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DIREITO DO CONSUMIDOR
AULA 6
CONTEXTUALIZANDO
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cliente, um dano? Ou seria um erro normal? É, obviamente, um dano moral de
acordo com o Direito do Consumidor, como veremos a seguir.
Certa vez, o então presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, disse:
“consumidores, por definição, somos todos nós!”. Enquanto, no Brasil, essa área
ganha força a partir dos anos 1990, com a promulgação da lei n. 8.078, de 11 de
setembro de 1990 – o Código de Defesa do Consumidor (CDC) –, nos EUA e
em outros países, já havia regras que disciplinassem as relações de consumo.
Pense no caso narrado no item “Contextualizando”: quem teria mais condições
de fazer valer sua palavra, você ou a operadora de telefonia que te negativou
erroneamente? Certamente, a operadora. Hoje, a defesa do consumidor
encontra respaldo até mesmo em nossa Constituição Federal, que, em seu art.
5º inciso XXXII, afirma que o Estado promoverá a defesa do consumidor.
Dessa diferença de condições que nasce uma das razões de ser do Direito
do Consumidor, entendida como a área do Direito aplicável às relações de
consumo. Nesse ramo jurídico, considera-se o consumidor a parte
hipossuficiente e o fornecedor a parte que melhor tem condições de prover sua
defesa ou de fazer valer seus direitos.
Significaria isso que consumidores são apenas pessoas físicas? Não, pelo
contrário. Diz o CDC: “Art. 2°. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.” Isso significa que
uma grande indústria é consumidora, por exemplo, de luz, internet e água, assim
como nós, pessoas físicas.
A relação de consumo, caracterizada pela existência de consumidores e
fornecedores, tem como objeto um produto ou uma prestação de serviços. O
próprio Código de Defesa do Consumidor traz definições a esse respeito:
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Ao pensarmos na questão do produto ou do serviço, frequentemente
aqueles que compraram algo de pessoa física – como a pessoa que compra um
carro usado de alguém – acabam, frequentemente, buscando o Direito do
Consumidor para resolver eventuais desavenças. Mas, isso é correto? Não, pois
aplica-se o Direito do Consumidor apenas quando a atividade do fornecedor é
habitual. Quando uma pessoa compra o veículo usado de outra, não há aqui uma
relação de consumo, mas uma relação de compra e venda civil.
E quais são os direitos básicos do consumidor? O CDC responde:
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protejam o que sabem sobre seus clientes. Outra aproximação entre os diplomas
legais está na necessidade de aceite do consumidor para entregar seus dados
a alguém. Pode-se dizer que, a partir da LGPD, os consumidores ganharam uma
nova aliada para sua proteção.
E o que seria um risco “normal” no dizer do art. 8º? O risco que se tem,
por exemplo, ao consumir cigarros. As embalagens dos produtos fumígenos
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avisam do risco de câncer e trazem imagens diversas sobre todos os malefícios
do tabaco, e a escolha por consumir ou não fica a critério de cada um. Esse risco
é inerente aos produtos tabagistas. Outro ponto de destaque do CDC, no que
tange a responsabilização dos fornecedores, é o mandamento do art. 12:
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II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante,
produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado
poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis,
segundo sua participação na causação do evento danoso.
Uma vez que, de acordo com o artigo acima, o comerciante pode ser
responsável quando o produto não tiver identificação ou quando produtor,
construtor, fabricante ou importador não puderem ser identificados, deve-se
tomar extremo cuidado com os itens que se comercializa. Dessa forma, se você
tem um comércio, evite comprar de desconhecidos ou evite os chamados
produtos anônimos – aqueles do inciso II. Da mesma forma, cuidados com o
armazenamento nunca são demais.
E o que seriam práticas abusivas? Essa resposta nos é dada pelo artigo
39 do Código de Defesa do Consumidor:
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TEMA 3 – FATO E VÍCIO DOS PRODUTOS
Dessa forma, um vício é uma geladeira que não esfria, um forno que não
esquenta ou um carro que não anda. É algo diferente de um mero defeito. Nunes
(2019, p. 181) comenda que o defeito:
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funcionamento, o não funcionamento, a quantidade errada, a perda do
valor pago — já que o produto ou serviço não cumpriram o fim ao qual
se destinavam. O defeito causa, além desse dano do vício, outro ou
outros danos ao patrimônio jurídico material e/ou moral e/ou estético
e/ou à imagem do consumidor.
Pela leitura do artigo 18, você deve ter percebido dele que saiu o conceito
de vício do produto de Nunes (2019). Mais do que isso, quando um produto
possui um vício, o consumidor tem direito à resolução do problema no prazo
máximo de 30 dias. Se isso não ocorrer, cabe ao consumidor escolher pela troca
do item, restituição do que foi pago ou algum desconto naquilo que ainda falta
pagar pelo bem.
As empresas, por outro lado, devem atender prontamente os
consumidores que reclamam dos vícios do produto, uma vez que o CDC lhes
garante as possibilidades estabelecidas no parágrafo primeiro, que vimos acima.
O CDC diz ainda que, para o caso de produtos in natura como gêneros
alimentícios, o fornecedor imediato – o supermercado, por exemplo – é que deve
atender o consumidor e providenciar a troca ou restituição da quantia paga.
O CDC menciona também que os produtos vencidos, adulterados ou
deteriorados, ou ainda em desacordo com as normas de apresentação, são
impróprios ao consumo. O estabelecimento que os comercializar responderá por
eles, ainda que não saiba de seus vícios. Esses mandamentos legais exigem,
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portanto, cuidado redobrado por parte das empresas. Armazenamento correto,
verificação dos itens nas prateleiras e cuidados com instalação e entrega devem
fazer parte da moderna gestão de empresas. Do contrário, a organização pode
não apenas ser alvo de processos, mas também ter um passivo jurídico: largas
somas destinadas a pagar por indenizações na justiça.
Mas, o que pode ser enquadrado como dano moral? Como quantificar
uma ofensa à honra, à imagem, à intimidade ou à vida privada? Essas são
perguntas difíceis, que não tem uma resposta totalmente clara, até porque
depende de cada circunstância. Tartuce (2021, p. 848) comenta que o
reconhecimento do dano moral não “requer a determinação de um preço para a
dor ou o sofrimento, mas sim um meio para atenuar, em parte, as consequências
do prejuízo imaterial”. Logo, não se trata de colocar preço no sofrimento ou na
ofensa à personalidade.
É mister destacar que houve uma época em que o Poder Judiciário esteve
abarrotado de ações por dano moral. Eram tantos processos versando sobre o
mesmo tema que foi criado o termo “indústria do dano moral” para se referir
àquelas pessoas que buscavam recursos à custa de outras. Na imensa maioria
dos casos, o que estava sendo alegado não constituía um dano moral, mas o
que os juízes consideravam “um mero dissabor do cotidiano”, ou seja, aquelas
situações desagradáveis da vida às quais todos estamos sujeitos.
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O dano moral está na esfera da responsabilidade civil, a respeito da qual
falamos anteriormente. Tartuce (2021, p. 850) aponta para duas categorias de
dano moral:
Obviamente que, por exemplo, quando uma pessoa é ofendida pelo chefe
na frente de seus colegas de trabalho, o ofendido não precisa provar os
sentimentos de angústia e humilhação que experimentou. Em outros casos, o
dano moral se presume de antemão, o que, como explica Tartuce (2021, p. 851),
ocorre nas situações de “morte de pessoa da família, lesão estética, lesão a
direito fundamental protegido pela Constituição Federal ou uso indevido de
imagem para fins lucrativos.”
E a pessoa jurídica, pode sofrer dano moral? Certamente. É o que
entendeu a súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça. Afinal, toda a proteção
dada ao nome da pessoa física também se aplica à pessoa jurídica. Nesse
sentido, Tartuce (2021, p. 863) ensina que “o dano moral da pessoa jurídica
atinge a sua honra objetiva, que é a repercussão social da honra, sendo certo
que uma empresa tem uma reputação perante a coletividade. Não se pode
imaginar que o dano moral da pessoa jurídica atinja a sua honra subjetiva, que
é a autoestima.”
Dessa forma, há de se ter muito cuidado – enquanto consumidores ou
concorrentes – com as alegações que fazemos sobre as empresas as quais
consumimos ou com as quais competimos por aí, em especial na internet. Da
mesma maneira, clientes mal atendidos podem sofrer dano moral nas situações
abaixo relatadas, conforme explicações de Almeida (2020):
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• Aquisição de alimentos com insetos ou corpos estranhos dentro da
embalagem ou em meio à comida;
Como você pode perceber, são as mais variadas situações que ensejam
a indenização por danos morais. É possível que, em um mesmo fato, a empresa
ou pessoa seja condenada a pagar danos morais e danos materiais ao ofendido.
Almeida (2020, p. 414) comenta a esse respeito:
O último caso comentado pelo autor – de que a empresa toma ciência dos
riscos oferecidos pelo seu produto ou serviço após sua colocação no mercado –
é o que tem motivado os famosos recalls de montadoras de automóveis para
trocar ou repor peças que podem causar dano ou não funcionar bem. Caso a
prevenção aos danos não ocorra da maneira correta, surge o dever de indenizar.
Por fim, resta o questionamento: como são calculadas as indenizações?
O Código Civil responde: “Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do
dano”. Obviamente que, nos casos de dano moral, essa aferição não é fácil. Por
isso, a Justiça busca arbitrar valores que desincentivem aqueles que cometeram
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o dano a reiterar em suas práticas e que não enriqueçam a vítima pelo sofrimento
que recebeu.
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do item para solicitar a troca ou, caso não haja nosso tamanho no caso do
vestuário, ou caso não haja outro item igual, a devolução do montante pago.
Outro ponto de destaque sobre as compras on-line é que a entrega do
item deve respeitar aquilo que foi anunciado. É nesse sentido o ensinamento de
Almeida (2020, p. 179): “as contratações no comércio eletrônico deverão
observar o cumprimento das condições da oferta, com a entrega dos produtos e
serviços contratados, observados prazos, quantidade, qualidade e adequação,
sob pena de incidência das sanções administrativas”.
E quando o fornecedor some, encerra sua conta, ou me manda um tijolo
o lugar de um notebook, a quem recorrer? Em alguns casos, pode-se
responsabilizar a plataforma na qual a compra foi realizada. Almeida (2020, p.
592) afirma a esse respeito que:
TROCANDO IDEIAS
Você já ouviu falar que o cliente sempre tem razão? Mas, será que tem
mesmo? Você aprendeu, no decorrer desta aula, que as lojas não são obrigadas
a trocar itens – especialmente vestuário – se o cliente que ganhou o presente
simplesmente não gostou. Quando as lojas optam por fazer a troca, essa é uma
opção do próprio estabelecimento. Alguns itens de vestuário, por exemplo,
certamente não são trocados. É o caso da roupa íntima. Ainda assim, são vários
os clientes que – mesmo após usar a roupa – decidem que não gostaram e
querem trocar. É óbvio que as lojas não aceitam. Na sequência, a confusão
acaba no Judiciário, que, nesses casos, tem dado ganho de causa para as lojas.
Aqueles que trabalham diretamente com o público certamente tem boas histórias
para contar sobre os “clientes sem razão”: desde a troca de roupa íntima usada
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até a devolução de meio bolo na confeitaria (pois, depois de comer a primeira
metade, a pessoa decidiu que não gostou e queria o dinheiro de volta). Você já
presenciou alguma coisa semelhante? Já atendeu pessoas que exigiram coisas
completamente descabidas do estabelecimento? Comente a respeito!
NA PRÁTICA
Uma das coisas que mais mudou desde que entrou em vigor o Código de
Defesa do Consumidor, em 1990, foram as regras sobre publicidade. A ideia
principal é não permitir que empresas e marcas se aproveitem da falta de
discernimento dos consumidores para vender itens que não cumprem o que
prometem. A publicidade, que pode ser compreendida como a veiculação de
uma oferta, é conceituada por Almeida (2020, p. 748) como “informação
veiculada ao público consumidor com o objetivo de promover comercialmente e,
ainda que indiretamente, produto ou serviço disponibilizado ao mercado de
consumo”.
Embora o CDC não defina publicidade, menciona expressamente no art.
37 a publicidade abusiva e enganosa:
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proibindo a veiculação e impondo encargo de contrapropaganda e
multa pelo descumprimento da condenação. Contrapropaganda que se
tornou inócua ante o tempo já decorrido desde a suspensão da
mensagem. Recurso provido parcialmente. (TJSP, Apelação Cível
241.337-1, 3.ª Câmara de Direito Público, São Paulo, Rel. Ribeiro
Machado, 30.04.1996, v.u.)
FINALIZANDO
No decorrer desta aula, você aprendeu que o dano é um ato ilícito, e quem
o comete tem o dever de indenizar. Isso vale não apenas para a esfera criminal,
mas também para a esfera civil. Em termos de relações de consumo, o Brasil
inaugura uma nova era a partir de 1990, com a entrada em vigor do Código de
Defesa do Consumidor (CDC). Diz o CDC: “Art. 2° Consumidor é toda pessoa
física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
final.” Isso significa que uma grande indústria é consumidora, por exemplo, de
luz, internet e água da mesma forma que nós, pessoas físicas.
Dentre os direitos básicos do consumidor garantidos pelo CDC, estão a
vida, a educação e a divulgação sobre o consumo adequado, a proteção contra
publicidade enganosa e abusiva, a proteção contra a modificação de cláusulas
contratais que sejam prejudiciais ao consumidor, dentre outros. Em termos mais
recentes, a Lei Geral da Proteção de Dados (LGPD) está alinhada ao CDC para
proteger o consumidor e seus dados pessoais.
Mesmo com toda a regulamentação que proteje e defende o consumidor
de práticas abusivas, algumas coisas erradas continuam ocorrendo. Nesses
casos, nos termos do CDC, “fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos”.
O CDC fala também em fato e vício do produto. O fato do produto é um
defeito que causa danos e atenta contra a segurança do consumidor. O vício é
aquilo que ocorre quando o produto não faz o que deveria, como quando você,
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por exemplo, paga por um quilo de arroz e leva 800 gramas. E o defeito é algo
mais grave, que aumenta o dano causado ao consumidor.
Nesta aula, você também aprendeu sobre danos morais. Trata-se de uma
ofensa à honra, à imagem, à intimidade e à vida privada da pessoa. Assim como
as pessoas físicas, as pessoas jurídicas também podem sofrer dano moral. Na
esfera do consumo, é comum que empresas atentem contra a moral dos
consumidores ao inscrevê-los indevidamente em órgãos de proteção ao crédito.
Por fim, vimos que a era digital na qual vivemos nos trouxe novos
desafios. As compras on-line seguem em alta, e as empresas precisam estar
preparadas não apenas para aceitar as devoluções dos clientes em até 7 dias
da entrega, mas também para proteger os dados dos consumidores de acordo
com a nova regra da LGPD.
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REFERÊNCIAS
TARTUCE, F. Manual de direito civil – volume único. São Paulo: Saraiva, 2021.
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