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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA ____ CIVEL DA

COMARCA DE MACEIO – ESTADO DE ALAGOAS

CYNARA REJANE LESSA BULHÕES, brasileira, solteira,


comerciante, portadora do RG 3.516.205 SSP/AL, e do CPF 924.954.515-00,
residente e domiciliada Rua Engenheiro Roberto G de Menezes, nº. 202, Centro,
Maceió – Estado de Alagoas, por seu advogado e bastante procurador,
que esta subscreve, vem, mui respeitosamente perante a presença de Vossa
Excelência, propor a presente

AÇÃO DE DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO COM PEDIDO

LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS

em face da COMPANHIA DE SANEAMENTO DE ALAGOAS – CASAL, inscrita


no CNPJ sob o nº 12.294.708/0001-81, com endereço à Rua Barão de Atalaia,
200 - Centro, Maceió - AL, 57020-510, e-mail:teleatendimento@casal.al.gov.br,
pelas razões de fato e de direito a seguir expostos.

DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Por ser a Autora pessoa carente na acepção jurídica, sendo que não tem
condições de arcar com o pagamento das custas processuais, sem prejuízo do
seu próprio sustento, respeitosamente requer a concessão da justiça gratuita.

Conforme o art. 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal, e o art. 98,


do CPC/2015, tem direito à gratuidade da justiça os que comprovarem
insuficiência de recursos.
DOS FATOS

A promovente era titular da conta de água do imóvel alugado situado à


Rua Engenheiro Roberto G de Menezes, nº. 202, Centro, Maceió – AL, CEP
57.020-680. Ocorre que, 02 de abril de 2020 a autora entrou em contado com a
ré solicitando o desligamento da água, bem como a retirada do seu nome
das faturas posteriores a abril de 2020, conforme faz provas, conversar de
WhatsApp e E-mail encaminhados para a casal em anexados.

Várias foram as tentativas, porém todas restaram infrutíferas, além do


mais, era na época da pandemia e todos estávamos de quarentena e os
atendimentos presenciais estavam suspensos, e a promovente não sabia mais
o que fazer, pois tentou todos os meios virtuais possíveis na época, conversa
pelo WhatsApp e mensagens de E-mail.

Como o imóvel não estava sendo mais alugado pela promovente, o


mesmo foi devolvido a proprietária, e o hidrômetro da água e do esgoto não
foi desligado e nem tão pouco foi retirado de seu nome, embora tenha
solicitado o seu desligamento e a transferência de seu nome para a
proprietária junto a ré de forma virtual, tendo em vista o período da
quarentena.

Não sendo atendido o seu pleito, Meritíssimo, a ré de forma negligente,


efetuou as cobranças das faturas do mês de abril de 2020 até outubro de
2021, sem que a promovente realizasse nenhum consumo de serviço de água
e esgoto, haja vista que o ponto comercial já havia sido entregue a proprietária.

O imóvel em questão, encontra-se desocupado até o presente, pois a


proprietária nunca mais alugou.

Ao tomar ciência das faturas, da negativação de seu nome no


SPC/SERASA e do seu pedido não ter sido atendido pela ré, além dos
valores exorbitantes das contas, a Autora não realizou consumo desde que
desocupou o imóvel de 02/04/2020.

Sendo assim, Excelência, não há razão pela qual se justifica o valor


exorbitante da conta cobrado em seu nome, uma por entregou o ponto
comercial a proprietária em abril de 2020 e outra por solicitou o
desligamento e a transferência de titularidade da conta que estava em seu
nome.

Ante a inércia da requerida, pelo não atendimento quanto a


solicitação do desligamento e a transferência de titularidade da conta que
estava em seu nome e ainda o fato de imóvel encontrasse até o presente
inabitado, resta a autora e consumidora a via judicial como meio de suplicar pela
JUSTIÇA!

DO DIREITO

A) – DA COMPROVAÇÃO DA INEXISTÊNCIA DE DÉBITO

É evidente, Excelência, que o presente caso deve ser analisado sob a


ótica do Direito do Consumidor, uma vez que se trata de prestação de serviços,
e a empresa possui como é consenso na doutrina, Responsabilidade Civil
Objetiva, ou seja, é obrigada a indenizar o consumidor independentemente de
que lhe seja atribuída culpa. Cabe à empresa apresentar prova em contrário,
fundamentando a sua isenção de culpa no evento, conforme art. 6º, VIII, da Lei
8.078/90 que trata da inversão do ônus da prova.

O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90) posto a lume por


força do art. 5º, XXXII, da Constituição Federal de 1988, atribuiu uma farta
gama de direitos que, até então se via privado o cidadão comum, posto que
desamparado ao instrumento eficaz e específico de defesa de seus interesses.

O diploma legal em apreço inovou, na esfera de reparação de danos


causados ao consumidor, ao estabelecer a responsabilidade objetiva de
fornecedor de serviços, nos seguintes termos:

Art. 14 – O fornecedor de serviço responde independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados por defeitos
relativos à prestação de serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Quanto aos direitos básicos do consumidor o CDC estatui que:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados
por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos;
(...)
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;
(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências;
(...)
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Temos ainda as normas do Código Civil, que em seu art. 186 diz:
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito.”

Finalmente, demonstrando a quão ampla é a legislação protetiva dos


consumidores, cabe informar que a própria CRFB/88 cuidou de garantir o
ressarcimento para todas as pessoas que passem por todos os
constrangimentos e angústias como os sofridos pela a autora, conforme
demonstrado abaixo:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;
[...]
XXXV - A lei não poderá excluir da apreciação do poder judiciário lesão
ou ameaça a direito.

Importante destacar, que desde abril de 2020 ninguém está


ocupando o imóvel, e a Autora não pode ser responsabilizada por algo que
não deu causa.
Posto isto, resta comprovada a ausência de consumo, motivo pelo qual
se faz imperioso: a ação ser julgada procedente e o débito ser declarado
inexistente.

Requer-se, portanto, a declaração de inexistência dos débitos cobrados


(faturas em anexos), e transferência de titularidade da conta que estava em seu
nome, tendo em vista que foi solicitado desde abril de 2020, bem com o
pagamento de uma indenização a títulos de danos morais.

B)-DA APLICAÇÃO DO CDC E INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Não pairam dúvidas que o fato narrado se classifica perfeitamente como


relação de consumo visto que a Autora (consumidora) e a Re (fornecedora dos
serviços), conforme expressa os artigos 2º e 3º do Código de Defesa do
Consumidor, logo deve ser analisado à luz do Código de Defesa do Consumidor.

Importante destacar, que a consumidora como parte reconhecidamente


mais fraca, é o vulnerável na relação de consumo. Sendo imperioso frisar, que
incumbe à prestadora do serviço a demonstração de que houve o efetivo
consumo da água que é cobrada, e de que não foi solicitado o desligamento
da água e a transferência de titularidade do nome da promovente, dada a
notória hipossuficiência da consumidora amparada por uma presunção legal.

Desta forma é a aplicação do instituto da inversão do ônus da prova que


equilibra a lide proposta, passando a responsabilidade de provar para o
fornecedor. A parte autora/consumidora é hipossuficiente pois não possui
mecanismos para produzir mais provas do que as já produzidas.

A situação do consumidor é de manifesta vulnerabilidade,


independentemente de sua situação econômica. Foi precisamente em razão
dessas situações, enquadradas no conceito amplo de hipossuficiência, que o
legislador estabeleceu a inversão do ônus da prova, para facilitar a tutela
jurisdicional do consumidor.

Assim, a Autora requer o instituto da inversão do ônus da Prova,


equilibrando assim os polos na lide formulada, aplicação pratica do art. 6º inciso
VIII do CDC, a fim de se determinar a Ré a apresentação de todas as provas
referentes ao pedido desta inicial.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com


a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências.

C) DO PEDIDO DE LIMINAR

A inobservância destes fatos fere não somente o Código de Defesa do


Consumidor, mas também a Constituição da República, pois não respeita um
dos princípios mais importantes: o da dignidade da pessoa humana.

O Código de Processo Civil dispõe em seu art. 300 a espécie de tutela de


urgência quanto às questões de tutela provisória. Será ela concedida sempre
que houver probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil
do processo. Convém demonstrar que tais requisitos restam preenchidos.

Conforme já narrado nos fatos, a autora solicitou o desligamento da


água e a transferência de titularidade da conta que estava em seu nome,
conforme provas anexas. Ocorre que o mérito da lide ora proposta implica, no
seu resultado prático, pelas cobranças indevidas pela ré, tendo em vista que
a mesma não ocupava mais o imóvel alugado, motivo pelo qual não deveria
ser negativado o nome da autora.

Mais uma vez, reforça-se o argumento no sentido de que a autora não


concorda com o seu nome negativado, pois solicitou o desligamento da água em
seu nome, sendo o consumo inexistente.

Demonstrando amplamente o apoio na legislação vigente sobre a tutela


pleiteada, o Código de Defesa do Consumidor assim diz:

Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de


fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático
equivalente ao do adimplemento.
§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado
receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela
liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

E mais ainda o Código de Processo Civil:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos


que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco
ao resultado útil do processo.

Presente os requisitos para a concessão da tutela, e diante dos


transtornos sofridos pela autora, merecem ser acolhida pelo nobre Poder
Judiciário os argumentos expostos pela autora, e a retirada do nome da autora
dos cadastros restritivos de crédito.

III-DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se a Vossa Excelência:

A) Liminarmente a determinação à Ré a retirar o nome da autora dos


órgão de proteção ao crédito SPC/SERASA, e se abster de cobrar as
faturas de água de abril de 2020 até outubro de 2021, em razão do
pedido de cancelamento comprovado nos autos, o valor de R$
6.517,04 (seis mil quinhentos e dezessete reais e quatro
centavos), inserindo na ordem multa diária de R$ 500,00 (quinhentos
reais) por descumprimento;

B) O deferimento do benefício da assistência judiciária gratuita;


conforme art. 98, do Código de Processo Civil;

C) A citação da Ré para, querendo, apresentar defesa; sob pena de


revelia;

D) A DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DO DÉBITO


COBRADO, referente à conta exorbitante, tendo em vista que foi
comprovado o pedido de desligamento e transferência da titularidade
da conta, na forma da Lei;

E) A condenação dos danos morais em valor não inferior a R$


26.400,00 (vinte e seis mil reais) para serem pagos a autora pelos
transtornos sofridos;

F) Por fim, a condenação em custas e honorários advocatícios, na forma


da Lei, conforme dispõe art. 85, do Código de Processo Civil.

Protesta provar o alegado através de todos os meios permitidos em


Direito, especialmente pela oitiva das partes e juntada de novos documentos.

Atribui-se à causa o valor de R$ 26.400,00 (vinte e seis mil reais).

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Maceió – AL, 29 de setembro de 2023

GUSTAVO HUGO SANTOS LESSA


ADVOGADO OAB/AL 11.577

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