Você está na página 1de 4

Fale sobre a Escola da Livre Investigação Científica.

A escola de livre investigação científica do Direito, teve por seu grande


representante François Gény, o qual por principais “Método de interpretação e
fontes do direito privado positivo " (1889) e Ciência e Técnica em Direito
Privado Positivo (1913) ”.

O século XIX foi o denominado século da razão, a qual era entendida


como sinônimo de lei, a razão estaria na lei. A época, vicejavam três escolas
jurídicas positivistas: escola francesa (exegetismo), escola alemã
(jurisprudência dos conceitos) e a inglesa (jurisprudência analítica). Contra
esse apego demasiado ao texto da lei (positivismo jurídico), surgiram várias
reações – escolas jurídicas – as quais tentaram desconstruir a ideia da
sacralidade da lei .

Gény argumenta que a legislação não seria a expressão de um princípio


lógico-racional imposto pela razão, mas a manifestação da vontade do criador
da lei, a qual, nem sempre se expressa da melhor forma. O reflexo do
pensador decorre de seu momento histórico, pois, tendo se passado mais de
cem anos da revolução, a França precisava atualizar suas instituições. Os
magistrados que atuavam distante de Paris, proferiam decisões diferente das
interpretações que seguiam à risca os códigos e ansiavam por uma reforma.
No entender deles, nenhuma legislação poderia ser capaz de prever de
antemão todas as relações sociais .

Vejamos que:

François Gény figura como a expressão mais notória deste


movimento contraexegetista, que restou conhecido como
Escola da Livre Investigação do Direito, cujas bases se
assentam na premissa de que os fatos sociais reclamam uma
postura diversa daquela perfilhada pelos signatários da Escola
da Exegese. Segundo ele, não apenas pela literalidade da lei
resolvem-se os conflitos sociais, mas também pelo manejo de
variáveis como o costume, a analogia e a livre pesquisa
científica realizadas pelo aplicador do Direito. (...) François
Geny busca demonstrar que o intérprete, em determinados
casos, não terá nenhuma alternativa quando, diante de uma
determinada controvérsia para cuja solução as fontes formais
revelaram-se insuficientes, verificar que será necessário valer-
se de outros elementos.

Essa escola de Direito reconhece que a legislação é a fonte principal do


Direito, mas, quando necessário, o intérprete do direito terá que se socorrer em
fontes jurídicas complementares (costume, tradição, autoridade e a livre
investigação). O magistrado deverá tentar entender a vontade do legislador,
não tendo, a época de Gény, sido incluída a jurisprudência como fonte do
Direito. A livre investigação não se submeteria a uma autoridade positiva, mas,
sendo científica, deveria ser livre e basear-se em três princípios: autonomia da
vontade; ordem e interesse público; justo equilíbrio entre os interesses privados
opostos .

Afirma que a norma jurídica seria formada por dois elementos: o dado
(realidade social) e o construído (normas previamente criadas para darem
estabilidade à sociedade). O direito, nesse sentido, não estaria nas leis, mas,
sim, na própria sociedade. O autor compreende que a função social do direito
se realizar para além da legislação, par suprir lacunas normativas, mas, sem
contrariar a lei, ao buscar o equilíbrio das relações sociais. A chamada “livre
interpretação” somente deve ser usada em último caso e diante de uma lacuna
jurídica – falta de lei .

Assim, deveria ser buscada a vontade do legislador, a qual é chamada


de “ocassio legis”, ou ocasião da lei, em suma, tudo aquilo que, de relevante,
deu origem a norma jurídica (aspectos sociais, políticos, culturais, etc.), ou
seja, as relações de fato consideradas relevantes pelo legislador, no momento
da criação da lei .

A escola da livre investigação científica, todavia, diferencia-se das


perspectivas dogmáticas, por entender que a aplicação da lei pode mudar com
o tempo, não devendo o aplicador do Direito forçar um entendimento, mas,
entender que existe uma falta de norma (lacuna), a qual deverá ser completada
– aceitando outras fontes normativas, para além de considerar, somente, a lei
com única fonte admissível do Direito. A livre investigação, nesse sentido, só
poderia ocorrer no casos de uma lacuna de fontes jurídicas formais.

Referências

1. Gény, François (1889). Méthode d'interprétation et sources en droit privé


positif: essai critique. [S.l.]: Éditions LGDJ

2. Gény, François (1913). Science Et Technique en Droit Privé Positif, Vol.


4: Nouvelle Contribution à la Critique de la Méthode Juridique. [S.l.: s.n.]
302 páginas

3. «O Brasil revive a Escola do Direito Livre! E dá-lhe pedalada na


lei!». Consultor Jurídico. Consultado em 20 de março de 2021

4. «Principais escolas da interpretação jurídica com enfoque no sistema


moderno de investigação e sua utilização na justiça do
trabalho». www.paginasdedireito.com.br. Consultado em 20 de março de
2021

5. Magalhães, Vinícius de Mattos (31 de maio de 2016). «O


CONSTRUTIVISMO DE FRANÇOIS GENY E A METÓDICA
ESTRUTURANTE DE FRIEDRICH MÜLLER: HÁ UM PARALELISMO
POSSÍVEL ENTRE A ESCOLA DA LIVRE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
E A TEORIA ESTRUTURANTE DO DIREITO?». THEMIS: Revista da
Esmec (2): 15–26. ISSN 2525-5096. Consultado em 20 de março de
2021

6. «Principais escolas da interpretação jurídica com enfoque no sistema


moderno de investigação e sua utilização na justiça do
trabalho». www.paginasdedireito.com.br. Consultado em 20 de março de
2021
7. DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São
Paulo: Saraiva, 2005.

8. Doutor, René Dellagnezze; UBA, o em Direito Constitucional pela


UNIVERSIDADE DE BUENOS AIRES-; Publico, Argentina Possui
Graduação em Direito pela UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES-
UMCe Mestrado em Direito pelo CENTRO UNIVERSITÁRIO
SALESIANO DE SÃO PAULO- UNISAL Professor de Graduação e Pós
Graduação em Direito Público e Direito Internacional; Direito, no Curso
de; SÁ, da UNIVERSIDADE ESTACIO DE; ESTACIO, Campus da;
Brasília; Souza, Distrito Federal Ex-Professor de Direito Internacional da
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO- UMESP Colaborador
da Revista Âmbito Jurídicoe da UFJF/DEFESA- Centro de Pesquisas
Estratégicas Paulino Soares de; AGI, da UNIVERSIDADE FEDERAL DE
JUIZ DE FORA-UFJF; Pesquisador do CENTRO UNIVERSITÁRIO
SALESIANO DE SÃO PAULO- UNISAL É o Advogado Geral da
ADVOCACIA GERAL DA IMBEL-. «Hermenêutica jurídica: instrumento
de paz e justiça social - Página 3/8 - Jus.com.br | Jus
Navigandi». jus.com.br. Consultado em 20 de março de 2021

Você também pode gostar