico ao selecionar obras que permitam uma interação mais produtiva,
além de utilizar questões que possam deixar clara a relação entre a
experiência do aluno e o texto.
Com base nessas reflexões, insistimos que a teoria literária precisa
subsidiar a prática pedagógica dos professores, no sentido de transformar
os alunos em leitores críticos da literatura. A sala de aula ainda é um
espaço marcado pelas abordagens formalistas e estruturalistas que
analisam o texto literário como produto acabado, sem valorizar a
interferência do leitor na atualização da significação textual. As
abordagens que priorizam a interação texto-leitor precisam ter mais
penetração no contexto escolar, a fim de se valorizar mais o papel
dinâmico do leitor na recepção textual.
A educação literária proposta pela escola merece ser reavaliada, a
fim de que nossos alunos-leitores possam encontrar razões concretas para
o estudo da literatura como fenômeno artístico atrelado às transformações
históricas, sociais e culturais. De que adianta “ensinar” os alunos a
memorizar características dos diferentes estilos de época, situando-se a
produção literária em “blocos monolíticos de períodos literários”, se os
educandos não conseguem ter uma compreensão mais ampla do objeto
literário?

3.2 - Compreensão da relação entre literatura e ensino

Fonte: https://cdn-images-1.medium.com

Talvez uma forma de repensar o processo de ensino-aprendizagem


da literatura na escola seria a busca de sintonia entre a prática pedagógica
dos professores e as contribuições da teoria literária. Elencamos, a seguir,
alguns objetivos que podem subsidiar o trabalho com o texto literário em
sala de aula:
• articular leitura crítica, análise e interpretação do texto literário,
visando atingir um discurso crítico desenvolvido pelo aluno, a partir do
reconhecimento das singularidades estéticas do fazer literário;
• apresentar distinções entre os gêneros literários, percebendo
também o diálogo entre características de diversos gêneros numa mesma
obra literária;
• analisar a obra literária sob uma ótica interdisciplinar,
reconhecendo as relações entre Literatura e Sociologia, Literatura e
História, Literatura e Psicanálise, entre outras;
• desenvolver estudos da obra literária baseados no
interculturalismo;
• considerar as diversas correntes teóricas que se debruçaram sobre
o fazer literário com perspectivas diferentes (Formalismo, Estruturalismo,
Pósestruturalismo, Sociologia da Literatura, Sociocrítica, Fenomenologia
da Leitura, etc.);
• estabelecer distinções entre Teoria da Literatura, Crítica Literária
e História da Literatura;
• desenvolver estudos intersemióticos, considerando as relações
entre literatura e outras expressões artísticas (literatura e pintura,
literatura e música, etc.).
Os tópicos levantados são apenas um breve resumo de alguns
subsídios teóricos que podem contribuir para minimizar as distâncias que
ainda existem entre a literatura e o leitor no espaço escolar. O fato de a
teoria literária refletir sobre o ato da leitura também pode trazer
repercussões significativas na escola, no sentido de estreitar as relações
entre texto-leitor, literatura-leitor, teoria-prática.
O não-reconhecimento das convergências entre leitura, literatura e
teoria literária é um obstáculo que, certamente, dificulta o trabalho dos
professores. É fundamental que se promova uma reavaliação das
metodologias direcionadas ao ensino de literatura, visando à exploração
de alternativas didáticas de ensino aprendizagem capazes de motivar os
alunos à leitura por prazer, à busca de conhecimento, à leitura crítica do
texto articulada com a compreensão crítica do mundo.

4 - COMUNICAÇÃO LITERÁRIA

A comunicação literária é mais complexa do que a comunicação


linguística por envolver uma rede de relações ambíguas entre os seus
interlocutores: o código do emissor-autor pode não ser reconhecido pelo
leitor-receptor, mesmo que pertençam à mesma comunidade linguística;
a descodificação da mensagem literária depende de fator subjetivos e
ideológicos.

Fonte: https://images.pexels.com
O texto literário é marcado pela conectividade e pela
plurissignificação, o que pode impedir a comunicação; a mensagem
literária é mais marcada por fatores culturais e sociais do que uma
mensagem não literária, além de que, por norma, utiliza o livro impresso
como meio de transmissão, o que implica a dependência de terceiros
(editores, livreiros, distribuidores) no processo de comunicação literária.
Um dos elementos do processo geral da comunicação que mais
pode interferir na concretização da comunicação literária é o código, que
aqui envolve subcategorias como a retórica, a poética, a métrica, as escolas
literárias, os géneros e os modos literários, etc., cujo conhecimento é
fundamental para que a comunicação se concretize em leitura.
A comunicação linguística não está tão dependente de
subcategorias (dialetos, regionalismos, pronúncias típicas, por exemplo)
como a comunicação literária: não é necessária uma aprendizagem escolar
para se dominar um dialeto, mas é necessário um treino técnico para
dominar a retórica de um texto. É, portanto, obrigatório o pre-
conhecimento de um conjunto de regras pragmáticas que possibilitam a
recepção e compreensão dos textos literários.

4.1 - Criação ou produção?

Emissor, receptor, destinatário, leitor

Derivada do latim, o termo comunicação significa “partilhar,


participar de algo, tornar comum”, sendo, portanto, um elemento
essencial da interação social humana. Os elementos que compõem a
comunicação são:
EMISSOR > CANAL - MENSAGEM> RECEPTOR

Fonte: https://images.pexels.com/photos

 Emissor: chamado também de locutor ou falante, o emissor é


aquele que emite a mensagem para um ou mais receptores, por exemplo,
uma pessoa, um grupo de indivíduos, uma empresa, dentre outros.
 Receptor: denominado de interlocutor ou ouvinte, o receptor é
quem recebe a mensagem emitida pelo emissor.
 Mensagem: é o objeto utilizado na comunicação, de forma que
representa o conteúdo, o conjunto de informações transmitidas pelo
locutor.
 Código: representa o conjunto de signos que serão utilizados
na mensagem.
 Canal de Comunicação: corresponde ao local (meio) onde a
mensagem será transmitida, por exemplo, jornal, livro, revista, televisão,
telefone, dentre outros.
 Contexto: também chamado de referente, trata-se da situação
comunicativa em que estão inseridos o emissor e receptor.
 Ruído na Comunicação: ele ocorre quando a mensagem não é
decodificada de forma correta pelo interlocutor, por exemplo, o código
utilizado pelo locutor, desconhecido pelo interlocutor; barulho do local;
voz baixa; dentre outros.
• A função expressiva (ou emotiva) está centrada no emissor;
• A função conotativa está orientada para o destinatário;
• A função referencial (denotativa ou cognitiva) está orientada para
o contexto;
• A função fática ocorre em mensagens que têm por finalidade
estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação, isto é, verificar se o
processo funciona;

• A função metalinguística está centrada no código, ocorre quando “o


emissor e/ou o receptor julgam necessário averiguar se ambos utilizam na
verdade o mesmo código”;

• A função poética está centrada na própria mensagem;

A comunicação está associada à linguagem e interação, de forma que


representa a transmissão de mensagens entre um emissor e um receptor.

4.2 - Gêneros literários

Os gêneros literários reúnem um conjunto de obras que apresentam


características análogas de forma e conteúdo. Essa classificação pode ser
feita de acordo com critérios semânticos, sintáticos, fonológicos, formais,
contextuais, entre outros. Eles se dividem em três categorias básicas:
gêneros épico, lírico e dramático. Vale salientar também que, atualmente,
os textos literários são organizados em três gêneros: narrativo, lírico e
dramático.

Fonte: https://s3.amazonaws.com/cdn.leiturinha.com.br

Gênero épico ou narrativo: No gênero épico ou narrativo há a


presença de um narrador, responsável por contar uma história na qual as
personagens atuam em um determinado espaço e tempo. Pertencem a esse
gênero as seguintes modalidades: Épico; Fábula; Epopeia; Novela; Conto;
Crônica; Ensaio; Romance.
Gênero lírico: Os textos do gênero lírico, que expressam
sentimentos e emoções, são permeados pela função poética da linguagem.
Neles há a predominância de pronomes e verbos na 1ª pessoa, além da
exploração da musicalidade das palavras. Estão, entre as principais
estruturas utilizadas para a composição do poema: Elegia; Ode; Écloga;
Soneto.
Gênero dramático: De acordo com a definição de Aristóteles em
sua Arte Poética, os textos dramáticos são próprios para a representação e
apreendem a obra literária em verso ou prosa passíveis de encenação
teatral. A voz narrativa está entregue às personagens, atores que contam
uma história por meio de diálogos ou monólogos. Pertencem ao gênero
dramático os seguintes textos: Auto; Comédia; Tragédia; Tragicomédia;
Farsa.

5 - A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA EJA

A educação de jovens e adultos é uma tarefa tão importante e tão complexa


que exige uma ação efetiva por parte dos educadores e da sociedade.

Fonte: https://envolverde.cartacapital.com.br

Nenhuma contribuição pode ser dispensada e, além do mais, é preciso que


ela aconteça de uma forma solidária. Para que possamos avançar com
consistência, nessa direção, será necessário fazer o caminho que nos afaste
cada vez mais da omissão do ensino de literatura na educação de jovens e
adultos (EJA).
A educação brasileira clama por transformações que proporcionem
um ensino de qualidade, que venha promover a interação entre indivíduos,
atendendo assim, os anseios do aluno, em especial na modalidade
educacional de jovens e adultos, que vem se desenvolvendo a passos
lentos. Na esteira da orientação e da prática do ensino de EJA,
compreende-se que um dos meios mais relevantes de aprendizado, é a
consonância entre ideias pedagógicas emanadas da cultura literária, sendo
essa capaz de consolidar uma ação político-pedagógica que tenha como
horizonte educar para a cidadania. No caso do trabalho com a literatura é
necessário que apaguemos a ideia de que o ato de ler significa a decifração
do material escrito.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais recomendam ir além dessa
perspectiva. Na escola, uma prática de leitura intensa é necessária por
muitas razões: pode ampliar a visão de mundo e inserir o leitor na cultura
letrada; estimular o desejo de outras leituras; possibilitar a vivência de
emoções, o exercício da fantasia, da imaginação e ainda expande o
conhecimento da própria leitura.
Apesar de tantas inovações trazidas com a modernidade, algo
certamente permanece incólume nos dias atuais: a relevância da tradição
literária em língua portuguesa. Uma vez que essa atende a necessidade de
pensar e sentir as diferentes estratégias de expressão de nossa língua.
Portanto, considera-se o saber literário como de fundamental
importância para a educação de jovens e adultos, já que esse revela os
costumes, as angústias, as conquistas e derrotas de conjuntos sociais que
igualmente ascenderam e decaíram ao longo da história.
Acredita-se, que dessa forma, estaremos criando novas alternativas
que viabilizem a chamada pedagogia da libertação, garantindo assim, uma
educação de qualidade que articula as forças que possui dentre o contexto
literário, como universo educativo, que visa uma plena participação do
educando na sociedade.
Ser leitor na perspectiva literária é estar em condições de interpretar,
compreender, construir significados e refletir sobre o material lido, a partir
do envolvimento com as práticas sociais e à vida cotidiana. Nesse sentido,
é lendo que adquirimos novos conhecimentos, desafiamos nossa
imaginação e descobrimos o prazer de pensar e sonhar. Relacionando-se a
leitura ao desenvolvimento intelectual e social do educando, enfocamos o
pensamento de Freire: “A educação de jovens e adultos deve ser repensada
como um processo permanente, devendo ter a leitura críco-
transformadora, contrário a leitura de caráter memorístico”.

Na ótica dos estudos a respeito da literatura, compreende-se que


compete hoje ao ensino da literatura não mais a transmissão de um
patrimônio já construído e consagrado, mas a responsabilidade pela
formação do leitor. A execução dessa tarefa depende de se conceber a
leitura não como resultado satisfatório do processo de alfabetização e
decodificação de matéria escrita, mas como atividade propiciadora de uma
experiência única com o texto literário. Nessa perspectiva, a literatura tem
por objetivo, não somente relacionar símbolos escritos, mas também
centralizar-se nos aspectos individuais e sociais do indivíduo.

A palavra cria mundos, é ativa e ativadora. Com a palavra criamos o


passado, o presente e o futuro. A palavra tem o poder de “arrumar”,
“organizar”, nossa percepção e expressá-la. A palavra dá forma à realidade.
Dá realidade a realidade. Entende-se, que por esses viés, a ausência, tanto
quanto a presença da literatura em uma sociedade são fatores importantes
que atuam ao mesmo tempo como causa e consequência de
transformações econômicas, sociais, políticas e culturais. Pode-se notar
quando se ouve alunos da EJA, que procuraram a escola com o sonho de
adquirir habilidade de leitura e ter sob essa habilidade, a possibilidade de
reclamar por condições mais dignas de vida. Portanto, é perceptível
através dessa reivindicação a consciência de que aprender a ler, se não é
condição essencial para o direito à cidadania, a leitura literária constitui-
se como recurso auxiliar para tal fim. Nesse estágio, nota-se a relação de
natureza crítica que se estabelece entre o ensino de literatura e a educação
de jovens e adultos.

A literatura não existe num vácuo. Os escritores, como tais, têm uma
função social definida, exatamente proporcional à sua competência como
escritores. A literatura representa o coroamento de um processo histórico
de transformação e diferenciação no uso de instrumentos mediadores. Em
termos sociais mais amplos, a fruição da obra literária cria o desejo de
reconstruir, de um lado o imaginário, dando força e suporte ao trabalho de
reconstrução; de outro a consciência intuitiva, sendo analisada em
benefício da visão crítica, o real informado pelo escritor é concebido como
o somatório das práticas cotidianas. Pensando assim, entende-se que todo
leitor possui um conjunto de leituras já feitas, que podem configurar, em
parte, a compreensibilidade de um texto literário. Queremos priorizar aqui
a educação de jovens e adultos, uma vez que essa busca eleva a
competência social e intelectual do homem de baixa renda.

Reflete, por essa ótica, que em sociedades letradas o conhecimento


literário é visto como competência essencial para o exercício pleno da
cidadania, o que sugere o desenvolvimento de projetos educativos
comprometidos em desenvolver essas competências, entre as mais
diferentes esferas sociais, o que delega à escola a responsabilidade de
garantir ao sujeito o acesso aos saberes literários à sua formação. A escola
exclui de seu espaço o fato de que o aluno convive em seu cotidiano com
diferentes formas de linguagem.
A escola em geral, trabalha com um problema que é grave para o
educando: utiliza a literatura e a leitura adaptadas por um efeito retórico
às necessidades educacionais, ou seja, pensa o trabalho com o texto apenas
como um conjunto de códigos. Enfatizando assim, questões ligadas ao
fracasso da escola na formação do gosto pela literatura, como leitura crítica
e prazer da leitura. Ao tratar da prática literária na educação de jovens e
adultos, faz-se necessário implementar uma organização curricular que
permita ao aluno trabalhar com a literatura, desafiando sua compreensão
e ao mesmo tempo fornecendo-lhe as condições para que esse desafio seja
assumido de forma plena. Para essa efetivação não se pode dispensar a
convivência múltipla, aberta e total com o texto literário.

A fragilidade do sistema educacional brasileiro requer políticas


educacionais verdadeiramente comprometidas com uma educação de
qualidade, voltada para a formação de cidadãos conscientes, objetivando
mudanças que levem a uma sociedade mais justa, compreendendo o
acesso à cultura letrada como algo que possibilitará uma participação ativa
no campo do trabalho, da política e da cultura como instrumento
indispensável para uma presença significativa na convivência social
contemporânea.

Para a efetivação desses desejos, entende-se que deve haver mudanças


no ensino de nosso país, sobretudo na modalidade EJA. Pois, constata-se
que mesmo havendo consciência de que o ensino da literatura exerce uma
excelente contribuição na aprendizagem, é deixado “de lado”, ou seja,
muitas vezes é até esquecido na educação de jovens e adultos. Foi possível
perceber que tal fato acontece devido às questões ligadas ao tempo
resumido de curso (EJA/PROEJA); além dos professores da disciplina de
Língua Portuguesa, serem, em sua maioria, de outras áreas de formação e
não da área de Letras, assim sendo, esses docentes são condicionados a
priorizarem o ensino da gramática normativa de forma
descontextualizada, focando outros tipos de leituras, implicando nas
condições de aprendizagem com o estudo do texto literário dentre suas
múltiplas propriedades.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, é importante que o


trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas de
sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento. Essa
forma de construção da experiência humana possui propriedades que
devem ser mostradas, discutidas e consideradas quando se trata de ler as
diferentes manifestações contidas no texto literário. Direcionando para o
campo educacional amplo, é de conhecimento geral que mudanças são
difíceis, tanto quanto possíveis; assim, destaca-se a necessidade de um
olhar reflexivo voltado para aspectos mais gerais. Devendo-se dar ênfase
para as seguintes questões: É indispensável um maior conhecimento,
acesso e divulgação de resultados de pesquisas sobre o ensino de literatura
na modalidade da educação de jovens e adultos. Faz-se necessária a
exigência aos poderes públicos de uma seleção justa de profissionais, que
possam lecionar em suas devidas áreas de formação, além de uma política
de formação continuada para os educadores da EJA, tendo como um dos
eixos norteadores o fenômeno da leitura, com seus aspectos teóricos e
práticos, dada sua relevância no contexto escolar enquanto atividade
integradora de saberes.

5.1 - O perfil da EJA

A educação no Brasil desde muito tempo vem buscando propostas e


projetos de ensino visando ajudar o aluno, tentando oferecer aos
professores melhores condições de ensino e qualificação de trabalho.
Fonte: https://imediatoonline.com

Embora muitos dessas propostas e projetos acabam esbarrando em


falta de políticas de governo que ofereçam realmente trabalhos de
comprometimento com a educação e sociedade. Quando se pensa em
educação é importante destacar que precisa rapidamente de
transformações e investimentos que proporcionem um ensino de
qualidade para atender os anseios do aluno, em especial na modalidade
educacional de jovens e adultos, que vem se desenvolvendo no Brasil há
alguns anos, mas com uma realidade ainda muito precária.

Segundo o documento base do MEC (2007, p.9): A educação de


jovens e adultos (EJA) no Brasil, como modalidade nos níveis
fundamental e médio, é marcada pela descontinuidade e por tênues
políticas públicas, insuficientes para dar conta da demanda potencial e
do cumprimento do direito, nos termos estabelecidos pela Constituição
Federal de 1988. Essas políticas são, muitas vezes, resultantes de
iniciativas individuais ou de grupos isolados, especialmente no âmbito
da alfabetização, que se somam às iniciativas do Estado.

No entanto, as políticas de EJA não acompanham o avanço das


políticas públicas educacionais que vêm alargando a oferta de
matrículas para o ensino fundamental, universalizando o acesso a essa
etapa de ensino ou, ainda, ampliando a oferta no ensino médio, no
horizonte prescrito pela Carta Magna.

As lutas sociais têm impulsionado o Estado a realizar, na prática, as


conquistas constitucionais do direito à educação, processualmente
instaurando a dimensão de perenidade nas políticas, em lugar de ofertas
efêmeras, traduzidas por programas e projetos.

A educação é um processo contínuo e de direito de todos. Contudo,


um dos grandes problemas existente no contexto histórico escolar
brasileiro é a inclusão de pessoas que por sua condição de vida ou
problemas de diversos gêneros foram excluídas do contexto educacional.
Essa exclusão acontece com jovens e adultos analfabetos, que por uma
série de problemas e dificuldades, não foram alfabetizadas no período
considerado regular de escolaridade.

O Ensino de Jovens e Adultos no Brasil (EJA) está inserido na meta


do Estado brasileiro de erradicar o analfabetismo juntamente com a de
proporcionar à população cuja faixa etária não se adéqua mais ao ensino
fundamental e Ensino Médio, a complementação de sua formação escolar.
Embora as cartilhas do governo enfatizem a necessidade de promover
entre os sujeitos do EJA o aprendizado para a formação escolar, também
está enfatizada a formação de sujeitos sociais críticos e aptos a lidar com
as exigências de um mundo em transformação. Mas o que se observa, na
prática, são pessoas voltando aos bancos das salas de aula em busca de
uma certificação básica, a fim de, em sua maioria, estarem mais aptos ao
mundo do trabalho.

Para que o professor possa atuar oferecendo aos jovens e adultos uma
educação de qualidade é preciso que ele atue primeiro como pesquisador,
construindo os instrumentos didáticos mais adequados às diversidades
existentes nas turmas da EJA. Dessa forma, o professor poderá possibilitar
aos estudantes a formação para interagir com o meio social e conseguir
inserção e permanência no mercado de trabalho. Esse processo de
pesquisa do professor exige tempo para ler, para planejar metodologias e
objetivos didáticos apropriados.

Mas nessa construção de saberes na modalidade da EJA, o que não


falta são problemas, desde material didático adequado até mesmo falta de
estrutura física ideal para o aprendizado que funciona no horário noturno.
Os alunos da EJA ainda vivenciam problemas como de conciliar horários
de trabalho, escola e família. Essas questões são vivenciadas pelos alunos
que lutam para concluir seus estudos sem abdicar o cotidiano familiar e
compromisso do emprego.

Destaca-se a visão de mundo de uma pessoa que volta a estudar já em


idade adulta ou mesmo daquela que inicia sua trajetória escolar nessa fase
da vida é diferente do aluno regular. São protagonistas de histórias reais e
com uma bagagem de vida. São pessoas que chegam à escola com suas
crenças e valores. A EJA recebe alunos com traços de vida, origens, idades,
vivências profissionais, históricos escolares, ritmos de aprendizagem e
estruturas de pensamentos completamente diferentes. Cada realidade
corresponde a um tipo de aluno, são pessoas que trabalham, têm
responsabilidades sociais e familiares, com valores éticos e morais
formados a partir da experiência, do ambiente e da realidade cultural que
fazem parte.

A EJA apresenta problemas de diferentes ordens, entretanto, para


nossas discussões será priorizado o problema de leitura. Pensar na
possibilidade da leitura literária para esse público especificamente. Apesar
do ensino de Literatura já ser amplamente discutido, no que se refere ao
ensino de literatura para alunos em idade escolar, ainda existem lacunas
no contexto da EJA.

É importante estabelecer a distinção entre o leitor enquanto sujeito


que reúne condições básicas para entender as letras e formar palavras para
o leitor literário que consegui ir além do que está proposto nos códigos de
linguagem. Nesse sentido, a expressão “leitor literário” amplia o conceito
usual de leitor e alcança uma estrutura de saber que engloba construção
de sentidos nos mais variados gêneros e que não se limita à simples
reprodução de ideias deixadas pelo autor de determinado texto. Pensar a
formação do “leitor literário” é ampliar os modos de ler. Dessa forma,
desenvolver um trabalho que visa uma leitura mais ampla com a inserção
da participação do leitor dialogando com o texto.

Na conjuntura da orientação e da prática na EJA, compreende-se


como ponto importante o aprendizado da língua de forma que o aluno seja
capaz de interagir e compreender os gêneros textuais, abandonando a ideia
de que o ato de ler significa apenas decifrar letras de algum registro da
escrita. A atividade de leitura completa a atividade de produção escrita.
Assim, uma atividade de leitura deve estabelecer uma interação entre
sujeito e leitura, e não apenas uma simples decodificação das letras.
O leitor, como um dos sujeitos da interação, atua participando,
buscando interpretar e compreender o conteúdo e as intenções
pretendidos pelo autor. Na escola, para concluir com sucesso a prática de
leitura, é necessária ampliar a visão de mundo e inserir o leitor na cultura
letrada, estimular o desejo de outras leituras, possibilitando a vivência de
emoções, o exercício da fantasia, da imaginação e ainda expandir o
conhecimento da própria leitura. Podemos observar que boa parte dos
professores de Língua Portuguesa tem inserido em sua prática docente a
diversidade de textos.

Existe hoje uma grande preocupação em trabalhar em sala de aula os


gêneros textuais e suas aplicações. Entretanto, ao que diz respeito às
manifestações literárias, estas ficam reservadas as rápidas descrições de
pequenos trechos de obras, narrativas curtas ou crônicas em livros
didáticos para trabalhar os elementos linguísticos e compreensão textual.
Uma das razões que possivelmente determine isso é o fato de permanecer
na esfera escolar o ultrapassado modelo de tratamento do texto: leitura
silenciosa, em voz alta, estudo lexical e as questões de interpretações
textuais.

O Brasil ainda não é um país de leitores, situação determinada por


fatores de natureza social, econômica, política, histórica, cultural. No
entanto, existe hoje especial sensibilidade para esse assunto, traduzidas
em inúmeras iniciativas, públicas e privadas, para promover a leitura.

Não podemos esquecer, porém, que muitos professores não tiveram


as condições necessárias para se desenvolverem devidamente como
leitores e, às vezes, pensam ser deficiência pessoal o que, na verdade,
provém de âmbito muito mais amplo, com a dívida social do país com seu
povo. Pretende-se analisar e fazer algumas considerações sobre o ensino
de Literatura na EJA, visando contribuir para a construção de um diálogo
que a literatura deve estabelecer com a educação, destacando assim sua
importância na construção da identidade desses educandos e dos reflexos
desse aprendizado em suas vidas profissionais. É possível fazer com que
os alunos da modalidade EJA percebam que são capazes de ler e
compreender textos literários?

5.2 - Literatura e seu papel na educação da EJA

Fundada na tradição oral e mais tarde a potência simbólica da escrita,


a literatura narra de forma muito especifica a história das civilizações. De
todas as formas de arte a literatura é a mais próxima da vida, uma vez que
reúne uma complexa ligação com a condição do homem dentro da
sociedade transitando entre a realidade e imaginação no processo de
construção do texto literário.

Fonte: https://images.pexels.com/photos
Podemos conceituar a Literatura no sentido amplo e no sentido
restrito, no sentido amplo, a literatura é tudo o que impresso, é todos os
livros que a biblioteca contém. Essa concepção corresponde à noção
clássica das quais compreendiam tudo o que a retórica e a poética podiam
produzir, não somente a ficção, mas também a história, a filosofia e a
ciência, e ainda toda eloquência. Por outro lado, no sentido restrito, a
Literatura varia consideravelmente segundo as épocas e culturas.

As manifestações literárias podem envolver adesão, transformação ou


ruptura em relação à tradição linguística, à tradição retórico-estilística, A
tradição técnico-literária ou a tradição temático-literária às quais
necessariamente está vinculado o trabalho do escritor. A literatura se abre
então, plenamente, à criatividade do artista. Em seu percurso, ele envolve
a constante invenção de novos meios de expressão ou uma nova utilização
dos recursos vigentes uma determinada época.

A Literatura desperta o indivíduo para mundo de ideias, tendo


influência direta no seu comportamento. A escrita literária faz com que o
homem parta para a emancipação de suas amarras ideológicas. A leitura
crítica e reflexiva pode libertar o leitor e direcioná-lo uma nova percepção
das coisas e de mundo.

Fonte: https://images.pexels.com
A literatura com um modo de circulação socialmente privilegiado,
mas com uma linguagem profunda e de segredos, dada ao mesmo tempo
como sonho e ameaçadora. A forma literária pode provocar os sentimentos
existentes que estão atados ao interior vazio de todo objeto: sentido do
insólito, familiaridade, repugnância e complacência.

O perfil dos alunos da EJA são aqueles que procuraram a escola


dispostos em adquirir habilidade de leitura e ter sob essa habilidade a
possibilidade de reclamar por condições mais dignas de vida e acessão
social, desde posicionamento profissional a participação ativa na
comunidade que estão inseridos. Portanto, é perceptível através dessa
reivindicação e a consciência de que aprender a ler é condição essencial
para o direito à cidadania. A leitura através da Literatura constitui-se como
recurso importante para tal fim. Nesse estágio, nota-se a relação de
natureza crítica que se estabelece entre o ensino de Língua Portuguesa e a
educação de jovens e adultos.

Por meio da Literatura, o aluno aumenta suas capacidades cognitivas


de aprendizagem possibilitando assumir uma atitude crítica em relação ao
mundo, advinda das diferentes mensagens e indagações que a literatura
oferece. O professor de Língua Portuguesa não pode negar de colocar em
sua prática leituras de comentários ou interpretações que estimulem nos
estudantes à sensibilidade, o senso crítico, a capacidade argumentativa, e
seja assim susceptível mostrar os caminhos para o universo literário.
Nessa perspectiva, a Literatura tem por objetivo, não somente relacionar
símbolos escritos, mas também centralizar-se nos aspectos individuais e
sociais.

A problemática é maior ainda, pelo fato da Literatura não fazer parte


do currículo ou quadro de disciplinas das escolas, vista como uma
disciplina desnecessária ou apenas destinadas a uma parte pequena do
tempo das aulas de Língua Portuguesa, de pouca utilidade prática, ou
como uma atividade ligada à arte que apenas serve para o entretenimento.
E ainda, que os livros são caros e “chatos”. Tendo em vista também que
boa parte do professorado não tem o hábito de leitura.

Muitos professores não percebem na literatura uma forma reflexão da


linguagem e dos valores sociais. Entretanto, a Literatura na escola propicia
a exploração de inúmeras possibilidades de educação no desenvolvimento
da leitura e escrita, além do social, emocional e cognitivo do aluno.

São muitas histórias que um escritor pode contar. Mas ele escolhe
uma possibilidade, um recorte entre infinitos outros que poderia ter feito,
e compõe um texto. É por esse recorte que embarcamos na leitura: um
deslocamento no tempo, no espaço, uma travessia ao final da qual a
própria experiência da vida real pode ser compreendida de outro modo.

Ao longo dos anos, o sistema educacional brasileiro tenta oferecer


uma educação de qualidade, preocupada com a formação de um indivíduo
crítico, responsável e atuante na sociedade. Diante disso, as escolas
buscam desenvolver no aluno as competências da leitura e da escrita, mas
os professores quase sempre ficam presos às atividades e práticas dos
livros didáticos. Ainda, mesmo com muitas campanhas de importância da
leitura na vida das pessoas, temos escolas que não possui uma biblioteca
própria para ofertar os alunos um espaço de leitura e disponibilização de
livros.
5.3 - Formando de leitores

Fonte: https://images.pexels.com

No Brasil, ainda muitos jovens abandonam a escola, isto porque


vivemos num país com uma série de problemas sociais, muitos de nossos
alunos buscam o mercado trabalho mais cedo, seja por ansiedade ou
necessidade. Outro fator de abandono é o desinteresse pelo modelo de
ensino ofertado que às vezes não corresponde às expectativas. Mais tarde,
já adultos, esses alunos se veem obrigados a retornar à escola, pois a
sociedade lhes impõe o domínio pleno da leitura e escrita, e também
devido ao universo de informações com as quais se deparam. Outros pela
necessidade de se manterem no mercado de trabalho.
Os alunos da EJA apresentam saberes prévios e intuitivos ao ingressar
nessa modalidade de ensino. Trazem consigo experiências como
indivíduos que já estão inseridos no trabalho e constituíram família.

O importante é pensar no conceito de educação para jovens e adultos;


desejo de aprender a ler eles têm, só que de uma maneira mais ampla,
característica de quem já tem experiência de vida, uma leitura que vai além
de ler apenas palavras.

Os alunos da EJA trazem consigo uma visão de mundo influenciada


por seus traços culturais de origem e por sua vivência social, familiar e
profissional. Podemos dizer que eles trazem uma noção de mundo mais
relacionada à prática do cotidiano, ao ver e ao fazer. Ao escolher o caminho
da escola, eles são levados a operar uma ruptura nessa sua vivência e
passar a refletir sobre suas práticas. Essa ruptura leva a uma interrogação
que passa a acompanhar o caminho desses alunos, deixando-os
preparados para usar o olhar crítico. Uma prática adequada dentro do
espaço escolar proporcionará a esses alunos a possibilidade de ficarem
abertos à aprendizagem, receptivos, sensíveis, e também ativos: capazes
de explorar, investigar, pensar e interferir no que olham.

As atividades com o texto deverá ser conduzida de forma a evidenciar


um amplo campo de possibilidades. Dessa forma destacamos alguns
pontos importantes para o trabalho de literatura em sala de aula da EJA:

● Não ignore a experiência do aluno da EJA, leve textos literários


diversos, comece pelos curtos que possam ser lidos em sala de aula como
contos, crônicas, poemas e outros; depois direcione a leitura com textos
com propriedades maiores para serem lidos em casa com tempo pré-
determinado.

● Abra para discussão, para o debate, deixe que os alunos contem suas
experiências com a leitura.

● Faça sugestões de obras, comete suas leituras e comente também


das adaptações de algumas obras para a televisão e cinema.

● Mostre as possibilidades de conseguir os livros como bibliotecas


públicas e internet.

● Não forçar uma determinada leitura, não obrigar a ler somente os


clássicos, gênero ou cânones, o professor deve ser flexível para ouvir e levar
obras que criem curiosidade e expectativa nos alunos.

● Mostrar entusiasmo pela leitura, o professor com formação em


Letras tem que ter também o gosto pela leitura e dividir suas experiências
de leitura com os alunos.

Também é importante que o aluno da EJA frequente espaços


mediadores de leitura: lançamentos, exposições, palestras, debates,
depoimentos de autores, seções especializadas em revistas, dentre outros,
dessa forma, o professor deverá mediar essas possibilidades criando
estratégias criativas que lhe possibilitem vislumbrar e apropriar-se dessa
cultura. Hoje a internet é uma ferramenta ideal para trazer o mundo para
dentro de sala de aula e que pode facilitar a aproximação da arte e alunos.

Na menção a textos de linguagens diversas em prosa e poesia, além do


livro, incluímos jornal, revista, cordel, música, propaganda, quadrinhos,
para citar algumas. O hipertexto propicia novos olhares sobre a leitura dos
livros. É inegável o seu papel na diversidade de ofertas da produção
cultural de nossos dias.

A escolha criteriosa e perspicaz do texto assume papel fundamental,


levando ao prazer e ao conhecimento. Quando os alunos externam suas
ideias e as defendem, a forma como se expressam se aperfeiçoa. Criar
situação de exposição pública, deixando os mais seguros e confiantes. A
maioria não se expressa fluente e corretamente. Cabe ao professor
incentivá-los e proporcionar com frequência momentos para que tais
comportamentos sociais se multipliquem, com resultados animadores
para a linguagem oral.

O trabalho oral com o texto é mais estimulante e com resultados mais


imediatos, quando reservado o espaço para perguntas escritas, mas
respeitando o ritmo lento da maioria, sem exagero na quantidade de
formulações. Talvez duas ou três perguntas objetivas com respostas
previsíveis e outras discursivas, de cunho crítico, mas subjetivas, com
avaliações possíveis na própria aula.

A literatura é influenciada pelos acontecimentos, pelo modo de pensar


e de agir, pelos princípios filosóficos e epistemológicos que orientam as
sociedades. Como modalidade de conhecimento, a literatura permite a
reflexão sobre os diferentes problemas que os seres humanos vivenciam e
através da experiência da leitura que o indivíduo poderá ficar mais
preparado para enfrentar os desafios cotidianos.

A fragilidade do sistema educacional brasileiro requer políticas


educacionais verdadeiramente comprometidas com uma educação de
qualidade, voltada para a formação de cidadãos conscientes, objetivando
mudanças que levem a uma sociedade mais justa, compreendendo o
acesso à cultura letrada como algo que possibilitará uma participação ativa
no mercado de trabalho, da política e da cultura como instrumento
indispensável para uma presença significativa na convivência social
contemporânea.

Trabalhar a Língua Portuguesa não é apenas reproduzir


conhecimentos já estabelecidos, é discutir a relação do sujeito e seu estar
no mundo, o aluno precisa estar inserido em um processo que o faça
desenvolver seu espírito crítico. A Literatura favorece essas relações
através do contato com livros e sua experiência com a leitura.

A escola precisa efetivamente incentivar os alunos a lerem, pois assim


eles verão o mundo de forma mais sensível e criticamente, percebendo o
mundo em que vivem e suas diversidades. O professor como mediador
desse mundo de leitura tem um papel decisivo na medida em que oferece
a possibilidade de nossos estudantes de conhecer a palavra em sua plena
forma de uso, como arte, como divulgadora de mundos, sonhos e
esperanças.
REFERÊNCIAS

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<gargantadaserpente.com> Acesso em 19 de setembro de 2019. Historia.

SILVA. M, et al. Literatura em sala de aula: da teoria literária à prática escolar. V –


Melhores Teses e Dissertações. Anais do Evento PG Letras 30 Anos Vol. I.

LOPES. P. C. Literatura e linguagem literária. Universidade Autónoma de Lisboa


Biblioteca Online de Ciências Da Comunicação, 2010 - repositorio.ual.pt.

SOUSA.E.C, et al. Artigo Científico. INTESA (Pombal – PB – Brasil) v.4, n.1, p.13-20
janeiro/dezembro de 2011 Disponível em <http://revista.gvaa.com.br> Acesso em 19
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Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
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SOUSA. L. D, et al. Revista Ícone Revista de Divulgação Científica em Língua


Portuguesa, Linguística e Literatura Volume 17 – Maio de 2017 – ISSN 1982-7717 A
Leitura e a Literatura na EJA. UENF - UEMG – UCAM.

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