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GRAMATOLOGIA. DERRIDA. RESUMO. BRUNO SUNKEY.

O que se segue é um resumo do livro Gramatologia do filósofo francês Jacques Derrida.


Derrida argumenta que, ao longo da tradição filosófica do ocidente, a escritura tem sido
considerada apenas uma forma derivada da fala. Criticando essa desvalorização da escritura
em relação à fala, Derrida destaca então a importância de uma ciência da escritura, a
gramatologia. O resumo, assim como o livro, se divide em duas partes: (i) a escritura pré-literal
e; (ii) natureza, cultura, escritura. É importante colocar que este resumo é apenas uma
apresentação do texto original de forma compactada, sem paráfrases ou resenhas críticas. A
ideia é de que o texto permaneça do autor original.

I. A ESCRITURA PRÉ-LITERAL

Não há dúvida de que o problema da linguagem nunca foi apenas um problema entre outros.
Uma época histórico-metafísica deve determinar, enfim, como linguagem a totalidade de
seu horizonte problemático. Tudo aquilo que se conseguia reunir sob o nome de linguagem
começa, agora, a deixar-se resumir sob o nome de escritura. Em todos os sentidos desta
palavra, a escritura compreenderia a linguagem.

Na designação da linguagem como escritura, o “significante do significante” passa a


descrever o movimento da linguagem. O significado funciona aí desde sempre como um
significante. Não há significado que escape, mais cedo ou mais tarde, ao jogo das remessas
significantes, que constitui a linguagem. O advento da escritura é o advento do jogo.

A "racionalidade" que comanda a escritura não é mais nascida de um logos e inaugura a


destruição, não no sentido de demolição, mas de dessedimentação, de desconstrução de
todas as significações que brotam da significação de logos, em especial a significação de
verdade. Todas as determinações metafísicas da verdade são mais ou menos imediatamente
inseparáveis da instância do logos ou de uma razão pensada na descendência do logos.
Deste logos, nunca foi rompido o liame originário e essencial com a phoné. A essência da
phoné estaria imediatamente próxima daquilo que, no "pensamento" como logos, tem relação
com o "sentido"; daquilo que o produz, que o recebe, o que reúne.

O fonocentrismo se confunde com a determinação historial do sentido do ser em geral como


presença, com todas as subdeterminações que dependem desta forma geral e que nela
organizam seu sistema e seu encadeamento historial. O logocentrismo seria, portanto,
solidário com a determinação do ser do ente como presença. A época do logos, portanto,
rebaixa a escritura, pensada como mediação de mediação e queda na exterioridade do
sentido. Pertenceria a esta época a diferença entre significado e significante. A diferença
entre significado e significante pertence de maneira profunda e implícita à totalidade da
grande época abrangida pela história da metafísica. A exterioridade do significante é a
exterioridade da escritura em geral e não há signo linguístico antes da escritura. Sem esta
exterioridade, a própria ideia de signo arruína-se.

O conceito de escritura deveria definir o campo de uma ciência. Uma ciência da escritura uma
vez estabelecida significará: (i) que a própria ideia de ciência nasceu numa certa época da
escritura; (ii) que foi pensada e formulada, enquanto tarefa, ideia, projeto, numa linguagem
que implica um certo tipo de relações determinadas, estrutural e axiologicamente, entre fala e
escritura; (iii) que, nessa medida, ela, primeiramente ligou-se ao conceito e à aventura da
escritura fonética, valorizada como o telos de toda escritura, enquanto o que sempre foi o
modelo exemplar da cientificidade, a matemática, jamais cessou de afastar-se de tal
aventura; (iv) que a ideia mais rigorosa de uma ciência geral da escritura nasceu, por razões
não fortuitas, numa certa época da história do mundo (que se evidencia por volta do século
XVIII) e num certo sistema determinado das relações entre a fala "viva" e a inscrição; (v) que a
escritura não é somente um meio auxiliar a serviço da ciência, e eventualmente seu objeto,
mas, antes de mais nada a condição de possibilidade dos objetos ideais, portanto, da
objetividade científica, antes de ser seu objeto, a escritura é a condição da episteme; (vi) que a
própria historicidade está ligada à possibilidade da escritura: à possibilidade da escritura em
geral, para além destas formas particulares de escritura em nome das quais por muito tempo
se falou de povos sem escritura e sem história, antes de ser o objeto de uma história, de uma
ciência histórica, a escritura abre o campo da história do devir histórico. 

Ao pensar na relação entre a ciência da escritura e a ciência da linguagem (linguística),


precisamos considerar o pensamento do linguista Ferdinand de Saussure. Saussure adota
a língua falada como o seu objeto de estudo, desprezando a escritura. Saussure define a
escritura como o fora, a representação exterior da linguagem. Ao tomar a escritura como
exterior, o fora, Saussure reforça as oposições do tipo interno-externo, realidade-imagem,
presença-representação, que fundamentam uma ciência incapaz de responder ao conceito
de episteme. 

O interesse científico pela escritura sempre tomou a forma de uma história da escritura. A
constituição de uma ciência ou de uma filosofia da escritura é uma tarefa necessária e difícil,
mas seus limites apontam para além do campo da episteme. Percebe-se, assim,
uma incompetência da ciência, que é também a incompetência da filosofia, a clausura
da episteme. 

II. NATUREZA, CULTURA, ESCRITURA 

A cultura ocidental privilegia a fala em detrimento da escrita. Isso pode ser exemplificado
em Jean-Jacques Rousseau que privilegia a fala. Por meio da escrita os governos baixam
decretos. Assim, a escrita estabelece hierarquias, já a fala teria a vantagem de aproximar as
pessoas, de modo que a fala teria a virtude da presença. Seguindo Rousseau, Claude Lévi-
Strauss entende que com a escrita, entram em cena os males, a começar pela desigualdade e a
dominação.  

A escritura é condenada como artificialidade, exterioridade, materialidade, sendo somente um


substituto da fala, que distanciaria o sentido de sua origem. Desse modo, a escritura é vista
apenas como um suplemento, um “perigoso suplemento”. Assim, a escritura é compreendida
como um suplemento que vem de fora para contaminar uma origem supostamente pura, a da
linguagem falada. 

O que está por traz dessa ideia é a oposição que Rousseau faz entre natureza e cultura A
natureza é vista como boa, original e presente enquanto entende-se que a cultura é corrupta,
degenerada, um “suplemento” à plenitude da presença da natureza. Por isso, a escrita é vista
como perversa, um produto da civilização, um suplemento perigoso em relação à fala natural.  
Mas se algo precisa de um suplemento, deve haver nesse algo uma falta, assim, a fala teria de
sofrer de uma ausência. Se esse é o caso, se quem sofre de uma falta é a linguagem falada que
precisa ser completada pela escrita, então é a escritura que é o elemento central. Assim, a
escritura, o termo marginalizado pode ser central.

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