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História

Insurreição Pernambucana

Professor Cássio Albernaz

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História

INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA (1645 – 1654)

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Nove anos após a expulsão dos franceses, o território colonial brasileiro sofreu uma invasão
holandesa, em 1624. Os motivos que traziam os holandeses ao Brasil eram muito diferentes.
Para compreendê-los, é necessário fazer algumas considerações sobre o período em que
Portugal (União Ibérica) esteve sob o domínio espanhol, bem como sobre as relações
internacionais da Espanha.
Após ter emergido como potência europeia, a Espanha perseguiu o objetivo de unificar toda a
península ibérica, incorporando Portugal ao seu território. Os portugueses resistiram enquanto
puderam. Mas, no século 16, alguns acontecimentos contribuíram para a Espanha concretizar
seus objetivos.
Em 1578, o rei dom Sebastião, último monarca da dinastia de Avis, morreu e não deixou
herdeiros. Então, o cardeal dom Henrique, único sobrevivente masculino da linhagem de Avis,
assumiu a regência. Com sua morte, em 1580, o rei da Espanha, Felipe 2º; da mesma linhagem
familiar, achou-se no direito de ocupar o trono português e invadiu Portugal. O domínio
espanhol sobre Portugal duraria 60 anos, até 1640.
Contudo, antes disso, Portugal já havia estabelecido relações comerciais com os ricos
negociantes holandeses, que passaram a financiar a produção açucareira no Brasil e a controlar
toda a sua comercialização no mercado europeu. Por outro lado, no mesmo período, a Espanha
pretendia dominar todo o território dos Países Baixos, na qual a Holanda estava situada, pois
a circulação de mercadorias naquela região contribuía significativamente para abastecer os
cofres do tesouro espanhol.

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Não obstante, em 1581, sete províncias do Norte dos Países Baixos, incluindo a Holanda,
criaram a República das Províncias Unidas e passaram a lutar por sua autonomia em relação aos
espanhóis. Ao incorporar Portugal, aproveitando-se do seu controle sobre o Brasil, a Espanha
planejou impedir que os holandeses continuassem a comercializar o açúcar brasileiro. Era uma
tentativa de sufocar economicamente a Holanda e impedir sua independência.
Os holandeses reagiram rapidamente, concentrando seus esforços no controle das fontes dos
produtos que negociavam. Surgiu assim, em 1602, a Companhia das Índias Orientais. Essa
empresa, de porte enorme, se apossou dos domínios coloniais portugueses no Oriente. Em
decorrência dos êxitos desse empreendimento, os holandeses criaram, em 1621, a Companhia
das Índias Ocidentais. Esta ficou encarregada de recuperar o controle do açúcar brasileiro e
monopolizar o seu comércio nos mercados europeus.
Para controlar a produção e comercialização do açúcar era necessário ocupar e se apoderar de
partes do território colonial brasileiro onde ele era produzido. Desse modo, contando com uma
frota composta de 26 navios e 500 canhões, os holandeses iniciaram sua primeira invasão do
Brasil em 1624. Atacaram a cidade de Salvador, na época o centro administrativo da colônia.
Mas, um ano após terem chegado, foram expulsos, sem grandes dificuldades.

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A segunda invasão holandesa ocorreu em Pernambuco, ("Zuickerland" = terra do açúcar) em


1630, sob o comando de Hendrick Coenelizoon Lonck; o desembarque ocorreu em Pau Amarelo.
A resistência foi organizada por Matias de Albuquerque, governador de Pernambuco, que
fundou o Arraial do Bom Jesus. Em 1631 ocorreu a batalha dos Abrolhos entre a esquadra de D.
Antônio de Oquendo (espanhola) e a esquadra do Almirante holandês Jansen Pater. Em 1632
ocorreu a deserção de Domingos Fernandes Calabar, contribuindo decisivamente para que os
holandeses se fixassem no Nordeste.

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Os holandeses ocuparam novos territórios (Itamaracá, Rio Grande do Norte, Paraíba) e tomaram
o Arraial do Bom Jesus. Em Porto Calvo, Calabar foi preso e enforcado. Matias de Albuquerque
foi substituído por D. Luís de Rojas e Borba, que depois morreu no combate de Mata Redonda
frente aos holandeses; seu substituto foi o Conde Bagnoli.

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Para governar o "Brasil Holandês", foi nomeado o Conde Maurício de Nassau, que além de
estender o domínio holandês (do Maranhão até Sergipe, no rio São Francisco) realizou uma
excelente administração:
•• fez uma política de aproximação com os senhores-de-engenho;
•• incrementou a produção açucareira;
•• concedeu tolerância religiosa;
•• trouxe artistas e cientistas como Franz Post (pintor) Jorge Markgraf (botânico), Pieter Post
(arquiteto), nomes ligados ao movimento renascentista flamengo;
•• promoveu o embelezamento da cidade de Recife, onde surgiu a "Mauricéia", na ilha de
Antônio Vaz.

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A Insurreição Pernambucana (ou Guerra da Luz Divina) representou uma ação de confronto
com os holandeses por parte dos portugueses, comandados principalmente por João Fernandes
Vieira, um próspero senhor de engenho de Pernambuco. Em 15 de maio de 1645, reunidos no
Engenho de São João, 18 líderes insurretos pernambucanos assinaram compromisso para lutar
contra o domínio holandês na capitania. O movimento integrou forças lideradas por André Vidal
de Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique Dias e Felipe Camarão, nas célebres Batalhas
dos Guararapes, travadas entre 1648 e 1649, que determinaram a expulsão dos holandeses do
Brasil. Nessa luta contra os holandeses, os portugueses contaram com o importante auxílio de
alguns africanos libertos e também de índios potiguares.

Batalha dos Guararapes (óleo sobre tela por Victor Meirelles, 1879).

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_%27Battle_of_Guararapes%27,_1879,_oil_on_canvas,_Museu_Nacional_de_Belas_Artes,_Rio_de_Janeiro_2.jpg

A oposição dos portugueses aos holandeses ocorreu em decorrência da intensificação da co-


brança de impostos e também da cobrança dos empréstimos realizados pelos senhores de en-
genho de origem portuguesa com os banqueiros holandeses e com a Companhia das Índias
Ocidentais, empresa que administrava as possessões holandesas fora da Europa.
Outro fato que acirrou a rivalidade entre portugueses e holandeses foi a questão religiosa. Boa
parte dos holandeses que estava na região de Recife e Olinda era formada por judeus ou pro-
testantes. Nesse contexto religioso que trazia as consequências da Reforma e da Contrarrefor-
ma para solo americano, o catolicismo professado pelos portugueses era mais um elemento de
estímulo para expulsar os holandeses do local.
Os conflitos iniciaram-se em maio de 1645, após o regresso de Maurício de Nassau à Holanda.
As tropas comandadas por João Fernandes Vieira receberam o apoio de Antônio Felipe Ca-
marão, índio potiguar conhecido como Poti que auxiliou no combate aos holandeses junto a
centenas de índios sob seu comando. Outro auxílio recebido veio do africano liberto Henrique
Dias. A Batalha do Monte Tabocas foi o principal enfrentamento ocorrido nesse início da In-
surreição. Os portugueses conseguiram infligir uma retumbante derrota aos holandeses, ga-
rantindo uma elevação da moral para a continuidade dos conflitos. Além disso, os insurrectos
receberam apoio de tropas vindas principalmente da Bahia.
Outro componente envolvido na Insurreição Pernambucana estava ligado às disputas que havia
entre vários países europeus à época. Durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), os espa-
nhóis estavam em confronto com os holandeses pelos territórios dos Países Baixos. Era ainda o
período da União Ibérica, em que o Reino Português estava subjugado ao Reino Espanhol.

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Nesse sentido, a posição holandesa em relação a Portugal era dúbia. Em solo europeu, os holan-
deses apoiavam os portugueses contra o domínio espanhol, mas, ao mesmo tempo, ocupavam
territórios portugueses na África Ocidental e no Brasil, sendo que além da região pernambucana,
os holandeses tentaram ainda conquistar algumas localidades no Maranhão e em Sergipe.

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No início de 1648, Holanda e Espanha selaram a paz, e os espanhóis aceitaram entregar aos
holandeses as terras tomadas pelos insurrectos portugueses em Pernambuco. Frente a tal situ-
ação, o conflito continuou. Em Abril de 1648, ocorreu a primeira Batalha dos Guararapes, em
que os holandeses sofreram dura derrota, abrindo caminho para o ressurgimento do domínio
português a partir de 1654.
A derrota da Holanda somente aconteceu no ano de 1654, quando despertavam-se os sentimentos
nativistas. Entre as principais consequências dessa insurreição, temos a colonização das Antilhas,
que fizeram com que a Holanda aumentasse sua produção de açúcar com técnicas mais avançadas
que geraram uma decadência na produção desse produto no nordeste do Brasil. Além disso, houve
ainda o acordo conhecido como Tratado de Paz de Haia, firmado no ano de 1661 entre Portugal e
Holanda. Com esse acordo, ficou determinado que os holandeses receberiam uma indenização de 4
milhões de cruzados e as Ilhas Molucas e do Ceilão como uma forma de indenização.

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