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GRANDE DO SUL
Ijuí (RS)
2015
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Ijuí (RS)
2015
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha mãе Denise, a heroína quе mе dеu apoio, incentivo e fôlego nаs horas
difíceis, de desânimo е cansaço, além de todo o amor e cuidado ao longo da vida. Eu não seria
nada sem você.
Aos mеus avós, Marlene e Hélio, Juni e Nelson, que mesmo com todas аs dificuldades
sempre se dispuseram a me ajudar, da mesma forma que toda a minha família, e a todos meu
agradecimento cheio de gratidão.
Obrigada à minha irmã Sofia, por sua paciência, pelo companheirismo e amor, apesar
da distância e das nossas diferenças: sempre estaremos juntas.
Agradeço com carinho ao meu noivo João Guilherme, por estar ao meu lado, por não
medir esforços para me amparar e por torcer sempre pelo meu sucesso.
Agradeço ao meu orientador Doglas, pela dedicação, apoio е confiança, bem como à
esta Universidade, sеu corpo docente, direção е administração, os quais oportunizaram o meu
crescimento pessoal e profissional, fundado nо mérito е na ética aqui presentes.
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RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................09
CONCLUSÃO.........................................................................................................................48
REFERÊNCIAS......................................................................................................................50
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INTRODUÇÃO
Mais do que uma forma de renovar a ideia de democracia em meio ao direito positivo,
objetivo esse que é inafastável de todo Estado erigido com base no princípio democrático, a
previsão legal da participação do Amicus Curiae no processo civil brasileiro, cria certa
esperança em um país melhor através de uma justiça mais coerente com as necessidades do
povo e suas expectativas.
Por fim, faz-se uma breve análise da participação do Amicus Curiae na jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal (STF), no controle de constitucionalidade das normas, destacando
o papel democrático desse terceiro na busca pela legitimação das decisões, bem como uma
superficial análise da jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
(TJ/RS), onde ainda não há uniformidade e total aceitação do instituto.
A presente pesquisa objetiva, dessa forma, trazer ao debate acadêmico esse instituto tão
importante para a democracia e para a justiça do país, sobretudo diante de sua significativa
inclusão no processo civil brasileiro, oriunda da Lei 13.105/2015, que é a intervenção do
Amicus Curiae em todos os graus de jurisdição.
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O termo Amicus Curiae deriva do latim e significa, literalmente, Amigo da Corte. Esse
instituto é, ainda, pouco conhecido pela sociedade brasileira, mas vem sendo assunto bastante
discutido pelos estudiosos das ciências política e jurídica, já que o novo Código de Processo
Civil, sancionado no início do corrente ano, inovou ao trazer, de forma expressa, a figura do
Amicus Curiae à legislação brasileira.
Para o entendimento de tal instituto é necessário, de início, a análise de suas origens e das
referências do instituto, ao longo do tempo, no direito estrangeiro, supralegal e, principalmente,
na legislação brasileira. Além disso, far-se-á, para a compreensão desse tipo de intervenção
processual, a classificação do instituto, indicando suas espécies, limites e características.
Há notícia de que suas raízes se encontram no direito romano, conforme afirma Del Prá
(2001, p. 25), esclarecendo que com uma conformação diversa da que encontramos atualmente,
mas há outros indícios que apontam ter o instituto sua origem no direito inglês medieval, eis
que sua previsão já se encontrava nos chamados Year Books Ingleses, nos séculos XIV a XVI.
Outros autores, contudo, afirmam que o instituto é originário do sistema da common law
inglês, de forma mais sistemática, onde o Amicus era auxiliar das Cortes, com a função de
indicar qualquer erro de posicionamento e trazer precedentes desconhecidos ou ignorados pelos
julgadores.
Sobre esse posicionamento, Bueno (2008, p. 90, grifos do autor) informa que, no direito
inglês, em causas em que não havia interesse governamental, o amicus curiae comparecia
perante as Cortes na qualidade de attorney general ou de counsels, para apontar e sistematizar
eventuais precedentes (cases) e leis (statutes) que, por qualquer razão, pudessem ser
desconhecidos pelos julgadores de determinados casos concretos.
No mesmo sentido, Del Prá (2011, p. 25) esclarece que o Amicus Curiae cumpria um
papel meramente informativo e supletivo, mas de clara importância no direito inglês daquela
época, já que apontava precedentes jurisprudenciais não ventilados pelas partes, atuando em
benefício de menores, e, principalmente, frisando certos fatos relevantes do caso, como o erro
manifesto, a morte de uma das partes, o descumprimento do rito processual ou a existência de
norma específica para a matéria debatida.
Dessa forma, o instituto surgiu, ao longo da história, para auxiliar a Corte em questões
tanto de fato quanto de direito, e por isso recebeu esse nome, Amicus Curiae, o amigo da corte.
Bueno (2008, p. 92, grifo nosso) cita que na Inglaterra a atuação dos Amici (Amicus no
plural) é restrita aos casos em que o Attoney General (função que para o direito brasileiro é
exercida pelo Procurador Geral da República ou pelo Advogado Geral da União) atua em juízo
em prol de interesses públicos ou para a tutela dos interesses da Coroa inglesa.
Nos Estados Unidos da América, diz-se que a primeira aparição do Amicus Curiae foi
em 1812, no caso “The Schooner Exchange vs. McFadden” quando o Attoney General foi
admitido em juízo para esclarecer questões referentes à Marinha e de que ele tinha grande
conhecimento. Com o passar do tempo, os casos de intervenção de entes públicos (Amici
governamentais) passou a ser comum naquele Estado, quando, então, no início do século XX a
jurisprudência passou a aceitar a intervenção de particulares (amici privados ou litigantes) com
interesse na tutela de direitos privados, o que causou, e ainda causa, bastante divergência entre
os juristas norte-americanos.
Outrossim, a Suprema Corte dos Estados Unidos regulamentou, em sua Rule (regra) 37,
em 1998, que é admissível a intervenção do amicus curiae desde que este traga à Corte matéria
relevante, ainda não ventilada pelas partes e que seu conhecimento seja, de alguma forma, útil
para a Corte, e ainda acrescenta que o principal objetivo da figura é de auxílio à Corte, de forma
que resta vedada sua admissão nos casos em que a intervenção pudesse sobrecarregar a Corte.
a Corte de Cassação também admitisse o instituto no ano de 1991. Tais admissões foram
fundadas no entendimento de que ao juiz é livre a investigação de elementos para seu próprio
convencimento e para o proferimento da sua decisão, eis que essa é a previsão do Código de
Processo Civil francês nos arts. 179 a 183 (DEL PRÁ, 2011, p. 33, grifo nosso).
Nos mesmos moldes, na Itália o instituto é tido como um instrumento que está sempre
à disposição do julgador, de forma que é considerado “esperti in una determinata arte o
professione” conforme destaca Del Prá (2011, p. 35, grifo nosso). É de se destacar que a
pretensão principal do Amicus Curiae no direito italiano é trazer benefícios à justiça, de forma
desinteressada, no sentido de que o interveniente não traz implícitos interesses próprios ou de
pessoas por ele representadas.
Por essa razão, na Argentina, a Corte Suprema de Justiça da Nação editou, em 2004,
norma interna (Acordada 28/2004) que autorizou a participação de um terceiro na qualidade de
Amicus Curiae, denominando-o de “Amigo del Tribunal” e regulamentando detalhadamente a
figura, da mesma forma que o Tribunal Superior de Justiça da cidade de Buenos Aires já havia
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feito no ano 2000. Assim, naquele país há real identificação do instituto como efetiva forma de
participação ativa e voluntária dos cidadãos na Justiça.
O Amicus Curiae teve sua primeira aparição no ordenamento jurídico brasileiro de forma
muito singela quando a Lei 6.835 de 07/12/1976, que disciplina o mercado de valores
mobiliários, foi alterada pela Lei 6.616 em 1978, e passou a prever, em seu art. 31, que nos
processos judiciais onde o objeto central seja de fiscalização e competência da Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), esta será sempre intimada para, entendendo necessário, intervir no
feito.
Essa forma de intervenção trazida pela legislação se justificou por serem as questões
relacionadas ao mercado mobiliário consideradas de extrema relevância, a ponto de possibilitar
que o julgador pudesse obter informações e esclarecimentos importantes que, considerando a
formação média do magistrado, pudessem passar despercebidas por ele e assim restasse
prejudicada sua decisão.
Todavia, Del Prá (2011, p. 59) ressalta que essa intervenção da CVM não se identifica
de forma completa com o que entendemos por Amicus Curiae nos dias atuais. Havia, sim, na
Lei 6.835/76 a previsão de uma participação voluntária (já que a intimação era obrigatória, mas
a manifestação era apenas uma faculdade da autarquia) de um terceiro que, até certo ponto,
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Pode-se dizer, nesse diapasão, que a primeira hipótese de previsão legal do Amicus
Curiae no direito brasileiro foi em 1978, com terminologia distinta, mas com características
próprias que já o diferiam da intervenção de terceiros prevista no Código de Processo Civil
(CPC).
Nos mesmos moldes, mas alguns anos depois, o amigo da corte reapareceu no
ordenamento jurídico brasileiro através da Lei 8.884 de 11/06/1994, a qual transformou o
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) em Autarquia Federal e dispôs sobre
as formas de prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica.
O Art. 89 da Lei 8.884/94, que foi revogado pela Lei nº 12.529/2011 (a qual passou a
tratar do assunto da mesma maneira no seu Art. 118), previa que “nos processos judiciais em
que se discuta a aplicação desta lei, o CADE deverá ser intimado para, querendo, intervir no
feito na qualidade de assistente”. Frisa-se, por oportuno, que o termo “assistente”, empregado
pelo legislador, não tem correspondência com a modalidade de assistência regulada pelo CPC
no art. 50 e seguintes, porque no diploma processual civil está presente o interesse jurídico
subjetivo do assistente, e o CADE intervém apenas como fiscal da lei, de forma impessoal, com
o intuito de auxiliar o juízo na solução das questões econômicas e concorrenciais (DEL PRÁ,
2011, p. 64).
profissionais dele, de seu múnus público [...]” e por isso pode ser equiparada à figura de Amicus
Curiae.
Art. 57. A ação de nulidade de patente será ajuizada no foro da Justiça Federal
e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
Art. 175. A ação de nulidade do registro será ajuizada no foro da justiça federal
e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
Sobre a referida lei, há discordância entre os autores no tocante à qualidade que o órgão
assume ao intervir nos processos, com base na interpretação dos artigos citados. A corrente que
entende que o INPI seria um litisconsorte necessário o faz com base na obrigatoriedade de
participação do órgão no feito, o que não é característica da assistência processual propriamente
dita, bem como na falta de vinculação do órgão a qualquer das partes litigantes e na submissão
do interventor à decisão proferida.
Del Prá (2011, p. 67-69), pelo contrário, aduz que as únicas hipóteses de litisconsórcio
necessário são aquelas expressas por disposição legal ou decorrentes da natureza da relação
jurídica, afastando a possibilidade de o INPI figurar como tal. No entanto, o autor também
rechaça a ideia de que o órgão agiria como o assistente regulado pelo CPC, pois no presente
caso inexiste voluntariedade e não há interesse jurídico ou auxílio a qualquer das partes
litigantes.
Pouco tempo depois, a Lei 9.868 de 10/11/1999, que dispõe sobre o processo e
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) e da Ação Declaratória de
Constitucionalidade (ADECON) perante o Supremo Tribunal Federal (STF), previu a
possibilidade de manifestação de órgãos ou entidades na ADI, assim dispondo:
Necessário se faz o exame de alguns tópicos, no entanto, sobre tal previsão legal. O
caráter das ações para o controle de constitucionalidade, como é o caso da ADI, revestem-se de
caráter objetivo, isso é, não se admite a propositura para a defesa de interesses subjetivos, mas
tão-somente a verificação abstrata da conformidade da norma infraconstitucional com a CF e
nesse sentido é a vedação do caput do art. 7º transcrito. Além disso, o legislador tomou o
cuidado de usar os termos “outros órgãos e entidades” no parágrafo segundo, para delimitar a
intervenção, e estabeleceu mais, é necessária também a relevância da matéria debatida e a
representatividade dos postulantes, como bem destaca Del Prá (2011, p. 84-85).
Assim, na ADI, o terceiro atuará como Amicus Curiae desde que cumpra os requisitos
previstos na Lei 9.868/99, e isso se dará de forma voluntária ou mediante requisição do relator,
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hipótese essa que, consoante afirmação de alguns autores, poderão intervir não apenas “outros
órgãos ou entidades”, mas todo aquele que, no entendimento do relator, puder agir em benefício
da causa e da corte.
No mesmo sentido, a Lei 9.868/99 trazia em seu texto inicial o art. 18, §2º, com idêntico
teor do artigo 7º, §2º, supracitado, o qual tratava especificamente da possibilidade de
intervenção do amigo da corte na ADECON, mas tal disposição acabou sendo vetada do texto
legal. No entanto, por questão de isonomia e aplicação analógica, o entendimento dos autores
é de que a intervenção de Amici Curiae na ADECON é completamente possível, já que sua
participação é autorizada na ADI e o resultado/objetivo de ambas as ações é a mesma: analisar
a (in)constitucionalidade de norma infraconstitucional e legitimá-la (DEL PRÁ, 2001, p. 90-
91).
Em suma, o Amicus Curiae é importante figura de legitimação nos processos que visem
o controle concentrado de constitucionalidade, uma vez que permite a participação ativa da
sociedade, por meio de entidades, órgãos, grupos e instituições, que expõem os princípios e
valores da maioria e, assim, o conceito de democracia participativa no Brasil recebe nova
conotação, e a administração da justiça acaba favorecida.
O termo permanecia citado apenas nas doutrinas brasileiras até que, em 17/09/2004, a
Resolução nº 390 do Conselho da Justiça Federal, que dispõe sobre o regimento interno da
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Art. 23. As partes poderão apresentar memoriais e fazer sustentação oral por
dez minutos, prorrogáveis por até mais dez, a critério do presidente.
§ 1º O mesmo se permite a eventuais interessados, a entidades de classe,
associações, organizações não governamentais, etc., na função de “amicus
curiae”, cabendo ao presidente decidir sobre o tempo de sustentação oral.
(grifo nosso).
Nessa esteira, a Lei 10.259, de 12/07/2011, dispôs sobre a instituição dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais na Justiça Federal e regulamentou o pedido de uniformização de
interpretação de lei federal em seu art. 14:
Por fim, mas quiçá a previsão legal mais importante e aguardada quando o assunto é
Amicus Curiae, foi a promulgação da Lei 13.105, em 16/03/2015, o novo Código de Processo
Civil, que entrará em vigor um ano depois de sua publicação, e traz em seu texto o seguinte
artigo, localizado no Livro III – Dos Sujeitos do Processo, Título III - Intervenção de Terceiros,
no Capítulo V – DO AMICUS CURIAE:
Do mesmo modo, o legislador determinou quem poderá atuar sob esta veste: “pessoa
natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada”, sem,
entretanto, restringir a intervenção a ponto de dificultá-la, permitindo inclusive a pessoa natural
de se manifestar, o que merece destaque.
O Fórum ainda complementou dizendo, no Enunciado 128, que “no processo em que há
intervenção do amicus curiae, a decisão deve enfrentar as alegações por ele apresentadas, nos
termos do inciso IV do § 1º do art. 499”. Isso porque, nos termos no art. 138, §2º, do novo CPC,
o legislador estabeleceu que “caberá ao juiz ou ao relator [...] definir os poderes do amicus
curiae” e, dessa forma, a regra poderá ser amplamente discutida. Contudo, importante registrar
que o órgão julgador não fica vinculado à manifestação do Amicus Curiae, até porque há a
possibilidade de admissão de mais de um terceiro nesse papel, e cada um deles poderá defender
interesses contrapostos aos dos outros, conforme destaca Didier Jr (2015, p. 526).
Nelson Nery Jr e Rosa Maria de Andrade Nery (2015, p. 576-577, grifo do autor), em
seus comentários ao novo CPC, destacam, outrossim, que o Amicus Curiae não está equiparado
à parte ou ao terceiro tradicionalmente considerado, “isto porque não tem interesse jurídico na
causa, o que caracteriza a intervenção de terceiros clássica. A situação do Amicus Curiae é de
interventor anódino (ad adiuvandum), sem interesse jurídico”. E acrescentam que “a razão pela
qual não há delimitação dos poderes processuais [...] está no fato de se tratar de um auxiliar do
juízo”.
Ademais, além da previsão genérica do art. 138, a Lei 13.105/15 autoriza sua
intervenção em outros casos, como na propositura de ação rescisória nos casos em que era
obrigatória sua intimação (art. 967, IV), no incidente de arguição de inconstitucionalidade em
tribunal (art. 959, §§ 1º ao 3º), no procedimento de análise da repercussão geral em recurso
extraordinário (art. 1.035, §4º) e nos julgamentos de recursos extraordinários ou especiais
repetitivos (art. 1.038).
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A forma como a nova regra será recepcionada pelos tribunais, inferiores ou superiores,
e pelas instâncias inferiores, ainda é uma incógnita para a sociedade jurídica, que só tem a
aguardar a vigência da lei para saber como será sua admissibilidade, o quanto significará para
a nova maneira de processamento das lides, e os desdobramentos e consequências dessa
novidade no processo civil.
Uma vez que não há, ainda, regras e estudos aprofundados do assunto, conceituar o
instituto do Amicus Curiae é tentar conciliar entendimentos doutrinários dissonantes e por vezes
contrários, da mesma forma que tentar classifica-lo e definir seus limites, de forma satisfatória,
ainda não é juridicamente possível, diante das lacunas e entendimentos contraditórios existentes
atualmente. Entretanto, considerando a realidade brasileira do instituto, tecer-se-ão algumas
conclusões.
Logo, o amigo da corte não atua em prol de um indivíduo ou uma pessoa singular, ele
age em prol de um interesse, que pode, até mesmo, não ser titularizado por ninguém, apesar de
ser compartilhado difusa ou coletivamente por um grupo de pessoas, as quais provavelmente
serão afetadas pelos efeitos da decisão prolatada. E essa é a razão que enseja a participação
desse terceiro como sujeito do processo, a circunstância de ser ele o legítimo portador de um
interesse que ultrapassa a esfera jurídica de um indivíduo e que, por isso mesmo, é um interesse
metaindividual, típico de uma sociedade pluralista e democrática.
Na lição de Didier (2012, p. 420), o amigo da corte integra o quadro dos sujeitos
processuais, ao lado do magistrado, das partes e dos auxiliares. Entretanto, cabe destacar que o
Amicus não postula ou apresenta pedidos, não possui titularidade da relação jurídica e tampouco
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possui ônus, poderes ou deveres, e por tais razões, não pode ser equiparado às partes do
processo. Da mesma forma, não podem ser igualados aos auxiliares, visto que estes estão
investidos do múnus públicos, sob a autorização do juiz, não tendo vínculo ou qualquer afetação
com a decisão a ser prolatada, o que muitas vezes acontece com o amigo da corte, além de
estarem, apesar de não se tratar de rol taxativo, elencados no art. 139 do CPC (BRANDT
JUNIOR, 2011, p. 17-18).
Destaca, ainda, Didier (2012, p. 420) que a figura estudada não pode ser confundida
com os peritos, já que “esses têm a função clara de servir como instrumento de prova, e, pois,
de averiguação do substrato fático”, o que é complementado por Del Prá (2011, p. 82), quando
afirma que os peritos são submetidos a regime próprio estabelecido pelo CPC e tem natureza
jurídica singular, recebendo honorários e servindo como instrumento de prova no processo.
Além disso, diz-se que não pode ser sobreposto à figura do assistente, já que a
assistência se dá apenas de duas formas: simples, quando o assistente intervém na causa
auxiliando uma das partes, em desfavor da outra, com o intuito de influenciar a uma sentença
que lhe seja favorável; ou litisconsorcial, quando o terceiro não busca apenas uma sentença
favorável, mas passa a atuar efetivamente no processo e será diretamente afetado pela decisão
prolatada (BRANDT JUNIOR, 2011, p. 23). O Amicus Curiae, diferentemente, e a princípio,
busca apenas auxiliar o juízo ou esclarecer questões de fato e de direito, não sendo coadjuvante
de nenhuma das partes do processo.
Confirmando esse entendimento, Del Prá (2011, p. 64) afirma que não há essa igualdade
com o assistente pois este intervém voluntariamente, ao verificar que há interesse próprio, em
busca de algum benefício em sua própria esfera jurídica, o que não ocorre com o amigo da
corte, que atua em prol da coletividade, de um grupo ou instituição, ou até de interesses
eminentemente públicos, mas não em nome de interesse próprio.
Por sua vez, Morais (apud BISCH, 2010, p. 121), quanto ao papel de salvaguardar o
bom direito e a justiça, que muitos atribuem ao instituto, assevera que essa visão induziria a
dois erros: vislumbrar a atuação do Amicus Curiae como obrigatória, enquanto certo “fiscal da
lei”, e enquadrar o Ministério Público (MP) como Amicus Curiae nas lides em que atua como
custos legis. Assim, em sua visão, o Amicus seria um auxiliar de intepretação plural das questões
constitucionais, da mesma forma que Gontijo (apud BISCH, 2010, p. 121) o define como um
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canal de comunicação entre a sociedade civil organizada e o Judiciário, além de ser uma
garantia institucional para os cidadãos poderem influenciar a tomada de decisões pelo STF.
Outrossim, uma vez promulgada a Lei 13.105/2015, que incluiu o Amicus Curiae no
Capítulo V do Livro II, espaço reservado às modalidades de Intervenção de Terceiros,
Marinoni, Arenhardt e Mitidiero (2015, p. 209-211, grifo nosso) esclarecem que
Pergunta-se, então,
processual, também não possui equivalência com nenhum outro partícipe, de modo idêntico,
seja auxiliar ou assistente, cabendo defini-lo como um terceiro especial com características
próprias.
2.3 Classificação
No tocante ao primeiro critério, pode-se dizer que há casos em que o amigo da corte
será considerado como público, já que o interventor será uma pessoa ou um órgão do próprio
Estado, e por isso a doutrina norte-americana o chama de “governamental”. Em outras
situações, no entanto, esse terceiro poderá ser uma entidade privada, uma empresa, um
indivíduo, uma associação de classe, uma organização não governamental e até um grupo -
minimamente - organizado, casos em que será o Amicus Curiae entendido como particular ou
privado.
Cabe salientar, contudo, que os amici públicos, por mais que sejam governamentais, não
tutelam por interesses do governo, do Estado, pois para isso existem as advocacias públicas,
como a Advocacia Geral da União, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional ou as
Procuradorias dos Estados. O termo “público” é empregado de acordo com o regime jurídico
da pessoa interveniente, ou seja, pessoa jurídica de direito público. Exemplos desse tipo de
amigo da corte já admitidos no Brasil estão a União Federal e as demais pessoas de direito
público federal, estadual, municipal e distrital, através da Lei 9.469/97, a CVM, o INPI, o
CADE, e a OAB, nos termos das leis já citadas anteriormente nesse trabalho.
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Bueno (2008, p. 523) destaca que, no Brasil, todos os casos em que a lei elege alguém
em específico para agir na qualidade de Amicus Curiae, a hipótese é de amicus curiae público
Talvez a causa de tal realidade seja que a principal intenção do legislador, que permitiu essa
intervenção (anômala ou sui generis, como destaca o autor), era a de trazê-los ao processo para
tutelar tão somente pelos interesses institucionais, que transcendem o litígio concreto, e não
para manifestarem-se por direitos seus, enquanto pessoas de direito público. Del Prá (2011, p.
70), no mesmo sentido, assevera que essas intervenções dos Amici públicos se devem ao seu
poder de polícia e à sua obrigatoriedade de fiscalização de determinadas situações que, muitas
das vezes, são discutidas no judiciário.
Na mesma linha, Del Prá (2011, p. 135, grifo do autor), sobre a intervenção provocada,
afirma que
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Vale ressaltar que a intervenção será provocada mesmo quando requerida por uma das
partes litigantes, ou quando o juiz, apesar de não haver prescrição legal, sente a necessidade de
ouvir o que um terceiro conhecedor da matéria tem a dizer sobre a questão conflituosa do
processo. Por outro lado, a intervenção será espontânea se o amigo da corte vier aos autos por
iniciativa própria (comparecimento voluntário) mesmo nos casos em que a lei determine que
ele deva ser intimado para intervir, pois, como já referido, obrigatória é a sua intimação, e sua
manifestação é facultativa.
Por fim, a terceira forma de classificação trazida por Bueno (2008) é fundada na razão
pela qual o terceiro intervém como Amicus Curiae, e divide-se em intervenção vinculada,
procedimental ou atípica.
Portanto, a intervenção será atípica nos casos em que não houver indicação de quem
poderá ser amicus, nem de quando ele pode intervir, tampouco de que forma intervirá e qual
será o procedimento a ser adotado. Bueno (2008, p. 532, grifo do autor) conceitua:
Serão aqueles casos, destarte, “por construir”, que somente o dia-a-dia forense
conseguirá, aos poucos, identificar. Justamente porque ainda não estão
tipificados no sentido de “previstos expressamente” em alguma “lei” ou em
algum “Código”, optamos por identificar essas modalidades interventivas
como “atípicas”.
Uma vez que não há, como já referido, uma regulamentação específica para o Amicus
Curiae, mas diversas previsões isoladas em leis federais, necessário se faz que cada texto legal
seja analisado de forma individualizada para identificação dos limites e momentos adequados
de intervenção, bem como dos direitos que o interveniente possui no trâmite e procedimento
processual, observando de forma subsidiária o Código de Processo Civil vigente.
Por primeiro, necessário ressaltar que a atuação dos Amici é regida pela imparcialidade,
ou institucionalidade, do interveniente. Nesse sentido, para que seja possibilitada a intervenção,
esta deve ser imparcial e digna de confiança do magistrado, sem qualquer interesse próprio, que
não o institucional ou social, na causa, até porque, no entendimento de Bueno (2008, p. 538),
todos aqueles que atuam em prol do proferimento de uma decisão jurisdicional, que não são
partes ou terceiros interessados, estão sujeitos ao impedimento e à suspeição de que tratam os
arts. 134 e 135 do CPC.
Importante destacar, por oportuno, que a principal razão de ser do Amicus Curiae é a
auxiliar o juízo. Nessa esteira, necessária a relevância e a utilidade da manifestação, bem como
a qualidade das informações que serão prestadas pelo interveniente, de modo que sua
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Nada impede, contudo, que o Amicus Curiae venha a intervir desde logo, a exemplo do
assistente, conforme estabelece o art. 50, parágrafo único, do CPC vigente. Da mesma forma,
em qualquer outro momento poderá o interveniente pedir sua habilitação no processo,
fundamentando a conveniência de sua participação e a possibilidade de auxílio ao juízo no
proferimento da decisão.
Nesse sentido, inclusive, é a previsão do art. 14, §7º, da Lei 10.259/01, a qual
estabeleceu os Juizados Especiais Federais, que determina que “eventuais interessados, ainda
que não sejam partes no processo, poderão se manifestar, no prazo de trinta dias”. Não se fixa
quando é o momento específico para a intervenção, mas fixa-se o prazo de 30 dias após o
requerimento do interessado em atuar como Amicus Curiae e o deferimento do pedido pelo
magistrado. Da mesma forma, o caput do art. 138 do novo CPC prevê o prazo de 15 dias, a
contar da intimação, para a manifestação do terceiro.
Outro fator a ser analisado é a recorribilidade, ou não, da decisão que admite ou rechaça
a intervenção do Amicus Curiae. Nos casos de intervenção determinada em lei não há que se
falar em inadmitir o interveniente, mas nas hipóteses de intervenção espontânea, tal decisão
cabe ao relator e depende da análise da lei que trata do assunto.
Tomando por exemplo o caso do CADE e da CVM, cuja intimação é obrigatória, nos
termos das Leis 8.884/94 e 6.85/76, respectivamente, poderá qualquer deles, não tendo sido
devidamente intimado, requerer sua intervenção. Analisados os pressupostos de
admissibilidade, o juízo decidirá se admite ou não o interveniente a agir como Amicus Curiae,
e essa decisão será, sim, recorrível, conforme expõe Del Prá (2011, p. 152-153):
Outrossim, há a previsão do art. 7º, §2º da Lei 9.868/99, estabelecendo ser irrecorrível
a decisão que permitir a manifestação de outros órgãos e entidades na ADI e na ADECON.
Contudo, essa irrecorribilidade expressa se limita às decisões que admitem a intervenção,
silenciando quanto à decisão que inadmite a manifestação do terceiro como Amicus Curiae. Del
Prá (2001, p. 155), quanto a esse caso, a despeito da regra de impossibilidade de recurso quanto
às decisões interlocutórias prevista na citada lei e da controvérsia doutrinária, acredita ser
possível recorrer da decisão denegatória considerando que o Amicus Curiae defende interesses
de toda a coletividade, poder esse outorgado pela lei, e dessa forma presentes os pressupostos
recursais de interesse, legitimidade e sucumbência.
34
Além disso, o art. 138 do novo CPC estabelece que a decisão do juiz ou relator acerca
da admissão do Amicus Curiae será irrecorrível, e sobre isso a doutrina diverge. Didier Jr (2015,
p. 524) e Neves (2015, p. 138) entendem taxativa a previsão legal, mas Amaral (2015, p. 217)
entende ser cabível agravo de instrumento (ou recursos internos, no âmbito dos tribunais), em
caso de indeferimento, já que se trata de hipótese de intervenção de terceiro. Entretanto, quanto
a sua legitimidade recursal, o art. 1º do citado artigo estabelece que não haverá possibilidade de
recursos, apenas de interposição de embargos de declaração e, conforme o § 3º, recurso de
decisões nos incidentes de resolução de demandas repetitivas.
E, na mesma lógica, considerando que os Amici agem, muitas vezes, como fiscais da lei
e com poder de polícia, há que ser estendida a eles a legitimidade reconhecida ao Ministério
Público enquanto custos legis, por exemplo, de acordo com o art. 499, §2º, do CPC, ou ao
terceiro juridicamente interessado, que demonstrando o nexo entre a decisão recorrida e seus
interesses e/ou direitos que serão afetados por aquela, terá legitimidade para tanto.
Assim, destacando que o objetivo do amigo da corte é auxiliar o juízo a proferir a melhor
decisão possível, seu direito a recorrer de decisões que vão de encontro a esse propósito e à
correta prestação jurisdicional é evidente e salutar, apesar dos entendimentos doutrinários e
jurisprudenciais contrários no cenário jurídico brasileiro hodierno.
Em suma, pode-se afirmar que em todas as hipóteses em que a lei autoriza a intervenção
voluntária do Amicus Curiae, as decisões sobre sua admissão (e sobre sua forma de agir,
inclusive) são passíveis de recurso, cabendo apenas a análise individual da legitimidade do
candidato a interventor para recorrer. (DEL PRÁ, 2011, p. 158)
Quanto a esses poderes dos amigos da corte, destaca Bueno (2008, p. 560, grifo do autor)
que
35
Já os deveres desse terceiro, de forma geral, nos termos do art. 14 do CPC, serão:
Relativamente à produção de provas, Bueno (2008, p. 566) aduz que ao amigo da corte
deve ser franqueado comprovar o que está alegando em juízo, assegurando a utilidade de sua
intervenção e a comprovação, por meios idôneos, de que tais alegações merecem guarida. Mas
no caso de entendimento diverso, há, ao menos, a possibilidade de o terceiro sugerir ao julgador
que se produzam outras provas além das produzidas pela parte, para o bom saneamento da lide.
De outra banda, cabe analisar os efeitos da decisão prolatada em processo onde houve
intervenção do Amicus Curiae. Tendo em vista que este interveniente não pode sequer conduzir
36
o processo, e que não é considerado parte, nem assistente litisconsorcial, visto que não é titular
de nenhum direito deduzido em juízo, ele não ficará sujeito à coisa julgada, apesar de muitas
vezes restar afetado pela decisão (BUENO, 2008, p. 594).
Diante do exposto, ainda cabe muito estudo acerca das classificações, limites e poderes
dos Amici Curiae no direito processual pátrio, principalmente diante da Lei 13.105, promulgada
recentemente, e que, sem afastar as polêmicas acerca do instituto, generalizou a sua intervenção
a praticamente todos os processos, pluralizando e tentando qualificar as decisões judiciais de
todos os âmbitos da justiça brasileira.
37
Nos termos do Glossário Jurídico do site do próprio STF, o verbete Amicus Curiae ou
"Amigo da Corte" é forma de
Nesse sentido, em recente estudo acadêmico sobre o tema, Medina (2010, p. 113-127)
analisa os dados obtidos dos relatórios do STF sobre o tema, e define a influência do Amicus
Curiae a partir do exame dos processos em que suas razões foram juntadas aos autos. De um
total de 1.440 pedidos de ingresso de terceiros, 85,8% tiveram seu pedido deferido, o que
demonstra que o Supremo possui uma postura extremamente aberta à participação de amigos
da corte, vez que grande parte dos indeferimentos se deu por ausência de fundamentação
coerente, pedido fora de prazo (após o término da instrução processual ou às vésperas do
julgamento), ou ausência de representatividade adequada.
Ainda sobre o citado estudo, concluiu-se que 89,8% dos intervenientes eram pessoas
jurídicas, mas que as pessoas físicas também têm franqueado o acesso à jurisdição
constitucional. Dentre as pessoas jurídicas, há preponderância de associações (40%) e de
entidades sindicais (19%), sendo que também são, comumente, protagonistas as organizações
profissionais, as organizações privadas em prol de direitos fundamentais, além de órgãos
públicos e unidades governamentais.
Medina (2010, p. 27, grifo nosso) ainda assevera, em suas pesquisas, que
De igual forma, Mattos (2010, p. 117, grifo nosso) ressalta a importância da, de certa
forma recente, participação do Amicus Curiae como instrumento de democratização das
decisões:
Bueno Filho (2002), por sua vez, sustenta que cabe à sociedade, e principalmente aos
advogados, a tarefa de contribuir para que o Supremo se convença, cada vez mais, da utilidade
da participação de terceiros nessa tarefa importantíssima, com a intenção de alargar o juízo de
admissibilidade do instituto, abrindo-o a juristas ou personalidades representativas.
Por essa razão, e conforme descrito nos capítulos anteriores, é que se pode afirmar que
além do, a nosso ver, importante sentido democrático da participação, o Amicus Curiae vem
para enriquecer o debate entre as partes, trazendo aos autos informações e experiências de
implicações de vários aspectos (políticas, jurídicas, sociais, culturais, técnicas e econômicas),
além de fortalecer o princípio da fundamentação racional das decisões, definido no art. 93, IX,
da CF/88.
Assim, passemos a analisar como o STF tem enfrentado a matéria, com a análise de
algumas das decisões dos Ministros sobre a admissão, os poderes e os limites da intervenção.
Uma das ADIs mais polêmicas decidas pelo STF até hoje é a ADI nº 3510/DF, acerca
da inconstitucionalidade do art. 5º e parágrafos da Lei 11.105/2005, cujo tema era a
possibilidade de pesquisas científicas com o uso de células tronco embrionárias. Na ação, foram
admitidos como Amicus Curiae o Centro de Direitos Humanos (CDH), o Instituto de Bioética,
Direitos Humanos e Gênero (ANIS), a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, o
Movimento em Prol da Vida (MOVITAE), e diversos especialistas no assunto. Todos eles
39
puderam, em audiência pública, fazer suas sustentações orais e contribuir com suas opiniões e
entendimentos, conforme bem asseverou o Ministro Relator em sua decisão:
Vistos, etc.
Ante a saliente importância da matéria que subjaz a esta ação direta de
inconstitucionalidade, designei audiência pública para o depoimento de
pessoas com reconhecida autoridade e experiência no tema (§ 1º do art. 9º da
Lei nº 9.868/99). Na mesma oportunidade, determinei a intimação do autor,
dos requeridos e dos interessados para que apresentassem a relação e a
qualificação dos especialistas a ser pessoalmente ouvidos.
2. Pois bem, como fiz questão de realçar na decisão de fls. 448/449, “a
audiência pública, além de subsidiar os Ministros deste Supremo Tribunal
Federal, também possibilitará uma maior participação da sociedade civil no
enfrentamento da controvérsia constitucional, o que certamente legitimará
ainda mais a decisão a ser tomada pelo Plenário desta nossa colenda Corte”.
Sem embargo, e conquanto haja previsão legal para a designação desse tipo
de audiência pública (§ 1º do art. 9º da Lei nº 9.868/99), não há, no âmbito
desta nossa Corte de Justiça, norma regimental dispondo sobre o
procedimento a ser especificamente observado.
3. Diante dessa carência normativa, cumpre-me aceder a um parâmetro
objetivo do procedimento de oitiva dos expertos sobre a matéria de fato da
presente ação. E esse parâmetro não é outro senão o Regimento Interno da
Câmara dos Deputados, no qual se encontram dispositivos que tratam da
realização, justamente, de audiências públicas (arts. 255 e 258 do RI/CD).
Logo, são esses os textos normativos de que me valerei para presidir os
trabalhos da audiência pública a que me propus. Audiência coletiva, realce-
se, prestigiada pela própria Constituição Federal em mais de uma passagem,
como verbi gratia, o inciso II do § 2º do art. 58, cuja dicção é esta: “Art. 58.
O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e
temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no
respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. (...) § 2º. Às
comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe: (...) II – realizar
audiências públicas com entidades da sociedade civil; (...)”
4. Esse o quadro, fixo para o dia 20.04.2007, das 09h às 12h e das 15h às 19h,
no auditório da 1ª Turma deste Supremo Tribunal Federal, a realização da
audiência pública já designada às fls. 448/449. Determino, ainda:
a) a expedição de ofício aos Excelentíssimos Ministros deste Supremo
Tribunal Federal, convidando-os para participar da referida assentada;
b) a intimação do autor, dos requeridos e dos amici curiae, informado-lhes
sobre o local, a data e o horário de realização da multicitada audiência;
c) a expedição de convites aos especialistas abaixo relacionados: [...]
Às Secretarias Judiciária e das Sessões para as providências cabíveis.
Publique-se. Brasília, 16 de março de 2007.
Ministro CARLOS AYRES BRITTO (Relator).
(BRASIL, 2007, grifo nosso)
Outra ação polêmica que tramitou no STF foi a ADPF 132/RJ, que discutia a
possibilidade de equiparação entre o regime jurídico da união estável e da união homoafetiva,
bem como no reconhecimento desta última como instituto jurídico. É de conhecimento público
que esse assunto tem gerado muitas discussões e debates na sociedade brasileira, e, por isso
mesmo, foi necessário que uma ação como essa fosse amplamente debatida no Supremo pelos
Ministros, mas que também fosse ouvida a sociedade, já que a vida, ou a situação jurídica, de
milhares de brasileiras e brasileiros dependia do que ali seria decidido.
Portanto, foram admitidos e atuaram nessa ação como Amicus Curiae: o Grupo Gay da
Bahia (GGB); o Escritório de Direitos Humanos do Estado de Minas Gerais (EDH); o Centro
de Referência de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado
de Minas Gerais (GLBTTT); o Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual (CELLOS); o
Grupo Arco-Íris de Conscientização Homossexual (GAI); a Associação Brasileira de Gays,
Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT); o Instituto Brasileiro de Direito de
Família (IBDFAM); a Sociedade Brasileira de Direito Público (SBDP); o Instituto de Bioética,
41
Direitos Humanos e Gênero (ANIS); e, entre outros, a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB).
Junte-se, oportunamente.
2. Trata-se de petição pela qual a Sociedade Brasileira de Direito Público
(SBDP) requer seu ingresso no feito, na condição de amicus curiae.
3. Pois bem, a Lei nº 9.882, de 03 de dezembro de 1999, que dispõe sobre o
processo e julgamento da arguição de descumprimento de preceito
fundamental, não traz dispositivo explícito acerca da figura do amicus curiae.
No entanto, vem entendendo este Supremo Tribunal Federal cabível a
aplicação analógica do art. 7º da Lei nº 9.868, de 10 de novembro de 1999
(ADPF 33, Rel. Min. Gilmar Mendes; ADPF 46, Rel. Min. Marco Aurélio e
ADPF 73, Rel. Min. Eros Grau). E o fato é que esse dispositivo legal, após
vedar a intervenção de terceiros no processo de ação direta de
inconstitucionalidade, diz, em seu § 2º, que “o relator, considerando a
relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por
despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior,
a manifestação de outros órgãos ou entidades”. Não obstante o § 1º do art. 7º
da Lei nº 9.868/99 haver sido vetado, a regra é, segundo entendimento deste
Supremo Tribunal Federal, a de se admitir a intervenção de terceiros até o
prazo das informações.
4. Sucede que a própria jurisprudência desta nossa Corte vem relativizando
esse prazo. Nas palavras do Ministro Gilmar Mendes, “especialmente diante
da relevância do caso ou, ainda, em face da notória contribuição que a
manifestação possa trazer para o julgamento da causa, é possível cogitar de
hipóteses de admissão de amicus curiae, ainda que fora desse prazo [o das
informações]” (ADI 3.614, Rel. Min. Gilmar Mendes). Nesse sentido foi
também a decisão proferida pelo Ministro Gilmar Mendes na ADPF 97.
5. Ante o exposto, considerando a relevância da matéria e a representatividade
da Sociedade Brasileira de Direito Público (SBDP), defiro a sua inclusão no
processo, na qualidade de amicus curiae.
À Secretaria, para as devidas anotações.
Publique-se.
Brasília, 29 de abril de 2009.
Ministro CARLOS AYRES BRITTO – Relator. (BRASIL, 2009, grifo nosso).
da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) e alguns outros interessados. Tal ação ganhou
popularidade nacional pois um dos casos que podem ser influenciados pela decisão do Supremo
é a biografia não autorizada do cantor Roberto Carlos, que rendeu inúmeras notícias no país e
milhares de exemplares recolhidos. O julgamento da ação foi realizado no último dia 10 de
junho, e a decisão foi no sentido de afastar a exigência da autorização prévia para a publicação
de biografias, conforme sustentaram alguns dos Amici Curiae em suas manifestações.
À Secretaria, para juntada das petições referidas, bem como para a inclusão
dos nomes dos interessados e de seus respectivos patronos na autuação.
Publique-se.
Brasília, 29 de outubro de 2007.
Ministro JOAQUIM BARBOSA – Relator. (BRASIL, 2007, grifo nosso).
Nesse contexto, Bueno (2008) faz a seguinte reflexão: não devemos nos perguntar o que
é ou quem é o Amicus Curiae, mas quem é que pode levar ao Estado-Juiz as vozes dispersas da
sociedade civil naqueles casos em que, certamente, determinados interesses difusos e coletivos
serão sensivelmente afetados pelo que vier a ser decidido jurisdicionalmente? Por certo que os
Ministros, isoladamente, não possuem capacidade de falar por todos os brasileiros, seus
sentimentos e princípios morais e éticos, e é aí que o Amicus ganha sua razão de existir.
Mattos (2010, p. 119, grifo nosso), por sua vez, afirma que não só é direito do povo se
manifestar nas ações que tratem da Carta Magna, como também é um dever:
3.2 Uma breve análise da jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande
do Sul
45
Da mesma forma, o caso abaixo em que, poucos meses antes da entrada em vigor da Lei
nº 13.105/2015 – Novo Código de Processo Civil, e ainda sem definição clara de seus poderes
e limites, a Vigésima Segunda Câmara Cível do TJ/RS indefere a intervenção da OAB como
Amicus Curiae em Mandado de Segurança:
CONCLUSÃO
Percebe-se, então, que o amigo da corte evoluiu ao longo das décadas e das legislações
de forma gradual. Apareceu de forma tímida e, atualmente, vem sendo aceito e previsto em
diversas leis, com diferentes nomenclaturas e objetivos, sobretudo com a recente promulgação
do novo Código de Processo Civil, que é um marco importante para o instituto.
Além disso, é possível verificar que a intervenção do Amicus Curiae nos processos de
controle de constitucionalidade perante do STF tem feito com que as ações tenham maior
repercussão nacional, de forma que a sociedade brasileira pode participar das discussões que
transcendem o interesse das partes e atingem cada um e a todos, indiretamente.
Esse terceiro traz, cada vez mais, ao poder judiciário a pluralidade de interpretações,
reproduzindo as vontades e os valores da população, e permitindo que a Constituição e as outras
normas brasileiras sejam interpretadas com base na realidade do país e de sua constante
49
Por outro lado, a forma como a nova lei será recepcionada pelos Tribunais, superiores e
principalmente inferiores, e pelo primeiro grau de jurisdição, ainda é uma incógnita, eis que até
então a intervenção do Amicus Curiae se limitava a poucos casos, como referido anteriormente.
O que não se pode negar, em conclusão, é que o art. 138 da Lei 13.105/15 é passo
importante para a democracia brasileira e para o poder judiciário, merecendo destaque pelo
progresso e pelo avanço na busca do ideal de justiça, em meio a tantas injustiças e incoerências
em que estamos inseridos na sociedade atual.
50
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