O texto teórico-informativo de Carsten L. Wilke, História dos Judeus Portugueses
(1962), na sua abordagem não foge da sua titulação. Seus argumentos levantam os questionamentos pelos quais os judeus se instalaram em Portugal desde o medievo, mesmo antes da formação do reinado lusitano. Wilke topicaliza cada fato histórico dessa marca judaica na história de Portugal. Cada fato é disposto pelo teórico de maneira não abrangente, mas que suscintamente é explicitado o necessário para um conhecimento prévio dos acontecimentos do medievo português em relação aos habitantes judaicos e antijudaicos. Os comentários críticos do autor são pouco mencionados, porém, os fatos críticos da história ganham destaque considerável, para entendermos as verdadeiras razões da diáspora marrana portuguesa, e os fatos pelos quais os poderes da Coroa não rejeitavam tão ligeiramente as práticas judaizantes em seu território de maioria cristã. As primeiras palavras do teórico vão mencionar as duvidosas origens, do aparecimento de judeus em terras lusitanas. Uma das lendas exemplificadas relata a vinda de judeus refugiados logo após a conquista de Jerusalém do rei Nabucodonosor em 587 a.C., porém nenhuma dessas histórias apresentaram provas concretas de veracidade. É o Pe. Antonio Vieira que nos trouxe uma tese mais convincente, sobre essa vinda dos judeus, ele diz que esses chegaram já tardiamente, e por motivos econômicos e políticos. E verdadeiramente ao longo do livro essa questão vai aparecer constantemente, bem mais do que as questões religiosas. Com isso, observa-se que os judeus já enfrentavam desde o século IV perseguições e oposição do clero, e de certa forma eram proibidos de professarem sua fé e eram pressionados a se batizarem ou imigrarem nos tempos dos visigodos, e já viviam na clandestinidade. Porém, seguindo o curso da História, podemos ressaltar que os poderes cristãos já se davam conta no século X, do poderio econômico da comunidade judaica e por isso a estada judaica foi mais demorada. É, no século XIV, que a população judaica se multiplica de maneira considerável em Portugal, fato ocasionado devido o decreto espanhol dos Reis Católicos, que expulsou tais habitantes do seu país. Por isso, os reis portugueses adotaram uma política de proteção aos judeus, mas essa bondade tinha um preço alto, pois compreenderam os benefícios financeiros que a presença judaica traria para o reino, refletido em impostos altos, pagos pelos mesmos à Coroa. Esse fato da imigração demasiada e do poder aquisitivo dos judeus, consequentemente, resultou em uma participação assídua dos judeus na História de Portugal. Altos cargos eram dispostos a eles, eram médicos da corte, embaixadores e administradores, pois era notório a sua cultura e os seus inúmeros conhecimentos. O interesse econômico por parte da Coroa nos é explícito nesse livro de maneira constante, portanto é claro: os judeus só permaneciam em terras lusitanas por obter poderio aquisitivo. Esse fato é tão verídico que os judeus eram integrantes dos membros mais valorizados da corte, e esse privilegio passava hereditariamente. Contudo, a reviravolta da convivência parcialmente tolerante dos cristãos para com os judeus, se deu ainda no decurso do início do século XV, no ano de 1506, com o massacre que obrigou os judeus a se batizarem à força ou saírem de Portugal. Antes, a segregação e o antijudaísmo já era uma realidade humilhante na vida dos judeus. O mesmo D. Manuel que protegia e explorava os judeus impôs uma política de intolerância sob pressão de seus súditos e do contrato de casamento, com a infanta Isabel de Aragão e Castela, que assinou com os Reis espanhóis. Mas foi o seu sucessor, D. João III, após o abalo sísmico de 1531, que ameaçou a chegada do Tribunal da Inquisição, nisto, a perseguição da Igreja, sob a forma do Santo Ofício, rondou sobre Portugal até se tornar legitimada em 1536. Daí por diante a situação dos ditos pejorativamente “cristãos-novos” só se agravava, eram delatados, seus bens eram confiscados, eram postos à prova nos tribunais, torturados e chegavam até a serem mortos nas fogueiras nos autos-da-fé. Não podemos deixar de mencionar que mesmo em meio à repressão do Santo Ofício, e o enfraquecimento da clandestinidade de práticas judaizantes entre os cristãos-novos, o marranismo ainda era praticado entre famílias e principalmente por mulheres. Outro fator que marca a história dos judeus portugueses em plena ação da Inquisição são as rotas de fuga, que seguiam de Antuérpia, até o Império Otomano. Em suma, vemos que a presença dos judeus em Portugal, foi de grande importância, visto que, muitas vezes Wilke menciona inúmeros nomes de judeus que deixaram seus nomes marcados na história lusitana e europeia como David Reubéni, Luís Dias, os irmãos Mendes, Beatriz de Luna etc. Cita referências de cronistas da época e exemplos reais do medievo português. Além disso, destaca as atitudes errôneas e bem sucedidas, dos reis portugueses, que até a última instância se aproveitavam economicamente dos judeus, prometendo-lhes proteção apenas com interesses em seus bens, que se esvaiam para as mãos da Coroa e da Igreja Católica. Referência Bibliográfica WILKE, Carsten Lorenz. História dos judeus portugueses – (Lugar da História), 1962. Lisboa: Edições 70, Lda., 2009.
Comendador Joaquim José de Souza Breves. Poder e Riqueza Na Trajetória de Uma Família Durante As Transformações Da Segunda Escravidão No Vale Do Paraíba Sul Fluminense (1850 A 1889)