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Definição
a. Perspectiva positivista: São aqueles direitos essenciais que se caracterizam
como fundamentais pela sua positivação constitucional. O importante, nesse
caso, é a sua dimensão instrumental. ➔ Aqui, o direito é fundamental se o
ordenamento diz que ele é. Seu ponto negativo é a sua lógica restritiva que
depende em peso do Estado, mas ao mesmo tempo, sua positivação garante
um reconhecimento para a eficácia desses direitos, já que acaba não só
existindo em um plano ideal.
Pontos positivos: Impossibilidade de supressão, garante segurança jurídica.
Aplicabilidade imediata. Art. 5°, § 1°.
b. Perspectiva não-positivista: A fundamentalidade dos direitos estão
correlacionadas à dignidade da pessoa humana como valor central. São, assim,
responsáveis pela garantia e efetivação de direitos que asseguram a dignidade
humana (individuais, sociais e políticos); ➔ Analisa o teor (aquilo que ele
protege) do direito para dizer se é fundamental ou não. Importante ressaltar
que ele não anula o critério formal.
Ponto negativo: A ideia de dignidade da pessoa humana é um critério
semanticamente manipulável.
Ponto positivo: Cláusula de abertura material (Art 5º, § 2°) ➔ aquisição de
novos valores, princípios, ou mesmo da remodelação do conteúdo das normas
positivadas, pode não ser comportada pela constituição vigente. A cada
momento surgem reivindicações e na medida em que elas não são atendidas
pelo Estado, a eventual rigidez do sistema poderia impedi-las de serem
abraçadas com a nota da fundamentalidade.
Direitos não expressamente positivados podem ser considerados, já que temos
uma constante mutabilidade quanto ao conteúdo dos direitos fundamentais,
tendo em vista que dentro de uma sociedade pode surgir novas necessidades
que devem ser sim consideradas. O catálogo de direitos fundamentais não é
estático, mas dinâmico. Por isso a importância dessa cláusula de abertura,
principalmente no mundo globalizado em que vivemos, na qual o consenso
diplomático entre as nações produz frequentemente tratados que resguardam
direitos humanos diversos.
Conceito:
“São “direitos fundamentais” todos aqueles direitos subjetivos que dizem
respeito universalmente a “todos” os seres humanos enquanto dotados do
status de pessoa, ou de cidadão ou de pessoa capaz de agir.”
Esse conceito traz uma noção de direito subjetivo para definir os direitos fundamentais,
baseando-se numa perspectiva de que o direito passa a depender do sujeito, sendo uma noção
individualista e subjetivista desconsiderando a coletividade. Além disso, essa tal
“universalidade” que está dentro do conceito destes direitos é pautada em uma única
universalidade padrão, a do homem branco. Ademais, a presunção de igualdade dentro
dessa visão vem de um modelo europeu de que “todos somos iguais”, sendo que na realidade,
no Brasil, por exemplo, a sentença correta seria “não somos todos iguais” e esse
reconhecimento é essencial para a consciência dos direitos fundamentais.
1. São sinônimos?
a. Para uma determinada corrente doutrinária dos D. Fundamentais se
naturalizam a partir de uma constituição, enquanto os D. Humanos, pela sua
amplitude e pretensão de universalidade, se materializando no plano
internacional dos tratados;
b. Direitos humanos segundo Peres Luno: “Conjunto de faculdades que
concretizam as exigências de dignidade, liberdade e igualdades humanas, as
quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em
nível nacional e internacional.”
2. Como o Brasil recepciona os tratados internacionais que versam sobre os direitos
humanos?
a. Teoria da junção de vontades/dos atos complexos: Necessária a conjunção de
vontades do poder Executivo + Legislativo (Art 49, I; 84, III CF)
b. Antes da EC nº45/2004:
● Debate acerca do Art 5º, §2º gerou duas opiniões controversas: Alguns
doutrinadores acreditavam que o texto normativo dava a ideia de que
os tratados internacionais teriam a mesma importância que as normas
constitucionais. No entanto, o STF discordava, afirmando que na
verdade teriam status equivalente às leis ordinárias.
c. Mudança introduzida pela EC nº45/2004:
● Introduziu o §3º no Art 5º da CF:
○ As normas editadas entre a promulgação da CF e a emenda 45
se encontram no status da supralegalidade. Ex: Prisão do
depositário infiel passou a ser ilegal.
○ As normas editadas após a promulgação da emenda 45 pelo
procedimento de emenda (quórum rígido) previsto no §3º
teriam STATUS CONSTITUCIONAL -> Convenção
internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
● Crítica de Cansado Trindade ao §3º: Mal concebido, mal redigido e
mal formulado. Seria um retrocesso em relação ao modelo mais aberto
estabelecido no §2º. Nos casos dos tratados já aprovados, criou-se uma
situação confusa, dando tratamento diferenciado e priorizando um
governo central forte, enquanto pouco se preocupa com a proteção do
ser humano
Pode ser chamado de gerações também, só que o termo “gerações” acaba dando uma ideia de
que cronologicamente uma geração acaba anulando a outra, logo, melhor falar em
“dimensões”. Sendo que essas dimensões coexistem.
1. Direitos Individuais:
● Esses são tipos de direitos onde um indivíduo pode exercer seu direito de forma
absoluta, com identificação clara do titular do direito e sua relação com esse direito.
● A proteção jurídica é facilitada pela identificação precisa do titular do direito.
● Quando esses direitos são violados, o titular pode buscar proteção legal
imediatamente.
● Subdivisões de Direitos Individuais:
○ Direitos Individuais Simples: Exemplos incluem o direito à justa indenização
pela perda definitiva da propriedade.
○ Direitos Individuais Homogêneos: Estes envolvem vários titulares individuais
que têm uma relação jurídica em comum.
■ A conexão entre os titulares individuais em uma relação jurídica
comum qualifica esses direitos como homogêneos.
■ Isso frequentemente justifica a proteção coletiva em razão de questões
comuns de direito e fato.
■ Um exemplo pode ser encontrado nas relações de consumo, como o
recall na indústria automobilística.
2. Direitos Difusos:
● São tipos de direitos que não podem ser atribuídos a indivíduos específicos.
● Não é possível identificar quem são os titulares individuais desses direitos.
● Esses direitos estão relacionados com a sociedade em geral e não pertencem a uma
pessoa em particular.
● Características Importantes:
○ O exercício desses direitos requer a ação coletiva, pois não podem ser
exercidos individualmente.
○ Eles envolvem questões que afetam a todos em uma comunidade ou
sociedade.
● Exemplos de Direitos Difusos:
○ Meio ambiente equilibrado e sua proteção judicial: Isso significa que todos
têm o direito de viver em um ambiente saudável e que a sociedade como um
todo é responsável por proteger o meio ambiente.
● Liberdade de expressão jornalística: Refere-se ao direito da imprensa e dos
meios de comunicação de informar o público sem censura, garantindo que a
sociedade tenha acesso à informação.
● Segurança pública: Envolve a responsabilidade coletiva de garantir que todos
os membros da sociedade estejam seguros, incluindo a prevenção de crimes e
a manutenção da ordem.
Em resumo, direitos difusos são direitos que não podem ser atribuídos a indivíduos
específicos, pois se aplicam a toda a sociedade, e sua proteção requer ação coletiva para
benefício de todos. Eles estão relacionados a questões importantes, como meio ambiente,
liberdade de imprensa e segurança pública.
3. Direitos Coletivos
● São uma categoria de direitos que se situam entre os direitos individuais e os direitos
difusos.
● Em vez de pertencerem a indivíduos específicos, esses direitos são compartilhados
por grupos sociais determinados.
○ Há uma indeterminação relativa entre o direito e seu titular individual, o que
significa que não se refere a uma pessoa específica, mas a um grupo de
pessoas.
● Esses direitos são transindividuais, ou seja, aplicam-se a um conjunto de pessoas que
compartilham uma relação jurídica base.
○ Apenas podem ser exercidos coletivamente, o que significa que o grupo em
questão precisa atuar em conjunto para exercer esses direitos.
● Exemplos de Direitos Coletivos:
○ Grupo de profissionais que pertencem a uma ordem regulatória:
■ Sindicato ou associação profissional. Os direitos desses grupos podem
incluir questões relacionadas a condições de trabalho, regulamentação
da profissão, etc.
● Em resumo, direitos coletivos são aqueles compartilhados por grupos sociais
determinados, e sua titularidade não está ligada a indivíduos específicos. Esses
direitos só podem ser exercidos de forma coletiva pelo grupo em questão, e exemplos
incluem questões relacionadas a profissões regulamentadas ou a base territorial de
categorias profissionais.
JAIRO SCHÄFFER
1. A primeira dimensão (LIBERDADE)
Crítica:
Não são direitos humanos, mas sim, direitos de alguns homens brancos e europeus.
Lei- executivo: está para a burguesia.
Processos revolucionários que levaram a burguesia ao poder
Os direitos individuais são importantes, tanto que hoje lutamos ainda para ter diversos deles
(células tronco, aborto, eutanásia), mas não como eles foram historicamente construído”
● Conflito entre direitos fundamentais ➔ Técnica da ponderação ➔Tem um problema, pois
a Constituição autoriza a restrição (de um direito), mas não estabelece quais são os
pressupostos de extensão dessa atividade infraconstitucional.
2. Segunda dimensão (IGUALDADE)
● É a dimensão dos direitos coletivos, novos direitos que possam ser percebidos a partir
dessa dimensão (Direito Ambiental, Direito do Consumidor…). Permite também que
direitos que já são consagrados sejam exercidos coletivamente. Ex.: saúde, SUS.
● tutela de direitos da 2° dimensão de forma coletiva, além da consagração de novos
direitos
● Os direitos e garantias individuais não podem mais ser apreciados a partir de esfera
absoluta de titularidade individual, pois as ações da humanidade, bem como suas
consequências estão concentradas na esfera do difuso, em que se mostra impossível a
determinação específica das titularidades das pretensões: crimes da
macrocriminalidade, invasão da privacidade por meio da internet, agressões contra o
meio ambiente, criminalidade organizada internacional, catástrofes nucleares…
● O cerne deixa de ser o direito individual-egoístico e passa a ser predominantemente
coletivo- e difuso- em que socialização e a coletividade têm papel fundamental.
● Os direitos fundamentais dessa dimensão são direitos da solidariedade humana, pois
não se destinam a pessoas determinadas ou a grupos de pessoas, mas têm por
destinatário toda a coletividade, em sua acepção difusa, como o direito à paz, ao meio
ambiente, ao patrimônio comum da humanidade, de caráter menos unívoco.
● Direito-chave: fraternidade;
● Função do Estado: complexa (omissiva e promocional)
● Eficácia vinculativa da norma: Estado e cidadão;
● Espécie de direito tutelado: coletivo e difuso, com interligação com o direito
individual.
● Normas de eficácia plena são aquelas que desde o seu nascimento, ou seja,
desde a sua entrada em vigor, produz os seus efeitos, sem que para isso seja
necessária a intervenção do legislador ordinário. Exatamente por essa sua
“autossuficiência” elas são normas de aplicabilidade direta, imediata e
integral.
1) por meio do legislador infraconstitucional (art. 5º, XIII e art. 95, parágrafo
único, IV);
2) por outras normas constitucionais (arts. 136 a 141: vigência de estado de sítio e
estado de defesa);
3) através de conceitos jurídicos indeterminados, como bons costumes, utilidade
pública etc. (art. 5º, XXIV e XXV).
Dimensão Objetiva
● No viés da dimensão objetiva dos direitos fundamentais, tais direitos são válidos do
ponto de vista da comunidade, como valores ou fins que esta se propõe a prosseguir,
em grande medida por meio da ação estatal.
● Os direitos fundamentais passaram a se apresentar no âmbito da ordem constitucional
como um conjunto de valores objetivos básicos e fins diretivos da ação positiva dos
poderes públicos, e não apenas garantias negativas dos intereses individuais. Sendo
assim, possuem eficácia sobre todo o ordenamento jurídico e fornecem diretrizes para
os órgãos dos poderes legislativo, executivo e judiciário.
● A partir da dimensão objetiva, existem 3 aspectos nos quais os direitos fundamentais
oferecem critérios de controle da ação estatal e que devem ser aplicados
independentemente de violações a direitos subjetivos fundamentais:
○ Normas de competência negativa: aquilo que está sendo outorgado ao
indivíduo em termos de liberdade/livre-arbítrio, em sua esfera, está sendo
objetivamente retirado do Estado;
○ Pautas interpretativas e critérios para a configuração do direito
infraconstitucional (interpretação conforme a constituição, efeito irradiador
das normas de direitos fundamentais);
○ Dever de proteção e promoção de posições jurídicas fundamentais contra
possíveis violações por terceiros - mandamentos normativos direcionados ao
Estado.
● “Sabemos que a hermenêutica jurídica tem sido estruturada, como um todo, a partir de
uma perspectiva pretensamente universal e que, em realidade, reproduz premissas
e padrões dominantes na sociedade - nomeadamente aqueles compartilhados por
sujeitos dominantes (brancos, masculinos, cisgênero, heterossexuais, para ficarmos
com algumas categorias).” (MOREIRA; DE ALMEIDA; CORBO, 2022, p. 260).
● “Três perguntas devem ser colocadas a respeito da interpretação constitucional em
uma perspectiva permeável ao debate sobre racismo: quem interpreta a
Constituição, que teorias fundamentam essa interpretação e que instrumentos
específicos de interpretação constitucional são empregados.” (MOREIRA; DE
ALMEIDA; CORBO, 2022, p. 260-261)
● “Além da perspectiva dos sujeitos que atribuem sentido à Constituição, a
interpretação constitucional também abarca o estudo de mecanismos e instrumentos
específicos de interpretação das normas nela inseridas.”(MOREIRA; DE ALMEIDA;
CORBO, 2022, p. 264)
● “Mais importante do que a juventude da disciplina, o que parece certo é que a
Constituição como um documento fundador de um sistema e uma comunidade
políticos reflete um texto que é, ao mesmo tempo, muito mais aberto e muito mais
permeado por considerações políticas do que outros ramos do Direito. Isso não é
verdade para todo o texto constitucional. Na verdade, a maior parte do texto da
Constituição de 1988 será bastante específica e até mesmo técnica em suas
disposições. Mas, as suas normas fundamentais, aquelas que lhe dão diretriz,
unidade e sentido, tendem a se revelar nesses termos . É o caso dos direitos
fundamentais em geral, dos princípios fundamentais do Estado e das normas de
combate à discriminação e promoção da igualdade. Para auxiliar os intérpretes na
tarefa de atribuir sentido ao texto constitucional e dele extrair princípios e regras, os
constitucionalistas vêm pensando teorias de interpretação constitucional , além
de princípios de interpretação propriamente constitucionais .” (MOREIRA; DE
ALMEIDA; CORBO, 2022, p. 265).
● “Como, afinal, a interpretação constitucional no plano de sua instrumentalização
pode e deve incorporar a perspectiva de grupos sociais subalternizados? A partir do
que podemos denominar de um princípio de interpretação constitucional
antirracista . Assim como as ideias de máxima concretude ou máxima efetividade
constitucional, esse princípio põe, no cerne dos embates interpretativos acerca da
Constituição, a chamada pergunta do excluído, no plano racial.” (MOREIRA; DE
ALMEIDA; CORBO, 2022, p. 265)
● “O Direito, como sustentamos em outras oportunidades, tem sido
hermeneuticamente construído por meio da exclusão das perspectivas, posições e
reivindicações e determinados agentes minorizados, de tal que sua interpretação e
aplicação segue reproduzindo o ponto vista masculino, branco, heterossexual, ou
seja, o ponto de vista dominante” (MOREIRA; DE ALMEIDA; CORBO, 2022, p.
265)
● “A ideia de fazer a pergunta do excluído pressupõe indagar como uma determinada
interpretação de normas constitucionais afeta grupos raciais minorizados – seja
positiva, seja negativamente. (...) o princípio da interpretação constitucional
antirracista impõe a adoção, entre as interpretações possíveis, daquela que seja
capaz, em maior grau, reduzir as desigualdades raciais, incluir grupos raciais
subalternizados ou promover direitos desses grupos.” (MOREIRA; DE ALMEIDA;
CORBO, 2022, p. 265-266).