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O REGISTRO PÚBLICO DAS EMPRESAS MERCANTIS

Ana Carolina dos Santos Pinto1


Thiago Marchionatti Uggeri2

RESUMO: O registro público acompanha a atividade comercial há muitos anos, e é processo essencial
para garantir a transparência e legalidade dessas atividades. No ordenamento jurídico este instituto se
estabelece com o propósito de garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos
jurídicos conforme esclarece o artigo 1º da Lei nº. 8934/94. Além disso, pode-se afirmar que a
publicidade promove concorrência justa, sendo peça fundamental na construção de uma economia
sólida e sociedade transparente. Neste sentido, o presente artigo busca compreender o registro público
mercantil, expondo brevemente o contexto histórico, e analisando as especificações do registro, para
alcançar o objetivo do trabalho, utilizar-se-á a revisão bibliográfica com método de abordagem dedutivo
e documentação indireta contendo como fontes livros, artigos científicos, sites relacionados ao tema e
a legislação pertinente, quais sejam: Lei n.º 8934/94, Código Civil e Instrução Normativa nº. 81, o qual
relata sobre o registro digital. Finaliza-se expondo que essa pesquisa se torna relevante em âmbito
jurídico visto que é sabido que o registro mercantil é uma etapa crucial para qualquer empresa regular
seu funcionamento.
Palavras-chave: Registro mercantil; Publicidade; Atos jurídicos; e Sociedade.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O registro de uma sociedade empresária é requisito fundamental para o seu


regular funcionamento, assim como o registro de uma pessoa natural é importante
para sua vida como cidadão. Os empresários que desejam empreender de forma
"correta", conforme estabelecido em lei, devem, necessariamente, arquivar seus atos
societários no órgão responsável. Sendo, sociedade empresária, nas Juntas
Comerciais; sendo sociedades simples, em Cartório de Registro das Pessoas
Jurídicas. Ambos os órgãos, mantém em seus registros, os arquivos, históricos, desde
o nascimento até a efetiva extinção das sociedades. É preciso que sua
operacionalização seja efetivada de forma adequada, garantindo a publicidade e
eficácia do ato mercantil e, por conseguinte, do registro empresarial (VILAS BOAS E
OLIVEIRA, 2018, online).
O objetivo de transcrever literalmente o trecho de Vilas Boas e Oliveira se faz
necessário visto que explica de maneira clara e objetiva a importância do registro
público mercantil. No último trecho utilizado pelos autores, é possível verificar a
consonância com o artigo 1º da Lei nº. 8934/94, senão vejamos:

1
Acadêmica do VI Semestre do Curso de Direito da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões – URI – Campus de Santiago, RS. E-mail: 102451@urisantiago.br;
2
Orientador. Graduado e Mestre em Direito pela Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões – URI –
Câmpus de Santo Ângelo, RS; professor da Disciplina de Direito Notarial e Registral da URI – Câmpus de
Santiago; e Oficial de Justiça Avaliador Federal na Vara do Trabalho de Santiago, RS. E-mail:
tmuggeri@hotmail.com.
Art. 1º O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins,
observado o disposto nesta Lei, será exercido em todo o território nacional,
de forma sistêmica, por órgãos federais, estaduais e distrital, com as
seguintes finalidades:

I - Dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos


jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei;

II - Cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no


País e manter atualizadas as informações pertinentes;

III - Proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao


seu cancelamento.

Nota-se que o dispositivo legal não traz em seus artigos a obrigatoriedade da


inscrição, porém, o Código Civil elucida no artigo 967 que o empresário é obrigado a
se inscrever, antes mesmo de iniciar suas atividades, caso contrário é vedado
requerer recuperação judicial ou extrajudicial ou falência de outrem. Ainda, Vilas Boas
e Oliveira mencionam que se o empresário não se formalizar de acordo com os
requisitos legais, poderá incorrer em crime previsto na Lei de Falências.
Ainda, em breve contexto histórico, de acordo com Zompero (2018), a doutrina
majoritária entende que o registro teve sua origem na idade média, desde os tempos
feudais. Em solo brasileiro, por sua vez, o registro de empresas foi implementado em
1808 por D. João VI, que criou o Tribunal da Real Junta do Comércio, Agricultura,
Fábrica e Navegação do Estado do Brasil e Domínios Ultramarinos.
Outrossim, ao analisar o Direito Comercial em seus primórdios, é possível
perceber que, o comércio não dependia apenas da realização de atos comerciais, mas
também da inscrição perante a guilda de ofícios. O primeiro Código Comercial de 1850
criou os “Tribunais do Comércio”, órgão que, resumidamente, administrava e/ou
julgava conflitos entre comerciantes ou alguns atos comerciais. Contudo, ressalta-se
que o registro era atribuição de outro “setor” dos tribunais, denominada Junta
Comercial, e esta estabelecia a opção pelo registro do comerciante, contudo a
ausência deste acarretava limitações ao pleno exercício de suas atividades.
Após, os Tribunais foram extintos e suas atribuições foram transferidas à juízes
de Direito. E o registro permaneceu a cargo das Juntas Comerciais, sediadas nos
principais locais à época, quais sejam, Rio de Janeiro, Belém, São Luís, Fortaleza,
Recife, Salvador e Porto Alegre.
Assim, percebe-se que desde os primórdios da sociedade, o registro esteve
presente, ainda que um tanto quanto diferente da forma atual, cada sociedade havia
sua maneira de lidar com os comerciantes e com os atos de comércio.
Diante disso, o presente artigo busca responder ao seguinte questionamento:
Qual a importância e finalidade do registro público?

2. O REGISTRO PÚBLICO DAS EMPRESAS MERCANTIS

O registro público tem por finalidade preservar informações relativas a atos e


negócios jurídicos, assegurando legalidade, publicidade, autenticidade, segurança e
eficácia, e é executado pelos cartórios. Todavia, o intuito deste artigo é discorrer
acerca do registro público das empresas mercantis.
O registro empresarial é executado através das Juntas Comerciais, onde cada
Estado brasileiro possui a sua, e da mesma maneira que o registro público, tem a
finalidade de garantir a legalidade, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia
dos atos jurídicos das empresas, de acordo com o artigo 1º da Lei n.º 8.934/94.
No Manual de Direito Comercial (2011), Fábio Ulhoa Coelho expõe algumas
competências das Juntas Comerciais, vejamos:

Já às Juntas Comerciais, órgãos da administração estadual, cabe a


execução do registro de empresa, além de outras atribuições legalmente
estabelecidas. Destacam-se as seguintes competências:

a) assentamento dos usos e práticas mercantis. O comércio rege-se também


por normas consuetudinárias, cuja compilação é da incumbência da Junta
Comercial. Na forma de seu regimento interno, o assentamento deve ser
precedido de ampla discussão no meio empresarial e análise de sua
adequação à ordem jurídica vigente, pela Procuradoria. Uma vez deliberado
o assentamento, a Junta pode expedir aos interessados as correspondentes
certidões, que servem em juízo como início de prova;

b) habilitação e nomeação de tradutores públicos e intérpretes comerciais. A


Junta funciona, nesse caso, como órgão profissional dessas categorias
paracomerciais, cabendo-lhe exercer o poder disciplinar, bem como
estabelecer o código de ética da atividade e controlar o exercício da profissão;

c) expedição da carteira de exercício profissional de empresário e demais


pessoas legalmente inscritas no registro de empresa.

Esclarece ainda o autor que a Junta Comercial é subordinada ao Departamento


de Registro Empresarial e Integração (DREI), que por sua vez, tem a finalidade de
supervisionar e coordenar as juntas.
Ademais, o Código Civil estabelece que a sociedade somente adquire
personalidade jurídica com a devida inscrição no registro público dos seus atos
constitutivos. Isto é, independente do setor que irá atuar, a empresa deve ser
registrada na Junta Comercial do Estado em que está sediada para regular suas
atividades.
O registro público de empresas representa um dos elementos essenciais para
a concessão de autorização de funcionamento destas. Este, é considerado tão crucial
para as empresas quanto o registro de pessoas naturais é importante para exercer os
atos civis. Portanto, a fim de garantir a adequada condução da atividade empresarial,
os empreendedores devem, em primeiro lugar, proceder o arquivamento de seus atos
no órgão competente.
Cita-se Armando Luiz Rovai:
Aquele que tem o intuito de empreender, de acordo com os ditames da lei,
deve, necessariamente, arquivar seus atos societários no órgão
responsável pela execução do registro público mercantil, ou seja, na
Junta Comercial, a qual manterá em seus arquivos o histórico de todas
as sociedades registradas, desde o seu nascimento até sua efetiva
extinção. Para tanto, é preciso que a instrumentalização seja feita de forma
correta, garantindo, assim, a publicidade e eficácia do ato mercantil e
consequentemente do registro empresarial (OLIVEIRA apud ROVAI, 2021, p.
7 – grifou-se).

Como supracitado, os atos societários devem ser arquivados no órgão


responsável pela execução do registro. Assim, no que diz respeito às empresas
comerciais, empresários individuais ou Empresas Individuais de Responsabilidade
Limitada (EIRELI), é imperativo que o registro seja efetuado junto à Junta Comercial.
Já no caso de sociedades simples, o registro será efetuado no Cartório de Registro
de Pessoas Jurídicas, de acordo com o artigo 1.510 do CC. Ressalta-se que ambos
têm a obrigação de manter seus registros e todos os documentos pertinentes à
sociedade armazenados, de sua criação até a sua dissolução. Neste sentido, expõe
Bruno Mattos e Silva:

O registro de empresas é realizado pelas Juntas Comerciais, que submetem-


se de forma técnica ao Departamento Nacional do Registro de Comércio –
DNRC e de maneira administrativa aos Estados, e é regido pela norma de Lei
nº 8.934/1994 (SILVA, 2007, p. 357).

Logo, à semelhança do que ocorre nos atos da vida civil, o registro empresarial
assegura que os atos ali inscritos se tornarão públicos, possibilitando que qualquer
indivíduo possa consultá-los nos registros e obter as informações desejadas, de
maneira a garantir a publicidade dos atos. A ausência de registro caracteriza àquela
sociedade como irregular, gerando inúmeras consequências negativas, justamente
em razão à inexistência da personalidade jurídica. E, esta falta de registro perante o
órgão competente, gera impossibilidade de inscrever a pessoa jurídica no CNPJ –
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas.
Como é sabido, atos praticados geram efeitos jurídicos, em relação aos efeitos
jurídicos do registro mercantil, é imprescindível reforçar que é obrigatório registrar a
empresa antes do início das atividades, conforme elucidado pelo artigo 967 do Código
Civil. Visto que o empresário que submete seu empreendimento à irregularidade e/ou
clandestinidade, sofre restrições próprias deste regime, ainda que o dispositivo legal
não traga sanção específica.
Outrossim, no âmbito administrativo-tributário, estar com a situação irregular
significa que não será possível obter registro nos cadastros de contribuintes fiscais e
seguridade social, assim será impossível firmar contratos com o Poder Público,
participar de licitações públicas ou de ser considerado microempresário (OLIVEIRA,
2021).
Patrícia Garvia explica:

Os efeitos do registro para a empresa individual de responsabilidade limitada


e para a sociedade empresária são: dar publicidade aos atos jurídicos
mercantis e faz nascê-los no mundo jurídico como pessoas jurídicas. O
empresário individual não possui personalidade jurídica, pois desde o
seu nascimento já goza dos direitos de personalidade e não pretende
sua responsabilidade patrimonial (Lei 12.441/11) (GARVIA, 2016, online –
grifou-se).

O empresário que se encontra atuando irregularmente não possui legitimidade


ativa, para, por exemplo, pedir falência de seu devedor. Como dispõe o artigo 97,
parágrafo 1º da Lei 11.101/2005, segundo este artigo “somente o empresário inscrito
na junta comercial é que tem condição de requerer a falência do outro empresário, o
empresário irregular não tem direito a requerer a falência de outro empresário”.
Ademais, sem a inscrição, o titular da empresa não pode levar seus livros a
registro na Junta Comercial e, no regime do Decreto-lei n. 7.661/45, ocorrendo a
falência, sujeitava-se às penas dos crimes previstos no art. 186, VI (inexistência dos
livros obrigatórios ou sua escrituração atrasada, lacunosa, defeituosa ou confusa) e
VII (falta de apresentação do balanço, dentro de sessenta dias após a data fixada para
seu encerramento, à rubrica do juiz sob cuja jurisdição estiver seu estabelecimento
principal).
A nova lei falimentar prevê a condenação do empresário que “deixar de
elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência,
conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial,
os documentos de escrituração contábil obrigatórios” a penas de 1 a 2 anos de
detenção (Lei n. 11.101/2005, art. 178) (ZOMPERO, 2018, online).
É possível listar inúmeras consequências aos empresários irregulares e não
registrados, como: impossibilidade do pedido de falência, recuperação judicial,
responsabilidade societária, ausência de matrícula junto ao INSS etc. E todas estas
citadas se dão por um único motivo, a falta de registro de seus atos constitutivos.

2.1. Órgãos do registro de empresas

De acordo com Rogério Zompero (2018), o Sistema Nacional de Registro de


Empresas Mercantis (SINREM) é composto por dois órgãos: o DREI e as Juntas
Comerciais. Sendo que, o DREI é o órgão que possui competência em todo território
nacional, e tem como objetivo normatizar e fiscalizar os atos registrais. Em
contrapartida, as Juntas Comerciais são órgãos estaduais e do DF encarregados de
realizar o registro das empresas e atividades afins.
O DREI tem abrangência nacional e possui quatro funções: estabelecer
normais gerais de registro, fiscalizar as Juntas Comerciais, solucionar dúvidas sobre
as legislações e organizar o cadastro das empresas mercantis junto às Juntas
Comerciais. Contudo, como é possível perceber o DREI não tem como função aplicar
sanções administrativas a empresas irregulares. Salienta-se que a responsável por
aplicar sanções é a Junta Comercial, visto que esta é responsável por realizar o
registro das empresas mercantis.
A Junta Comercial de cada Estado é composta pelos seguintes órgãos:

a) Presidência: é o órgão diretivo e representativo. É nomeado pelo


governador do Estado, dentre os membros do colégio de vogais. No Distrito
Federal, a nomeação é pelo Ministro da Indústria e do Comércio Exterior, o
que me parece inconstitucional, por valor o princípio federativo, isto é, a
autonomia do Distrito Federal em relação à União.
b) Plenário: é o órgão deliberativo superior, da segunda instância, composto
de no mínimo 11 (onze) e no máximo 23 (vinte e três) vogais, incumbido de
julgar os recursos administrativos referentes aos registros denegados.
c) Turmas: são órgãos deliberativos inferiores, de primeira instância,
compostos por 3 (três) vogais cada, incumbidos de julgar os pedidos relativos
à execução dos atos de registro denegados pela secretária-geral.
d) Secretaria – Geral: é o órgão administrativo, incumbido da execução dos
serviços de registro e de administração da Junta. O secretário-geral será
nomeado, em comissão, no Distrito Federal, pelo Ministro de Estado da
Indústria e do Comércio Exterior, e, nos Estados, pelos respectivos
governadores, dentre brasileiros de notória idoneidade moral e
especializados em direito empresarial – artigo 25 da Lei nº 8.934/94.
e) Procuradoria: é o órgão de fiscalização e consultoria jurídica, atuando
também externamente em atos ou feitos de natureza jurídica, inclusive os
judiciais, que envolvam matéria do interesse da junta. A procuradoria é
composta de um ou mais procuradores e chefiada pelo Procurador Geral do
Estado (ZOMPERO, 2018, online)

Quanto ao referido no item “c”, os vogais representam associações comerciais


e órgãos superiores. Sendo que um representa a União e os demais, quatro vogais,
representam advogados, economistas, contadores e/ou administradores, como bem
expõe Zompero. Os critérios para nomeação dos vogais estão elucidados nos artigos
11 e 12 da Lei n.º 8.934/94.

2.2. A recuperação judicial do empresário rural

Dentre todos os tipos societários que devem realizar o registro mercantil, o


empresário rural é um destes. Existia controvérsia jurisprudencial e doutrinária acerca
do tema, pois, para uns o exercício regular da atividade rural teria início com a devida
inscrição do Registro Público de Empresas Mercantis, e para outros, o exercício
regular da atividade empresarial prescinde de registro, iniciando-se quando se façam
presentes os requisitos para a caracterização de uma atividade empresária (JÚNIOR
e SOARES, 2019, p. 2, online).
Conforme o exposto anteriormente, o Código Civil elucida no artigo 967 que o
empresário é obrigado a se inscrever, antes mesmo de iniciar suas atividades, caso
contrário é vedado requerer recuperação judicial ou extrajudicial ou falência de
outrem. Porém, em 2020, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça consolidou
a jurisprudência acerca da recuperação judicial do empresário rural. E, em 2022
firmou-se o Tema 1145, senão vejamos:

Ao produtor rural que exerça sua atividade de forma empresarial há mais de


dois anos é facultado requerer a recuperação judicial, desde que esteja
inscrito na Junta Comercial no momento em que formalizar o pedido
recuperacional, independentemente do tempo de seu registro.

Isto é, embora o empresário precise estar registrado na Junta Comercial para


requerer recuperação judicial, é possível computar o período anterior à formalização
do registro para cumprir o prazo mínimo de dois anos exigido pelo artigo 48 da Lei
11.101/2005.
Neste norte, é a jurisprudência:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E EMPRESARIAL. EMPRESÁRIO RURAL E


RECUPERAÇÃO JUDICIAL. REGULARIDADE DO EXERCÍCIO DA
ATIVIDADE RURAL ANTERIOR AO REGISTRO DO EMPREENDEDOR
(CÓDIGO CIVIL, ARTS. 966, 967, 968, 970 E 971). EFEITOS EX TUNC DA
INSCRIÇÃO DO PRODUTOR RURAL. PEDIDO DE RECUPERAÇÃO
JUDICIAL (LEI 11.101/2005, ART. 48). CÔMPUTO DO PERÍODO DE
EXERCÍCIO DA ATIVIDADE RURAL ANTERIOR AO REGISTRO.
POSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. O produtor rural,
por não ser empresário sujeito a registro, está em situação regular,
mesmo ao exercer atividade econômica agrícola antes de sua inscrição,
por ser esta para ele facultativa. 2. Conforme os arts. 966, 967, 968, 970 e
971 do Código Civil, com a inscrição, fica o produtor rural equiparado ao
empresário comum, mas com direito a "tratamento favorecido, diferenciado e
simplificado (...), quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes". 3. Assim,
os efeitos decorrentes da inscrição são distintos para as duas espécies de
empresário: o sujeito a registro e o não sujeito a registro. Para o
empreendedor rural, o registro, por ser facultativo, apenas o transfere do
regime do Código Civil para o regime empresarial, com o efeito constitutivo
de "equipará-lo, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro",
sendo tal efeito constitutivo apto a retroagir (ex tunc), pois a condição regular
de empresário já existia antes mesmo do registro. Já para o empresário
comum, o registro, por ser obrigatório, somente pode operar efeitos
prospectivos, ex nunc, pois apenas com o registro é que ingressa na
regularidade e se constitui efetivamente, validamente, empresário. 4. Após
obter o registro e passar ao regime empresarial, fazendo jus a tratamento
diferenciado, simplificado e favorecido quanto à inscrição e aos efeitos desta
decorrentes (CC, arts. 970 e 971), adquire o produtor rural a condição de
procedibilidade para requerer recuperação judicial, com base no art. 48 da
Lei 11.101/2005 (LRF), bastando que comprove, no momento do pedido, que
explora regularmente a atividade rural há mais de 2 (dois) anos. Pode,
portanto, para perfazer o tempo exigido por lei, computar aquele período
anterior ao registro, pois tratava-se, mesmo então, de exercício regular da
atividade empresarial. 5. Pelas mesmas razões, não se pode distinguir o
regime jurídico aplicável às obrigações anteriores ou posteriores à inscrição
do empresário rural que vem a pedir recuperação judicial, ficando também
abrangidas na recuperação aquelas obrigações e dívidas anteriormente
contraídas e ainda não adimplidas. 6. Recurso especial provido, com
deferimento do processamento da recuperação judicial dos recorrentes.
(REsp 1800032/MT, Relator Min. Marco Buzzi, Quarta Turma de Direito
Privado, data de julgamento: 05/11/2019, publicado do DJE: 10/02/2020).

Neste sentido, em consonância com a jurisprudência atual, é possível perceber


que, neste caso, a falta do registro mercantil não é prejudicial ao empresário. Porém,
é válido ressaltar que esta prática somente é válida aos empresários rurais, não sendo
admitido o mesmo em casos de empresários comuns.

2.3. A instrução normativa n.º 81 e a possibilidade do registro digital

Em meados do ano de 2020, o DREI – Departamento Nacional de Registro


Empresarial publicou a Instrução Normativa n.º 81, a qual consolidou as normas e
diretrizes do Registro Público em um único ato. Entre as principais alterações, é
necessário destacar o registro mercantil digital. Como é sabido, durante e após a
pandemia de COVID-19, a era digital cresceu de maneira exponencial, e trouxe
consigo diversas inovações.
O Registro Mercantil Digital está disposto no capítulo III, entre os artigos 32 a
42 da IN n.º 81. Logo no artigo 32, tem-se que “As Juntas Comerciais poderão adotar
exclusivamente o Registro Digital ou em coexistência com os métodos tradicionais”.
De acordo com Oliveira (2021), antes da aprovação da IN DREI 81, havia
muitas reclamações, por parte de contadores, que alegavam que vários atendimentos
necessitavam de melhora. A Junta Comercial do Rio Grande do Sul (JUCISRS) define
o registro digital:
O Registro Digital consiste no processo de abertura, registro, alteração e
encerramento de empresa que se dá por meio do envio eletrônico dos
documentos das empresas para a Junta Comercial, sendo estes
documentos assinados digitalmente através dos certificados digitais em
um Portal. O serviço está disponível para todos os tipos jurídicos e para todos
os atos (abertura, alteração, extinção etc.) (JUCISRS, 2020, online).

Por intermédio da I.N n.º 81 do DREI, foi instituída a possibilidade de efetuar o


registro mercantil de forma eletrônica. Para viabilizar o registro digital pela Junta
Comercial, é imperativo que com no mínimo noventa dias de antecedência, dê ampla
publicidade da data a partir da qual adotará exclusivamente o registro, e deve-se
comunicar o DREI sobre a alteração, via ofício, assinado pelo Presidente da Junta
Comercial, de acordo com o artigo 32, parágrafo 1º, incisos I e II.
Antes da promulgação da IN DREI, o registro era realizado presencialmente
nas juntas, demandando aproximadamente 180 dias para ser concluído. Com a
implementação do procedimento eletrônico, o prazo passou a ser de 7 dias úteis,
conforme a JUCISRS. Todavia, é válido ressaltar que nem toda Junta Comercial
adotou esta prática.
3. CONCLUSÃO

Diante do exposto no presente artigo, o registro público visa garantir


publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas,
desde que estas estejam devidamente inscritas na Junta Comercial de seu Estado.
Conclui-se que o Registro Mercantil é o principal requisito para que as empresas
possam manter-se regularizadas.
Ao longo do artigo, explorou-se a evolução deste processo, desde o contexto
histórico, onde foi possível perceber que desde os primórdios da atividade comercial,
o registro, com sua forma à época, esteve presente até o momento atual com a
implementação do Registro Mercantil Digital, evidenciando a relevância da Instrução
Normativa n.º 81 do DREI.
A transição para o meio eletrônico não apenas otimiza a eficiência do processo,
reduzindo o prazo de conclusão, mas também representa um passo fundamental à
modernização e adaptação as demandas contemporâneas. A necessidade de ampla
divulgação, comunicação institucional e a manutenção de registros físicos mesmo em
uma era digital destacam a complexidade do processo de transição. Contudo, os
benefícios tangíveis, como a agilidade nos trâmites legais e a facilidade de acesso ao
serviço, incentivam a aceitação.
Neste norte, o registro público das empresas mercantis é pilar fundamental na
estrutura legal e econômica de uma sociedade empresária. Em suma, faz-se
necessário novamente transcrever Vilas Boas e Oliveira, pois descreveram de
maneira eficaz e pontual “o registro de uma sociedade empresária é requisito
fundamental para o seu regular funcionamento, assim como o registro de uma pessoa
natural é importante para sua vida como cidadão. Os empresários que desejam
empreender de forma "correta", conforme estabelecido em lei, devem,
necessariamente, arquivar seus atos societários no órgão responsável”.
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ZOMPERO, Rogério. O registro público de empresa mercantis e atividades afins.


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página 1 - Jus.com.br | Jus Navigandi. Acesso em: 30 out. 2023.

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