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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA

COMARCA DE CASCAVEL – ESTADO DO PARANÁ.

AYMÉE CARPI, brasileira, viúva, aposentada, atualmente com 71 anos de idade,


inscrita no CPF nº, com endereço eletrônico, residente na cidade de Cascavel-PR,
por intermédio de seu advogado, inscrito na OAB/UF sob nº, com endereço
profissional, nº, conforme procuração em anexo vem respeitosamente à presença de
V. Exa. propor:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, COMINADA COM INDENIZAÇÃO POR


DANO MATERIAL E MORAL COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA.

Em face de MAIS VIDA PLANOS DE SAÚDE, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ 05.248.0225899/0001, com sede na Rua das Américas, nº 100,
Bairro Central, em São Paulo-SP.

I – DOS FATOS
A Requerente firmou contrato de plano de saúde com a Requerida no ano
de 1995, para cobertura total e ilimitada de exames, internações, procedimentos e
demais necessidades médicas e terapêuticas relacionadas à segurança de sua
saúde.
No ano de 2018 a Requerente foi diagnosticada como portadora da
enfermidade “Neoplasia Mamária Avançada”, se fazendo necessário a realizações
de quimioterapias e a remoção do tumor em 2019, tudo custeado pelo plano de
saúde.
Contudo, o referido tratamento foi ineficaz e, em janeiro de 2020, a
requerente foi diagnosticada com metástase óssea, cujo laudo foi devidamente
prescrito e assinado pela médica oncologista responsável pelo tratamento da
Requerente.
Considerando a atual situação da Requerente, para que tenha chance de
cura e consequente sobrevida, foi-lhe indicado e prescrito a realização de
Radioterapia Externa com Modulação de Intensidade do Feixe (IMRT).
Considerando ainda que a radioterapia comum não é o tratamento recomendado por
afetar os órgãos vitais da requerente, que, por se tratar de pessoa idosa, o que lhe
trará ainda mais debilidade a saúde.
Assim, portando das guias médicas e laudo, em janeiro de 2020,
a Requerente dirigiu-se por diversas vezes na sede da Requerida, a fim
de obter a autorização para iniciar seu tratamento, o qual tem urgência,
tendo em vista o agravamento da metástase. Entretanto, passados mais
de 30 (trinta) dias, no dia 23 de fevereiro de 2020, a Requerente
recebeu a NEGATIVA EXPRESSA do plano de saúde, alegando que tal
técnica não está prevista no rol da ANS e no contrato (cláusula 35)
menciona que “a não abrangência da técnica prevista no rol da ANS é
justificativa para negativa do tratamento”.
Devido a tal resposta e desesperada por sua vida, a Requerente não viu
saída a não ser
In Casu, devido ao agravamento da doença da Requerente e da
necessidade de iniciar o tratamento, enquanto a resposta da Requerida não
aparecia, a Requerente não viu outra saída senão realizar um empréstimo bancário
no valor de R$12.000,00 (doze mil reais) para dar o início às 3 (três) primeiras
sessões de radioterapia.
Contudo, para que seja eficaz esse tratamento necessita de periodicidade e
urgência, se fazendo necessário ao mínimo 3 (três) sessões por mês para inibir o
avanço da doença.
Desesperada e frustrada pela negativa do plano de saúde ao tratamento
solicitado pela Requerente, não restou outra opção senão a propositura da presente
ação, para obrigar a Requerida a cumprir suas obrigações contratuais.

II – DOS FUNDAMENTOS
II.I – DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO PROCESSUAL
Conforme documentos anexados ao pleito, a Requerente possui atualmente
71 (setenta e um) anos de idade.
Razão pela qual, requesta a prioridade da tramitação da presente demanda,
nos termos do Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741/2013 e nos termos do art. 1.048,
inciso I, do CPC.

II.II – DA RELAÇÃO DE CONSUMO, DA COMPETÊNCIA E DA INVERSÃO DO


ÔNUS DA PROVA
Resta demonstrado a evidente relação de consumo, uma vez que o Código
de Defesa do Consumidor em seu artigo 2º estabelece que o consumidor é toda
pessoa que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final, o que
ocorre com a Requerente ao contratar o Plano de Saúde da Requerida. Ainda, em
seu artigo 3º, estabelece que fornecedor é toda pessoa que desenvolva atividades
de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercializam produtos ou prestação de serviços, se
encaixando a Requerida, pois efetua a prática de comercialização de planos de
saúde.

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações
de consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.
Considerando o exposto acima, pode-se confirmar que se trata de uma
relação de consumo entre as partes, possibilitando então, a aplicação do Código de
Defesa do Consumidor.
Nesse sentido, considerando o art. 101, I do referido diploma legal, faz-se
possível a promoção desta ação no domicílio da Requerente.

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de


produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II
deste título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

Assim, conforme o artigo acima, resta demonstrado a competência desta


comarca para o julgamento da lide.
Demonstrada a relação de consumo, resta consubstanciada a configuração
da necessária inversão do ônus da prova, conforme disposição expressa do Código
de Defesa do Consumidor:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a facilitação da


defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;

A inversão do ônus da prova é consubstanciada na impossibilidade ou


grande dificuldade na obtenção de prova indispensável por parte do Autor, sendo
amparada pelo princípio da distribuição dinâmica do ônus da prova implementada
pelo CPC:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir
o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de
modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em
que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus
que lhe foi atribuído.

Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência, uma vez que


disputa a lide com uma empresa de grande porte, indisponível concessão do direito
à inversão do ônus da prova, que desde já requer.

II.III – DA OBRIGAÇÃO DE FAZER


As cláusulas contratuais atinentes aos planos de saúde devem ser
interpretadas em conjunto com as disposições do Código de Defesa do Consumidor,
de sorte a alcançar os fins sociais preconizados na Constituição Federal.
A Súmula 608 do STJ indica que para os casos de plano de saúde, deverá
reger-se pelo código de defesa do consumidor.

Súmula 608: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos


contratos de plano de saúde, salvo os administradores por entidades
de autogestão.

Assim, o Requerido não pode eximir-se da responsabilidade contratual de


cumprir o adimplido.
A exclusão imposta pelo contrato deve, assim, ser avaliada com ressalvas,
observando-se de maneira concreta que a natureza da relação ajustada entre as
partes e os fins do contrato celebrado não podem ameaçar o objeto da avença.
Conforme disposto no art. 51, IV e § 1º, II do Código de Defesa do
Consumidor:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
IV - Estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
(...)
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
(...)
II - Restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à
natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio
contratual;

Sobressai-se da norma acima mencionada que são nulas de pleno direito as


obrigações consideradas “incompatíveis com a boa-fé ou a equidade”.
O contrato de seguro-saúde, por ser atípico, por conseguinte, consubstancia
função supletiva do dever de atuação do Estado. Assim, impõe a proteção da saúde
do segurado e de seus familiares contra qualquer enfermidade e em especiais
circunstancias como aquela que aqui se vê onde a realização de RADIOTERAPIA
EXTERNA COM MODULAÇÃO DE INTENSIDADE DO FEIXE (IMRT), mostra-se
necessário à Autora.
Conforme resta demonstrado pelos fatos narrados e provas anexadas, bem
como com a prova testemunhal que será produzida, o nexo causal entre o dano e a
conduta da Requerida fica perfeitamente caracterizada pela negativa ao custear o
tratamento para a Requerida, conforme disposto no Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao


exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

A reparação é plenamente devida, em face da responsabilidade civil inerente


ao presente caso.

II.IV – DA RESPONSABILIDADE CIVIL


Toda e qualquer reparação civil está intimamente ligada à responsabilidade
do causador do dano em face do nexo causal presente no caso concreto, o que se
denota no presente caso, onde a Requerente mediante ausência de resposta para o
pagamento de seu tratamento, teve de realizar empréstimo bancário no valor de R$
12.000,00 (doze mil reais). Sendo devido, portanto, a recuperação do patrimônio
lesado por meio da indenização, conforme leciona a doutrina sobre o tema:

“Reparação de dano. A prática do ato ilícito coloca o que sofreu o


dano em posição de recuperar, da forma mais completa possível, a
satisfação de seu direito, recompondo o patrimônio perdido ou
avariado do titular prejudicado. Para esse fim, o devedor responde
com seu patrimônio, sujeitando-se, nos limites da lei, à penhora de
seus bens.” (NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de
Andrade. Código Civil Comentado. 12 ed. Editora RT, 2017. Versão
ebook, Art. 1.196)

Com a demora da resposta da Requerida, a Requerente desesperada,


temendo pela própria vida e pela eficácia do tratamento, se viu obrigado a buscar
uma solução para resolver sua situação. Como se não bastasse o abalo psicológico
por ter a vida se esvaindo dependendo de uma resposta, com a negativa dada pela
Requerida, a Requerente se viu ainda mais desesperada, motivo pelo qual postula a
presente causa.
O quantum indenizatório deverá ser fixado de modo a não só garantir à parte
que o postula a recomposição do dano em face da lesão experimentada, mas
igualmente deve servir de reprimenda àquele que efetuou a conduta ilícita, como
assevera a doutrina:

“Com efeito, a reparação de danos morais exerce função diversa


daquela dos danos materiais. Enquanto estes se voltam para a
recomposição do patrimônio ofendido, por meio da aplicação da
fórmula “danos emergentes e lucros cessantes” (CC, art. 402),
aqueles procuram oferecer compensação ao lesado, para atenuação
do sofrimento havido. De outra parte, quanto ao lesante, objetiva a
reparação impingir-lhe sanção, a fim de que não volte a praticar atos
lesivos à personalidade de outrem. ” (BITTAR, Carlos Alberto.
Reparação Civil por Danos Morais. 4ª ed. Editora Saraiva, 2015.
Versão Kindle, p. 5423)
Nesse sentido, a indenização por dano moral deve representar para a vítima
uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao
causador sanção e alerta para que não volte a repetir o ato, uma vez que fica
evidenciado completo descaso aos transtornos causados.
Assim, requer-se a título de danos morais o valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais).

II.V – DA TUTELA DE URGÊNCIA


O art. 300 do CPC permite que seja concedida tutela de urgência quando
houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo.
Os requisitos de evidencia do direito estão consumados em razão da
documentação acostada aos autos.
Da mesma forma, encontram-se os requisitos de perigo de dano irreparável
ou risco ao resultado útil do processo, visto que caso não seja realizado de imediato,
o tratamento corre o risco de que ser ineficaz, ou ainda pior, a autora poderá vir a
óbito antes de ver a luz o seu direito realizado.
Em sendo assim, tendo em vista a necessidade de urgência, requer que seja
concedida a ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA DE URGÊNCIA.

III. DOS PEDIDOS


Ante o exposto, requer-se de Vossa Excelência:
i. O recebimento e regular processamento da presente ação.
ii. A concessão de tutela de urgência, nos termos do artigo 300 do CPC,
a fim de obrigar o Requerido a custear o tratamento recomendado à
Requerente.
iii. A citação do Requerido para que compareça a audiência de
conciliação à ser designada, em não sendo obtida a composição,
oferte defesa no prazo legal sob pena de revelia;
iv. A produção de todos os meios de prova em direito admitidas, em
especial: depoimento pessoal das partes; oitiva de testemunhas, as
quais comparecerão independentemente de intimação; juntada de
novos documentos; produção de prova pericial.
v. Ao final, seja julgada totalmente procedente a ação, condenando o
Requerido a:
a. Obrigação de custear todo o tratamento médico prescrito à
Requerente;
b. Indenizar o dano material causado, no valor de R$ 12.000,00 (doze
mil reais);
c. Indenizar o dano moral suportado, em valor não inferior a R$
10.000,00 (dez mil reais);
d. Ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
arbitrados em 20% sob o valor da causa, nos termos do artigo 85,
§3º CPC.

Dá-se a causa o valor de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Cascavel, Data.

ADVOGADO
OAB/UF.
Em relatório separado, responda aos seguintes questionamentos abaixo:
(A simples menção ao dispositivo legal não pontua a questão)
1 – JOSÉ DE ALENCAR, ingressou com pedido de tutela antecipada à propositura de ação
principal, em sede de plantão judicial, decorrente de situação emergencial de saúde. A
liminar foi deferida e determinado o aditamento da inicial no prazo de 15 dias úteis, porém
esgotado prazo o aditamento não é realizado, a parte RÉ (SEGURADORA DO PLANO DE
SAÚDE) não recorre da liminar e o Sr. JOSÉ DE ALENCAR continua beneficiando-se da
liminar concedida.
a) Diante disso, em relação a liminar, há extinção do processo com perda da eficácia
da liminar ou extinção do processo com estabilização dos efeitos da liminar
concedida?
b) Passado o prazo do aditamento, é possível rever os efeitos dessa decisão?
Justifique sua resposta.

a) Em relação a liminar, haverá a extinção do processo sem resolução do


mérito, uma vez que o autor deveria ter realizado o aditamento da petição
inicial no prazo de 15 (quinze) dias e não o fez, incorrendo no §2º do art. 303
do CPC. Ainda que o art. 304 estabeleça que caso não seja interposto
recurso da decisão que concedeu a tutela antecipada a decisão se tornará
estável, como não foi realizado o aditamento o processo será extinto.
b) Sim, o art. 304, §5 estabelece o direito de rever, reformar ou invalidar a tutela
antecipada no prazo de 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que
extinguiu o processo, ou seja, ainda poderá rever os efeitos da decisão em
até 2 (dois) anos..

2 – a) Quais são os requisitos da petição inicial da ação que visa à prestação da tutela
cautelar? b) Mediante o deferimento da tutela cautelar, qual o prazo para formulação do
pedido principal? E quais as hipóteses legais que são aptas a cessar a eficácia da tutela
concedida em caráter antecedente.
a) O capítulo III do CPC trata a respeito do procedimento da tutela cautelar
requerida em caráter antecedente. Em seu artigo 305 lista como requisitos a
indicação da lide e seu fundamento, a exposição sumária do direito que se
objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
b) O artigo 308 do CPC traz que após ocorrer o deferimento da tutela cautelar, o
pedido principal terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias.
O art. 309 do CPC estipula como hipóteses para se cessar a eficácia da tutela
concedida em caráter antecedente: I - o autor não deduzir o pedido no prazo
legal; II – não for efetivada dentro de 30 (trinta) dias; III – O juiz julgar
improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou extinguir o processo
sem resolução de mérito.

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