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Universidade Federal do Pará

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas


História
(Bacharelado)

Alessandra Moreira Galvão

AMÉRICA LATINA E SUA PRESENÇA NA HISTORIOGRAFIA GLOBAL DOS


SÉCULOS XIX E XX: perspectivas e análises de alguns autores no século XXI

BELÉM
2023
Este trabalho terá como objetivo tratar de três textos, apresentados resumidamente,
sobre a temática da inserção da América Latina na historiografia dos séculos XIX e XX,
fazendo um apanhado das produções realizadas nesse período e trazendo as concepções de
cada autor sobre o tema. Ao final será feita uma pequena comparação entre as conclusões dos
autores sobre a presença latino-americana na produção historiográfica dos ditos séculos e na
atualidade.

O texto A primeira fase da historiografia latino-americana e a construção da


identidade das novas nações, da Claudia Wasserman – doutora em História Social – tem
como objetivo tratar de afirmações e pensamentos sobre a identidade nacional
latino-americana na historiografia do século XIX, desde os movimentos para a independência
à ao período da pós-emancipação (WASSERMAN, 2011, p. 95). A autora justifica o recorte
abrangente, pois, mesmo perdendo alguns detalhes – dos agentes apresentados no trabalho
que são os autores que, de alguma forma, participaram do processo de emancipação – o
interesse maior é “compreender regularidades que existem no discurso acerca da questão
nacional no subcontinente latino-americano. A abordagem simultânea de vários autores,
localizados em diversos países da América Latina permite ainda compreender a região como
totalidade articulada, para além das especificidades” (WASSERMAN, 2011, p. 95). Esta
compreensão da região é apresentada da maneira que a historiografia latino-americana – ao
qual Wasserman intitula com “primeira historiografia latino-americana” (WASSERMAN,
2011, p. 96) – interpreta os dados ontológicos da nacionalidade (WASSERMAN, 2011, p.
101). E ao afirmar que a identidade nacional é concretamente indefinida, a autora apresenta a
expectativa de um horizonte que os autores do século XIX impunham sobre essa identidade
(WASSERMAN, 2011, p. 96, 102 e 103).

Mais a frente, ela aborda sobre a forma empírica em que deve-se desenvolver estudos
sobre as manifestações dessa identidade, para isso o texto traz o pensamento das entidades
políticas e de outras entidades, como os militares (WASSERMAN, 2011, p. 96), esses que se
divergem: “Muitas vezes, como no caso dos militares que participaram nos processos de
independência, essas ideias de existência prévia de identidades nacionais emanavam de um
desejo de que existissem nações e nacionalidades nestes territórios, mais do que fruto da
observação empírica objetiva destes políticos”(WASSERMAN, 2011, p. 96). A formulação
que os pensadore – políticos e autores – sobre a identidade nacional estava baseada no modelo
francês, no momento em que o padrão estrangeiro não era atingido, por ser uma realidade
completamente diferente da Europa, os intelectuais entendiam que a América Latina não teve
seu processo de formação nacional completo, contudo, esse pensamento era presente,
característico na realidade intelectual latino americana (WASSERMAN, 2011, p. 97, 103 e
113).

No texto Tradições de história global na América Latina e no Caribe, do doutor em


História Econômica Rafael Marquese e do doutor em História João Paulo Pimenta, a
problemática abordada fala sobre a falta de reconhecimento da historiografia que trabalha
com a ibero-américa e o Caribe no contexto de História Global e aqui os autores trazem como
objetivo apontar produções – ensaios – anteriores que inserem essa historiografia
latino-americana no cenário global

Com o exame de tal problema a partir da observação


de alguns casos voltados à história latino-americana
e caribenha, pretende-se justamente valorizar
procedimentos anteriores que podem ser hoje
entendidos como ensaios de história global e que são
capazes de subsidiar formas atuais dessa história
menos pretensiosamente inovadoras e mais
proveitosamente amparadas em tradições
(MARQUESE, PIMENTA, 2015, p. 32).

Para isso os professores fazem diálogos com vários autores dos séculos XX e XXI
com perspectivas latinas – marxistas caribenhos – e européias – como a segunda geração dos
Annales(MARQUESE, PIMENTA, 2015, p. 41). Os autores fazem uma leitura dessas
influências francesas e britânicas na produção historiográfica da América Latina. Ao concluir,
Marquese e Pimenta fazem um apanhado geral sobre tudo que foi explanado no artigo e
apresentam a crescente presença da historiografia latino-americana na historiografia global.
No entanto, pontuam que uma abordagem verdadeiramente global precisa de mais frequência
e consistência (MARQUESE, PIMENTA, 2015, p. 42)

O texto O “longo século XX” da historiografia latino-americana contemporânea:


1870-2025? do cientista social e pós-doutor em história Carlos Antonio Aguirre Rojas,
situado no livro "América Latina: História e Presente" trata sobre a inserção do continente
latino-americano na historiografia global. Primeiramente aponta como problema o não
reconhecimento dessa historiografia no contexto global devido dois fatores: a tradição da
historiografia da América Latina em trabalhar com conceitos como história intelectual e
história da historiografia (ROJAS, 2004, p. 46), como também a instabilidade da identidade
latino-americana. Como objetivo, o texto trabalha hipóteses iniciais sobre essa historiografia:
a possibilidade de uma periodização dela em contexto global no século XIX e como as
individualidades regionais – a identidade de cada Estado e sua cultura – interferem nesta
historiografia latino-americana. Para isso, os conceitos utilizados para a análise são longa
duração de Braudel e civilização latino-americana (ROJAS, 2004, p.47). Todavia, são
apresentados outros conceitos durante o texto, que são: história global; “semicontinente” ;
periférica; cultura; mestiçagem; cosmopolita.

Desse modo geral, Rojas discorre em seu texto sobre as características desenvolvidas
na historiografia do que ele chama de “semicontinente”1 e como as questões sociais, culturais,
econômicas e políticas vigentes no mundo – primeiramente no continente europeu e
posteriormente na América do Norte – influenciaram a América Latina nesses mesmos
aspectos, refletido em sua historiografia. Na verdade, o autor apresenta a ligação direta entre a
cultura e a historiografia produzida no continente latino-amercano (ROJAS, 2004, p. 47).
Além disso, também é apresentado ao leitor dois século XX com durações diferentes, para
isso o autor discrimina as duas modalidades entre século XX histórico e século XX
historiográfico, este último inicia-se em 1870 e, segundo Rojas, segue até os dias de hoje
(ROJAS, 2004, p. 52). Vale pontuar que o livro, onde este capítulo está presente, foi
publicado no ano de 2004.

Como já mencionado anteriormente, o capítulo fala do local em que a historiografia da


América Latina está perante os acontecimentos no mundo. Com isso, serão expostos dois
conceitos já indicados neste trabalho que estão presentes no texto de Rojas que são:
cosmopolita e mestiçagem. Tais vocábulos são introduzidos na forma em que a historiografia
latino-americana é desenvolvida, explicando que ela é cosmopolita por introduzir na sua
produção conceitos vindos da Europa, e posteriormente da América do Norte. Assim sendo,
os acontecimentos ocorridos no continente latino-americano são analisados por um prisma
europeu. Contudo, mesmo utilizando-se de técnicas externas para análises dos processo
históricos da América Latina, os historiadores — o qual o autor enfatiza durante o texto e na
sua conclusão que primeiramente foi desenvolvida por amadores e depois por profissionais da
história – latino-americanos conseguiram aplicar-las – as técnicas – para as realidades e
vivências do dito continente. Neste quesito, Rojas discorre sobre mestiçagem, por ser um
continente composto por vários grupos étnicos, há uma aceitação maior pelo outro, então para
a leitura das proposições européias foram melhor assimiladas (ROJAS, 2004, p. 50-51).

1
Ao ler o texto, consegue-se perceber com qual intuito o autor trabalha este conceito. Ao falar sobre uma
historiografia latina no final do século XIX e início do XX, Rojas utiliza o termo de “semicontinente” para situar
a posição do continente latino-americano no contexto cultural, social,político, econômico e historiográfico em
relação ao mundo dos séculos já mencionados (ROJAS, 2004, p. 47-51).
Todavia, como análise pessoal, essa fala está equivocada, pois há a perpetuação daquilo que,
em contexto Brasil, é apontado como mito das três raças, algo que hoje compreendemos que
não existe. Na verdade, essa fácil assimilação dos conceitos historiográficos europeus dão-se
pelo fato da Europa ser o ponto de referência, em vários quesitos, para todo mundo. Tendo
feito esta pontuação, voltemos a tratar do texto ao qual o autor separa um tópico para tratar
melhor da influência da escola dos Annales na historiografia latina (ROJAS, 2004, p. 55-58).

Como conclusão, o autor pontua que a historiografia da América Latina passou por
uma transição que a transformou no âmbito institucional e nas estruturas essenciais (ROJAS,
2004. p. 75). Contudo, mesmo se firmando em três processo que o autor denomina como
profissionalização da historiografia, a construção de uma identidade própria e singular e a
transformação radical ao superar a vertente positivista (ROJAS, 2004, p. 76), o autor afirma
que a América Latina ainda está emergindo no contexto historiográfico global.

Em uma análise geral, os três textos conversam entre si ao tratarem dessa integração
da historiografia produzida na América Latina no contexto global. Cada autor, a sua maneira,
apresenta as periodizações produzidas no recorte dos séculos XIX, XX e XXI e como elas
estão inseridas no contexto global. Os quatro autores terminam seus textos com a mesma
conclusão de que estamos presentes nessa historiografia global, porém é necessário produzir
mais para estar criar uma consistência nesse panorama.
REFERÊNCIAS

MARQUESE, Rafael, PIMENTA, João Paulo. Tradições de história global na América Latinadicio
e no Caribe. História da Historiografia, nº 17, abril 2015, pp. 30-49.
https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/775/529

ROJAS, Carlos Antonio Aguirre. O “longo século XX” da historiografia latino-americana


contemporânea: 1870-2025? In: América Latina: História e Presente. Campinas: Papirus, 2004, pp.
45-76.

WASSERMAN, Claudia. A primeira fase da historiografia latino-americana e a construção da


identidade das novas nações. História da Historiografia, nº 7, 201, pp. 94-115.
https://revistahh.emnuvens.com.br/revista/article/view/338/203.

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