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Universidade Federal do Pará

Instituto de Filosofia e Ciências Humana


História (Bacharelado)

Alessandra Moreira Galvão

A LEITURA SOBRE OS INDÍGENAS NA HISTORIOGRAFIA CLÁSSICA E A


ATUAÇÃO DESSES SUJEITOS NAS PRODUÇÕES DO FINAL DO SÉCULO XX

2023
Belém
SANTOS, Corcino Medeiros dos. O lugar dos povos indígenas no estado nacional americano.
In: Amado Luiz Cervo & Wolfgang Döpcke (orgs.), Relações Internacionais dos Países
Americanos. Brasília: Linha Gráfica Editora, 1994, pp. 53-64.
O texto “O lugar dos povos indígenas no estado nacional”, do doutor Corcino
Medeiros dos Santos em História Marília pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho(1973)1, situado no livro “Relações Internacionais dos Países Americanos”
organizado por Amado Luiz Cervo e Wolfgang Döpcke tem como objetivo apresentar ao
leitor a maneira como os povos indígenas eram, e ainda são, lidos pela sociedade em que
estão inseridos, abordando sobre o preconceito e o silenciamento destes na historiografia
universal. Com isso, para melhor desenvolver seu argumento, o autor utiliza alguns conceitos
como etno-história; desprezo pelo índio; processo aculturativo, entre outros. Além disso, o
texto é dividido em subtópicos para melhor discorrer sobre a participação do indígena no
processo da Formação do Estado Nacional, pontuando como as elites liberais liam esses
sujeitos, sinalizando a formas desejadas por este grupo dominantes de como os indígenas
deveriam agir no projeto que tinha a função de engendrar a formação do Estado Nacional
(SANTOS, 1994, p. 57).

Santos ressalta em seu texto sobre a mobilidade das sociedades indígenas, não sendo
povos sedentários, mas que transitam pelo território ao qual pertenciam, sendo assim,
produzindo culturas durante todo movimento de locomoção. Contudo, o autor introduz que a
historiografia ocidental clássica entendia a existência de história a partir da produção escrita,
então toda a produção cultural dos ameríndios não eram consideradas parte da história
(SANTOS, 1994, p. 53). No entanto, fala sobre as temáticas que repensam as narrativas
indígenas na história. Algo muito interessante no texto é a produção histórica, esta que não
possui uma fórmula pronta, uma única estrutura, mas é gerada a partir da cultura de
determinada sociedades. Culturas diferentes possuem produções históricas próprias
(SANTOS, 1994, p. 54).

Porém, voltando a mencionar a historiografia clássica, o texto nos leva a perceber a


maneira como ela2 interpreta a construção da história na América. Baseado no pensamento
ocidental que via a existência de história a partir das produções escritas, todos os processos e
elementos culturais das sociedades indígenas pré-colombianas eram invisibilizados por esta
historiografia, entendendo que o território que tornou-se o continente Americano só começou
a existir em 1492. Antes disso era considerado que a "América era um deserto cultural e
1
Corcino Medeiros dos Santos atualmente é funcionário da Universidade de Brasília.
2
Aqui me refiro a como a historiografia clássica enxerga a história na América
economicamente sem valor para a história da humanidade" (SANTOS, 1994, p. 53). E como
já mencionado anteriormente, essa visão está sendo alterada, estudos sobre os povos
originários e suas culturas vêm sendo desenvolvidos. Todavia, mesmo com o crescimento da
pesquisa relacionadas às sociedades indígenas, o autor ressalta o desprezo nocivo pelo
indígena, que seria tratá-lo como selvagem, bárbaro, um sujeito que necessita ser introduzido
a uma cultura, ou então, referindo-se ao indígena na atualidade, como "incapaz de tornar-se
membro ativo da sociedade nacional, ou cidadão pleno, confiando no seu desaparecimento
com a assimilação da cultura superior” (SANTOS, 1994, p. 53).

Tal percepção nos leva a entender a maneira como o indígena apresentado na


historiografia. O silenciamento dos povos originários é algo bem presente nas produções
clássicas. A barbarização ou a passividade dos indígenas na historiografia os colocam em um
lugar de não protagonistas da história, são sujeitos que não atuam e isso era muito propagado
pela historiografia do século XIX. Na verdade, o que tinha-se era uma visão de cima para
baixo, onde a elite era o protagonista (SANTOS, 1994, p.57). Porém, a historiografia que se
produz durante o século XX, principalmente a partir da década de 1960, período em que a
propagação da história que visa as camadas populares, os sujeitos que estavam à margem da
sociedade mas que são protagonistas da construção histórica do Estado Nacional. Então, ao
falar da aculturação, Santos introduz-se nesse novo debate (SANTOS, 1994, p.56-58). Vale
pontuar que o texto foi publicado na década de 1990, então tal debate historiográfico estava
muito recente, as produções sobre história indígena se ampliaram, outros estudos que tiveram
uma crescente foram sobre historiografia latinoamericana que não só
questionam/problematizam o que foi escrito anteriormente, mas, de forma tímida, vem
tentando situar as pesquisas latinoamericanas em um contexto global.

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