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DIREITO DO CONSUMIDOR
AULA 4
Direito
Civil
Negócio
Jurídico
Obrigações
Contratos
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devedor (sujeito passivo) a quem incumbe o dever de cumprir, espontânea ou
coativamente, uma prestação de dar, fazer ou não fazer”, o contrato é, conforme
Tartuce (2021, p. 970), “um ato jurídico bilateral, dependente de pelo menos duas
declarações de vontade, cujo objetivo é a criação, a alteração ou até mesmo a
extinção de direitos e deveres. Os contratos são, em suma, todos os tipos de
convenções ou estipulações que possam ser criadas pelo acordo de vontades e
por outros fatores acessórios”.
No mundo empresarial, o conhecimento dessas áreas e desses temas
pode poupar às empresas e gestores grandes dissabores – ao conhecer os
mandamentos legais, pode-se não apenas agir de acordo com eles, mas exigir
que os clientes e fornecedores sigam as mesmas boas práticas. O Poder
Judiciário nacional está abarrotado de processos das mais diversas ordens. Se
empresas e particulares conhecessem seus direitos com mais clareza e,
principalmente, agissem de acordo com eles, certamente as coisas estariam
muito melhores.
CONTEXTUALIZANDO
Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura.
Neste caso, ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo
se a intenção das partes era de concluir contrato aleatório.
Esses três artigos, relativamente simples, nos dão muita coisa a analisar.
Primeiramente, essa relação trata da transferência de propriedade e domínio de
alguma coisa para outra pessoa, mediante o pagamento de um preço. Algumas
coisas, como as coisas móveis – carros, joias, telefones, computadores –
transmitem-se puramente pela entrega do item ao comprador. Obviamente, para
a compra e venda surtir os efeitos corretos, a pessoa deve vender aquilo que é
dela. Muitas vezes, pessoas mal-intencionadas vendem bens alheios como se
fossem seus. Como já vimos, esse é um típico caso de erro.
Também vimos anteriormente que os contratos podem ser celebrados
quando as vontades se encontram. É o que preconiza o art. 482, ao mencionar
a concordância sobre o preço e o objeto. Como você pode perceber, o contrato
de compra e venda é consensual e bilateral, pois necessariamente envolve duas
partes. A maioria das relações de compra e venda não são solenes (joias,
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telefones, computadores), mas algumas precisam se revestir da solenidade da
transferência formal do bem. É o que estipula o CC ao afirmar, no art. 108, que:
“Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior
salário-mínimo vigente no País” (Brasil, 2002). Na compra e venda de imóveis,
portanto, há a solenidade de escrituração do bem.
E o que seria a coisa futura, a qual se refere o art. 483? Explicam Gagliano
e Filho (2020, p. 799):
podemos observar que o Código Civil, em seu art. 483, admite que a
compra e venda tenha por objeto coisas atuais ou futuras. Por coisa
atual, entende-se o objeto existente e disponível, ao tempo da
celebração do negócio; a coisa futura, por sua vez, é aquela que, posto
ainda não tenha existência real, é de potencial ocorrência. Imagine-se,
por exemplo, a compra de uma safra de cacau que ainda não foi
plantada. Em tal caso, o contrato ficará sem efeito se a coisa não vier
a existir [...]
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I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de
homicídio doloso contra ele;
Isso significa que cabe a quem tem um bem que está posto em locação
ofertá-lo em condições de funcionamento. Há ampla jurisprudência de locações
de coisas defeituosas, em especial maquinário. Nesses casos, a Justiça tem
orientado um abatimento do preço do item locado. Na sequência, o CC aponta
os deveres do locatário:
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Art. 569. O locatário é obrigado:
Podemos perceber que o mútuo aborda coisas que, caso pereçam, devem
ser devolvidas no mesmo gênero, quantidade e qualidade. Existem
doutrinadores que acreditam que o empréstimo de dinheiro é uma das formas de
mútuo. Nesse caso, pode aquele que empresta exigir algum tipo de garantia para
realizar o contrato. A esse respeito, ensina Tartuce (2021, p. 1288):
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Existem outros casos, no entanto, em que a extinção do contrato se dá
sem o seu cumprimento integral. Antes mesmo de um contrato ser celebrado,
por exemplo, as partes podem se arrepender. É o que se chama de “direito de
arrependimento”. Antes de receber o produto ou mesmo antes de pagar por ele
– por exemplo – a parte decide que não mais quer fazer parte dessa relação
contratual. É o caso das compras pela internet, por exemplo.
Ainda com essas possibilidades, a extinção normal e o arrependimento,
existem outras situações para o término dos contratos. A chamada rescisão
contratual pode ter várias formas distintas, que analisaremos aqui. O Código Civil
trata desse assunto entre os artigos 472 e 480, objetivando tutelar a extinção
contratual após sua celebração por formas que não sejam o arrependimento, ou
a extinção normal.
A primeira das formas de se extinguir um contrato chama-se de “resilição”.
Esse termo é usado no art. 473 do Código Civil e, como ensinam Gagliano e
Filho (2020, p. 737), “refere-se à extinção do contrato por iniciativa de uma ou
ambas as partes”. Quando é da vontade de ambas as partes encerrar o acordo,
ocorre a chamada resilição bilateral ou distrato. Isso pode ocorrer quando, por
exemplo, numa prestação de serviços, o prestador já não tem mais interesse em
realizar a tarefa e o tomador também já não quer continuar com esse prestador.
De outro lado, a resilição pode ser unilateral quando uma das partes não
quer mais continuar com a relação contratual. Aqui pode surgir um
questionamento: mas um contrato não serve justamente para que duas pessoas
– físicas ou jurídicas – comprometam-se com um determinado comportamento?
Sim. Mas pode ser que uma das partes não esteja satisfeita com as atitudes da
outra, ou que algo aconteça. Por exemplo: imagine que uma pessoa tem dois
imóveis, um onde reside e outro que está locado. Se essa pessoa perder o
emprego ou tiver algum problema na família, pode ser necessário vender o
imóvel que está locado. Para isso, será feita a resilição unilateral do contrato de
aluguel.
Vejamos o que diz o Código Civil a respeito da resilição unilateral: “Art.
473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o
permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte”. (Brasil, 2002). O que
significa a denúncia, dita ali no artigo? Significa avisar a outra parte. Esse aviso
pode ser pessoal ou por correio, normalmente pelo envio de carta com Aviso de
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Recebimento (AR), para que se tenha prova de que a outra parte recebeu a
comunicação.
Existem situações em que o término do contrato se dá porque uma das
partes não está cumprindo com seus compromissos. No caso dos contratos de
locação, por exemplo, o locatário pode não estar pagando. Nos contratos de
prestação de serviços, o serviço pode estar sendo malfeito. Nesse ponto, explica
Tartuce (2021, p. 1134):
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reais. Esse caso traz onerosidade excessiva para uma das partes e extrema
vantagem para o outro lado.
Existem situações, ainda, que não podem ser previstas e que impedem o
cumprimento da obrigação. É o que veremos a seguir.
Sem pretender pôr fim à controvérsia, uma vez que seria inadmissível
a pretensão, entendemos, como já dissemos alhures, que ‘a
característica básica da força maior é a sua inevitabilidade, mesmo
sendo a sua causa conhecida (um terremoto, por exemplo, que pode
ser previsto pelos cientistas); ao passo que o caso fortuito, por sua vez,
tem a sua nota distintiva na sua imprevisibilidade, segundo os
parâmetros do homem médio. Nesta última hipótese, portanto, a
ocorrência repentina e até então desconhecida do evento atinge a
parte incauta, impossibilitando o cumprimento de uma obrigação (um
atropelamento, um roubo)’
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Colocando de outra maneira, o caso fortuito é algo absolutamente
imprevisível. Você não prevê, por exemplo, o dia e hora em que será atropelado
para estar lá no momento correto do evento. Pense, por exemplo, num pintor
que, ao ser atropelado, acaba com os braços quebrados e, por isso, não pode
terminar uma pintura a tempo da entrega. Seria justo exigir dessa pessoa uma
indenização pelo atraso na entrega? Obviamente que não, uma vez que a
pessoa deixou de cumprir com o combinado por algo repentino e imprevisível.
De outro lado, tem-se a força maior. A força maior é algo previsível, mas
inevitável. Trata-se de um maremoto, um tsunami, uma guerra. A atual
meteorologia pode prever certos fenômenos físicos. A análise internacional nos
permite entender as chances de uma guerra ocorrer. Mas, sozinhos, temos como
evitar esses incidentes todos? De jeito nenhum. Tem-se, aqui, a força maior.
Tartuce (2021, p. 588) traz um julgado que reflete a aplicação do caso
fortuito: trata-se da venda de um lote de terra que não pode ser concretizada
pois o referido imóvel foi desapropriado. Nesse caso, diz o magistrado:
“Superveniente desapropriação que inviabilizou a entrega do lote adquirido pelo
autor. Cabimento da rescisão. [...] Necessária restituição integral e imediata das
parcelas pagas. Retorno das partes ao status quo ante”. Nesse caso, se restitui
o valor que a pessoa pagou, e as partes voltam a seu status anterior ao negócio.
E no caso da pandemia do COVID-19? Para tentar mitigar os inesperados
efeitos da pandemia, a Lei n. 14.010/2020 instituiu o chamado “Regime Jurídico
Emergencial e Transitório das Relações Jurídicas de Direito Privado” entre junho
e outubro de 2020, tendo sido estendida algumas vezes. Foi essa lei que, por
exemplo, proibiu temporariamente as ações de despejo no período pandêmico.
A esse respeito, explica Tartuce (2021, p. 743):
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TEMA 5 – EXECUÇÃO E FALHAS
O que ocorre quando alguém não paga suas dívidas? É correto afirmar
que as dívidas desaparecem? Não. Quando alguém adquire um bem, parte-se
do pressuposto de que essa pessoa tem condições de arcar com as despesas
da compra. Em algumas situações, no entanto, isso não ocorre. Imagine que
uma determinada pessoa comprou um veículo financiado e, depois de algum
tempo, deixou de pagar as prestações.
O banco ou instituição que financiou a compra poderá entrar na justiça
com ações de cobrança. Se a pessoa tem algum dinheiro em contas bancárias
vinculadas ao seu CPF, penhora-se o valor da conta para pagar o credor. Caso
não haja nada nas contas bancárias (ou caso estejam no negativo) procede-se
à busca e apreensão do bem. Nesse caso, um Oficial de Justiça vai até a casa
da pessoa que comprou o veículo e que não pagou por ele, pega o automóvel e
leva para leilão. O bem é leiloado e o valor levantado é entregue ao credor.
Nesses casos, se o valor do bem leiloado é maior do que a dívida, paga-
se a dívida e devolve-se a diferença ao antigo devedor. Se o valor do bem
leiloado é menor do que o valor da dívida, a dívida remanescente segue ativa.
Aqui muitos perguntam: e se não for um automóvel, mas dívidas diversas ou
dívidas de bens já consumidos? Nessas situações o devedor deve “apontar um
bem para execução”, ou seja, deve dizer – dentre suas coisas – o que entregará
para leilão. Todo esse procedimento aplica-se tanto a pessoas físicas quanto a
pessoas jurídicas e chama-se de execução.
Sob o Direito Civil, também é prudente abordarmos o tema da evicção.
Mas o que é isso? Explicam Gagliano e Filho (2020, p. 710) que a evicção
consiste “na perda, pelo adquirente (evicto), da posse ou propriedade da coisa
transferida, por força de uma sentença judicial ou ato administrativo que
reconheceu o direito anterior de terceiro”. Imagine uma situação em que você
comprou um carro de alguém. Passado algum tempo, o carro é apreendido por
ter sido furtado. Aí você descobre que, na verdade, comprou um item de alguém
que se passou pelo proprietário.
Nesse caso, a pessoa que te vendeu o bem deve restituir tudo o que você
pagou. Isso é evicção.
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TROCANDO IDEIAS
NA PRÁTICA
Mas o que ocorreu ali? Um bingo – atividade não mais lícita em nosso
país – havia contratado com a concessionária de energia elétrica que consumiria
80 kW mensais. Uma vez que a atividade dos bingos foi declarada ilegal, o
empreendimento encerrou suas atividades. A concessionária de energia, no
entanto, exigia continuar recebendo os valores combinados, ainda que a
atividade não fosse mais exercida. Aqui temos um exemplo preciso do que é
onerosidade excessiva por fato imprevisível.
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FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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