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AMÉRICA LATINA EM DIÁLOGO: METODOLOGIA, QUESTÕES,

DESAFIOS E RESULTADOS DE PESQUISAS RECENTES

LATIN AMERICA IN DIALOGUE: METHODOLOGY, ISSUES,


CHALLENGES AND RESULTS OF RECENT RESEARCH

AMÉRICA LATINA EN EL DIÁLOGO: METODOLOGÍA, PROBLEMAS,


DESAFÍOS Y RESULTADOS DE LA INVESTIGACIÓN RECIENTE

EIXO TEMÁTICO: HISTÓRIA, HISTORIOGRAFIA E CRÍTICA

Coordenador
MARTINS, Carlos Alberto Ferreira
professor titular; IAU USP São Carlos
cmartins@sc.usp.br
Aproximações historiográficas sobre a arquitetura paraguaia
LOPES, Eduardo Verri
doutorando; FAU USP
eduardo.verri@usp.br

A estranha arquitetura da América Latina:


três casas de Solano Benítez, Angelo Bucci e Smiljan Radić
CAMERIN, Suelen
doutoranda; FAU UFGRS
sucamerin@gmail.com

Em busca da América Latina e suas arquiteturas:


as exposições do MoMA | 1955 e 2015
SANTOS, Fabiana Fernandes Paiva dos
mestre; FAU USP
fabifpaiva@yahoo.com.br

Darcy Ribeiro, América Latina e um projeto escolar do desenvolvimentismo


VALE, Michel Hoog Chaui do
doutorando; FAU USP
michelchaui@gmail.com

A Bauhaus latino-americana: Revisão historiográfica recente


QUINTANA, Ingrid
professora doutora; Universidad de Los Andes Bogotá
iquintanag@gmail.com

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


Desde a década de 1990 se assiste a um importante processo de revisão historiográfica da
arquitetura e do urbanismo da região e no início do século XXI se verifica, internacionalmente,
um crescente interesse sobre a produção do período heroico do movimento moderno na região,
bem como por sua produção mais recente. No entanto, as reflexões sobre essa produção
parecem ser ainda insuficientes: tanto aquelas que deram por certo uma “unidade” de
experiências, definindo a própria América Latina como uma categoria quase natural; quanto as
perspectivas estritamente comparativas (GORELIK, 2005).

A exposição Brazil Builds e o livro homônimo promovidos pela MoMA de Nova Iorque em 1943
foram um marco de divulgação da “arquitetura brasileira”. Estes eventos podem ser tomados
como um primeiro momento de interesse internacional pela arquitetura produzida na América
Latina, apesar de, tal entendimento, ter ficado por muito tempo relegado aos estudos que
enfatizavam um quadro nacional singular (LIERNUR, 2010). A partir do “fenômeno” da
arquitetura brasileira, as interpretações mais difundidas desde então ressaltariam o contraste e
a incongruência entre a expressividade e qualidade da arquitetura na região diante das
condições sociais e econômicas que a suportariam: precariedade das condições técnico-
construtivas, industrialização incipiente, desordenado crescimento urbano, etc. (MARTINS,
2010).

É importante pontuar que, principalmente a partir do segundo pós-guerra, uma agenda própria
da historiografia na região formulou propostas e discutiu os problemas advindos do processo de
modernização na América Latina, ora pensadas como atualização às discussões dos países
centrais, ora como possibilidade de um pensamento próprio. Essa agenda gerou novas e
importantes formulações e alavancou a compreensão de um campo de forças regional traduzida
em muitas e dissonantes vozes. Uma série de teóricos e pesquisadores em diversos campos do
conhecimento buscariam discutir as ciências sociais, a história e a cultura da América Latina a
partir de seus próprios termos e/ou condições históricas. Frente à dinâmica social e política da
região e de suas cidades, que punha em xeque a autoridade modernista e o positivismo
desenvolvimentista, um amplo processo de debate e de experimentação proporia uma inversão
dos atores e dos cenários pressupostos para o desenvolvimento social. Assim, é possível
considerar que a América Latina constitui um marco teórico, uma vez que forçaria a revisão de
fundamentos e parâmetros até então vigentes, gerando novas hipóteses e paradigmas, não
apenas no âmbito local, mas também internacionalmente. É exatamente esse processo que
teria, entre outros fatores, intensificado o intercâmbio e o mútuo interesse entre os países da
região colocando em movimento uma rede de profissionais e instituições que se organizaram a
partir de então. Estiveram envolvidos nesse projeto: sociólogos, antropólogos, historiadores,
planificadores e economistas, e ainda, uma infinidade de agentes de todos os campos do
conhecimento, como os próprios arquitetos, engenheiros, médicos, intelectuais, educadores,
músicos, artistas, críticos e historiadores (GORELIK, 2002, 2005).

A sessão proposta apresentará cinco comunicações sobre a produção recente de pesquisadores


interessados na produção arquitetônica e historiográfica da América Latina. Pretende-se colocar
em diálogo a metodologia, as questões, os desafios e os resultados, ainda que parciais, das
pesquisas a serem apresentadas uma vez que, quando colocadas em conjunto, podem alavancar
o adensamento de questões locais e a compreensão de um campo de forças regional. Se a crítica
e a historiografia operam de forma ativa na geração da cultura arquitetônica, uma vez que
recolocam e ressignificam o seu objeto de análise em sua própria trama, influenciando
diretamente o campo profissional (MARTINS, 2010) é importante discutir os parâmetros e

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


fundamentos construídos a partir dessa produção ao longo do século XX e que voltam ao centro
do debate, no âmbito internacional, no começo do século XXI.

Aproximações historiográficas sobre a arquitetura paraguaia, analisa as relações que se


estabelecem, no decorrer do século XX, entre a arquitetura moderna do Paraguai e o contexto
político e econômico, e ainda, diante das disputas geopolíticas com seus vizinhos, Brasil e
Argentina. Cria-se assim uma base para a compreensão da sua produção contemporânea, cujo
discurso se constrói a partir de sua posição periférica e do contexto socioeconômico local.

A estranha arquitetura da América Latina: três casas de Solano Benítez, Angelo Bucci e Smiljan
Radić procura debater os resultados preliminares de um esforço que busca expandir a chave
interpretativa, desenvolvida na dissertação de mestrado da autora para analisar a produção do
escritório paraguaio Gabinete de Arquitectura, para outros exemplares arquitetônicos de
arquitetos da América Latina da mesma geração. O trabalho pretende ainda discutir a
continuidade dessa prática arquitetônica mais recente em relação a projetos desenvolvidos
entre os anos 1930 a 1960, da qual seria tributária.

Em busca da América Latina e suas arquiteturas: as exposições do MoMA | 1955 e 2015


apresenta os resultados da dissertação de mestrado que procurou, a partir dos objetos da
pesquisa, discutir a ideia de América Latina como uma construção cultural e investigar os
diferentes mecanismos e contextos pelos quais essa unidade continental é criada através da
arquitetura produzida em cada um dos países incluídos nas mostras, na formulação de
identidades nacionais e regionais historicamente construídas.

Darcy Ribeiro, América Latina e um projeto escolar do desenvolvimentismo busca debater a


atuação política e circulação do intelectual brasileiro Darcy Ribeiro na América Latina e, ainda,
o seu projeto educacional e pedagógico a qual estava associada a construção de um programa
arquitetônico coerente. O trabalho procura reconhecer uma linha que conecta o ciclo ideológico
do desenvolvimentismo no Brasil procurando mostrar como as ideias e a atuação de intelectuais
atravessaram distintos períodos políticos reprocessando programas ideológicos e rearticulando-
os em uma perspectiva latino-americana.

A Bauhaus latino-americana: Revisão historiográfica recente analisa os eventos promovidos por


ocasião da comemoração do centenário da Bauhaus e procura compreender de que forma são
abordados os desdobramentos e conexões que se construíram a partir da escola com a América
Latina. Procura-se reconstruir as redes de circulação de ideias e atores a partir de uma revisão
das aproximações e contribuições que se desdobram a partir daí e nas quais a Bauhaus aparece
como categoria historiográfica para o estudo da arquitetura e o design regionais.

REFERÊNCIAS

GOODWIN, Philip L. Brazil Builds: Architecture New and Old 1652–1942. New York: Museum of Modern
Art, 1943.

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Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


LIERNUR, Jorge Francisco. The South American way. O milagre brasileiro, os Estados Unidos e a segunda
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MARTINS, Carlos Alberto Ferreira. Arquitetura e Estado no Brasil. Elementos para uma investigação sobre
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WAISSMANN, Marina. O interior da história: historiografia arquitetônica para uso dos latino‐
americanos. São Paulo: Perspectiva, 2013.

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


Aproximações historiográficas sobre a arquitetura paraguaia
O trabalho apresenta os resultados da pesquisa que se debruçou sobre a produção de um grupo
de arquitetos que, em paralelo ao ofício em escritório, que envolve o projeto e a execução de
obras, são professores no Taller E da Facultad de Arquitectura, Diseño y Arte da Universidad
Nacional de Asunción (FADA/UNA): Luis Elgue e Cecília Román; Javier Corvalán; Solano Benítez
e Gloria Cabral; Sergio Fanego e Miguel Duarte; José Cubilla; Sonia Carisimo (com Francisco
Tomboly); Sergio Ruggeri; e Violeta Pérez. A partir da análise de nove projetos residenciais e de
entrevistas colhidas com esses autores, a pesquisa buscou traçar as relações entre a obra
construída e o discurso do grupo, marcado pela convergência na maneira de entender e
interpretar o lugar onde as obras estão inseridas, seja em suas questões geográficas ou
econômicas. É a partir do entendimento da condição de escassez do país, de pouca
industrialização, que é estabelecido o método de projeto que aproxima a atuação e produção
desses arquitetos, baseado na investigação e experimentação, que se expande também para as
relações de ensino com os estudantes.

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Figura 1: Modelos das residências analisadas: 1. Casa Fanego (Sergio Fanego, Solano Benítez, Alberto Marinoni, 2003-2005);
2. Casa Abu y Font (Solano Benítez, 2004-2006); 3. Casa Osypyte (Javier Corvalán, 2005-2005); 4. Casa Mburicao (Luis Alberto
Elgue, Cynthia Solis Patri, 2007-2012); 5. Casa TC (Francisco Tomboly, Sonia Carisimo, 2009-2011); 6. Casa en el Aire (Miguel
Duarte, Larissa Rojas, Sergio Fanego, 2008-2010); 7. Casa Hamaca (Javier Corvalán, 2009-2010); 8. Casa Octavia (Violeta Pérez,
2005-2006); 9. Casa 6 Vigas (José Cubilla, Sergio Ruggeri, ?-2012). Fonte: LOPES, 2016.

A pesquisa buscou traçar também os antecedentes dessa produção, através do levantamento


bibliográfico e de entrevistas com arquitetos e historiadores, identificando algumas relações
entre a arquitetura moderna realizada no país e os momentos políticos e econômicos no

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


decorrer do século XX, relacionados com as disputas geopolíticas entre Brasil e Argentina na
região.

Até a meados do século passado, o Paraguai ainda sofria – e, em determinados momentos,


jogava – com os efeitos da Guerra da Tríplice Aliança, travada contra Brasil, Argentina e Uruguai
entre dezembro de 1864 e abril de 1870. Após o fim da guerra e até a década de 1930, foram
várias as tentativas de implantação de um governo liberal no país, alinhado com a política de
Buenos Aires. Os resultados da Guerra do Chaco (1932-1935) reforçaram a aproximação com o
governo argentino, que significou dez anos de governo liberal, até a Guerra Civil de 1947. A
influência rio-platense era sentida no campo político, econômico (Buenos Aires era o único
porto disponível para as trocas comerciais paraguaias) e cultural. No campo da arquitetura, os
primeiros arquitetos paraguaios formavam-se sobretudo em Montevideo, de onde foi
importado o currículo do primeiro curso de arquitetura do país, na UNA, em 1957.

A década de 1950 representou uma mudança nessa conjuntura, devido a dois acontecimentos
significativos. O primeiro foi a aproximação da política externa brasileira com os vizinhos latino-
americanos, ocorrida durante os dois governos de Getúlio Vargas. Já na década de 1940 foram
realizadas ações significativas com esse objetivo, como a fundação por um grupo de brasileiros
da Escola de Humanidades em Assunção, que em 1948 se tornou a Faculdade de Filosofia da
UNA.

No entanto, é a partir de 1952 que a embaixada brasileira no país abrigou a Missão Cultural
Brasileira, iniciativa fundamental para a mudança da imagem dos paraguaios com relação ao
Brasil e aos brasileiros. Além da presença de intelectuais, artistas e arquitetos brasileiros, dentre
os quais Lívio Abramo e Fernando Geraldo Saturnino de Brito, uma das principais ações da
Missão foi a construção e implantação do Colégio Experimental Paraguai-Brasil, de autoria de
Affonso Eduardo Reidy, que até hoje também abriga a Faculdade de Filosofia.

O outro fator foi a ascensão ao poder do general Alfredo Stroessner (1954-1989), ditador com
um discurso nacionalista, que evocava o passado glorioso do país anterior à guerra, mas que ao
mesmo tempo se aproveitava da disputa entre Brasil e Argentina, utilizando-se do apoio
estrangeiro. Assim, a aproximação com a ditadura brasileira permitiu a construção das conexões
rodoviárias entre os países e o escoamento da produção paraguaia através de Paranaguá,
eliminando a dependência ao porto de Buenos Aires. É desse período também a construção da
da Usina Hidrelétrica de Itaipu, iniciada em 1974, ano do fim das atividades da Missão Cultural,
e finalizada em 1982. A proximidade com Brasil não reduzia o contato com a Argentina: no
mesmo ano da conclusão de Itaipu, Stroessner construía com a Argentina a Usina de Yacyretá,
inaugurada somente em 2011. Essa costura política lançou as bases para a assinatura do Tratado
de Assunção, em 1991, que formalizou a criação do Mercosul.

O potencial hidrelétrico das usinas representou também a expansão econômica 1 e política para
o Paraguai, até então dominado pelos interesses da oligarquia rural, possibilitando o surgimento
de uma nova elite enriquecida nesse processo. O surgimento dessa nova classe aqueceu o
mercado da construção civil, estimulado também pelo desenvolvimento técnico das
construções das barragens. Paralelamente, após 35 anos de ditadura do general Stroessner,
aconteceram no país, na década de 1990, as primeiras eleições diretas desde a independência,
em 1811.

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Atualmente, 24,9% das exportações paraguaias se referem à eletricidade, correspondendo ao excedente energético
vendido ao Brasil e à Argentina.

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


A pesquisa apontou que foi essa conjuntura de abertura política e injeção de capital estrangeiro
no país que criou as bases sociais para uma efervescência cultural, segundo o arquiteto Sergio
Ruggeri, presente na música, literatura, cinema, artes plásticas e arquitetura, que permite o
reconhecimento desse grupo de arquitetos dentro e fora do país.

A continuidade das reflexões a respeito leva a questionar se seria possível falar em uma
“identidade nacional” paraguaia, discussão essa que impulsionou Movimento Moderno em
diversos países da América Latina há quase um século.

REFERÊNCIAS

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Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


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SOSA RABITO, Carlos Humberto. Entrevista. [fev. 2015]. Entrevistador: LOPES, Eduardo Verri. San Lorenzo,
2015. 1 arquivo .mpeg-4 (82 min.).

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


A estranha arquitetura da América Latina:
três casas de Solano Benítez, Angelo Bucci e Smiljan Radić
Este trabalho apresenta, preliminarmente, os estudos que se ocuparam em reconhecer e
analisar os primeiros vinte anos da trajetória profissional do arquiteto paraguaio Solano Benítez
(Assunção, Paraguai, 1963) no comando do escritório Gabinete de Arquitectura – que
atualmente compartilha com a arquiteta Gloria Cabral (São Paulo, Brasil, 1982). Entre as
questões levantadas nas considerações finais do trabalho de mestrado, interessa especialmente
à este estudo o tópico que diz respeito à desfamiliarização, ou estranhamento, como estratégia
projetual.

Estranho, segundo o dicionário Houaiss, é algo ou alguém esquisito, extraordinário, excêntrico,


que causa espanto ou admiração pela novidade, pelo desconhecido, que foge aos padrões de
uso, aos costumes estipulados pela sociedade, que desperta sensação incômoda de estranheza,
que é misterioso, enigmático ou que levanta suspeitas. Ainda, conforme definiu Vidler (1994),
algo “estranho ou misterioso; difícil ou impossível de explicar”. O estranhamento foi tema de
estudo do psiquiatra alemão Ernst Jentsch, em seu artigo de 1906, On the psychology of the
uncanny, que apropriava-se da palavra alemã unheimlich para descrever o incômodo e a
desorientação de alguém a quem algo estranho acontece. Sigmund Freud, ao apropriar-se da
mesma palavra, aprofundou o estudo do “estranho” em seu artigo de 1919, Das Unheimliche
(The uncanny ou O inquietante). Ao comparar a palavra unheimlich com sua raíz heimlich
(doméstico, autóctone, familiar), Freud concluiu que é natural achar algo assustador justamente
por não ser conhecido e familiar, mas complementou afirmando que nem todas as coisas novas
são assim, é preciso que algo seja acrescentado ao novo e não familiar a fim de torná-lo
inquietante. Nem só na psicologia está o estranho. Alguns anos antes de Freud, o escritor e
crítico literário Viktor Shklovsky, principal expoente do Formalismo Russo, usou o termo
Ostranenie (Остранение, desfamiliarização) em seu artigo de 1917, Art as Technique (Arte
como procedimento), no qual defendia que a função da arte era fazer objetos não-familiares,
tornar as formas difíceis, aumentar a dificuldade e a duração da percepção dos objetos.

Apesar de frequentemente associado a sentimentos como medo, susto e incômodo, o estranho


não necessariamente tem um significado negativo. O estranho na arquitetura pode estar em
uma quebra de expectativa, uma mudança brusca de tamanho, um vazio ou uma presença
inesperados. Pode se manifestar por meio do voyeurismo, da ilusão de ótica ou de um efeito
surpreendente. Pode estar também no uso não-familiar e despojado de materiais tradicionais,
ou na retomada de um programa aparentemente esquecido ou fora da pauta de prioridades da
prática arquitetônica corrente. Ainda, pode estar nas referências descontextualizadas, familiares
em outros meios mas não habituais na arquitetura, ou pertencentes a um passado radical, não
imediato, a um “grau zero da existência e da arquitetura” – cuja busca, aliás, “constituía
compromisso confesso da vanguarda moderna”, que preocupava-se em representar um “mundo
novo e ao mesmo tempo arcaico” (COMAS, 1993).

Na produção de Benítez e Cabral, objeto de análise da referida dissertação, o estranhamento é


mais evidente no manejo não-usual de um material tradicional, o tijolo. Nas mãos dos arquitetos
paraguaios, esse material secular, universal, constantemente associado ao que é familiar, à
segurança, proteção e aconchego, cuja fabricação e manejo são amplamente conhecidos pela
humanidade desde a Antiguidade, é partido ao meio, despedaçado, rotacionado, de modo a dar
forma a elementos nos quais ele não costuma aparecer - cascas, superfícies vazadas, planos
plissados, e até esquadrias, vigas e pilares. Apesar das conotações de familiaridade associadas

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


ao uso desse material na arquitetura, a depender de como ele é manipulado e em quais
circunstâncias é empregado, o tijolo é capaz de surpreender e causar estranhamento.

O trabalhos de investigação que deram seguimento à dita dissertação, por sua vez, tem como
objetivo expandir a análise acerca da desfamilizarização na obra de Benítez e Cabral com fins de
abranger a produção de outros arquitetos latino-americanos de sua geração, partindo da
hipótese de que o estranhamento continua sendo uma estratégia de projeto na prática
arquitetônica da América Latina pós década de 1990. Para tal, toma-se como base de estudo a
produção de três arquitetos latino-americanos, graduados no final da década de 1980, e de
reconhecida relevância no cenário arquitetônico internacional contemporâneo: Angelo Bucci
(São Paulo, Brasil, 1963), Smiljan Radić (Santiago do Chile, Chile, 1965), além do já mencionado
Solano Benítez. Para compor o escopo de análise deste trabalho, que se propõe ser apenas um
recorte de uma pesquisa mais ampla, elenca-se uma residência de cada arquiteto, a saber: Casa
Abu & Font (2004-06), em Assunção, Paraguai, de Solano Benítez, Alberto Marinoni e Glória
Cabral (Figura 1); Casa de Fim de Semana (2010-14), em São Paulo, Brasil, de Angelo Bucci (Figura
2); e Casa para o poema do ângulo reto (2010-12), em Vilches, Chile, de Smiljan Radić (Figura 3).
Não são exemplares de início de carreira, tampouco edifícios que representem um salto escalar
ou programático na trajetória profissional desses arquitetos, mas sim obras que sintetizam as
recorrências projetuais de cada um e das quais é possível extrair material capaz de alimentar
satisfatoriamente as análises que se propõe fazer aqui. Do vasto leque de possíveis resultados
que a investigação abre, o presente trabalho dará prioridade aos que alimentem a reflexão
acerca da persistência da tradição disciplinar moderna na arquitetura da América Latina a partir
da década de 1990. Ademais de discutir uma possível e provável continuidade entre a os projetos
e edifícios modernos dos anos 1930 a 1960 e a prática arquitetônica atual, este trabalho dará
ênfase à hipótese de que essa geração de arquitetos, além de filiar-se às posturas e linhagens
das primeiras gerações de arquitetos modernos, como afirmaram Cavalcanti e Corrêa do Lago
(2005), ainda expandem o repertório de elementos e procedimentos compositivos de seus
antecessores.

Figura 1: Casa Abu & Font (2004-06), Solano Benítez, Alberto Marinoni e Gloria Cabral, Assunção, Paraguai.
Fotografia: Enrico Cano.

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


Figura 2: Casa de Fim de Semana (2010-14), Angelo Bucci, São Paulo, Brasil.
Fotografia: Nelson Kon.

Figura 3: Casa para o poema do ângulo reto (2010-12), Smiljan Radić, Vilches, Chile.
Fotografia: Cristobal Palma.

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


REFERÊNCIAS
ARQ+2: Smiljan Radić Bestiario. Santiago do Chile: Ediciones ARQ, 2014.

BUCCI, Angelo. São Paulo. Razões de arquitetura. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2009.

CAMERIN, Suelen. O tijolo em Solano Benítez. (Mestrado em Arquitetura) - Universidade Federal do Rio
Grande do Sul - Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura. Porto Alegre, 2016.

______. Além do tijolo em Solano Benítez. In: V Docomomo Sul O moderno no contemporâneo: herança
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Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


Em busca da América Latina e suas arquiteturas:
as exposições do MoMA | 1955 e 2015
O trabalho pretende discutir a ideia de América Latina como uma construção cultural constituída
no âmago de um amplo debate geopolítico, histórico, econômico, da teoria social e da
problematização do desenvolvimento. Tomada como circunstância importante para a discussão
da história da arquitetura, da cidade e do urbanismo, teve como objetivo analisar tal noção e
investigar os diferentes mecanismos e contextos pelos quais essa unidade continental é criada
através da arquitetura.

A pesquisa foi realizada a partir da análise das duas exposições promovidas pelo Museu de Arte
Moderna de Nova York [MoMA] sobre a produção arquitetônica no subcontinente promovidas
em dois momentos precisos. Latin American Architecture since 1945 e Latin America in
Construction: Architecture 1955-1980, objetos do trabalho, foram promovidas em 1955 e 2015,
respectivamente, e marcam dois momentos de grande interesse internacional pela arquitetura
e pelo urbanismo produzidos na América Latina. A questão central do trabalho foi: por que
nesses dois momentos a categoria América Latina foi mobilizada dentro e fora do âmbito da
arquitetura e qual o papel que tal noção assume no contexto político-econômico em cada uma
dessas ocasiões que marcam ainda dois períodos nos quais o termo ganha proeminência no
cenário político. De fato, com um intervalo de sessenta anos entre um e outro, a noção de
“América Latina” que sustenta as escolhas expositivas de ambas as mostras é fundamental,
apesar de evidentemente não ser unívoca. Tais objetos foram produzidos em contextos
históricos e institucionais muito distintos, e estiveram ainda submetidos a condições bastante
assimétricas e particulares, inclusive almejando objetivos diversos. Assim, a pesquisa não
pretendeu esgotar as possíveis leituras e debates que essas mostras podem suscitar, uma vez
que elas podem subsidiar ainda muitos outros estudos e pesquisas. Procurou-se questionar os
significados e as possibilidades que um olhar compreensivo para a América Latina, estudada em
perspectiva histórica, poderia trazer como subsídios para a sociedade (diante da crise capitalista
mundial e, se pensarmos, sobretudo, na atual situação política da própria América Latina) e, em
especial, para a disciplina de arquitetura e urbanismo na elaboração de uma agenda própria da
historiografia da região (WAISSMANN, 2013).

Pretendeu-se pensar o papel da arquitetura produzida em cada um dos países, na formulação


de identidades nacionais e regionais historicamente construídas – inclusive a brasileira – dentro
desse contexto maior e não apenas na sua especificidade nacional. Os objetos de estudo
permitiram discutir a noção de América Latina construída pela seleção de obras de arquitetura
e, ainda, pelas discussões, hipóteses levantadas e temas abordados em cada exposição, tendo-
se os Estados Unidos como contraponto fundamental dessa elaboração. Como um
caleidoscópio, a ideia de uma “arquitetura latino-americana” passaria a encarnar muitas formas,
sendo multiplicada e construída como legítima, estratégica e funcional para distintos projetos.
Apesar das semelhanças e superfícies de contato, a construção de um quadro geral e a escolha
das obras sob a etiqueta “América Latina” são delineadas a partir de justificativas, influências e,
sobretudo, argumentos diversos.

Os dois eventos e as suas publicações foram analisados como objetos próprios do campo
disciplinar da arquitetura. Assim, o caminho de leitura que a pesquisa propôs partiu das chaves
de interpretação oferecidas por Roger Chartier (2002) e Pierre Bourdieu (1989). Em outras
palavras, como produção material em si e como instrumentos (exposições e publicações) de
construção e difusão de narrativas historiográficas e, ainda, de consagração de obras e

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


personagens expoentes. A partir dessas exposições, investigou-se os contextos, proposições e
tensões presentes na construção de uma “identidade arquitetônica latino-americana” e
procurou-se compreender o que cada uma delas elege como a arquitetura representativa da
unidade do subcontinente.

Portanto, é dentro desse universo de questões que o termo e seus possíveis significados foram
explorados buscando explicitar dois pontos: primeiro, a disputa (em várias camadas e ao longo
do tempo) em torno do conceito “América Latina” e segundo, como o próprio termo é forjado
a partir de processos simultâneos e entrelaçados de caráter endógeno e exógeno que, de
maneira dialética, vão se constituindo de dentro para fora e de fora para dentro. E ainda, como
essa construção vai sendo produzida por numerosos atores sociais e diversas práticas culturais.
Procurou-se discutir os limites e insuficiências da análise da materialidade da produção cultural
arquitetônica apenas como objeto ou, ainda, da ideia de “América Latina” apenas como
identidade, suprimindo-se as inter-relações que se estabelecem com outros campos
disciplinares ou mesmo com as estruturas sociais em que se inserem. Nesse sentido, se é a ideia
de América Latina, foco de atenção do trabalho, que costura e conforma os dois objetos da
pesquisa, procurou-se mostrar que essa produção arquitetônica só pode ser compreendida em
sua totalidade quando relacionada à sua dimensão urbana que assume duas formas. A primeira
se refere ao projeto (ou intenção) de construção de uma nova sociabilidade urbana encarnada
pelo ideal da “cidade moderna” ou pela planificação modernizadora. A segunda é aquela que
diz respeito às estruturas materiais a que essa produção está condicionada sendo que, ao
mesmo tempo, no seu enfrentamento com tais estruturas (seja em oposição, seja partindo
dessa condição) é que foram produzidos novos paradigmas no campo disciplinar, não apenas
local, mas internacionalmente.

REFERÊNCIAS

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Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


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Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


Darcy Ribeiro, América Latina e um projeto escolar do
desenvolvimentismo
O projeto de escolas no Brasil no século XX é indissociável de processos que ocorrem
simultaneamente e estão diretamente relacionados: a modernização do país, nos âmbitos de
sua economia e sociedade, percebida no conjunto de transformações que conjugam
urbanização e industrialização; e a estruturação do Estado, entendida como a organização de
estruturas administrativas modernas, principalmente nos 1930-60. O debate escolar no país
tomou corpo de maneira singular com a constituição do movimento escolanovista, marcado
historicamente pelo manifesto dos pioneiros da Educação Nova em 1932, liderado pelo
professor Fernando Azevedo (1894-1974) junto a outros 25 intelectuais, que preconizavam um
novo modelo escolar, integral, público e universal. A esse debate se associaram arquitetos, na
construção de um programa arquitetural coerente com os anseios dos projetos pedagógicos
enunciados e na medida em que se integravam na organização pública, junto a engenheiros e
administradores, na elaboração desses mesmos projetos, pelo viés material e representativo
que tal arquitetura deveria assumir para aquela sociedade em desenvolvimento.

É importante sublinhar que questões sociais e econômicas imbricam-se com o projeto de


escolas, pela sua capacidade de articular questões produtivas – pelo volumoso déficit de
construções escolares –; urbanas – pela questões que envolvem a inserção no tecido urbano e
social –; e de desenvolvimento – pela promessa de contribuição da educação para a formação
humana, no desenvolvimento de suas habilidades e capacidades e sua relação com um projeto
nacional. No período mencionado, é destaque a atuação do educador Anísio Teixeira (1900-
1971), que encampa a bandeira da escola integral e pública, através do projeto da escola-
parque. Esse modelo, aplicado na Bahia nos anos 1940, foi inspiração para diversas experiências
posteriores, e revela um diálogo profícuo entre educadores e arquitetos-urbanistas, na
concepção do edifício e na sua inserção no espaço urbano. É válido afirmar que o projeto
daquela rede escolar estava profundamente ligado ao modelo de urbanização preconizado pelo
Escritório de Planejamento Urbano da Cidade do Salvador (EPUCS), de inspiração modernista –
e que ambos foram desenvolvidos concomitantemente, entre arquitetos e educadores,
reforçando-se mutuamente em seus princípios. Esse plano educacional serviu ainda de modelo
nos anos 1950-60 para o projeto escolar de Brasília. A nova capital viria a ser, portanto, esse
ponto articulador de ideias de desenvolvimento nacional que se integravam ao sistema cultural
– simbólico e material – do qual a arquitetura era, talvez, a mais iminente amostra e no qual as
escolas, inseridas no projeto urbano de Lucio Costa (1902-1998), tinham sua importância.

A nova capital em construção seria assim o lugar de encontro de ideias, de confluência de


projetos e de interdisciplinaridade no qual as figuras de Oscar Niemeyer (1907-2012), Anísio
Teixeira e Darcy Ribeiro (1922-1997) seriam alguns dos protagonistas. Brasília trazia a
possibilidade da experimentação e da aplicação de propostas modernizadoras para uma
perspectiva nacional. Diz textualmente Anísio Teixeira:

“Baseado no modelo deste Centro, de Salvador, Bahia, foi organizado o


sistema escolar de Brasília, cujo plano traçamos com o propósito de abrir
oportunidades para a Capital do país oferecer à nação um conjunto de escolas
que constituísse exemplo e demonstração para o sistema educacional
brasileiro” (TEIXEIRA, 1962, p. 5).

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


Darcy Ribeiro era antropólogo de formação, mas havia se interessado pela questão da educação
desde o momento em que se aproximou de Anísio Teixeira, sendo influenciado pelos ideais
escolanovistas. Para além da sua trajetória no estudo de povos indígenas no Brasil, engajara-se
politicamente, desde sua formação universitária marcada pela atuação no partido comunista
até sua nomeação como Ministro da Educação do governo de João Goulart (1902-1998). Darcy
fora um entusiasta da nova capital, da sua potência para o ciclo desenvolvimentista do Brasil e
pela capacidade de expressão em seu projeto dos modelos de educação e desenvolvimento
naquela que seria a sua maior contribuição para a nova capital – a Universidade de Brasília, sua
UnB.

Ribeiro personificou em sua trajetória o intelectual que pensa o país e seu povo, sua história
mas se lança como agente de atuação política, consubstanciando pensamento e ação. Seu
engajamento na questão educacional, do desenvolvimento nacional endógeno, fortemente
influenciado pelo ciclo ideológico do desenvolvimentismo expande suas análises e projetos para
além do próprio país, ensejando a América Latina. O golpe civil-militar de 1964 leva-o ao exílio,
quando circula por diversos países latino-americanos (Uruguai, Chile, Peru, Venezuela e
México), atuando como professor, mas, principalmente, como consultor para projetos de
reformas universitárias nesses países. É no exílio que ele escreve e organiza parte de sua obra O
Povo Brasileiro e ainda escreve sobre a própria América Latina, analisando seus sentidos,
elaborando análises de suas tipologias políticas e, sobretudo, das possibilidades de
transformação da “pátria grande”, pelas especificidades de sua conformação e de
desenvolvimento frente ao atraso da condição de colônias expropriadas de suas riquezas e do
trabalho de seus povos.

Esse trabalho busca lançar luz sobre o período do exílio de Darcy Ribeiro, sua atuação política e
sua circulação na América Latina, procurando relações entre seu trabalho intelectual no período,
principalmente nos projetos educacionais citados desenvolvidos naqueles países (e ainda em
países africanos, como no projeto da Universidade de Argel) e a retomada do projeto
educacional integral que viria a desenvolver no período da redemocratização. Destaca-se,
naquele momento, o investimento de esforços políticos para a viabilização de um programa
educacional público calcado em um projeto de relevância nacional: o caso dos Centros
Integrados de Educação Pública (CIEPs), no Rio de Janeiro, nas gestões de Leonel Brizola (1922-
2004) à frente do Governo do Estado. Esse projeto, desenvolvido por Darcy Ribeiro e Oscar
Niemeyer, parece ser coerente com algumas das questões caras à Ribeiro e elaboradas por ele
naquele período do exílio. Também é pertinente ao possibilitar estabelecer relações entre o
campo disciplinar da arquitetura e do urbanismo e as ideias desenvolvimentistas que
consideravam a possibilidade de uma transformação integral da sociedade brasileira por meio
da educação e da construção de autonomia tecnológica.

REFERÊNCIAS

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Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


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____. Confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

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____. Educação como prioridade. São Paulo: Global, 2018.

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


A BAUHAUS LATINO-AMERICANA: REVISÃO HISTORIOGRÁFICA RECENTE
Em 2019, as comemorações do centenário da Bauhaus promoveram uma intensa agenda
cultural na Alemanha, incluindo a inauguração de exposições e prédios dedicados à exibição de
peças produzidas nas diversas fases da mítica escola alemã fundada por Walter Gropius. Quiçá
o exemplo mais relevante foi a abertura do Museu da Bauhaus em Weimar com a mostra “Das
Bauhaus Kommt Aus Weimar” (A Bauhaus vem de Weimar), cuja curadoria cai nos vícios da
historiografia canônica: exaltação da figura de Gropius, mínimo destaque à contribuição de
Hannes Meyer ao ensino da arquitetura e, ainda, pouca reflexão sobre os desdobramentos na
arquitetura e no design modernos em outros lugares do mundo.

Em contrapartida, outros espaços trouxeram pesquisas recentes e debates renovados.


Ultrapassando as fronteiras da Europa, construiram-se redes de colaboração para dar
visibilidade à atores da Bauhaus pouco explorados pelos estudos tradicionais, principalmente as
mulheres. Nesse sentido, destacam-se dois projetos. O primeiro, Bauhaus Imaginista
(impulsado pelo governo federal alemão), divulgado através de um portal na Internet, reuniu
artigos de experts dos cinco continentes. Organizado por quatro eixos temáticos: “Moving
Away”, “Corresponding with”, “Learning From” e “Still Undead”, resultou em um conjunto de
exposições em diferentes países. O segundo projeto, Die Ganze Welt ein Bauhaus (O mundo é
uma Bauhaus) foi uma exposição itinerante estruturada por temas como “Suspensão no
espaço”, “Experimentação”, “Obra de Arte Total”, entre outros. Essa mostra contou com a
participação de curadores locais em cada uma das cidades que a receberam – Cidade do México,
Buenos Aires, Casablanca, Santiago, Moscow, Chicago – e o resultado final foi reunido em uma
grande exposição na cidade alemã de Karlsruhe (outubro 2019 - fevereiro 2020).

Apesar do carater abrangente desses projetos, seu conteúdo careceu de dois elementos: um
argumento transversal claro que desse sentido às contribuições e aos materiais ali reunidos e
um panorama mais detalhado das conexões latino-americanas que se construíram a partir da
escola. Os temas centrados na relação entre a Bauhaus e a América Latina focaram em casos
particulares e mais conhecidos no México, na Argentina e no Chile. Este trabalho elabora uma
revisão dessas aproximações, nas quais a Bauhaus aparece como categoria historiográfica para
o estudo da arquitetura e o design regionais. Por fim, apresenta-se a proposta que estrutura e
orienta o projeto Bauhaus Reverberada, em andamento por uma equipe interdisciplinar da
Faculdade de Arquitetura e Design da Universidad de los Andes – Colômbia.

SINGULARIDADES CHILENAS

À exceção de um conjunto de textos do pesquisador chileno David Maulen (o mais recente de


2019), a contribuição historiográfica centrou-se em dois eventos de grande repercussão no
subcontinente: as reformas das escolas de arquitetura da Universidade do Chile (1946) e da
Universidade Católica de Santiago (1946-1949). O primeiro, abordado por Daniel Talesnik
(2016), apresenta o grupo denominado “Brigada Vermelha”, formado por ex-alunos de Dessau
que trabalharam com Hannes Meyer no planejamento de novas cidades na União Soviética. As
obras projetadas pelo bauhäusler (a mais conhecida é o Mercado de Concepción, no sul do Chile)
têm menor destaque. No caso da Universidade Católica são significativos os nomes de Emilio
Duhart (ex-aluno de Gropius na Harvard University) e Josef Albers (artista alemão e mestre da
Bauhaus), apresentados como protagonistas da reforma pedagógica e da criação do
departamento de design naquela instituição. Ganha destaque a contribuição e atuação de
Albers no curso de “composición pura” da Universidade chilena, durante o período em que foi

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


diretor do curso de design da Yale University, conforme Cristobal Molina (2018) em seu livro
dedicado à ação do arquiteto Alberto Piwonka como educador e projetista.

A CRÍTICA VEM DO SUL

Joaquín Medina-Wamburg (2019a, 2019b) contribui para à compreensão da recepção da


Bauhaus no sul do continente, especificamente na Argentina e no Peru, centrando-se na figura
de Walter Gropius e seu discípulo em Weimar, o arquiteto Paul Linder, cuja ação como
educador, crítico e construtor em Lima evidencia um afastamento de algumas estratégias e
teorias bauhausianas. Este autor trata da parceria de Gropius com os arquitetos locais em obras
na argentina: Franz Moller (estabelecido em Buenos Aires após colaborar com Gropius na
Alemanha) e Amancio Williams. Medina, ainda, salienta a polêmica mediação de Max Bill (ex-
aluno da Bauhaus) nos debates artísticos internos e a contestação de Tomás Maldonado,
enquanto diretor da Escola de Design de Ulm, à abordagem abstrata da Bauhaus.

A REIVINDICAÇÃO DE HANNES MEYER E A CONTRIBUIÇÃO MEXICANA

Os trabalhos de Adrián Gorelik (1993), Raquel Franklin (2013) e Georg Leidenberger (2014) sobre
Hannes Meyer, segundo diretor da Bauhaus, possuem um duplo propósito. Por um lado,
denunciam a hegemonia historiográfica da narrativa criada por Gropius e Hebert Bayern na
exposição Bauhaus 1919-1928 no MoMA, em qual não há nenhuma menção a Meyer. Por outro
lado, sobretudo os trabalhos de Franklin e de Leidenberger, propõem uma arqueologia da
atuação do arquiteto suíço e de sua esposa, a bauhäusler Léna Berger, como docentes e
urbanistas no México, normalmente pouco explorada devido à sua suposta filiação stalinista e
à rejeição por parte de influentes arquitetos locais da sua visão cooperativa de trabalho.
Pequisas em andamento como a de Viridiana Zavala (2016) recuperam a contribuição do casal
como gestores culturais e editores do Taller de Gráfica Popular.

REVERBERAÇÕES: ALTERNATIVA PARA UMA ABORDAGEM LATINO-AMERICANA

Após uma primeira fase do projeto de pesquisa Bauhaus Reverberada, organizada a partir de
três linhas temáticas - redes de circulação, influência pedagógica em novos cursos de design
latino-americanos e construção de uma nova plástica - foi possível identificar três temas
transversais no contexto regional: a procura de uma nova visão para um mundo novo, a
mudança da imagem urbana e o desenvolvimento de um novo universo doméstico e de práticas
de consumo. Essa reverberação não acontece em um único tempo: há diferentes fases que
comportam diversas paisagens de hibridação. No caso particular dos contatos transatlânticos -
primeiro cenário de reverberação - esses temas aparecem nos movimentos dos mestres
migrados para as Américas, dos ex-alunos da Bauhaus exiliados no continente e dos primeiros
estudantes latino-americanos nas escolas nos Estados Unidos que contaram com a presença de
grandes nomes da escola alemã (Figura 1).

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


Figuras 1-3: Mapas dos contatos transatlânticos em três tempos:
Fonte: A autora (2020).

Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo


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Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo

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