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METAVERSO E NEGÓCIOS JURÍDICOS: BREVES PONDERAÇÕES SOBRE A

LEGALIDADE DE ALGUNS CONTRATOS.

Por: Carlos Alberto Novaes Machado

Recentemente muitas pessoas ficaram impactadas como essa noticia:


https://canaltech.com.br/internet/terreno-virtual-em-um-metaverso-e-vendido-por-r-13-milhoes-202690/.

A partir disso, surgem as dúvidas: O que seria o “metaverso”? O termo metaverso (metaverse, em


inglês) apareceu pela primeira vez em "Snow Crash", livro de ficção científica escrito por Neal Stephenson em
1992, porém, tornou-se mais conhecido, recentemente, quando Marck Zuckerberg anunciou a mudança do
nome Facebook para “Meta” e discorreu sobre o que seria o “metaverso”.

Em uma síntese bem apertada o “metaverso” seria um “universo virtual” onde as pessoas vão interagir entre
si por meio de avatares digitais. Nas palavras de Zuckerberg “"Você será capaz de fazer quase tudo que você possa
imaginar — reunir-se com amigos e família, trabalhar, aprender, brincar, fazer compras, criar —, bem como
experiências completamente novas que realmente não se encaixam na forma como pensamos sobre computadores
ou telefones hoje."

Para exemplificar, o metaverso daria a possibilidade de você criar um avatar e construir uma casa na praia para
morar. Mas, como as pessoas iriam fazer isso? Utilizando as criptomedas para comprar os materiais para construção da
casa, bem como a alimentação do dia a dia.

A partir desse conceito que entra as questões jurídicas: e essas “compras”? Como seria a regulação disso? E se o
avatar de José não pagar o avatar de Maria que vende os pães no metaverso? Antes de responder tais reflexões, é fulcral
observar o que leciona o Código Civil Pátrio no seu art. 104:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - agente capaz;

II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

III - forma prescrita ou não defesa em lei.

A primeira hipótese, constante no inciso I do artigo supracitado, faz referência à capacidade do


agente em celebrar negócios. Qualquer negócio jurídico realizado por agente absolutamente incapaz será
considerado nulo. Por outro lado, se o sujeito for relativamente incapaz, este ato será anulável, pois será
passível de correção. Assim como no inciso II o objeto deverá ser lícito possível, determinado ou determinável.
(CARNACCHIONI, 2018, P.425).

Por derradeiro, destaca-se o inciso III, lastreado no princípio do direito civil de liberdade das formas
quando não forem contrarias à lei, destaca que o negócio jurídico pode possuir uma forma ampla a qual deverá
seguir os requisitos legais, porém, a forma pode ser qualquer uma desde que não seja contrária ao ordenamento
jurídico pátrio. (AZEVEDO, 2012, p. 30).

A doutrina civilista se questiona se esses objetos seriam “possíveis” lastreado no inciso II, já que
seriam digitais. Em nosso entendimento, tal alegação não merece prosperar, visto que, tais objetos poderiam se
encaixar na categoria de bens incorpóreos, assim como a herança digital, por exemplo. Respondendo a questão
anterior, sobre os problemas que podem acontecer no “metaverso”, nada impede que seja judicializados. Caso o
usuário esteja logado aqui no Brasil a Constituição Federal de 1988 é clara e limpa ao prestigiar o Principio da
Inafastabilidade do Poder Jurisdicional (art. 5, XXXV, CF/88, “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”).

Óbvio, por se tratar de um tema novo, inúmeras concepções, entendimentos, possibilidades de


analogias, decisões surgirão. O que não pode ser pensando é que o “metaverso” terá “leis” próprias e será “ terra
de ninguém”, muito pelo contrário, a possibilidade, por exemplo, de pagamento em criptomoeda, garante ao
consumidor uma maior segurança nas transações. O mundo está mudando e o Direito tem e deve acompanhar
tais mudanças.

CARLOS ALBERTO NOVAES MACHADO

OAB/BA 53.167

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