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KARINE DE ARIMATEIA
KARINE DE ARIMATEIA
_____________________________________________________
Profa Dra Presidente Ana M. G. Albano Amora (PROARQ-UFRJ)
5
_____________________________________________________
Prof. Dr. Gustavo Rocha-Peixoto (PROARQ-UFRJ)
_____________________________________________________
Profa Dra Aline Calazans Marques (PROARQ-UFRJ)
_____________________________________________________
Prof. Dr. Renato Luiz Sobral Anelli (IAU-USP)
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Prof. Dr. Julio Cesar Ribeiro Sampaio (UFRRJ)
Fevereiro de 2021.
RESUMO
Karine de Arimateia
Orientadora: Ana M. G. Albano Amora
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2021
ABSTRACT
Karine de Arimateia
Orientadora: Ana M. G. Albano Amora
This research is part of the theory of architecture and has the broad objective of
interpreting and discussing the narrative about the architectural phenomenon in
Brazil from the 1930s to the 1950s. The cut covers the set of vertical buildings
produced in the period to serve as headquarters (SALIC) - and its branches - in
the main Brazilian capitals, by the architect Roberto Capello, an Italian immigrant
who landed in the country with guaranteed employment in the company. These
buildings will be studied according to their formal and functional aspects and the
relation with the urban space, taking as an approach the use of the history of
architecture as a critical and exploratory function, in order to identify the value and
meaning of the architectonic work of an established period.
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2021
9
DEDICATÓRIA
À memória do meu querido irmão, Waldemar Antônio
de Arimateia, exímio procurador de justiça do Estado
de Minas Gerais. Meu eterno incentivador e apoiador
na busca por conhecimento.
11
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, à professora Ana M. G. Albano Amora, pela orientação
dedicada e segura e por não desistir dessa pesquisa, mesmo com tantos
percalços no decorrer do seu caminho.
13
SUMÁRIO
15
INTRODUÇÃO ...................................................................................... 17
Considerações iniciais .................................................................................... 18
Tem sido cada vez mais recorrente o estudo de vida e obra de profissionais
imigrantes que atuaram no Brasil na primeira metade do século 20, tais como
1
A sigla SALIC refere-se à abreviatura do nome da empresa no idioma inglês, South America Life
Insurance Company.
2
Conforme descrito no capítulo sobre a trajetória do profissional (Capítulo 2), Roberto Capello formou-
se em engenharia na Politécnica de Turim, Itália, no ano de 1925. Em 1935, já no Brasil, seu diploma
de engenheiro foi validado e, posteriormente, em 1936, recebeu o título de arquiteto. Desse modo,
seu pronome de tratamento neste texto será sempre o de arquiteto.
Giancarlo Palanti (1906-1977),4 Franz Heep (1902-1968)5; Lucjan
Korngold (1897-1963)6; Jacques Pilon (1905-1962);7 sem contar as inúmeras
publicações sobre Lina Bo Bardi (1914-1992), Gregori Warchavchik (1896-1972)
e outros arquitetos e engenheiros. Sobre o tema do papel dos imigrantes no
Brasil, discorreu Renato Anelli:
4 CORATO, Aline Coelho Sanches. A Obra e a trajetória do arquiteto Giancarlo Palanti: Itália e Brasil.
2004. Dissertação (Mestrado em Tecnologia do Ambiente Construído) - Escola de Engenharia de
São Carlos, São Carlos, 2004 / ROCHA, Angela Maria. Uma produção do espaço em São Paulo:
Giancarlo Palanti. 1991. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1991.
5 BARBOSA, Marcelo. Adolf Franz Heep. Um arquiteto moderno. São Paulo: Editora Monolito, 2018 /
JUNIOR, Edson Lucchini. Adolf Franz Heep: edifícios residenciais: um estudo da sua contribuição
para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 50. 300 pp. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo). Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010.
6. FALBEL, Anat. Lucjan Korngold: a trajetória de um arquiteto imigrante. 2003. 323f. Tese (Doutorado
Mas como estruturar este método de abordagem em um campo tão amplo como
é a disciplina da arquitetura? Como evitar que os estudos destes edifícios não se
limitem – a despeito da representatividade destes documentos - a inventários
arquitetônicos? Como criar categorias de análise específicas que possibilitem o
estabelecimento de escalas próprias de valor?
22
8 A arquiteta argentina Marina Waisman (Buenos Aires, 1920 – Río Cuarto, 1997) formou-se no ano de 1945 na
Universidade Nacional de Córdoba, onde também lecionou a partir de 1948. Compôs o corpo docente também da
Universidade Católica de Córdoba no período em que esteve afastada da Universidade Nacional por motivos
políticos. Na Católica fundou o Instituto de História y Preservación del Patrimônio, atual Instituto Marina Waisman. Na
Nacional criou o Centro para la Formación de Investigadores en História, Teoria y Crítica de la Arquitectura, que
também foi renomeado em sua homenagem (ROCHA-PEIXOTO, 2014). Tornou-se uma das principais críticas sobre
arquitetura da América Latina e seus estudos sistemáticos lhe conferiram o Prêmio América (DEJTIAR, 2017).
O PROBLEMA E OS OBJETOS DE ESTUDO
9 “[...] todo pensamento constituye un particular recorte en el continuum de los hechos y los
10
Como exemplo, verificou-se em alguns planos de ensino da disciplina de projetos (ou ateliê) de
cursos privados de arquitetura a exigência de classificação estilística nos roteiros para estudos de
obras análogas. Esta tradição classificatória, ao meu ver, não deve ser repassada aos alunos como
instrumento de interpretação de objetos arquitetônicos atuais, e sim explicada como uma forma de
pensar e fazer a arquitetura, relacionada a aspectos diversos, tais como meio ambiente, cultura, clima,
etc.
considerados ao se tentar classificá-los ou buscar as relações
de parentesco entre os edifícios. 11
11 Notas Sobre os Estilos dos Edifícios de Belo Horizonte - Disponível em: <https://guiadobem.org/>
- acesso em jun. 2018. O site não fornece os créditos do texto ao arquiteto Flávio Carsalade, mas a
autoria foi informada pelo próprio autor, em conversa informal.
de Marketing Corporativo da Sul América, Sr. Zeca Vieira, que disponibilizou,
inicialmente, uma listagem detalhada de todo o conteúdo existente, da qual
selecionei o material a ser pesquisado. Após essa seleção, o Sr. Zeca,
gentilmente, transportou todo o material indicado para a sede do Rio de Janeiro,
onde a pesquisa foi realizada, em janeiro de 2017. Na ocasião da análise do
acervo, identificou-se a inexistência das peças gráficas dos projetos de
arquitetura dos edifícios, essenciais para este estudo, o que indicou a
necessidade da pesquisa aos órgãos municipais. No entanto, o acervo
pesquisado continha os periódicos publicados pela empresa desde o início da
sua fundação, além de livros e outros materiais que possibilitaram a descoberta
de fatos importantes relativos às sedes construídas e, principalmente, a
comprovação da existência, em 1935, do departamento responsável pelos
projetos e obras, nomeado Departamento de Propriedades e Hipotecas,
coordenado pelo arquiteto Roberto Capello.
27
Desse modo, tanto o material de pesquisa quanto as suas relações devem ser
analisados conjuntamente, tal como é feito em um trabalho arqueológico (o que
justifica o termo material arqueológico utilizado por Foucault). O estudo dessas
relações permite liberar e, sobretudo, desvendar a história das sucessivas
representações provenientes das ideologias que vão se acumulando ao longo do
tempo. Conforme aponta a passagem acima, há uma relação entre os termos da
proposta metodológica. Instituições (grupos profissionais, críticos, historiadores,
demandas sociais, instituições legais, autoridades civis e religiosas) orientam o 29
sistema de diferenciação dos objetos ou, em outras palavras, o sistema (conjunto
de objetos) de diferenciação é operado pelas instituições, os quais, juntos,
sistemas de diferenciação e instituições, concretizam as tendências culturais e
de estrutura da vida social. A unidade cultural ou o conjunto a ser estudado só
pode ser delineado ou estruturado pela inter-relação entre essas instâncias.
Talvez o termo instituição não seja o mais adequado para ser utilizado na língua
portuguesa, que remete de imediato a órgãos juridicamente estabelecidos.
Portanto, em seu lugar, será utilizado o vocábulo entidade, com o significado de
15 “Se trataria em primer término de discenir las diferenciaciones del objeto com respecto a otros
objetos, em uma época o sociedad determinadas, ya que la composición de los conjuntos varía de
uma a outra época o sociedad. Em segundo término deberían describirse los sistemas según los
cuales se han de distinguir y analizar los diferentes objetos arquitetônicos; y por otra parte habrán de
considerarse las instituciones que contribuyen a delimitar el objeto: grupos profesionales, autoridades
civiles y religiosas, críticos, historiadores, instituciones legales, hábitos sociales, etcétera. Pero el
conjunto de los objetos tomará forma solamente por las relaciones que existen entre todos los
términos referidos. Pues son las instituciones, fundamentalmente, las que dirigen la orientación de los
sistemas según los cuales se diferenciarán los objetos: unos y otros, sistemas e instituciones,
representan la concreción de tendencias culturales y de estructuras de la vida social. ” (WAISMAN,
1985, p. 29)
tudo aquilo que existe ou supomos existir, conforme uma das definições do
Dicionário Michaelis (2015). Já, segundo o Houaiss (2009), a palavra pode
exprimir tanto indivíduo (“criatura, ente, individualidade, ser <e. mitológica>”),
como instituição (“agremiação, associação, corporação, fundação, instituto,
organização, sociedade) e até qualidade (“importância, interesse, valor, <questão
de máxima e.>”), definições cujas instituições elencadas por Waisman se
encaixam.
Pois o método de trabalho deve ser eleito tanto por seu valor
ideológico como pelas condições que apresentam o material
a ser estudado, de forma a evitar, na medida do possível, que
o instrumento de observação se constitua em um instrumento
de distorção da imagem; com um instrumento inadequado
corre-se o risco de encontrar só o que um crê que deve existir
ali, e não de encontrar nada do que verdadeiramente existe.
(WAISMAN, 1985, p. 39, tradução minha).17
17 “Pues el método de trabajo debe elergise tanto por su valor ideológico como por las condiciones
que presenta el material a estudiar, para evitar en lo posible que el instrumento de observación se
constituva en un instrumento de distorsión de la imagen; con un instrumento inadecuado se corre el
riesgo de encontrar sólo lo que uno cree que debe existir allí, y de no encontrar nada de lo que
verdadeiramente existe.” (WAISMAN, 1985, p. 39).
18
“Pues todo aquello que haya sido objeto de reflexión teórica o histórica constituye sin duda alguna
un ‘objeto’ de saber arquitectónico. ” (WAISMAN, 1985, p. 57)
e, ao considerar de forma geral os objetos, trabalhou com tipologias no lugar de
Forma, Função e Estrutura.
Waisman tem como fonte Bruno Zevi. Esse autor indica, em “Saber Ver La
Arquitectura,” - publicado em espanhol em 1951 -, um esquema para o estudo
da arquitetura na história. Segundo Zevi, para uma história válida da arquitetura
deve-se analisar os múltiplos coeficientes que colaboram para a atividade da
construção e que abarcam uma gama de interesses humanos. Para um esquema
de análise histórico-crítica de uma época ou de uma “personalidad artística”, o
autor propõe o estudo dos seguintes fatores:
19
“a) Los factores sociales. Todo edificio es el resultado de un programa edilicio. Éste se funda en la
situación económica del país y de los individuos que promueven las construcciones. [...]. b) los
factores intelectuales, que se diferencian de los anteriores por incluir no solamente lo que es el
individuo y la coletividade, sino sus mitos sociales, de sus aspiraciones y de sus credos religiosos; c)
los factores técnicos, es decir, el progresso de las ciências y de sus aplicaciones em el artesanato y
em la indústria. [...]. d) el mundo figurativo y estético, el conjunto de las concepciones e
interpretaciones del arte, y el vocabulário figurativo que em cada época forma el idioma de donde los
poetas extraem palavras y frases para expressar sus creaciones em linguaje individual[...].(ZEVI,
1955, p. 42)
preponderante, já que a história é escrita a partir dos interesses do presente e
com os instrumentos, pré-concepções e projetos do presente” (2013, p. 4). Vale
relembrar que todo o seu esforço para o desenho de uma estrutura analítica foi
fundamentado nos problemas de estudo da arquitetura latino-americana, como
recurso para transcender o conceito superficial e rígido do objeto por si só,
baseado, sobretudo, em critérios estilísticos, conforme justifica:
A eleição dos edifícios verticais definidos para este estudo segue a forma como
é comumente realizada a diferenciação dos objetos no campo da arquitetura, isto 35
A ordem das análises não é fixa, mas neste caso o ponto de partida será a
abordagem das entidades de diferenciação, já que as mesmas contribuíram para
a formação e diferenciação dos objetos e servirão – ou não - para iluminar o
contexto da produção arquitetônica do período estabelecido. Desse modo, o
Capítulo 01 comporta as análises destas entidades, as quais compõem os
subcapítulos, a saber: A empresa Sul América (1.1); Concepções teóricas / A
historiografia referente à produção da arquitetura brasileira da primeira metade
Os elementos de análise
Figura 1– Corpo do Edifício SULACAP de Recife/segundo projeto de Capello para a
40 seguradora. Foto: Karine de Arimateia, Dez. 2017.
41
22 Até então, havia no Brasil duas seguradoras nacionais, a Previdência, fundada em 1854, e a
Tranquilidade, em 1855, ambas destinadas a segurar a vida dos escravos. Fonte: Revista Sul
América/nº 12, p. 20/dez. 1978.
23 O espanhol Joaquim Sanches de Larragoiti migrou para os Estados Unidos aos sete anos de
idade, onde trabalhou, já na idade adulta, com o comércio de exportação nas Antilhas, Havana e São
Domingos. Chegou a retornar à Europa, mas ao saber que os negócios iniciados na América estavam
em decadência, voltou e iniciou sua atuação na New York Life Ensurance. Chegou ao Brasil em 1882
representando essa empresa como diretor do departamento hispano-americano. Fonte: RIBAS, Ana
Maria; CARDOSO, Maria Helena Cabral de Almeida. A história da Sul América na memória de seus
funcionários. 1985. Não publicado. Este trabalho encontra-se indicado no currículo Lattes da
pesquisadora Ana Maria Ribas como “Projeto de Pesquisa coordenado pelas Profas. Dra. Maria
Eulália Lobo e Dra. Bárbara Levy e apresentado à Assessoria Cultural da Presidência, tendo em vista
a comemoração dos 95 anos de fundação da Sul América Seguros”. A versão impressa encontra-se
no acervo da Sul América.
24 Revista Sul América/nº 13, Ano 4, p. 6.
25 Também funcionário da New York Live Insurance na América do Sul, assumindo a direção da Sul
América após o falecimento de Larragoitti, em 1907. “A Sul América Companhia Nacional de Seguros
de Vida aos 40 annos.“ Rio de Janeiro, 1935. Não publicado. Disponível no Acervo Sul América.
26 Revista Sul América, 1994.
Em 1901, a Sul América ampliou sua atuação ao abrir sucursais na Argentina,
Peru, Chile e Equador e ao encampar as companhias União Paraense, com sede
em Belém do Pará, e a Educadora,
Figura 3 – Sede da Sul América em Buenos
Aires. com sede na cidade do Rio de
Janeiro. No ano de 1913, com a
perspectiva do crescimento urbano,
industrial e portuário brasileiro, a
família Larragoiti adquiriu a Anglo
Americana Sociedade de Seguros e
Resseguros Terrestres e Marítimos,
a qual, em 1928, tornou-se a Sul
América Terrestre Marítima
27
(SATMA) , empresa que lançou o
tipo de seguro para acidentes
44 pessoais no Brasil.28
No ano de 1923, a SALIC já possuía sucursais em São Paulo, Rio Grande do Sul,
Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Ceará. Nesse mesmo ano, constava a
30 Fonte: publicação interna comemorativa dos 75 anos da empresa: A Sul América aso 75 anos
(1895-1970)/Acervo Sul América.
31 Revista Sul América/nº 100 e 101, Ano 29, p 5, jan a jun. 1945.
32 Revista Sul América/nº 48, Ano 12, p. 31, out. 1931.
existência de sucursais também no território europeu, tais como na Espanha,33
França e Inglaterra.34 No ano seguinte, a empresa expandiu seus negócios com
a transferência das carteiras de clientes da New York Life Ensurance do Brasil,
Chile e Argentina, uma vez que essa empresa limitou a atuação de seus negócios
nos territórios dos Estados Unidos e Canadá.
Fonte - Revista Sul América/nº 13, Ano 4, Fonte - Revista Sul América/nº 28, Ano
1923 - Acervo Sul América 7, p. 3/Out. 1926.
33 Na Espanha, país natal do fundador, a Sul América possuía outras três empresas: a Fundation
Larragoiti, América e a Sul América Vida. RIBAS e CARDOSO, 1985. P. 50.
34 Revista Sul América/nº 13, Ano 4, p. 8.
35 Revista Sul América/nº 12, p. 19/dez. 1978
da cidade, com a presença dos principais hotéis, cafés e sedes de jornais
renomados da capital.
de que Robert Prentice iniciou sua carreira em Buenos Aires associando-se com
Dujarric (FRANCO, 2009), onde desenvolveu o projeto da sede da Sul América
39
Para conhecimento da trajetória profissional do arquiteto francês Jacques Pilon, ver o livro de Joana
Mello de Carvalho e Silva, intitulado “O arquiteto e a produção da cidade: a experiência de Jacques
Pilom, 1930-1960, publicado em 2012.
41
Fontes:.https://www.lanacion.com.ar/213441-estaciones-de-trenes-br-patrimonio-nacional e
https://archiseek.com/2013/1919-houlder-building-buenos-aires-argentina/ acesso em 15 nov. 2020.
42
Fonte: http://wikimapia.org/17299696/es/Edificio-La-Sud-Am%C3%A9rica– acesso em jul. 2018.
43
O artigo intitulado Manifestaciones compositivas de la formación Beaux Arts en la diversidad
programática materializada por los arquitectos de la Elite en la Provincia de Buenos Aires. 1880-1930,
publicado no Congreso Internacional Beaux-Arts em 2019. por José Ignacio Fonseca e Virginia
Galcerán fornece mais informações sobre Dujarric, Segundo os autores: “Se sumó en la producción
arquitectónica como profesional independiente el arquitecto Paul Louis Faure Dujarric, quien nació en
París en 1875. Estudió en el Atelier de Jules Godefroy y Eugene Freynet. Siendo estudiante obtuvo
numerosos premios y menciones. También fue su maestro, Jean Louis Pascal. Cursó estudios en la
EBA hasta su egresso en 1899. . En 1905 se trasladó a la Argentina, respondiendo a los
requerimientos de uma elite que por entonces encontraba en la arquitectura francesa el modelo
principal de referencia. En 1909 se contactó con la familia Unzué y posteriormente, a pedido de las
hermanas Unzué proyectó un Asilo de Huérfanas en Mar del Plata. Diseño además San Jacinto en
Dolores para María de los Remedios Unzué. En 1910, la Comisión Directiva del Hipódromo Argentino
lo convocó para diseñar la Tribuna Principal del centro hípico. Por otra parte, junto al arquitecto inglés
Robert Prentice, elaboró la ampliación de la Terminal ferroviaria en Retiro del Ferrocarril Central
Córdoba. Os autores referem-se a Prentice como “arquiteto inglês”, porém sua origem é peruana, e
com descendência escocesa (RABELO, 2011).
argentina, pode-se extrair que o início da parceria com a empresa aconteceu
nesse período e que, provavelmente, foi este o motivo de sua transferência para
o Brasil, para onde levou consigo, inclusive, a encomenda do projeto da primeira
sede da empresa no Rio de Janeiro, desenvolvendo-o em parceria com Joseph
Gire. Certo é que a primeira sede da Sul América em São Paulo também foi
assinada por Prentice, em parceria com Dujarric e Pilon (FRANCO, 2009), antes
de 1928. A trajetória profissional de Robert Prentice carece, sem dúvidas, de
estudos sistemáticos, visto que as informações existentes nos textos que o
referenciam são contraditórias e confundem o entendimento de sua vida e obra.
Nota-se, portanto, a estreita relação de Prentice com a empresa Sul América nas
suas primeiras décadas de atuação no Brasil, relação que se perdeu,
possivelmente, em função da contratação do italiano Roberto Capello para
integrar o “Departamento de Propriedades e Hypothecas”, cuja existência é
registrada no ano 1935 no livro comemorativo de quarenta anos da empresa:
O arquiteto Roberto Capello, a partir daí, será o responsável, até o final da década
de 1940, por todos os projetos das sedes da empresa Sul América e de suas
ramificações - como a SULACAP - nas principais cidades brasileiras, com
exceção do projeto do SULACAP de Niterói/RJ (que, a princípio, em função das
características plásticas do edifício, foi atribuído a Capello), no qual aparece
novamente o nome de Prentice como autor e com data de aprovação na
prefeitura no ano de 1948. É evidente que essa data não necessariamente indica
o ano da execução do projeto, no entanto, o carimbo de Prentice não é
acompanhado da data de execução dos desenhos. O que tudo indica é que a
aprovação do projeto foi realizada após o término da obra, já que a edição da
44
“A Sul América Companhia Nacional de Seguros de Vida aos 40 annos.” Acervo Sul América.
Revista Sul América referente a janeiro e junho de 1946 informou o andamento
da obra nesse ano:
A possibilidade de que este projeto tivesse sido desenvolvido por Prentice antes
da contratação de Capello, ou seja, antes de 1935, foi anulada com a informação
de que o terreno foi adquirido pela empresa no ano de 1943.45 Diante disso, a
hipótese mais provável que justifique a autoria de Prentice neste projeto seria a
de que Capello estaria sobrecarregado com a elaboração de tantos projetos no
início da década de 1940, quando estavam em andamento as concepções e/ou
obras das sedes de Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Belo Horizonte.
45
Revista Sul América/nº 92, Ano 24, p. 19/ jun. 1943.
Retornando à primeira sede do Rio de Janeiro, essa, mesmo ampliada, não
suportou todas as instalações da empresa, que continuava expandindo seus
negócios. O serviço de tipografia encontrava-se instalado em um edifício na
Praça da República, nº 17, e os demais setores funcionavam na Agência
Metropolitana, localizada na Avenida Rio Branco, nº 157.
Como era de costume, no ano de 1928, a SALIC noticiou em seu balanço anual
o patrimônio imobiliário constituído pela empresa. Dentre outros itens, constava,
além de quatro edifícios no Rio de Janeiro, a construção do edifício para a
sucursal de São Paulo, a notícia sobre a reforma do edifício da sucursal de Porto
Alegre (Rua General Câmara, nº 352) e a intenção de construção do edifício de
apartamentos na Rua Laranjeiras, denominado Jardim Sul América, na cidade do
Rio de Janeiro.46
Neste ponto, vale destacar que a empresa passou a diversificar seus negócios
ao investir no mercado imobiliário, incorporando seus próprios edifícios, como se
52 verá adiante.
46
Revista Sul América/nº 35, Ano 9, p. 11/jul. 1928.
AS DEMAIS SEDES
54
48 Revista Sul América/nº extra, Ano 9, p. 20/nov. 1928. Ulhôa Cintra teve papel fundamental em duas
obras urbanísticas da capital paulista, a canalização do rio Tietê e o Plano de Avenidas, quando
trabalhou na prefeitura municipal ocupando os cargos de chefe da Divisão de Urbanismo da Prefeitura
e da Comissão de Melhoramentos do Tietê ao substituir Saturnino de Brito em 1927. Funcionário
público desta prefeitura deste 1913, tornou-se professor da cadeira de hidráulica urbana na Escola
Politécnica de São Paulo, onde se formou em engenharia civil (LUCCHESE, 2015).
Nos anos 1930, em meio à crise econômica mundial, a SALIC inaugurou
agências49 em Fortaleza, Pará, Maranhão, Paraíba e Alagoas. Até então, as
únicas sucursais com sedes próprias eram as do Rio de Janeiro, São Paulo e
Porto Alegre,50 essa em edifício adquirido para tal fim, e não construído pela
empresa, o que vai ser efetivado apenas na década de 1940, após a aquisição
de terrenos na capital gaúcha.
55 Revista Sul América/nº 90, Ano 23, p. ?/abril, maio, jun. 1942.
56 Revista Sul América/nº 92, Ano 24, p. 19/ jun. 1943.
tampouco uma imagem ilustrativa do
Figura 16 – Edifício Sul América de
Florianópolis. edifício. Diante dos fatos, a dúvida foi
relatada, via e-mail, ao professor
Reinaldo Lindolfo Lohn, integrante do
Departamento de História da
Universidade do Estado de Santa
Catarina e autor do artigo levantado,
intitulado “Limites da utopia: cidade e
modernização no Brasil
desenvolvimentista (Florianópolis,
década de 1950),” que confirmou a
existência da antiga sede da Sul
América na Rua dos Ilhéus, esquina com
Fonte - Imagem gentilmente cedida por
Reinaldo Lindolfo Lohn/ modificada. Praça XV de Novembro. A despeito do
edifício apresentar características
Figura 17 – Projeto do Edifício
58 Sulacap/Recife. arquitetônicas similares às demais
sedes, não foi possível, até o momento,
confirmar se o projeto arquitetônico foi
elaborado por Roberto Capello.
57
Boletim SATMA/nºs 21 e 22, Ano IX, p.7/mar. 1949.
ampliado em 1934. Ainda nesse ano, a empresa comprou outro edifício, desta
vez em Manaus, na Av. Sete de Setembro, esquina com Praça 15 de Novembro,
para instalar sua sede própria naquele estado. A busca pela existência dessa
sede e a de Belém, cuja construção foi informada na Revista Sul América nº 135,
de 1954, seguiu o mesmo caminho da pesquisa feita em Florianópolis, no
entanto, nenhum dado que confirmasse a existência no espaço urbano atual das
capitais foi encontrado. Entretanto, o andamento da obra da sede de Manaus foi
noticiado no periódico nº 131, de janeiro de 1953.
58
Revista Sul América/nº 127, Ano 33, p. 30/ fev. e mar. 1952.
59
Revista Sul América/nº 104 e 105, Ano 27, p. 27/ jan. a jun. 1946.
60
Boletim SATMA/nº24, Ano IX, p.?/dez. 1949.
Figuras 19 e 20 – Edifício sede da SATMA, Rio de Janeiro/ainda existente.
61
A exposição foi noticiada em vários jornais, dentre eles, o Correio da Manhã (RJ), ano 1949,
edição 17219, disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=089842_05&pagfis=47111&url=http
://memoria.bn.br/docreader# - acesso em set. 2017.
Barata e outros. Além dessa obra, a empresa também apoiou a publicação dos
livros “Roberto Burle Marx: um retrato”, de Laurence Fleming (1996), “Arte
brasileira: do modernismo à contemporaneidade vista através do acervo da Sul
América”, de Frederico Morais (1995) e “Acervo do Grupo Sul América de
Seguros: artistas brasileiros”, de Walmir Ayala (1975). 62
Já no ano de 1954, a empresa possuía sede própria nas seguintes cidades: Rio
de Janeiro (Rua Ouvidor, nº 64); Manaus (Praça 15 de Novembro, esquina com
Av. Sete de Setembro); Belém (Rua 15 de Novembro, esquina com Travessa
Frutuoso Guimarães); Fortaleza (Praça do Ferreira); Recife (Praça da
Independência, esquina com Av. Dantas Barreto); Salvador (Rua Chile, nº 18);
62 Belo Horizonte (Av. Afonso Pena, nº 941); São Paulo (Rua Boa Vista, nº 293);
Curitiba (Rua 15 de Novembro, nº 608); Porto Alegre (Rua dos Andradas; nº 1351,
esquina com Borges de Medeiros); Niterói (Av. Visconde do Rio Branco, nº 429);
Juiz de Fora (Rua Halfeld, nº 692); Campos dos Goytacases (Boulevard
Francisco de Paula Carneiro, nº28),73 além das sedes no exterior (Madri,
Barcelona, Sevilha, Lima, Chiclayo, Arequipa, Piura, Guayaquil, Quito).74
69
Fundado com a participação das três empresas do grupo, conforme será relatado.
70
Não há registros sobre a construção da sede nesta cidade nos periódicos seguintes.
71
Revista Sul América/nº 131, Ano 34, p. 26/ jan. a mar. 1953.
72
Revista Sul América/nº 135, Ano 35, p. ?/ jan. a mar. 1954.
73
Edificação não identificada no espaço urbano atual.
74
Revista Sul América/nº 135, Ano 35, p. contracapa/ jan. a mar. 1954.
A REESTRUTURAÇÃO DA EMPRESA
75
Autoria do projeto não identificada.
76
Não foi possível identificar o arquiteto responsável por este projeto.
Figura 22 – Edifício Raul Telles Rudge do acervo da empresa, mostra que
- sede São Paulo - 1979.
percorreu, posteriormente, as sedes de
Florianópolis, Porto Alegre, Fortaleza e
Brasília.77
A Sul América adentrou o século 21 com a decisão de construir uma nova sede
no Complexo Rio Cidade Nova, estrategicamente na Rua Beatriz Larragoiti
Lucas, nome atribuído à bisneta do fundador e também diretora da empresa após
o afastamento do pai. Portanto, até a construção desse edifício, a Sul América
funcionou, no Rio de Janeiro, na primeira sede construída, na Rua do Ouvidor.
77
Revista Sul América/nº 14, p. 5/ set. a nov. 1979.
Em 2013, mudanças relevantes ocorreram na composição societária, com
aumento significativo da participação, por parte da família Larragoiti, na holding
Sulasapar, que passou a ser a controladora do grupo.
79
Fonte: https://www.revistaapolice.com.br/2015/12/sulamerica-inaugura-nova-sede-em-sao-paulo/-
acesso em ago. 2018.
80
Alguns noticiários apontam que o edifício foi construído pela empresa em comemoração aos 120
anos de sua existência, ver: https://www.revistaapolice.com.br/2015/12/sulamerica-inaugura-nova-
sede-em-sao-paulo/- acesso em ago. 2018. Outros apontam que a empresa ocupa apenas o nono
andar deste edifício (http://jrscomunicacao.com/2018/02/07/sulamerica-reforca-atuacao-em-sao-
paulo-com-novo-endereco/ - acesso em ago. 2018), sem dados complementares. O site do escritório
de arquitetura responsável pelo projeto não informa dados do cliente.
aparente preenchida pelos vidros espelhados, que a transição da tradição para a
modernidade arquitetônica, aparentemente, havia sido concluída. Na atualidade,
o destaque no espaço urbano das principais capitais brasileiras são as torres
totalmente revestidas em panos de vidro, sem nenhum tipo de estrutura aparente
e sem qualquer relação com o contexto urbano, como é o edifício TEOEMP. Aqui
não se questiona se essa arquitetura é boa ou ruim, mas o que importa é que
algumas considerações sobre este invólucro de vidro já despontam na
historiografia. Vale a referência do arquiteto Flávio de Carsalade:
BHLB foi vendido para o banco norte americano Chase Manhattan, venda
consolidada com a transferência de grande parte do capital da família Larragoiti
para essa instituição, que, paulatinamente, deixou de ser um banco hipotecário
para se tornar um banco comercial, mas que continuou a financiar moradias por
mais alguns anos, até a reforma bancária de 1964, promovida pelo governo
federal, que excluiu este tipo de investimento privado do setor imobiliário
(BEDOLINI, 2014).
83
Segundo Alessandra Bedolini (2014, p.15), “Atuavam neste setor algumas Caixas Estaduais, como
as Caixas Econômicas de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas a BHLB [Banco Hipotecário Lar
Brasileiro] era a instituição de detinha o maior poder de ação.”
qualidade constituía mais um atrativo para o mercado
imobiliário (BEDOLINI, 2014, p.19).
Para a autora, os debates autônomos têm uma lógica dirigida pelos seus próprios
princípios internos que são adaptados em vários contextos, moldando suas
características locais ou até suas manifestações estilísticas próprias. Um dos
exemplos de debates autônomos citados por Sarah são as questões referentes
as escolas Bauhaus e VkhUTEMAS:85 ambas tinham foco essencialmente
84
“[…] as an intrinsically hypothetical assertion, and is submitted to this community with the hope of
‘discursively testing its claim to universality’.” (GOLDAHGEN, 2005, p.159)
85
VkhUTEMAS, Ateliês Superiores Técnicos-Artísticos Estatais foi uma escola de artes fundada em
1920 em Moscou, considerada berço da vanguarda soviética.
autônomos, apesar de coerentes em um conjunto de questões, as quais
centravam-se nas discussões acerca das obrigações sociais, mas com precisões
distintas ou opostas (a escola alemã engajou-se em produzir arte para os estetas
e a russa em fazer arte utilizável); a identidade das duas é muito próxima e
debatida por muitos pesquisadores como posição e oposição. De certa forma, os
debates iniciais da arquitetura moderna - nos anos 1920 - giraram sempre em
torno das mesmas questões, tais como a adequação do papel da
tecnologia/descobrimento científico na vida moderna; a possibilidade da
arquitetura servir como agente para as mudanças sociais; a maneira como a
arquitetura poderia/devia abraçar a agenda política; o papel que a tradição
arquitetônica poderia desempenhar na arquitetura moderna; dentre outras. Para
discutir tais questões, segundo Goldhagen, não é suficiente pensar o modernismo
como um grupo de formas, ou como um estilo, ou como outra característica
isolada. Diante de tal insuficiência, a autora propõe o modernismo como um
discurso e invoca um “conceito familiar” para explicar a sua ideia, qual seja, o de
pensar o modernismo como uma conferência profissional, um seminário, no qual
há um amplo número de pesquisadores unidos e interessados pelas ideias dos 73
86
“Like the debates at profissional conferences, the discourse of modernism in architecture spawed a
wide range of responses, with participants situating themselves and refining past positions, and
Modernismo em arquitetura, portanto, gerou muitos movimentos e tensões, ou
seja, não limitou-se a um movimento, e foi sempre influenciado e moldado por um
fenômeno externo a ele, divergente em cada época, como, por exemplo: anos
1920 - por interesses econômicos do novo capitalismo, clima político das
agitações sociais, desenvolvimento científico, clima cultural; anos 1930 – por
conflitos entre os nazistas, fascistas e o sistema democrático, depressão mundial,
florescimento de identidades regionais; e assim por diante.
reframing the discourse’s central questions in response to social, cultural, political, economic,
technological, and other developments extrinsic to, but ever penetrating into, its permeable yet highly
articulate boundaries.” (GOLDAHGEN, 2005, p.161)
87
“[...] – what an architectural language can and cannot convey, and what sort of language best
instantiates both the conditions of modernity as a whole and the individual’s positions on each of the
other three dimensions. “(GOLDAHGEN , 2005, p. 162)
88
Modernism in architecture was and is an ongoing conversation […] . “(GOLDAHGEN , 2005, p. 163)
de visão para problemas de elaboração e crítica, além de abrir amplos espaços
conceituais que demandam refinamentos. É como se o fenômeno, adotado como
um paradigma, não demandasse explicações. E, assim, conceitos estilísticos
podem mascarar demandas divergentes.
O que se extrai do caminho proposto por Goldahgen, e que pode ser útil para
esta pesquisa, é a irrelevância em se tentar situar formalmente as sedes
produzidas por Roberto Capello em um contexto de produção da arquitetura
comumente debatida pela historiografia como moderna, pois a análise isolada da
dimensão formal não é capaz de explicar a arquitetura como um discurso
complexo como ele o é. Tampouco é produtivo - e sequer resultaria em uma
conclusão satisfatória - tentar relacioná-las, por exemplo, com a produção das
escolas comumente denominadas de carioca ou paulista, que dominaram o
debate da historiografia da segunda metade do século 20; não descartando a
relevância do papel destes estados como formadores, por assim dizer, de um
grupo de liderança, como nas conferências profissionais – usando da
exemplificação da autora -, que são fundamentais para conduzir os debates. É 75
certo também, que no período da construção das sedes das empresas nas
capitais dos principais estados brasileiros, cada contexto era dotado de sua
própria dinâmica no que diz respeito aos fatores que ajudaram a construir o
campo arquitetônico, tais como a migração interna dos profissionais, a fundação
das escolas de arquitetura, o desenvolvimento econômico, social e outros, que
são, sem dúvidas, agentes externos que moldaram um campo particular e
diferenciado em cada estado. Diante disso, seria útil para a construção e revisão
do campo da arquitetura brasileira do século 20 se as futuras pesquisas
propusessem tratar os estudos destes fenômenos externos que moldaram a
arquitetura em cada estado, no lugar de tentar relacionar a arquitetura local com
os edifícios canônicos, produzidos, principalmente, nos estados de São Paulo e
do Rio de Janeiro.
Até 1940, escassas eram as publicações com narrativas mais amplas sobre a
arquitetura brasileira, quando, em 1943, é lançado o livro “Brazil Builds:
architecture new and old – 1652-1942”, de Philip Goodwin que, segundo Nivaldo
Andrade Junior, foi a “primeira publicação a coletar e apresentar, de forma
sistemática, a produção arquitetônica moderna brasileira” (2019, p. 80, v.1). A
despeito da ênfase dada à arquitetura moderna, foram relacionadas obras desde
o período da colonização até o ano de 1942. Conforme amplamente relatado na
historiografia, o livro retrata a exposição da arquitetura brasileira no MoMa
(Museum of Modern Art) de Nova York em 1942, viabilizada por esta instituição
e pelo American Institute of Architects (AIA), no âmbito da política da boa
vizinhança entre Brasil e Estados Unidos.
89
O livro “The Work of Oscar Niemeyer”, com prefácio de Lucio Costa, apesar de tratar dos trabalhos
do arquiteto, abria o caminho para o registro da produção brasileira.
da tese do francês Yves Bruand. Grande parte dos estudos decorreu do
fortalecimento dos cursos de pós-graduação e do fomento da pesquisa
acadêmica no Brasil através das agências financiadoras (CAPES e CNPq) e, de
certa forma, do movimento mais eficaz de interação entre os pesquisadores da
área. Dentre as publicações que se destacaram, estão “Arquitetura Moderna
Brasileira” (1982), da dupla Sylvia Ficher e Marlene Milan Acayaba; “Arquiteturas
no Brasil 1900-1990” (1998), de Hugo Segawa; além de uma quantidade
significativa de capítulos de livros, teses, dissertações e artigos sobre o assunto,
muitos deles divulgados pelas revistas brasileiras de arquitetura, tanto de
produção independente, como as revistas Projeto e AU (Arquitetura e
Urbanismo), quanto pelas próprias revistas vinculadas aos cursos de pós-
graduação. Estes estudos irão produzir, de certa forma, uma nova leitura sobre o
legado da arquitetura reconhecida como moderna e abrir novos caminhos para
novas narrativas na historiografia da arquitetura brasileira. Com o crescimento
das pesquisas decorrentes dos cursos de pós-graduação, percebe-se que a
tradição de publicações do tipo catálogos, com a demonstração e análises das
78 principais obras representativas do que se considerava moderno no Brasil, dão
lugar a uma narrativa própria, sistemática e mais detalhada. Nesta linha, nas
décadas de 1980 e 1990, destacam-se o livro de Sylvia Ficher e Marlene Milan
Acayaba (1982), o qual incorpora os anos 1970 e os desdobramentos regionais,
o livro “Le Corbusier e o Brasil”, de Cecília Rodrigues dos Santos e Margareth da
Silva Pereira, de 1987, e o próprio livro de Segawa (1998).
Um dos fatores que contribuiu para que grande parte das publicações
registrassem predominantemente as obras dos arquitetos do Rio de Janeiro e
São Paulo foi, sobretudo, o papel de centralidade dessas cidades na formação
dos arquitetos brasileiros até a década de 1950 (SEGAWA, 2014), essencial na
fundamentação no processo de constituição do campo arquitetônico.
90
A Politécnica de São Paulo, por exemplo, adotava, em seu primeiro regulamento (1894), uma
estrutura didática em que os alunos poderiam escolher entre os cursos de engenharia civil, industrial
e agrônomo. Em seu segundo regulamento (1899) os alunos tinham a opção de decidir, além dos
primeiros, pelo curso de engenheiro-arquiteto, institucionalizando-se, desse modo, o ensino da
arquitetura no estado. Este regulamento baseava-se no ensino da politécnica germânica, compreendo
um curso fundamental (dividido em curso preliminar e curso geral) e os cursos especiais, a saber,
engenheiro civil, arquiteto, industrial e agrônomo, estrutura que perdurou por trinta anos, mas que
sofreu diversas alterações ao longo das décadas. Sobre as origens e trajetória da Escola Politécnica
de São Paulo, em 1894, ver Ficher, 2005.
implementados em um período em que a técnica e a arte passaram a constituir
duas atividades distintas (BENÉVOLO, 2014).
91
Luiz Signorelli (Cristina-MG, 1896 – Belo Horizonte/MG, 1964) formou-se na Escola Nacional de
Belas Artes do Rio de Janeiro em 1925 e mudou-se para Belo Horizonte, onde assinou os projetos
para o Automóvel Clube de Minas Gerais (1927/1929), a sede da Secretaria de Estado de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (IEPHA); a sede da Prefeitura Municipal, a sede da Secretaria de Estado
e Segurança Pública (1926/1930), Clube Belo Horizonte (1926/1930), Hotel Sul Americano (1928),
Edifício da Alfândega (1926/1929) e várias residências particulares (IEPHA/MG, 1997) . A despeito
de sua representatividade em relação ao contexto edilício de Belo Horizonte da primeira metade do
século 20, o arquiteto carece de estudos relativos à sua trajetória e obra produzida.
92
Não há registros seguros sobre a data e portaria de alteração deste título do egresso. A data é
provável e foi levantada após lançar a dúvida para vários egressos. De toda forma, é fato que o título
em duplicidade findou-se após a promulgação da lei de criação do Conselho de Arquitetura e
Urbanismo (CAU), Lei número 12378/2010.
o decreto presidencial (Decreto nº 83.903, do Conselho Federal de Educação)
que autorizou o funcionamento do curso particular de Arquitetura e Urbanismo do
Instituto Metodista Izabela Hendrix, implantado em 198093.
93
http://izabelahendrix.edu.br/arquitetura-e-urbanismo/historico - acesso em mai. 2020.
desligado dessa Escola e ambos são vinculados ao novo Setor de Tecnologia,
situação que ainda permanece. Na década de 1970, são criados o Colegiado do
Curso de Arquitetura e Urbanismo (1972) e o Departamento de Arquitetura e
Urbanismo (1973) (CHIESA, 2001). Percebe-se, que a criação do curso de
Arquitetura na capital do Paraná implicou na transferência de um número
considerável de profissionais de outras capitais para atuarem como docentes,
onde muitos se instalaram definitivamente.
94
Miguel Navarro y Cañizares foi um pintor espanhol, natural de Valência, que fixou residência em
Salvador no final do século 19, quando passou a lecionar no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia,
implantando as graduações do ensino do desenho e pintura. Cañizares foi também responsável pela
elaboração do projeto para a criação da Academia de Belas Artes da Bahia, encaminhado para a
apreciação do Governo da Província, provavelmente, em 1877, mais tarde denominada Escola de
Belas Artes. (SILVA, 2005).
95
O histórico disponibilizado no site da FAUFBA informa que a federalização aconteceu em 1949.
(Ver: https://arquitetura.ufba.br/pt-br/historico - acesso em mai. 2020).
Belas Artes. Sobre a formulação da estrutura curricular do curso, informa o site
da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (FAUFBA):
96
José Liberal de Castro migrou para o Rio de Janeiro no ano de 1944, onde cursou Arquitetura.
(PAIVA e DIÓGENES, 2014) Neudson Braga formou-se na Faculdade Nacional de Arquitetura da
Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro (BRAGA, OLIVEIRA e RIBEIRO, 2014); Ivan Britto e
graduou-se em Recife no ano de 1955 (LIMA, 2014), José Armando Farias também graduou-se em
Recife, fazendo parte da primeira turma (1948) da Escola de Arquitetura de Pernambuco (PAIVA e
DIÓGENES, 2014)
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP
- ; e, pouco depois, em 1950, na Escola de Engenharia de São Carlos (LESSA,
2016). Porém, em Fortaleza, o arquiteto permaneceu apenas um ano. Todos os
arquitetos envolvidos na criação do curso na capital cearense também integraram
o Departamento de Obras da UFC, onde projetaram os edifícios para a expansão
do campus universitário. Este conjunto de acontecimentos desenhou o campo
propício para a construção dos ideais modernizantes em Fortaleza.
97
Assim como tentou Nestor Goulart em seu livro Quadro da Arquitetura do Brasil (1970), a despeito
das particularidades intrínsecas ao período.
Brasil, na relação entre paulistas e cariocas (3). Tudo mais,
na terceira etapa, seriam desdobramentos.
91
ANTES DE TUDO, UMA TENSÃO
98
A World’s Columbian Exposition foi planejada para comemorar a primeira viagem de Cristóvão
Colombo à América em 1492, e demonstraria o potencial da indústria americana. Para tal feito,
elegeram o arquiteto Daniel Burnham como o responsável por conduzir o plano, o qual formou uma
equipe de outros arquitetos americanos para produzir os projetos dos edifícios. Sobre a proposta de
Brunham, registrou Luke Fiederer: “Seus esforços individuais estavam unidos por um mandato
estilístico: ao invés dos pavilhões de metal e vidro que caracterizaram as Feiras Mundiais desde o
Crystal Palace, esta nova exposição assumiria a aparência de uma ‘cidade sonhadora’ real e
permanentemente realizada no estilo de Beaux Arts.” (FIEDERER, 2017).
Cultural, ” no qual discorre sobre cinco temas (objetos, termos, situações, reações
e resultados) de forma a explicar, panoramicamente, o fenômeno.
Para Burke, há locais que são apropriados e favoráveis às trocas culturais, como,
por exemplo, as metrópoles, as fronteiras e as áreas portuárias, onde a interação
entre pessoas de diferentes culturas é propiciada. Apesar da tendência dessas
pessoas se isolarem em grupos, as interações são inevitáveis, tanto dentro da
cultura como entre culturas. A troca, portanto, é uma consequência dos
encontros, a qual têm várias consequências e reações como aceitação, rejeição,
segregação e adaptação. Em nosso país, pode-se dizer que a aceitação do
estrangeiro foi mais ou menos imposta, a começar pelo próprio processo
colonizador, e mais adiante, no que tange às artes e arquitetura, pelas ações
promovidas pela Missão Francesa, mesmo com a forte resistência dos técnicos
locais, e assim por diante.
99
Segawa, utilizando-se da obra de Weimer, citou João Antônio Monteiro no subcapítulo “À margem
do modernismo engajado”, sem, no entanto, ilustrar exemplos de sua arquitetura. (2014, p.18).
100
PEREIRA, Cristiano Zluhan. Entre Textos e Projetos. O arquiteto João Antônio Monteiro Neto em
Porto Alegre. (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
um estado. Nesta perspectiva, a arquitetura sempre se renova, não havendo um
fim determinado que possa classificá-la em períodos ou características formais,
como muitos estudos têm feito. No entanto, também parece evidente que as
discussões e debates acerca dos aspectos formais da arquitetura brasileira do
início do século 20, a despeito da sua insuficiência para a identificação da
totalidade do campo arquitetônico, pelo menos ajudaram a construir o sistema
cultural relativo, o qual ainda está em processo, assim como está em processo a
própria historiografia referente.
101
Decorrente da aula inaugural ministrada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul em 1959 (ARTIGAS, 1959 in 1981).
Andrade Junior (2019) comentou sobre a análise de Cavalcanti e registrou que o
autor, ao discorrer sobre o tema, ratificou o discurso hegemônico da arquitetura
moderna brasileira, que incomoda atualmente grande parte dos pesquisadores.
Nas palavras de Andrade Junior:
Nesse caso não se trata da afirmação de uma hegemonia, mas sim de uma
contribuição da arquitetura na afirmação da nacionalidade. Hegemonia ou não,
sabe-se que a partir da década de 1950 a tensão entre as correntes praticamente
se esgota, e a arquitetura moderna, ou de linguagem racionalista, ou
progressista, sobressai-se no contexto edilício, passando, inclusive, a ser 103
repetida na autoconstrução (LARA, 2018).
AS VÁRIAS MODERNIDADES
.
A pesquisa de Hugo Segawa baseou-se nos diversos matizes que contribuíram
para a construção dos processos constitutivos da arquitetura brasileira no período
de 1900 a 1990, os quais resultaram, segundo sua hipótese, em modernidades
distintas. Essas várias modernidades serão aqui relembradas até a década de
1950, tendo em vista o recorte temporal definido previamente para este estudo.
Como o próprio autor esclarece, ao trabalhar com processos, ele deixa de
contemplar uma “cartografia” ampla da produção arquitetônica, mas ressalta que
o entendimento desses processos pode servir de base para a inserção de outros
personagens em pesquisas posteriores, como é o caso desta tese. Para Segawa,
todas as modernidades, ou vertentes, são demonstrações de renovação da
arquitetura (2014).
102
Assim como fez Andrade Junior em seu livro e Melissa Laus Mattos em sua tese defendida
recentemente no Proarq, intitulada “Ecos da Modernidade no Alto Uruguai Gaúcho: o caso de
Erechim” (2020)
social e política propícia nessas capitais, e, posteriormente em outros estados
brasileiros, seja através do ensino (quando muitos deslocaram-se para outras
capitais para lecionarem nas novas graduações em arquitetura, carregando a
experiência das escolas de São Paulo e Rio de Janeiro) ou para atuarem em
órgãos públicos ou em empresas privadas. Desse modo, esses arquitetos
conformam, sem dúvida, o núcleo divergente da arquitetura, ou como propõe
Goldahgen (2005), o grupo selecionado de pessoas responsáveis por conduzir o
discurso a uma comunidade de destinatários, de forma a testar a sua
universalidade. Os objetos são parte das propriedades resultantes do discurso,
os quais, juntamente como outros aspectos que o conformaram, produziram
séries de discussões mais ou menos autônomas e que devem ser estudadas e
relacionadas para iluminar o campo.
103
Modernism in architecture was and is an ongoing conversation […]. “ (GOLDAHGEN , 2005, p. 163)
111
114
ASPECTOS GERAIS SOBRE A ECONOMIA NO INÍCIO DA
REPÚBLICA
Pode-se afirmar que até a década de 1930, as principais cidades brasileiras que
se beneficiaram dos recursos decorrentes do processo de industrialização
apresentaram uma forma de habitação constituída desde a segunda metade do
século 19, resultado de investimentos imobiliários tímidos, viabilizados,
sobretudo, pelos grandes empresários, mais caracterizados como uma forma
conveniente de aplicação do excedente de sua produção em outras áreas do que
como um investimento no setor da construção civil. Desse modo, a produção
imobiliária derivou-se, sobretudo, de outras atividades econômicas, como foi o
caso da empresa Sul América no início da década de 1930, quando as primeiras
sedes foram construídas. O excedente financeiro do principal negócio da
empresa, o de seguros, foi aplicado na construção de edifícios em altura, os
quais, em sua maioria, destinados ao uso misto, geravam rendas provenientes
dos alugueis das unidades – e não da venda - como forma de garantir a
imprevisível oscilação da economia.
118
Nesse período, os investimentos no setor imobiliário se intensificaram,
demandando, naturalmente, a profissionalização na área. Vale notar que foi na
década de 1960 que a empresa Sul América iniciou a venda das unidades dos
seus edifícios sedes, que até então eram alugadas a terceiros, mantendo, no
entanto, a sua parte que servia para o funcionamento das sucursais.
AS NOVAS TIPOLOGIAS ARQUITETÔNICAS
111
Estruturas de ferro forjado também eram utilizadas, porém as de ferro e aço eram mais resistentes
ao calor. (DEMPSEY, 2003, p. 23)
pelas alvenarias, o Home Insurance, (FIGURAS 27 e 28), demolido em 1931
(DEMPSEY, 2003). O cliente, a Home Insurance Company, pertencia ao ramo
dos maiores serviços em ascensão nos EUA, o de seguridade, negócio em que,
pouco tempo depois, a empresa Sul América iria dedicar-se.
121
112
Otília Arantes informa que no período de 1890 e 1908 foram construídos em Nova York 306
arranha-céus (ARANTES, 2011, p.40).
No intervalo entre a torre de solução tripartida clássica e a torre futurista, o edifício
evolui para um bloco único de formas retilíneas e desprovido de ornamentação,
de acordo com a técnica mais adequada à vida moderna. Em cada país,
desenvolvimento distintos, em tempos distintos, decorrente de movimentos em
defesa de novas linguagens arquitetônicas. Entretanto, é fato que a proposta dos
“Cinco pontos para uma nova arquitetura”, publicado por Le Corbusier em 1923,
influenciou mundialmente a projetação dos arquitetos e deixou legados
substanciais no que tange, sobretudo, aos edifícios verticais.
Como visto, este tipo arquitetônico sempre simbolizou o poder de alguma forma.
Para Carol Willis (1995) o arranha-céu é símbolo do capitalismo industrial (apud
GUIMARAENS, 2002),113 e na atualidade o que está em jogo é a potencialidade
econômica dos países e das corporações, com a disputa de quem possui o maior
arranha-céu do planeta. No topo do ranking está a Torre Burj Khalifa, em Dubai,
nos Emirados Árabes Unidos, com oitocentos e vinte e oito metros de altura.114
Para Lucio Costa “o mito e o poder sempre estiveram na origem das grandes
realizações de sentido arquitetônico. [...] A realização arquitetônica é assim a
expressão palpável desse conteúdo ideológico no seu mais amplo sentido”
(COSTA, 2011, p.25)
113 Guimaraens (2002) apresenta um capítulo intitulado Edifício Alto: o que é?, onde faz comentários
de diversos estudos sobre o arranha-céu, dentre eles o de Carol Willis, intitulado, Form Follows
finance: skycrapers and Skylines in New York and Chicago. Nova York: Princeton Architectural Press,
1995.
114
Disponível em: http://www.emporis.com/statistics/worlds-tallest-buildings - acesso em 14 jun.
2019. Acesso em mai. 2020.
De fato, as relações de poder são inerentes às sociedades ocidentais. Na
atualidade, “a ambição pela magnitude”, utilizando as palavras de Otília Arantes
(2011, p.44), estrangula a cidade e o habitante. A especulação imobiliária cresce
e cada espaço é disputado em valores. O arranha-céu, atual símbolo do poder
econômico, cada dia mais aproxima-se do céu, que é o limite (ARANTES, 2011)
e estrangula a terra. Deus parece mesmo ser alcançável. E o Inferno é a cidade.
115 Segundo Bourdieu em A Ilusão Biográfica, “[...] não podemos compreender uma trajetória (isto é,
Ana Paula Canez, em sua tese de doutorado sobre Arnaldo Gladosch, registrou
que os edifícios SULACAP e Sul América de Porto Alegre “foram projetados por
Arnaldo Gladosch no escritório técnico de Roberto Capello” (CANEZ, 2006, p.
27).
120
Carla Capello - neta do engenheiro Ludgero W. Dolabella que integrou a equipe de planejamento
de Belo Horizonte - concedeu gentilmente entrevista em sua residência na cidade do Rio de Janeiro,
em maio de 2016, e disponibilizou todo o acervo particular do pai, no qual constam desenhos, pinturas,
fotografias e o diploma de formação em engenharia na Politécnica de Turim. Ao questionar a
existência de projetos, Carla informou que doou todo o acervo para o Museu Sul América que, na
ocasião, funcionava no prédio da Rua da Quitanda
121
A nova sede foi construída na Rua Beatriz Larragoiti Lucas, 121, Rio de Janeiro. Com a mudança
de endereço da sede, todo o acervo foi transferido para uma empresa de logística no interior do estado
do Rio de Janeiro, que ficou responsável por sua guarda. A existência deste acervo foi informada pelo
diretor de Marketing Corporativo da Empresa Sul América, Sr. Zeca Vieira, que disponibilizou,
inicialmente, uma listagem detalhada de todo o material existente, da qual foi selecionado o conteúdo
a ser pesquisado. Com isto, a empresa transportou o material previamente selecionado para a sede
do Rio de Janeiro, onde a pesquisa foi realizada.
arquiteto e não mencionadas na literatura, como as de Curitiba, Florianópolis e
Fortaleza.
O acervo pessoal de Roberto Capello, guardado por sua filha Carla, é composto
por perspectivas de projetos, trabalhos acadêmicos, pinturas e desenhos de sua
123
“Por eso, señores, a la arquitectura que unos llaman funcional o racional y otros alemana, sueca,
internacional o moderna, produciendo confusiones com tanto nombre, la llamaremos ‘arquitetctura
técnica’, con el objeto de definirla mejor, entendiendo claramente que su finalidad es la de ser útil al
hombre de una manera directa y precisa.” (O’GORMAN, 1933, in MALUENDA, 2016, p. 43).
autoria, fotografias de obras construídas, além do Diploma de Graduação em
engenharia na Politecnico di Torino, documento que direcionou a pesquisa sobre
a existência do arquivo do aluno nessa instituição, o que foi realizado por meio
de contato via e-mail ao Archivio Storico del Politecnico di Torino. A instituição
respondeu prontamente aos questionamentos encaminhados, além de enviar
documentos complementares relativos ao aluno.124 De posse de todos os dados
levantados, foi possível construir parte de sua trajetória, tanto acadêmica como
profissional, conforme será relatado a seguir.
133
124
O contato com a Politecnico di Torino foi realizado via e-mail, em agosto de 2020, que direcionou
o pedido ao Arquivo Histórico da Politecnico. Enrica Bodrato, arquivista responsável, respondeu
prontamente o contato e encaminhou o Fascicoli studenti, Libri matricola e Diplomi de Roberto
Capello.
CUNEO, PISA, TURIM E BRASIL
126
Data de nascimento e formatura confirmada no Diploma de Formatura. Acervo pessoal de Roberto
Capello. O falecimento foi publicado no Jornal do Brasil, de 06/07/1985, 1º caderno, página 14.
127
Segundo Carla Capello, sua avó paterna possuía relações como o Sr. Larragoitti, então presidente
da Sul América, fato que garantiu o emprego de Capello na empresa.
d’Órnato, Disegno d’Architett, Geometria Descrittiva, Chimica Generale,
Fisica Sperimentale, e Meccanica Razionale. No ano Ano III, Capello concluiu as
disciplinas: Scienza Costruzioni, Meccanica aplicata, Quimica applicata,
Mineralogia, Disegno de macchine e outras relacionadas com o curso de
engenharia mecânica. Já no Ano IV, cursado em 1923, constam: Termotecnica,
Idraulica, Architettura, Macchine termiche, Geometria prat. e Geodesia, Principi
di eletrotécnica. No último ano - Ano V – foram anotadas: Teoria dei Ponti,
Costruz. Strad. e Idraul. Elettrotecnica, Architettura Tecnica, Economia Rur. Ed.
Estimo., Ferrovie, Ingegneria Sanitaria, Materie Legali. Nota-se, que a grade
curricular apresentava disciplinas associadas diretamente à arquitetura em todos
os anos. O acervo pessoal de Capello continha algumas atividades desenvolvidas
para a disciplina Architettura do IV ano, acompanhadas do memorial descritivo
do projeto, cujo texto permite entender parcialmente o seu modo de projetação
extraído da aprendizagem. Na proposta para o desenvolvimento de um Piccolo
albergo di Montagna,128 Capello escreveu:
128
Trata-se provavelmente da Comuna taliana da região do Trentino-Alto Ádige, província de Bolzano,
com cerca de 1.482 habitantes ou de qualquer terreno em lugar montanhoso.
edifícios muito altos e
Figura 33 – hotel em Montagna tentará se adaptar o edifício
à paisagem da montanha.
Serão evitados telhados
muito complicados, não
adequados para montanhas
altas.
136
129
Sezione Architettura - IVº Anno – II Tema. Piccolo albergo di Montagna. Questo albergo di Montagna è destinato
ad capitare circa 40 persone oltre al proprietário ed al personale di servizio – L’ubicazio ne acelta è ad um’altezzaq di
1200 metri sul livello del mare – Si há a disposizione um largo terreno abastanza pianeggiante riparato al nprd da um
monte coperto da una folte pineta – d’innanzi si stende una larga prateria com leggero declivio [...]. Verso mezzogiorno
e ponente el hanno i migliori punti di vista sul panorama alpino circontante. L’albergo è destinato ad capitare un clientela
acelta e ricca che si reca in villeggiatura l’estante per um soggiorno, l’ inverno per escursioni sulle alte vette circostanti.
Costruzioni quindi fatte senza afarzo, ma cômoda ed informata ad uma signorile semplicità – Si eviteranno i faboricati
tropo alti a si cercherà di adattare l’edificio al paesaggio montano. Non si impiegheranno materiali trippo difficili aversi,
o poco adatti al clima, usando di preferenza la pietra vista ed il legno che si trovano abbondanti dal sito. – Si esiteranno
pur le construzio ni di tetti tropo complicati, no adatti all’alta Montagna. Il fabbricato a piano terreno avrà una sala di
ritrovo al la – uma sala di lettura e di scrittura – uma sala com bigliardo - com grandi camini che si possa accendere in
daso di maltempo – un locale per la Direzione – servizio di gabinetti di toeletta – W.C. acc. Una o più gallerie aperte –
ma che si possa chiudere com vetrate acorrevoli per il caso di maltempo. Particolare cura si avrà nel disporre la sala
da pranzo ed um altra saleta da pranzo, le cucine in modo da evitarei l propagarsi degli odori dele vivande in tutto
l’albergo – Si cercherà quindi appartare alquanto questi ambienti. L’albergo dovrà costituirsi camere da letto con
gabinetto da bagno como è richiesto dalla clientela, con le camere disposte in modo da poter formare anche qualche
piccolo apartamento alquanto isolati per famiglie di villeggianti. Si provvederà ancora di stabiliere camere alquanto
appartate per quegli escursionisti di passagio che dovendo partire ad ora assai mattutine disturberebbero il sonno dei
villeggianti – locali per le guide, portatori, acc. So provvederà purê allo studio di un adatto sistema di riscaldamento per
poter aprire l’albergo l’inverno per gli sport invernali; e l’impianto dovrà farsi in modo che possa funzionare anche
riscaldando solo una parte dell’albergo. Infine dovrà stabilirsi um’ampia e adatta rimessa per le automobili con annesse
abitazioni per i meccanici e l’adattamento del terreno circonstante all’albergo formando un parco rustico, com adatti siti
di ritrovo. (Memorial descritivo do projeto para um Hotel – datilografado - Acervo pessoal do autor).
extrai-se uma possível atuação de Capello no mercado de projetos arquitetônicos
em Turim, antes de sua transferência para o Brasil.
138
Seu nome volta a aparecer nos jornais no ano de 1933130 e, no ano de 1935,
Capello já possuía a carteira profissional de engenheiro expedida pelo então
Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura da Quinta Região do Rio de
130
Conforme noticiário no Jornal do Commercio, 19 de janeiro de 1933, p.8, edição 00016, nas
doações para a Ordem Internacional Theosofica de Serviço, Secção Brasileira, consta o nome de
Roberto Capello.
Janeiro,131 registro que o possibilitou dar início ao projeto de construção da sede
em Curitiba, iniciada em 1935, primeira sede de tantas outras que viriam a ser
assinadas por Capello no Brasil.
131
DOU (Diário Oficial da União), de junho de 1935.
132
Jornal do Brasil, 17 jul. 1936, p. 31.
133
Correio da Manhã, 15 jul. 1949, p.7.
134
Correio da manhã 10 jul. 1949, p. 8.
partes, já discutidos nesta pesquisa. É oportuno transcrever um fragmento da
carta assinada pelo Movimento Renovador, o qual vinculou o grupo opositor a
ideais políticos, como citado anteriormente:
135 Dentre eles: Geza Heller (Hungria/1902 - Passa Quatro, MG/1992); Robert Russell Prentice (Fife
/1883 – Eastbourne/1960), Camillo Michalka (Viena/1921 - Teresópolis /2012); Adolfo Morales de los
Rios Filho (San Sebastian/1887 - São Pedro da Aldeia, RJ/1973) e outros.
CONTEXTO DE FORMAÇÃO
136 Tanto el movimento del ‛900ʼ, como el neobarroco, romano se presentan entonces como
vanguardia moderada y por algunos años disputarán con el racionalismo naciente el título de la
renovación de la cultura arquitectónica em Italia (GREGOTTI, 1969, p.13)
137A mostra aconteceu na Galeria d’Arte di Roma, auspiciada pelo fascismo e de organização
confiada a Pietro Maria Bardi. (TENTORI, 2000, p. 50)
Figura 38 – Edifício de apartamentos Novocomun - 7, entabulando uma onda de
Giuseppe Terragni / 1929
polêmicas e de opiniões
opostas entre os dois eixos
(TOGNON, 2000).
138 Gregotti identifica Pietro Lingeri como coautor do projeto (1969, p. 14).
139 Para um panorama da obra de Piacentini, ver Marcos Tognon (2000).
140 Architettura d´oggi, p. 17, citado por Tognon (2000).
141 A exibição da Tavolo degli Orrori foi exposta no espaço de recepção da mostra no dia da sua
inauguração e foi temporariamente retirada após sua exibição em decorrência da polêmica gerada. A
colagem reproduzia alguns exemplares da arquitetura acadêmica, numa espécie de ato provocativo.
A atribuição da obra foi dada a Pietro Maria Bardi e também a Giuseppe Pagano. Francesco Tentori
(2000) suspeita também de Carlo Belli como terceiro autor.
do Sindicato dos Arquitetos, que até então apoiava a busca de uma arquitetura
racional e fascista (TENTORI, 2000). A mostra não era homogênea em relação
às propostas racionalistas e, depois dela, o grupo dos defensores dos ideais
ortodoxos, do qual fazia parte Piacentini, tornou-se mais forte. Marcos Tognon
resumiu o ambiente em curso:
Gregotti não nega também a existência de uma zona intermediária entre os dois
ideais, assim como levanta a posição ambígua da relação entre os racionalistas
com o fascismo. Este cenário, do mesmo modo, é revelado por Manfredo Tafuri
e Francesco Dal Col (1978):
142 [...] durante los años veinte, las búsquedas arquitectónicas fueron um tanto contradictorias; por lo
cual, más allá de su poética, es muy difícil aislar los datos estructurales, captar el complejo e sutil
vínculo que hay entre el 'pluralismo formal’ e la politica cultural oficial. Mientras el fascismo – mediante
um reforzado aparato estatal – se encarga de las trasnformaciones sociales y económicas producidas
por el desarrollo industrial y la reconversión posbélica, la mediatización intelectual em la ciudad no
transpone las columnas de Hércules de adhesiones o rechazos, puramente formales, a tales
procesos. [...] la polémica arquitectónica vive en el interior de um espacio proprio e autónomo
143
“[...] El resultado fue desastrosamente monumental en el dibujo artístico y muy corruptor em el
plano de la arquitectura.” (GREGOTTI, 1969, p. 36.)
144
Como aconteceu com Raffaele Giolli, Gianluigi Banfi e Giuseppe Pagano. (GREGOTTI, 1969).
Com o afastamento de tempo ideal para a formulação da crítica, Vitorio Gregotti
resumiu, ao final da década de 1960,145 o ambiente arquitetônico do período:
145
Publicação original em inglês, Editora George Braziller; 1968. A edição em espanhol foi publicada
em 1969, pela editora Blume, em Barcelona.
146
“Yo creo que la experiência de la arquitectura italiana tiene algunas características específicas que
pueden ser provechosas a la cultura internacional: la primera es la dialéctica sobre las nociones de
historia y de tradición que ha alimentado toda la arquitectura italiana [...]. La segunda característica
es el debate constante entre ideologia y lenguage [...]. La terceira característica nace como uma
consequencia de las dos primeras y consiste em el estado de constante ambigüedad, sea como
complejidad de significado, sea como ineficácia para resolver los problemas. Esta ambigüedad
constituye la base del linguaje expressivo de la arquitectura italiana más interessante.” (GREGOTTI,
1969, p.7)
a necessidade de independencia da Italia e da eliminação de
todos os cumplices do fascismo. Confiamos em sua ação
para a consecução dos ideais comuns. (LIDER..., 1943, p.1)
147 Revista di Bergamo (Gionarle de Bergamo), Popolo di Bergamo, Secolo, Indipendente, Quadrante,
Corriere dela Sera, Belvedere, Meridiano di Roma, Il Vetro, Lo Stile. (TENTORI, 2000)
defendia piamente, nos primórdios, o regime, e há passagens no livro de Tentori
(2000) que transparece o seu desejo de independência nas opiniões. Sobre a
conferência entre o rei e Mussolini, em 29 de outubro de 1922, que o tornou Duce,
Bardi diz ter recebido ordens para a feitura de uma edição no Giornali de Bergamo
exaltando aquele acontecimento, mas, ao contrário, o fez da maneira que ele
achava mais apropriado.148 Entretanto, é fato que dirigiu uma galeria pública, a
Galleria d’Arte di Roma, patrocinada pelo Sindicato Nacional Fascista de Belas
Artes (TENTORI, 2000).149 Nos atos de promoção da arte italiana, em novembro
de 1929, organizou a mostra em sua galeria dos seis pintores de Turim, sendo
um deles, Edoardo Persico, judeu e perseguido pela posição antifascista.
148 A publicação sobre o acontecimento do então diretor do Giornali de Bergamo não agradara aos
fascistas “que cortam a barba do diretor e o obrigam a ingerir óleo de rícino” (TENTORI, 2000, p. 25).
Este acontecimento não agradara também a Bardi, que por isso não acatou as ordens de ressaltar o
novo Duce, fato que antecedeu o fechamento do jornal. Bardi, por não ter acatado as ordens, foi
atingido a ponto de ir para o hospital.
149 Em uma carta de Bardi a Mussolini, para a prestação de contas da galeria, também informa as
intenções de modernizá-la: “Há na Itália, hoje em dia, uma arte moderna em ascensão, valores de
primeiro plano, uma ordem artística sindical notável; com esta Galeria nós poderemos colocar à vista
tudo aquilo que existe vivo, tentar uma exportação de massa da nossa arte, [...] nós poderemos fazer
alguma coisa de original, de fascista e de frutígero para a arte italiana.” E despede-se: “Com devoção
fascista, P. M. Bardi”. (BARDI, apud TENTORI, 2000, p. 49). O que demonstra que, pelo menos
nesse período, mostras de arte e arquitetura racional foram expostas na galeria patrocinada pelo
fascismo.
arquitetura, independente de estilos ou causas. Para ele, qualquer [boa]
arquitetura era moderna para a época. Era este, o seu verdadeiro pensamento?
Ou estava apenas praticando o bom coleguismo, já que Joseph Gire participara
do icônico projeto da primeira sede da Sul América no Rio de Janeiro, em parceria
com Robert Prentice? Uma análise do perfil do corpo docente da Politécnica de
Turim, bem como dos alunos egressos do curso de arquitetura, pode ser um
caminho para iluminar melhor as suas influências, o que poderá ser feito em uma
etapa posterior a esta tese.
Não há como negar que Roberto Capello formou-se nesse contexto e absorveu
as concepções que se propagavam com as posições dos profissionais recém-
formados. O Politecnico di Torino formava profissionais atuantes no campo da
arquitetura racionalista, tais como Ettores Sottssas (1917-2007), austríaco de
150
Turín ocupa una posición especial en la geografia cultural de Italia: es la ciudade del crítico con
menos prejuicios del arte moderno de aquellos tempos, Lionelo Venturi; es la ciudade de la resistencia
ideológica al fascismo en las personalidades de Antonio Gramsci y Piero Gobetti. De la cultura
turinesa provienen el crítico más agudo y el más polémico defensor de la arquitectura moderna
italiana, el napolitano Edoardo Persico y Giuseppe Pagano, de Trieste. Turín, además, es la ciudade
italiana que tiene uma tradición cultural más ligada al nivel europeo. En Turín se formó em 1928 el
grupo de los “6”: son pintores que bajo la influencia de Persico proponen una posición abiertamente
europea en oposición radical con los principios del grupo del “900” de Milán. Entre sus membros se
cuenta Enrico Paulucci, Carlo Levi, Francesco Mesuno, Giorgio Chessa, Nicola Galante y Jessie
Boswell. Por este caminho los “6” llegaron al racionalismo. (GREGOTTI, 1969, p.16)
nascimento e turinense de formação, Umberto Cuzzi (1891-1973) e Giuseppe
Pagano (1896-1945). Lionello Venturi ocupava a cadeira da disciplina história da
arte no Politecnico e junto com Piero Gobetti e Antonio Gramsci, também
residentes em Turim, formavam a expressiva resistência ideológica ao fascismo.
Em 1928, foi inaugurada a exposição de Turim em comemoração ao Decênio da
Vitória, abrindo espaço para essa nova geração de arquitetos e pintores: Ettores
Pittini, Paolo Prona, Ettore Sottssas e Gino Levi Montalcini, Giorgio Chessa e
Umberto Cuzzi, Alberto Sartoris (1901-1998) e Pagano (GREGOTTI, 1969).
Mesmo com a formação em engenharia, é possível que Capello não tenha
deixado de absorver os pensamentos destes críticos. Umberto Cuzzi, por
exemplo, formou-se também em engenharia em 1921, porém iniciou sua carreira
em um escritório de arquitetura em Gorizia até 1927.151
151
Fonte: http://www.treccani.it/enciclopedia/umberto-cuzzi_(Dizionario-Biografico)/ - acesso em jan.
2018.
152
No Diário Oficial, de agosto de 1959, consta a informação que Capello era acionista da empresa
SIDEMA S.A. Comercial Importadora, sendo eleito, nesta sessão registrada, ao cargo de diretor
gerente.
153
Jornal do Commercio, de 19 de janeiro de 1933, p.8, edição 00016, Rio de Janeiro. “A Ordem
Teosófica de Serviço, fundada por Annie Besant em 1908, ainda mantém o objetivo delineado na
ocasião de sua instituição: [...] organizar-se ao longo de várias linhas de serviço, para promoverem
ativamente o primeiro objetivo da Sociedade: Formar um núcleo da fraternidade universal sem
distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor.” (Fonte:
http://international.theoservice.org/members/running/TOS%20Principles%20of%20Organisation-
Portuguese.pdf – acesso em 3 de ago. 2018).
projeto paisagístico foi elaborado por Burle Marx, com quem Capello mantinha
relações profissionais e de amizade. Infelizmente, o acervo particular foi
parcialmente perdido, incluindo o projeto dessa residência, porém, conforme
mencionado, restam alguns desenhos de projetos, fotografias e aquarelas. A
análise dos aspectos formais das perspectivas deixadas por Capello,
apresentadas anteriormente, e das sedes da Sul América produzidas pelo
arquiteto no Brasil, revelam uma aproximação, no que diz respeito ao modo de
tratamento das fachadas, tanto dos ideais propagados pelos arquitetos
racionalistas italianos, representados pela simplicidade dos volumes, linhas retas,
economia de ornamentação, quanto daqueles defendidos pelos arquitetos ditos
tradicionais, cuja monumentalidade e simetria clássica destacam-se. Talvez
Capello fosse um dos profissionais com posição na zona intermediária, porém é
inegável o desejo de renovação, presente em todos os eixos de discussão.
152
AS AUTORIAS DOS PROJETOS ARQUITETÔNICOS
O mesmo acontece com o edifício SULACAP, porém, sobre sua autoria, Canez
sequer levantou dúvidas. Para afirmar tão seguramente a autoria de Gladosch,
Canez, em seu texto introdutório, elencou uma ampla bibliografia consultada que
154
Paranaguá era a cidade mais próxima de Curitiba para o pouso de hidro-avião. Pelo que se pode
apurar, o arquiteto viajou para este destino nos anos 1935, 1936, 1938.
afirmou tal fato. Dentre elas, destaca-se a obra de Alberto Xavier e Ivan
Mizoguchi, intitulada “Arquitetura Moderna de Porto Alegre”, publicada em 1987,
além “Arquiteturas no Brasil: 1900-1990” de Hugo Segawa (2014) e outros, como
será relatado na análise sobre as sedes de Porto Alegre.
Talvez o livro publicado pelo prefeito José Loureiro da Silva, intitulado “Um Plano
de Urbanização” (1943), seja o responsável pelas conclusões sobre a autoria de
Gladosch por parte dos autores utilizados por Canez. O documento, que detalha
o plano urbanístico desenvolvido por Gladosch naquela década, continha a
perspectiva do SULACAP, sem crédito ao autor do projeto (ABREU FILHO,
2006). Tratando-se de um documento que discutia o Plano Diretor de Arnaldo
Gladosch, o qual apresentava a perspectiva do projeto, como não lhe atribuir a
autoria?
158
168
Outras notas mostram que Capello visitou Salvador em 1944 (Jornal A Manhã, Rio de Janeiro, 23
de julho de 1944, p. 6, edição 00906) e 1948 (Diário de Notícias, 23 de outubro de 1948, p. 3, segunda
seção, edição)
Vários foram os registros de viagem para a capital pernambucana, onde também
as duas sedes foram construídas, em lotes diferentes, localizados no entorno da
mesma praça, a Praça da Independência.
159
169
Há registros de viagens para Recife nos anos de 1935, 1936, 1937.
Juiz de Fora. Os demais projetos foram todos elaborados na década de 1940,
com maior espaçamento de tempo do que verificado na década de 1930.
Figura 48 –SULACAP de
O projeto da sede SULACAP de
Santos/SP - cidade em que a empresa já
atuava desde o início da década de 1930
- foi elaborado entre 1937 e 1939, uma
vez que a Revista Sul América/nº 68, de
1936, informou que nesse ano a empresa
ainda não tinha sede própria e em 1939 a
perspectiva do projeto do edifício foi
publicada na edição de 26 de janeiro do
Jornal A Tribuna, conforme será visto na
análise do edifício. Quanto à confirmação
da autoria, a análise dos projetos originais
permitiu a verificação da assinatura de
Fonte: Macuco News. Disponível em: < Roberto Capello nas pranchas.
160 http://docplayer.com.br/25609672-De-
bonde-um-passeio-no-tempo.html>
Acesso em 10 fev. 2020/modificada pela Figura 49: Perspectiva do projeto do
autora SULACAP de Juiz de Fora
Assim como em Santos, a empresa
também já atuava na cidade de Juiz
de Fora desde a década de 1930,
conforme informou a Revista Sul
América nº 68, de 1936. Já a
perspectiva do projeto foi publicada na
edição de 12 de setembro de 1938 do
jornal Diário Mercantil, em anúncio
sobre o lançamento da pedra
fundamental da construção do edifício
SULACAP na cidade. A despeito da
Fonte: Jornal Diário Mercantil, de 12 de
ausência do projeto arquitetônico setembro de 1938 – Arquivo DIPAC/Prefeitura
Municipal de Juiz de Fora.
original nos arquivos da Prefeitura
Municipal, o nome de Capello apareceu como autor do projeto tanto do Dossiê
de Tombamento municipal do edifício, quanto, conforme mencionado, na
dissertação de mestrado de Carina Cardoso (2015).
170
Segundo a correspondência oficial enviada pela coordenadoria de Licenciamento (COL/SEUMA) em resposta ao
pedido de consulta aos arquivos do projeto arquitetônico – ver anexo inserido na análise do edifício.
foram encontrados registros de viagens de Capello para Fortaleza no período de
1930 a 1950, fato que contribuiu para aumentar a dúvida sobre a autoria do
projeto. Entretanto, se na década de 1940 Roberto Capello ainda atuava na
empresa elaborando os projetos para as sedes de Porto Alegre e Salvador, além
da informação de que no ano de 1946 o projeto de Fortaleza estava em
andamento, não há, até o momento, motivo claro que impeça de atribuir-lhe a
autoria do projeto dessa sede, até que novas pesquisas venham indicar o
contrário.
[...]
171 Revista Sul América/nº 131, Ano 34, p. 26/ jan. a mar. 1953.
Com esses dados em mãos partiu-se para a confirmação da existência do edifício
no espaço urbano atual de Florianópolis. A pesquisa foi iniciada pela localização
do terreno indicada na Revista, mas nenhum edifício no referido endereço ou nem
mesmo nas proximidades possuía características formais similares às demais
sedes da empresa. Em seguida, realizou-se a busca em relação a alguma
referência à sede da empresa na capital, primeiramente em trabalhos
acadêmicos e, posteriormente, na Hemeroteca Digital Catarinense,172 que
resultou no levantamento de em um artigo,173 uma tese174 e um livro175, os quais,
Figura 51: Praça XV de Novembro em no entanto, não indicavam
Florianópolis com destaque para a sede Sul
América em destaque. qualquer localização ou imagem
do edifício. A dúvida foi relatada,
via e-mail, ao professor
Reinaldo Lindolfo Lohn,
integrante do Departamento de
História da Universidade do
Estado de Santa Catarina e
autor do artigo “Limites da 163
172
http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/oestadofpolis/estadof1955.html.
173
Artigo intitulado “Limites da utopia: cidade e modernização no Brasil desenvolvimentista
(Florianópolis, década de 1950)”, de Reinaldo Lindolfo Lohn, publicado na Revista Brasileira de
História, vol.27 no.53 São Paulo Jan./June 2007, disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882007000100013>
174
Tese intitulada “Aparência e Poder: Novas Sociabilidades Urbanas, em Florianópolis, de 1950 a
1970”, defendida por Mara Rúbia Sant´anna na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2005,
disponível em:
<https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4593/000502539.pdf?sequence=1&isAllowed=y>
175
Livro intitulado “UFSC 50 anos: trajetórias e desafios”, organizado por Roselane Neckel e Alita
Diana Corrêa Küchler, publicado em 2010 pela Universidade Federal de Santa Catarina.
gentilmente, fotografias antiga e recente da edificação.
Pela análise das imagens, nota-se que o edifício, ao contrário das demais sedes,
é uma obra tímida no contexto urbano, com baixa altimetria, mas ao mesmo
tempo percebe-se os mesmos recursos formais adotados nas demais sedes.
Considerando que na década de 1950, quando o edifício foi construído, a
empresa já estava caminhando com o processo de redução dos seus
investimentos no setor imobiliário, pode-se levantar a hipótese de uma possível
alteração no projeto arquitetônico. Conforme mencionado, o edifício é pouco
referenciado na literatura, e, apesar das tentativas realizadas, o projeto
arquitetônico original não foi encontrado, tampouco qualquer desenho atualizado
do edifício.
176
Revista Sul América/nº 104/105, Ano 35, jan/jun. 1946.
177 Revista Sul América/nº 135, Ano 35, p. ?/ jan. a mar. 1954.
178 Revista Sul América/nº 135, Ano 35, p. contracapa/ jan. a mar. 1954.
Figura 54 – Possível sede da empresa em Figura 55 – Possível sede da empresa em
Manaus (SULACAP?). Belém (SULACAP?).
A despeito desta pesquisa basear-se nos estudos das sedes SULACAP e Sul
América, vale mencionar que o arquiteto também produziu outros projetos para a
empresa que, conforme visto, direcionou seus investimentos para o mercado
imobiliário. Tanto o acervo do arquiteto quanto o da empresa possibilitou o
levantamento de alguns desses projetos, conforme relatado a seguir.
179
Os únicos registros de viagens publicados e encontrados nos jornais foram para Porto Alegre (1940) e para
Salvador (1944, 1946 e 1949).
Um deles, identificados no acervo pessoal, refere-se ao Edifício Zamudio,
localizado na Av. Rui Barbosa, 394, Flamengo, Rio de Janeiro. Em visita ao local,
constatou-se que o edifício construído é o mesmo representado no projeto:
167
Figura 59: Perspectiva do edifício Itamaracá, Figura 60: Edifício Itamaracá, Rua
Rua Senador Vergueiro, Rio de Janeiro. Senador Vergueiro, 219, Rio de
Janeiro/2019
169
170
181
Vilanova Artigas, 1961, p. 202.
182
Vilanova Artigas, 1961, p. 212.
analisados os edifícios segundo seus aspectos históricos, de relação com o
entorno, além dos aspectos formais e funcionais. Antes de cada análise será
exposta a ficha técnica das obras, de forma a resumir os dados do objeto
trabalhado.
O estudo da relação do edifício com o seu entorno tem como finalidade avaliar
até que ponto as propostas projetuais do arquiteto levou em conta o espaço
imediato à construção ou como o meio ambiente influenciou na concepção dos
projetos arquitetônicos das sedes. Segundo Amora, este tipo de investigação é
fundamental para o conhecimento do edifício, “tendo-se em conta a incompletude
do estudo da arquitetura divorciada de seu ambiente e o seu entendimento como
iniciativa que visa a resolução de necessidades humanas” (AMORA, 2006, p.?)
objeto de estudo, não significa que seja a única, sendo necessárias análises de
outros elementos que se articulam para entender a história da arquitetura. Em
outro estudo elaborado sobre a história da arquitetura argentina,184 Waisman
descartou a periodização baseada em análises formais ou tipologias estilísticas
por motivos diversos, tal como, por não serem criações próprias da cultura
estudada, portanto, dispensáveis para a compreensão da arquitetura. Desse
modo, a autora definiu tomar as tipologias funcionais como objeto historiográfico
e para definir a periodização empregou pautas fornecidas pelas “transformações
no processo de produção da arquitetura, na distribuição da população, nas
relações de dependência econômica e cultural, etc.” Entretanto, em seu – já
mencionado - livro “La Estructura Histórica del Entorno” utilizou as tipologias
183
“ la forma es el elemento da la arquitectura más obviamente expressivo de la ideologia, por lo que
se convierte em el objeto obligado de especulaciones y manipulaciones ideológicas” (WAISMAN,
1985, p. 81).
184
Publicado na revista Summa com o título Summa/História, entre 1974 e 1977, o qual resultou no
livro “Documentos para una Historia de la Arquitectura Argentina.“(1978, 1ª edição).
como instrumento para a análise historiográfica e não apenas a tipologia formal
e funcional, como também outros elementos de análises já evidenciados neste
texto.
O que a autora pretende explicar é que, para cada estudo, a definição dos
instrumentos de análise irá variar conforme o objetivo a ser desvelado. Como já
explicitado, o objetivo da análise formal como um dos instrumentos de análise
dos edifícios aqui estudados é compreender os elementos arquitetônicos
utilizados pelo arquiteto na composição de sua forma, os quais podem revelar a
expressividade do projeto arquitetônico. Mas a forma não é a única no processo
compositivo do objeto, entretanto é uma etapa crítica (ARGAN, 2000), no
processo de composição, o qual que se constitui a partir de relações entre forma,
ideologia, função, estrutura (sustentação), história. Deve-se, portanto, ser
analisada conjuntamente aos demais processos para o entendimento do fazer
arquitetônico, o qual não é um processo isolado, conforme indica Rafael Moneo:
178
A obra de arquitetura não pode ser considerada como um
feito único e isolado, singular e irrepetível, uma vez que
sabemos quanto ela está condicionada pelo mundo que a
rodeia e por sua história. Sua vida se propaga e se faz
presente em outras obras em virtude da específica condição
da arquitetura, ao implicar essa uma corrente de feitos
solidários, aos quais descreve uma mesma estrutura formal.
(MONEO, 1978, p. 209, tradução minha) 185
Por fim, a análise funcional dos edifícios servirá também para entender as
soluções projetuais do arquiteto, que permitem indicar os usos sociais do período
em que foram construídos, caracterizado, no que tange aos edifícios em análise,
por uma expressiva transformação da sociedade brasileira. Será um caminho
para demonstrar como o profissional assimilou esta mudança. Essa análise
também estará associada com as transformações urbanas verificadas na relação
do edifício com o entorno, ou no contexto urbano da cidade em que foi construído.
185
“ la obra de arquitectura no puede ser considerada como un hecho único y aislado, singular e
irrepetible, una vez que sabemos cuanto está condicionada por el mundo que le rodea y por su
historia. Su vida se propaga y se hace presente en otras obras en virtud de la específica condición de
la arquitectura, al implicar ésta una cadena de hechos solidarios a los cuales describe una misma
estructura formal. (MONEO, 1978, p. 209)
Seriam incompletos esses estudos sem o entendimento do projeto arquitetônico
de cada edifício, ou seja, sem a leitura das peças gráficas que resultaram no
objeto arquitetônico construído. Essas peças, apresentadas no último item da
análise de cada sede, foram redesenhadas a partir do projeto original, quando
disponível, ou do projeto ilustrado em outras publicações. Ressalta-se que para
todos os edifícios foi realizada a tentativa de levantamento do projeto original nos
arquivos dos órgãos municipais de aprovação de cada cidade, tentativa que nem
sempre resultou em êxito, o que será relatado oportunamente. Por exemplo, em
Salvador, onde foram construídas as duas sedes, foi possível levantar apenas o
projeto arquitetônico do SULACAP, disponibilizado no Dossiê de Tombamento
isolado do imóvel, ainda assim o documento não apresentava o projeto original,
visto que o mesmo se encontrava arquivado e em péssimas condições de
conservação, o que impedia o seu manuseio. Em relação ao edifício Sul América
dessa mesma cidade, o órgão municipal responsável informou a ausência do seu
projeto, indicando a possiblidade de sua existência em outras instituições, as
quais não responderam aos contatos realizados.
179
Em relação à ordem de apresentação das análises, tentou-se, primeiramente,
expor a sequência cronológica de elaboração dos projetos em detrimento da
inauguração das construções, com o objetivo de levantar as possíveis mudanças
do processo de projeto do arquiteto em um período de vinte anos. Entretanto,
como em algumas cidades foram construídas as duas sedes, tais como Salvador,
Porto Alegre e Recife, e não necessariamente essas duas edificações foram
projetadas ao mesmo tempo, considerou-se mais viável apresentar as análises
por cidade, porém sempre priorizando a ordem cronológica da elaboração dos
projetos. Nem sempre foi possível identificar o ano de projetação, ao contrário do
ano de inauguração, quase sempre disponibilizado tanto nas Revistas Sul
América quanto nos jornais locais.
180
Ficha técnica
183
ANÁLISE HISTÓRICA186
186
Os dados coletados para esta análise foram obtidos na ocasião da pesquisa in loco, quando se
verificou que a responsabilidade do edifício estava a cargo da Receita Federal, cujo departamento de
obras disponibilizou dados referentes ao alvará e plantas da edificação.
187
Dados fornecidos pela Seção de Obras e Serviços de Engenharia/Divisão de Programação e
Logística da Superintendência da Receita Federal do Brasil na 9ª Região Fiscal
local O Dia, incluindo a entrevista com Capello, cuja transcrição parcial é oportuna
pela menção sobre o uso dos materiais e, sobretudo, pelo modo de projetação:
186
PROSPECÇÕES ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS DO
ENTORNO
Figura 69: Projeto da sede da Sul Figura 68: Estado atual da sede da Sul
América de Curitiba. América de Curitiba.
187
Figura 72: Praça Santos Andrade em 1935, com destaque para a Rua XV de
Novembro e para o quarteirão do terreno do Sul América. 189
191
189
Tradução minha. “La obra de arquitectura [...] es inseparable de su entorno, más aún que
físicamente – lo de los castillos lo prueba – conceptualmente: pues la arquitectura se concibe
obligadamente a partir de una ubicación en un sitio concreto, y este sitio y sus circunstancias
constituyen elementos básicos para la conformación del programa y para el desarollo posterior de la
obra”. (WAISMAN, 1985, p. 83).
Figura 76: Mapa de Curitiba em 1875, com destaque para a Rua das Flores, atual Rua XV de
Novembro.
193
O terreno retangular adquirido pela empresa - com testada menor para a rua - e
de área reduzida (465m²), proveniente de alguma demolição do casario antigo,
não permitia inovações na
194 Figura 77: Vista da fachada frontal do Sul
América e edifícios adjacentes. implantação, tendo em vista a
ausência de afastamentos das
edificações vizinhas com o lote,
restando pouco do terreno para
qualquer proposta mais ousada de
integração com o entorno imediato.
A despeito disso, nota-se a intenção
de alinhamento de altimetria com
uma das edificações preexistentes
– lateral direita. Analisando o
desenho de perspectiva elaborado
por Capello para a sede, percebe-
se que a edificação na divisa
esquerda possuía altimetria menor,
posteriormente demolida para dar
lugar a um edifício com
Fonte: Karine de Arimateia /abr. 2018.
aproximadamente o dobro da altura
do Sul América, o que alterou drasticamente a harmonia entre as fachadas nesse
trecho da via.
Alguns autores defendem que o espaço urbano de Curitiba não sofreu grandes
transformações urbanas na primeira metade do século 20 (PILOTTO, 2010) e,
em relação ao centro, o que se verificou até esse período foi a intensificação do
seu uso e a expansão de sua área na direção sul e sudoeste, principalmente a
partir da Rua XV de Novembro, com construções mais altas e implantadas de
forma espaçada. Se este é um consenso, pode-se atestar que a relação do
edifício com seu entorno se manteve por algumas décadas, porém o mesmo não
pode ser afirmado para o período após 1950, quando a área central verticalizou-
se vertiginosamente com a intensificação do mercado imobiliário, ramo de
negócios que foi responsável, nas principais cidades brasileiras, pela modificação
ou produção do ambiente urbano (FELDMAN, 2005).
Figura 78: Vista aérea mostrando os dois eixos estruturais de Curitiba e seu
adensamento vertical.
196
Figura 79: Vista aérea do trecho da Rua XV de Novembro, com destaque para a
sede do Sul América.
197
A solução tripartida é presente nesse projeto, mesmo que de maneira mais sutil
em relação às demais sedes. A base, revestida externamente por placas de
mármore, tem pé-direito duplo que abriga as lojas e suas sobrelojas. Esse
pavimento é composto por três vãos emoldurados por frisos em baixo relevo,
sendo o vão central relativo à portada principal. O corpo é resolvido por quatro
190
MALARD, Maria Lucia. As aparências em arquitetura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. P. 55.
pavimentos tipos, cada um dotado de três pares de janelas e cada par agrupado
pelo mesmo emolduramento utilizado nos vãos da base. Nota-se a preocupação
do arquiteto em alinhar a altura desse corpo com a edificação vizinha, ainda
remanescente. Já o coroamento é feito pelo último pavimento, recuado do pano
principal e composto por seis janelas, formando um conjunto emoldurado pelo
mesmo tipo de friso do corpo. Apenas a fachada frontal possui revestimento em
pó de pedra.
Figura 81: Detalhe das janelas tipo basculantes, emolduradas, duas a duas,
por frisos em baixo relevo e rasgo chanfrado.
199
191
A edificação foi tombada municipalmente em 26 de outubro de 1991. Disponível em:
http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=227 – Acesso
em: maio 2020.
ANÁLISE FUNCIONAL
Como solução projetual para o edifício, Roberto Capello elevou o hall principal
em relação ao nível do passeio possibilitando um menor movimento de terra para
a proposição de um subsolo. Este mesmo recurso foi adotado na sede de Juiz de
192
Tradução minha. “Función [...] es el uso social del produto arquitectónico y constituye uma
característica instrínseca y diferencial de la arquitectura, puesto que es interna al producto mismo, es
la causa primera de su constitución como tal. Pero contemporáneamente a su carácter interno e
intrínseco, constituye el lazo más directo entre la arquitectura y el médio social al que sirve.”
(WAISMAN, 1985, p. 83).
Fora, em função das semelhanças entre os terrenos e a ausência de
afastamentos entre as edificações vizinhas.
Internamente, assim como acontece com as demais sedes, o hall tem as paredes
revestidas em mármore e um forro executado pelo rebaixamento da laje,
trabalhado por sancas de iluminação. Nesse mesmo pavimento, porém, com
acesso exclusivo pela rua e, portanto, nivelada a ela, estão duas lojas, separadas
simetricamente pela portada principal. O subsolo abriga dois depósitos e um
reservatório de água.
202 Figura 83: Forro do hall principal. Figura 84: Vão de ventilação do subsolo.
204
193
Desenhos realizados por Michele Teodoro, sob a coordenação da autora.
205
206
207
208
209
Fonte:
<https://www.facebook.com/recantigo/photos/a
.1206410226166192/2478654922275043/?typ
e=3&theater>acesso em 16 jan. 2020
211
Figura 87: Edifício SULACAP-Recife.
A empresa Sul América iniciou sua atuação na capital pernambucana por volta
de 1916, em imóveis alugados, até a construção das sedes próprias em um dos
principais centros urbanos de Recife, o Bairro Santo Antônio, especificamente no
entorno da Praça da Independência.
214
Em março de 2018, o edifício que estava sem uso desde 1995 foi tomado por
integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que batizaram
a ocupação com o nome da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de
Janeiro no mesmo mês. O Movimento deixou o edifício em 06 de abril de 2019,
em decorrência da precariedade das instalações prediais.195 Durante o processo
de ocupação, a administração municipal publicou o decreto nº 31.671/2018,
prevendo a desapropriação de imóveis abandonados não ocupados, que resultou
no início de vistorias pela área central para o levantamento de edificações
abandonadas e com dívidas com a prefeitura municipal.
194 Segundo Rodrigo Cantarelli Rodrigues, em entrevista para o Jornal Diário de Pernambuco.
Tanto o SULACAP como o Sul América foram classificados como Imóvel Especial
de Preservação (IEP) em 1997, por meio da Lei n° 16.284/1997,196 que confere
exemplaridade aos edifícios no contexto do patrimônio cultural da cidade do
Recife. Esta tutela não é acompanhada dos estudos detalhados e apropriados
para sua proteção, entretanto define algumas diretrizes para a sua salvaguarda,
bem como benefícios fiscais aos proprietários.
215
Fonte:
<https://www.facebook.com/recantigo/photos/a.1206410226166192/24387143196024
37/?type=3&theater>acesso em 16 jan. 2020.
196
https://leismunicipais.com.br/a1/pe/r/recife/lei-ordinaria/1997/1628/16284/lei-ordinaria-n-16284-
1997-define-os-imoveis-especiais-de-preservacao-iep-situados-no-municipio-do-recife-estabelece-
as-condicoes-de-preservacao-assegura-compensacoes-e-estimulos-e-da-outras-providencias -
acesso em 15 jan. 2020.
PROSPECÇÕES ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS DO
ENTORNO
216
217
Nota-se, apenas, uma mínima diferença entre a perspectiva do projeto do
SULACAP e o edifício construído: a ausência de uma janela no pavimento
referente ao coroamento, na fachada principal, possívelmente resultado de
intervenção posterior.
Fonte - <https://
https://www.facebook.com/recantigo/photos/a.1206410226166192/246603
9240203278/?type=3&theater> Acesso 16 Jan. 2020.
197
Em 1644, ainda sob o domínio dos holandeses, a área também passou por uma remodelação
urbanística. (REYNALDO, 2017).
Figura 95 – Demolição do quarteirão para a ampliação da Praça da
Independência. À direita, edifício Sul América/1945.
Fonte - <https://
https://www.facebook.com/recantigo/photos/a.1206410226166192/25121
67758923759/?type=3&theater> Acesso 16 Jan. 2020.
219
Fonte -
<https://www.facebook.com/recantigo/photos/a.1206410226166192/26329
31756847358/?type=3&theater> Acesso 16 Jan. 2020.
Fonte - <https://br.pinterest.com/pin/566186984381838728/>
Acesso 16 Jan. 2020.
A dinâmica desse espaço urbano também era apontada nos textos referentes à
antiga Maurícia,199 quando a área era conhecida como Praça do Polé, a qual
também foi objeto de transformações urbanísticas implementadas pelos
holandeses e continuadas, posteriormente, pelos portugueses.
198
ROSSI, 1995, p. 167
199
Maurícia foi a denominação da ilha de Antônio Vaz, que passou a ser a capital do império holandês
em 1642.
Os registros de viagens de Loius Léger Vauthier200 (1840-1846), analisados por
Amélia Reynaldo e Paulo Alves (2013), permitiram entender a configuração do
espaço urbano da Praça da Independência no final do século 19. A área
configurava-se, sobretudo, por sobrados de alturas diferenciadas, de até cinco
pavimentos, com testadas estreitas e sem afastamentos frontais e laterais,
características que imprimiam uma perspectiva diferenciada das demais regiões
adensadas da cidade. Nesse período, a cidade passava por transformações
urbanísticas implementadas pela Repartição de Obras Públicas, com a
cooperação de técnicos europeus, além da própria atuação de Vauthier
(REYNALDO e ALVES, 2013). As transformações tinham como objetivo
estruturar as áreas adensadas, instalar novos equipamentos urbanos e de
serviços, além da reconfiguração das redes viárias, ações que, somadas à
implementação de novas tipologias arquitetônicas funcionais, resultaram em uma
significativa alteração, já no século 19, do espaço urbano da área central.
222 Nesse contexto, o Bairro Santo Antônio passou por diversas transformações
urbanísticas decorrentes dos planos de expansão e melhoramentos na
infraestrutura, os quais alteraram, aos poucos, sua trama original. As reformas
radiocêntricas de 1909, que transformaram o Bairro Recife em centralidade
urbanística, refletiram diretamente na região do Santo Antônio e indicaram a
necessidade de elaboração de novos regulamentos para a área, o que foi levado
a cabo a partir de 1918. Esse plano, juntamente com o de 1919, fundamentaram-
se no plano de saneamento do engenheiro Francisco Saturnino Rodrigues de
Brito (1864-1929), de 1909, e alteraram drasticamente a trama urbana do bairro,
com a proposição de novas vias que convergiam para a Praça da Independência
e atravessavam toda a ilha no sentido norte a sul, de forma a estruturar a região
com os demais bairros. As transformações foram graduais, porém a hierarquia
espacial proposta confirmou a centralidade urbana para os bairros de Recife e
Santo Antônio nas décadas seguintes e as normativas decorrentes conduziram o
200 Engenheiro francês graduado na École des Ponts et chaussées, viveu em Pernambuco e manteve diário
pessoal, o qual foi editado pela primeira vez no Brasil em 1940 por Gilberto Freyre. (Fonte: BN Digital,
disponível em: https://bndigital.bn.gov.br/dossies/dossie-antigo/matrizes-
nacionais/construtores/louis-leger-vauthier/ acesso em out. 2020.
padrão das novas construções. Tais normativas guiaram Roberto Capello na
elaboração dos projetos do SULACAP e Sul América.
224 Figura 99 – Igreja Paraíso demolida para a abertura da Av. Guararapes. À esquerda,
edifício SULACAP.
Diante do exposto, percebe-se que a relação dos edifícios com o entorno alterou-
se relativamente com as transformações do espaço urbano no decorrer dos anos,
sobretudo em relação ao Sul América, já edificado antes das drásticas alterações
do entorno imediato. Construído em lote originário da urbanização colonial, em
quarteirão delimitado por vias estreitas, e inaugurado ainda quando a Praça era
conformada por uma área reduzida, sua relação com o entorno imediato altera-
se após as aberturas das vias e ampliação do espaço público. Tais modificações
destacaram ainda mais o edifício, ampliando sua visada, antes prejudicada. Em
relação ao SULACAP, já construído após a ampliação da área da Praça, a
relação com o entorno praticamente se manteve. Tais informações levantam a
hipótese de que a implantação dos edifícios Sul América e do SULACAP parece
ter sido pensada a priori destas alterações, com base nos estudos dos projetos
para as futuras modificações, elaboradas no decorrer do século 20.
Figura 102 – Avenida Dantas Barreto em 1965/Edifício Sul América à esquerda.
227
Fonte -
<https://www.facebook.com/recantigo/photos/a.1206410226166192/2512
070895600112/?type=3&theater>- Acesso 16 Jan. 2020.
ANÁLISE FORMAL
O edifício Sul América de Recife foi construído de maneira a ocupar quase que a
totalidade da área do terreno retangular. A planta segue o formato “L”, e a área
resultante desta implantação foi utilizada para ventilação e iluminação das
unidades.
A planta apresenta duas quinas chanfradas na face voltada para a Av. Dantas
Barretos, especificidade de tratamento um tanto quanto singular tendo em vista
que, na ocasião da elaboração do projeto arquitetônico, o campo de visão para o
228
terreno era limitado, feito por uma ruela Figura 104 – Perspectiva do Projeto da
sede da Sul América de Recife.
que separava o terreno do quarteirão
defronte, o qual foi demolido para dar
lugar a Av. Dantas Barreto.
Figura 106 –Fachada da Avenida Dantas Figura 107 – Vista do Sul América a
Barreto partir da Av. Dantas Barretos com
Guararapes/2018.
233
234
Vitrúvio, 27 a.C.202
202
Tratado de Arquitetura/Vitrúvio; tradução, introdução e notas M. Justino Maciel. São Paulo: Martins,
2007, p. 81.
O Edifício Sul América e o SULACAP, ambos de uso comercial, foram
construídos neste contexto de transformações urbanísticas. Esta tipologia
funcional era novidade na década, tendo em vista o processo inicial de
diversificação das novas demandas da população, as quais resultaram em
edifícios aptos a suprir a nova ordem institucional.
203
Em resposta ao e-mail encaminhado para a Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural de
Recife, Maria Falcão S. da Cunha, Gestora da Unidade de Documentação do Patrimônio Cultural
Material, encaminhou o material referente ao edifício, composto apenas por imagens externas. Depois
disso, foi aberto um protocolo na Prefeitura Municipal, que indicou a inexistência dos projetos originais
de ambos os edifícios, porém a existência de um projeto de reforma do SULACAP, o qual foi utilizado
para a análise e redesenho das plantas.
A análise visual decorrente da visita em campo permitiu verificar que em ambos
os edifícios o pavimento térreo é composto pelo hall de entrada de pé-direito
duplo, com paredes revestidas em mármore, além das lojas com acesso
exclusivo pelas ruas, aspectos existentes em todas as sedes estudadas.
Figura 116 – Base com pé-direito duplo do edifício Sul América e portada
principal.
238
204
Desenhos realizados por Michele Teodoro, sob a coordenação da autora.
239
240
241
Ficha técnica
205
Processo administrativo n° 4522/97. Os arquivos do processo de tombamento incluem um trabalho
realizado em 2015 pelos alunos de graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Juiz de Fora, referente à disciplina de Projeto em Patrimônio Cultural (AUR
113). O trabalho apresentado pelas alunas Amanda de Abreu Carlos, Camilla Cristhina Muniz
Américo, Helena Gouvêa da Rocha Alves, Laura Santos Granja e Lívea Rocha Pereira contém todas
as etapas necessárias para um projeto de restauração, conforme recomenda o Manual de Elaboração
de Projetos de Preservação do Patrimônio Cultural, Caderno Técnico 1, publicado pelo Programa
Monumenta em 2005. A maioria dos dados coletados para a análise histórica foram retirados deste
trabalho de graduação, cujas fontes, muitas vezes, não são citadas.
206
Revista Sul América/nº 68, Ano 17, p. contracapa/out. 1936.
207
A notícia de que seria o mais alto do município não procedia, tendo em vista a existência do edifício
Ciampi, construído em 1930 (CARDOSO, 2015)
principal é feita de linhas verticaes e horizontaes, dando-lhe
um aspecto sombrio.
[...]
245
208
A informação de que a empresa ocupou a sala no andar térreo foi retirada de um texto que compõe
o processo de tombamento, o qual não é datado, tampouco possui autoria.
condomínio, tendo em vista que nessa década o edifício já tinha sido alienado a
terceiros.
247
PROSPECÇÕES ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS DO
ENTORNO
Figura 120: Edifício SULACAP em 2018. Figura 121: Perspectiva do projeto do SULACAP de
Juiz de Fora, publicada no Jornal Diário Mercantil -
1938
250
Figura 127: Evolução urbana da área central de Juiz de Fora, com destaque
para o quarteirão onde foi construído o SULACAP.
255
209
BENEVOLO, Leonardo. A cidade e o Arquiteto. 3. ed. Perspectiva, 2017.
se voltaram à proteção da arquitetura que marcou a evolução do pequeno
povoado.
259
ANÁLISE FORMAL
260
210
ARTIGAS, 1961, p. 193
O estudo da proposta de implantação do projeto, feito a partir da análise do
levantamento arquitetônico executado Figura 131: Detalhe do vão central do
edifício SULACAP/Juiz de Fora.
pelos alunos da UFJF, identificou uma
possível alteração no projeto original,
conforme já mencionado. Em uma
primeira análise identificou-se que a
proposta de implantação do arquiteto
seguia o formato “U”, porém a
identificação das plantas dos demais
pavimentos, em “T”, levantou a hipótese
de que o pavimento térreo teria sido
modificado com o acréscimo das lojas
em direção ao fundo do terreno; em
decorrência da desproporcionalidade
verificada no pavimento térreo em
relação aos superiores e pela diferença
de espessura das alvenarias desse 261
Nesse novo contexto, o SULACAP foi construído, abrigando, no seu pavimento 263
térreo, a sede da sucursal, salas comerciais no primeiro e no segundo
pavimentos212 e três apartamentos em cada pavimento superior a esses.
Conforme apontado, tal uso modificou-se paulatinamente e o edifício se tornou
exclusivamente comercial.
211
Tradução minha - “Decir que el espacio interno es la esencia de la arquitectura, no significa de
ninguna manera que el valor de una obra arquitectónica se agote en el valor espacial. Todo edificio
se caracteriza por una pluralidad de valores: económicos, sociales, técnicos, funcionales, artísticos,
espaciales y decorativos [...]. Pero la realidad del edificio es consecuencia de todos estos factores, y
su historia válida no puede olvidar ninguno de ellos. (ZEVI, 1955, p. 21).
212
Dados extraídos do trabalho dos alunos de graduação, já mencionado.
Figura 133: Escadaria de acesso ao hall
com acesso exclusivo para a rua e, principal do edifício SULACAP/Juiz de Fora.
265
266
213
Desenhos realizados por Michele Teodoro, sob a coordenação da autora.
267
268
269
Ficha técnica
Fonte:
<https://www.flickr.com/photos/bauhausler/1876
74028/ >- acesso 16 mar. 2020. 271
Figura 137: Edifício Sul América/Porto
Alegre.
Ficha técnica
Fonte: https://lista.mercadolivre.com.br-
acesso 16 mar. 2020.
272
ANÁLISE HISTÓRICA
No ano de 1928, a Revista Sul América informou em seu balanço anual a relação
compositiva do patrimônio imobiliário da empresa. Nesse documento foi
comunicado que, até aquele ano, o patrimônio era composto por quatro edifícios
localizados no Rio de Janeiro, além da sede da sucursal em São Paulo (em
construção) e o edifício da sucursal de Porto Alegre (em reforma), esse localizado
na Rua General Câmara, nº 352.214 Portanto, no ano de 1928, as únicas capitais
com sede própria da empresa eram Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.
Ana Paula Canez (2006), em sua tese de doutoramento sobre Arnaldo Gladosch,
citou que o início de sua concepção projetual ocorreu em 1938 e que as obras
aconteceram no período de 1943 a 1949.
Fato é que, no final da década de 1940, Porto Alegre já contava com as duas
sedes próprias, uma defronte à outra, na Av. Borges de Medeiros, exatamente no
local conhecido popularmente como Esquina Democrática, cuja importância
274
histórica e cultural no espaço urbano lhe conferiu proteção municipal no ano de
1997.
Ana Paula Canez registrou que ambos os edifícios “foram projetados por Arnaldo
Gladosch no escritório técnico de Roberto Capello” (CANEZ, 2006, p. 27). Esta
informação preliminar levantou dúvidas sobre a autoria de Capello em relação às
duas sedes, e, ainda mais, se cabia ou não a análise dos edifícios neste trabalho.
A própria autora, ao consultar o projeto arquitetônico do Sul América, informou
que no carimbo das pranchas constava apenas o nome de Roberto Capello,
porém concluiu sobre a autoria de Gladosch em decorrência de uma citação na
tese de doutoramento de Naura Helena Naumann Machado, de 1998,
especificamente: “Notícia em jornal da época associa ao nome de Gladosch
aquele do arquiteto Roberto Capello do Rio de Janeiro. Efetivamente, tal como
no Ed. SUL AMÉRICA, o projeto dessa edificação (SULACAP) ocorre sob a
responsabilidade de Gladosch e através daquele escritório.” (MACHADO, 1998,
p. 327, apud CANEZ, 2006). Segue a passagem de Canez sobre sua conclusão:
Essa observação [a citada por Machado] parece solucionar a
dúvida surgida quanto à autoria do edifício Sul América,
embora, nas pranchas do projeto arquitetônico arquivadas na
Prefeitura de Porto Alegre, consultadas, digitalizadas e
redesenhadas para servir aos propósitos do trabalho aqui
apresentado, conste apenas o carimbo do escritório referido
e a assinatura do engenheiro Roberto Capello. As dúvidas
relativas à autoria do edifício foram dirimidas por Nara
Machado, que apontou os caminhos que ela já havia trilhado
em sua tese de doutorado referida anteriormente (CANEZ,
2006, p. 52, grifo meu)
Uma vez que a autora obteve acesso ao projeto original, cabe aqui questionar: o
que confirmaria oficialmente, no caso de dúvidas, a autoria de um projeto, senão
a assinatura do profissional em uma prancha técnica? Ademais, Canez sequer
mencionou como Machado concluiu tal hipótese. Diante dos fatos, e com base
na existência comprovada do Departamento de Propriedades e Hypotecas da
empresa Sul América no ano de 1935, dirigido por Roberto Capello, retifico a
informação de Canez e atribuo a coautoria da sede Sul América ao arquiteto
italiano, conforme já previamente relatado neste texto.
O mesmo acontece com o edifício SULACAP, porém, sobre sua autoria, Canez 275
sequer levantou dúvidas. Para afirmar tão seguramente a autoria de Gladosch,
Canez, em seu texto introdutório, elencou uma ampla bibliografia consultada que
afirmou tal fato. Dentre elas, destaca-se a obra de Alberto Xavier e Ivan
Mizoguchi, intitulada Arquitetura Moderna de Porto Alegre e publicada em 1987,
citada por Canez como uma importante contribuição para o registro da produção
da arquitetura moderna de Porto Alegre, conforme segue abaixo:
Além de todas essas referências, também serviu como base para a pesquisa de
Canez o livro de Hugo Segawa:
Paulo Cesa Filho também contribuiu para a pesquisa de Canez com sua
dissertação intitulada “Arquitetura da Verticalidade na recém-aberta avenida
Borges de Medeiros”, defendida em 2003, na Faculdade de Arquitetura da
UFRGS. Sobre o estudo, a autora destacou:
Canez também fez uso da tese de Silvio Belmonte de Abreu Filho, desenvolvida
concomitantemente com a sua, porém defendida antes215, autor que também
indicou a autoria de Gladosch para as sedes de Porto Alegre:
215
A tese de Abreu Filho foi publicada em julho de 2006 e a de Canez em dezembro de 2006.
Em 1927, recém formado e de volta ao Brasil, escreve para O
Jornal, do Rio de Janeiro, uma série de cinco artigos sobre
questões urbanísticas da cidade, a necessidade de um Plano
Diretor, e sobre a contratação de Agache. Dessa forma,
credencia-se para trabalhar como colaborador na equipe que
Agache monta no Rio de Janeiro, encarregando-se das áreas
industriais. Na década de 30, encontra-se estabelecido com
o Escritório Técnico Arnaldo Gladosch no Rio de Janeiro, na
Av. Rio Branco, de onde vai desenvolver os Planos para Porto
Alegre. Enquanto trabalhava nestes, contratou uma série
significativa de projetos arquitetônicos em Porto Alegre, como
os Edifícios SULACAP (1938-49), Sul América (1938-40).
(ABREU FILHO, 2006, p.122, grifo meu)
216
Jornal do Brasil, 5 de junho de 1936, p.2, edição 05204.
217
O Imparcial de março de 1940, p. 11, , edição 01470, Rio de Janeiro.
218
Jornal do Dia, Porto Alegre, 20 de setembro de 1949, p. 3, edição 00799.
muitos outros diretores, gerentes de sucursais [...].219 (Grifo
meu).
219
Jornal do Dia, Porto Alegre, 20 de setembro de 1949, p. 3, edição 00799.
documento que discutia o Plano Diretor de Arnaldo Gladosch, o qual apresentava
a perspectiva do projeto, como não atribuir-lhe a autoria?
Percebe-se, com as passagens das diversas fontes, como o nome de Capello foi
obliterado da historiografia da arquitetura da primeira metade do século 20 no
Brasil, principalmente no que diz respeito à autoria dos edifícios da empresa em
Porto Alegre.220
280
220
As obras de Segawa e de Alberto Xavier/Ivan Misoguchi, em função de sua representatividade na
historiografia sobre a arquitetura moderna, serviram para disseminar este erro de coautoria do projeto.
Para citar alguns estudos que afirmaram a autoria única de Gladosch do projeto do SULACAP: a tese
de doutoramento defendida em 1989 na FAU-USP por Günter Weimer, intitulada “A arquitetura erudita
da imigração alemã no Rio Grande do Sul”, e a dissertação de mestrado de Paulo Cesa Filho,
intitulada “Arquitetura da Verticalidade na recém aberta avenida Borges de Medeiros”, defendida em
2003, na PROPAR-UFRGS.
221
Produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre, 2005, com Roteiro de Angel Palomero, com
colaboração de Ana Luiza Azevedo, Bel Merel, Janaína Fischer, Jorge Furtado e Márcio Schoenardie
e baseado na obra de Erico Verissimo.
porto-alegrense, a despeito de ter sido um dos primeiros edifícios em altura
construídos na área central.
281
Fonte: Fonte:
http://antigaportoalegre.no.comunidades.ne http://antigaportoalegre.no.comunidades.net/fot
t/fotos-1941-1960. Acesso Mar. 2020 os-1941-1960. Acesso Mar. 2020
222
Canez não informa a data desta modificação de uso.
148), intervenções que prejudicaram também a leitura original de volume único,
tendo em vista o destaque dado à torre maior com a instalação das cerâmicas,
conforme será visto adiante.
282
Fonte: Fonte:
https://www.flickr.com/photos/fotosan https://www.flickr.com/photos/fotosantig
tigasrs/11017029583 - acesso 16 asrs/11017029583 - acesso 16 mar.
mar. 2020. 2020.
284
Figura 148: Edifício Sul
América/Porto Alegre/2019. Figura 149: Edifício Sul
América/Porto Alegre/2020.
do entorno imediato
verificadas da época da
construção dos edifícios até a
atualidade, pode-se concluir
que as alterações mais
significativas dizem respeito à
verticalização da região, que
ocorreu, pouco a pouco, a
partir das reformas de
urbanização da área central, Fonte: https://prati.com.br/fotosantigas/fotos-antigas-
porto-alegre - acesso em mar. 2020.
as quais devastaram
quarteirões inteiros. Como será relatado a seguir, o início do processo de
verticalização da área central de Porto Alegre se deu a partir do final da década
de 1920, com a substituição do casario antigo por edificações em maior altura e
com tecnologia construtiva mais avançada, incentivada, sobretudo, pelas novas
legislações urbanísticas e 285
Figura 150: Entorno imediato /Porto Alegre/2020.
pelo discurso de modernidade
corrente. O edifício Sul
América, primeira das duas
sedes construídas, coexistiu
por alguns anos com alguns
exemplares da arquitetura do
começo da urbanização da
cidade, destacando-se por
um período de tempo no
contexto urbano, em função
da altimetria e aspectos
Fonte: Google Earth Pro - acesso em mar. 2020.
construtivos, além da nova
tipologia de edifício empresarial. Já o SULACAP, cuja finalização da construção
se deu praticamente dez anos após o Sul América, foi erguido em um contexto
praticamente verticalizado, porém seu destaque se deu, sobretudo, pela sua
monumentalidade, evidência que se mantém até os dias atuais.
RELAÇÃO DOS EDIFÍCIOS COM O ENTORNO
223
JACOBS, Jane. 2000.. p. 207.
[...] no início dos anos 30 a paisagem urbana começou a se
modificar, com a construção dos primeiros edifícios acima de
dez andares, como o Cine Teatro Imperial (1929) na Praça da
Alfândega e no Novo Hotel Jung (1929-32) na Praça XV de
Novembro, ambos no centro. [...] Entretanto, é a partir da
década de 50 que Porto Alegre, assim como outras capitais
brasileiras, vai conhecer um verdadeiro boom imobiliário.
(ABREU FILHO, 2006, pg. 215)
287
Fonte:
https://www.rmgouvealeiloes.com.br/peca.asp?ID=600519&ctd=4&tot=&tip
o=23&artista=. Acesso jul. 2020
Antes disso, pode-se dizer que Porto Alegre adentrou o século 20 ainda com ares
provinciais, a despeito de uma incipiente industrialização no final do século 19,
decorrente da acumulação de capital oriunda do comércio de produtos agrícolas,
responsável pelo aumento significativo de sua população no início do novo
século. A necessidade de modernização da estrutura urbana veio em decorrência
deste novo cenário e, para isso, o governo contratou o engenheiro- arquiteto João
Moreira Maciel para compor a comissão responsável pelos melhoramentos
urbanos, então dirigida pelo engenheiro Jorge de Lossio (ABREU FILHO, 2006).
Maciel foi responsável por elaborar o Plano Geral de Melhoramentos para Porto
Alegre em 1914, o qual ficou popularmente conhecido por Plano Maciel, cujo
conteúdo incluía, dentre outras ações, o alargamento de vias e o saneamento da
orla. Segundo Abreu Filho, “o Plano orientou por várias décadas a transformação
física da cidade, mudando a face do centro, legou diretrizes seguidas pelos
planos que o sucederam, e deixou traços de grande permanência.” (2006, p.32).
Antes mesmo da implantação do Plano, a referida comissão aprovou o
“Regulamento Geral Sobre Construções”, documento que passou a exigir licença
prévia para as novas construções ou reformas e que definiu, inclusive, a altimetria
da edificação em relação à largura da via, além de proibir a construção de casas
térreas e casas de madeira nas principais vias, de forma a incentivar a
modernização da paisagem urbana. (ABREU FILHO, 2006).
288
Como explicou Abreu Filho (2006), este Plano serviu de orientação para as
futuras intervenções das administrações seguintes, as quais continham em seus
ideais a renovação urbana e o embelezamento da cidade de Porto Alegre.
Segundo o autor,
Com a reforma da
área central e a
expansão urbana a
partir de 1925, houve
um incremento do
Fonte: Acervo João Alberto/UniRitter – extraído de CANEZ
(2006). – Modificada pela autora. setor imobiliário e, em
consequência, Porto Alegre adentrou a década de 1930 com outros ares
(urbanos, políticos, econômicos e sociais) e com novas demandas, dentre elas a
de ordenamento urbanístico, as quais delinearam as principais metas da gestão
municipal do período de 1937 a 1945, comandada pelo prefeito Loureiro da Silva.
Em relação aos ideais de Loureiro da Silva, comentou Abreu Filho:
Ao final do seu governo, Loureiro Silva publicou o volume intitulado “Um Plano de
Urbanização”, com o objetivo de registrar o seu legado para as gerações futuras.
Abreu Filho (2006) detalhou em sua tese a publicação, composta por cinco
partes. Na quinta parte do estudo foi apresentado o Plano Definitivo, com a
composição dos trabalhos finais necessários ao objetivo delineado, tais como a
proposta de Legislação, Zoneamento, Reloteamento e Desenvolvimento futuro
do Plano. O Zoneamento apresentava três planos de forma a definir usos, altura
dos edifícios e superfícies dos terrenos. Na proposta de Reloteamento o
Quarteirão Masson foi desenhado de forma a ocupar as áreas remanescentes da
abertura da Borges de Medeiros:
Com esta afirmação, restou a dúvida: o SULACAP foi concebido a partir das
diretrizes parciais do Plano Diretor de Gladosch ou o SULACAP serviu para
“propor uma nova morfologia de quarteirão”? (ABREU FILHO, 2006, p.152)
293
295
ANÁLISE FORMAL
Edifício SULACAP
224
(GREGOTTI, 1972, p. 27).
compositivo marcou definitivamente o espaço urbano da região central de Porto
Alegre, especificamente a área conhecida como Esquina Democrática.
297
O volume mais alto, que corresponde originalmente à torre comercial, tem maior
destaque tanto pela altimetria quanto pelo coroamento tratado por uma cobertura
piramidal, composta por telhas em cobre. Adjacente a esse volume está o de
menor altura, localizado na esquina com Rua dos Andradas e resolvido por seis
pavimentos além do térreo. Pode-se ler a solução tripartida desse volume pela
base diferenciada do demais, corpo de cinco pavimentos e coroamento formado
pelo recuo do último pavimento em relação ao corpo principal. Frisos horizontais
em alto relevo finalizam o coroamento, formando uma espécie de cimalha.
298
O edifício Sul América, assim como o seu vizinho SULACAP, ocupa a totalidade
do terreno retangular, constituído pela metade do quarteirão delimitado pelas Av.
Borges de Medeiros, Rua dos Andradas, Travessa Eng. Acilino de Carvalho e
Rua General Andrade Neves. Segundo Canez (2006), este terreno resultou da
sobra de área da abertura da Av. Borges de Medeiros.
A implantação também segue o formato do terreno e, para este edifício, o
arquiteto adotou o recurso de arredondamento da quina formada pela Borges de
Medeiros com Rua dos Andradas, solução verificada em outras sedes da
empresa, tal como nas de Santos, Salvador e Fortaleza. A volumetria é composta
por dois sólidos de alturas distintas, recurso projetual que não impedia a leitura
única do conjunto, até a última intervenção realizada no imóvel, a qual resultou
em tratamentos de revestimentos diferenciados para as duas torres, prejudicando
essa leitura.
Figura 163 –Sul América Porto O volume mais baixo tem o corpo
Alegre/volume mais baixo.
composto por cinco pavimentos e
coroamento resolvido pelo recuo do
último pavimento em relação ao corpo.
Suas fachadas foram tratadas com
frisos no sentido vertical e horizontal,
os quais emolduram as janelas. Antes
da intervenção, esses frisos horizontais
300
seguiam no volume da maior altimetria,
porém esta continuidade foi
interrompida quando a torre mais alta
recebeu revestimento cerâmico das
extremidades laterais e superior da
fachada frontal.
Fonte: extraído de Canez, 2006, p. 331
A solução tripartida do volume mais
alto é quase imperceptível. Na fachada frontal, o corpo é composto pelo avanço
da porção central em relação às suas extremidades, com exceção do último
pavimento. Essa diferenciação dos planos forma uma espécie de moldura e que,
ao mesmo tempo, compõe o coroamento. A base, comum aos dois volumes, é
revestida externamente por granito e composta por pé-direito duplo, onde estão
as lojas e sobrelojas do térreo, essas protegidas por marquise em balanço em
todo o perímetro da edificação.
Figura 165 –Sul América Porto Alegre/acesso Figuras 165 –Sul América Porto
principal. Alegre/volume mais alto
225
MALARD, 2006. P. 125.
.
Figura 168 – SULACAP Porto Alegre. Década de
1940/1950 (?)
De uso misto, o edifício
SULACAP representou, além da
novidade tipológica funcional,
uma nova proposta de
integração do edifício com a
cidade, ao dispor de uma galeria
para pedestres através do recuo
do pavimento térreo em relação
ao corpo principal, solução que
conformou a marquise coberta.
A decomposição do seu volume
em torres diferenciadas também
pode ser lida como um recurso
projetual inovador de integração
Fonte: https://prati.com.br/porto-alegre/porto-alegre-
avenida-borges-de-medeiros-edificio-sulacap- com o ambiente construído, 303
1947.html - Acesso nov. 2019
evitando, portanto, a massa
pesada em decorrência da sua monumentalidade. Para cada torre há um hall de
acesso. O volume residencial apresenta dois apartamentos por andar, um de três
quartos e outro mais amplo, de quatro quartos. Já nos últimos andares, em função
da área menor em relação aos pavimentos inferiores, os apartamentos são
menores, sendo um de dois e o outro de três quartos, ambos com varanda em
todo o perímetro. As demais torres são de escritórios, com configurações
espaciais diferenciadas. O edifício é dotado de subsolo e de dois amplos terraços
nas coberturas das torres menores.
Ressalta-se que, na ocasião da visita aos edifícios, o acesso ao seu interior foi
negado. Para o entendimento de suas funcionalidades ou leitura das plantas,
buscou-se, primeiramente, na literatura existente, a publicação dos projetos.
Alberto Xavier e Ivan Mizoguchi, em sua já referenciada obra “Arquitetura
Moderna de Porto Alegre” (1987) estampou a planta do pavimento tipo do
SULACAP, entretanto, o projeto, em função de sua complexidade, não poderia
ser lido apenas por este pavimento. Já Canez, apresentou em sua tese de
doutoramento os projetos de ambos os edifícios, porém a baixa resolução das
imagens impediu tanto sua reprodução quanto sua leitura. A etapa seguinte foi a
busca nos arquivos da Prefeitura Municipal, o que foi feito por meio de abertura
de processo digital, que resultou na disponibilização das peças gráficas
digitalizadas de ambos os edifícios, tornando-se possível o redesenho e a leitura
do projeto. O acervo continha também o projeto estrutural completo do Sul
América, no qual consta o nome de Roberto Capello como autor.
304
Edifício SULACAP
305
226
Desenhos realizados por Michele Teodoro, sob a coordenação da autora.
306
Edifício Sul América
307
308
309
Ficha técnica
No ano de 1936, a Revista Sul América informou em sua edição de outubro que
a sucursal na cidade de Santos ainda não possuía sede própria, assim como
eram inexistentes as sedes nas cidades de Belo Horizonte, Juiz de Fora, Aracaju
e Maceió, o que contradiz a informação registrada por Carlos Finochio (2011) de
que a inauguração do edifício SULACAP de Santos data de 1936. Fato é que em
1939, o jornal A Tribuna, na edição de 26 de janeiro, publicou a notícia de que a
empresa lançaria sua pedra fundamental para a construção do edifício no dia 28
no mesmo mês, em comemoração ao centenário da cidade de Santos (FIGURA
312 171).
313
314
No início do século 19, a então Vila de Santos possuía pouco mais de quatro mil
habitantes (MELLO, 2008) distribuídos pelas poucas vias tortuosas que
conformavam o espaço urbano de ocupação original. Elevada à categoria de
cidade, Santos sobrevivia, inicialmente, da exportação do açúcar e,
posteriormente, do café, grão responsável diretamente pelo crescimento
econômico e consequente aumento populacional, incrementado, inclusive, pela
população de imigrantes. A inauguração da ferrovia São Paulo Railway, em 1867,
impulsionou mais ainda este crescimento e contribuiu para a constituição de um
novo cenário urbano, estruturado por novas centralidades, como as originadas
nas proximidades da estação ferroviária e na orla marítima. Em decorrência
dessa expansão, grandes vias foram implantadas, alterando a configuração do
núcleo original e contribuindo para a diversificação dos usos da região central,
315
que se tornou, no decorrer dos anos, praticamente comercial e institucional.
228
Em 1886, já eram intensas as atividades portuárias em Santos. Para organizar tal crescimento, o
Governo Imperial publica o edital para a concorrência das obras portuárias, vencida pelo grupo
carioca Gaffrée, Guinle e Cia. (Bernardini, 2012)
A Companhia Docas teve papel decisivo na reconfiguração
da cidade, pois ao se apropriar da faixa da marinha, não só
aterrou, como demoliu e reconstruiu trechos inteiros da
área urbana, extrapolando os limites de sua função. Em
virtude dessas ações, vários são os exemplos de freqüentes
tensões entre a Companhia Docas e os interesses locais,
representados pela Associação Comercial.
Sistematicamente acusada de extrapolar o propósito a qual
havia sido constituída, a Companhia teve ainda ampliados
seus poderes pelo governo estadual, que lhe concedeu o
monopólio da Alfândega; a municipalidade protestou contra o
que considerou perda de autonomia e submissão aos
poderes estatais que estariam desrespeitando as tradições da
população local. No entanto, a articulação entre, de um
lado, os interesses paulistas, que representavam a
hegemonia política dos cafeicultores, e de outro, o capital
internacional, mais especificamente o inglês, que financiou
a construção das ferrovias para o escoamento da
produção do café, orientou as transformações da cidade
portuária, que incluíram políticas de saneamento e de
ampliação dos espaços: largas e retas avenidas e lugares
para a circulação foram construídos. (MELLO, 2008, p.42)
A Rua Direita, principal via do povoamento colonial, que fazia a ligação entre os
dois primeiros núcleos da povoação - Valongo e Quarteis - se manteve, porém
sofreu drásticas transformações espaciais com a substituição dos casarios e
sobrados coloniais por edificações em linguagem eclética, quando passou a
denominar-se Rua XV de Novembro, na qual, em um futuro não distante, o
edifício SULACAP viria a ser construído. Estreita e tortuosa, passou a abrigar o
principal ponto de comércio e lazer da população, sobretudo por constituir o
elemento estruturante entre os dois núcleos principais.
Jaqueline Fernández Alves (2012) também mencionou o edifício em seu texto 317
sobre a ausência da historiografia moderna na cidade de Santos. A autora apenas
relacionou o SULACAP em um contexto de produção da arquitetura moderna no
município. Lamenta-se, portanto, tal obliteração na historiografia da arquitetura e
urbanismo de Santos e também a ausência de tombamento isolado do imóvel.
PROSPECÇÕES ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS DO
ENTORNO
318
Figura 174: Perspectiva do projeto do Figura 173: SULACAP/Santos.
SULACAP/Santos.
229
Dentre os estudos existentes destacam-se: o trabalho de Marina Ferreira de Barros e José Marcos
Carriço sobre a transformação morfológica da área central, intitulado “Esvaziamento e Transformação
Morfológica da Área Central de Santos/SP: gênese e perspectivas” (2019); a a tese de Wilma
Therezinha Fernandes de Andrade, defendida em 1989 na USP sob o título “O discurso do progresso:
a evolução urbana de Santos, 1870-1930.”
sobretudo a de febre amarela, este código baseou-se no Plano de Saneamento
instituído em 1893 e determinou, dentre outros assuntos relativos às edificações
de forma a sanear a cidade, os padrões para as novas construções no espaço
urbano (DUTRA, 2007).
Sobre as expansões urbanas, vale anotar que tal fenômeno não constituiu um
processo contínuo, tampouco concentrou-se em algum período de tempo
definido. Porém, pode-se afirmar que as ocupações do território do município
ocorreram em fases associadas a fatores diversos da ordem econômica, social e
cultural. Por exemplo, a construção da ferrovia, em 1867, favoreceu a primeira
ocupação da orla marítima pelas elites; a implantação do sistema de bondes de
tração animal em 1873 e, posteriormente, em 1909, os elétricos, impulsionou
ainda mais esta ocupação com loteamentos de novas áreas residenciais
(BARROS e CARRIÇO, 2019). Os planos de saneamento favoreceram também
este movimento, criando condições para o esvaziamento da área central em
relação ao uso residencial.
230
Para acesso à base cartográfica, ver: http://www.novomilenio.inf.br/santos/
RELAÇÃO DO EDIFÍCIO COM O ENTORNO
Bruno Zevi,1948.231
231
Tradução minha – “ La experiencia espacial propia de la arquitetctura tiene su prologación em la ciudad, en las
calles y en las plazas, em las callejuelas y en los parques, en los stadios y em los jardines, allí donde la obra del hombre
há delimitado ‘yacíos’, es dicir, dodnde há creado espacios cerrados. Si el interior de un edificio está limitado por seis
planos (suelo, techo u cuatro paredes), esto no significa negar la cualidad de espacio a un vacío cerrado por cinco
planos en lugar de seis, como ocurre en un patio o en una plaza.” (ZEVI, 1955, p. 20, tradução minha)
Figura 176: Cartão postal com o edifício SULACAP/Santos.
De forma similar ao que aconteceu com muitas áreas centrais das capitais
brasileiras no início do século 20, o centro de Santos sofreu drásticas
transformações que alteraram sua trama urbana original, conforme já destacado,
com demolições de quarteirões para abertura de vias, com objetivo de melhorar
o adensamento local e facilitar o escoamento para as novas áreas urbanas
residenciais. Porém, a construção tardia do SULACAP de Santos, se comparada
a outras sedes, permitiu Roberto Capello, ao projetar esse edifício, basear-se em
um entorno já em conformação, e que se manteve, sobretudo, pelas ações de
proteção dos órgãos de preservação e pelo o interesse do mercado imobiliário na
expansão urbana em direção à orla marítima, verificado a partir da década de
1930. Desse modo, após a sua inauguração, poucas edificações foram erguidas
nas imediações, permitindo o congelamento das relações do edifício com o
entorno, ao contrário do que aconteceu com a maioria das outras sedes. Na
atualidade, a área central é heterogênea em sua conformação urbana e
arquitetônica, com vestígios dos primórdios de sua ocupação e de construções
do início do século 20.
Figura 177: Área central de Santos em 1967 - Edifício SULACAP em destaque.
325
O patrimônio cultural de Santos é protegido por órgãos existentes nas três esferas
de governo. As ações do IPHAN alcançaram Santos na década de 1940, fato
que, de certa forma, contribuiu para a promoção da discussão acerca do tema
naquele contexto. Em nível estadual, o Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) foi instituído em
1968 e começou a atuar em Santos na década de 1970, porém de forma similar
às ações do IPHAN, com tombamentos de bens construídos no início da
ocupação da vila. Já a legislação municipal de preservação data de 1985, a
despeito das ações terem sido melhor conduzidas somente após a criação do
Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (CONDEPASA), no ano
de 1989. A partir daí, diversas ações foram pensadas de forma a proteger o
326
patrimônio cultural do município, apesar de ainda restritas a edificações com
linguagem ecléticas, deixando a mercê da especulação imobiliária os
representantes de um passado mais recente. No ano de 1998, com base no
zoneamento proposto pelo Plano Diretor e pelas legislações posteriores, uma
nova política de revitalização tentou reverter este processo ao dar importância à
área central, instituindo o Programa de Revitalização e Desenvolvimento da
Região Central Histórica de Santos, denominado Alegra Centro, o qual englobou
um conjunto de instrumentos integrados com o objetivo de requalificar a área de
ocupação inicial da cidade. Ainda em vigor, as medidas do Programa têm como
foco as Áreas de Proteção Cultural (APACs),232 cujos imóveis possuem níveis de
proteção estabelecidos pelo conselho responsável. Diante desta proposta mais
abrangente, que promove áreas de proteção, as discussões podem ser
ampliadas de forma a abarcarem os tipos arquitetônicos não contemplados em
ações anteriores.
232 Estabelecidas pela Lei Complementar nº 312, de 24 de novembro de 1998 e regulamentada pelo
Decreto nº 3.582, de 30 de junho de 2000.
Diante dos fatos, nota-se que se alguma relação do edifício com o entorno se
alterou ao longo dos anos foi em consequência da melhoria do espaço urbano,
com a remoção de fiação elétrica dos postes de iluminação, instalação de novos
equipamentos públicos e, principalmente, com a implantação de trecho para
pedestres na Rua XV de Novembro, denominado pelo projeto como “calçadão
temático da rua XV de Novembro.”
327
ANÁLISE FORMAL
233
In: Conversas com Mies van der Rohe. Certezas americanas. Moisés Puente (ed.) Barcelona:
Editorial Gustavo Gili, 2006.
Figura 180: Base do edifício SULACAP de
Santos, durante a reforma. volumétrica completa-se com a
utilização, em cada andar e em todas
as quinas, de um elemento que
ressalta dos panos das fachadas
frontal e laterais, identificado em
algumas descrições sobre o edifício
ora como iluminação zenital ora como
chaminés para torrefação de café.234
234Laudo técnico (sem data) de autoria da Sandy Arquitetura e PMA Arquitetura, disponível na
administração do condomínio.
frisos horizontais em alto relevo, é composto por esquadrias em madeira do
modelo “copacabana”. Já o coroamento, encimalhado por frisos horizontais em
alto relevo, é resolvido por uma platibanda suficientemente alta para obstruir o
volume da caixa d’ água e da casa de máquinas.
330
235
Laudo técnico (sem data) de autoria da Sandy Arquitetura e PMA Arquitetura, disponível na
administração do condomínio.
ANÁLISE FUNCIONAL
236
Tradução minha – “Todo edificio se caracteriza por una pluralidad de valores: económicos,
sociales, técnicos, funcionales, artísticos, espaciales y decorativos [...]. Pero la realidad del edificio es
consecuencia de todos estos factores, y su historia válida no puede olvidar ninguno de ellos.” (ZEVI,
1955, p. 21)
O hall principal tem o piso e paredes revestidos em mármore, mesmo tratamento
utilizado nas demais sedes, porém aqui o pé-direito é simples, resultante de
Figura 182: Vista interna do hall do edifício SULACAP de Santos. intervenção
posterior. Neste
mesmo pavimento,
além do acesso ao
hall de elevadores
estão duas lojas,
ambas com
sobrelojas, uma
delas com acesso
exclusivo pela Rua
XV de Novembro e
outra, de maior
Fonte: Karine de Arimateia, 2018.
área, com acesso
para a Rua do Comércio. O subsolo abrigava originalmente a cisterna e a casa
332 de bombas.
333
237
Desenhos realizados por Michele Teodoro, sob a coordenação da autora.
334
335
336
Figura 184: Planta do pavimento tipos do edifício SULACAP de Santos, projeto original.
337
338
Ficha técnica
Nome original: Edifícios SULACAP e Sul
América.
Nome atual: Conjunto Arquitetônico SULACAP
e Sul América.
Endereço: Avenida Afonso Pena, nº 981
(SULACAP) e nº 941 (Sul América), Centro, Belo
Horizonte, Minas Gerais.
Ano do projeto: 1942.
Ano de conclusão da obra/inauguração: 1947
(inauguração).
Construtora: Companhia Industrial e
Construtora Pantaleone Arcuri /Juiz de Fora
Uso original: SULACAP (uso comercial), Sul
América (uso misto: residencial e comercial).
Uso atual: mantido conforme previsto
originalmente.
Propriedade: privada/condomínio.
Proteção/nível: 2015/municipal (Deliberação
n°37/2015), publicada no DOM (Diário Oficial do
Município) em 28 de abril de 2015.
238
Revista Sul América, Ano IX, n. 35, Julho 1928.
239
Jornal Diário de Notícias, ed. 03828, de 23 de julho de 1938.
240Conforme registro de compra e venda do imóvel, o terreno foi adquirido em exatamente em 05 de
abril de 1938.
futuramente seria construída a sede dos Correios e, posteriormente, os edifícios
SULACAP e Sul América, a divisão seria feita pela Avenida Afonso Pena.
Figura 187: Planta do projeto de Aarão Reis para o município de Belo Horizonte, com destaque
para a área do Parque Municipal e para as quatro praças em suas arestas. Em branco está a Praça
Tiradentes, onde futuramente seriam construídos os edifícios sedes da Sul América.
343
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Avenida_do_Contorno_(Belo_Horizonte)#/media/File:Planta_BH.jpg
. Acesso em 14 jan. 2017. Modificada pelos autores
A duas áreas triangulares correspondentes à Praça Tiradentes ficaram
parcialmente desocupadas até o início do século 20, quando a porção norte
(delimitada pelas ruas Tupis, Espírito Santo e Avenida Afonso Pena) passou a
ser ocupada por empresas privadas e, na porção sul, foi edificada a sede dos
Correios, imponente edifício de dois pavimentos em linguagem eclética. Desse
modo, os vazios não edificáveis referente à esta praça foram totalmente
ocupados.
344
Fonte: http://curraldelrei.blogspot.com.br/2010/06/os-quarteiroes-nao-
edificaveis-o-caso.html - acesso em 22/04/2017.
241 As fontes indicam que por uma “questão de falta de espaço” a Prefeitura teria decidido expandir o
prédio dos Correios. Contudo, posteriormente, a mesma recua e decide permutar o terreno por outro
localizado na própria Avenida Afonso Pena, onde antes funcionava o Congresso, conforme relatório
de 1935 do Prefeito Otacílio Negrão de Lima: “prosseguindo as negociações iniciadas, conseguimos
ver realizada a permuta do atual edifício dos Correios e Telégrafos pelo terreno ao lado do novo
Antes da demolição da sede dos Correios, o terreno foi vendido pela Prefeitura
Municipal de Belo Horizonte para a empresa Sul América com as seguintes
condições:
edifício da Prefeitura, na Avenida Afonso Pena” (Fonte: Curral Del Rey.com). Assim, foi deliberado
nos derradeiros anos de 1930 que o antigo palacete dos Correios deveria ser demolido e, também,
vendido a particulares o terreno que o abrigava.
duas torres não edificada, para a qual propôs o uso de praça, sem deixar de
cumprir, portanto, com a exigência da galeria.
Figura 189: Planta do quarteirão 34, de 31 de janeiro de 1938, com os lotes 01 e 02 e com a
galeria de 10 metros especificada no registro de compra e venda. O destaque na imagem
refere-se à galeria que deveria ser mantida como eixo visual e de acesso ao viaduto da Avenida
Tocantins, atual Viaduto de Santa Teresa
346
Para levar a cabo a construção das duas sedes foi contratada a Companhia
Industrial e Construtora Pantaleone Arcuri da cidade de Juiz de Fora, com
responsabilidade técnica a cargo do engenheiro civil Arthur Arcuri, o mesmo
profissional que conduziu as obras do SULACAP dessa cidade.
Fonte: http://curraldelrei.blogspot.com.br/2010/06/os-quarteiroes-nao-
edificaveis-o-caso.html – acesso em 18 mai. 2018
Figura 192: Inauguração das sedes noticiada no O Jornal, do Rio de Janeiro
348
A área ajardinada entre as duas torres, projetadas por Capello, ficou conhecida
popularmente como “Praça da Independência,” a qual, a despeito da propriedade
privada, passou a ser utilizada pelo público. A praça emoldurava o viaduto Santa
Teresa, reforçava o eixo visual existente e promovia um espaço de convívio no
centro da cidade, até a construção em sua área, na década de 1970, de uma
edificação de quatro pavimentos, o que anulou todas essas características.
Conforme visto, o registro de compra e venda do imóvel permitia a divisão do
terreno em três lotes e a construção, no lote central, de uma edificação, desde
que os compradores mantivessem a referida galeria. O documento tratava,
provavelmente, da construção da futura sede da Sul América porém, como o
arquiteto optou por construir nos terrenos da extremidade, a permissão do
documento foi utilizada na década de 1970, com a construção da edificação com
a devida galeria, porém Figura 193: Edificação construída entre as duas torres,
coberta (já que o texto do obstruindo o enquadramento do Viaduto Santa Teresa.
242
O projeto arquitetônico de nº 126, aprovado na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte em setembro
de 1971, apresenta a proposta da edificação construída entre as duas torres com a assinatura do
arquiteto Henri Friedlaender.
243 Conforme escritura pública de compra e venda, lavrada no livro n. 226, à folha 71-v, de 25/10/1966
nas notas do tabelião do 4º Ofício de Notas de Belo Horizonte, registrada sob o n. 929, no livro 4-A,
à folha 91, do 4º Ofício de Registros de Imóveis da mesma capital.
assegurado aos compradores, conforme a cláusula 20 da Convenção de
Condomínio, o direito de construção na área de 399,040m², onde estava
localizada a “praça da independência”:
O mesmo aconteceu com o SULACAP, que foi comprado pelos senhores Alair
Gonçalves Couto, Juarez Mariano Machado, Roberto Santos Laureano, com
exceção de um dos andares, o qual foi mantido em nome da empresa. A certidão
de compra e venda, além de registrar a convenção do condomínio recém
instituído, determinava as frações ideais do terreno. Sobre a parte livre do lote,
havia informação similar à contida na certidão de venda do edifício Sul América
244
Cláusula 20 da Convenção de Condomínio do Edifício Sulamérica. Escritura pública registrada no
livro de notas n. 229-A, às folhas 102 a 120-v, do cartório do 4º Ofício de Notas de Belo Horizonte.
escritura de fls. 1 do livro 289-c destas notas, obrigando-se
por si e sucessores, a não opor, em tempo algum, qualquer
obstáculo a esta construção [...] (Convenção do Edifício
SULACAP).
351
Em 1995, o edifício Sul América, em sua parte residencial (torre mais alta), já
estava quase totalmente ocupado por escritórios, consultórios e atividades
comerciais diversas, restando apenas alguns poucos moradores. Em notificação
aos condomínios das duas torres, a Prefeitura de Belo Horizonte exigiu a
regularização da situação de uso das edificações e a elaboração de um novo
projeto arquitetônico atualizado para o registro de todas as modificações sofridas
durante o decorrer dos anos após o documento de habite-se inicial.
245
http://www.janelaaberta.com.br/.
Provavelmente, esta exigência decorreu do tombamento do Conjunto Urbano da
Avenida Afonso Pena e Adjacências (do qual o conjunto faz parte), que acarretou
em maiores cuidados por parte da administração pública com relação a todos os
edifícios inseridos no perímetro de acautelamento.
246
Documento elaborado por mim e pela arquiteta Sarah Floresta.
247
Documento coordenado por mim, com a participação da estagiaria Deisiane Lagares.
dificulta, em um primeiro momento, a leitura do projeto completo, o qual poderá
ser visualizado no item Peças Gráficas.
354
PROSPECÇÕES ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS DO
ENTORNO
Ao contrário das demais sedes estudadas, cujas alterações ao longo dos anos
foram pontuais e quase imperceptíveis, o conjunto arquitetônico SULACAP/Sul
América sofreu drástica descaracterização em sua proposta projetual, sobretudo
pela a construção da edificação na área livre entre as duas torres, na década de
1970. Antes disso, na década de 1960, as torres mais baixas do conjunto,
projetadas e construídas com três pavimentos acima do térreo, sofreu acréscimo
de mais um pavimento. Além disso, a torre baixa do Sul América teve área
acrescida no seu pavimento térreo, no trecho referente à face voltada para o
viaduto Santa Teresa, interrompendo a linearidade da marquise – que apesar de
não proposta no projeto em todo o perímetro conforme construído, configurou um
elemento marcante - , e também no trecho referente à esquina entre a Av. Afonso
Pena e Rua Tamoios, modificações que atentaram contra a proposta original do
tratamento plástico das fachadas. 355
356
Figura 197 – Vista aérea do conjunto, com destaque para os quatro pavimentos acima do
térreo e acréscimo de área do pavimento térreo da torre mais baixa do Sul América.
Essa modificação de uso indica que, àquela altura, o centro de Belo Horizonte já
se firmava como local ideal para negócios, transformando-se, aos poucos, no
centro econômico da capital, o que fez com que cada vez mais as empresas
buscassem instalar seus escritórios naquela região.
Para o melhor entendimento das alterações dos edifícios ao longo dos anos,
segue cronologia das prospecções:
357
Década de 1960: as torres baixas do conjunto arquitetônico são
acrescidas de mais um pavimento.
Final de década de 1960 (edifício Sul América): construção de novas
lojas em áreas livres sob a marquise da esquina da Rua da Bahia com
Rua Tamoios (fachada voltada para o viaduto Santa Teresa) e da esquina
da Avenida Afonso Pena com Tamoios:
358 Figura 199 – Planta pavimento térreo do edifício Sul América, situação atual.
É oportuno destacar que, antes mesmo da construção das sedes da Sul América,
359
o Parque Municipal, vizinho das duas torres, vinha sofrendo sucessivas perdas
em sua área original. Tal processo iniciou-se em 1912 com a transferência de
aproximadamente 45.000m² do seu terreno para a construção da Faculdade de
Medicina e do Centro de Saúde do Estado. Na década de 1940, outra parcela foi
ocupada para a construção do Palácio das Artes (GALERA e GARCIA, 2017).
Originalmente com área de formato quadrangular e com as quatro praças em
suas arestas, o Parque consolidou-se na década de 1970 com um terço da sua
área original e destituído das áreas não edificáveis em suas arestas. Estas
alterações influenciaram, relativamente, na saída dos moradores da torre
residencial do conjunto e também de outros edifícios residenciais nas
proximidades, visto que, nesta época, a área central, em função da falta de
planejamento que orientasse o seu crescimento, passou a ter uma imagem
confusa e pouco atrativa. O corte das árvores que formavam o bulevar da Afonso
Pena, em 1963, contribuiu consideravelmente para a perda da imagem ambiental
do entorno.
Figura 200 – Entorno urbano, com destaque para o conjunto arquitetônico/década de 1940.
360
Fonte: https://imagesvisions.blogspot.com/2015/09/a-derrubada-dos-ficus-
da-avenida-afonso.html - Acesso nov. 2020
Figura 203 – Corte das árvores da Afonso Pena – 1963 – em destaque o 361
conjunto arquitetônico.
Fonte: https://imagesvisions.blogspot.com/2015/09/a-derrubada-dos-ficus-
da-avenida-afonso.html - Acesso nov. 2020.
RELAÇÃO DO EDIFÍCIO COM O ENTORNO
249
Tradução minha – “En realidad, la formación de un paisaje urbano significativo es la finalidad
principal de una creación urbana, pero la consideración del paisaje existente tiene importancia para
cualquier arquitecto que deba proyectar un edificio em un entorno urbano.(TEDESCHI, 1978, p.99
de uma estratégia de criação de grandes eixos para facilitar o fluxo de pessoas,
mercadorias e veículos.”
250 As fontes indicam que por uma “questão de falta de espaço” a Prefeitura teria decidido expandir o
prédio dos Correios. Contudo, posteriormente, a mesma recua e decide permutar o terreno por outro
localizado na própria Avenida Afonso Pena, onde antes funcionava o Congresso, conforme relatório
de 1935 do Prefeito Otacílio Negrão de Lima: “prosseguindo as negociações iniciadas, conseguimos
ver realizada a permuta do atual edifício dos Correios e Telégrafos pelo terreno ao lado do novo
edifício da Prefeitura, na Avenida Afonso Pena” (Curral Del Rey.com). Assim, foi deliberado nos
derradeiros anos de 1930 que o antigo palacete dos Correios deveria ser demolido e, também,
vendido a particulares o terreno que o abrigava.
preocupação higienista com a volume e a circulação de ar nos
cômodos, procurando satisfazer ambas as condições. Além
destas exigências, o Regulamento contém minuciosas
prescrições quanto aos materiais, técnicas e detalhes de
execução dos edifícios, constituindo-se num verdadeiro
manual de construção. Contudo, o que mais chama atenção
é a limitação do número de pavimentos, ou seja, da limitação
da altura do edifício, em níveis que, comparados com os
padrões habituais das construções das grandes cidades
época, se mostram bastante restritivos (PASSOS, 1996,
p.202)
Este regulamento logo foi substituído por outro, em 1933, o qual, de forma geral,
apenas alterou os parâmetros relativos à altimetria. Passos (1996), mais uma vez,
resumiu as alterações:
Figura 204: Feira de Amostras/Belo
horizonte. De modo geral idêntico ao anterior, a única
diferença deste último era justamente relativa à
questão da altura das edificações, cujos limites
são neste diferenciados segundo a "Zona
Residencial" e a "Zona Comercial" ou "Zona
Central", definidas neste regulamento de forma
semelhante ao regulamento anterior. Para a
Zona Residencial ficaram mantidas as
disposições do Regulamento de 1930; para a
Zona Comercial, foram mantidas os limites
relativos a altura junto à via, porém modificados
as restrições relativas à altura junto às divisas,
podendo o edifício ser levantado junto a estas
últimas, até a altura definida pela altura máxima
junto à via. Desta forma, abolia-se a
necessidade do afastamento lateral (desde que
366 não houvesse iluminação na fachada); além
disto, foram também atenuadas as exigências
relativas às áreas internas de iluminação.
Observamos que apesar de denominada "Zona
Comercial", não há neste regulamento nenhuma
disposição que restrinja o uso desta zona a
edifícios comerciais ou de escritórios, o que veio
a possibilitar, na década de 1940 e seguintes,
grande número de prédios de apartamentos na
Fonte – Zona Central. (PASSOS, 1996, p. 261)
https://br.pinterest.com/pin/5096105140
81308950 - acesso em nov.2020
No ano de 1940, uma nova legislação foi aprovada (Decreto Lei nº 84/1940), com
poucas alterações em relação à anterior. Mas neste ponto, as obras das torres já
estavam em andamento.
368
Fonte:
https://www.facebook.com/minasmemoria/photos/a.272981066227875/1010
789622447012-acesso em nov. 2020
A implantação foi pensada de maneira a manter uma área não edificada entre as
duas torres, a qual, apesar de privada, tornou-se de uso público. A solução da
área não edificada resultou em uma visada imperativa para o Viaduto de Santa
Teresa, bruscamente interrompida na década de 1970 com a construção de uma
edificação descaracterizante.
371
Figura 208: Vista aérea do conjunto arquitetônico - 2019.
251
La forma, al definir el espacio, da existencia cultural al entorno, y de ese modo hace posible la
realización de la función, la califica y transmite su significado. (WAISMAN, 1985, p. 89)
As duas edificações que compõem o conjunto apresentam volumetria e fachadas
idênticas e estão dispostas simetricamente em lotes triangulares, os quais, juntos,
formam o quarteirão edificado entre as ruas Tamoios, Bahia e Av. Afonso Pena.
Cada edifício é composto por três volumes, sendo o volume central e mais alto
um prisma regular - que confere a verticalidade ao conjunto-, constituído por
dezesseis pavimentos, com exceção dos subsolos. Os demais volumes são
idênticos, com cinco pavimentos, e estão dispostos simetricamente ao volume
mais alto em ângulo de quarenta e cinco graus. A adoção da solução de transição
de volumes mais baixos para o mais alto evitou, conforme indicou Carlos Alberto
Maciel, “a opressiva presença de um arranha-céu sobre o espaço aberto” (2006.
p. 10). As plantas dos dois edifícios, a despeito de possuírem a mesma metragem
quadrada, são diferenciadas em decorrência dos usos.
As fachadas, revestidas
Figura 209: Vista da torre Sul América
originalmente em pó de pedra, são
desprovidas de ornamentação,
372 possuem aberturas em vãos
ritmados, dispostos
harmonicamente pelos panos,
conferindo ao edifício uma
elegância cadenciada. Das quatro
fachadas que compõem cada torre
vertical, verifica-se a composição
idêntica em três delas. A quarta,
voltada para as ruas adjacentes à
avenida principal (Afonso Pena)
difere-se das demais pela presença
de vãos centrais de altura dupla em
relação às outras esquadrias, que
iluminam a escadaria de incêndio. O
coroamento é formado por dois
Fonte: Karine de Arimateia - 2018
pavimentos e tratado também com
Figura 210: Vista das marquises dos pavimentos vãos verticais de altura dupla,
térreo, que se unem nos pilares voltados para o
Viaduto Santa Teresa. porém sem vedação. Esses vãos
se repetem em todas as fachadas
e iluminam a circulação em torno
de todo o perímetro do penúltimo
pavimento.
374
ANÁLISE FUNCIONAL
Não há dúvidas que, desde o final do século 19, na área central urbana de Belo
Horizonte criou-se uma estrutura de transportes, educação, saneamento e
assistência médica, bem como a instalação de edifícios institucionais para
abrigarem os funcionários públicos transferidos de Ouro Preto para a nova
capital, além de estabelecimentos comerciais que atraíram um contingente de
pessoas. Portanto, no começo do século 20, o município já estava em franca
expansão, passando a influenciar as outras regiões de Minas Gerais. Com um
375
crescimento vertiginoso, o que se veria, na década de 1940, era a verticalização
da área central da cidade, propiciada pelas legislações urbanísticas e pelos
investimentos no setor imobiliário, conforme já exposto.
252
MALARD, 2006. P. 125.
capital, a maioria delas em linguagem eclética e que serviram de apoio para o
sistema público. Apesar do surgimento de novos núcleos urbanos no decorrer
das décadas, a região central é ainda caracterizada por atividades comercias, de
serviços diversificados e pelo uso residencial, os quais lhe conferem vitalidade
dia e noite.
A antiga área descoberta entre as duas torres era acessada tanto pela Av. Afonso
Pena quanto por uma escadaria localizada no encontro das ruas Tamoios e
Bahia. Dessa área descoberta era feito o acesso aos edifícios, por amplas
portadas, as quais marcavam os eixos de cada torre a partir do espaço aberto,
até a construção do imóvel descaracterizante, que resultou na criação de
circulações decorrentes dos afastamentos entre as edificações preexistentes e a
nova, anulando a ênfase das portadas principais. Cada torre também possuía
acessos de serviço pelas ruas adjacentes (Tamoios e Bahia), atualmente isolados
pelos condomínios por questões de segurança.
253
No Sul América, a casa de máquinas dos elevadores encontra-se no último subsolo, já no
SULACAP a maquinaria localiza-se no último pavimento.
No SULACAP, o uso comercial ainda se mantém, inclusive nos dois últimos
pavimentos que formam o coroamento.
Figura 214: Assinatura do arquiteto em um dos pilares de sustentação das
marquises.
378
379
380
381
Figura 218: Planta térreo/projeto original edifício Sul américa.
382
386
254
Revista Sul América, ano 8, outubro de 1927, nº 32
255 Revista Sul América/nº 104 e 105, Ano 27, p. 27/ jan. a jun. 1946).
andares, com amplo subsolo, é revestido de travertino e
dotado de moderníssima instalação de ar condicionado, além
de serviço de água filtrada e gelada, dispondo ainda de três
elevadores. É, sem favor, no momento atual, um dos mais
vistosos da capital baiana. (Revista Sul América/nº 127, Ano
33, p. 30/ fev. e mar. 1952)
Já em relação às
Figura 222: Construção do edifício Sul América/Salvador.
instalações iniciais da
sucursal SULACAP na
mesma cidade, o jornal O
Imparcial anunciou em
agosto de 1935 o
estabelecimento da
empresa nas salas 4 e 5
do Edifício Monte Pio,
localizado na Rua Chile nº
388 31, portanto, nas
proximidades da sucursal
da Sul América.256 Em
Fonte: http://maisdesalvador.blogspot.com/2011/09/rua- outubro do mesmo ano, o
chile.html - acesso 19 fev. 2020.
mesmo periódico publicou
que, em comemoração aos seis anos da sucursal Bahia-Sergipe, seriam
inauguradas as novas instalações da SULACAP na Rua Conselheiro Dantas, nº
14.257 Já em novembro de 1940, a Revista da empresa publicou que a sede
estava instalada provisoriamente no edifício Bahia, na Rua Padre Vieira, nºs 11 e
13, onde permaneceu até ser construída a sede própria,258 em terreno originado
da demolição do Hotel Sul Americano, na Praça Castro Alves. A cerimônia de
lançamento da pedra fundamental para a construção do edifício ocorreu em 6 de
julho de 1940 e contou com a participação dos diretores da empresa e do Sr.
Eduardo Humitzch, representante do arquiteto responsável pelo projeto, Roberto
Capello. O discurso de inauguração feito pelo Sr. Mário Borges de Andrade
256
Jornal O Imparcial : Matutino Independente (BA) – 14 ago. 1935 – Ano XIII, edição nº 1421
257
Jornal O Imparcial : Matutino Independente (BA) – 31 out. 1935 – Ano XIII, edição nº 1498
258
Revista Notícias de Sulacap/nº51, Ano 5, p.3/Nov. 1940
Ramos, um dos diretores, apresentou aspectos sobre as antigas edificações do
terreno, bem como as características construtivas da nova sede da SULACAP:
Fonte:
<http://saosalvadordabahiadetodosossantos.blogspot.com/2015/05/edific
io-sulacap.html>acesso em 27 fev. 2020.
390
Fonte:
http://salvadorhistoriacidadebaixa.blogspot.com/2013/06/ladeira-de-
sao-bento-e-e-edificio.html>acesso em 27 fev. 2020.
259
Outras notas registraram que Capello visitou Salvador em 1944 (Jornal A Manhã, Rio de Janeiro,
23 de julho de 1944, p. 6, edição 00906) e 1948 (Diário de Notícias, 23 de outubro de 1948, p. 3,
segunda seção, edição).
260
O Dossiê de tombamento do SULACAP foi elaborado pelo IPAC em decorrência da solicitação de
proteção do edifício encaminhada pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), conforme
Informação Técnica nº 037/2007, anexada ao Dossiê. Tal solicitação gerou o processo de abertura
de tombamento em 21 de agosto de 2008, conforme notificação emitida pelo IPAC, encaminhada à
administração do condomínio por meio do Ofício nº 485/2008
261
. Ver: http://www.ipac.ba.gov.br/noticias/simbolo-da-arquitetura-art-deco-em-salvador-pode-
ganhar-titulo-de-patrimonio-da-bahia - acesso em 28 fev. 2020.
de Niterói, entretanto, em relação à sede de Salvador, os registros disponíveis
confirmam a autoria única de Capello.
393
Nota-se, em relação ao SULACAP, apenas algumas diferenças entre o projeto
original e o edifício construído. A primeira discordância está nos vãos da
platibanda do coroamento, construídos em formato retangular, em oposição à
proposta projetual de janelas circulares. Outra diferença está nas sobrevergas
das janelas do coroamento, executadas com moldura em argamassa em baixo
relevo, discordante do previsto no projeto, o qual apresentava sobrevergas
independentes e em alto relevo, conforme mostrado nas imagens abaixo:
262
A pesquisa no acervo da Prefeitura Municipal de Salvador foi realizada por meio de abertura do
processo digital na SEDUR (Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo), nº SE 5913013000-
5879/2020, o qual resultou na seguinte resposta do órgão: “Em atenção à solicitação de consulta ao
projeto do edifício denominado sul américa, formulado pela sra. karine de arimatéia, informamos que
não constam informações no banco de dados da SEDUR, sobre a edificação objeto do estudo. Devido
à localização em área do conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico do centro histórico da
cidade do salvador, tombado pelo IPHAN, sugerimos consulta a este órgão ou à Fundação Gregório
de Matos, órgão municipal de tombamento, devido ao valor cultural da edificação.” As sugestões de
pesquisas foram realizadas, porém não houve respostas dos órgaõs.
Figura 226 – Perspectiva do projeto da sede da
SULACAP de Salvador.
394 Figura 227 –Fotografia da década de 1950 Figura 228 – Edifício Sulacap Salvador/2018.
Edifício Sulacap/Salvador.
395
Fonte: http://salvadorhistoriacidadebaixa.blogspot.com/2013/06/ladeira-de-
sao-bento-e-e-edificio.html>acesso em 27 fev. 2020.
Figura 230 – Aspecto do entorno do edifício SULACAP. Um dos
sobrados remanescentes da demolição do conjunto,
provavelmente década de 1970.
Fonte: http://classicalbuses.blogspot.com/2016/09/salvador-
praca-castro-alves-e-edificio.html>acesso em 27 fev. 2020.
398 pode confirmar em relação ao Sul América, cuja existência é pouco notada na
atualidade.
Figura 232: Entorno da Rua Chile e Praça Castro na atualidade/Edifício Sul América (esquerda) e
SULACAP (direita) /Salvador – em destaque.
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/927318/guia-de-arquitetura-de-salvador-25-lugares-para-
conhecer-na-primeira-capital-do-brasil/modificada pela autora - acesso 19 fev. 2020.
RELAÇÃO DOS EDIFÍCIOS COM O ENTORNO
263
VASCONCELLOS, Sylvio. Arquitetura dois estudos. Goiânia: MEC/SESU/PIMEG-ARQ/UCG,
1983. P. 17.
264 Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Icomos%20salvador.pdf –
acesso em mai. 2020
discussões iniciadas na primeira Semana de Urbanismo de Salvador, em 1935,
que favoreceram a ideia de implantação de um plano diretor que orientasse as
novas construções e o desenvolvimento urbano. Tal plano veio a ser elaborado
no período de 1942 a 1947 pelo EPUCS (Escritório do Plano de Urbanismo da
Cidade do Salvador) (BRITTO, et. al., 2017), intitulado, posteriormente, Plano
Mário Leal Ferreira - em homenagem ao engenheiro sanitarista responsável – e
que orientou as diversas modificações no espaço urbano de Salvador nos anos
seguintes, até a instituição do novo plano na década de 1970. Desse modo,
ambos os edifícios sedes foram construídos com base nos parâmetros
urbanísticos do Plano Leal
Figura 233 – Planta de Salvador, 1549 – com
Ferreira.
destaque para a Rua Chile.
401
Figura 234 – Recepção dos chilenos na Praça Municipal – ao fundo a Rua Direita do Palácio.
Sobre os usos que marcavam a Rua Chile nos primórdios do século 20, escreveu
Neivalda Freitas de Oliveira:
O que se pode notar pela avaliação da evolução das plantas da cidade é que o
espaço urbano do entorno imediato da Rua Chile e Praça Castro Alves não se
alterou ao longo do século 19 e início do século 20. Mesmo sendo uma das
principais vias de ligação do núcleo urbano e com os problemas decorrentes do
aumento da população que demandavam ações de planejamento, o entorno
402
imediato apenas veio a receber uma intervenção urbana na administração de
José Eduardo Leite de Carvalho Filho, no período de 1900 a 1903, que se limitou
em melhoramentos pontuais como a substituição da iluminação pública,
calçamento e trilhos dos bondes (OLIVEIRA, 2008). Porém o desejo de
modernidade era latente tanto por parte da população quanto dos governantes,
como pode ser comprovado pelas notícias na imprensa da época.
Figura 236 – Edificação da Secretaria (atual Palácio dos Esportes), à esquerda; e sede do
jornal A Tarde (à direita). Acesso à Rua Chile. Década de 1940.
Fonte: https://informa1.com.br/trafego-de-veiculos-sera-modificado-no-centro-
historico-a-partir-de-segunda-22/- Acesso em 3 mar. 2020.
Fonte:
https://www.facebook.com/FotosAntigasDeSalvador/photos/a.486271244730689/56
9182709772875/?type=3&theater- Acesso em 3 mar. 2020.
Figura 240 – Rua Chile, com destaque para o Sul América em 2020. 407
408
ANÁLISE FORMAL
265
MALARD, Maria Lucia. As aparências em arquitetura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. P. 52.
Figura 242 – Coroamento do edifício Sul
América/Salvador
presença dos mesmos frisos
horizontais tanto em sua base,
quanto em seu topo, os quais
coroam o corpo. O volume que
conforma o coroamento, recuado
do corpo nas três de suas quatro
faces, formando terraços
descobertos, é composto por três
pavimentos - sendo os dois
primeiros idênticos em tratamento
plástico e abertura de vãos e o
terceiro, de pé direito menor e
Fonte – Rodrigo Baeta/2020
com altura de vãos diferenciados
dos demais - além da platibanda
escalonada, que esconde o volume da
Figura 243 – Fachada da Rua Chile Sul
caixa d´água. América/Salvador
410
Revestidas em pó de pedra, solução de
proteção especificada por Roberto
Capello para a maioria das sedes da
empresa, as fachadas são resolvidas
com as aberturas ritmadas em planos
recuados do pano principal, conferindo-
lhe uma composição de falsos pilares
salientes, marcados ritmicamente no
corpo principal. Apenas três fachadas
são aparentes, já que a quarta está
justaposta à fachada do Palace Hotel,
cuja altimetria é alinhada ao corpo
principal do Sul América. É interessante
notar que as duas fachadas aparentes
e paralelas (Rua Chile e Rua Pau da
Bandeira) são idênticas, compostas
Fonte – Rodrigo Baeta/2020
pelo mesmo escalonamento do Figura 244 – Fachada da Rua da Ajuda/Sul
América
coroamento em relação ao corpo. O
destaque está na terceira fachada,
voltada para o afastamento entre o
Edifício Antônio Ferreira,
conformado por uma via de
pedestres, onde está o acesso
principal da sede. Desprovida do
escalonamento existente nas
demais fachadas, tal recurso
confere-lhe uma imponência em
relação às demais, e sugere que na
ocasião da projetação o arquiteto
pensou em uma possível vista
ampliada. É curioso o trabalho Fonte – Rodrigo Baeta/ 2020
executado na portada principal, com
sobreverga triangular, bem aos moldes clássicos, recurso adotado unicamente 411
nesta sede.
Figuras 245 e 246– Portada do edifício Sul América
413
Fonte: http://www.secom.ba.gov.br/2016/11/136061/Simbolo-da-arquitetura-Art-deco-pode-ser-
Patrimonio-da-Bahia.html- Acesso em 3 mar. 2020.
414
415
Fonte:
https://www.facebook.com/sulacap.ssa/photos/?ref=
page_internalAcesso em 3 mar. 2020.
Fonte:
https://www.facebook.com/sulacap.ssa/photos/?ref=page_inter
nalAcesso em 3 mar. 2020.
ANÁLISE FUNCIONAL
266
Tradução minha - El uso físico del edifício es el aspecto más inmediato y que más estudios ha
originado. A él se refieren generalmente los autores que hablan de la ‘función’ del edificio, y hasta de
la arquitectura, y que atribuyen a la palabra ‘función’ un sentido más bien restringido, de idoneidad
del edificio para sus finalidades prácticas de orden físico, mientras que en realidad la función de un
edificio abarca una gama más extensa de necesidades, aunque siempre en el orden práctico.
(TEDESCHI, 1978, p.51).
aproximados de área construída, distribuídos pela base, corpo e coroamento e
subsolo. Atualmente o edifício mantém o uso comercial, com lojas no térreo e
salas nos pavimentos tipos, com áreas aproximadas e distribuídas em torno de
uma iluminação central, conformando uma espécie de átrio no pavimento térreo.
Na época da sua construção, a sede da empresa ocupou apenas um dos
pavimentos, sendo os demais destinados à locação. O discurso que marcou o
lançamento da pedra fundamental, já apresentado, relatou os aspectos
construtivos da edificação e do seu uso misto (com salas e apartamentos),
embora nenhum registro atual comente sobre a existência de apartamentos na
edificação:
O pavimento térreo é composto pelo hall de entrada de pé direito duplo, com 417
paredes revestidas em mármore tanto interna como externamente, além das lojas
com acesso exclusivo pelas ruas. A circulação vertical é resolvida por três
elevadores, sendo um deles de serviço, e pela escada em formato semi-circular.
418
PEÇAS GRÁFICAS267
419
267
Desenhos realizados por Michele Teodoro, sob a coordenação da autora.
268
Alunos: Áurea Santos, Fabiana Lisboa, Jade Furtado, Lafayette Pereira, Thais Marins, Vinicius
Barbosa, Larissa Dantas, Mariana Silva, Pedro Henrique Lopes, Vitor Rios, Alessandra Feitosa, Aline
Santana, Caio Mendes, Juliane Rodrigues Carneiro, Raquel Araujo,
420
421
422
423
Ficha técnica
425
ANÁLISE HISTÓRICA
A empresa Sul América iniciou sua atuação no estado do Ceará no ano de 1930
em imóvel alugado, o Edifício Torres, localizado nas imediações da Praça do
Ferreira,269 até adquirir, em 1942, duas edificações contíguas na mesma praça,
precisamente na Travessa Pará, para a construção da sede própria.270 Antes da
aquisição das duas edificações, a intenção da empresa de construir a nova sede
na capital cearense foi indicada em texto publicado no Jornal Unitário, em 10 de
janeiro de 1938, o qual versava sobre o crescimento das construções na cidade:
269
Revista Notícias de Sulacap/nº51, Ano 5, p.3/Nov. 1940.
270
Revista Sul América/nº 131, Ano 34, p. 26/ jan. a mar. 1953.
271
Revista Sul América/nº 104 e 105, Ano 27, p. 27/ jan. a jun. 1946.
Assim como as demais sedes da empresa, o edifício da capital cearense foi
construído no principal ponto de comércio da cidade, decorrente do núcleo
original do povoamento, a Praça do Ferreira.
272
Antônio Rodrigues Ferreira, boticário, manteve um comércio na área e também presidiu por muitos
anos a câmara, trazendo melhorias para a região (BARBOSA, 2006, p, 60).
Figura 255: Edifício Sul América e o
Abrigo Central
cinemas foram inaugurados nas
imediações, a saber, Politeama, Magestic e
o Cine Moderno, intensificando ainda mais
o uso social da região. Em 1931, é
construído o primeiro edifício vertical do
entorno, o Hotel Excelsior, com linguagem
eclética (CAVALCANTE e BARROSO,
2016).
Fonte: <https://fotos-antigas-de-
fortaleza.webnode.com/galeria-de-fotos/>acesso
429
em 26 jan. 2020
273
Ver documento encaminhado pela Prefeitura Municipal em resposta à consulta do projeto do
edifício em documento apresentado no item Peças Gráficas.
Capitalização, espalhando nas principais capitais brasileiras
sucursais ostentosas e que dialogavam entre si em diversos
aspectos – linguagem estética, padrão construtivo, etc. A
inauguração da nova filial de Fortaleza, anteriormente locada
em uma edificação de 3 pavimentos na Praça do Ferreira –
esquina das ruas Pedro Borges com Major Facundo - , em
uma nova edificação de doze pavimentos na mesma Praça,
mas agora em sua face Norte – na rua Pará, 12 – deu grande
visibilidade ao empreendimento, louvado em reportagem do
período.(BARBOSA, 2006, p. 174)
430
Fonte: <https://fotos-antigas-de-
fortaleza.webnode.com/galeria-de-fotos/>acesso em 26 jan.
2020
PROSPECÇÕES ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS DO
ENTORNO
Figura 258: Edifício Sul América em 1950. Figura 259: Edifício Sul América em 2016.
431
Fonte:
<http://www.fortalezanobre.com.br/2012/06/in Fonte: Karine de Arimateia - jan. 2018
tendencia-municipal-o-primeiro.html>acesso
em 26 jan. 2020
435
Fonte:
<https://www.facebook.com/FortalezaDasAntigas/photos/a.204068619
721477/2222110467917272/?type=3&theater>acesso em 26 jan. 2020
As alterações pelas quais passou a Praça do Ferreira ao longo dos anos, com a
demolição das estruturas que remetiam à época de sua ocupação, são
decorrentes, sobretudo, da implementação tardia das políticas de proteção do
patrimônio cultural em todas as esferas de governo no estado do Ceará. Em
relação à proteção federal, a atuação do IPHAN, além de demorada, limitou-se,
inicialmente, a bens móveis. O primeiro tombamento federal aconteceu no ano
de 1941, que resguardou o acervo arqueológico do Museu da Escola Normal
Justiniano de Serpa. Somente na década de 1960, as estruturas arquitetônicas
começaram a receber proteção por parte desse órgão.
437
274
É digno mencionar o esforço dos pesquisadores cearenses em impulsionar a valorização da
arquitetura moderna de Fortaleza. Dentre estes estudos destacam-se: a pesquisa coordenada pelo
professor Clovis Ramiro Jucá para a produção do Inventário da Arquitetura Moderna em Fortaleza,
parceria entre o Laboratório de Estudos em Arquitetura e Urbanismo (LEAU), do Departamento de
Arquitetura e Urbanismo (DAU) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e 4ª. Superintendência
Regional IPHAN; a elaboração do "Guia da Arquitetura Moderna em Fortaleza (1960-1982)",
desenvolvido pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará com
auxílio financeiro proveniente da FUNCAP (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) e a pesquisa intitulada "(Re)construção da Arquitetura Moderna em
Fortaleza: memória e modelagem digital", do Laboratório de Crítica em Arquitetura, Urbanismo e
Urbanização (LoCAU) e do Laboratório de Experiências Digitais (LED) do Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Design da UFC (PPGAU+D-UFC). (DIÓGENES, CARDOS
e PAIVA, 2015)
RELAÇÃO DO EDIFÍCIO COM O ENTORNO
O terreno onde o edifício Sul América foi erguido está situado no quarteirão
formado pela Travessa Pará e pelas ruas Floriano Peixoto, São Paulo e Major
Facundo. Conforme visto, até a construção do edifício, a região da Praça do
Ferreira era considerada um dos setores mais dinâmicos da cidade de Fortaleza,
reunindo os mais importantes usos institucionais, de serviços, lazer e comércio.
275
CARSALADE, 2001, p. 83.
conjunto com os demais edifícios, delimita o espaço aberto e configura a imagem
da paisagem urbana imediata.
Arquitetura e Urbanismo em
1964.
276
COLIN, 2000, p. 51.
os balaústres torneados que compõem a ornamentação da fachada a proposta
deste hotel se aproximaria muito das sedes projetadas por Capello.
Fonte: Karine de Arimateia- jan. 2014. Fonte: Extraído de Borges, 2006, p.178
Neste edifício nota-se uma proposta diferenciada das demais sedes projetadas
anteriormente por Capello, qual seja, a de trabalhar volumetricamente o
coroamento e deixar o corpo desprovido de ornamento.
444
277
MALARD, 2006, p. 55
Nos demais andares, as salas são distribuídas em torno da circulação vertical e
compartilham os banheiros comunitários. Tudo indica que os pavimentos tipos
eram compostos, originalmente, apenas por duas amplas salas, como ainda está
na atualidade o quarto pavimento.
278
Desenhos realizados por Michele Teodoro, sob a coordenação da autora.
448
449
450
451
452
453
Figura 272: Comunicado da Prefeitura Municipal de Fortaleza sobre a ausência de dados
relativos à sede Sul América.
454
Figura 273: Capa da Revista Sul América – Fonte: Acervo Sul América.
Primeiramente, é oportuno relembrar o motivo, ou o problema, que desencadeou
essa investigação: o reconhecimento da existência de outras sedes da empresa
Sul América e Sulacap em várias capitais brasileiras - além das existentes em
Belo Horizonte279 - de autoria do arquiteto Roberto Capello, nunca antes
estudadas em sua totalidade e, consequentemente, o interesse pessoal em
relação à trajetória profissional desse arquiteto até então pouco conhecido pela
historiografia e sobre o posicionamento de suas obras no contexto da produção
arquitetônica da primeira metade do século 20. Tais fatores foram suficientes para
a elaboração de estudos preliminares, os quais resultaram no projeto de pesquisa
apresentado ao PROARQ (Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da
UFRJ) no ano de 2015. Porém, era necessário definir o método de abordagem
para atingir o objetivo geral, qual seja, investigar se o legado do arquiteto,
representado pelos projetos das sedes da empresa, era significativo a ponto de
contribuir para a apreensão do fenômeno arquitetônico brasileiro no decurso de
1930 a 1950, período em que as sedes foram projetadas e construídas.
279
Cabe destacar que Belo Horizonte é a cidade em que resido, e como apresentado no capítulo
introdutório, foi a partir da elaboração do dossiê de tombamento do conjunto arquitetônico
SULACAP/Sul América dessa cidade, documento cuja equipe técnica integrei, que iniciei as
pesquisas com o objetivo de identificar a existência de sedes em outros estados.
Em continuidade, os edifícios sedes da empresa foram estudados
separadamente, de forma a evidenciar os seus significados no campo
arquitetônico. Esses edifícios, considerados como documentos de pesquisa,
foram analisados em seus aspectos históricos, formais, funcionais e de relação
com o entorno.
Neste ponto, cumpre-me esclarecer que esta pesquisa, assim como toda
investigação, é sujeita a novas intepretações e novos dados (MINAYO, 2001).
Primeiramente porque, conforme indica Zein na passagem acima, outro olhar
sobre essas obras poderá revelar revisões ou acrescentar novas narrativas. Em
segundo lugar, porque ainda há algumas sedes da empresa cujas autorias
precisam ser confirmadas, tais como as de Florianópolis, Belém e Manaus, além
das sedes construídas em alguns países da América Latina. Ademais, restou
verificar a existência de sedes nas cidades de Goiânia/GO e Campo dos
Goitacazes/RJ, visto que nas Revistas Sul América há menção sobre a aquisição
de terrenos nessas cidades para a construção dos edifícios. Outra lacuna foi a
impossibilidade de se realizar o levantamento dos projetos originais de alguns
edifícios aqui estudados, tais como as sedes Sul América de Salvador, Fortaleza
e Recife, cujas informações, se reunidas, completariam a documentação
produzida.280
280
Vale destacar a situação adversa pela qual estamos passando com a crise sanitária que impediu
a realização das viagens agendadas para este último ano.
281
Todas as viagens foram realizadas com recursos próprios, visto que não fui contemplada com a
bolsa de estudos por não residir na cidade do Rio de Janeiro, exigência normativa do PROARQ.
também em outros países latino-americanos. Ao identificar o crescimento urbano,
industrial o portuário brasileiro, Larragoiti fundou outras duas empresas,
vinculadas à Sul América, a Sul América Terrestre Marítima (SATMA) e a Sul
América Capitalização (SULACAP), as quais possibilitaram a diversificação de
outros tipos de seguros e a ampliação dos negócios do grupo. Na década de
1920, a instalação de sucursais nas principais capitais dos estados brasileiros
possibilitou que a empresa dominasse o ramo de seguros no país. Em 1922, a
primeira sede foi construída na então capital Rio de Janeiro, a partir do projeto
arquitetônico assinado por Robert Prentice, quem, provavelmente, assinou
também o projeto da sede da Sul América na Argentina, quando começou a sua
relação com a empresa, interrompida, conforme tudo indica, pela contratação do
arquiteto italiano Roberto Capello, que passou a coordenar o “Departamento de
Propriedades e Hypothecas” no ano de 1935 e a assinar, a partir de então, todos
os projetos dos futuros edifícios.
Assim, a década de 1940 foi o período de Figura 274 – Portada do edifício Sul
América de Salvador.
maior atividade da empresa no que tange à
construção de suas sedes. Seus edifícios
eram aqueles mais altos e de maior
evidência no espaço urbano ainda
predominantemente horizontal e com
resquícios do passado colonial. Eram
também os que possuíam as tecnologias
mais avançadas do mercado, tanto em
relação aos sistemas prediais quanto aos
materiais e técnicas construtivas, porém
seus aspectos formais iam de encontro à
tradição arquitetônica, a qual ainda se
impunha nas pranchetas dos arquitetos e, ao
mesmo tempo, caminhavam para a
Fonte: Rodrigo Baeta/2020.
racionalidade de ornamentos. Verificou-se, na maioria das sedes estudadas,
solução tripartida, simetria tanto volumétrica quanto no tratamento dos espaços
internos, ausência de afastamentos em relação à calçada e, em um caso
específico, uso de elementos notadamente clássicos como na portada da sede
Sul América de Salvador, representando um forte apego ao passado, dando um
tom nostálgico à edificação.
Por outro lado, percebe-se que os projetos de Roberto Capello para a empresa
Sul América poderiam estar compreendidos numa “modernidade”, mas “à
margem do modernismo engajado” (SEGAWA, 2014, p. 55), o que não exclui o
caráter simbólico da arquitetura como objeto de propaganda da empresa,
imprimindo aos edifícios robustez, confiabilidade, segurança e aceitação, por ser
uma arquitetura mais assimilável por grande parte da população. Entretanto,
ressalta-se que não foi objetivo dessa tese enquadrar os edifícios em uma
determinada categoria proposta por Segawa e sim entender o seu significado
como um conjunto produzido.
282
Ver capitulo 1, seção 1.2.
Além dessas considerações, procurou-se entender a – já amplamente discutida -
tensão entre os debates relativos à modernidade brasileira, recorrentes no início
do século 20, além de verificar o momento em que os cursos de arquitetura foram
criados nas capitais de alguns estados brasileiros de forma a revelar o período
em que foram realizados os ensinamentos nesses estados a partir da ação dos
docentes que se deslocaram de outros centros, visto que o meio acadêmico
constitui, indubitavelmente, espaço fundamental na formação dos principais
debates nos campos referentes, neste caso, o da modernidade arquitetônica.
Ressalta-se que não foi pretensão indicar a existência dessas discussões nos
estados.
metade do século 20; não descartando a relevância do papel destes dois estados
como formadores, por assim dizer, de um grupo de liderança.
Por outro lado, é certo também, que no período da construção das sedes das
empresas nas capitais dos principais estados brasileiros, cada contexto era
dotado de uma dinâmica própria no que diz respeito aos fatores que permearam
a construção do campo da arquitetura nesses locais, tais como: a migração
interna dos profissionais, a fundação das escolas de arquitetura, o
desenvolvimento econômico, social e outros, que são, sem dúvidas, agentes que
confluíram para moldar o campo de forma particular e diferenciado em cada
estado. Porém, relacionar os edifícios de Capello com a produção em cada
estado também não tem validade, já que sua atuação como arquiteto da empresa
e sua formação e trajetória profissional e pessoal foram os fatores, no
283 Aqui usamos o termo traduzido literalmente do inglês, e que em português o ‘ismo’ denotaria um determinado
‘estilo’. Cabe, entretanto, ressaltar que o sociólogo norte americano Michael Featherstone (1995, apud AMORA, 2006)
considera o termo ‘modernismo’ para designar a cultura da modernidade, e em consequência seus produtos culturais
como a arquitetura.
entendimento aprofundado da temática aqui abordada, que conduziram o seu
modo de projetar.
284
Pretende-se destacar esse conjunto de análises no produto final a ser entregue ao PROARQ como
um volume separado.
285
Considero pertinente não só estudar mais a fundo as referências da formação de Capello,
sobretudo em relação a uma sensibilidade na produção do edifício em relação ao contexto das
cidades. Nota-se que contemporâneos de Capello, arquitetos formados em Roma, como Rino Levi
(1901-1946), estudado por Renato Anelli e Abilio Guerra, e mesmo Lina Bo Bardi (1914-1992) em
Salvador, contribuíram para a produção de uma arquitetura nova na cidade antiga. Não sabemos,
entretanto, se esses conteúdos, destacados por Françoise Choay (2001), sobretudo da obra
publicada em 1913, Vecchie città ed edilizia nuova, de Gustavo Giovannoni (1873-1947), professor
na Universidade de Roma, chegaram de alguma forma a Capello. Isto, sem dúvida, é algo para se
pensar no futuro.
projetos de Capello,286 alguns aparentemente mais recentes, a gramática já não
é mesma adotada para as sedes da empresa, o que demonstra, se tivéssemos a
datação precisa das obras, a importância do papel do cliente no objeto
arquitetônico final. Em acréscimo, por esses e outros motivos, não há relevância,
para esta pesquisa, em vincular o trabalho de Capello aos trabalhos de outros
arquitetos, esta comparação não resultaria em nenhuma novidade, porque como
dito, os aspectos projetuais de um dado profissional são resultado das interações
culturais – que produzem objetos híbridos - os quais podem ser adotados ou
negados por um mesmo profissional, como pode ser o caso de Capello.
Por exemplo, em relação aos estudos das sedes, alguns aspectos das soluções
projetuais dos edifícios só foram entendidos após o estudo das legislações
urbanísticas das cidades. Além disso, a autora completa que é impossível
286
Ver capítulo 2, páginas 167-177 desta tese.
compreender o “objeto em si”, pois o mesmo está envolto sempre em uma “aura”,
com suas camadas de significados construídas ao longo de sua existência. Por
isso a importância dos elementos textuais, que podem desvelar estes
significados.
287 Cabe mencionar o termo inércia de hábito (apud Amora, 2006), cunhado por Anthony Giddens em que se
considera a não ocorrência de uma ruptura definitiva entre a tradição e a modernidade que implicaria ora em
aproximações, ora em distanciamentos entre estes dois termos (tradição e modernidade), isto está expresso no largo
período (1930/1950) em que se utilizou tal gramática para representar a empresa. Depois disso, como relatado no
capitulo 1 e seção 1.1 (p.63-65), a empresa se renova e adere ao contemporâneo ao se adaptar a novas formas de
representação por meio da arquitetura das suas edificações, primeiro nos anos de 1970 e depois mais recentemente.
Talvez não só rompendo com a inércia de habito, mas buscando novas pautas para esta representação dos valores
empresariais.
Antes de respondê-las, vale expor uma passagem de Josep Maria Montaner
(2007):
Logo, é certo que a densidade conceitual dessas obras poderá ser revelada sob
outros aspectos e em maior profundidade por outros pesquisadores. O
reconhecimento das obras, trabalhado nesta tese, pode ser considerado o
pontapé inicial para que novas abordagens sejam empreendidas, desse modo é
possível afirmar que o material produzido servirá, em um futuro, para o campo da
teoria, história e crítica da arquitetura em algum aspecto, e quem sabe, até para
auxiliar na interpretação da produção da arquitetura brasileira.
Por outro lado, segundo Montaner, a crítica, em uma primeira definição, implica
num julgamento que consiste em uma valoração individual da obra de arquitetura,
baseada em vários conhecimentos do pesquisador (metodologia utilizada,
capacidade analítica e sintética, sensibilidade, intuição, gosto, etc). Mas a missão
do juízo por parte do crítico, no caso da arquitetura, “é estabelecido na medida
em que a obra alcança suas finalidades: funcionalidade distributiva e social,
beleza e expressão de símbolos e significados, uso adequado de materiais e das
técnicas, relação com o contexto urbano, o lugar e o meio ambiente.”
(MONTANER, 2007, p. 15). Diante dessas considerações e dos aspectos
tratados durante a análise das obras, o legado de Capello, no que tange às sedes
da empresa, é representativo e tem o seu lugar na produção arquitetônica
brasileira e na conformação das cidades em um determinado período.
472
REFERÊNCIAS
473
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488
FONTES
Pesquisas de Campo
489
Acervo da empresa Sul América.
ABREVIATURAS
AIA - American Institute of Architects
AU – Arquitetura e Urbanismo
494
495
IMAGENS
Figura 1– Corpo do Edifício SULACAP de Recife/segundo projeto de Capello para
a seguradora. Foto: Karine de Arimateia, Dez. 2017. ........................................ 40
Figura 2– Desenho em perspectiva da ampliação da primeira sede construída
pela empresa Sul América, no Rio de Janeiro – Fonte Revista Sul América/nº 58,
Ano XV, contracapa/Abr. 1934. .......................................................................... 42
Figura 3 – Sede da Sul América em Buenos Aires. ........................................... 44
Figura 4 – Capa da Revista Sul América/nº 08, Ano 2, 1921. ........................... 45
Figura 5 – Primeira sede (1897 a 1902) antiga Rua do Hospício, nº 31. ........... 46
Figura 6 – Sede da Rua do Ouvidor nº 66 (1902 a 1921). ................................. 46
Figura 7 - Sede de 1925 ..................................................................................... 47
Figura 8 – Sede da Rua do Ouvidor, ampliada. ................................................. 48
Figura 9: Pranchas do projeto arquitetônico da sede da SULACAP em Niterói/RJ,
com o carimbo de Robert Prentice ..................................................................... 51
Figura 10 – Sede de São Paulo publicada na Revista Sul América. ................. 53
Figura 11 – Antiga da sede SALIC de São Paulo, foto atual / cúpula em aço
removida. ............................................................................................................ 54
496 Figura 12 – Construção da sede de São Paulo / cúpula em aço. ...................... 54
Figura 13 – Projeto da sede da Sul América de Recife. .................................... 55
Figura 14 – Projeto da sede de Curitiba. ............................................................ 56
Figura 15 – Sede de Lima/Peru – atual Edifício Sudamerica. ........................... 56
Figura 16 – Edifício Sul América de Florianópolis.............................................. 58
Figura 17 – Projeto do Edifício Sulacap/Recife. ................................................. 58
Figura 18 – Edifício sede de Belo Horizonte. ..................................................... 59
Figuras 19 e 20 – Edifício sede da SATMA, Rio de Janeiro/ainda existente. .... 60
Figura 21 – Edifício Sul América de Fortaleza. .................................................. 61
Figura 22 – Edifício Raul Telles Rudge - sede São Paulo - 1979. ..................... 64
Figura 23 – TEOEMP – Largo da Batata / Aflalo/Gasperini arquitetos .............. 65
Figura 24 – Capa do livro Brazil Builds – Fonte: Acervo Andrey Schlee/publicado
por Danilo Matoso - Disponível em. https://mdc.arq.br/2015/02/25/antonio-garcia-
moya-um-arquiteto-da-semana-de-22-parte-2/200-2/ - acesso em nov. 2020 .. 70
Figura 25 – Residência Manglio Agrifolio/arquiteto João Antônio Monteiro
Neto/construída em 1931/Porto Alegre/RS. ....................................................... 96
Figura 26 – Edifício SULACAP de Porto Alegre / Fonte: acervo pessoal da autora.
...........................................................................................................................112
Figuras 27 e 28 - Home Insurance Building (1883-5)/Chicago/Willian Le Baron
Jenney. À esquerda, planta do oitavo andar.....................................................121
Figura 29 – Roberto Capello / Fonte: Acervo pessoal de Roberto Capello.
...........................................................................................................................126
Figuras 30 e 31 – Aquarelas produzidas por Roberto Capello. ........................133
Figura 32 – Documento de identificação do aluno enviado pelo Archivio Storico
del Politecnico di Torino.................................................................................134
Figura 33 – hotel em Montagna ........................................................................136
Figura 34 – hotel em Montagna/ pavimento térreo ...........................................136
Figura 35 – Perspectiva de uma edificação vertical em Torino. .......................138
Figura 36 – Perspectiva de uma residência em Torino. ...................................138
Figura 37 – Palazzo Civita/Milão– Gigiotti Zanini / 1932-34 .............................143
Figura 38 – Edifício de apartamentos Novocomun - Giuseppe Terragni / 1929
...........................................................................................................................144
Figura 39 – Perspectiva do projeto da sede Sul América de Curitiba ..............153 497
SULACAP. .........................................................................................................390
Figura 224: Demolição do Hotel Sul Americano para a construção do SULACAP.
...........................................................................................................................390
Figura 225: Edifício SULACAP em construção. ................................................391
Figura 226 – Perspectiva do projeto da sede da SULACAP de Salvador. .......394
Figura 227 –Fotografia da década de 1950 Edifício Sulacap/Salvador. ...........394
Figura 228 – Edifício Sulacap Salvador/2018. ..................................................394
Figura 229 – Aspecto do entorno do edifício SULACAP na década de 1950. Os
sobrados à direita na imagem foram demolidos posteriormente e o terreno foi
utilizado para estacionamento...........................................................................396
Figura 230 – Aspecto do entorno do edifício SULACAP. Um dos sobrados
remanescentes da demolição do conjunto, provavelmente década de 1970. ..397
Figura 231: Rua Chile - Edifício Sul América/Salvador – em destaque............398
Figura 232: Entorno da Rua Chile e Praça Castro na atualidade/Edifício Sul
América (esquerda) e SULACAP (direita) /Salvador – em destaque. ..............398
Figura 233 – Planta de Salvador, 1549 – com destaque para a Rua Chile. .....400
Figura 234 – Recepção dos chilenos na Praça Municipal – ao fundo a Rua Direita
do Palácio. ........................................................................................................ 401
Figura 235 – Planta de Salvador-1894/destaque para a Rua Chile................. 403
Figura 236 – Edificação da Secretaria (atual Palácio dos Esportes), à esquerda;
e sede do jornal A Tarde (à direita). Acesso à Rua Chile. Década de 1940.... 404
Figura 237 – Praça Castro Alves já com a construção do SULACAP. .......... 405
Figura 238 – Praça Castro Alves década de 1990........................................... 406
Figura 239 – Rua Chile, com destaque para o Sul América. ........................... 407
Figura 240 – Rua Chile, com destaque para o Sul América em 2020. ............ 407
Figura 241 – Sul América/Salvador .................................................................. 409
Figura 242 – Coroamento do edifício Sul América/Salvador ........................... 410
Figura 243 – Fachada da Rua Chile Sul América/Salvador ............................. 410
Figura 244 – Fachada da Rua da Ajuda/Sul América ...................................... 411
Figuras 245 e 246– Portada do edifício Sul América ....................................... 411
Figura 247 – Edifício SULACAP/Salvador........................................................ 412
Figuras 248 – Um dos acessos ao edifício SULACAP/Salvador. .................... 412
506 Figuras 249 – Vista da base e oroamento do edifício SULACAP/Salvador. .... 413
Figuras 250 – Coroamento do edifício SULACAP/Salvador. ........................... 414
Figuras 251 – Claraboia do SULACAP/Salvador. ............................................ 415
Figuras 252 – Vão central do SULACAP/Salvador. ......................................... 415
Figura 253: Edifício Sul América Fortaleza/2016. ............................................ 425
Figura 254: Praça do Ferreira na década de 1950. Edifício Sul América e a Coluna
da Hora. ............................................................................................................ 427
Figura 255: Edifício Sul América e o Abrigo Central ........................................ 428
Figura 256: Edifício Sul América e Casa Albano. À direita, marquise do Abrigo
Central – após 1953. ........................................................................................ 429
Figura 257: Edifício Sul América na década de 1960. Nota-se o edifício vertical
vizinho (Hotel Savanah) em construção, após a demolição da Casa Albano.. 430
Figura 258: Edifício Sul América em 1950. ...................................................... 431
Figura 259: Edifício Sul América em 2016. ...................................................... 431
Figura 260: Praça do Ferreira na década de 1940, com o Hotel Excelsior ao fundo.
.......................................................................................................................... 434
Figura 261: Praça do Ferreira na década de 1950, com o Hotel Excelsior e edifício
Cine Luis............................................................................................................435
Figura 262: Praça do Ferreira na década de 1960, Edifício Sul América em
destaque. ...........................................................................................................436
Figura 263: Palácio Progresso, de José Liberal de Castro...............................439
Figura 264: Entorno da Praça do Ferreira década de 1960 (antes de 1968). ..440
Figura 265: Entorno da Praça do Ferreira no século 21/ Edifício Sul América à
direita. ................................................................................................................440
Figura 266: Hotel Excelsior, em 1933 (à direita) ...............................................441
Figura 267: Edifício Sul América/Fortaleza. Vista da Praça do Ferreira...........442
Figura 268: Edifício Sul América/Fortaleza Vista da Rua Floriano Peixoto. .....442
Figura 269: Coroamento do Edifício Sul América .............................................443
Figura 270: Coroamento e parte do corpo do Edifício Sul América..................444
Figura 271: Vista do hall principal. ....................................................................445
Figura 272: Comunicado da Prefeitura Municipal de Fortaleza sobre a ausência
de dados relativos à sede Sul América. ............................................................454
Figura 273: Capa da Revista Sul América – Fonte: Acervo Sul América. ........456 507