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INSTITUTO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
SEMINÁRIO PARA O ENSINO DE LITERATURA BRASILEIRA – 2012/2
Pressupostos:
Em vista do atual desinteresse pela leitura de obras literárias pelo público em geral, tem-
se buscado apontar os motivos que levam a isso: o mais recorrente entre os teóricos seria a forma
como a disciplina é abordada nas escolas de Ensino Básico, que teria como objeto o estudo dos
estilos através da crítica e da história da literatura, em detrimento da leitura das obras. Tzvetan
Todorov, ao traçar um panorama do ensino de literatura nas escolas de Ensino Básico francesas
em A literatura em perigo (2009), propõe uma única solução: a leitura das obras como objeto de
estudo dessa matéria.
Ao compor esta proposta de letramento literário, a leitura de obras do gênero trágico –
grego, shakeasperiano e rodrigueano – nos apropriamos do pensamento de Antônio Candido, em
Direito à Literatura (1995), de que a literatura humaniza e é um bem incompressível. A
Literatura, assim, é entendida como “todas as criações de toque poético, ficcional, ou dramático
em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais
complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações (p.242)”, a literatura deve ser
em todas as suas „formas‟ fruída. É crucial, neste trabalho mais especificamente (mas também no
trabalho geral com a Literatura) reconhecer aquilo que, nas palavras de Candido, “consideramos
indispensável para nós é também indispensável para o próximo” (p. 239).
Tentamos, aqui, nos perguntar e esboçar nosso propósito do ensino de literatura que,
segundo STEINER (1988), é dever “de quem quer que ensine ou interprete literatura” (p. 23). É
importante ressaltar que, de acordo com o autor, acreditamos que o questionamento só será
produtivo “quando a abordagem da obra for completamente livre” (p. 280), sincera na sua busca
de discordância, oposições e interpretações. Acreditamos que a Literatura é um direito de todos -
não devendo, assim, ficar restrita a pequenos grupos na sociedade. O aluno deverá ter a
oportunidade de ampliar seu repertório, construindo, assim, um histórico de leitura que, sendo
alcançado o letramento, deverá se renovar ao longo da vida do leitor.
Proposta nuclear:
As obras propostas para este projeto são Medeia, de Eurípedes, Otelo, de Shakespeare, e
Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues, sendo a temática unificadora o ciúme. Uma vez
que cada uma dessas obras dramáticas possui as marcas das culturas e épocas a que pertenceram,
faz-se necessária a contextualização, pois como expõe Esslin,
O contexto é tudo: inserido no contexto adequado, um gesto quase que imperceptível
poderá mover montanhas, a mais simples das frases poderá transformar-se na mais
sublime expressão poética... uma vez que a atenção e o interesse do espectador tenham
sido captados, uma vez que ele tenha sido induzido a seguir a ação com total concentração
e envolvimento, seus poderes de percepção estarão intensificados, suas emoções passarão
a fluir livremente e ele atingirá, na verdade, um estado exacerbado de conscientização no
qual ficará mais receptivo, mais observador, mais apto a discernir a unidade e o desenho
geral da existência humana. (1978, p.58,59)
Perfil do aluno:
Alunos do 3° ano do Ensino Médio de uma escola com o padrão do Colégio de Aplicação
desta Universidade. A turma teria em torno de 25 alunos, com idades entre 15 e 17 anos, com
razoável experiência de leitura, em especial em sala de aula devido à proposta pedagógica de
seus docentes, e, no geral, possuem hábitos de leitura de Literatura (seja canônica ou não).
Objetivos
Competências e conteúdos
INTRODUÇÃO
AULA 1: Introdução / Apresentação do projeto; introdução à cultura grega: mitos, deuses
(imagens, exemplos de adaptações atuais: Hércules, Thor, Percy Jackson, Piratas do Caribe etc).
Leitura de textos curtos sobre a cultura grega; Entrega de cronograma das leituras.
TRAGÉDIA CLÁSSICA
AULA 2: Contextualização: o que é „tragédia‟? Conceitos diferentes trazidos pelos alunos
(dicionário, notícias de jornais); Textos curtos sobre Medeia e Jasão (Argonautas) a fim de
familiarizar a turma com os personagens etc.
AULA 3: Medeia – apresentar um trecho que mostre o funcionamento do coro no filme
“Poderosa Afrodite”; leitura dramática com toda a turma; contrato de leitura (prazo); trabalhar
dramatização; A leitura completa deverá ser feita até a aula 4.
AULA 4: discussão sobre a leitura de Medeia; impressões, enredo, estrutura; trabalho individual:
(1) pequeno texto que responda qual foi a cena ou ato que mais chamou a atenção e o porquê; ou
(2) pequeno texto onde o aluno irá dissertar sobre a atualidade dos temas abordados em Medeia;
ou (3) o aluno deverá fazer um pequeno texto sobre a experiência de leitura do gênero Tragédia
(estava familiarizado? gostou da experiência? Justificar). O aluno deverá optar entre os três
trabalhos. Observação: a avaliação será feita levando em conta a participação e a produção
escrita proposta.
TRAGÉDIA SHAKESPEARIANA
AULA 5: Otelo: contextualização – cultura e história; quem foi Shakespeare? Leitura dramática
com a grande turma (voluntários), para iniciar a leitura e terminar em casa. Indicação:
Shakespeare Apaixonado (1998). Para a aula 6 deverão ter feito a leitura completa de Otelo.
AULA 6: Discussão com o grande grupo: Que diferenças e semelhanças há com Medeia?
Trabalho individual: qual obra você gostou mais de ler? Explique. Trabalho: publicar resenha de
uma das peças em algum site de opinião de leitores ou blog. A peça escolhida fica a critério dos
alunos e eles deverão ser orientados a ler outras resenhas para terem o modelo de como o gênero
funciona); A avaliação será feita levando em conta a adequação do gênero, a coesão, coerência,
estrutura etc.
AULA 7: recortes (aproximadamente 1 hora) do filme Othelo (1995). Discussão: essa história
aconteceria hoje? Tarefa: iniciar a leitura de Senhora dos Afogados.
Objetivo: Familiarização com o autor Nelson Rodrigues, seu estilo e temáticas; conhecer /
ampliar o conhecimento de outros gêneros (no caso, o conto); praticar a leitura silenciosa com
posterior socialização da leitura; assistir a um curta adaptado de Nelson Rodrigues e comparar as
diferentes manifestações artísticas; iniciar a discussão sobre como será feita a adaptação da peça
cuja turma fará o roteiro e a encenação.
Material: cópias para todos os alunos de A Esbofeteada (em: A vida como ela é, de Nelson
Rodrigues); curta-metragem homônimo baseado no conto; computador; projetor; caixas de som.
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos? São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
CANDIDO, Antonio. Direito à literatura. In: Vários escritos. 3. Ed. Ver. E ampl. São Paulo:
Livraria Duas Cidades, 1995. P. 235-263.
ESSLIN, Martin. Uma anatomia do drama. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
EURÍPEDES. Medeia. Trad.: OLIVEIRA, Flavio de Oliveira. São Paulo: Odysseus, 2006.
RODRIGUES, Nelson. Senhora dos Afogados. São Paulo: Nova Fronteira, 2012.
RODRIGUES, Nelson. A vida como ela é. São Paulo: Schwarcz, 1994.
SHAKESPEARE, William. Otelo. Trad.: VIÉGAS-FARIA, B. Porto Alegre: LP&M, 1999.
STEINER, Alfabetização humanista. In: Linguagem e Silêncio. São Paulo: Companhia das
Letras, 1988. p. 21-29.
TODOROV, Tzevetan. A literatura em perigo. Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: Difel, 2009.
YUNES, R. Pelo Avesso: a leitura e o leitor (Letras, Curitiba, n.44, p. 185-196. 1995. Editora da
UFPR)
FILMOGRAFIA