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RESUMO TEXTO 3

Michel Foucault, professor do centro universitário experimental de Vincennes,


propunha-se a desenvolver diante dos membros da sociedade francesa de filosofia os
seguintes argumentos: “que importa quem fala?” Essa indiferença afirma o princípio ético da
escrita contemporânea. O apagamento do autor tornou-se desde então para a crítica um
tema do cotidiano. No entanto, Foucault não quer constatar apenas o seu desaparecimento,
e sim descobrir os locais onde sua função é exercida. Há quatro problemas: 1) O nome do
autor: impossibilidade de tratá-lo como uma descrição definida; 2) a relação de apropriação:
o autor não é exatamente nem o proprietário nem o responsável por seus textos, não é nem
o produtor nem o inventor deles. Qual a natureza dos atos de fala (speech act)? 3) A relação
de atribuição. Isto é, mesmo quando se pode atribuir o que foi dito ou escrito, há várias
incertezas quanto às operações críticas e complexas raramente justificadas para a
atribuição. 4) A posição do autor. Posição do autor nos mais variados tipos de discurso.
Para Foucault, a noção de autor constitui o momento crucial da individualização na
história das ideias, dos conhecimentos, das literaturas e também na história da filosofia e
das ciências. Neste ponto da conferência, Foucault deixa de lado a análise histórico-
sociológica do personagem do autor e se concentra em examinar unicamente a relação do
texto com o autor, a maneira com que o texto aponta para essa figura que lhe é exterior e
anterior, pelo menos aparentemente. Foucault diz que a indiferença é u m dos princípios
éticos fundamentais da escrita contemporânea. Ele diz “ético” porque tal indiferença não se
trata da amarração de um sujeito em uma linguagem; trata-se da abertura de um espaço
onde o sujeito que escreve não para de desaparecer. Foucault também traz o parentesco da
escrita com a morte, dizendo que atualmente ela está ligada ao sacrifício, ao próprio
sacrifício da vida; apagamento voluntário que não é para ser representado nos livros, pois
ele é consumado na própria existência do escritor.
Foucault também aponta que a palavra “obra” e a unidade que ela designa são
provavelmente tão problemáticas quanto a individualidade do autor. Para ele, não basta
repetir de modo vazio que o autor desapareceu. Dessa forma, seria preciso localizar o
espaço deixado vago por essa desaparição do autor, e, assim, observar o que pode surgir
neste espaço. O filósofo afirma que o nome do autor é o nome próprio e possui outras
funções além de indicativas, dado que é mais que uma indicação, sendo um gesto, um dedo
apontado para alguém, algo equivalente a uma descrição. Para ele, o nome próprio e o
nome do autor estão em dois pólos, o da descrição e o da designação, respectivamente. O
nome do autor não é exatamente o nome próprio. Um nome de autor não é simplesmente
um elemento em um discurso, ele exerce um certo papel em relação ao discurso, assegura
uma função classificatória, pois o nome permite reagrupar um certo número de textos e
delimitá-los, excluir alguns, opô-los a outros… Podemos dizer que na nossa civilização
existem discursos que são providos da função “autor” e outros que são desprovidos, a

exemplo de cartas, contratos, textos anônimos nas ruas… A função autor é, portanto,
característica do modo de existência, de circulação e de funcionamento de certos discursos
no interior de uma sociedade.
Foucault trata da apropriação penal quando diz que os discursos começaram a ter
autores na medida em que o autor podia ser punido, ou seja, na medida em que os
discursos poderiam ser transgressores. O discurso em nossa não era originalmente um
produto, um bem; era especialmente um ato. Quando se instaurou um regime de
propriedade para textos, quando se editoram regras estritas sobre os direitos do autor, sobre
as relações autores-editores, sobre os direitos de reprodução etc. (no fim do século XVIII e
no início do século XIX), é nesse momento em que a possibilidade de transgressão que
pertencia ao ato de escrever adquiriu cada vez mais o aspecto de um imperativo próprio da
literatura. O anonimato literário não é aceitável para nós, só o aceitamos na qualidade de
enigma. A função autor atua fortemente nas obras literárias. E a função de autor não se
forma espontaneamente como a atribuição de um discurso a um indivíduo; é o resultado de
uma operação complexa que constrói um certo ser de razão que se chama de autor. Todas
essas operações variam de acordo com as épocas e os tipos de discurso.
São quatro os traços característicos da função autor. A função autor está ligada ao
sistema jurídico institucional que contém, determina, articula o universo dos discursos; ela
não se exerce uniformemente e da mesma maneira sobre todos os discursos, em todas as
épocas e em todas as formas de civilização; ela não é definida pela atribuição espontânea
de um discurso ao seu produtor, mas por uma série de operações específicas e complexas;
ela não remete pura e simplesmente a um indivíduo real, ela pode dar lugar a vários egos, a
várias posições-sujeitos que classes diferentes de indivíduos podem vir a ocupar.
A essa altura, Foucault se dá conta de que é limitante e restrito não falar da função
autor na pintura, na música, nas técnicas etc. O filósofo se limitou ao autor considerado
como autor de um texto, de um livro ou de uma obra ao qual se pode legitimamente atribuir
a produção. Mas, para ele, na ordem do discurso, pode-se ser o autor de bem mais que um
livro - de uma teoria, de uma tradição, de uma disciplina… ele diz que, finalmente, que
esses autores se encontram em uma posição transdiscursiva. Foucault também um conceito
bastante interessante, o de “fundadores da discursividade”. Para ele, os fundadores da
discursividade são aqueles autores que têm de particular o fato de que eles não são
somente autores de suas obras, de seus livros. Eles produziram alguma coisa a mais, a
possibilidade e a regra de formação de outros textos. Marx, por exemplo, não é
simplesmente o autor do Manifesto ou do Capital, ele estabeleceu uma possibilidade infinita
de discursos. Quando Foucault fala de Marx como instaurador da discursividade, ele quer
dizer que que ele não apenas tornou possível um certo número de analogias, como também
abriu espaço para um certo número de diferenças. Isto é, abriu espaço para outra coisa

diferente dele e que, no entanto, pertence ao que ele fundou. Foucault também traça uma
oposição entre a instauração e a função científica. Mas nem sempre é fácil decidir se se
trata disso ou daquilo, e nada prova que ali estão dois procedimentos exclusivos um em
relação ao outro. Ele tem um único fim: mostrar que essa função autor comporta também
novas determinações, quando se tenta analisá-la em conjuntos mais amplos, como grupos
de obras e disciplinas inteiras.
Analisa as relações e propriedades discursivas do texto, por meio de um diálogo entre Foucault
e outros autores. A relação (ou não relação) com o autor e as diferentes formas dessa relação
constituem essas propriedades discursivas. Há o estudo dos discursos nas modalidades da sua
existência (modos de circulação, de valorização, como eles atuam em cada cultura...). Desse
modo, conseguimos fazer a análise dos privilégios do sujeito (seu caráter absoluto e fundador).
Segundo que condições e sob que formas alguma coisa como o sujeito pode aparecer na
ordem dos discursos? Que lugar ele pode ocupar em cada tipo de discurso, que funções
exercer, e obedecendo a que regras? Ou seja, O PROPÓSITO É RETIRAR O SUJEITO DA FUNÇÃO
ORIGINÁRIA DO DISCURSO E ENXERGAR ELE COMO UMA FUNÇÃO VARIÁVEL E COMPLEXA. A
figura do autor está em constante mudança.
L. Goldmann: Foucault não atacou mais o homem, mas sim o autor. Tinha uma posição
filosófica fundamentalmente anticientífica. A negação do sujeito é atualmente a ideia central
de um grupo de pensadores. Um problema instaurado por Foucault foi o de “Quem fala?”. A
ideia do indivíduo como autor último de um texto, e principalmente de um texto importante e
significativo, parece cada vez menos sustentável. SUBSTITUIR O AUTOR INDIVIDUAL POR UM
AUTOR COLETIVO. Em suma, há três teses centrais nessa posição: há um sujeito; na dimensão
histórica e cultural, esse sujeito é sempre transindividual; toda atividade psíquica e todo
comportamento do sujeito são sempre estruturados e significativos, ou seja, funcionais.
Sobre a OBRA: são apenas os textos publicados ou todos os textos no geral, até notas de
lavanderia? Ela constitui uma estrutura significativa fundamentada na existência de uma
estrutura mental coerente elaborada por um sujeito coletivo, podendo eliminar, assim a “nota
de lavanderia”.
Sujeito transindividual. Foucault, Marx, Freud e Durkheim revelam uma volta ao pensamento
filosófico, contra as tendências positivistas. Não são mais as estruturas que fazem a história,
mas sim os homens.
Foucault: não falou que o autor não existia, só tentou mostrar o seu papel de uma forma
abstrata. Queria saber o porquê consideravam que ele era considerado anticientífico. Diz que
não reduz o homem a uma função, diz que não fazia a análise do sujeito, mas sim do autor.
Afirmam que Foucault eliminou a interioridade (não existe autor sem interioridade segundo J.
Ullmo).

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