Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tal atividade pode não reclamar a intervenção do Direito, assim como a liberdade para a
mesma pode existir, mas não corresponde a uma virtude política que tem de ser protegida
numa sociedade democrática e evoluída.
O Direito não deve exprimir uma moral dominante, assim como o Direito não pode ser amoral
que torne bens ou valores juridicamente protegidos interesses particulares que não são
essenciais para as condições de desenvolvimento pessoal.
1
VALIDADE PENAL DAS NORMAS INCRIMINADORAS
A dignidade punitiva não pode ser confirmada quando se estiver perante o exercício de
liberdades constitucionais (ex: liberdade de expressão do pensamento).
Por outro lado, não há incriminações obrigatórias como uma espécie de qualidade
própria dos factos ou uma exigência suscitada por eles (tendo em conta que existem
políticas criminais alternativas à restrição da liberdade/punição).
2
Para a Prof. Mª Fernanda Palma é preocupante a assertividade do Tribunal Constitucional ao
apelar ao conceito de bem jurídico, na medida em que utilizam este conceito sem a utilização
de uma explicitação de uma função e de conteúdo compreensivo, sendo o bem jurídico
utilizado como crivo na constitucionalidade de normas incriminadoras.
Para a Prof, há normais penais que não têm um bem jurídico objetivo e mesmo assim, será
necessária a tutela penal (acórdão dos animais de companhia). Assim como há normas que
não terão como principal preocupação a tutela de um bem jurídico e mesmo assim, não serão
inconstitucionais.
Para a Profª, o bem jurídico tem relevância sim, mas só como um meio instrumental, não
sendo um dogma em si mesmo. Note-se que há bens com dignidade punitiva e mesmo assim,
existem meios alternativos à pena de prisão (problema da necessidade). Por exemplo, há
condutas que podem afetar bens jurídicos, mas não carecem de tutela penal, pois são
protegidos mais eficazmente de outra forma. Exemplo: Consumo de droga.
Enquanto a Prof. vê o bem jurídico de uma perspetiva redutora, Roxin vê o bem jurídico de
um modo objetivo (bem jurídico essencial para a dignidade penal, sendo o objeto de tutela da
norma). No mesmo sentido, o Prof. Figueiredo Dias afirma que temos de identificar um bem
jurídico-penal para a norma não ser inconstitucional. Para estes autores, quando não existe um
bem jurídico-penal e o mesmo for tido como essencial, há a violação do princípio da dignidade
punitiva.
Ora, para estes autores, como utilizam uma categoria com uma função de critério quase
estanque, acabam por confrontarem-se com realidades inadequadas ao critério adotada e cuja
exclusão constitucional pode ser inadequada às exigências sociais e culturais que presidem à
própria utilização do bem jurídico.
Posto isto, o conceito de bem jurídico só tem um valor de verdade quando analisado nas
diversas vertentes práticas. Por isso, o bem jurídico pode ser utilizado contraditoriamente, não
podendo ser utilizado o conceito sem qualquer tipo de argumentação.
Para a Prof., não devemos discutir a constitucionalidade de normas incriminadoras com base
no bem jurídico (conceito instável, mutável e opinativo), mas sim em face da Constituição
construirmos uma argumentação válida. Por isso, este tipo de argumentação procura os
limites negativos das normas incriminadoras, identificando campos que não poderão ser
validamente constitucionais, na medida em que não são integráveis no sistema constitucional.
Claro que a delimitação do conceito de bem jurídico pode auxiliar neste tipo de
argumentação constitucional, mas não basta invocar um direito penal do bem jurídico cujo
conteúdo não é explicito.
3
O QUE PODERÁ SER ESSENCIAL SOB A COBERTURA DO CONCEITO DE BEM JURIDICO?
Para a Prof, é fundamental uma objetividade factual do interesse protegido e não uma mera
ideia abstrata e simbólica (o desvalor moral não é suficiente para a incriminação). Ou seja, é
essencial um significado inter-relacional, na medida em que tenha um significado comum,
uma necessidade coletiva que afeta as condições de existência.
Note-se que não deixa de existir uma utilização da sexualidade alheia como fonte de lucro e
uma redução da dimensão essencial da autonomia do prostituído a uma coisa negociável.
Assim, não deixa de existir um “quid” digno de proteção por força do argumento do
consentimento ou da opção da vítima.
É preciso saber se determinado direito, numa dimensão objetiva, é irrelevante para o Direito
Penal independentemente da adequação a uma qualquer definição de bem jurídico prévia. Ou
seja, não interessa saber qual o conceito de bem jurídico, mas sim o merecimento de
proteção.
Para a Prof., dado que não há uma relação necessária entre o lenocínio e uma situação de
necessidade económica e social no art. 169º, não estamos perante um problema de exploração
da necessidade. Para além disso, estamos perante um direito objetivo dado que o Estado pode
proteger pois tem como significado preservar a pessoa contra a sua “coisificação” e exploração
por outros, independentemente da sua vontade. De acordo com esta lógica, a noção de
exploração prescinde da posição da vítima, assim como no tráfico de pessoas.
4
comportamento do agente independentemente das conceções mais liberais
relacionadas com a opção de vida profissional.
Para a Prof, seria neste momento mais produtivo um caminho intermédio: a fundamentação
na conjugação entre a elevada probabilidade de aproveitamento de uma concreta situação de
carência e uma direção e aproveitamento económico da vida sexual profissionalizada dessas
pessoas, assumindo um controlo de uma dimensão nuclear de cada pessoa, o seu corpo e
sexualidade.
Acórdão de 2004: Contraprova da carência social no caso concreto como critério de exclusão
da tipicidade.
Este argumento de que a norma atual, por precisamente não permitir uma adequada
diferenciação entre dimensões “não seriamente danosas” e outras com essa seriedade, seria
só por si inconstitucional, na medida em que viola o princípio da tipicidade?
Jurisprudência penal constitucional: A tarefa do T.C. é reduzir a norma até ao seu núcleo não
inconstitucional, procedendo ao expurgo das dimensões normativas inconstitucionais e não
uma orientação ideológica de sentido único, ou seja, que normas como a do lenocínio não se
integrariam em absoluto na Constituição. Poderão existir caminhos alternativos para a solução
legislativa compatível com a Constituição.
5
6