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NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

DA UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – NPJ JOÃO UCHÔA

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL


CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

JOÃO DA SILVA CORDEIRO, brasileiro, solteiro, mecânico, portador do RG nº


28.401.256-4 e CPF 155.901.767- 86, domiciliada na Rua dos Mineiros nº 33, casa –
Bairro: Rio Comprido – CEP: 20.251-637, vem, através de seus procuradores in
fine assinados, comescritório na Rua do Bispo, nº. 83, Térreo - Rio Comprido - Rio de
Janeiro- RJ, CEP.: 20.261-060, na presença de Vossa Excelência para
propor a presente

AÇÃO REDIBITÓRIA CUMULADO COM COMPENSATÓRIA POR DANOS


MORAIS C/C PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA

em face de CASAS BAHIA VIA VAREJO S/A, na pessoa de seu representante legal
(nome, endereço, devidamente inscrita no CNPJ 33.041.260/0001-34, com endereço à
Rua Uruguaiana, número 5, Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20.050-093, e em face
de CONSUL ELETRODOMÉSTICOS LTDA na pessoa de seu representante legal
(nome, endereço, devidamente inscrita no CNPJ 22.260.490/0001-40, com endereço à
Rua César Augusto, número 255, Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20.030-020, pelas
razões de fato e fundamentos de direito que passa a expor.

I. - DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Inicialmente, afirmam sob as penas da lei e de acordo com o artigo 98 e seguintes do


Código de Processo Civil e Lei nº 1.060/50, que não têm condições de arcar com as
custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo de seu próprio
sustento e de sua família, doc. em anexo.

II. - DOS FATOS

O Requerente comprou uma máquina de lavar no dia 20/03/2020 nas Casas Bahia –
Via Varejo S/A, fabricada pela empresa Cônsul, para dar de presente à sua mãe, uma
vez que o equipamento seria utilizado para uso de seu trabalho, uma vez que presta
serviços de lavagem de roupas para fora. O autor adquiriu o produto e efetuou o
pagamento no valor de R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais). O prazo indicado para a
entrega foi de 10 dias úteis.

No entanto, a empresa não cumpriu o prazo informado, entregando somente no dia


20/05/2020. Ocorre que ao receber o produto com atraso, os autores verificaram que o
produto apresentava defeitos, pois estava descascada e ainda não ligava.

Entretanto, o Autor acionou as Rés por diversas vezes, por contato telefônico, mas não
obtiveram qualquer resposta plausível, por não poder contar com a reposição imediata
do produto/serviço, nem dinheiro para buscar outro, teve que sofrer o desgaste de ter
que procurar por conta os contatos do fabricante, sem que tivesse igualmente qualquer
êxito.

Ao sentir-se lesado, sem qualquer posicionamento das empresas Rés, o Autor buscou
ajuda no PROCON, porém, até o momento nada foi resolvido, razão pela qual intenta a
presente demanda ao adquirir um produto ou serviço, o consumidor tem a legitima
expectativa de receber adequado ao uso de acordo com as expectativas geradas na
compra, ou seja, sem a necessidade de qualquer adaptação ou algum vício que lhe
diminua o valor ou que impossibilite de utiliza-lo normalmente.

É sabido que a responsabilidade refere-se a qualquer vício, seja ele de quantidade ou


qualidade, nos termos do Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que


os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da
oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:”
Assim constatado o vício não solucionado no prazo legal, tem-se o direito à
substituição do produto ou devolução do valor pago. No presente caso, o vício do
produto caracteriza-se como vício oculto, uma vez que foi constatado somente quando
evento, não podendo-se aplicar o prazo decadencial contado da entrega.

III – DO DIREITO

Resta incontroversa a existencia da relação de consumo, vez que as Requeridas são


fornecedoras de serviços, nos moldes do Artigo 3 º do Código de Defesa do Consumidor, e o
Autor é Consumidor nos moldes do Artigo 2 º do já citado código, conforme pode-se observar:

“Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza


produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”.

“Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços”.

Por consequência, a presente lide deverá ser observada à luz da lei n. 8078/90 (Código de
Defesa do Consumidor).

IV – DOS DANOS MORAIS

É evidente o dever das Requeridas em Reparar os danos causados ao autor. Sua atitude lesiva e
total descomprometimento com o consumidor não deve ser tratada como mero aborrecimento
ou simples quebra contratual.

O código Civil deixa claro em seu artigo 927:

Art. 927º - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

Não esqueçamos, V.Excelência, que a Carta Magna tem como um de seus


princípios fundamentais a Dignidade da Pessoa Humana.

Vejamos:

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III – a dignidade da pessoa humana;


Vossa Excelência, permitir que as Rés continuem impunes, diante de tal
atitude lesiva, apenas servirá como porta para que a mesma permaneça de
forma desleixada, ferindo a dignidade de outros consumidores.

Seguindo caminho contrário, a correta punição é ferramenta eficaz para que


a mesma não venha a lesar mais consumidores, tratando-os com a dignidade
devida e evitando a sobrecarga do judiciário com processos da mesma
natureza.

Seguindo a mesma direção o Código de Defesa do Consumidor estabelece:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos;

Art. 7º Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de


tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da
legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios
gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.

Ainda:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Se não bastasse a total falta de respeito e toda angustia infligida ao Autor, o qual pagou por um
produto que tanto desejava e não pôde usufrurir, além de todo o tempo que já esperou, a
Requerida ainda informou que o Autor deveria esperar até 15 dias úteis para o recebimento da
mercadoria, gerando uma espera que extrapola os limites da razoabilidade.

A inteligência do Art 6 do mencionado código deixa claro que o consumidor lesado deverá ser
reparado pelos danos que lhes forem causados. E em art. 14 que o fornecedor de serviços
responde pela reparação dos danos causados aos consumidores. Logo, restando apenas que
Vossa Excelência apure o grau da lesão sofrida, com base nas provas levantadas.

Vejamos como a jurisprudência se comporta:

0134738-19.2020.8.19.0001 - RECURSO INOMINADO

Juiz(a) MAURO NICOLAU JUNIOR - Julgamento: 24/06/2021 - CAPITAL 2a. TURMA


RECURSAL DOS JUI ESP CIVEIS
PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CONSELHO RECURSAL SEGUNDA TURMA RECURSAL CÍVEL RECURSO Nº:
0134738-19.2020.8.19.0001 Recorrente: PATRICIA CAVALCANTI SILVERIO SILVA
Recorridos: CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA., PANASONIC DO BRASIL
LTDA., e REFRIGERAÇÃO MULLER Origem: 2º Juizado Especial Cível - Foro Central - RJ.
Juiz Relator: Mauro Nicolau Junior I - Os magistrados componentes da 2ª Turma Recursal
deliberaram por conhecer do recurso e no mérito lhe negar provimento nos termos do voto do
juiz relator. II - Autora que afirma haver adquirido máquina de lavar que após alguns anos de
uso passou a apresentar problemas e defeito de funcionamento. III - Produto que foi levado para
a assistência técnica tendo o laudo afirmado haver corrigido o problema. IV - No entanto a
autora alega que mesmo depois desse reparo a máquina continua a apresentar os mesmos
problemas, o que é negado pelas rés que sustentam, assim, a necessidade de submeter
o produto a exame técnico pericial a fim de constatar a inexistência dos defeitos. V - Autor que
junta links com filmes e gravações da maquina em funcionamento que não permitem constatar
com precisão quais seriam ao defeitos apresentados e, ainda, não comprovam o dia e horário em
que as imagens foram feitas o que não permite sequer saber se foram antes ou depois dos
reparos. VI - Sentença que se mantém. VII - Ônus sucumbenciais no voto. ACÓRDÃO Volta-se
a parte autora contra a sentença que decretou a extinção do processo sem resolução do mérito
sob o argumento de ser necessária a realização de perícia técnica a fim de constatar se realmente
a máquina de lavar adquirida pela autora continua a apresentar problemas e defeitos mesmo após
ter sido submetida a assistência técnica. A r. sentença se fundamentou na seguinte afirmação: A
autora afirma que mesmo após o reparo efetuado pela ré, a máquina adquirida continua
apresentando problema e barulho, pelo que requer a troca do produto. Os réus Panasonic e
Refrigeração Muller afirmaram que após o primeiro reparo com a troca da peça necessária
a máquina não apresentou mais problemas, tendo sido levada para assistência técnica, onde
permaneceu alguns dias não apresentando problema. Ressalto que nos detalhamentos das ordens
de serviço consta a informação de que não há defeito apresentado pelo produto. Diante da
divergência e com base apenas no conteúdo probatório acostado aos presentes autos, tem-se que
é impossível para esse julgador averiguar se a razão se encontra ao lado da autora ou ao lado da
ré, tornando-se imprescindível a realização de perícia técnica hábil a constatar se ainda há
problema na máquina da autora ou não. Não há como prosperar a pretensão posta no recurso até
porque os inúmeros vídeos preparados pela parte autora cujos links se encontram na peça de
contestação não demonstram quais seriam os defeitos da maquia e, muito menos, o que seria
essencial, a data em que as gravações foram feitas a fim de demonstrar se o foram antes ou
depois da manutenção ofertada pelas rés. Por esses motivos o VOTO é no sentido de ser
conhecido o recurso e a ele ser NEGADO PROVIMENTO condenando a recorrente ao
pagamento das custas e honorários de 15% sobre o valor da causa cuja execução mantenho
suspensa por cinco anos em razão da gratuidade de justiça deferida. Rio de Janeiro, 24 de junho
de 2021. MAURO NICOLAU JUNIOR Juiz Relator Processo 0134738-19.2020.8.19.0001
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0004439-12.2020.8.19.0208 - RECURSO INOMINADO

Juiz(a) RAQUEL DE OLIVEIRA - Julgamento: 22/10/2021 - CAPITAL 2a.


TURMA RECURSAL DOS JUI ESP CIVEIS
PROCESSO Nº: 0004439-12.2020.8.19.0208 RECORRENTE: WILLIANA MONIK
DA SILVA GAMILEIRA RECORRIDO: GRÃO DE GENTE - LGF COMÉRCIO
ELETRONICO LTDA RELATORA: RAQUEL DE OLIVEIRA VOTO Demanda em
que se discute falha na prestação dos serviços pela ré, consubstanciada no atraso de
mais de 41 dias na entrega de produto. A autora formulou pedido de indenização por
danos morais, de R$ 8.000,00. A sentença não acolheu a pretensão autoral, sob o
argumento de que não há plausibilidade na alegação de prejuízo ao recém-nascido, que
ainda não havia nascido na época da entrega do produto. Em recurso, a autora reiterou
sua narrativa inicial, pugnando pela procedência do pedido de danos morais. A lide deve
ser solucionada à luz das regras do Código de Defesa do Consumidor, porque, sendo a
ré fornecedora de produtos e serviços, deve responder objetivamente pelos danos
causados aos consumidores decorrentes da prestação defeituosa (art. 14 do CDC). A
autora adquiriu o produto à vista em 29/11/2019 (fls. 23/24), com prazo de entrega para
17/12/2019. Em razão da demora na entrega, em 23/12/2019 a autora contatou o réu, e
este informou que houve imprevisto, e que a entrega ocorreria em até 10 dias úteis (fl.
21). Novamente, pela demora na entrega, em 15/01/2020 a autora contatou o réu, e este
informou que faria contato com a transportadora e retornaria o contato (fl. 22).
Entretanto, somente em 27/01/2020 os produtos foram entregues. A ré em sua
contestação não esclarece o motivo da demora na entrega dos produtos, ou ainda a falha
ao fornecer informações à consumidora sobre o prazo de entrega. Embora não sejam
os produtos considerados como essenciais (cômoda e guarda-roupa), por certo
a demora na entrega, em se tratando de produtos para recém-nascido, ocasionam
transtornos à consumidora gestante. O Código de Defesa do Consumidor adota a teoria
do risco da atividade ou do empreendimento, porque ao assumir o exercício de atividade
no mercado consumidor, o fornecedor avoca para si a responsabilidade pelos eventuais
vícios resultantes do empreendimento, nos termos do art. 18, do referido diploma legal,
não se eximindo de sua responsabilidade por fato de terceiro. Danos morais
configurados pela conduta negligente da ré, que se comprometeu com a entrega em
prazo que não foi cumprido, ou seja, mais 41 dias depois do prazo inicialmente previsto.
Note-se, inclusive, que o prazo de entrega também faz parte da oferta, isto é, integra a
oferta, como forma de atrair o comprador No caso, o valor dos danos morais,
observados as peculiaridades do caso e os parâmetros proporcionais, para evitar o
enriquecimento sem causa, sem deixar de punir o causador do dano, de forma a inibir a
prática reiterada, assemelha-se razoável na quantia de R$ 800,00. Pelo exposto, VOTO
PARA CONHECER E DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO para condenar
a ré a pagar à autora indenização por danos morais de R$ 800,00 (oitocentos reais),
corrigido monetariamente e acrescido de juros de mora de 1% ao mês, a partir da
intimação do acórdão. Sem custas judiciais e sem honorários advocatícios. Rio de
Janeiro, data da assinatura digital. RAQUEL DE OLIVEIRA JUÍZA RELATORA
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 2ª TURMA
RECURSAL CÍVEL

V – DA TUTELA PROVISÓRIA

Consoante ao Código de Processo Civil:


“Art. 300º – A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo”.

E, assim preconiza o Código de Defesa do Consumidor;


“Art. 84º. - Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento”.

VI – DAS PROVAS

III. – DOS PEDIDOS

EX POSITIS, requer-se a Vossa Excelência que:

a. Seja deferido a troca de imediato do produto defeituoso por outro em


condições de uso, no prazo de 48 horas sob pena de multa diária;

b. A concessão do benefício de gratuidade de justiça;

c. Seja deferida e confirmada a Tutela Provisória;

d. Requer a inversão do ônus da prova;

e. Sejam as empresas condenadas a pagar o valor de R$ 1.200,00 (mil e


duzentos reais), referente ao valor do produto defeituoso, com juros e mora até a
presente data. Na impossibilidade da troca do produto.

f. Requer que sejam acolhidas suas razões para que se condenem as Rés ao
pagamento de indenização, à título de dano moral, no valor de até 40 salários mínimos,
permitido por Lei 9099/95, considerados os danos provocados, bem como a situação
dos Réus, e sobretudo, a condição do Autor, sendo certo que, de outra forma restaria
inócua a decisão deferida, permitindo-se a continuidade do comportamento condenável
dos Réus;

g. Para fins de eventual recurso, afirma sob as penas da Lei e de acordo com
art. 20 do Código de Defesa do Consumidor da Lei 8078/90.

IV. – DAS PROVAS

Requer-se a produção de todos os meios de prova em Direito admitidas, em especialme


nte a documental, testemunhal, e o depoimento pessoal do Réu, sob pena de confissão.

V. – VALOR DA CAUSA
Dá-se à causa o valor de R$ 41.800,00 (quarenta e um mil e oitocentos
reais) para efeitos do artigo 259, inciso VI, Código de Processo Civil.

Nestes Termos.
P. Deferimento.

Rio de Janeiro, 20 de outubro de 2021.

DÁRCIO ROBERTO DE O.
CAETANO OAB/RJ 124.028

MITRE RAPHAELE NACIF DA COSTA OAB/RJ 105.7


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