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AO JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE ________ .

________ , ________ , ________ , inscrito no CPF sob nº


________ , ________ , residente e domiciliado na ________ ,
________ , ________ , na Cidade de ________ , ________ ,
________ , vem à presença de Vossa Excelência, por meio do
seu Advogado, infra assinado, ajuizar

AÇÃO ANULATÓRIA C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO,


DANOS MORAIS E
TUTELA DE URGÊNCIA

em face da Companhia Elétrica ________ , com endereço para


citação na cidade de ________ , ________ ________ pelos fatos
e motivos que passa a expor.

DOS FATOS

Trata-se de ação que visa a nulidade do Termo de Ocorrência de


Irregularidade (TOI) nº ________ que tramitou de forma unilateral sem a ciência do
Autor junto à empresa Ré, gerando a aplicação de multa no valor de R$ ________ além
do aviso de corte.

Ocorre que, ao analisar o processo administrativo que gerou o TOI,


verificou-se que foi originado de processo administrativo que correu sem o contraditório
e a ampla defesa, devendo ser declarado nulo.

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


DA NULIDADE DO TOI

O Termo de Ocorrência de Irregularidade - TOI é um instrumento


previsto no artigo 129, inciso I, da Resolução nº 414/2010 da ANEEL, com a seguinte
redação:

Art. 129. Na ocorrência de indício de procedimento irregular, a


distribuidora deve adotar as providências necessárias para sua
fiel caracterização e apuração do consumo não faturado ou
faturado a menor.

I - emitir o Termo de Ocorrência e Inspeção - TOI, em


formulário próprio, elaborado conforme Anexo V desta
Resolução.

E na sequencia do referido dispositivo, no inciso II, o consumidor tem


direito à exigir uma perícia técnica do medidor, como decorrência lógica do princípio do
contraditório e da ampla defesa:

II - solicitar perícia técnica, a seu critério, ou quando requerida


pelo consumidor ou por seu representante legal;

O TOI, nesse sentido, tem por finalidade formalizar a constatação de


alguma irregularidade encontrada nas unidades de consumo dos usuários de energia
elétrica, que proporcione faturamento inferior ao faturado.

Para tanto, este processo administrativo deveria permitir a atuação do


consumidor em todas as suas fases, inclusive na perícia local que conclui pela
ausência ou ocorrência de irregularidade.

Mas ao contrário do que esperado, a empresa Ré no mesmo ato que


lavrou o TOI, gerou a aplicação de multa de forma automática, sem apurar se houve
furto de energia elétrica "gato", sem o crivo da ampla defesa do consumidor.

Trata-se portanto, de penalidade imposta de forma indevida, conforme


precedentes sobre o tema:

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


LIGHT. LAVRATURA DE TERMO DE OCORRÊNCIA DE
IRREGULARIDADE (TOI). Sentença de parcial procedência
para declarar a nulidade do TOI lavrado pela ré, bem como
determinar a restituição à parte autora, de forma simples, dos
valores eventualmente pagos pelo referido TOI. Recurso
exclusivo da parte autora. Consumidora que faz jus à devolução
dos valores indevidamente pagos na forma simples, ante a
ausência de comprovação de má fé. A lavratura de TOI, por si
só, não tem o condão de acarretar danos morais e não se verifica
no caso concreto qualquer desdobramento do fato a fundamentar
a pretensão de indenização. Dano moral não configurado. Mero
aborrecimento. Súmula 75 do TJRJ. Sentença mantida tal como
lançada. DESPROVIMENTO DO RECURSO.(TJ-RJ - APL:
01031224120118190001 RIO DE JANEIRO CAPITAL 9
VARA CIVEL, Relator: SÔNIA DE FÁTIMA DIAS, Data de
Julgamento: 11/10/2017, VIGÉSIMA TERCEIRA CÂMARA
CÍVEL CONSUMIDOR, Data de Publicação: 19/10/2017,
#33634614) #3634614

Apelação Cível. Relação de Consumo. Lavratura de Termo de


Ocorrência de Irregularidade (TOI). Sentença de procedência.
Irresignação da parte ré. 1. Conhecimento apenas da matéria
relativa à lavratura do TOI e da cobrança a título de recuperação
de consumo. Ausência de impugnação específica com relação ao
dano moral. Pedido genérico de reforma total da sentença.
Violação ao princípio da dialeticidade. 2. Responsabilidade
objetiva da prestadora do serviço. Artigo 14, § 3º da Lei
8.078/90. Incumbe à concessionária o ônus de comprovar a
regularidade do TOI. 3. Aplicação do enunciado nº 256 da
súmula do TJRJ. Termo de ocorrência de irregularidade que não
ostenta o atributo da presunção de legitimidade, ainda que
subscrito pelo usuário. 4. Laudo pericial conclusivo, no sentido
de que o procedimento adotado pela empresa ré não atendeu ao
art. 72 da resolução nº 456/2000 da ANEEL, vigente à época da
lavratura do TOI. Autor que solicitou a troca do relógio medidor
após comprar o imóvel. Demandante não pode ser

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


responsabilizado por eventuais danos do aparelho de medição,
causados por terceiros. Falha na prestação do serviço. 5.
Cobrança indevida de valores a título de recuperação de
consumo. Devolução em dobro dos valores pagos pelo autor,
relativos às cobranças indevidas decorrentes da lavratura do
TOI. 6. Manutenção da sentença. 7. NEGA-SE PROVIMENTO
AO RECURSO.(TJ-RJ - APL: 00098406920098190210 RIO
DE JANEIRO LEOPOLDINA REGIONAL 4 VARA CIVEL,
Relator: SÉRGIO SEABRA VARELLA, Data de Julgamento:
30/08/2017, VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL
CONSUMIDOR, Data de Publicação: 31/08/2017, #03634614)

CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ENERGIA


ELÉTRICA. TOI. INEXISTÊNCIA DE IRREGULARIDADES.
Ação de obrigação de fazer cumulada com indenizatória porque
a Ré lavrou Termo de Ocorrência de Irregularidade e cobra pelo
consumo de energia elétrica recuperado. O Termo de Ocorrência
de Irregularidade é insuficiente a provar o alegado vício no
relógio medidor de energia elétrica porque produzido de forma
unilateral, sem o crivo do contraditório. Apesar de a prova
documental evidenciar haver problemas no medidor, a prova
pericial confirma a inocorrência de consumo não registrado. O
faturamento correspondente ao consumo razoável impede a
cobrança do crédito pela recuperação e impõe a devolução em
dobro dos valores pagos indevidamente, de vez que
caracterizada a má-fé da prestadora de serviço. Incremento da
verba honorária na forma do artigo 85, § 11, do Código de
Processo Civil. Recurso desprovido. (TJ-RJ - APL:
00232911220098190001 RIO DE JANEIRO CAPITAL 31
VARA CIVEL, Relator: HENRIQUE CARLOS DE
ANDRADE FIGUEIRA, Data de Julgamento: 11/04/2017,
QUINTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 17/04/2017,
#53634614)

Este entendimento é recorrente no STJ:

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


"Ademais, a empresa concessionária, além de todos os dados
estatísticos acerca do regular consumo, ainda dispõe de seu
corpo funcional, que mês a mês verifica e inspeciona os
equipamentos. É seu dever provar que houve fraude no medidor.
6. Finalmente, a insurgente argumenta que o TOI, Termo de
Ocorrência de Irregularidade, é prova unilateral e insuficiente
para embasar a condenação. Sendo assim, extrai-se do acórdão
objurgado que o entendimento do Sodalício a quo não está em
consonância com a orientação do STJ de que é insuficiente para
a caracterização de suposta fraude no medidor de consumo de
energia a prova apurada unilateralmente pela concessionária.
Nesse sentido: AgInt no AREsp 857.257/SP, Rel. Ministra
Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe 13.6.2016; AgRg no
AREsp 370.812/PE, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, DJe 5.12.2013; AgRg no AREsp 188.620/PE, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28.8.2012;
AgRg no AREsp 330.121/PE, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, DJe 22.8.2013. 7. Recurso Especial
provido. (STJ - RECURSO ESPECIAL REsp 1605703)

A energia elétrica trata-se de serviço essencial, não podendo a


concessionária recusar o fornecimento ou condicionar o seu fornecimento ao pagamento
de penalidades por irregularidades não apuradas corretamente, fato que infringe
frontalmente o CDC:

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não


será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida


tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do
que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros
legais, salvo hipótese de engano justificável.

Portanto, constranger o consumidor a pagar penalidade, sob pena de corte


da luz configura grave lesão ao direito do consumidor que deve ser coibido.

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Demonstrada a relação de consumo, resta configurada a necessária


inversão do ônus da prova, pelo que reza o inciso VIII do artigo 6º do Código de Defesa
do Consumidor, tendo em vista que a narrativa dos fatos encontra respaldo nos
documentos anexos, que demonstram a verossimilhança do pedido, conforme
disposição legal:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:


(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências

Trata-se da materialização exata do Princípio da Isonomia, segundo o


qual, todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os limites de sua
desigualdade.

A inversão do ônus da prova é consubstanciada na impossibilidade ou


grande dificuldade na obtenção de prova indispensável por parte do Autor, sendo
amparada pelo princípio da distribuição dinâmica do Ônus da prova implementada pelo
Novo Código de Processo Civil:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo
ou extintivo do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da
causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva
dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário,
poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso,
desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá
dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


atribuído.

Nesse sentido, a jurisprudência orienta a inversão do ônus da prova para


viabilizar o acesso à justiça:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DISTRIBUIÇÃO


DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA. PARTE COM
MAIOR CONDIÇÃO DE PRODUÇÃO. (..) DECISÃO
FUNDAMENTADA. POSSIBILIDADE. I ? O § 1º do art. 373
do CPC consagrou a teoria da distribuição dinâmica do ônus
da prova ao permitir que o juiz altere a distribuição do
encargo se verificar, diante da peculiaridade do caso ou
acaso previsto em lei, a impossibilidade ou excessiva
dificuldade de produção pela parte, desde que o faça por
decisão fundamentada, concedendo à parte contrária a
oportunidade do seu cumprimento. II Negou-se provimento ao
recurso. (TJ-DF 07000112620178070000 0700011-
26.2017.8.07.0000, Relator: JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA,
Publicado no PJe : 02/05/2017 , #83634614)

Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência, uma vez que


disputa a lide com uma empresa de grande porte, indisponível concessão do direito à
inversão do ônus da prova, que desde já requer.

DOS DANOS PELO DESVIO PRODUTIVO

Conforme disposto nos fatos iniciais, o Consumidor teve que desperdiçar


seu tempo útil para solucionar problemas que foram causados pela empresa Ré que não
demonstrou qualquer intenção na solução do problema expondo o consumidor a
profundo desgaste emocional, obrigando o ingresso da presente ação.

Este desgaste fica perfeitamente demonstrado por meio das ameaças no


corte de energia, bem como com a insistência na cobrança inexistente e resistência em
solucionar o problema. .

Este transtorno involuntário é o que a doutrina denomina de DANO

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


PELA PERDA DO TEMPO ÚTIL, pois afeta diretamente a rotina do consumidor
gerando um desvio produtivo involuntário, que obviamente causam angústia e stress.

Humberto Theodoro Júnior leciona de forma simples e didática sobre o


tema, aplicando-se perfeitamente ao presente caso:

"Entretanto, casos há em que a conduta desidiosa do


fornecedor provoca injusta perda de tempo do consumidor,
para solucionar problema de vício do produto ou serviço. (...)
O fornecedor, desta forma, desvia o consumidor de suas
atividades para "resolver um problema criado" exclusivamente
por aquele. Essa circunstância, por si só, configura dano
indenizável no campo do dano moral, na medida em que ofende
a dignidade da pessoa humana e outros princípios modernos da
teoria contratual, tais como a boa-fé objetiva e a função social:
(...) É de se convir que o tempo configura bem jurídico valioso,
reconhecido e protegido pelo ordenamento jurídico, razão pela
qual, "a conduta que irrazoavelmente o viole produzirá uma
nova espécie de dano existencial, qual seja, dano temporal"
justificando a indenização. Esse tempo perdido, destarte,
quando viole um "padrão de razoabilidade suficientemente
assentado na sociedade", não pode ser enquadrado noção de
mero aborrecimento ou dissabor." (THEODORO JÚNIOR,
Humberto. Direitos do Consumidor. 9ª ed. Editora Forense,
2017. Versão ebook, pos. 4016)

Bruno Miragem, no mesmo sentido destaca:

"Por outro lado, vem se admitindo crescentemente, a partir de


provocação doutrinária, a concessão de indenização pelo dano
decorrente do sacrifício do tempo do consumidor em razão de
determinado descumprimento contratual, como ocorre em
relação à necessidade de sucessivos e infrutíferos contatos com
o serviço de atendimento do fornecedor, e outras providências
necessárias à reclamação de vícios no produto ou na prestação
de serviços." (MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


Consumidor - Editora RT, 2016. versão e-book, 3.2.3.4.1)

Nesse sentido:

"Então, a perda injusta e intolerável do tempo útil do


consumidor provocada por desídia, despreparo, desatenção ou
má-fé (abuso de direito) do fornecedor de produtos ou serviços
deve ser entendida como dano temporal (modalidade de dano
moral) e a conduta que o provoca classificada como ato ilícito.
Cumpre reiterar que o ato ilícito deve ser colmatado pela
usurpação do tempo livre, enquanto violação a direito da
personalidade, pelo afastamento do dever de segurança que
deve permear as relações de consumo, pela inobservância da
boa-fé objetiva e seus deveres anexos, pelo abuso da função
social do contrato (seja na fase pré-contratual, contratual ou
pós-contratual) e, em último grau, pelo desrespeito ao princípio
da dignidade da pessoa humana." (GASPAR, Alan Monteiro.
Responsabilidade civil pela perda indevida do tempo útil do
consumidor. Revista Síntese: Direito Civil e Processual Civil, n.
104, nov-dez/2016, p. 62)

A jurisprudência, no mesmo sentido, ancora o posicionamento de que o


desvio produtivo ocasionado pela desídia de uma empresa deve ser indenizada,
conforme predomina a jurisprudência:

APELAÇÕES CÍVEIS. OBRIGAÇÃO DE FAZER.


REPETIÇÃO EM DOBRO DO INDÉBITO. INDENIZAÇÃO.
DANOS MORAIS. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO DE ENERGIA ELÉTRICA. IMPUTAÇÃO DA
PRÁTICA DE FRAUDE NO RELÓGIO MEDIDOR.
LAVRATURA DE TOI. DÉBITO AUFERIDO
UNILATERALMENTE. NATUREZA ABUSIVA DA
COBRANÇA NÃO ELIDIDA PELA CONCESSIONÁRIA.
DANO MORAL CONFIGURADO. O Termo de Ocorrência
de Irregularidade, elaborado pela prestadora de serviço, não é
suficiente a provar fraude no relógio medidor de energia

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


elétrica, porquanto produzido unilateralmente. Ausência de
discrepância entre o consumo praticado e aquele apontado pela
concessionaria que afasta a imputação de irregularidade no
consumo. Conduta ilegal da concessionária no procedimento
de apuração de irregularidades e recuperação de receita
impostos ao consumidor que configura o dever de indenizar,
considerando-se as ameaças de corte de serviço essencial e
inserção de nome no cadastro restritivo ao crédito, fatos que
suplantam os aborrecimentos comuns das relações
cotidianas e que geraram relevante temor e perda de tempo
útil. Danos morais que exsurgem do próprio fato e que não
cuidam de mero aborrecimento. Cobrança injustificável que se
subsome ao disposto no parágrafo único do art. 42 do CDC.
Conhecimento e provimento do 1º recurso (consumidor) e
desprovimento do 2º (concessionaria). (TJ-RJ - APL:
02302616320178190001, Relator: Des(a). ROGÉRIO DE
OLIVEIRA SOUZA, Data de Julgamento: 29/01/2019,
VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, #43634614)

APELAÇÃO - AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C.C.


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - CONSUMIDOR
DEMANDANTE INDEVIDAMENTE COBRADO, POR
DÉBITO REGULARMENTE SATISFEITO - Completo
descaso para com as reclamações do autor - Situação em que
há de se considerar as angústias e aflições experimentadas
pelo autor, a perda de tempo e o desgaste com as inúmeras
idas e vindas para solucionar a questão - Hipótese em que
tem aplicabilidade a chamada teoria do desvio produtivo do
consumidor - Inequívoco, com efeito, o sofrimento íntimo
experimentado pelo autor, que foge aos padrões da normalidade
e que apresenta dimensão tal a justificar proteção jurídica -
Indenização que se arbitra na quantia de R$ 5.000,00, à luz da
técnica do desestímulo. (...) (TJSP; Apelação 1027480-
84.2016.8.26.0224; Relator (a): Ricardo Pessoa de Mello Belli;
Órgão Julgador: 19ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Guarulhos - 8ª Vara Cível; Data do Julgamento: 05/03/2018;

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


Data de Registro: 13/03/2018).

Trata-se de notório desvio produtivo caracterizado pela perda do tempo


que lhe seria útil ao descanso, lazer ou de forma produtiva, acaba sendo destinado na
solução de problemas de causas alheias à sua responsabilidade e vontade

A perda de tempo de vida útil do consumidor, em razão da falha da


prestação do serviço não constitui mero aborrecimento do cotidiano, mas verdadeiro
impacto negativo em sua vida, devendo ser INDENIZADO.

DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

O quantum indenizatório deve ser fixado de modo a não só garantir à


parte que o postula a recomposição do dano em face da lesão experimentada, mas
igualmente deve, servir de reprimenda àquele que efetuou a conduta ilícita, como
assevera a doutrina:

"Com efeito, a reparação de danos morais exerce função


diversa daquela dos danos materiais. Enquanto estes se voltam
para a recomposição do patrimônio ofendido, por meio da
aplicação da fórmula "danos emergentes e lucros cessantes"
(CC, art. 402), aqueles procuram oferecer compensação ao
lesado, para atenuação do sofrimento havido. De outra parte,
quanto ao lesante, objetiva a reparação impingir-lhe sanção, a
fim de que não volte a praticar atos lesivos à personalidade de
outrem." (BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos
Morais. 4ª ed. Editora Saraiva, 2015. Versão Kindle, p. 5423)

Neste sentido é a lição do Exmo. Des. Cláudio Eduardo Regis de


Figueiredo e Silva, ao disciplinar o tema:

"Importa dizer que o juiz,ao valorar o dano moral,deve arbitrar


uma quantia que, de acordo com o seu prudente arbítrio,seja
compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a
intensidade e duração do sofrimento experimentado pela
vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais
que se fizerem presentes" (Programa de responsabilidade civil.
6. ed., São Paulo: Malheiros, 2005. p. 116). No mesmo sentido
aponta a lição de Humberto Theodoro Júnior: [...] "os
parâmetros para a estimativa da indenização devem levar em
conta os recursos do ofensor e a situação econômico-social do
ofendido, de modo a não minimizar a sanção a tal ponto que
nada represente para o agente, e não exagerá-la, para que não
se transforme em especulação e enriquecimento injustificável
para a vítima. O bom senso é a regra máxima a observar por
parte dos juízes" (Dano moral. 6. ed., São Paulo: Editora
Juarez de Oliveira, 2009. p. 61). Complementando tal
entendimento, Carlos Alberto Bittar, elucida que"a indenização
por danos morais deve traduzir-se em montante que represente
advertência ao lesante e à sociedade de que se não se aceita o
comportamento assumido, ou o evento lesivo
advindo.Consubstancia-se, portanto, em importância
compatível com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se,
de modo expresso, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta,
efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do
resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia
economicamente significativa, em razão das potencialidades do
patrimônio do lesante"(Reparação Civil por Danos Morais, RT,
1993, p. 220). Tutela-se, assim, o direito violado. (TJSC,
Recurso Inominado n. 0302581-94.2017.8.24.0091, da Capital -
Eduardo Luz, rel. Des. Cláudio Eduardo Regis de Figueiredo e
Silva, Primeira Turma de Recursos - Capital, j. 15-03-2018,
#83634614)

Ou seja, enquanto o papel jurisdicional não fixar condenações que sirvam


igualmente ao desestímulo e inibição de novas práticas lesivas, situações como estas
seguirão se repetindo e tumultuando o judiciário.

Portanto, cabível a indenização por danos morais, E nesse sentido, a


indenização por dano moral deve representar para a vítima uma satisfação capaz de
amenizar de alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao causador sanção e alerta para

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


que não volte a repetir o ato, uma vez que fica evidenciado completo descaso aos
transtornos causados.

DA TUTELA ANTECIPADA

Nos termos do Art. 300 do CPC/15, "a tutela de urgência será concedida
quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano
ou o risco ao resultado útil do processo."

No presente caso tais requisitos são perfeitamente caracterizados,


vejamos:

DA PROBABILIDADE DO DIREITO: Como ficou perfeitamente


demonstrado, o direto do Autor é caracterizado pela ilegalidade na condução do
processo administrativo que gerou o Termo de Ocorrência de Irregularidade,
configurando quebra o contraditório e da ampla defesa.

DO RISCO AO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO: Trata-se de


fornecimento de energia elétrica com aviso de eminente corte decorrente do TOI.
Assim, considerando que se trata de serviço essencial, tal circunstância confere grave
risco de perecimento do resultado útil do processo, conforme precedentes sobre o tema:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RELAÇÃO DE CONSUMO.


ENERGIA ELÉTRICA. LAVRATURA DE TERMO DE
OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE (TOI). Indeferimento
do pedido de antecipação dos efeitos da tutela, antes da citação
da ré. Irresignação da parte autora. 1. Desnecessária a intimação
da parte agravada para apresentar contrarrazões. Ausência de
ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa. 2.
Termo de Ocorrência de Irregularidade (TOI) que não tem
presunção de legitimidade. TOI lavrado de forma unilateral,
sem a participação do consumidor. Aplicação do enunciado
256 da Súmula do TJRJ. Verossimilhança das alegações do
agravante demonstrada. 3. A manutenção da cobrança das
parcelas referentes à recuperação de consumo, até a decisão final
nos autos principais, pode causar danos graves e de difícil

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


reparação ao agravante, porquanto trata-se de serviço essencial.
4. Reforma da decisão. Concessão da tutela de urgência para que
o autor deposite em juízo o valor referente ao consumo mensal
de energia elétrica, excluídas as parcelas relativas ao TOI e para
que a concessionária se abstenha de interromper o
fornecimento de energia elétrica na residência do autor, bem
como de incluir seu nome nos cadastros restritivos de crédito
em razão do débito discutido. 5. DÁ-SE PROVIMENTO AO
RECURSO. (TJ-RJ - AI: 00393162520178190000 RIO DE
JANEIRO CAPITAL 34 VARA CIVEL, Relator: SÉRGIO
SEABRA VARELLA, VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA
CÍVEL CONSUMIDOR, Data de Publicação: 04/08/2017,
#63634614)

Diante de tais circunstâncias, é inegável a existência de fundado receio


de dano irreparável, sendo imprescindível a manutenção do fornecimento de energia
elétrica ao Autor, bem como a suspensão da cobrança das parcelas referentes à
penalidade aplicada, nos termos do Art. 300 do CPC.

DA JUSTIÇA GRATUITA

O Requerente atualmente é ________ , tendo sob sua responsabilidade a


manutenção de sua família, razão pela qual não poderia arcar com as despesas
processuais.

Ademais, em razão da pandemia, após a política de distanciamento social


imposta pelo Decreto ________ nº ________ (em anexo), o requerente teve o seu
contrato de trabalho reduzido, com redução do seu salário em ________ , agravando
drasticamente sua situação econômica.

Desta forma, mesmo que seus rendimentos sejam superiores ao que


motiva o deferimento da gratuidade de justiça, neste momento excepcional de redução
da sua remuneração, o autor se encontra em completo descontrole de suas contas, em
evidente endividamento.

Como prova, junta em anexo ao presente pedido ________ .

#3634614 Wed Aug 25 23:52:46 2021


Para tal benefício o autor junta declaração de hipossuficiência e
comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das custas
judicias sem comprometer sua subsistência, conforme clara redação do Art. 99 Código
de Processo Civil de 2015.

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na


petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de
terceiro no processo ou em recurso.

§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na


instância, o pedido poderá ser formulado por petição simples,
nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.

§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos


autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais
para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o
pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos
referidos pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência


deduzida exclusivamente por pessoa natural.

Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz jus o
Requerente ao benefício da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE


SEGURANÇA - JUSTIÇA GRATUITA - Assistência Judiciária
indeferida - Inexistência de elementos nos autos a indicar que
o impetrante tem condições de suportar o pagamento das
custas e despesas processuais sem comprometer o sustento
próprio e familiar, presumindo-se como verdadeira a
afirmação de hipossuficiência formulada nos autos
principais - Decisão reformada - Recurso provido. (TJSP;
Agravo de Instrumento 2083920-71.2019.8.26.0000; Relator (a):
Maria Laura Tavares; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito
Público; Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 6ª Vara de

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Fazenda Pública; Data do Julgamento: 23/05/2019; Data de
Registro: 23/05/2019

Cabe destacar que o a lei não exige atestada miserabilidade do


requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas
processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem


tampouco se fala em renda familiar ou faturamento máximos. É
possível que uma pessoa natural, mesmo com bom renda
mensal, seja merecedora do benefício, e que também o seja
aquela sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não
dispõe de liquidez. A gratuidade judiciária é um dos
mecanismos de viabilização do acesso à justiça; não se pode
exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito tenha que
comprometer significativamente sua renda, ou tenha que se
desfazer de seus bens, liquidando-os para angariar recursos e
custear o processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora
JusPodivm, 2016. p. 60)

"Requisitos da Gratuidade da Justiça. Não é necessário que a


parte seja pobre ou necessitada para que possa beneficiar-se
da gratuidade da justiça. Basta que não tenha recursos
suficientes para pagar as custas, as despesas e os honorários do
processo. Mesmo que a pessoa tenha patrimônio suficiente, se
estes bens não têm liquidez para adimplir com essas despesas,
há direito à gratuidade." (MARINONI, Luiz Guilherme.
ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Código
de Processo Civil comentado. 3ª ed. Revista dos Tribunais,
2017. Vers. ebook. Art. 98)

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal
e pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça ao requerente.

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DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, REQUER:

1. A concessão da gratuidade de justiça, nos termos do art. 98 do Código de


Processo Civil;

2. A concessão da tutela antecipada para fins de manter o fornecimento de energia


elétrica, sob pena de multa diária;

3. A citação do Réu para responder, querendo;

4. A total procedência da ação para declarar a ilegalidade da multa aplicada, com a


continuidade do fornecimento de luz;
4.1 Sucessivamente, requer a condenação da empresa Ré à repetição de indébito
no valor de R$ ________ ;
4.2 Ainda em caráter sucessivo requer a condenação do réu ao pagamento de
indenização por danos morais em valor não inferior a R$ ________ ;

5. A produção de todas as provas admitidas em direito, em especial a pericial;

6. A condenação do réu ao pagamento de honorários advocatícios nos parâmetros


previstos no art. 85, §2º do CPC;

7. Por fim, manifesta o ________ na audiência conciliatória, nos termos do Art.


319, inc. VII do CPC.

Dá-se à causa o valor de R$ ________

Nestes termos, pede deferimento

________ , ________ .

________

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ANEXOS

1. Comprovante de renda

2. Declaração de hipossuficiência

3. Documentos de identidade do Autor

4. Procuração

5. Provas da ocorrência - Cópia do TOI

6. Provas da tentativa de solução direto com o réu

7. Provas da negativa de solução

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