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Luane Silva Nascimento

FACULDADE EVANGÉLICA RAÍZES


PROFESSORA LUANE S. NASCIMENTO
DIREITO EMPRESARIAL I

Aula 04: Dos Livros Comerciais

Caríssimos alunos, neste material vocês estudarão essas disciplinas e seus principais
aspectos legais e doutrinários.
Aproveitem a leitura e contem comigo para esclarecimento de dúvidas no nosso Fórum de
Dúvidas.
Aguardo vocês!
Professora Luane Nascimento

III – Dos livros comerciais


3.1 Obrigações comuns a todos os empresários:
Os empresários estão sujeitos às seguintes obrigações comuns, sendo elas:

• Registrar-se no Registro de Empresa antes de iniciar suas atividades (art. 967 do


C.C.);
• Escriturar regularmente os livros comerciais obrigatórios (art. 1179 do CC/02);
• Levantar balanço patrimonial e de resultado econômico a cada ano (art. 1.179 do
CC/02);
• Conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis
concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência dos
direitos neles consignados (art. 1.194 do CC/02).

Além dessas obrigações gerais, ainda existem outras obrigações específicas que
naturalmente vão depender da particularidade de cada atividade econômica a ser
exercida. Ex.: uma empresa que deseja fabricar medicamentos deve possuir autorização
da ANVISA, além da obrigação de possuir profissional habilitado para tal.

As microempresas e as empresas de pequeno porte continuam tendo tratamento


diferenciado e favorecido quanto à inscrição, registro e escrituração. Prova disso, são as
disposições da LC 123/2006, que assim nos diz:

Material Autoral – protegido. A reprodução ou veiculação deste material sem autorização da


Autora sujeitará o infrator às penalidades da Lei 9.610/1998 – Lei da Propriedade Intelectual.
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Art. 25. As microempresas e empresas de pequeno porte optantes
do Simples Nacional apresentarão, anualmente, à Secretaria da
Receita Federal declaração única e simplificada de informações
socioeconômicas e fiscais, que deverão ser disponibilizadas aos
órgãos de fiscalização tributária e previdenciária, observados prazo
e modelo aprovados pelo Comitê Gestor.

As empresas individuais (firmas individuais) têm tratamento mais específico ainda,


vejamos o que diz os parágrafos e incisos do art. 26 da LC 123/2006:
§ 1º O MEI fará a comprovação da receita bruta mediante
apresentação do registro de vendas ou de prestação de serviços na
forma estabelecida pelo CGSN, ficando dispensado da emissão do
documento fiscal previsto no inciso I do caput, ressalvadas as
hipóteses de emissão obrigatória previstas pelo referido Comitê.
§ 2o As demais microempresas e as empresas de pequeno porte,
além do disposto nos incisos I e II do caput deste artigo, deverão,
ainda, manter o livro-caixa em que será escriturada sua
movimentação financeira e bancária.
[...]
A referida lei ainda traz textualmente a opção por apresentação de
contabilidade simplificada tanto para as microempresas como para
as empresas de pequeno porte:
Art. 27. As microempresas e empresas de pequeno porte optantes
pelo Simples Nacional poderão, opcionalmente, adotar contabilidade
simplificada para os registros e controles das operações realizadas,
conforme regulamentação do Comitê Gestor.

3.2 Sistemas de escrituração

Marcelo Bertoldi nos leciona que existem no mundo três sistemas de escrituração de
livros comerciais dominantes, a saber:

• Sistema francês – verifica-se a determinação legal de o comerciante organizar sua


contabilidade mediante a utilização de livros determinados e conforme regras fixas de
escrituração. (O Brasil adota este sistema).
Material Autoral – protegido. A reprodução ou veiculação deste material sem autorização da
Autora sujeitará o infrator às penalidades da Lei 9.610/1998 – Lei da Propriedade Intelectual.
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• Sistema suíço – prega tão somente a necessidade da existência de livros, deixando
à escolha do comerciante quais os livros a serem por ele utilizados e sua forma de
escrituração.
• Sistema germânico – menciona a necessidade da existência de livros e determina
quais são eles, sem se verificar as regras de escrituração.

3.3 Funções e requisitos da escrituração

A escrituração tem as seguintes funções:

Interna – tem por objetivo proporcionar condições de gerenciamento ao empresário,


auxiliar na maximização dos resultados, corrigir desvios etc.

Externa – tem por fim fornecer ao fisco condições de apuração dos fatos geradores de
reflexo tributário, fornecer elementos probatórios ao poder judiciário, dentre outras.

A escrituração ainda deve obedecer aos seguintes requisitos:

Intrínsecos - São requisitos pertinentes à técnica contábil. A escrituração deve ser feita
em idioma e moeda corrente nacionais, em forma mercantil, por ordem cronológica de dia,
mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões emendas ou transportes
para as margens (Art. 1.183 do CC/02).

Extrínsecos - São os requisitos relacionados com a segurança dos livros empresariais.


Atende aos requisitos desta ordem o livro que contiver termos de abertura e de
encerramento, e estiver autenticado pela junta comercial (art. 1.181 do CC/02).

3.4 Livros obrigatórios comuns

O livro obrigatório comum a todos os empresários no Brasil é o Livro Diário (art. 1180 do
CC/02).
No livro Diário devem ser lançadas, “com individuação, clareza e caracterização do
documento respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução, todas as operações
relativas ao exercício da empresa”, podendo ser escriturado de forma resumida, conforme
Material Autoral – protegido. A reprodução ou veiculação deste material sem autorização da
Autora sujeitará o infrator às penalidades da Lei 9.610/1998 – Lei da Propriedade Intelectual.
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dispõe o art. 1.184, caput e § 1.º, do Código Civil. Também “serão lançados no Diário o
balanço patrimonial e o de resultado econômico, devendo ambos ser assinados por
técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade
empresária” (art. 1.184, § 2.º, do Código Civil). _ André Ramos -

3.5 Livros obrigatórios especiais

Além do livro obrigatório comum, existem os obrigatórios especiais, cujas exigências são
particulares a cada atividade específica desenvolvida pelo empresário. Exs: Livro de
Registro de Duplicatas (19 da Lei n. 5.474/68); O livro de Entrada e Saída de Mercadorias
que deve ser escriturado pelo empresário que explora armazém - Geral (art. 7º do decreto
n. 1020/03) e Livro de Registro de Ações Nominativas, Atas das Assembleias Gerais,
Presença dos Acionistas (art. 100 da Lei n. 6.404/76).

3.6 Livros facultativos

Os empresários, desejando maior controle da atividade empresarial, têm a faculdade de


escriturar seus negócios em livros facultativos, podendo criar quanto livros, fichas,
documentos etc. que entendam necessário para gerenciamento do seu negócio. Ex: livro
de conta corrente com fornecedor.

3.7 Livros fiscais

Estes livros existem para controle do fisco. São considerados obrigatórios criados por leis
específicas e servem para atestar os fatos comerciais praticados pelo empresário com
reflexo tributário. Exs: livros de registro de entrada, saída e apuração de ICMS.

Livro Diário: é o livro que retrata as atividades do empresário; ele deve apresentar dia a
dia as operações relativas ao exercício da empresa. O empresário deve lançar,
diariamente, todas as operações realizadas, títulos de crédito que emitir, aceitar ou
endossar, fianças dadas e o mais que representar elemento patrimonial nas suas
atividades. Ao final de cada exercício, deverão ser lançados no livro o balanço patrimonial
e o balanço de resultado econômico. De acordo com o Código Civil (art. 1.185), o
Material Autoral – protegido. A reprodução ou veiculação deste material sem autorização da
Autora sujeitará o infrator às penalidades da Lei 9.610/1998 – Lei da Propriedade Intelectual.
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empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de lançamentos
poderá substituir o Livro Diário pelo Livro Balancetes Diários e Balanços, observadas as
mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele.

Livro Caixa: registra qualquer entrada e saída de dinheiro. Neste livro, há um controle
dos recursos que ingressam no patrimônio do empresário e daqueles que saem do
patrimônio do empresário, facilitando a apuração do resultado do exercício. Aos
empresários que optarem pelo SIMPLES Nacional (questões tributárias), em regra, é
obrigatório o livro Caixa (Lei Complementar 123/06, art. 26, § 2o).

Livro Estoque: destina-se à escrituração dos documentos fiscais e dos documentos de


uso interno do estabelecimento, correspondentes às entradas e às saídas, à produção,
bem como às quantidades referentes aos estoques de mercadorias. Os lançamentos
serão feitos operação a operação, devendo ser utilizada uma folha para cada espécie,
marca, tipo e modelo de mercadorias. Não serão escrituradas neste livro as entradas de
mercadorias a serem integradas no ativo fixo ou destinadas a uso do estabelecimento.

Livro Razão: são registrados os vários atos ou operações praticadas pelo empresário
pelas contas a que dizem respeito. Ao invés de fazer os lançamentos pelo dia da
operação, os lançamentos são feitos pelas contas a que dizem respeito. o Livro Razão é
obrigatório para as pessoas jurídicas sujeitas ao regime de tributação pelo lucro real e
apenas para estas.

Livro Borrador: Neste livro os comerciantes lançam as operações realizadas a cada


momento, com a finalidade de servir esse registro como base para a escrituração dos
outros livros. É, assim, um apanhado geral das atividades diárias do comerciante e pode
ser retificado a qualquer momento, pois, na realidade, serve apenas de borrão. (rascunho)

Livro Conta Corrente: Este livro tem por finalidade escriturar, separadamente, as contas
de cada freguês do estabelecimento comercial. É um desdobramento do título Conta
Corrente do Razão. Existe uma sequência lógica na escrituração do Diário, Razão e
Conta-Corrente. Enquanto no primeiro são lançadas, cronologicamente, todas as
operações realizadas pelo comerciante, qualquer que seja a sua origem ou modalidade, o
Razão distribui os diversos títulos dessas contas, escriturando-as de per se. O Conta-
Corrente faz o desdobramento do título Contas-Correntes do Razão, estampando as
Material Autoral – protegido. A reprodução ou veiculação deste material sem autorização da
Autora sujeitará o infrator às penalidades da Lei 9.610/1998 – Lei da Propriedade Intelectual.
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operações de cada freguês do estabelecimento. Serve, assim, este livro para mostrar a
situação individual de cada pessoa que possui relações com o estabelecimento.

3.8 Eficácia probatória dos livros empresariais

Os livros empresariais, desde que preencham os requisitos da lei (art. 1.183 CC/02) têm
eficácia probatória (art. 378 do CPC):

• Contra o próprio empresário;


• Contra outro empresário;
• Contra não-empresário.

3.9 Exibição dos livros

Os livros comerciais são protegidos pelo princípio do sigilo (Art. 1.190 CC/02), uma vez
que as informações ali contidas guardam estritos interesses comerciais, não podendo cair
na vala comum do conhecimento público, sob pena de prejuízos econômico
concorrenciais.

Não obstante esta proteção existem exceções, podendo a exibição ser:

• Parcial – Destina a garantir o princípio do sigilo, resguardando da curiosidade


alheia as partes da escrituração mercantil. A exibição parcial se faz por extração da suma
que interessa ao juízo e restituição imediata do livro ao empresário.

• Total – Esta pode importar sua retenção em cartório durante todo o andamento da
ação, não se assegurando o sigilo de seus dados, e dificultando a sua utilização e
escrituração pelo comerciante.

A exibição total dos livros só poderá ser determinada pelo juiz a requerimento das partes,
em apenas algumas ações. Como exemplo, tem-se as questões relativas à sucessão,
comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem ou falência, ao
passo que a exibição parcial pode ser decretada de ofício ou a requerimento da parte, em
qualquer ação judicial, sempre que útil à solução da demanda. É o que preveem os arts.
417 usque 421 do CPC, além do art. 1.191 do CC/02:
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Autora sujeitará o infrator às penalidades da Lei 9.610/1998 – Lei da Propriedade Intelectual.
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Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e


papéis de escrituração quando necessária para resolver questões
relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou
gestão à conta de outrem, ou em caso de falência.

De acordo com o art. 1.193 do CC/02 a tutela do sigilo dos livros empresariais não tem o
alcance de eximir o comerciante da sua exibição para determinadas autoridades
administrativas. Ao contrário, em duas hipóteses o legislador expressamente garante a
certos funcionários públicos irrestrito acesso à escrituração mercantil. Como exemplo, o
CTN em seu art. 195, prevê a inaplicabilidade de qualquer exclusão do direito de exame
da escrituração do comerciante pela autoridade fiscal e o art. 33, §1, da Lei n. 8.212/91
reconhece à fiscalização a Seguridade Social idêntica prerrogativa.

Evidentemente, quanto às demais autoridades administrativas, prevalece ainda o princípio


do sigilo consagrado pela legislação cível. O funcionário da Prefeitura do setor de
fiscalização da segurança de uso dos imóveis, por exemplo, não pode ter acesso à
escrituração do empresário, porque não existe expressa disposição na legislação federal
que afaste a incidência do art. 1.190 do CC na espécie.

Nota:
• Os livros empresariais extraviados devem ser noticiados através de publicação em
jornal, bem como deve ser comunicado à junta comercial no prazo de 48 horas.

3.10 Consequências da irregularidade na escrituração

O empresário que não agir de acordo com os preceitos legais, estará sujeito às
consequências na órbita civil e penal.

Na órbita das relações civis, destacamos:

a) O empresário não poderá promover a ação de verificação de contas para fins de


pedido de falência com base na impontualidade do devedor, com aproveitamento de sua
escrituração, por força do art., 1º, II, da LF.
Material Autoral – protegido. A reprodução ou veiculação deste material sem autorização da
Autora sujeitará o infrator às penalidades da Lei 9.610/1998 – Lei da Propriedade Intelectual.
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b) Não poderá valer-se da eficácia probatória que o Código de Processo Civil concede
aos livros empresariais (art. 379).
c) Ainda estará impedido de impetrar concordata (art. 140, I, da LF).
d) O art. 358, I, do CPC diz se for requerida a exibição do livro obrigatório contra o
empresário, não possuindo, ou possuindo irregular, presumir-se-ão como verdadeiros os
fatos relatados pelo requerente, a cerca dos quais fariam prova os livros em questão.

Notas:
• O empresário que mantém irregular a sua escrituração fica impedido de usufruir
dos benefícios que a lei oferece aos empresários regulares.

• No campo penal, a consequência encontra-se na nova LFR, que reputa crime


falimentar a ¨inexistência de livros obrigatórios ou sua escrituração atrasada, lacunosa,
defeituosa ou confusa¨. Falindo o empresário ou sociedade empresária que não cumpre a
obrigação de manter escrituração regular de seu negócio, a falência será
necessariamente fraudulenta.

Material Autoral – protegido. A reprodução ou veiculação deste material sem autorização da


Autora sujeitará o infrator às penalidades da Lei 9.610/1998 – Lei da Propriedade Intelectual.

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