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Afinal o que é um Soneto?

Constituído de duas quadras (estrofes com quatro versos) e de dois


tercetos (estrofes com três versos), o soneto expressa em torno de uma ideia do
início até o penúltimo verso. Já no último verso, considerado como chave de
ouro, costuma apresentar uma síntese de tudo que foi abordado. Dessa forma,
destacamos como autênticos sonetistas Vinícius de Morais, Camões, Antero de
Quental e Bocage, sendo esses últimos representantes da Literatura
Portuguesa. Certifiquemo-nos, pois de um exemplo, demarcado pelo “Soneto de
separação”, de Vinícius de Morais:

De repente do riso fez-se o pranto


Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente


Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante


Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

(Vinicius de Moraes)
Vinicius de Moraes foi considerado o poeta dos apaixonados. Nome muito
conhecido da Literatura Brasileira, Vinicius foi um de nossos mais carismáticos
escritores: seus versos povoam o imaginário popular, e nem é preciso ser grande
entendedor de Literatura para apreciar seus poemas. O mais curioso na
Literatura desse grande poeta foi o fato de ele ter se apropriado de uma forma
antiga de escrever versos, dando a essa forma uma nova vida: Vinicius
reinventou a arte de escrever sonetos.

Mas você sabe o que é um soneto? Trata-se de uma composição


poética formada por catorze versos, geralmente com dois quartetos (duas
estrofes compostas por quatro versos cada) e dois tercetos (duas estrofes
compostas por três versos cada). Parece simples, mas o soneto obedece a uma
rigorosa métrica: cada um dos catorze versos deve possuir a mesma métrica,
isto é, cada um deve apresentar o mesmo número de sílabas poéticas.
Geralmente, cada verso apresenta dez sílabas poéticas, por isso recebe o nome
de verso decassílabo. Alguns, todavia, são compostos por doze sílabas poéticas,
sendo então conhecidos como versos dodecassílabos ou alexandrinos. Ficou em
dúvida? Veja como isso funciona observando a escansão do poema
ENTENDA A ESTRUTURA

Dois quartetos: (Duas estrofes, quatro versos)

De/ tu/do ao/ meu/ a/mor/ se/rei/ a/ten/to


An/tes,/ e/ com/ tal/ ze/lo, e/ sem/pre, e/ tan/to
Que/ mes/mo em/ fa/ce/ do/ mai/or/ en/can/to
De/le/ se en/can/te/ mais/ meu/ pen/sa/men/to.

Que/ro/ vi/vê-/lo em/ ca/da/ vão/ mo/men/to


E em/ seu/ lou/vor/ hei/ de es/pa/lhar/ meu/ can/to
E/ rir/ meu/ ri/so e/ de/rra/mar/ meu/ pran/to
Ao/ seu/ pe/sar/ ou/ seu/ con/ten/ta/men/to

Dois tercetos: (Duas estrofes, três versos)

E a/ssim,/ quan/do/ mais/ tar/de/ me/ pro/cu/re


Quem/ sa/be a/ mor/te, an/gús/tia/ de/ quem/ vi/ve
Quem/ sa/be a/ so/li/dão,/ fim/ de/ quem/ a/ma

Eu/ po/ssa/ me/ di/zer/ do a/mor/ (que/ ti/ve)


Que/ não/ se/ja i/mor/tal,/ pos/to/ que é/ cha/ma
Mas/ que/ se/ja in/fi/ni/to en/quan/to/ du/re

Além da métrica, elemento da versificação, outro conceito muito


importante para o soneto é a sonoridade, ou seja, o posicionamento das sílabas
fortes (ou tônicas) em cada um dos versos. Graças à combinação das sílabas, o
soneto ganha sonoridade, por isso que, ao ler, provavelmente você percebeu
que o soneto é um texto extremamente melódico, que pode ser facilmente
transformado em canção. Aposto que você pode imaginar o trabalho que
escrever um soneto pode dar, não é mesmo? Que tal tentar?

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