Você está na página 1de 3

TEXTO BASE: O QUE É UM AUTOR

O Estado como autor das leis e detentor de um discurso a ser seguido (compulsoriamente?)

Para quem o Estado faz esse discurso?

Quem compõe o estado?

Como a legislação é afetada pelos autores que compõem o estado e como o social é afetado
por esse discurso

Neste texto, apresenta-se uma análise da autoria das leis a partir da perspectiva de Michel
Foucault na obra “O que é um autor?” a fim de estabelecer a função de autoria do Estado no
que diz respeito à produção legislativa e em que afeta o social a partir dos discursos que emite.

Inicialmente, faz-se necessário recapitular alguns pontos do texto que são fundamentais para o
desenvolvimento do raciocínio que aqui se apresenta. Imperioso destacar que o Foucault
sinaliza como objetivo principal não uma análise histórica ou sociológica da autoria, mas sim a
análise da relação do texto com o autor e maneira como o texto revela esta figura, a medida
em que se dá o seu apagamento.

Foucault traz dois princípios éticos da escrita contemporânea uma “indiferença”, quem implica
na questão de a escrita identificar-se com a sua própria exterioridade manifesta, sem
necessariamente aprisionar-se em sua forma exterior, seguidamente da semelhança da escrita
com a morte, onde, em nossa cultura, subverte-se a imortalidade da narrativa, como se fazia
nas epopeias gregas.

(...) a escrita está agora ligada ao sacrifício, ao sacrifício da


própria vida; apagamento voluntário que não tem de ser
representado nos livros, já que se cumpre na própria existência do
autor. A obra que tinha o dever de conferir a imortalidade
epassou a ter o direito de matar, de ser assassina do seu autor.
Veja-se os casos de Flaubert, Proust, Kafka9

Entretanto, ao tratar do apagamento da autoria, Foucault esbarra no conceito de obra,


delineando a dificuldade em se estabelecer uma teoria acerca do assunto:

Quando se empreende, por exemplo, a publicação das obras de


Nietzsche, onde é que se deve parar? Será com certeza preciso
publicar tudo, mas que quer dizer esse “tudo”? Tudo o que o
Nietzsche publicou, sem dúvida. Os rascunhos de suas obras?
Evidentemente. Os projetos de aforismos? Sim. As emendas, as
notas de rodapé? Também. Mas quando, no interior de um
caderno cheio de aforismos, se encontra uma referência, uma
indicação de um encontro ou de um endereço, um recibo de
lavanderia: obra ou não? Mas porque não? E isto indefinidamente

Em seguida, Foucault preocupa-se em problematizar as questões existentes acerca do nome


do autor, evidenciando que este não apresenta um funcionamento discursivo a partir do seu
próprio nome, mas sim a partir do status que se atribui aquele ou a este autor. Assim, Foucault
determina que o nome do autor não é um nome próprio, mas sim o funcionamento de um
discurso. Desta forma, à autoria se atribuiu uma função, a qual Foucault passa a atribuir quatro
características fundamentais.

A primeira delas diz respeito à necessidade de atribuir autoria para a responsabilização do


autor pelo sistema jurídico e institucional. A autoria começou a ser atribuída aos textos à
medida que os autores se tornaram passiveis de punibilidade.

A segunda é a multiplicidade de maneiras em que se exerce a função-autor. Isso que dizer que
ela muda em relação aos discursos, épocas e civilizações. Em certos momentos, alguns
discursos circulam sem necessariamente recorrer a um autor.

A terceira característica diz respeito a série de operações, específicas e complexas, que


constroem quem chamamos de autor, perpassando por uma maneira tradicional cristã de
determinar a autenticidade.

quarta e última característica apresentada por Foucault, nos mostra que a função-autor não
remete pura e simplesmente a um indivíduo real, pode dar lugar simultaneamente a vários
“eus”. Todos os discursos que são providos da função-autor comportam uma pluralidade de
“eus”19. O sujeito que fala no prefácio de um tratado de matemática não é o mesmo
que fala no percurso de uma demonstração ou o que fala das dificuldades e obstáculos que
encontrou no decorrer do seu trabalho.
SA

Você também pode gostar