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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DA


CAPITAL REGIONAL DA PAVUNA – RJ.

CINTIA GABRIEL NORONHA DE OLIVEIRA, brasileira, solteira, autônoma,


portador(a) da Cédula de Identidade sob n° 26.477.159-3, expedida pelo DETRAN/RJ e inscrita no
CPF sob n° 148.436.297-74, domiciliada na Av. PRS Isabel, nº 334, BL 1, AP 1204, Copacabana/ Rio
de Janeiro- RJ, CEP: 22011-010, junto de sua advogada infra-assinada conforme procuração em
anexo, Dra. BETHANIA F. ROCHA DAS NEVES, regularmente inscrita na OAB/RJ sob o nº 231.471,
com endereço profissional na Av. Getúlio Vargas, nº 1970, Centro, Nilópolis, RJ, onde recebe todas
as intimações., vem perante V. Exa., com fulcro nos arts. 5º, XXXII e art. 170, V da CRFB; art. 6º, IV,
art. 39, II e VIII, art. 81 e 83 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11 de setembro
de 1990), propor a presente:

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS

C/C DANOS MORAIS

em face de GRUPO HU VIAGENS E TURISMO S.A., devidamente inscrita no CNPJ sob o n°


12.954.744/0001-24, podendo ser citada à João Cabral de Mello Neto, nº 400, 7º andar – Península
Corporativa, Barra da Tijuca – RJ., CEP: 22.776-090, pelos motivos de fato e de direito a seguir
aduzidos:

INICILAMENTE requer a concessão do benefício da GRATUIDADE DE JUSTIÇA,


por ser o requerente pobre e não ter condições de arcar com as custas processuais sem prejuízo do
sustento próprio ou de sua família, pelo que, faz juntada da presente declaração na forma da lei
1060/50.
Para os efeitos do artigo 39, I e II do CPC, vem requerer que as PUBLICAÇÕES
e INTIMAÇÕES, sejam expedidas em nome de Dr. Bethania Figueiredo Rocha das Neves,
subscritora da presente.

DOS FATOS

No dia 13/10/2021, a Autora efetuou a compra do pacote de viagem “Playa


del Carmen – 2023”, através do site da Ré, pelo valor de R$2.496,00 (dois mil quatrocentos e
noventa e seis reais), o qual foi parcelado em 6x de R$332,80 (trezentos e trinta e dois reais e
oitenta centavos), no boleto parcelado, conforme documentos anexos.

Ocorre que, devido à indisponibilidade de reservas para as datas escolhidas


pela Autora para viajar, esta em 01 de janeiro do ano corrente, contatou a Ré a fim de efetuar o
CANCELAMENTO do seu pedido nº 7910136, oportunidade em que solicitou também o estorno do
valor, haja vista que todas as parcelas já haviam sido pagas, quando foi inteirado que até o dia 01
de abril do ano corrente ocorreria o estorno dos valores já desembolsados, o que não fora
consumido.

Dessa forma, após a data limite do estorno ser ultrapassada, a Autora efetuou
novo contato com a Ré, buscando esclarecimentos da demora injustificada, assim como,
manifestando o desejo de que o valor fosse reembolsado, conforme provas em anexo e abaixo,
recebendo como resposta da Ré que ainda não havia uma data certa para o reembolso, porém a
solicitação continuava em andamento.

Ante ao exposto em maio do ano corrente, a parte Autora contatou


novamente a Ré, haja vista que após acessar o aplicativo desta, verificou que constava que além do
pedido ter sido cancelado, o depósito também já havia sido realizado, informação que não revela a
verdade dos fatos.

Mediante isso, a Autora foi respondida por e-mail pela “Central de


Felicidade do Viajante”, prepostos da Ré, que a orientou, através do protocolo nº 13840336, a
aguardar até que fosse feito novo contato com atualização da solicitação de reembolso.
Entretanto, superado quase três meses após a data do estorno, que seria 01 de abril do ano
corrente, até a presente data não houve qualquer providência tomada pela Ré.
FRISA-SE QUE CONFORME DEMOSTRADO NO DECORRER DA PRESENTE,
TRATA-SE DE MAIS UM DOS CASOS COTIDIANOS EM QUE A RÉ COMPELE A PARTE AUTORA A UM
ETERNO LOOPING DE RESPONSABILIDADE, SEMPRE POSTERGANDO A SITUAÇÃO E A
PERMANECENDO SEM RESOLUÇÃO, DEIXANDO A AUTORA SEMPRE AGUARDANDO O ESTORNO
DO VALOR DESEMBOLSADO.

Ademais, como bem pode comprovar, tal período é extremamente abusivo e


nada razoável, pois conforme comprovado através de provas em anexo, diversas foram as
tentativas da Autora em resolver sua situação administrativamente.

Assim, mesmo após o abuso praticado pela Ré, a Autora tentou resolver a
presente demanda de forma amigável, contudo, sendo novamente informada que, nada poderia
ser feito, uma vez que a solicitação para o reembolso continuava em andamento e sem desfecho,
motivo pelo qual, vem socorrer-se do Judiciário, para ver seus direitos garantidos e respeitados,
diante da prática abusiva e desleal praticada pelos funcionários das Rés.

DO DIREITO

Da Relação de Consumo

Cabe salientar que nesta ação existe a relação de consumo onde a Ré atua
como fornecedora e a Autora como consumidora na forma do art. 2°, caput, da Lei 8.079, de 11 de
setembro de 1990.

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único.
Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

Assim, uma vez reconhecida a Autora como destinatária final do serviço


contratado e demonstrada a hipossuficiência técnica da Autora, tem-se configurada uma relação de
consumo, conforme entendimento doutrinário sobre o tema:

Sustentamos, todavia, que o conceito de consumidor deve ser


interpretado a partir de dois elementos: a) a aplicação do princípio
da vulnerabilidade e b) a destinação econômica não profissional do
produto ou do serviço. Ou seja, em linha de princípio e tendo em
vista a teleologia da legislação protetiva deve-se identificar o
consumidor como o destinatário final fático e econômico do produto
ou serviço”. (MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6º
ed. Editora RT, 2016, Versão e-book, pg. 16).

Consequentemente, devem ser concedidas os benefícios processuais


promovidos pelo Código de Defesa do Consumidor, em especial a inversão do ônus da prova,
trazida ao art. 6º do inc. VIII:

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor: (...)

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Ainda, o consumidor por princípio (inciso I, artigo 4º, CDC) é vulnerável


perante o fornecedor de produtos e serviços, uma vez que este, no sistema capitalista, impõe sua
vontade no mercado de consumo, fazendo com que os consumidores, se sujeitem quando
querem/podem/necessitam contratar as regras estabelecidas que vão desde as limitações de
escolhas por conta do padronização de produtos e serviços, até o modelo contratual estabelecido.

Do Dano Moral

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova que junta no presente


processo, a Ré deixou de cumprir com a sua obrigação primária de cautela e prudência na
atividade, causando constrangimentos indevido a Autora.

Não obstante o constrangimento ilegítimo, as reiteradas tentativas de


resolver as necessidades da Autora ultrapassam a esfera dos aborrecimentos aceitáveis do
cotidiano, uma vez que foram obrigados a buscar informações e diversas ferramentas para resolver
um problema de força maior, internacional e notório, ficando com a resposta de que a solicitação
continuava em andamento, portanto, a Autora não recebeu o devido tratamento, uma vez que não
deu causa ao motivo que atrapalha o turismo em todo o mundo e ficou desamparada sem
informações da empresa Ré.

Assim, no presente caso, não se pode analisar isoladamente o


constrangimento sofrido, mas a conjuntura de fatores que obrigaram a Consumidora a buscar a
via judicial. Ou seja, deve-se considerar o grande desgaste da Autora nas reiteradas tentativas de
solucionar o ocorrido, sem êxito, gerando o dever de indenizar, conforme precedentes sobre o
tema:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO


PROCESSUAL CIVIL (2015). RESPONSABILIDADE CIVIL. CANCELAMENTO
DE VIAGEM. MÁ PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE EMPRESA DE VIAGENS.
DANOS MORAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA 07/STJ. RECURSO DESPROVIDO (STJ – AgInt no AREsp:
1050687 DF 2017/0022731-00, Relator: Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, Data de Julgamento: 27/02/2018, T3 – TEREIRA
TURMA, Data de Publicação: DJe 02/03/2018).
Trata-se da necessária consideração dos danos causados pela perda do
tempo útil (desvio produtivo) do consumidor.

O dano moral pode ser definido como a privação ou lesão de direito da


personalidade, independentemente de repercussão patrimonial direta, desconsiderando-se o mero
mal-estar, dissabor ou adversidade do cotidiano, sendo que a sanção consiste na imposição de uma
indenização, cujo valor é fixado judicialmente, com a finalidade de compensar as vítimas, punir os
infratores e prevenir fatos semelhantes que provocam insegurança jurídica.

De acordo com a doutrina e a jurisprudência, o prejuízo imaterial é uma


decorrência natural (lógica) da própria violação do direito da personalidade ou da prática do ato
ilícito. Assim, o dano moral, de acordo com Sérgio Cavalieri Filho: "deriva inexoravelmente do
próprio fato ofensivo, de modo que, provada a ofensa... está demonstrado o dano moral"
(Programa de Responsabilidade Civil. 5ª ed. São Paulo: Editora Malheiros. 2003. p. 99).

No presente caso, a autora teve sofrimento que causou angústia, uma vez
que está sem saber o que fazer, já que buscou DIVERSAS vezes a empresa Ré, de forma que não
precisasse buscar o judiciário para obter a resposta. Ademais, a consumidora está com MEDO de
perder seu dinheiro investido em tal pacote, já que a empresa não prestou nenhum atendimento,
não se posicionando quanto ao caso.

Ademais, conforme disposto nos fatos iniciais, a consumidora teve que


desperdiçar seu tempo útil para solucionar problemas de público conhecimento, sendo que a
empresa Ré não demonstrou qualquer intenção na solução do problema, obrigando o ingresso da
presente ação.

Este desgaste fica perfeitamente demonstrado por meio de reclamações


feitas através dos meios extrajudiciais sem qualquer atendimento.

Este transtorno involuntário é o que a doutrina denomina de DANO PELA


PERDA DO TEMPO ÚTIL, pois afeta diretamente a rotina dos consumidores gerando um desvio
produtivo involuntário, que obviamente causam angústia e estresse.
Humberto Theodoro Júnior leciona de forma simples e didática sobre o tema,
aplicando-se perfeitamente ao presente caso:

Entretanto, casos há em que a conduta desidiosa do fornecedor


provoca injusta perda de tempo do consumidor, para solucionar
problema de vício do produto ou serviço. (...) O fornecedor, desta
forma, desvia o consumidor de suas atividades para "resolver um
problema criado" exclusivamente por aquele. Essa circunstância, por si
só, configura dano indenizável no campo do dano moral, na medida
em que ofende a dignidade da pessoa humana e outros princípios
modernos da teoria contratual, tais como a boa-fé objetiva e a função
social: (...) É de se convir que o tempo configura bem jurídico valioso,
reconhecido e protegido pelo ordenamento jurídico, razão pela qual,
"a conduta que irrazoavelmente o viole produzirá uma nova espécie de
dano existencial, qual seja, dano temporal" justificando a indenização.
Esse tempo perdido, destarte, quando viole um "padrão de
razoabilidade suficientemente assentado na sociedade", não pode ser
enquadrado noção de mero aborrecimento ou dissabor." (THEODORO
JÚNIOR, Humberto. Direitos do Consumidor. 9ª ed. Editora Forense,
2017. Versão ebook, pos. 4016).

O caráter punitivo-pedagógico da condenação à compensação do dano moral


deve ser observado, fixando-se a indenização em montante capaz de inibir efetivamente a parte ré
de continuar com práticas como a demonstrada nos autos. A Ré deve ser condenada por ter
infringido as regras básicas do Código de Defesa do Consumidor, nascendo, assim, a obrigação de
indenizar, como prevê Caio Mário da Silva Pereira:

“Como sentimento humano, além de social, à mesma ordem jurídica


repugna que o agente reste incólume em face do prejuízo individual. O
lesado não se contenta com a punição social do ofensor. Nasce daí a
ideia de reparação, com estrutura de princípios de favorecimento à
vítima e 6 de instrumentos montados para ressarcir o mal sofrido. Nas
responsabilidade civil está presente uma finalidade punitiva ao infrator
aliada a uma necessidade que eu designo de pedagógica, a que não é
estranha a ideia de garantia para a vítima, e de solidariedade que a
sociedade humana deve-lhe prestar.” (Responsabilidade Civil, Editora
Forense, 2ª Edição, Rio de Janeiro, 1990, pág. 15).
Nesse sentido:

Então, a perda injusta e intolerável do tempo útil do consumidor


provocada por desídia, despreparo, desatenção ou má-fé (abuso de
direito) do fornecedor de produtos ou serviços deve ser entendida
como dano temporal (modalidade de dano moral) e a conduta que o
provoca classificada como ato ilícito. Cumpre reiterar que o ato ilícito
deve ser colmatado pela usurpação do tempo livre, enquanto violação
a direito da personalidade, pelo afastamento do dever de segurança
que deve permear as relações de consumo, pela inobservância da boa-
fé objetiva e seus deveres anexos, pelo abuso da função social do
contrato (seja na fase pré-contratual, contratual ou pós-contratual) e,
em último grau, pelo desrespeito ao princípio da dignidade da pessoa
humana." (GASPAR, Alan Monteiro. Responsabilidade civil pela perda
indevida do tempo útil do consumidor. Revista Síntese: Direito Civil e
Processual Civil, n. 104, nov-dez/2016, p. 62)

Doutrina e jurisprudência, portanto, reconhecem que o valor da indenização


por dano moral deve atender não só ao caráter compensatório, mas, também ao intuito de
desestimular novas condutas. Assim, a Autora requere, a título de reparação por dano moral, que
Vossa Excelência fixe o montante de R$10.000,00 (dez mil reais), valor condizente com o
atendimento das teses supracitadas.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, vem requerer a V. Exa., a citação da empresa Ré para


responder à presente ação, e sua intimação para comparecer à audiência de conciliação, que
poderá ser imediatamente convolada em AIJ, caso não cheguem às partes a acordo, sob pena de
revelia, requerendo ainda que:

1. Seja a Ré, condenada a efetuar A DEVOLUÇÃO do valor de R$2.496,00 (dois mil


quatrocentos e noventa e seis reais), referentes ao estorno solicitado e não realizado
até a presente data, devendo tal valor ser monetariamente corrigido e aplicado os
devidos juros legais, desde o desembolso até o efetivo pagamento;

2. Segue requerendo a condenação da Ré, para indenizar a Autora com a quantia


equivalente a R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de danos morais, em razão dos
fatos articulados acima, norteando-se o d. magistrado pelo princípio da razoabilidade
bem como o pelo caráter PUNITIVO PEDAGÓGICO, eis que a Autora se encontra em
estado hipossuficiente perante a Ré, bem como considerando a elevada capacidade
econômica e o regime ditatorial que esta exerce perante os usuários de seus serviços,
conforme entendimento recente do STJ, o qual estabeleceu parâmetros para a
uniformização dos valores de danos morais (REsp. 1105974/ BA RECURSO ESPECIAL
2008/ 0260489-7);;

3. A inversão do ônus da prova, em favor da parte Autora.

Protesta por todos os meios de prova em direito admitidas, tais como


documentais, testemunhas que serão arroladas posteriormente, periciais e depoimento pessoal do
representante legal da Ré, sob pena de confissão.

Dá-se a causa o valor de R$ 12.496,00 (doze mil quatrocentos e noventa e


seis reais).

Espera deferimento.

Nilópolis – RJ, 20 de julho de 2023.

Dra. BETHANIA F. ROCHA DAS NEVES

OAB/RJ – 231.471

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