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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE

PERNAMBUCO
PRÓ-REITORIA DE ENSINO
DIRETORIA DE ENSINO – CAMPUS PESQUEIRA
IDENTIFICAÇÃO ALUNA/ALUNO:
PROFESSOR: Dr. Bartolomeu Cavalcanti CURSO:
MODALIDADE: Médio Integrado PERÍODO:
DISCIPLINA: História DATA:

UNIÃO IBÉRICA E INVASÕES HOLANDESAS (SÉC. XVII)

Para começo de conversa, não podemos dizer que o Brasil foi uma colônia somente portuguesa.
O controle de Portugal sobre o Brasil foi fortemente afetado por dois fatos históricos importantes: a União
Ibérica e as Invasões Holandesas.

A UNIÃO IBÉRICA (1580-1640)

A soberania portuguesa entrou em crise a partir de 1578, quando morreu Dom Sebastião*, o rei
mais popular da história de Portugal. O jovem Dom Sebastião era a grande esperança lusitana de
reconquista do grande Império Ultramarino formado ao longo do século XV e no início do século XVI.
Diante das grandes perdas territoriais do século XVI, Dom Sebastião tornou-se, no imaginário
popular, o rei eleito por Deus para levar o Cristianismo aos povos não cristianizados através de uma nova
cruzada. A sonhada expansão territorial e religiosa foi, contudo, frustrada pela derrota lusitana para os
mouros e os otomanos na Batalha de Alcacer-Quibir, em 1578, episódio no qual desapareceu Dom
Sebastião.

Fonte: camoes9a.no.sapo.pt
Figura 1: retrato do rei Dom Sebastião, conhecido como “O Desejado”

Com a morte precoce de Dom Sebastião, aos 24 anos, assumiu o trono o cardeal Dom Henrique,
seu tio-avô de 70 anos de idade. A morte deste, em 1580, desencadeou uma acirrada disputa sucessória,
que culminou com a ascensão do rei espanhol Filipe II ao trono português, dando início à União Ibérica.
Era o fim da Dinastia de Avis (1385-1580), substituída pela dinastia Habsburgo, também chamada de
dinastia Filipina.
A restauração do trono português ocorreu em 1640, quando João, o Duque de Bragança, com
apoio francês, venceu os espanhóis na “Guerra de Restauração”. A independência portuguesa ocorreu em
um momento de forte fragilidade militar da Espanha, que, além de movimentos separatistas (Portugal e
Catalunha), disputava a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), onde a Dinastia de Habsburgo lutava pelo
controle sobre o Sacro Império Romano Germânico contra a França, a Suécia e os Países Baixos.
O Duque de Bragança foi coroado com o título de Dom João IV, dando início à Dinastia de
Bragança e colocando um fim ao domínio espanhol sobre Portugal e o Brasil.

INVASÕES HOLANDESAS

Um ano antes da União Ibérica, as Províncias Unidas dos Países Baixos, também chamadas de
Holanda, romperam com o domínio da Espanha, que, em retaliação, proibiu depois as relações que a
burguesia holandesa tinha com o açúcar brasileiro. Os holandeses foram proibidos de realizar novos
empréstimos, de cobrar os empréstimos feitos anteriormente e de revender na Europa o açúcar que
chegava a Portugal.
Em resposta, a Holanda tramou um audacioso projeto de expansão mercantil cujo foco principal
era o grande império ultramarino espanhol, incluindo a parte anteriormente portuguesa. Em 1602, a
Holanda fundou a Companhia das Índias Orientais, visando a ocupação de possessões na costa índica, e,
em 1621, a Companhia das Índias Orientais, visando a costa atlântica da África, o nordeste brasileiro e o
Caribe.
Já em 1624 ocorreu a primeira invasão ao Nordeste, mais especificamente na Bahia. De curta
duração, a ocupação holandesa terminou no ano seguinte, quando os holandeses foram expulsos pelos
espanhóis na chamada “Jornada dos Vassalos”. Em 1630, os holandeses invadiram Pernambuco e
estenderam seus domínios sobre quase todo o nordeste brasileiro por 24 anos.

Fonte: filosofandoehistoriando.blogspot.com

Os primeiros anos de ocupação foram marcados por conflitos entre holandeses e senhores de
engenho, liderados por Matias de Albuquerque. Foi nesse contexto que apareceu Calabar, um senhor de
engenho que combateu os holandeses para depois apoiá-los sem um motivo conhecido, pesando sobre o
mesmo a pecha de traidor entre os colonos.
A pacificação ocorreu durante o governo do conde holandês Maurício de Nassau, presidente da
Companhia das Índias Ocidentais. Nassau estabeleceu uma política de parceria com os senhores de
engenho, convencendo-os dos benefícios do domínio holandês. Algumas das principais realizações de
Nassau foram:
1) Retomada dos empréstimos aos senhores de engenho;
2) Retomada do fornecimento de escravos africanos originários de Angola, território anexado pela
Companhia das Índias Ocidentais;
3) Reforma urbana do Recife, chamada de “Cidade Maurícia”, sede do governo holandês no Brasil;
4) Construção de um observatório astronômico no Recife;
5) A vinda de artistas e cientistas holandeses, tornando o Recife a sede de um projeto civilizatório
holandês nos trópicos;
6) Liberdade religiosa para católicos e protestantes (calvinistas).
Os altos gastos de Nassau no Brasil não correspondiam às necessidades holandesas de
investimento militar na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), o que culminou na sua destituição do cargo
de presidente da Companhia das Índias Ocidentais, em 1644. A nova gestão passou a exigir a liquidação
dos empréstimos contraídos pelos senhores de engenho, o que desencadeou uma reação local conhecida
como Insurreição Pernambucana (1644-1654)**.
Depois 10 anos de conflitos, os holandeses aceitaram a sua retirada do Brasil após as perdas
decorrentes da 2ª Batalha de Guararapes, em 1654. Em 1661, a Holanda reconheceu definitivamente a
posse de Portugal sobre o Brasil, exigindo e recebendo 8 milhões de florins (63 toneladas de ouro) na
chamada “Paz de Haia”.

Fonte: pt.wikipedia.org
Figura 3: pintura “Batalha dos Guararapes”, do pintor romântico catarinense Victor Meirelles

Os holandeses, assimilando o processo de produção do açúcar, passaram a produzi-lo nas


Antilhas a preços mais baixos que os praticados no Brasil, já que o comércio de escravos nas Antilhas não
sofria tributação. Sem a parceria dos holandeses (fornecimento de escravos, investimento, refino e
revenda do açúcar), que se tornaram fortes concorrentes, o açúcar brasileiro mergulhou em forte
decadência.

* O desaparecimento de Dom Sebastião foi recebido em Portugal com forte inconformismo, dando
origem ao Sebastianismo, crença no retorno do rei. Essa crença milenarista e messiânica teve grande
longevidade no imaginário popular português e brasileiro, influenciando movimentos messiânicos como a
Guerra de Canudos (BA – 1893/1897) e a Guerra do Contestado (SC/PR – 1912-1916).

** O dia 19 de abril é comemorado no Brasil como “dia do soldado” em menção à data em que ocorreu a
primeira grande vitória contra os holandeses em 1648 nas Batalhas dos Guararapes. Por reunir lideranças
das três etnias (branco, negro e índio) em um movimento contra elementos estrangeiros, a data foi
considerada pela historiografia militar como o marco fundador do exército brasileiro e do próprio
sentimento de brasilidade. Tal versão recebe forte crítica da historiografia acadêmica, que classifica o
movimento como regionalista, sem abarcar a complexidade do que se tenta definir como brasilidade, algo
cuja forja se consolida somente na Era Vargas (1930-1945). Além disso, o heroísmo atribuído ao fato em
questão é contradito escandalosamente pelos termos da “Paz de Haia” de 1661.
EXERCÍCIOS

1- (Cesgranrio-2011) “Estando a Companhia das Índias Ocidentais em perfeito estado, ela não pode
projetar coisa melhor e mais necessária do que tirar ao Rei da Espanha a terra do Brasil, apoderando-se
dela. (…) Porque este país é dominado e habitado por duas nações ou povos, isto é, brasileiros e
portugueses, que, no momento, são totalmente inexperientes em assuntos militares e, além disto, não têm
a prática nem a coragem de defendê-la contra o poderio da Companhia das Índias Ocidentais, podendo ser
facilmente vencidos (…) Desta terra do Brasil podem anualmente ser trazidas para cá e vendidas ou
distribuídas sessenta mil caixas de açúcar. Estimando-se as mesmas, atualmente, em uma terça parte de
açúcar branco, uma terça parte de açúcar mascavado e uma terça parte de açúcar panela, e avaliando-se
cada caixa em quinhentas libras de peso, poder-se-ia comprar no Brasil, sendo estes os preços comuns
nesse país, o açúcar branco por oito vinténs, o mascavado por quatro e o panela por dois vinténs a libra, e,
revender, respectivamente, por dezoito, doze e oito vinténs a libra; (…)”
“Motivos por que a Companhia das Índias Ocidentais deve tentar tirar ao Rei da Espanha a terra do Brasil
– 1624”. In: INÁCIO, Inês da Conceição e LUCA, Tânia Regina. Documentos do Brasil Colonial. São
Paulo: Ática, 1993, pp. 92 e 94. O documento acima está relacionado
a) ao processo de colonização espanhola na América e à disputa entre os países ibéricos pelas áreas
açucareiras.
b) às rebeliões nativistas, que, sob o pretexto de que a União Ibérica teria enfraquecido tanto Portugal
como a Espanha, tentavam a emancipação da Colônia brasileira.
c) às invasões holandesas no Brasil, com o objetivo de recuperar o comércio interrompido com a União
Ibérica.
d) às invasões francesas ao Brasil, com o objetivo de depor o tradicional inimigo espanhol, que passou a
administrar o país após a União Ibérica.
e) às investidas inglesas nas costas brasileiras, como protesto pela divisão do mundo entre Portugal e
Espanha, conforme estabelecido pelas bulas papais e pelo Tratado de Tordesilhas.

2- Os holandeses que financiavam a montagem de muitos engenhos coloniais e lucravam com a


distribuição do açúcar durante a União Ibérica viram-se prejudicados com o embargo espanhol. Analise as
seguintes proposições sobre a presença holandesa no Brasil.
I- Em 1625, os holandeses são expulsos do Maranhão. Cinco anos depois retornam e dominam Salvador,
de onde passam a expandir suas atividades.
II- Maurício de Nassau foi a figura mais importante no estabelecimento das boas relações entre grandes
proprietários da região ocupada e os holandeses, pois concedeu empréstimos para o plantio da cana-de-
açúcar.
III- Depois da tomada do Recife, a outra grande vitória dos holandeses na região nordeste foi a
dominação da cidade de Salvador, em 1654.Assinale a alternativa correta:
a) somente a III é falsa
b) somente a I é verdadeira
c) todas são falsas
d) somente a I é falsa
e) a I e a III são falsas

3- (Enem 2001) Rui Guerra e Chico Buarque de Holanda escreveram uma peça para teatro chamada
Calabar, pondo em dúvida a reputação de traidor que foi atribuída a Calabar, pernambucano que ajudou
decisivamente os holandeses na invasão do Nordeste brasileiro, em 1632.
– Calabar traiu o Brasil que ainda não existia? Traiu Portugal, nação que explorava a colônia onde
Calabar havia nascido? Calabar, mulato em uma sociedade escravista e discriminatória, traiu a elite
branca?
Os textos abaixo referem-se também a esta personagem.
Texto I: “…dos males que causou à Pátria, a História, a inflexível História, lhe chamará infiel, desertor e
traidor, por todos os séculos”
(Visconde de Porto Seguro, in: SOUZA JÚNIOR, A. Do Recôncavo aos Guararapes. Rio de Janeiro:
Bibliex, 1949).
Texto II: “Sertanista experimentado, em 1627 procurava as minas de Belchior Dias com a gente da Casa
da Torre; ajudara Matias de Albuquerque na defesa do Arraial, onde fora ferido, e desertara em
consequência de vários crimes praticados…” (os crimes referidos são o de contrabando e roubo).
(CALMON, P. História do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959).
Pode-se afirmar que:
a) A peça e o texto II são neutros com relação à suposta traição de Calabar, ao contrário do texto I, que
condena a atitude de Calabar.
b) A peça e o texto I refletem uma postura tolerante com relação à suposta traição de Calabar, e o texto II
mostra uma posição contrária à atitude de Calabar.
c) A peça e os textos abordam a temática de maneira parcial e chegam às mesmas conclusões.
d) A peça questiona a validade da reputação de traidor que o texto I atribui a Calabar, enquanto o texto II
descreve ações positivas e negativas dessa personagem. e) Os textos I e II mostram uma postura contrária
à atitude de Calabar, e a peça demonstra uma posição indiferente em relação ao seu suposto ato de
traição.

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