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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO JUIZADO ESPECIAL

CÍVEL DO FORO DA COMARCA DE CAMBARÁ – PARANÁ.

ALINE DE LIMA, brasileira, solteira, doméstica, portadora do CIRG n°


12.510.734-6 SESP/PR e inscrita no CPF n° 104.223.779-45, residente e domiciliada à Rua
Osvaldo Cruz, nº 990, Cornélio Procópio/PR - CEP: 86.390-000, por seus advogados que
ao final assinam, Emerson Flogner e Anderson Flogner, inscritos na OAB/PR sob o nº
55.925 e nº 78.164, respectivamente, vem com o devido respeito e acatamento, à
presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO DE REPARAÇÃO POR
DANOS MORAIS, em face de

TIM CELULAR S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no


CNPJ nº 04.206.050/0001-80, estabelecida na Rua Comendador Araújo, 299, Centro,
Curitiba/ PR, fazendo-a pelas razões de fato e de direito a seguir articuladas.
I. Sumula dos Fatos

A parte autora possui contrato de telefonia junto à empresa ré, cujo


número da linha é (43) 99830-8608, na modalidade pré-pago, conforme documentos
anexos.
A peticionária, para sua infelicidade, começou a notar que após efetuar
as recargas no celular, seus créditos sumiam repentinamente, sem que tenha havido
qualquer tipo de uso, seja em ligação, mensagem ou acesso à internet, passando, por
conseguinte, a verificar detidamente seu detalhamento de consumo fornecido pelo sítio
eletrônico da ré.

Nessa esteira, diante da análise do detalhamento de consumo, a parte


autora notou a cobrança de um serviço que jamais foi solicitado, assim denominado:

1. VO-TIMCompleta;43998308608 – no dia 01.11.2018;

Assim, diante do desconto de seus créditos por um serviço que sequer


sabia da existência, a autora entrou em contato com o call center da empresa ré,
oportunidade em que requereu o cancelamento do serviço acima descrito, bem como
Avenida XV de Novembro / nº 301 / Centro / C. Procópio/PR
Tel.: (43) 3523-9552 / 98462-1048 / 998315486 / E-mail: flogner.adv@gmail.com
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de todo e qualquer serviço de interatividade e vo/vas ativos na linha, sendo que tais
contatos podem ser comprovados conforme protocolos a seguir:

 20180398479334 – no dia 10.11.2018, às 08:35, falando com a atendente


Marcela;

 20189835823455 – no dia 03.12.2018, às 14:27, falando com a atendente


Vanessa;

Contudo, em que pese as solicitações de cancelamento do serviço


descontado indevidamente, a parte ré, violando a boa-fé contratual, bem como não
atendendo os reclamos do autor, continuou subtraindo os créditos do requerente,
cobrando-o por serviços jamais contratados e sequer por ela prestados mesmo após os
pedidos expressos de cancelamento, conforme pode se verificar no detalhamento anexo,
o qual comprova o desconto indevido do serviço.

Tal situação, aliada à perspectiva de ver seus créditos descontados


indevidamente mediante cobrança de serviços jamais solicitados, cumpre ainda
esclarecer, tem causado à autora toda sorte de angústia e mal-estar, conforme restará
demonstrado ao longo da presente petição inicial.

Diante desses fatos e fundamentos jurídicos que seguem, ver-se-á que a


autora teve lesado seus direitos de personalidade, sobretudo porque, mesmo após o
requerimento para que as cobranças fossem cessadas, a parte ré continuou a efetuar
os descontos indevidos, revelando-se, desta forma, seu call center ineficiente.

II. Da aplicabilidade do CDC e da inversão do ônus da prova

O art. 2º do Código de Defesa do Consumidor define a figura do


consumidor como sendo “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário final”, devendo a expressão “destinatário final” ser
interpretada de forma ampla, bastando à configuração do consumidor que a pessoa,
física ou jurídica, se apresente como destinatário fático do bem ou serviço, isto é, que o
retire do mercado, encerrando objetivamente a cadeia produtiva em que inseridos o
fornecimento do bem ou a prestação do serviço1

Diante disso, percebe-se que a legislação consumerista é de plano


aplicável ao presente caso, tendo em vista que a requerida insere-se na figura do
prestador de serviço prevista no artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor, e a
autora, por sua vez, amolda-se certamente à figura contida no art. 2º do mesmo
diploma legal: “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final”

1
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 55
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Destaca-se, ainda, que dentre os direitos básicos do consumidor


presentes no art. 6° da legislação consumerista, encontra-se a inversão do ônus da
prova, quando presente a verossimilhança das alegações ou ante a sua
hipossuficiência:

Art. 6° São direitos básicos do consumidor:

[...]

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com


a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;

De qualquer forma, ao analisar a possibilidade de se inverter o ônus da


prova, deve o magistrado verificar se está presente a verossimilhança das alegações ou
a hipossuficiência do consumidor na relação existente. Nesse sentido, seja permitido
remeter ao seguinte julgado

Agravo de instrumento. Ação indenizatória. Falha na prestação de


serviço de transporte público. Código de defesa do consumidor. Deferimento da
inversão do ônus da prova - Ope judicis, nos termos do art. 6º, inciso VIII, do CDC.

Inconformismo da concessionaria ré. A inversão do ônus probandi no


presente caso traduz em medida necessária, ante a presença de seus requisitos
autorizadores - verossimilhança das alegações autorais e hipossuficiência técnica e
econômica do consumidor. Decisão que não se afigura teratológica. Aplicação da
súmula nº 227 deste TJRJ. Precedentes jurisprudenciais. Recurso ao qual se nega
seguimento, na forma do art. 557, caput, do CPC (Brasil. Processo nº 0048385-
52.2015.8.19.0000, da 6ª Câmara Cível do TJRJ, relatora Des. Inês da Trindade, julgado
em 21.10.2015)

No presente caso, a inversão do ônus da prova mostra-se necessária, em


virtude de estarem devidamente satisfeitos os requisitos para a sua ocorrência. Vale
dizer, a verossimilhança está comprovada, sobretudo, através dos detalhamentos de
consumo extraído do site da empresa Tim Celular S/A, além de ser evidente a
hipossuficiência da Requerente, tendo em vista a requerida possuir maiores condições
técnicas de trazer aos autos elementos fundamentais para a resolução da lide.

Sob essa perspectiva, é fato notório que a empresa requerida TIM


Celular S.A é conhecida no mundo inteiro, tratando-se de verdadeira gigante no setor
de telefonia móvel, o que, por si só, denota sua irrefragável superioridade (fática,
técnica e financeira) em relação à peticionária, reputada parte hipossuficiente. Aliás
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Por hipossuficiência deve-se entender a impossibilidade de prova, ou


de esclarecimento da relação de causalidade, trazida ao consumidor pela violação da
norma que lhe dá proteção, por parte do fabricante ou do fornecedor. A
hipossuficiência importa quando há inesclarecimento da relação de causalidade e essa
impossibilidade de esclarecimento foi causada pela própria violação da norma de
proteção.2

Ante o exposto, verifica-se que, no caso em apreço, os documentos


acostados à presente petição inicial, principalmente o detalhamento de consumo do
peticionário, demonstram a veracidade dos argumentos aqui suscitados, além de ser
evidente a sua hipossuficiência técnica, econômica e financeira em relação à requerida,
pelo que faz jus à referida inversão, a mercê do que determina o art. 6º, inc. III, do
Código de Defesa do Consumidor.

III. Da reparação pelos danos morais injustamente sofridos pela parte autora

Diante do caso narrado e, em consonância às normas constitucionais,


em especial o inc. X, do art. 5º da Constituição Federal, tem-se que “são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

Como se viu, a requerida continuou efetuando cobranças indevidas de


serviços jamais solicitados pelo requerente mesmo após este ter requerido o
cancelamento dos serviços, demonstrando, não surpreendentemente, sua total
ineficiência do call center.

Portanto, sabendo-se que o dano, nas precisas palavras de Clayton


Reis , deve ser “considerado como uma lesão a um direito, que produza imediato
3

reflexo no patrimônio material ou imaterial do ofendido, de forma a acarretar-lhe


sensação de perda” é de se dizer que a parte autora o sofreu por verificar que teve que
se dispender, mais de uma vez, para tentar solucionar um problema que de fácil
resolução pela requerida.

Destarte, se é certo que “[...] todos possuímos interesse no uso e gozo


dos bens da vida – liberdade, privacidade, beleza, estética, saúde, honra, prestígio, bem-
estar – que são coisas imprescindíveis à realização integral do ser humano 4”, é
igualmente certo que todo o mal-estar, angústia, vergonha, mágoa, aborrecimento,
ofensa à honra e transtorno5 configuram, indubitavelmente, lesão da mais alta
magnitude, pelo que deve o causador do dano indenizar a vítima do ato lesivo.

Nesse sentido a jurisprudência das Turmas Recursais do Paraná:


2
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do Processo de Conhecimento. 5. ed., São
Paulo: Revista dos Tribunais, p. 277-281
3
REIS, Clayton. Avaliação do Dano Moral. 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 04
4
REIS, Clayton. Op. cit., p. 09
5
Para Eduardo Zannoni, estes estados de espírito não fazem parte do dano moral propriamente dito, mas constituem
sua consequência. In: El daño en la responsabilidad civil, 2. ed., Buenos Aires: Astrea, 1987, p. 172,
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EMENTA: AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


RELAÇÃO JURÍDICA C/C INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL E
REPETIÇÃO DE INDÉBITO COM PEDIDO LIMINAR –
TELEFONIA MÓVEL – COBRANÇA DE SERVIÇOS NÃO
SOLICITADOS – FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO –
PRÁTICA ABUSIVA – CALL CENTER INEFICIENTE –
APLICAÇÃO DOS ENUNCIADOS 1.6 E 1.8 DA TRU/PR – ART. 14 E
ART. 22 DO CDC – RESTITUIÇÃO DEVIDA – FORMA DOBRADA
– APLICAÇÃO DO ART. 42, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO
CONSUMERISTA – DANO MORAL CONFIGURADO – FIXADO
EM R$ 3.000,00 (TRÊS MIL REAIS) – ÍNFIMO NO QUANTUM
ENTENDIMENTO DESTE RELATOR – MAJORADO PARA R$
8.000,00 (OITO MIL REAIS) – APLICAÇÃO DO ENUNCIADO 12.13,
“A”, DA TRU/PR – SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
Recurso do autor conhecido e provido. Recurso do réu conhecido e
desprovido. (Recurso Inominado n° 0001099- 52.2016.8.16.0089 –
Relator: Marcus Vinicius Schiebel em 07.02.2017)

Igualmente, quando a empresa de telefonia não se abstém de cobrar


pelos serviços não contratados mesmo após o pedido de cancelamento, tem-se
configurado o dano moral, conforme enunciado nº 1.6 das Turmas Recursais do Paraná:
“Call center ineficiente – dano moral:

Configura dano moral a obstacularização, pela precariedade e/ou


ineficiência do serviço de call center, por parte da empresa de telefonia,
como estratégia para não dar o devido atendimento aos reclamos do
consumidor.

Portanto, em razão de toda a angústia, dor, mal-estar, tristeza, revolta e


aborrecimentos injustamente sofridos pela autora ante a indevida cobrança de serviços
não solicitados, sobejamente por continuar efetuando os descontos mesmo após o
requerimento de cancelamento, é que se deve impor à requerida o dever de indenizar
e/ou reparar o dano, em quantia justa a ser arbitrada por V. Exa., a lembrar que

[...] a reparabilidade do dano moral se fundamenta em que a ordem


jurídica não pode admitir que uma determinada lesão a direito não
imponha ao responsável obrigação de indenização pelo simples aspecto
de não haver o prejuízo pecuniário.6

Diante toda esta explicação, restando incontroverso a existência do


dano moral in re ispa, não sendo necessário dizer que a situação aqui descrita tem o
condão de imputar à vítima sentimentos como dor, frustração, angústia, mágoa e
aborrecimento.

6
Apelação Cível nº 700043500666, 14ª CC do TJRS, Des. João A. B. Campos, datado de 26.06.2003.
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Assim, levando em consideração as peculiaridades do presente caso, a


extensão do dano, o porte financeiro da ré em detrimento do autor, sugere-se a Vossa
Excelência, seja arbitrada a indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez
mil reais).

IV. Dos requerimentos

Ex positis, requer a parte autora, digne-se Vossa Excelência:

a) Citar a parte ré, para, querendo, apresentar contestação, sob pena de revelia,
bem como para que junte os documentos que entender necessário para o
deslinde do feito;

b) Seja deferida a inversão do ônus da prova nos termos do art. 6º VIII do CDC,
por tratar a parte autora de pessoa hipossuficiente, bem como considerando a
verossimilhança das alegações aqui aduzidas;

c) Ao final, seja a empresa ré condenada ao pagamento de indenização por


danos morais no valor de R$ 10.000,00 dez mil reais;

Dá-se a causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais)

Nestes termos,
Pede e espera deferimento.

Cornélio Procópio, 11 de fevereiro de 2019.

Anderson Flogner
OAB/PR nº 78.164

Emerson Flogner
OAB/PR nº 55.925

Emerson Antônio Raulter Flogner


Acadêmico de Direito

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