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Desejamos sorte neste seu objetivo e que este material possa te ajudar a
alcançar a função de Residente Jurídico da Defensoria Pública do Estado do
Rio de Janeiro!
Até breve,
Coordenação da turma
PRISCILA COTTA
ANALISTA PROCESSUAL DA DPE-RJ
EX-RESIDENTE JURÍDICA DA DPE-RJ
RAONI ARAUJO
COORDENADOR ACADÊMICO DO PED
MESTRE PELA FND/UFRJ
2
TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARAA PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA
ESPELHO DA RODADA I
1
Assim, Pedro buscou a Defensoria Pública para que fosse assistido diante de
seu credor. No primeiro atendimento, Pedro foi informado que se enquadra na
categoria de superendividado e, por isso, faz jus a um pedido de repactuação
de dívidas. Diante do caso em tela, responda fundamentadamente acerca dos
seguintes pontos:
a) O que é superendividamento?
b) Levando em consideração a natureza jurídica do credor, qual é o juízo
competente para o processamento da ação?
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO DE CORREÇÃO
COMENTÁRIOS
Superendividamento
Mínimo existencial
6
A ideia de que existe um direito fundamental ao mínimo existencial,
proposta originariamente naquele país, no início dos anos 50, por Otto Bachof,
foi reconhecida pelo Tribunal Administrativo Federal alemão em 1954, a partir
da conjugação do princípio da dignidade da pessoa humana, da cláusula do
Estado Social e dos direitos à liberdade e à vida.
Porém, o Governo Federal anunciou que, em abril deste ano, o valor seria
7
dobrado. Foi nesse contexto que, em 20 de junho de 2023, foi publicado e
entrou em vigor o Decreto 11.567/2023, para, em relação ao artigo 3º do
Decreto nº 11.150/2022, alterar o caput, que passou a prever que “considera-
se mínimo existencial a renda mensal do consumidor pessoa natural
equivalente a R$ 600,00”; e revogar o parágrafo 2º, que estipulava que o
“reajustamento anual do salário mínimo não implicará a atualização do valor”
do salário mínimo.
Nesse caso, o juiz fará a citação de todos os credores cujos créditos não
tenham integrado o acordo porventura celebrado.
MUITO IMPORTANTE!!!!!
1. https://defensoria.rj.def.br/uploads/arquivos/b7ca8cbd43c24d7f8aa11fce8483026e.pdf
2. https://defensoria.rj.def.br/uploads/imagens/82b0668ad1054eeb964b4a1e4c5a4fac.pdf
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO DE CORREÇÃO
COMENTÁRIOS
A Defensoria na Constituição
Essa decisão, aliás, faz parte de um contexto que, pode-se dizer, teve
início com a “ADPF das favelas” (635/RJ).
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO DE CORREÇÃO 27
COMENTÁRIOS
qualificada:
TOME NOTA!
Por fim, é bom registrar que a assistência qualificada não é aplicável apenas
no processo penal, mas também em processos cíveis, como estabelece o art.
27 da Lei Maria da Penha.
Fonte: ASCOM/DPERJ
Estado: RJ
A Defensoria Pública do Rio garantiu na Justiça a indisponibilidade dos
bens de um homem que, em fevereiro passado, matou a tiros a ex-
namorada, no município de Sumidouro, na Região Serrana. O bloqueio
visa garantir futuramente a reparação dos danos materiais e morais
causados pelo feminicídio à família da vítima, bem como o pagamento
de despesas do processo.
PADRÃO DE RESPOSTA 32
ESPELHO DE CORREÇÃO
ESPELHO DE CORREÇÃO TOTAL ALUNO
COMENTÁRIOS
Constitucionalismo
Conceito
Origem
i) o Constitucionalismo Antigo; e
ii) o Constitucionalismo Moderno.
O CONSTITUCIONALISMO ANTIGO
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Características:
- leis não escritas e costumes (principal fonte);
- forte influencia da religião (os patriarcas e os sacerdotes eram vistos como
Deus na terra);
- meios de coerção (ordálias); - tendencia a julgar litígios com base em
“precedentes”.
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Características:
- constituições não escritas
- possibilidade de modificação das proclamações constitucionais
- supremacia do Parlamento; - irresponsabilidade dos governantes.
IDADE MÉDIA
Tories Whigs
Conservadores puritanos
Queriam uma Coroa forte (direito divino ligados as doutrinas de contrato social
dos reis)
Características:
- Supremacia do Parlamento;
- responsabilidade parlamentar do governo
- monarquia parlamentar
- independência do Judiciário
- carência de um Direito Administrativo formal
- convenções constitucionais
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O CONSTITUCIONALISMO MODERNO
Características:
- primeira Constituição escrita (1787) e foi a partir dela que surgiram ideias
fundamentais, como a ideia de constituição rígida, formal e suprema.
- ideia de controle DIFUSO de constitucionalidade, tendo como parâmetro uma
constituição escrita. Nasceu, pois, com a decisão de 1803, do juiz Marshal, no
caso Marbury VS Madison. Já havia até alguns precedentes, mas essa
sistematizou a ideia.
- Fortalecimento do Judiciário: os americanos tinham receio dos abusos
perpetrados pelo Parlamento inglês, razão pela qual optaram pelo
fortalecimento do Judiciário (judicial review);
- separação dos poderes (check and balance) também foi garantida; nasceu
1 Grupo de figuras notáveis que participaram do processo de independência dos EUA: Declaração
de Independência, Revolução, elaboração da Constituição.
também o federalismo nos moldes hoje conhecidos (houve experiências
diferentes menos importantes anteriores); adotou-se a república e criou-se o
presidencialismo.
- Direitos humanos
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A constituição escrita foi usada como uma arma ideológica contra o Velho
Regime, contra a promiscuidade entre a Monarquia e o Estado.
Características:
- 2ª Constituição escrita (3 de junho de 1791);
- extremamente prolixa e analítica, 402 artigos (a dos EUA, que é sintética, tem
7 artigos originais + 27 emendas).
Hoje, muitas das constituições, inclusive a brasileira, são prolixas.
- surgiu a ideia também de Poder Constituinte, nessa época da revolução
francesa.
- supremacia do Parlamento (povo no poder/princípio da Legalidade);
- manutenção da monarquia constitucional;
- limitação dos poderes do Rei;
- separação de poderes;
- surgimento da Escola da Exegese, a partir do Código de Napoleão de 1804
(desconfiança do povo para com os juízes – ausência de controle de
constitucionalidade).
B) Constitucionalismo Social:
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o liberalismo entrou em crise. A
crise econômica agravou as desigualdades sociais e o liberalismo passou a ser
questionado. Indignadas, as classes menos favorecidas passaram a exigir do
Poder Público não só a garantia das liberdades individuais, mas também
41
direitos prestacionais, como saúde, educação e assistência aos
hipossuficientes. Diante disso, as Constituições começam a consagrar um novo
grupo de direitos, dando início a uma nova fase do constitucionalismo moderno.
Características:
- o Estado Social abandona a postura abstencionista e passa a intervir nas
relações econômicas, sociais e trabalhistas (criação de estatais, regulação,
prestação de serviços, leis trabalhistas).
- papel decisivo na produção e distribuição de bens;
- garantia de um mínimo de bem estar social (Estado do Bem Estar Social).
- Consagra direitos de 2ª geração/dimensão (igualdade material).
- nesse período surge o controle CONCENTRADO de constitucionalidade na
Constituição da Áustria (1920).
ATENÇÃO Gerações de direitos fundamentais. Essa ideia de gerações surgiu
com KAREL VASAK (tcheco-francês), quando ele quis relacionar o surgimento
dos direitos fundamentais com o lema da revolução francesa – Liberdade,
42
Igualdade e Fraternidade. Difundiu-se no mundo por obra de NORBERTO
BOBBIO e, aqui no Brasil, por PAULO BONAVIDES.
NEOCONSTITUCIONALISMO
Características:
48
Quinta geração: Paulo Bonavides fala também em direitos de quinta geração.
Direito à paz. Direito à paz, na verdade, originariamente fazia parte da terceira
geração elaborada por Bonavides. Mas nas edições mais recentes da sua obra,
ele insere como quinta geração, afirmando que é um axioma da democracia,
valor supremo da humanidade e até hoje não foi alcançado em sua plenitude.
Por isso seria importante destacá-lo dos demais. Com isso, Bonavides acaba
descaracterizando a ideia das gerações, porque elas são essencialmente
descritivas, desprovidas de valorações prescritivas.
CONSTITUCIONALISMO ABUSIVO
Não bastasse isso, o decreto viola o princípio da legalidade, uma vez que
desrespeita as normas que regem o Conanda, tal como previstas na Lei nº
8.242/1991. Além disso, ao procurar modificar o funcionamento do Conanda
por meio de decreto, quando seria necessária lei, também excluiu a
participação do Congresso Nacional em debate de extrema relevância para o
país.
QUESTÃO 05 É cediço que o Ministério Público dispõe do chamado poder de
requisição. Entretanto, dispõe a Defensoria Pública da mesma prerrogativa?
Disserte fundamentadamente a luz da jurisprudência.
52
PADRÃO DE RESPOSTA
A Defensoria Pública (art. 134 CF) é uma instituição pública que visa oferecer,
de forma integral e gratuita, assistência e orientação jurídica às pessoas que
não possuem condições financeiras de pagar as despesas destes serviços.
Além disso, promove a defesa dos direitos humanos, direitos individuais e
coletivos e de grupos em situação vulnerável.
A assistência jurídica gratuita às pessoas vulneráveis é um direito e garantia
fundamental de cidadania, prevista no artigo 5º, LXXIV da Constituição.
53
O papel constitucional da Defensoria 20
COMENTÁRIOS
A Defensoria na Constituição
Princípios institucionais da DP
1. Unidade
2. Indivisibilidade
Já decidiu o STJ (RHC nº 61848 / PA) que viola o princípio do defensor natural
a designação de advogado ad hoc para atuar no feito em que já atuava antes a
Defensoria Pública. Neste sentindo, o STF (HC nº 337.754/SC) também se
manifestou no sentido de que só se admite a designação de advogado ad hoc
para atuar no feito quando não há órgão de assistência judiciária na comarca,
56
ou se este não está devidamente organizado na localidade, havendo
desproporção entre os assistidos e os respectivos defensores, chancelando o
princípio do defensor natural.
3. Independência funcional
Garantias e Prerrogativas
57
As garantias são normas de ordem pública, ou seja, de aplicação obrigatória,
não dependendo de concordância dos Defensores Públicos para sua
aplicabilidade.
De acordo com Diogo Esteves e Franklyn Roger, para garantir a plena proteção
dos direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais
da sociedade, a Defensoria Pública deve dispor dos mecanismos jurídicos que
lhe permitam realizar suas finalidades legais. Assim, lecionam:
ATENÇÃO DPE/RJ
Na ADI 230 (2010), o STF julgou inconstitucional o art. 178, IV, da Constituição
Estadual do Rio de Janeiro, que assegurava o poder de requisição dos Defensores
Públicos estaduais em face de entidades públicas e privadas.
61
Assim, o direito fundamental de assistência jurídica, gratuita e integral
converte-se em verdadeira garantia constitucional, ao atribuir-se à Defensoria
Pública a qualidade de instituição permanente e essencial à função jurisdicional
do Estado.
Além disso, esse poder de requisição serve como um auxílio para o assistido
62
conseguir obter os documentos que necessita para a garantia de seus direitos,
diminuindo o tempo que os hipossuficientes precisarão esperar para serem
atendidos.
Para se aprofundar:
Ler
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=482093&ori=
1
QUESTÃO 06 Discorra, à Luz da Jurisprudência do STF, sobre o Direito à
liberdade de expressão, indicando seus limites, fundamentos e se há eventual
direito ao hate speech.
63
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO DE CORREÇÃO
TOTAL 100 65
COMENTÁRIOS
Vale recordar que o hate speech é apenas o início do que pode virar uma ação
planejada e coordenada para a execução de alguma medida contra a
integridade física do alvo dos ataques, e este é um grande problema a ser
combatido. Por tudo quanto exposto, resolvi trazer a liberdade de expressão
como tema dessa questão.
2
A lei que tipifica o crime de racismo é datada de 1989. Contudo, os registros policiais dos casos têm
crescido nos últimos anos e quadruplicaram entre 2018 e 2021: de 1.429 para 6.003 ocorrências,
segundo o IBGE.
Iremos abordar com precisão e de forma sucinta alguns desses temas, para
que, caso seja cobrado no certame, vocês consigam pontuar sendo diretos e
aprofundados, demonstrando, em poucas linhas, conhecimento sobre o
histórico do tema e suas implicações. Neste ponto, relembrem-se de que a
67
questão pediu 3 itens: i) fundamentação constitucional da liberdade de
expressão, ii) eventuais limites e iii) se haveria, com base nela, uma
legitimação para o discurso de ódio (hate speech).
O tema tem acalorado o STF nos últimos anos, muito em razão do julgamento
das fake News envolvendo os ministros da corte, Inquérito nº 4.781/DF, 68
presidido pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. O
Plenário do Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento da ADPF 572
para declarar a legalidade e a constitucionalidade do Inquérito n 4781,
instaurado com o objetivo de investigar a existência de notícias fraudulentas
(fake news), denunciações caluniosas e ameaças contra a Corte, seus
ministros e familiares. Prevaleceu o entendimento do relator, ministro Edson
Fachin, de que a ADPF 572, cujo objeto era a Portaria 69/2019 da Presidência
do STF, que determinou a instauração do inquérito, é totalmente improcedente,
“diante de incitamento ao fechamento do STF, de ameaça de morte ou de
prisão de seus membros e de apregoada desobediência a decisões judiciais”.
O ministro Luiz Fux afirmou que a legislação brasileira autoriza que juízes, ao
verificar a existência de crime, iniciem investigações, especialmente em defesa
da jurisdição. Segundo ele, os fatos investigados no INQ 4781 (atos de abuso,
de ofensa, de atentado à dignidade da Justiça, do Supremo e da democracia)
são “gravíssimos” e se enquadram no Código Penal, na Lei de Segurança
Nacional e na Lei de Organizações Criminosas. Para o ministro, os atos
investigados são o germe inicial de uma instauração, no Brasil, de atos de
terrorismo, com o objetivo de que os juízes, pelo temor, percam sua
independência, e, por isso, precisam ser coibidos. “Temos de matar no
nascedouro esses atos que estão sendo praticados contra o STF”, afirmou.
O único a divergir foi o ministro Marco Aurélio (hoje aposentado) que entendia
que o artigo 43 do Regimento Interno do STF (fundamento para a instauração
do inquérito) não foi recepcionado pela Constituição de 1988. Para o ministro,
houve violação do sistema penal acusatório constitucional, que separa as
funções de acusar, pois o procedimento investigativo não foi provocado pelo
procurador-geral da República, e esse vício inicial contamina sua tramitação.
Segundo ele, as investigações têm como objeto manifestações críticas contra
os ministros que, em seu entendimento, estão protegidas pela liberdade de
expressão e de pensamento.
69
Portanto, o termo ‘fake news’ tem sido entendido como a propagação de
notícias falsas. Trata-se de um conceito jurídico indeterminado.
Consequentemente, podendo haver níveis de subjetividade, em que muitas
poderão ser as interpretações e também as intenções do emissor da
mensagem, o que demandem maior clareza quanto à sua apuração.
Certamente, há casos em que é cristalino o conteúdo de ódio. Em outros,
evidente que são manifestações neutras. E entre os dois extremos, há uma
zona cinzenta, com uma infinidade de situações que geram dúvida se há ou
não conteúdo de ódio, os chamados hard cases alcunhados por Ronald
Dworkin.
(...) é evidente que a proibição do hate speech, por si só, não resolverá os
problemas de injustiça estrutural e de falta de reconhecimento social que
atingem as minorias. É fundamental para isso implementar ações públicas
enérgicas, como as políticas de ação afirmativa, visando a reduzir as
desigualdades que penalizam alguns destes grupos, e desenvolver, em
paralelo, uma cultura de tolerância e valorização da diversidade, através da
educação e de campanhas públicas. Contudo, nenhuma destas medidas é
incompatível com a proibição das manifestações de ódio e preconceito contra
grupos estigmatizados. Pelo contrário, elas são estratégias complementares e
sinérgicas, que partem do mesmo denominador comum: a necessidade do
Estado posicionar-se com firmeza em favor da igualdade e do respeito aos
direitos dos integrantes dos grupos mais vulneráveis que compõem a
sociedade.
3
SARMENTO, Daniel. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O PROBLEMA DO “HATE SPEECH”. Disponível em:
https://professor.pucgoias.edu.br/sitedocente/admin/arquivosUpload/4888/material/a-liberdade-de-
expressao-e-o-problema-do-hate-speech-daniel-sarmento.pdf. Acesso em: 08.jul.2023.
Dentro desse ponto, diferencia-se na pontuação quem mencionar que os
direitos fundamentais não são absolutos e de eficácia plena. São suscetíveis a
restrições no conteúdo e alcance, preservando-se seu núcleo essencial. É
importante relembrar a classificação dada por José Afonso da Silva às normas
71
quanto a sua aplicabilidade. As normas poderão adotar eficácia: plena, contida
ou limitada. No tocante aos direitos fundamentais, considerando não haver
direito fundamental absoluto, tais normas não possuem eficácia plena, podendo
apresentar, conforme a hipótese, eficácia contida (ou restringível) ou limitada.
Nesse sentido, a doutrina majoritária defende que a maioria das normas seriam
de eficácia contida, enquanto a maior parte daquelas que reconhecem os
direitos sociais seriam de eficácia limitada.
4
NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Editora Juspodivm, 2020, p. 328.
Finalmente, à luz dessas fundamentações, é passível afirmar que muito
embora haja previsão constitucional de um Direito à Liberdade de Expressão,
esta não pode ser incondicionada, seja porque encontra limitações em outros
direitos igualmente protegidos com status de fundamentais, seja porque
73
encontra limitações em seu conteúdo, a depender da teoria (interna ou externa)
que se adote. De todo modo, incompatível com um Estado Democrático de
Direito a existência de discurso de cunho racista livre de consequências.
TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARA
A PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA
TEMAS QUENTES
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Desejamos sorte neste seu objetivo e que este material possa continuar te
ajudar a alcançar a função de Residente Jurídico da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro!
Coordenação da turma
PRISCI LA COT TA
ANALISTA PROCESSU AL DA DPE-RJ
EX-RESIDENTE J URÍDICA DA DPE-RJ
RAONI ARAUJ O
COORDENADOR ACADÊMICO DO PED
MESTRE PELA FND/UFRJ
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TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARAA PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA –RODADA II
ESPELHO
1
QUESTÃO 01 A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro moveu ação
civil pública em face do Município do Rio de Janeiro em razão dos interesses
de crianças de quatro anos de idade que não haviam sido matriculadas na
educação infantil por falta de vagas.
Discorra sobre o fato narrado apontando: (i) se a ação intentada é cabível no
caso narrado e, segundo os tribunais superiores, qual seria a competência
para julgar a ação; (ii) os argumentos legais que deverão ser trazidos pelo
Defensor Público acerca do direito à educação no caso em tela.
PADRÃO DE RESPOSTA
A educação, direito social de segunda dimensão, é direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
O Poder Judiciário pode obrigar o Município a fornecer vaga em creche a
criança de até 5 anos de idade. Isso porque a educação infantil, em creche e
pré-escola, representa prerrogativa constitucional indisponível integrante do
mínimo existencial, garantida às crianças até 5 anos de idade, sendo um dever
do Estado (art. 208, IV, da CF/88). Justamente por ser prerrogativa
constitucional indisponível, não cabe ao Município opor a reserva do possível
para escusar-se de seu cumprimento. Ademais, o art. 208 da CF é norma
autoaplicável.
Deve-se realizar uma interpretação sistemática do ECA e da CF. Primeiro é
importante observar que em matéria de Direito da Criança e do Adolescente a
ACP pode ser manejada para a tutela de interesses individuais, conforme
previsto no art. 201, do ECA.
A CRFB, em seu artigo 134, com redação dada pela EC 80/2014, ampliou o rol
de atuação da Defensoria Pública, legitimando-a a toda demanda que envolva
os interesses de pessoas vulneráveis ou hipossuficientes, seja de forma
individual ou de forma coletiva.
Desta forma, ainda que o ECA não traga previsão expressa da legitimidade da
DPE para promover a ACP para tutelar interesse individual, ainda assim a DPE
estará legitimada, visto que a redação do ECA é anterior à reforma
constitucional que aumentou ou poderes das Defensorias. Portanto, a DPE
pode promover a ACP para tutelar interesses individuais, assim como o MP.
Por fim, segundo o STJ, A Justiça da Infância e da Juventude tem competência
absoluta para processar e julgar causas envolvendo matrícula de menores em
creches ou escolas, nos termos dos arts. 148, IV, e 209 da Lei nº 8.069/90.
2
ESPELHO
TOTAL: ALUNO:
COMENTÁRIOS
— Além de lutar para conseguir uma vaga em uma creche ou escola, as mães
ainda precisam correr atrás dos benefícios que muitas vezes não se tem acesso
como a merenda escolar, transporte. Fora isso, ainda correm o risco de
perderem seus filhos para violência que atinge até esses locais que deveriam
ser considerados os mais seguros — completa.
— Os julgados do STF sempre disseram isso. O voto do Min. Fux deixou clara
essa orientação de ambas as turmas. Estamos com expectativas altas por este
julgamento, que vai impactar positivamente muitas crianças e famílias ainda a
espera por vaga na educação infantil — pontua Azambuja.
O relatório também revelou que a procura pelas creches é maior na zona Oeste
da capital, que concentra mais da metade das solicitações recebidas. Esse
padrão já havia sido identificado nos levantamentos anteriores, sendo o motivo
que levou a DPRJ, na ocasião, a realizar mutirões nos núcleos de 1º
atendimento localizados nessa região. Campo Grande, Jacarepaguá, Taquara,
Guaratiba, Curicica e Santa Cruz ficaram entre os bairros com maior déficit de
vagas.
Ainda segundo o levantamento, 94% das pessoas que buscam atendimento são
mulheres e negras (60,7%), somando-se pessoas pretas e pardas, conforme
indica o IBGE. Trata-se, portanto, de um problema que atinge diretamente as
crianças, mas também as mulheres, que sofrem consequências relacionadas à
permanência no mercado de trabalho e consequente manutenção da casa e dos
cuidados com os filhos.
https://defensoria.rj.def.br/noticia/detalhes/20480-DPRJ-sustenta-no-STF-direito-
a-creche-para-criancas-de-ate-5
anos#:~:text=09%20de%20setembro%20de%202022,crian%C3%A7as%20de%
20at%C3%A9%20cinco%20anos.
5
JURISPRUDÊNCIA COMPLEMENTAR:
O Estado tem o dever constitucional de assegurar às crianças entre zero e
cinco anos de idade o atendimento em creche e pré-escola.
1. A educação básica em todas as suas fases — educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio — constitui direito fundamental de todas as
crianças e jovens, assegurado por normas constitucionais de eficácia plena e
aplicabilidade direta e imediata.
2. A educação infantil compreende creche (de zero a 3 anos) e a pré-escola
(de 4 a 5 anos). Sua oferta pelo Poder Público pode ser exigida
individualmente, como no caso examinado neste processo.
3. O Poder Público tem o dever jurídico de dar efetividade integral às normas
constitucionais sobre acesso à educação básica.
STF. Plenário. RE 1008166/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 22/9/2022
(Repercussão Geral – Tema 548) (Info 1069).
ESPELHO
Aspectos microestruturais (adequação ao – 0,0 a 10,00
I número de linhas, coesão, coerência, ortografia, pontos
morfossintaxe e propriedade vocabular);
7
IV Mencionar que, conforme já decidiu o STJ, o - 0,0 a 30
fato de João (possuidor da metade que visa pontos.
usucapir) ser proprietário de metade do imóvel
usucapiendo não recai na vedação de não
possuir "outro imóvel" urbano.
TOTAL 100
COMENTÁRIOS
A resposta dessa questão passou pelo STJ nos últimos anos, sendo objeto dos
informativos nº 630/2018 e 753/2022.
Vamos, então, aos comentários sobre a questão, para que vocês não errem
caso caia no certame.
Ponto nº 1 – onde está a previsão legal do instituto e qual o conceito?
A usucapião é forma de aquisição originária de propriedade que exime o
possuidor com posse ad usucapionem do pagamento de débitos pretéritos
relacionados ao imóvel, responsabilizando-o somente por aqueles que
incidirem após preenchidos os requisitos legais para a aquisição. E quais
seriam esses requisitos?
No caso em tela, trata-se daquela espécie de usucapião prevista no art. 1.240
do Código Civil:
Art. 1.240 Aquele que possuir, como sua, área
urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua
família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
A questão trouxe os seguintes elementos:
i) Imóvel de 200m2 (portanto, dentro do limite legal permitido);
ii) Posse mansa por parte de João, para fins de moradia e com
adimplência dos custos de manutenção do imóvel de copropriedade;
iii) Abandono pelo outro coproprietário (José).
Nestes termos, se induz a crer que João faria jus ao reconhecimento da posse
ad usucapionem, que se transmutaria, após o período de 5 anos, em
propriedade.
Nesse sentido, a sentença proferida no processo de usucapião possui natureza
meramente declaratória (e não constitutiva), pois apenas reconhece, com
oponibilidade erga omnes, um direito já existente com a posse ad
usucapionem, exalando, por isso mesmo, efeitos ex tunc.
Assim, a sentença oriunda do processo de usucapião é tão somente título para
registro e não título constitutivo do direito do usucapiente, buscando este, com
a demanda, atribuir segurança jurídica e efeitos de coisa julgada com a
declaração formal de sua condição
O que restaria definir, no caso, é se o lapso temporal entre o ajuizamento da
ação e a decisão do juiz teria o condão de ser computada para o
preenchimento dos requisitos legais da usucapião especial urbana. Isso
porque, seria preciso o preenchimento de 5 anos de posse ad usucapionem, 8
requisito este faltante quando do ajuizamento.
Por esse motivo, a defesa de José se ateve ao período em que proposta a
ação, com vistas a buscar a improcedência do pedido de João, por ausência de
requisitos essenciais do direito pleiteado. Não obstante, não foi esse o
entendimento que se sagrou vencedor na doutrina, decidindo o STJ que não
haveria óbice para o reconhecimento da usucapião quando o período se
complete no curso da ação. Se não, vejamos:
É possível o reconhecimento da usucapião quando o
prazo exigido por lei se complete no curso do
processo judicial, conforme a previsão do art. 493,
do CPC/2015, ainda que o réu tenha apresentado
contestação. Em março de 2017, João ajuizou ação
pedindo o reconhecimento de usucapião especial
urbana, nos termos do art. 1.240 do CC (que exige
posse ininterrupta e sem oposição por 5 anos). Em
abril de 2017, o proprietário apresentou contestação
pedindo a improcedência da demanda. As
testemunhas e as provas documentais atestaram
que João reside no imóvel desde setembro de 2012,
ou seja, quando o autor deu entrada na ação, ainda
não havia mais de 5 anos de posse. Em novembro
de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para
sentença. O magistrado deverá julgar o pedido
procedente considerando que o prazo exigido por lei
para a usucapião se completou no curso do
processo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
05/06/2018 (Info 630).
Pelo exposto, conclui-se que a pretensão ‘ii’ de José também deve ser
afastada.
Esses seriam, portanto, os dois pontos de enfoque da Defensoria no bojo da
réplica em questão.
*** BÔNUS***
Ponto 3 – Principais modalidades de usucapião – para revisar e fixar:
Vejamos, a seguir, as espécies mais frequentes de usucapião:
d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem
imóvel (urbano ou rural).
e) Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de
boa-fé.
Observações:
• O possuidor pode, para o fim de contar o prazo de 5 anos, acrescentar sua
posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
• A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz,
mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro
de imóveis.
• Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor,
independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo
hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais
diferenciadas.
• O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de
extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos
condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do
condomínio.
• As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão
tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também
os demais, discordantes ou ausentes.
PADRÃO DE RESPOSTA
Com a recente alteração legislativa, em 2021, a EIRELI deixou de existir
enquanto formato empresarial. Tal novidade já era prevista por alguns, desde o
ano de 2019, em que houve a promulgação da Lei da Liberdade Econômica e a
inserção no ordenamento jurídico da figura da Sociedade Limitada Unipessoal
(SLU). Há quem defenda que a extinção da Eireli não precisava ter ocorrido, e
sim a coexistência de ambas as formas (uma societária, e outra não),
justamente para garantir a proteção dos empresários individuais e manter a
flexibilização para a exploração da atividade econômica. Por outro lado, os que
defendem o fim da EIRELI apontam uma maior flexibilização na constituição e
administração empresarial, já que os empreendedores individuais poderão
escolher a estrutura jurídica para seus negócios sem a amarra procedimental
de constituir capital mínimo. Assim, poderiam constituir uma empresa de
responsabilidade limitada (Ltda) ou uma Sociedade Anônima (SA). É dizer, os
mesmos benefícios antes abarcados pela EIRELI foram trazidos pela SLU. Isso
porque, a Sociedade Limitada Unipessoal é espécie de empresa de
responsabilidade limitada, constituída sob o modelo de sociedade, e pressupõe
certo protecionismo ao patrimônio de seus sócios, que só responderão na
proporção do que contribuíram para a integralização do capital social.
ESPELHO
Aspectos microestruturais (adequação ao – 0,0 a 10,00
I número de linhas, coesão, coerência, ortografia, pontos
morfossintaxe e propriedade vocabular);
Discorrer sobre o fim da EIRELI promovido pela
II alteração legislativa de 2021, não sendo - 0,0 a 20
necessário dispor expressamente o número da pontos
lei, muito embora pontuado diferenciadamente o
candidato que a citar;
14
COMENTÁRIOS
Pessoal, resolvemos trazer essa questão por conta da recente alteração que
promoveu o fim da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI).
Para abrir uma EIRELI, era preciso declarar um capital social de, no mínimo,
100 salários-mínimos, totalmente integralizados no momento da abertura.
Após a Lei nº 14.195/21, obrigatoriamente todas as EIRELIs criadas serão
transformadas em Sociedades Limitadas Unipessoais, conforme art. 41
A EIRELI foi extinta, notadamente, em razão de existir figura que atenda de
maneira melhor aos interesses das partes envolvidas, qual seja, a Sociedade
Unipessoal (SLU), que é uma sociedade limitada (LTDA). Na Sociedade
Unipessoal, o capital social mínimo é obrigatório, sendo livremente fixado pelo
sócio e sua responsabilidade está limitada ao montante do capital social, que
pode ser fixado pelo mesmo na constituição em contrato social.
Vejamos o que diz o Código Civil sobre o capital social na sociedade limitada:
Art. 1.052. Na sociedade limitada, a
responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de
suas quotas, mas todos respondem solidariamente
pela integralização do capital social.
Atenção agora para os parágrafos desse artigo, que tratam da sociedade
15
limitada unipessoal:
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por
1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento
de constituição do sócio único, no que couber, as
disposições sobre o contrato social. (Incluído pela
Lei nº 13.874, de 2019)
Veja-se, por fim, que a própria Lei 14.195/2021 corrobora para a motivação que
ensejou o fim da Eireli, pelo que se extrai abaixo:
LEI Nº 14.195, DE 26 DE AGOSTO DE
2021
Frise-se, ainda, que futuramente podem surgir algumas questões para discutir
a abertura dessas empresas sem a estipulação mínima de capital social,
referente à capacidade financeira da pessoa física se tornar sócia de uma
sociedade limitada com baixo capital ou de valor contraditório à atividade que
será exercida.
Contra a extinção da Eireli:
1 - Proteção limitada aos empreendedores: A Eireli foi criada com o objetivo de
proporcionar responsabilidade limitada ao empreendedor individual, separando
o patrimônio pessoal do patrimônio empresarial. A extinção da Eireli poderia
aumentar os riscos e a exposição patrimonial do empreendedor.
2 - Prejuízo aos setores que dependem da figura da Eireli: Alguns setores
específicos, como profissionais autônomos ou empreendedores com atividades
de risco, podem se beneficiar da segurança oferecida pela Eireli.
3 - Uniformização internacional: A figura da Eireli é semelhante a estruturas
jurídicas existentes em outros países, o que facilita a compatibilidade e o
entendimento nos negócios internacionais.
O caso foi designado para o Defensor Público ao qual você como residente
está vinculdo. O Defensor Público lhe requisitou uma pesquisa dos quesitos
acima expostos. Justifique suas respostas com base na legislação,
jurisprudência e resolução nº 484 do CNJ.
PADRÃO DE RESPOSTA
c- O reconhecimento pessoal não pode ser feito por meio fotográfico por
ter frágil valor probante. Ainda que confirmado em juízo. O
reconhecimento fotográfico não pode ser admitido no processo penal,
diante da previsão do art. 226 do CPP.
ESPELHO
Total: Aluno:
I Estrutura, domínio linguístico e utilização dos termos 20
técnicos
II Sim! Vide o art. 226 do CPP 20
III O reconhecimento pessoal não tem força probatória 20
absoluta capaz de embasar a prisão preventiva do
acusado.
IV O reconhecimento pessoal não pode ser feito por meio 20
fotográfico
V Não! É prova irrepetível 20
Total 100
COMENTÁRIOS
STJ – HC n. 769.783/RJ
HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. DEPOIMENTO DA VÍTIMA.
RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO E PESSOAL. ÚNICOS ELEMENTOS
DE PROVA. CONTRADIÇÕES E INCONSISTÊNCIAS AFERÍVEIS, PRIMO
ICTU OCULI. DESNECESSIDADE DE REEXAME DO ACERVO
PROBATÓRIO. DÚVIDA RAZOÁVEL. IN DUBIO PRO REO. ORDEM
CONCEDIDA.
1. Desde que respeitadas as exigências legais, o reconhecimento de pessoas
pode ser valorado pelo Julgador. Isso não significa admitir que, em todo e
qualquer caso, a afirmação do ofendido de que identifica determinada pessoa
como o agente do crime seja prova cabal e irrefutável. Do contrário, a função
dos órgãos de Estado encarregados da investigação e da acusação (Polícia e 25
Ministério Público) seria relegada a segundo plano. O Magistrado, por sua vez,
estaria reduzido à função homologatória da acusação formalizada pelo
ofendido.
O fenômeno não está ligado à ideia de mentira ou falsa acusação, mas sim a
de um erro involuntário, a que qualquer pessoa pode ser acometida. 26
8. Em audiência, a Ofendida nem mesmo afirmou que havia reconhecido o
Paciente, em sede policial, com absoluta certeza. Ao contrário, alegou que,
naquela ocasião, após visualizar as fotos, apenas sinalizou que possivelmente
o Réu seria o autor do crime.
10. Considerando que o decreto condenatório está amparado tão somente nos
reconhecimentos formalizados pela Vítima e, ainda, as divergências e
inconsistências na referida prova, aferíveis de plano e sem a necessidade de
incursão no conjunto fático-probatório, concluo que há dúvida razoável a
respeito da autoria delitiva, razão pela qual é necessário adotar a regra de
julgamento que decorre da máxima in dubio pro reo, tendo em vista que o ônus
de provar a imputação recai sobre a Acusação.
PADRÃO DE RESPOSTAS
A questão aborda o conflito entre dois direitos fundamentais, quais sejam, o
direito à liberdade de consciência/pensamento de um lado e, do outro, o direito
à vida (ambos constantes do art. 5º, CRFB/88). A não vacinação como reflexo
da liberdade de crença (art. 5º, incisos IV, VIII, CF/88) se contrapõe ao direito à
vida, ambos corolários da Dignidade da Pessoa Humana. Há quem defenda,
todavia, que o direito à vida possuiria um status de sobre direito, motivo pelo
qual dever-se-ia proteger a vida a qualquer custo. Essa máxima, ressalte-se
não é absoluta, muito embora tenha o STF decidido que, no caso da negativa à
vacinação, a vida deveria ser o bem jurídico tutelado em detrimento da
liberdade de opinião/crença/consciência. É dizer, trata-se de aparente
antinomia, resolvida pelo STF a partir da prevalência do Direito à Vida,
legitimando a vacinação compulsória (ou obrigatória). No caso, não seria
possível forçar diretamente os pais da criança a se vacinarem, por consistir em
prática alcunhada de “vacinação forçada”, contrária aos postulados
democráticos. É, contudo, legítimo que se imponham restrições ao direito de ir
32
e vir, notadamente pelo fato de a propagação do vírus é maior em locais
fechados, sendo proporcionais – nos filtros de adequação necessidade e
proporcionalidade – medidas como o passaporte de vacinação, como forma de
induzir a um comportamento sanitário adequado por parte dos cidadãos.
Nestes termos, decidiu o STF ser constitucional a obrigatoriedade de
imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de vigilância sanitária,
tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações ou tenha sua
aplicação obrigatória determinada em lei. Por outro lado, no tocante à criança,
a negativa de vacinação transgrediu os artigos 7º, 14 e 249 do ECA, bem como
os artigos 6º (direito à saúde) e 227, da CRF/88. Por esses fundamentos, os
pais poderiam, inclusive, responder pelo ato com o pagamento de multa e, até
mesmo, perder o poder familiar.
ESPELHO
COMENTÁRIOS
Por fim, vale dizer que a ação para a perda do poder familiar é de titularidade
do Ministério Público.
QUESTÃO 06 “Menó”, utilizado como mula no tráfico da Vila Vintém, foi parado
durante operação da polícia militar, tendo sido preso em flagrante com
quantidade expressiva de cocaína. Diante do relato, o MP prestou denúncia
com base nos artigos 33 e 35 do CP. Durante o interrogatório o réu ficou em
silêncio. Após a instrução, em sua manifestação, o MP requereu a
condenação nos moldes da denúncia.
Sobrevindo a Sentença, “Menó” foi condenado como incurso no art. 33, caput,
c/c o art. 40, inciso V, ambos da Lei n. 11.343/2006, à pena de 8 anos e 9
meses de reclusão, em regime inicial fechado, bem como ao pagamento de
875 dias-multa.
A Defensoria é intimada a se manifestar em defesa do réu, que não possui
passagens pretéritas pela polícia. Indique quais argumentos defensivos e se
caberia sugerir a minorante.
41
PADRÃO DE RESPOSTA
Há que se alegar o constrangimento ilegal, uma vez que não foi reconhecida a
redutora do tráfico prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006. Ademais, o
réu preenche todos os requisitos necessários para a aplicação da benesse,
uma vez que é primário, não ostenta maus antecedentes (o que se constata do
enunciado, ao fazer menção a ausência de passagens pretéritas pela polícia),
não se dedica às atividades criminosas e não integra organização criminosa.
No tocante à quantidade de droga apreendida, aparentemente poderia se
arguir que tal fator seria um obstáculo à concessão da minorante de pena.
Todavia, esse argumento não merece prosperar, já tendo o STJ recentemente
decidido que a prisão em flagrante de pessoa utilizada como “mula” no tráfico
não pode, por si só, ser motivo hábil e idôneo para evidenciar que o acusado
integra grupo criminoso. Nesse sentido, tanto STF quanto o STJ vêm se
posicionando a respeito de confirmar a possibilidade de concessão do
benefício do tráfico privilegiado, a despeito da apreensão de grande quantidade
de droga nos casos envolvendo “mula”. No âmbito da quantificação da pena,
ainda, pode-se arguir que a redutora deveria ter sido aplicada e, a partir dela,
“Menó” deveria ter seu regime modificado, bem como substituída a pena
privativa de liberdade por restritivas de direitos.
ESPELHO
Aspectos microestruturais (adequação ao – 0,0 a 10,00
I número de linhas, coesão, coerência, ortografia, pontos
morfossintaxe e propriedade vocabular);
Indicar expressamente a possibilidade de
II aplicação da redutora do tráfico prevista no art. - 0,0 a 30
33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 pontos
42
COMENTÁRIOS
Essa questão foi inspirada em recente precedente do STJ. Vejamos o caso:
Ora, é certo que a redutora do art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 demanda o
preenchimento de quatro requisitos cumulativos, quais sejam:
I) primariedade,
II) bons antecedentes,
III) não se dedicar a atividades criminosas
IV) não integrar organização criminosa.
W W W .P O R T A L E S T U D A N D O D IR E I T O . C O M . B R
@ C U R S O P E D
1
W W W .P O R T A L E S T U D A N D O D IR E I T O . C O M . B R
@ C U R S O P E D
Desejamos sorte neste seu objetivo e que este material possa continuar te
ajudar a alcançar a função de Residente Jurídico da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro!
Coordenação da turma
PRISCI LA COT TA
ANALISTA PROCESSU AL DA DPE-RJ
EX-RESIDENTE J URÍDICA DA DPE-RJ
RAONI ARAUJ O
COORDENADOR ACADÊMICO DO PED
MESTRE PELA FND/UFRJ
2
TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARA A PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA – RODADA III
ESPELHO
1
QUESTÃO 01 Em um determinado estado fictício chamado "Estado Saúde
Plena", uma nova doença contagiosa, denominada "Vírus X", começou a se
espalhar rapidamente, causando preocupação na população e nas autoridades
de saúde. Diante da situação, o Governo do Estado Saúde Plena decidiu
tomar medidas emergenciais para conter a propagação do Vírus X.
O Governo do Estado Saúde Plena publicou um ato normativo infralegal
intitulado "Decreto Estadual nº 123/2023", no qual foram estabelecidas
diversas medidas sanitárias preventivas. Dentre as medidas, destacam-se:
1. Obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes públicos e
privados.
2. Proibição de aglomerações com mais de 50 pessoas.
3. Suspensão temporária de eventos e atividades de grande porte.
4. Restrição de horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais.
A fim de aplicar as medidas sanitárias preventivas, o Governo do Estado
Saúde Plena reconheceu que o artigo 268 do Código Penal brasileiro, que
tipifica a infração de medida sanitária preventiva, contém uma norma penal em
branco, uma vez que não especifica detalhadamente quais são as medidas a
serem observadas.
O Decreto Estadual nº 123/2023 prevê que o não cumprimento das medidas
sanitárias preventivas estabelecidas resultará em penalidades para os
infratores. As penalidades variam de advertências e multas até a
responsabilização criminal nos casos mais graves.
Diante do caso narrado, com base em recente julgado do Supremo Tribunal
Federal, responda:
a) O art. 268 do Código Penal pode ser complementado por atos
normativos infralegais editados pelos Estados, Distrito Federal e
Municípios?
b) Quais são os aspectos da norma penal em branco e suas formas de
complementação?
PADRÃO DE RESPOSTA
a) Segundo decisão recente do Supremo Tribunal Federal o art. 268 do Código
Penal veicula norma penal em branco que pode ser complementada por atos
normativos infralegais editados pelos entes federados (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios), respeitadas as respectivas esferas de atuação, sem que
2
isso implique ofensa à competência privativa da União para legislar sobre
direito penal (CF, art. 22, I). Dito de outra forma, A complementação de norma
penal em branco por ato normativo estadual, distrital ou municipal, para
aplicação do tipo de infração de medida sanitária preventiva (Código Penal, art.
268), não viola a competência privativa da União para legislar sobre direito
penal (art. 22, I, CF/88). (ARE 1418846/STF).
b) As normas penais em branco são normas penais cujo preceito secundário
(sancionador) é completo, mas o preceito primário, diferentemente, é
incompleto. Ou seja, é uma norma que depende de complementação. Normal
penal em branco heterogênea (também chamada de norma penal em branco
em sentido estrito ou própria) ocorre quando o complemento da norma penal
em branco possui natureza jurídica diversa e não emana do legislador, mas de
fonte de produção distinta. É o caso da complementação feita por meio de atos
administrativos. Já a norma penal em branco homogênea (também chamada
de norma penal em branco em sentido amplo ou imprópria) ocorre quando
temos, de um lado, a norma penal em branco, prevista em lei, e, de outro, a
sua complementação, feita por outra lei. Ou seja, o complemento da norma
penal em branco homogênea possui a mesma natureza jurídica que ela, emana
da mesma fonte de produção.
ESPELHO
TOTAL: ALUNO:
COMENTÁRIOS
1) Tipo aberto:
Também é uma lei penal incompleta, mas aqui o complemento é dado por
outra norma (complemento normativo).
Se essa outra norma for diferente de uma lei, teremos uma norma penal em 4
branco em sentido estrito. Se a outra norma for lei temos uma norma penal
em branco em sentido amplo.
Se for uma lei não penal, teremos uma norma penal em branco homogênea
heterovitelina (heteróloga) Ex: ocultação de impedimento para casamento
– o art. 237 do CP é complementado pelo Código Civil, que diz quais são os
casos de impedimento.
Art. 268 do CP
O art. 268 do Código Penal veicula norma penal em branco que pode
ser complementada por atos normativos infralegais editados pelos
entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios),
respeitadas as respectivas esferas de atuação, sem que isso
implique ofensa à competência privativa da União para legislar
sobre direito penal (art. 22, I, CF/88).
STF. Plenário. ARE 1.418.846/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
25/3/2023 (Repercussão Geral – Tema 1246) (Info 1088).
QUESTÃO 02 A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro moveu ação
civil pública contra o Município do Rio de Janeiro diante das condições
precárias das instalações e do atendimento deficitário no Hospital Municipal
Salgado Filho. A DPE – RJ, após entender estar evidenciada a desídia do
administrador em dar cumprimentos a direitos fundamentais, formulou pedidos
de obrigação de fazer. 8
PADRÃO DE RESPOSTA
a) A Defensoria Pública foi inserida no rol dos legitimados para propor ação
civil pública pela Lei nº 11.448/2007 (art. 5º, II da Lei da Ação Civil Pública – Lei
nº 7.347/85). Ademais, segundo entendimento consolidado na jurisprudência
do STJ: “A Defensoria Pública detém legitimidade para propor ações coletivas
na defesa de direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos”.
(Jurisprudência em Teses edição nº 22). O direito à saúde é direito coletivo
com prestação obrigatória por parte do Estado (art. 196 da CF).
ESPELHO DE CORREÇÃO
Total: Aluno:
I Estrutura, domínio linguístico e utilização dos termos 10
II A Defensoria Pública é legitimada para propor ação 30
civil pública na defesa do direito de acesso à saúde
III Apelação 30
IV Não houve violação ao princípio da separação de 30
poderes (RE 684.612 RJ)
Total 100
COMENTÁRIOS
A nossa questão tem como inspiração uma ação civil pública proposta pelo
Ministério Público do Rio de Janeiro em face do Município do Rio de Janeiro
(RE 684.612). Na ação, o parquet requereu que, em razão de condições
precárias das instalações e do atendimento deficitário no Hospital Municipal
Salgado Filho, a abertura de concurso público de provas e títulos para
provimento dos cargos vagos de médico existentes na estrutura do referido
hospital com o objetivo de suprir o déficit de pessoal no quadro técnico.
“o Poder Judiciário não estar autorizado a formular políticas públicas, mas pode
e deve determinar o efetivo cumprimento de políticas públicas já existentes,
quando há inescusável desatendimento a direito fundamental”. (grifos nossos)
(...)
“É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer
consistente na realização de concurso público de provas e títulos para
provimento dos cargos de médico e funcionários técnicos, seguido da
nomeação e posse dos profissionais aprovados, bem como determinar a
correção de procedimentos e o saneamento de irregularidades apontadas em
relatório do Conselho Regional de Medicina". (grifos nossos)
(...)
“Logo, excepcionalmente, em havendo inércia pontual e específica da
Administração Pública, para fins de assegurar o exercício de direitos
fundamentais, nada obsta que, devidamente provocado, o Poder Judiciário
atue de modo emergencial visando ao restabelecimento da plena fruição
desses direitos que se encontram em estado de comprometimento. Consoante
se constata da jurisprudência desta CORTE, não é suficiente para revelar o
quadro propício à efetivação da medida sua mera requisição perante o Poder
Judiciário, sob o risco de não se atentar às balizas que são postas ao Poder
Judiciário quando examina atos do Poder Executivo dotados de
discricionariedade, os quais se amparam nos critérios da oportunidade e
conveniência no momento de sua execução. Ao votar, no presente recurso
paradigma, o Ilustre Relator, Min. RICARDO LEWANDOWISKI, para amparar
sua compreensão no sentido da possibilidade de o Poder Judiciário impor à
Administração Pública a obrigação de fazer consistente na contratação de
12
servidores públicos para atender as demandas na área de saúde, cita a ADPF
45 MC, Dj de 04/05 /2004, na qual o Min. CELSO DE MELLO, Relator,
asseverou não caber a manipulação da atividade financeira do Estado que
inviabilize o estabelecimento e a preservação do direito à saúde. Todavia,
deve-se ter presente que o Ministro CELSO DE MELO, de outro lado, advertiu
que a cláusula da “reserva do possível”, traduz-se em um binômio que
compreende, além da razoabilidade da pretensão individual/social, também a
existência de disponibilidade financeira do Estado para tornar efetivas as
prestações positivas dele reclamadas, pois, nas palavras de Sua Excelência,
“ausente qualquer desses elementos, descaracterizar-se-á a possibilidade
estatal de realização prática de tais direitos”. (grifos nossos)
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO DE CORREÇÃO
COMENTÁRIOS:
Interrogatório
Embora o termo em inglês due process of law tivesse sido utilizado pela
primeira vez, em 1354, no reinado de Eduardo III, na Inglaterra, sua origem
remonta à Magna Carta (art. 39), de 1215, assinada por João Sem-Terra.
18
a) direito ao processo (garantia de acesso ao Poder Judiciário);
b) direito à citação e ao conhecimento prévio do teor da acusação;
c) direito a um julgamento público e célere, sem dilações indevidas;
d) direito ao contraditório e à plenitude de defesa (direito à autodefesa e à
defesa técnica);
e) direito de não ser processado e julgado com base em leis ex post facto;
f) direito à igualdade entre as partes;
g) direito de não ser processado com fundamento em provas revestidas de
ilicitude;
h) direito ao benefício da gratuidade;
i) direito à observância do princípio do juiz natural;
j) direito ao silêncio (privilégio contra a autoincriminação); e
k) direito à prova.
19
O direito de ampla defesa, por sua vez, é concebido numa dupla
dimensão:
a) defesa técnica: ninguém pode ser acusado ou julgado sem defensor
(constituído ou dativo), exercida por advogado habilitado, diante da presunção
absoluta de hipossuficiência técnica do réu (arts. 261 do CPP; 5º, LXXIV, e 134
da CF/88; 8.2 da CADH);
O réu tem o direito de examinar cada um dos fatos que lhe são imputados,
assim como as provas que os amparam, e também o direito de contestar,
posteriormente, seu inteiro teor; ou seja, o 'direito de falar por último'.
20
O referido Princípio, que trata, portanto, da dignidade da pessoa humana
criança e adolescente, foi esmiuçado no artigo 4° da Lei 8.069 /90:
O defensor público Pedro Carriello, que atua junto aos tribunais superiores
33
e autor do Agravo Regimental no HC concedido pelo STJ, ressaltou ter havido
violação do direito à ampla defesa, uma vez que o artigo 400 do Código do
Processo Penal (CPP) também deve ser aplicado aos processos com base no
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A decisão reformou acórdão da
5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, que não acatara o
argumento da Defensoria em favor da nulidade do depoimento prestado ao
início do processo.
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO DA CORREÇÃO
COMENTÁRIOS
ADPF
O contexto fático narrado no enunciado, relativo à segurança pública, é
absolutamente incompatível com a Constituição. O fato do problema ser de
natureza sistêmica e decorrer de vários atos – comissivos e omissivos do
Poder Público - somado a gravidade e a dificuldade de enfrentá-lo, evidenciam
37
a necessidade de intervenção de um órgão superior. Na hipótese, cabe ao
Supremo Tribunal Federal, no desempenho da sua função maior de guardião
da Constituição (art. 102, caput, CF/88).
Subsidiariedade
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Direito à vida
Direito à segurança
Medida cautelar
48
Foram indeferidos, pelo menos naquele momento, os seguintes pedidos:
PROTOCOLO DE MINNESOTA
Previsão
Objetivo
52
Busca evitar que a impunidade das violações ao direito à vida possa servir
de estímulo a novas violações, bem como promover o acesso à justiça e o
direito à reparação, por meio de uma investigação eficaz de toda e qualquer
morte potencialmente injusta, inclusive nos casos de suspeita de
desaparecimento forçado:
Protocolo de Istambul
Aplicação
O Protocolo de Minnesota se aplica à investigação de todas as “mortes
potencialmente ilícitas” e, no que for possível, todos os casos de suspeita de
desaparecimento forçado.
53
Considerações finais
56
I) imediatas;
IV) transparentes.
57
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO
TOTAL: ALUNO:
COMENTÁRIOS
Neste sentido, o ministro também reforçou que a Defensoria deve zelar para
que as delegacias de polícia não sejam locais indutores de novos atos de
reconhecimento pelos famigerados álbuns de suspeitos, pois eles
representam um perigo muito grande para que pessoas inocentes sejam
condenadas.
— Machuca muito pagar por um erro que eu não cometi. Preto no Brasil,
infelizmente, vai ser sempre discriminado e acusado dessas coisas. Espero
que a resolução evite que as pessoas passem pelo mesmo que — disse
Alberto.
https://www.defensoria.rj.def.br/noticia/detalhes/22888-DPRJ-recebe-
ministro-do-STJ-em-debate-sobre-reconhecimento-facial
JURISPRUDÊNCIA DO STJ:
6a Turma: 1) O reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento
previsto no art. 226 do Código de Processo Penal, cujas formalidades
constituem garantia mínima para quem se encontra na condição de suspeito
da prática de um crime; 2) À vista dos efeitos e dos riscos de um
reconhecimento falho, a inobservância do procedimento descrito na referida
norma processual torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e não
poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o
reconhecimento em juízo; 3) Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de
reconhecimento formal, desde que observado o devido procedimento
probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do
exame de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com o
ato viciado de reconhecimento; 4) O reconhecimento do suspeito por simples 61
exibição de fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever seguir o mesmo
procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa
antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir
como prova em ação penal, ainda que confirmado em juízo. STJ. 6a Turma.
HC 598.886-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020 (Info
684).
PADRÃO DE RESPOSTA
Trata-se do Caso Márcia Barboda de Souza vs Brasil. A Márcia era uma jovem
de 20 anos do interior do Estado da Paraíba vítima de fiminicídio praticado pelo
deputado estadual Aércio Pereira de Lima, com 54 anos de idade, casado e já
no exercício do quinto mandato como parlamentar.
a- Sim, o Brasil recohece a jurisdição obrigatória e vinculante, bem como a
competência da Corte Interamericana. O ato de reconhecimento data de
10 de dezembro de 1998. Por fim, imperioso mencionar que, o Brasil
ratificou a Convenção Americana sobre Direitos Humanos em 1992.
Espelho de correção
Total: Aluno:
63
II Brasil reconhce a jurisdição da CIDH 20
V Título executivo 30
Total 100
COMENTÁRIOS
O tema da nossa questão é muito importante por ser uma decisão pioneira da
CIDH que trata da violação dos direitos das mulheres. Este foi um caso de
fiminicídio que envolveu também o abuso do poder político e a discriminação e
violação estrutural aos direitos das mulheres no Brasil. Trata-se da primeira
condenação proferida pela Corte ao Estado brasileiro concernente
integralmente à temática de violência contra a mulher.
A CIDH reconheceu que a violência contra as mulheres no Brasil é um
problema estrutural e generalizado, concluindo que altos níveis de tolerância a
esse tipo de violência estão normalmente associados a altas taxas de
feminicídio.
Sobre imunidade parlamentar, a CIDH evidenciou que o seu uso sem qualquer
indicação da presença de elementos de arbitrariedade no exercício da ação
penal, de modo a comprometer a autonomia do legislador, é flagrantemente
arbitrária.
“A imunidade parlamentar é um instituto que foi idealizado como uma garantia
de independência do órgão legislativo em seu conjunto e de seus membros, e
não pode conceber-se como um privilégio pessoal de um parlamentar. Nessa
medida, cumpriria o papel de garantia institucional da democracia. Não
obstante isso, sob nenhuma circunstância, a imunidade parlamentar pode
transformar-se em um mecanismo de impunidade, questão que, caso
ocorresse, acabaria erodindo o Estado de Direito, seria contrária à igualdade
perante a lei e tornaria ilusório o acesso à justiça das pessoas prejudicadas.”
(...)“A Corte faz notar que, por tratar-se de um caso relativo à morte violenta de
uma mulher, o que evidentemente não está relacionado com o exercício das
funções de um deputado, a possibilidade do uso político da ação penal deveria
ter sido analisada com ainda mais atenção e cautela, tendo em consideração o
dever de devida diligência estrita na investigação e sanção de fatos de
violência contra a mulher exigido no regime convencional.” 64
65
É importante ler a sentença para aprofundar o seu conhecimento sobre o tema.
Ela está disponível em:
https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_435_ por.pdf
Indico também conhecer o site da Defensora Pública Patrícia Magno no qual
comentou o caso: https://www.patriciamagno.com.br/dh-na-corte/caso-marcia-
barbosa-de-souza-vs-brasil/
66
TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARA
A PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA
TEMAS QUENTES
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1
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Desejamos sorte neste seu objetivo e que este material possa continuar te
ajudar a alcançar a função de Residente Jurídico da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro!
Coordenação da turma
PRISCI LA COT TA
ANALISTA PROCESSU AL DA DPE-RJ
EX-RESIDENTE J URÍDICA DA DPE-RJ
RAONI ARAUJ O
COORDENADOR ACADÊMICO DO PED
MESTRE PELA FND/UFRJ
2
TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARAA PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA – RODADA IV
CADERNO DE QUESTÕES
1
QUESTÃO 01 Em uma noite escura, o museu do Levre, localizado no Rio de
Janeiro, foi alvo de um roubo. Um diamante raro, conhecido como "Estrela do
Oriente", foi roubado de sua vitrine. Após investigação, a polícia prendeu dois
suspeitos: Caio e Tícia.
O julgamento dos suspeitos começou alguns meses após a prisão. Caio e
Tícia foram acusados de roubo qualificado e estavam enfrentando a
possibilidade de longas penas de prisão, caso fossem considerados culpados.
Caio e Tícia foram presos em datas diferentes, mas ambos foram acusados do
mesmo crime, o roubo da "Estrela do Oriente".
O julgamento ocorreu em 1º de junho de 2020, e durante o processo, as
defesas de Caio e Tícia apresentaram argumentos distintos para provar sua
inocência.
Prisão de Caio 1º de março de 2020
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO
3
TOTAL: ALUNO:
COMENTÁRIOS
perda da pretensão
punitiva vedação ao direito de punir
PRESCRIÇÃO
perda da pretensão
executória proibição de executar a pena
Quando ocorre a perda da pretensão punitiva, mesmo que haja a decisão
condenatória, esta se dilui como se não houvesse existido para todos os fins,
sem deixar rastro ou macular a folha de antecedentes do agente.
Consolidando-se a perda da pretensão executória, deixa-se de aplicar a pena
4
estabelecida validamente, remanescendo os efeitos penais secundários, como a
viabilidade de figurar como antecedente, a possibilidade de gerar reincidência e
até mesmo se tornando título executivo para a ação civil ex delicto.
Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou
para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Através deste julgado ficou estabelecido que é incompatível com a atual ordem
constitucional — à luz do postulado da presunção de inocência (CF/1988,
art. 5º, LVII) e o atual entendimento do STF sobre ele — a aplicação
meramente literal do disposto no art. 112, I, do Código Penal. Por isso, é
necessário interpretá-lo sistemicamente, com a fixação do trânsito em julgado
para ambas as partes (acusação e defesa) como marco inicial da prescrição
da pretensão executória estatal pela pena concretamente aplicada em
8
sentença condenatória.
Conforme jurisprudência firmada no STF (HC 84.078; ADC 43; ADC 44; ADC
54; HC 115.269 e ARE 682.013 AgR), o Estado não pode determinar a
execução da pena contra condenado com base em título executivo não
definitivo, dada a prevalência do princípio da não culpabilidade ou da
presunção de inocência. Assim, a constituição definitiva do título judicial
condenatório é condição de exercício da pretensão executória do Estado.
Entenda o caso:
Tese
A tese de repercussão geral fixada foi a seguinte: "O prazo para a prescrição
da execução da pena concretamente aplicada somente começa a correr do dia
em que a sentença condenatória transita em julgado para ambas as partes,
momento em que nasce para o Estado a pretensão executória da pena,
conforme interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal ao princípio da
9
presunção de inocência (art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal) nas ADC
43, 44 e 54".
IMPORTANTE!
(ii) cujo trânsito em julgado para a acusação tenha ocorrido a partir do dia
12.11.2020.
o tema não se aplica aos processos com trânsito em julgado para a acusação
ocorrido até 11/11/2020 (data do julgamento das ADCs em que o STF estabeleceu
10
que o Estado não pode determinar a execução da pena contra condenado
com base em título executivo não definitivo ) e se aplica àqueles com trânsito
em julgado para a acusação ocorrido após aquela data.
QUESTÃO 02 A escola particular Abecedário da Lulu recebeu um e-mail de
um grupo de pais preocupados com o tratamento dos dados pessoais de
seus filhos, alunos matriculados na instituição. A escola coleta e armazena
informações como nome completo, idade, data de nascimento, endereço,
11
telefone, fotografia, registros acadêmicos e de saúde, entre outros dados, de
todas as crianças e adolescentes matriculados.
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO DE CORREÇÃO
COMENTÁRIOS
13
Desta forma, a proteção de dados deve ser vista como aspecto essencial da
tutela da dignidade da pessoa humana, uma vez que devem ser evitadas
discriminações que não encontrem fundamento constitucional e afastadas
práticas que possam reduzir a liberdade e a autonomia dos indivíduos, a
exemplo de decisões que sejam tomadas a partir da análise de dados não
informada ao seu titular ou à luz de critérios não transparentes.
Contudo, até 2018, o ordenamento jurídico brasileiro não dispunha de uma lei
específica para a proteção de dados pessoais, sendo que sua tutela amparava-
se em dispositivos da Constituição da República (art. 5º, X e XIII, que
contemplam a inviolabilidade da intimidade e da vida privada e o sigilo de
dados), do Código Civil (com o direito fundamental à privacidade previsto no
art. 21) e em outras leis esparsas como o CDC (Código de Defesa do
Consumidor), o Marco Civil da Internet, a Lei de Acesso à Informação e a Lei
do Cadastro Positivo.
14
Assim, aquele que coleta e trata dados, por lidar com bens alheios, passa a ter
o dever fundamental de prestar contas: como e quais dados são coletados,
como são tratados, armazenados etc.
Note, então, que a “LGPD não tem como fim os dados de empresas ou
instituições públicas e privadas, mas os dados que essas pessoas jurídicas têm
das pessoas físicas, portanto enquadram-se dentro dessas pessoas físicas
protegidas pela LGPD: funcionários, parceiros, clientes, terceiros e acionistas,
entre outros.”
OBSERVAÇÃO! Atualmente a proteção de dados pessoais conta ainda com
previsão no rol do art. 5º da Constituição Federal, fruto das alterações
promovidas pela Emenda Constitucional nº 115 de 2022. Veja:
Sendo assim, o tratamento envolve toda a vida útil de um dado pessoal, todo
seu histórico, tudo que ocorre com o dado desde seu nascimento, utilização até
sua eliminação. Trata-se de um conceito legal amplo, de sorte que o simples
20
armazenamento do dado, sem utilizá-lo efetivamente para nenhum fim a
princípio, já revela-se uma operação de tratamento.
Desde já, perceba que o tratamento é realizado por um alguém que, segundo a
lei, recebe o nome de “agente de tratamento”, conforme se verá
oportunamente.
A pessoa que é titular dos dados deve estar ciente da finalidade da coleta e
uso, bem como deve poder acessar seu conteúdo a qualquer momento. Sendo
assim, segundo o regime jurídico da LGPD, o consentimento do titular de
dados é elemento essencial para o legítimo tratamento.
Resta nítida, pela leitura do artigo 14, que as normas trazidas pelos parágrafos
2° à 6° se referem ao sujeito indicado no parágrafo 1°: as crianças. Isto pois, na
redação de todos estes parágrafos, o legislador fez constar expressões como “
No tratamento de dados de que trata o § 1º deste artigo” ou “dos titulares de
que trata o § 1º deste artigo” ou “consentimento a que se refere o § 1º deste
artigo”.
Isto pois, este consentimento deverá ser uma manifestação livre, informada e
inequívoca, seguindo os parâmetros do artigo 5°, inciso XII da lei, sendo
obrigação do controlador do dado manter pública as informações sobre os
dados coletados (quais foram e como estão sendo utilizados e armazenados) e
realizar todos os possíveis esforços razoáveis para conferir se tal
consentimento foi dado realmente pelo responsável do menor.
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO DE CORREÇÃO
COMENTÁRIOS
A saúde suplementar
25
O principal objetivo da saúde suplementar é auxiliar na garantia do acesso
da população ao plano de saúde e à assistência hospitalar, como forma
adicional de concretização do direito fundamental à saúde (art. 6º e 196
CF/88).
Isto porque o CDC é lei geral e se aplica a toda relação de consumo, a Lei
9.656/1998, por sua vez, é especial, e regula os planos privados de assistência
à saúde, isto é, os planos de saúde, incluindo nesta terminologia os seguros-
saúde.
Art. 10 (...)
§4º A amplitude das coberturas no âmbito da saúde
suplementar, inclusive de transplantes e de
procedimentos de alta complexidade, será estabelecida
em norma editada pela ANS. (Redação dada pela Lei nº
14.307, de 2022).
(...)
§8º Os processos administrativos de atualização do rol de
procedimentos e eventos em saúde suplementar
referente aos tratamentos listados nas alíneas c do inciso
I e g do inciso II do caput do art. 12 desta Lei deverão ser
analisados de forma prioritária e concluídos no prazo de
120 (cento e vinte) dias, contado da data em que foi
protocolado o pedido, prorrogável por 60 (sessenta) dias
corridos quando as circunstâncias o exigirem. (Incluído
pela Lei nº 14.307, de 2022).
Por um lado, não se pode deixar de observar que o rol mínimo e
obrigatório de procedimentos e eventos em saúde constitui relevante garantia
do consumidor para assegurar direito à saúde, em preços acessíveis,
contemplando a camada mais ampla e vulnerável da população. Por
30
conseguinte, considerar esse mesmo rol meramente exemplificativo
representaria, na verdade, negar a própria existência do "rol mínimo" e,
reflexamente, negar acesso à saúde suplementar à mais extensa faixa da
população.
Art. 10
(...)
§ 12. O rol de procedimentos e eventos em saúde
suplementar, atualizado pela ANS a cada nova
incorporação, constitui a referência básica para os planos
privados de assistência à saúde contratados a partir de 1º
de janeiro de 1999 e para os contratos adaptados a esta
Lei e fixa as diretrizes de atenção à saúde.
Efeito Backlash
33
A ideia foi apresentada pelo ministro Raul Araújo. A decisão em IAC tem
caráter vinculante. Assim, além de firmar a posição do STJ sobre o tema,
evitaria decisões divergentes nos juízos e tribunais de segundo grau por todo o
Brasil. A principal decisão a ser tomada é se a lei vai retroagir para situações
consolidadas antes de sua entrada em vigor.
PADRÃO DE RESPOSTA
37
ESPELHO
COMENTÁRIOS
Ainda que se adote a teoria natalista, deve-se ter em mente, contudo, que o art.
2 º reconhece que a lei porá a salvo os direitos do nascituro.
Atualmente, há uma forte tendência a se afirmar que a teoria adotada é a que
garante ao nascituro os direitos, de modo que teorias mais restritivas dos
direitos do nascituro – natalista e da personalidade condicional – fincam raízes
na ordem jurídica superada pela Constituição Federal de 1988 e pelo Código
41
Civil de 2002.
É justamente sobre esse ponto o caso de hoje, que permite a tutela, por parte
da defensoria pública, do nascituro e dos interesses que melhor lhe
resguardem.
Por outro lado, em razão da multiplicidade de teorias existentes, há quem
sustente não haver direito a feto, acautelado indevidamente no sistema
carcerário, porquanto não haveria de fato violação a uma liberdade individual
neste caso, uma vez que estar-se-ia falando de nascituro e não de recém-
nascido. É dizer, estar-se-ia falando apenas de titular de EXPECTATIVA de
direitos da personalidade.
Em um recente caso concreto em que a Defensoria Pública do Estado do Rio
de Janeiro atuou, a paciente já se encontrava com 4 (quatro) meses e foi
impetrado Habeas Corpus com vistas a possibilitar a revogação da prisão
preventiva. No caso, sob a alegação de que a gestação já havia alcançado
entre 13 (treze) a 16 (dezesseis) meses, sendo certo que o parto já se
encontrava próximo, o defensor impetrante sustentou pela substituição da
preventiva por prisão domiciliar em prol dos interesses do nascituro. (Trata-se
do processo originário de nº 000382-61.2018.8.19.0000).
O caso é datado de 2018, do mesmo ano em que a Lei 13.769/18 alterou o
Código de Processo para nele inserir o artigo 318-A, vedando a regra da prisão
preventiva decretada sobre a mulher gestante ou que for mãe ou responsável
por crianças ou pessoas com deficiência.
O dispositivo prevê que a prisão cautelar será substituída por prisão domiciliar,
desde que a presa: I – não tenha cometido crime com violência ou grave
ameaça a pessoa; II – não tenha cometido o crime contra seu filho ou
dependente.
Atenção: o código já permitia que a prisão fosse substituída, todavia, a
alteração foi no sentido de que o que antes era uma mera faculdade do juiz
passasse, agora, a ser dever (alteração que se infere da mudança dos termos
“o juiz poderá substituir” para “será substituída”).
Vejamos o CPP:
46
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que
for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência
será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a
pessoa
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.
Há que se mencionar, ainda, que esse permissivo não é absoluto e irrestrito,
pelo contrário, deverá ser observado em conjunto com outras regras
procedimentais do CPP. Destaque-se, ao comentário, o caso do HC
426.526/RJ, julgado em 12/02/2019, em que a impetrante era acusada de ter
cometido tráfico de drogas em associação com o Comando Vermelho, sendo
identificada como líder do tráfico na região.
No caso, a quinta turma do STJ entendeu que, muito embora a paciente
estivesse grávida, pela utilização de arma de fogo, pela função da paciente e
pela apreensão de grande quantidade de drogas sob sua responsabilidade
(470g de maconha e 857g de cocaína) não seria possível conceder o benefício.
Isso porque, o viés do legislador foi manter a figura do juiz enquanto fonte de
decisão sobre a prisão, preservando o que já havia sido feito pelo STF no HC
143.641.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC coletivo 143.641, ao
conceder a ordem "para determinar a substituição da prisão preventiva pela
domiciliar - sem prejuízo da aplicação concomitante das medidas alternativas
previstas no art. 319 do CPP - de todas as mulheres presas, gestantes,
puérperas, ou mães de crianças e deficientes sob sua guarda, nos termos do
art. 2º do ECA e da Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiências
(Decreto Legislativo 186/2008 e Lei 13.14 6/2015), relacionadas nesse
processo pelo DEPEN e outras autoridades estaduais, enquanto perdurar tal
condição", excetuou "os casos de crimes praticados por elas mediante
violência ou grave ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações
excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas
pelos juízes que denegarem o benefício", sendo a ordem estendida, "de
oficio, às demais mulheres presas, gestantes, puérperas ou mães de crianças e
de pessoas com deficiência, bem assim às adolescentes sujeitas a medidas
47
socioeducativas em idêntica situação no território nacional, observadas as
restrições previstas acima".
Portanto, conforme o entendimento acima, o argumento para se manter a
prisão é o de que a norma prevista no artigo 318, do Código de Processo
Penal, não constitui direito subjetivo da ré, eis que, considerando sua aplicação
de forma automática e indiscriminada, evidentemente, colocaria em risco o
próprio objeto que busca tutelar, bem como poderia estimular a participação
de mulheres na prática de crimes, devendo ser avaliado de acordo com as
características do caso concreto, sempre objetivando a melhor e maior
proteção aos menores e nascituros.
Vejamos, por fim, um julgado do mês de junho de 2023 que ilustra exatamente
os parâmetros acima esposados:
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.
TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO
PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
GRAVIDADE CONCRETA.
QUANTIDADE DE DROGA. PRISÃO DOMICILIAR.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA NEGAR O PLEITO.
CRIME COMETIDO DENTRO DA RESIDÊNCIA DA
AGRAVANTE. CASO DOS AUTOS ENCONTRADO NAS
EXCEÇÕES ESTABELECIDAS PELO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL NO HC N. 143.641/SP.
CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA.
1. A validade da segregação cautelar está condicionada à
observância, em decisão devidamente fundamentada, aos
requisitos insertos no art. 312 do Código de Processo
Penal, revelando-se indispensável a demonstração de em
que consiste o periculum libertatis.
2. No caso, a prisão preventiva está justificada, pois,
segundo a decisão que a impôs, foi apreendida grande
quantidade e variedade de drogas, a saber, 2kg (dois
quilos) de maconha, 8g (oito gramas) de crack e 18g
48
(dezoito gramas) de cocaína. Dessarte, evidenciadas a
periculosidade da ré e a necessidade da segregação como
forma de acautelar a ordem pública.
3. O afastamento da prisão domiciliar para mulher
gestante ou mãe de filho menor de 12 anos exige
fundamentação idônea e casuística, independentemente
de comprovação de indispensabilidade da sua presença
para prestar cuidados ao filho, sob pena de infringência ao
art. 318, inciso V, do CPP, inserido pelo Marco Legal da
Primeira Infância (Lei n. 13.257/2016).
4. Não bastasse a compreensão já sedimentada nesta
Casa, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n.
143.641/SP, concedeu habeas corpus coletivo "para
determinar a substituição da prisão preventiva pela
domiciliar - sem prejuízo da aplicação concomitante das
medidas alternativas previstas no art. 319 do CPP - de
todas as mulheres presas, gestantes, puérperas, ou mães
de crianças e deficientes sob sua guarda, nos termos do
art. 2º do ECA e da Convenção de Direitos das Pessoas
com Deficiências (Decreto Legislativo 186/2008 e Lei
13.146/2015), relacionadas nesse processo pelo DEPEN e
outras autoridades estaduais, enquanto perdurar tal
condição, excetuados os casos de crimes praticados por
elas mediante violência ou grave ameaça, contra seus
descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas,
as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos
juízes que denegarem o benefício (...)" (STF, HC n.
143.641/SP, relator Ministro RICARDO LEWANDOWSKI,
SEGUNDA TURMA, julgado em 20/2/2018, DJe de
21/2/2018).
5. No caso dos autos, a negativa da prisão domiciliar à
acusada teve como lastro o fato de o delito ter sido
cometido em sua própria residência, com
49
armazenamento de grande quantidade e variedade de
drogas em ambiente onde habitava com os filhos,
colocando-os em risco, circunstância apta a afastar a
aplicação do entendimento da Suprema Corte.
6 . Agravo regimental desprovido, ratificados os termos da
decisão de e-STJ fls. 116/122. AgRg no HC 805493 / SC
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS
2023/0062734-9. Rel.: Ministro ANTONIO SALDANHA
PALHEIRO. T6 - SEXTA TURMA. DJe 23/06/2023
Padrão de resposta:
Espelho de correção:
Total: Aluno:
Total 100
Futuros residentes,
O tema acesso à saúde é muito sensível à atuação da Defensoria Pública que
possui como missão institucional e constitucional a defesa dos direitos
fundamentais dos vulneráveis. Em especial sobre a temática do autismo a
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro tem atuação institucional
específica na proteção das pessoas deficientes. A DPE-RJ conta com o Núcleo
de Atendimento à Pessoa com Deficiência (NUPED).
A nossa questão teve como inspiração recente entendimento firmado pelo STJ
que é de fundamental importância você como candidato conhecer.
PADRÃO DE RESPOSTA
A questão aborda o conflito entre dois direitos fundamentais, quais sejam, o
direito à liberdade de consciência/pensamento de um lado e, do outro, o direito
à vida (ambos constantes do art. 5º, CRFB/88). A não vacinação como reflexo
da liberdade de crença (art. 5º, incisos IV, VIII, CF/88) se contrapõe ao direito à
vida, ambos corolários da Dignidade da Pessoa Humana. Há quem defenda,
todavia, que o direito à vida possuiria um status de sobre direito, motivo pelo
qual dever-se-ia proteger a vida a qualquer custo. Essa máxima, ressalte-se
não é absoluta, muito embora tenha o STF decidido que, no caso da negativa à
vacinação, a vida deveria ser o bem jurídico tutelado em detrimento da
liberdade de opinião/crença/consciência. É dizer, trata-se de aparente
antinomia, resolvida pelo STF a partir da prevalência do Direito à Vida,
legitimando a vacinação compulsória (ou obrigatória). No caso, não seria
possível forçar diretamente os pais da criança a se vacinarem, por consistir em
prática alcunhada de “vacinação forçada”, contrária aos postulados
democráticos. É, contudo, legítimo que se imponham restrições ao direito de ir
e vir, notadamente pelo fato de a propagação do vírus ser maior em locais
fechados, sendo proporcionais – nos filtros de adequação necessidade e
proporcionalidade – medidas como o passaporte de vacinação, como forma de
induzir a um comportamento sanitário adequado por parte dos cidadãos.
Nestes termos, decidiu o STF ser constitucional a obrigatoriedade de
imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de vigilância sanitária,
tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações ou tenha sua
aplicação obrigatória determinada em lei. Por outro lado, no tocante à criança,
62
a negativa de vacinação transgrediu os artigos 7º, 14 e 249 do ECA, bem como
os artigos 6º (direito à saúde) e 227, da CRF/88. Por esses fundamentos, os
pais poderiam, inclusive, responder pelo ato com o pagamento de multa e, até
mesmo, perder o poder familiar.
ESPELHO
COMENTÁRIOS
Vejamos o texto:
O CONGRESSO NACIONAL decreta: Art. 1º O caput do
art. 12 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa
a vigorar acrescido do seguinte inciso XII:
“Art. 12. ...............................
...................................................
XII – estabelecer, nos termos do § 1º do art. 14 da Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990, no ato da matrícula na
educação infantil ou no de sua renovação, prazo
condizente com a realidade local para que os pais ou
responsáveis apresentem Caderneta de Saúde da Criança
atualizada, ou documento equivalente, orientá-los para sua
obtenção e notificar o Conselho Tutelar do Município do
não cumprimento do prazo.”(NR)
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
CÂMARA DOS DEPUTADOS, de setembro de 2019.
RODRIGO MAIA
Presidente
Por fim, vale rememorar que o poder familiar está disciplinado nos arts. 1.630 a
1.638 do Código Civil de 2002 (CC), legislação que, todavia, não define o
instituto, visto que o citado art. 1.630 limita-se a determinar que "os filhos estão
sujeitos ao poder familiar, enquanto menores". Ainda, vale dizer que a ação
para a perda do poder familiar é de titularidade do Ministério Público.
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Desejamos sorte neste seu objetivo e que este material possa continuar te
ajudar a alcançar a função de Residente Jurídico da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro!
Coordenação da turma
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EX-RESIDENTE J URÍDICA DA DPE-RJ
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2
TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARAA PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA – RODADA V
ESPELHO
Padrão de Resposta
Tal alegação tem sede em no crime não recepcionado de adultério, que advém
de cultura patriarcal, o que não coaduna com a atual Constituição que prega
dignidade da pessoa humana, dos direitos à vida e à igualdade entre homens e
mulheres (art. 1º, inciso III , e art. 5º, caput e inciso I, da CF/88)
ESPELHO
ESPELHO DE CORREÇÃO TOTAL ALUNO
Excludente de ilicitude 25
honra
COMENTÁRIOS
A tese costuma ser usada pela defesa de réus que respondem por
crimes de natureza passional, onde a culpa do delito passa a ser o
comportamento da vítima. A tese é usada principalmente em casos de
feminicídio e agressões contra mulheres.
O que a Suprema Corte realizou, no bojo da ADPF 779 , não foi mitigar o
Júri ou suas prerrogativas. Todas as garantias, sobretudo a plenitude de defesa
e soberania dos vereditos continuam com a mesma eficácia, sem perder
nenhuma atribuição. Por outro lado, o que houve foi uma ratificação da posição
do Sistema Processual Penal brasileiro como instrumento século XXI, que não
admitirá posições ultrapassadas sob nenhuma justificativa.
7
Desse modo, é necessário encarar a decisão do STF não como qualquer
limítrofe imposto à atuação do advogado ou um cerceamento da plenitude de
defesa; mas sim como a verdadeira consagração do direito como um reflexo
social. Se a práxis da ciência jurídica se faz por meio da argumentação e essa
diz sobre quem somos como sociedade e principalmente juristas, é preciso
adequá-las, mesmo através de um instrumento impositivo, a concepção de
justiça social atual.
imóvel. João vem arcando sozinho com os custos do imóvel e, por isso,
procurou a defensoria para tutelar seus interesses.
PADRÃO DE RESPOSTA
Assiste razão a João. Isso porque, conforme já decidido pelo STJ no REsp
1.361.226-MG (info. 630), é possível o reconhecimento da usucapião de bem
imóvel com a implementação do requisito temporal no curso da demanda,
estando, portanto, incorreta a alegação de defesa no item ‘i’. As ações
possessórias são de natureza dúplice porque, a um só tempo, é permitido que
o réu se defenda e postule pretensão autônoma no bojo da contestação,
independentemente de posterior ação. Foi o que fez José, muito embora no
caso em tela, não lhe assista razão. A usucapião especial urbana é espécie do
gênero usucapião, que por sua vez trata de forma de aquisição originária de
propriedade a partir do pacífico exercício de um direito sobre um bem imóvel
após determinado lapso temporal. Assim, correto dizer que a sentença em uma
ação de usucapião é apenas declaratória, porquanto os requisitos constitutivos
da relação jurídica entre o possuidor e o bem já cuidam de constituir sua
14
condição de proprietário originário. Por esse motivo, justamente, decidiu o STJ
que caso o prazo de 5 anos para a usucapião especial urbana tenha sido
completado no curso da ação, não há que se falar em improcedência do
pedido, haja vista ter sido o requisito devidamente atendido. Por fim, quanto ao
item ‘ii’, também não está adequado o argumento defensivo de José, visto que
também aquela Corte Superior decidiu que a qualidade de coproprietário não
possui o condão de afastar o reconhecimento da aquisição originária, por meio
de uma interpretação finalística do instituto.
ESPELHO
A resposta da questão de hoje passou pelo STJ nos últimos anos, sendo objeto
15
dos informativos nº 630/2018 e 753/2022.
Vamos, então, aos comentários sobre a questão, para que vocês não errem
caso caia no certame.
Nestes termos, se induz a crer que João faria jus ao reconhecimento da posse
ad usucapionem, que se transmutaria, após o período de 5 anos, em
propriedade.
Nesse sentido, a sentença proferida no processo de usucapião possui natureza
meramente declaratória (e não constitutiva), pois apenas reconhece, com
oponibilidade erga omnes, um direito já existente com a posse ad
usucapionem, exalando, por isso mesmo, efeitos ex tunc.
Assim, a sentença oriunda do processo de usucapião é tão somente título para
registro e não título constitutivo do direito do usucapiente, buscando este, com
16
a demanda, atribuir segurança jurídica e efeitos de coisa julgada com a
declaração formal de sua condição.
O que restaria definir, no caso, é se o lapso temporal entre o ajuizamento da
ação e a decisão do juiz teria o condão de ser computada para o
preenchimento dos requisitos legais da usucapião especial urbana. Isso
porque, seria preciso o preenchimento de 5 anos de posse ad usucapionem,
requisito este faltante quando do ajuizamento.
Por esse motivo, a defesa de José se ateve ao período em que proposta a
ação, com vistas a buscar a improcedência do pedido de João, por ausência de
requisitos essenciais do direito pleiteado. Não obstante, não foi esse o
entendimento que se sagrou vencedor na doutrina, decidindo o STJ que não
haveria óbice para o reconhecimento da usucapião quando o período se
complete no curso da ação. Se não, vejamos:
Assim, para o autor, a ação de usucapião tem natureza declaratória e por isso,
ainda que se considerasse o prazo estabelecido no Código Civil de 1916, nada
impediria que a propriedade pela usucapião fosse declarada quando o prazo de
20 anos se completasse durante o curso do processo, como ocorreu no caso.
Foi a tese encampada pelo STJ.
Economia processual
Contestação
Villas Bôas Cueva também destacou que a citação feita ao
proprietário do imóvel não é suficiente para interromper o
prazo da prescrição aquisitiva, a não ser na situação “em
que o proprietário do imóvel usucapiendo conseguisse
19
reaver a posse”.
Pelo exposto, conclui-se que a pretensão ‘ii’ de José também deve ser
afastada.
Esses seriam, portanto, os dois pontos de enfoque da Defensoria no bojo da
réplica em questão.
• Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de
boa-fé.
• Não importa o tamanho do imóvel.
d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem
imóvel (urbano ou rural).
e) Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de
boa-fé.
Observações:
• O possuidor pode, para o fim de contar o prazo de 5 anos, acrescentar sua
posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
• A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz,
mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro
de imóveis.
• Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor,
independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo
hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais
diferenciadas.
• O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de
extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos
condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do
condomínio.
• As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão
tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também
os demais, discordantes ou ausentes.
PADRÃO DE RESPOSTA
Trata-se de caso grave de vazamento de dados, cuja aplicação da multa
deverá adotar como parâmetro o direito de privacidade e intimidade violados,
verdadeiras cláusulas pétreas trazidas no art. 5º, CF/88. O caso também
envolve o Direito Fundamental à privacidade e proteção de dados (art.5º, XII
CRFB). Acerca de eventual imputação de multa, a questão hoje encontra-se
pacificada, tendo em vista a recente publicação da Resolução ANPD nº
04/2023, em cujo texto constam expressamente as hipóteses para a fixação de
multa, sua forma de cálculo e dosimetria da penalidade. Vale mencionar que
esse procedimento de responsabilização encontrava óbice na ausência de
regulamentação, o que causava, na prática, certa impunidade para aqueles
responsáveis pelo vazamento. Hoje, conforme o artigo 8º, §3º, ‘d’, do
regulamento supramencionado, a conduta é punível por se tratar de infração
grave, portanto, a resposta para o item ‘i’ é positiva, graças à recente
regulamentação. No passado, as hipóteses de responsabilização cingiam-se,
em sua grande maioria, ao ajuizamento de ações de responsabilidade civil por
danos (o que, cumulativamente à infração devida, ainda pode ser feito). Acerca
do ponto, e respondendo ao perguntado no item ‘ii’, o caso chegou ao STJ
recentemente (AREsp n. 2.130.619/SP), tendo a corte decidido não ser o
vazamento de dados pessoais, por si só, evento responsável por atrair a
sistemática da responsabilização civil por dano moral, cabendo ao autor da
ação comprovar efetivo prejuízo decorrente das informações vazadas. No caso
sob análise, o melhor entendimento deve ser aquele apto a atrair a
responsabilização, tendo o enunciado destacado a espécie de dado objeto do
vazamento (dado sensível), bem como o constrangimento sofrido.
ESPELHO:
Aspectos microestruturais (adequação ao – 0,0 a 10,00
número de linhas, coesão, coerência, ortografia, pontos
I
morfossintaxe e propriedade vocabular);
Dizer que os artigos imputando infrações estavam
II pendentes de regulamentação e, por isso, a multa - 0,0 a 30
respectiva não poderia ser aplicada, situação que pontos
se resolveu com a resolução da ANPD nº
27
04/2023.
COMENTÁRIOS:
Em primeiro lugar, vejam que nossa questão está no ponto 2, dentro da
disciplina “consumidor e proteção de dados pessoais”:
‘2. Proteção de dados pessoais. Lei 13.709/2018. Princípios e fundamentos.
Dados pessoais sensíveis. Dados pessoais de crianças e adolescentes. LGPD
no setor público. Lei de acesso à informação.’
Passemos às informações da temática:
(i) advertência;
(ii) multa simples, de até 2% do faturamento da pessoa jurídica,
grupo ou conglomerado no Brasil no seu último exercício, excluídos
os tributos, limitada, no total, a R$ 50.000.000,00 por infração;
(iii) multa diária, observado o limite total acima;
(iv) publicização da infração;
(v) bloqueio dos dados pessoais a que se refere a infração até a sua
regularização;
(vi) eliminação dos dados pessoais a que se refere a infração;
(vii) suspensão parcial do funcionamento do banco de dados a que
se refere a infração, por até 6 meses, prorrogáveis por igual período,
até a regularização da infração;
(viii) suspensão do exercício da atividade de tratamento dos dados
pessoais a que se refere a infração por até 6 meses, prorrogáveis
por igual período; e
(ix) proibição parcial ou total do exercício de atividades relacionadas
a tratamento de dados.
As sanções (vii) a (ix) somente podem ser aplicadas após a imposição de uma
das sanções descritas nos itens (ii) a (vi) para o mesmo caso. As sanções são
engatilhadas sempre que há qualquer descumprimento de qualquer obrigação
estabelecida pela LGPD.
1) O Regulamento se aplica aos processos administrativos em curso;
● Graves:
Quando a infração constituir obstrução à atividade de fiscalização ou quando
uma infração média for verificada juntamente à alguma das seguintes
hipóteses:
35
8. Pagamento
Como regra geral, a multa simples como a diária devem ser pagas em até 20
dias úteis4. A multa simples será contada da ciência oficial da decisão que a
aplicou. A multa diária, por sua vez, deverá ser contada a partir da ciência
oficial da decisão que tenha apurado o respectivo montante devido.
Caso o infrator não pague a multa dentro desse prazo, correrão juros de mora
pela Selic, acrescidos de 1% no mês do pagamento, além de multa moratória
de 0,33% por dia de atraso, até o limite de 20%.
Caso o infrator não efetue o pagamento dentro dos prazos descritos acima,
também perderá a redução de 25% no valor da multa, que eventualmente
tenha garantido por renunciar ao direito de recorrer da decisão de primeira
instância.
Diante da entrada em vigor do Regulamento de Dosimetria, fica claro que a
conformidade com a LGPD e com a regulação da ANPD, além de ser uma
questão de boa prática e ética empresarial, é uma necessidade legal para
qualquer entidade que queira realizar negócios com dados pessoais.
40
III - Sobre o dever de indenizar pelo vazamento de dados e cabimento de
danos morais, à luz do Código Civil:
Como antecipado no espelho de resposta, a resposta do item ‘ii’ foi objeto de
recente análise pelo STJ. Restou decidido que para se caracterizar dano moral
a ensejar reparação civil pelo art. 927, CC/02, o fato deve gerar grave ofensa à
honra, à dignidade ou a atributo da personalidade da pessoa, de modo que o
simples fato de ter ocorrido o vazamento de dados pessoais não enseja o
pagamento de indenização considerando que não houve prova do dano moral
sofrido. Portanto, de acordo com a corte, apesar de ser uma falha indesejável
da empresa no tratamento de informações pessoais de terceiros, o vazamento
de dados não tem a capacidade, por si só, de gerar dano moral indenizável. Ou
seja, não é um dano in re ipsa, devendo haver a comprovação in concreto, pela
parte supostamente lesada, de que o vazamento lhe causou prejuízos.
MUITA ATENÇÃO: Muito embora tenha o STJ assim se posicionado, essa
argumentação não pode servir de resposta ao caso em tela. Estamos,
justamente, diante de exceção, haja vista o envolvimento de dados sensíveis
capazes de gerar mácula à honra dignidade e à personalidade de Maria. Os
dados a respeito de seu procedimento de mudança de sexo dizem respeito à
intimidade da pessoa natural, e o vazamento implicou em práticas abusivas e
invasivas de empresas que, munidas dessa informação, passaram a lhe
oferecer serviços. Neste caso, então, poderíamos falar em dano moral
presumido.
O art. 5º, II, da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), Lei nº 13.709/2018,
prevê que determinados dados pessoais devem ser qualificados como
“sensíveis”, exigindo exigir um tratamento diferenciado por parte de quem
armazena essas informações.
Portanto, não confundam: o vazamento de dados pessoais não gera dano
moral presumido, já o vazamento de dados pessoais sensíveis é prejudicial in
re ipsa, apto a ensejar dano moral presumido.
Trata o tópico ‘ii’ de tese fixada pela 2ª Turma do STJ no AREsp 2.130.619-SP,
de Relatoria do Min. Francisco Falcão, julgado em 7/3/2023 (Informativo 766).
(Juiz Federal TRF4) Os dados pessoais sensíveis apenas poderão ser tratados
com o consentimento do titular.
Resposta: Errado.
https://www.conjur.com.br/2023-jul-06/anpd-aplica-primeira-sancao-
violacao-
lgpd#:~:text=As%20san%C3%A7%C3%B5es%20previstas%20na%20lei,e
%20o%20bloqueio%20dos%20dados.
https://www.gov.br/anpd/pt-br/assuntos/noticias/anpd-publica-
regulamento-de-dosimetria
QUESTÃO 04 Maria, de 11 anos, é estuprada por seu tio e, a partir do ato,
engravida do mesmo. Transcorrido certo tempo, a professora do colégio de
Maria repara que sua barriga está um pouco maior, e que todo o seu corpo
estaria, de certa forma, mudando. A professora, então, chamou uma
43
assistente social, que entrou em contato com o tio de Maria para levá-la ao
hospital e averiguar uma possível gravidez na menina. O tio, desde então, está
desaparecido, tendo deixado a menor sozinha. O caso foi levado a
conhecimento público devido a sua natureza e ao tamanho da cidade, tendo a
menina relatado às autoridades que havia engravidado do próprio tio, foragido.
Os pais da menina já eram falecidos, seu tio era o único parente vivo e,
portanto, seu curador legal.
Diante do cenário, a menina foi direcionada a curador nos moldes do art. 72 do
CPC/15, que ingressou judicialmente com pedido de interrupção legal da
gravidez diante do estupro e da idade da menor. Não obstante, um grupo
conservador da cidade interveio no processo, tendo alegado que o aborto
seria impossível, haja vista os direitos do feto. Ato contínuo, enviaram ofício à
Defensoria Pública para que a instituição intervenha no processo em prol da
tutela do feto, como seu curador especial e em defesa da vida na ação judicial
em comento.
A par da situação acima exposta, comente se cabe a intervenção da
Defensoria Pública no caso e quais os interesses em jogo.
PADRÃO DE RESPOSTA:
A questão coloca sob foco o aparente choque entre dois direitos fundamentais,
quais sejam, a vida a ser expectada pelo feto e a vida e a integridade física da
criança gestante. Também são violados diversos direitos da criança e
adolescente previstos, sobretudo, nos arts. 1º a 3º do ECA. Descabe a figura
do curador para feto, não só pela ausência do devido respaldo legal, como
também pelo fato de que a nomeação da curadoria poderia trazer morosidade
excessiva ao deslinde dos processos de aborto por mulheres e meninas
estupradas. Sob o aspecto civilista, conforme a teoria adotada pelo código civil,
apenas o nascido com vida teria condão de ser titular de direitos da
personalidade, sem os quais não há que se falar em direito a ser curatelado.
Ademais, o direito de aborto conferido à mulher vítima de abuso sexual
encontra, este sim, previsão legal. Não se ignora que a convenção
interamericana de Direitos Humanos garanta o direito à vida desde a
concepção (art. 4.1), trazendo previsão mais protecionista que aquela prevista
pela codificação civil, todavia, há que se lembrar que a proteção ao feto só se
realiza através da proteção da mulher e dos seus desejos. É dizer, em um
conflito entre os interesses de vida do feto e da gestante, deverão prevalecer
os dessa última, posto que é detentora de direitos da personalidade e possui o
status de pessoa humana para todos os fins.
Não bastassem essas justificativas, a nomeação de curador especial também
não está prevista no permissivo legal autorizador do aborto (artigo 128 do
Código Penal) que exige, para a sua realização, apenas o consentimento da
gestante ou de seu representante legal. Assim, não há que se falar em
curadoria do feto, seja em razão do código civil adotar a teoria natalista,
segundo a qual os direitos da personalidade são conferidos aquele que nasça 44
com vida, seja porque a teoria concepcionista encampada pelo STJ não tem o
condão de, por si só, rechaçar o direito da gestante. Por essas razões,
descabida é a pretensão do grupo conservador, sendo viável e legítimo de
pleno direito o procedimento em que se busca o aborto de criança estuprada
por familiar. Esse permissivo se reforça, por exemplo, pela leitura do art. 8º do
ECA, que ao conferir às mulheres acesso a políticas públicas de saúde
reprodutiva nada menciona sobre os direitos do feto.
ESPELHO:
Aspectos microestruturais (adequação ao – 0,0 a 10,00
número de linhas, coesão, coerência, ortografia, pontos
I
morfossintaxe e propriedade vocabular);
Por outro lado, segundo o Código Civil de 2002, o termo inicial dos direitos da
personalidade é o nascimento com vida. Ao contrário de outros ordenamentos
jurídicos, o brasileiro considera que qualquer ser humano, sem distinção, tem
total possibilidade de ser sujeito de direitos e obrigações.
Neste sentido, o artigo 1º do Código Civil anuncia que “toda pessoa é capaz
de direitos e deveres na ordem civil”. Aqui, verifica-se a capacidade de
direito, que não se confunde com a capacidade de exercício ou de fato, que
depende do preenchimento de requisitos legais, para que seja possível exercer
plena e pessoalmente os atos da vida civil.
Todavia, o mesmo artigo 2º informa que a lei põe a salvo, desde a concepção
os direitos do nascituro (concebido, mas ainda não nascido).
47
Ainda que se adote a teoria natalista, deve-se ter em mente, contudo, que o art.
2 º reconhece que a lei porá a salvo os direitos do nascituro.
1
World Health Organization (WHO). Abortion care guideline. Geneva: WHO, 2022.License: CC BY-CC-SA
3.0 IGO. DIsponível em: https://srhr.org/abortioncare/ . Acesso em 02 ago. 2023
e buscando superar as barreiras que impedem o acesso ao procedimento
seguro e de qualidade, que incluem justificativas de negativas baseadas no
limite a idade gestacional.
gestantes que forem meninas e /ou adolescentes devem ser tratadas como
sujeitas de direito, devendo ser respeitadas em suas vontades autônomas
manifestadas pelo consentimento livre e informado quanto à interrupção ou
manutenção da gestação. Ou seja, não pode sua vontade ser submetida a
eventual direito do feto a expectativa de nascimento com vida, tal como
defende a teoria condicionalista, ou tampouco deverá ser assegurado o direito
desse feto, no caso de aborto, desde a concepção (nidação), conforme
preceitua a teoria concepcionista.
O artigo conclui afirmando que feto, de forma autônoma, não pode ser titular de
direitos, já que estes são conferidos apenas a pessoas já nascidas. A
personalidade civil somente será adquirida a partir do nascimento com vida 54
Ora, o próprio ECA, em seu art. 142, parágrafo único, estabelece que somente
à criança e à/ao adolescente deve ser nomeado curador especial, em caso de
conflito de interesses com genitoras/genitores.
SUGESTÕES DE LEITURA:
2) https://www.conjur.com.br/2023-fev-13/opiniao-impossibilidade-
defensoria-curadora-feto
3) https://www.migalhas.com.br/quentes/381491/defensorias-emitem-nota-
tecnica-contra-nomeacao-de-curador-para-feto
55
PADRÃO DE RESPOSTA
b) Ainda que não tipificado como crime, a conduta é reconhecida pela OMS
e por órgãos de saúde, assim sendo as ocorrências dizem respeito a
Responsabilidade civil do Estado pelos danos causados por seus
agentes (equipe médica do hospital) a terceiros é, em regra, objetiva
(art. 37, §6º da CF), observando-se a teoria do risco administrativo,
segundo a qual não se perquire a culpa, mas sim o nexo de causalidade
entre o serviço público oferecido e o dano sofrido pelo administrado,
devendo ser verificada a ocorrência dos seguintes elementos: i) o ato
ilícito praticado pelo agente público; ii) o dano específico ao
administrado; e iii) o nexo de causalidade entre a conduta e o dano
sofrido. No caso de suposto dano cometido pela rede de saúde pública,
a responsabilidade estatal é subjetiva, fundada na teoria da "falta do
serviço", sendo imprescindível a comprovação da conduta imprudente,
negligente ou imperita do profissional.
ESPELHO
ESPELHO DE CORREÇÃO TOTAL ALUNO
COMENTÁRIOS
Da não positivação
Apesar do Brasil não ter recepcionado nenhuma lei específica que trate a
violência obstétrica no seu ordenamento jurídico como conduta criminosa, há
uma política brasileira de combate à violência, como no ano de 2000 foi
instituído pelo Ministério da Saúde uma portaria de número 569,
estabelecendo um programa de humanização no Pré-natal e Nascimento,
criação da Lei 11.108/2005, que dá o direito às parturientes a ter um
acompanhante durante o parto e pós parto nos hospitais do SUS, criação da
Rede Cegonha em 2011 pelo Governo Federal com objetivo de humanização e
criação de casas de parto normal, e a produção de documentários, como
“Renascimento do parto”(NETFLIX), todos com o objetivo de dar visibilidade à
causa.
62
Sobre a violência de gênero, Flávia Piovesan explica: “A violência baseada
no gênero ocorre quando um ato é dirigido contra uma mulher, porque é
mulher, ou quando atos afetam as mulheres de forma desproporcional. A
Declaração da ONU sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher e a
Convenção de “Belém do Pará” afirmam que a violência baseada no gênero
reflete relações de poder historicamente desiguais e assimétricas entre
homens e mulheres”.
Muito embora sua não positivação, enseja a reparação de dano moral pelo
agente causador do dano à mulher. Segundo Maria Helena Diniz, o
fundamento primário da reparação está no erro de conduta do agente, se o
agente procede em termos contrários ao direito, há um primeiro impulso, no
rumo do estabelecimento do dever de reparar. Há também o dano material e
estético, onde o Hospital e o Agente de saúde devem reparar à mulher que
impossibilitada de trabalhar fique mediante os atos violentos, e ainda, os
gastos com despesas médicas advindas de tratamento de possíveis
lacerações, cicatrizes, cuidados especiais e até tratamentos psicológicos de
possíveis traumas.
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO
COMENTÁRIOS
Legitimidade da Defensoria Pública
Efeitos recursais
Padrão de resposta
ESPELHO DE CORREÇÃO
89
Total: Aluno:
I Estrutura, domínio linguístico e utilização dos termos - 20
II A Convenção 169 é vinculante (hard law) 20
III A Convenção 169 da OIT adota o critério da 20
autoidentificação
IV A CIDH reconheceu a relação imemorial das 20
comunidades indígenas e seus territórios
V Sim! Por previsão na Convenção 169 20
Total 100
COMENTÁRIOS
A Convenção 169 da OIT trata dos direitos dos povos indígena e tribais foi
aprovada em Genebra em 27 de junho de 1989. E entrou em vigor
internacional em 5 de setembro de 1991. Em âmbito interno a Convenção 169
da OIT foi aprovada pelo Congresso Nacional em 2002. E incorporada pelo
Decreto 10.088/2019.
91
Artigo 6º
W W W .P O R T A L E S T U D A N D O D IR E I T O . C O M . B R
@ C U R S O P E D
1
W W W .P O R T A L E S T U D A N D O D IR E I T O . C O M . B R
@ C U R S O P E D
Desejamos sorte neste seu objetivo e que este material possa continuar te
ajudar a alcançar a função de Residente Jurídico da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro!
Coordenação da turma
PRISCI LA COT TA
ANALISTA PROCESSU AL DA DPE-RJ
EX-RESIDENTE J URÍDICA DA DPE-RJ
RAONI ARAUJ O
COORDENADOR ACADÊMICO DO PED
MESTRE PELA FND/UFRJ
2
TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARAA PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA – RODADA VI
ESPELHO
1
QUESTÃO 01 Em 2022, um grupo de integrantes do Partido Comunista X
realizou manifestações em prol do movimento sem terra no estado do Mato
Grosso do Sul. Ocorre que, durante uma manifestação, o grupo foi
interrompido por agentes policiais, que os levaram para um lugar afastado e ali
lhe aplicaram diversos golpes com armas e outros objetos. Os integrantes do
grupo não resistiram aos ataques, e, seus corpos não foram mais encontrados.
O caso chegou à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Discorra acerca do caso narrado, apontando:
a) No que consiste o desaparecimento forçado;
b) Caso o Brasil venha a editar lei concedendo anistia aos policiais do
seguinte caso, essa será válida de acordo com o entendimento da
Corte IDH?
PADRÃO DE RESPOSTA
COMENTÁRIOS
SISTEMA INTERAMERICANO
O Brasil faz parte desse sistema desde o seu advento (1948), bem como é parte
da Convenção Americana desde 1992 (vide melhor adiante).
Assim, o defensor público utilizará em seu cotidiano as normas interamericanas
de direitos humanos aceitas pelo Brasil, bem como as decisões proferidas por
esse sistema, sobretudo as decisões envolvendo o Brasil. Não procede a ideia
de que os direitos humanos são para poucos, afinal, as normas protetivas
interamericanas de direitos humanos também são parte de todo ordenamento
jurídico brasileiro.
De modo geral, o sistema interamericano pode ser definido como o “conjunto de
órgãos, entidades e mecanismos de variados propósitos e estruturas, assim
3
como de tratados e outros instrumentos que regulam uma infinidade de matérias
a nível regional” (F.V. García Amador apud TRINDADE, Antônio Augusto
Cançado, 2012, p. 320).
Tal sistema é ilustrado sobretudo pela ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS
AMERICANOS, denominada comumente pela sua sigla: OEA.
Visite o site da OEA: http://www.oas.org/pt/.
Atualmente, essa organização internacional, de caráter intergovernamental
(portanto, detentora de personalidade jurídica de Direito Internacional), se
localiza em Washington – Estados Unidos. Saliente-se que o sistema
interamericano não cuida tão somente de matéria de direitos humanos, mas
também analisa temas ligados à DEMOCRACIA, SEGURANÇA E
DESENVOLVIMENTO. Por certo, esses quatro pilares “conversam” entre si,
sendo que um assunto envolvendo direitos humanos pode, também, dizer
respeito à democracia, por exemplo. Juridicamente, envolvendo a temática de
direitos humanos, são documentos básicos: - A Carta da OEA, aprovada em
1948, com vigência em 1951 e posteriormente reformada pelo Protocolo de
Buenos Aires (1967), pelo Protocolo de Washington (1992) e pelo Protocolo de
Managuá (1993).
- Convenção Americana sobre Direitos Humanos (=Pacto de San José da Costa
Rica), conhecida como o “tratado regente de todo o sistema interamericano dos
direitos humanos”, que surge oficialmente em 1969 e entra em vigor em 1978.
→O Brasil é parte da Convenção Americana desde 25 de setembro de 1992,
sendo que tal documento internacional promulgado no país por meio do Decreto
nº 678 de 06 de novembro de 1992.
- Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos (= Protocolo
de San Salvador), que cuida dos direitos sociais, econômicos e culturais. Surge
em 1988, mas só entra em vigor em 1999.
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS - ESTRUTURA:
PARTE I – DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS PROTEGIDOS →Art. 1º a
art. 32. → Destaque para:
*Artigos 1º e 2º (obrigação de respeitar os direitos e dever de adotar as 4
No Caso Gomes Lund vs Brasil uma das exceções preliminares alegadas pelo
Brasil foi a incompetência da Corte IDH para apreciar o caso, considerando que
os fatos ocorreram após o Brasil reconhecer a competência contenciosa da
Corte (que foi em 10/12/1998), mais de 20 anos após os acontecimentos dos
fatos na região do Araguaia.
Então, em tese, como os fatos se deram ANTES do reconhecimento da função
contenciosa (jurisdicional) da Corte pelo Brasil, eles não poderiam ser julgados
pela Corte Interamericana? A resposta da Corte foi negativa.
Recentemente, em março de 2021, o STJ aprovou a Súmula 647, no sentido
de que são imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e
materiais decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos
fundamentais ocorridos durante o regime militar:
Uma das determinações da Corte IDH no Caso Gomes Lund vs Brasil foi a
instituição da denominada Comissão Nacional da Verdade.
PADRÃO DE RESPOSTA
COMENTÁRIOS
Hoje, o direito à moradia está previsto expressamente como direito social no art.
6º da CF/88. Porém, ele não está lá desde 1988.
Após tal fato, a menor é encontrada morta no lar de seu genitor que fora
preso em flagrante. Na Delegacia o autor do fato disse que “queria dar um
fim na filha para não ser julgado pela agressão sexual que cometeu contra
ela”.
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO
COMENTÁRIOS
Conselho Tutelar
A Lei trouxe mais autonomia ao Conselho Tutelar, em seu art. 14, no qual
o Conselho Tutelar pode representar às autoridade e requerer imediato
afastamento do agressor, do lar ou convivência, além de outras medidas:
XIII - adotar, na esfera de sua
competência, ações articuladas e efetivas
direcionadas à identificação da agressão, à
agilidade no atendimento da criança e do
adolescente vítima de violência doméstica e
familiar e à responsabilização do agressor;
(Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)
Por outro lado, a Lei Maria da Penha traz dispositivo que indica que "enquanto
não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para
conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e
familiar contra a mulher" (artigo 33 da LMP, sem grifo no original). Esse mesmo
artigo serve como bússola para a definição da competência judicial para
apreciação das medidas protetivas da Lei Henry Borel, isto é, até a criação das
varas especializadas em crimes contra a criança e o adolescente, as varas
24
criminais comuns acumularão, portanto, a competência para apreciar medidas
de natureza cível e criminal.
Assentada a competência da vara criminal para apreciação das medidas
protetivas de urgência da Lei Henry Borel quando o agressor for imputável,
pelas mesmas razões, as varas da infância e juventude serão competentes tão
somente quando o autor da violência for menor de 18 anos, tal como já ocorre
nas medidas protetivas de urgência da lei Maria da Penha. Sobre as medidas
protetivas de urgência da Lei Maria da Penha, o Fórum da Justiça Juvenil
possui enunciado: Enunciado 31: Sendo o adolescente o autor da violência, o
Juízo da Infância e Juventude é competente para analisar o pedido de medidas
protetivas previstas na Lei n.º 11.340/06 (Lei Maria da Penha).
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, em embargos
de divergência julgados no dia 26/10/2022, que, nas comarcas em que não
houver vara especializada em crimes contra criança e adolescente, prevista no
artigo 23 da Lei nº 13.431/2017, os casos de estupro com vítimas menor,
cometidos no ambiente doméstico e familiar, deverão ser processados e
julgados nas varas especializadas em violência doméstica e, somente na
ausência destas, nas varas criminais comuns. A competência para apreciar as
medidas protetivas de urgência da Lei Henry Borel, por excelência, será da
Vara Especializada em Crimes contra a Criança e o Adolescente e, na sua
falta, da Vara Criminal Comum, ressalvados os casos em que haja violência
doméstica contra meninas em razão do gênero feminino e, nos casos de
estupro com vítimas menor, cometidos no ambiente doméstico e familiar, os
quais deverão ser processados e julgados nas varas especializadas em
violência doméstica.
QUESTÃO 04 Uma comunidade indígena brasileira vem sofrendo diversas
violações em seu território, com invasões em sua terra, impedimentos de
realização de seus rituais sagrados e ridicularização de sua cultura. A
comunidade sofreu invasões e tomada de parte de seu território por parte de
fazendeiros locais e, ao suscitar ajuda aos entes federativos, estes nada
fizeram em seu favor. 25
PADRÃO DE RESPOSTA
O reconhecimento das terras indígenas está diretamente relacionado com a
condição de indígena, consoante disposto nos artigos 231 e 232 da
Constituição Federal. Referida condição se estabelece por meio de
comunidades culturais e não se funda no fator biológico, que está atualmente
superado.
As previsões constitucionais acerca dos direitos dos indígenas, em
especial a superação da concepção integracionista e de assimilação
natural, adotadas pelo Estatuto do Índio, são elogiados pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos. Critica-se, porém, o fato de que as
áreas indígenas no Brasil são bens da União e não das comunidades
indígenas.
Assim, a incapacidade do Brasil em assegurar a propriedade e a posse
pacíficas da terra indígena constitui violação ao artigo 21, em conexão com os
artigos 1.1 e 2, todos da Convenção Americana, a partir da ratificação pelo
Brasil, que se deu em 25.09.1992.
Em virtude da insegurança e da violência sofridas pelos índios, decorrentes da
falta de reconhecimento oportuno, da falta de proteção eficaz e a ineficácia da
desintrusão, considera-se violado também o disposto no artigo 5.1 da
Convenção Americana e nos arts. 231 e 232 da CRFB.
Seriam possíveis as seguintes recomendações para o Estado brasileiro: a)
adotar as medidas, inclusive administrativas e legislativas, para realizar a
desintrusão efetiva do território do Povo Indígena, permitindo que os membros
do povo indígena possam viver de forma pacífica o seu modo de vida
tradicional; b) reparar no âmbito individual e coletivo as consequências da
violação dos direitos dos indígenas, especialmente os danos provocados pela
demora no reconhecimento, demarcação e delimitação das terras, bem como a
falta de desintrusão do território ancestral; c) adotar as medidas necessárias
para evitar que no futuro ocorram fatos similares, em especial adotando um
recurso simples, rápido e efetivo que tutele o direitos dos povos indígenas
do Brasil.
ESPELHO
26
TOTAL: ALUNO:
COMENTÁRIOS
PADRÃO DE RESPOSTA
Conforme entendimento do STF, os três entes federativos possuem
responsabilidade (União, Estados/DF e Municípios).
O STF firmou entendimento de que a atuação do Poder Judiciário seja regida
pelos seguintes parâmetros: (i) nas demandas judiciais envolvendo
medicamentos ou tratamentos padronizados: a composição do polo passivo
deve observar a repartição de responsabilidades estruturada no Sistema Único
de Saúde, ainda que isso implique deslocamento de competência, cabendo ao
magistrado verificar a correta formação da relação processual, sem prejuízo da
concessão de provimento de natureza cautelar ainda que antes do
deslocamento de competência, se o caso assim exigir; (ii) nas demandas
judiciais relativas a medicamentos não incorporados: devem ser processadas e
julgadas pelo Juízo, estadual ou federal, ao qual foram direcionadas pelo
cidadão, sendo vedada, até o julgamento definitivo do Tema 1234 da
Repercussão Geral, a declinação da competência ou determinação de inclusão
da União no polo passivo; (iii) diante da necessidade de evitar cenário de
insegurança jurídica, esses parâmetros devem ser observados pelos processos
sem sentença prolatada; diferentemente, os processos com sentença prolatada
até a data da decisão devem permanecer no ramo da Justiça do magistrado
sentenciante até o trânsito em julgado e respectiva execução.
ESPELHO
TOTAL: ALUNO:
31
COMENTÁRIOS
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO
Total: Aluno:
Total 100
COMENTÁRIOS
Futuros residentes, este tema é cobrado nas provas de concurso. Em especial
a diferença entre erro de tipo e erro de proibição.
Segundo Cleber Masson, “erro e tipo é a falsa percepção da realidade acerca
dos elementos constitutivos do tipo penal. Extrai-se essa conclusão do art. 20,
caput, do Código Penal, que somente menciona as elementares. È o chamado
37
erro de tipo essencial”.
Assim, no erro de tipo o agente não sabe o que faz. O erro de tipo pode ser:
essencial ou acidental. No erro de tipo essencial o agente ignora ou erra sobre
elemento constitutivo do tipo penal. E nele, quando a agente é comunicado
sobre o erro ele para imediatamente a ação (art. 20, caput, do CP). Por outro
lado, o erro de tipo acidental recai sobre elementos secundários do tipo penal.
E quando comunicado do erro o agente prossegue com a sua conduta.
→ EFEITOS:
https://www.maisgoias.com.br/brasil/homem-mira-em-javali-mas-mata-amigo-
com-tiro-durante-cacada/
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/05/07/homem-morte-
pindamonhangaba.htm
W W W .P O R T A L E S T U D A N D O D IR E I T O . C O M . B R
@ C U R S O P E D
1
W W W .P O R T A L E S T U D A N D O D IR E I T O . C O M . B R
@ C U R S O P E D
Desejamos sorte neste seu objetivo e que este material possa continuar te
ajudar a alcançar a função de Residente Jurídico da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro!
Coordenação da turma
PRISCI LA COT TA
ANALISTA PROCESSU AL DA DPE-RJ
EX-RESIDENTE J URÍDICA DA DPE-RJ
RAONI ARAUJ O
COORDENADOR ACADÊMICO DO PED
MESTRE PELA FND/UFRJ
2
TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARAA PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA – RODADA VII
ESPELHO
1
QUESTÃO 01 Mariana procura a Defensoria Pública e relata que fez uma
inseminação caseira, estando grávida de 8 meses. Narra que é casada com
Vivien, e que juntas constituem núcleo familiar. Mariana manifesta o desejo de
registrar a dupla maternidade assim que a criança nascer, para que Vivien
também conste como mãe no Registro de Nascimento da criança.
PADRÃO DE RESPOSTA
Sim, é possível o duplo registro, calcado no reconhecimento constitucional da
família homoafetiva, mas também à luz do interesse superior do nascituro -
princípio consagrado no art. 100, inciso IV, do Estatuto da Criança e do
Adolescente -, segundo o qual as mães possuem as condições e interesse em
criar a criança. Assim, a medida ais adequada a garantir a fiel
representatividade da filiação é o registro de nascimento em nome de ambas, a
fim de conferir o reconhecimento jurídico do status de filho, o que se justifica
pelo próprio Código Civil, em seu artigo 1.593, que possibilita que as relações
biológica e socioafetiva sejam reconhecidas conjuntamente. Em inseminações
artificiais (realizadas em clínicas) não há necessidade de ingressar em juízo,
bastando o registro em cartório após o nascimento da criança. Todavia, caso
haja a negativa de registro ou caso queiram as partes se resguardar antes
mesmo do nascimento, poderá ser ajuizada ação para o reconhecimento do
direito ao duplo registro em razão da multiparentalidade. No caso em tela, em
se tratando de inseminação caseira, a resolução nº 63/2017 do CNJ não
autoriza o registro em cartório, havendo a necessidade de recorrer ao judiciário
para o reconhecimento do direito. Por fim, o registro é ato irretratável, exceto se
comprovado algum vício no negócio jurídico capaz de atrair a aplicação da
teoria das nulidades.
2
ESPELHO
Aspectos microestruturais (adequação ao – 0,0 a 10,00
I número de linhas, coesão, coerência, ortografia, pontos
morfossintaxe e propriedade vocabular);
COMENTÁRIOS
A questão trata da multiparentalidade e suas implicações nos registros de
nascimento.
Conforme o evoluir da sociedade, o direito também deve se aprimorar. A
multiparentalidade passou a reconhecer o vínculo afetivo de dois pais ou mães,
sem a necessidade de que um deles tenha ascendência biológica.
Posteriormente, a multiparentalidade veio abarcar também situações de filiação
afetiva e biológica, tornando possível a uma pessoa fazer constar em seus
registros a dupla paternidade ou maternidade, adicionando o genitor afetivo
àqueles já constantes em seus documentos.
Problema da inseminação caseira é que, por não ter sido realizado o
procedimento de reprodução assistida formal, em clínica especializada, não há
previsão legal que autorize o registro materno com as interessadas, somente
para aquela que, efetivamente, gere o nascituro. Essa situação levou a debates
acerca do direito da outra mãe, que não a genitora, em constar no registro. 3
Ademais, nada impede que o doador do sêmen, que não será anônimo, pleiteie
o registro da paternidade da criança. Esse também é um risco.
O importante para a questão dessa semana é afirmar, como
posicionamento institucional da Defensoria Pública, que hoje é possível
registrar as duas mães (gestante e não gestante) por meio de um
processo judicial.
Como não se trata de inseminação artificial, há certa resistência em se
reconhecer diretamente em cartório o direito ao registro, notadamente pela
informalidade do procedimento de inseminação caseira. Na inseminação
tradicional artificial e realizada em clínicas de reprodução humana, existem dois
caminhos a seguir. Conforme já ventilado no padrão de resposta, a primeira
hipótese é aguardar a criança nascer e o cartório negar esse registro para
depois recorrer ao Judiciário. Já na segunda, há a possibilidade de ingresso no
judiciário assim que se confirmar a gravidez, antes mesmo do nascimento. Não
é o caso da inseminação caseira, em que só há uma opção: a via judicial.
Vale o destaque para matéria veiculada no site da CNN a respeito (a qual
consta na íntegra ao final deste espelho, e cuja leitura se recomenda):
(...)
Judicialização
Justamente por não estar prevista em
nenhuma norma, a inseminação caseira tem
sido debatida na Justiça. Os casos levados
aos tribunais dizem respeito ao registro das
crianças nascidas nessas condições: afinal,
esses bebês devem ser registrados com os
nomes de quem? A Associação Nacional dos
Registradores de Pessoas Naturais (Arpen)
explica que não há lei prevendo o registro em
caso de inseminação caseira. Quando o casal
que fez a inseminação caseira é de duas
mulheres, cria-se um imbróglio no cartório:
uma regra do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) determina a apresentação de laudo da
clínica de fertilização – o que elas não têm. A
filha de Tatiane, por exemplo, foi registrada
apenas com o nome dela. No cartório, não foi
possível incluir o registro de Thaiza e agora o
casal pretende entrar com ação para
conseguir a dupla maternidade. Casos assim
têm se tornado frequentes, segundo o Instituto
Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), que
apontou, em parecer de maio ao CNJ,
sobrecarga no Judiciário para garantir o direito
ao registro no caso de inseminação caseira. O
instituto pede ao Conselho Nacional de
Justiça a revogação da exigência de
documento da clínica de reprodução assistida
para registrar a criança em cartório, a fim de 4
que as famílias da inseminação caseira não
tenham de recorrer à Justiça. “Acaba
demorando e cria prejuízo à criança”, diz
Maria Berenice Dias, vice-presidente do
IBDFAM, que afirma ver ainda discriminação
econômica, já que casais que têm acesso às
clínicas conseguem o registro sem ter de
apelar para a via judicial. Ela cita que o
registro duplo é benéfico para a criança, por
exemplo, para acesso ao plano de saúde ou
para que fique resguardada em caso de morte
de uma das mães. A instrutora de trânsito
Andressa Medeiros, 34, aguarda decisão
judicial em Santa Catarina sobre o registro da
filha de 1 ano, nascida após inseminação
caseira feita por falta de dinheiro. O
procedimento teve custo de R$ 6: “o potinho e
a seringa”. Na certidão, só há o nome da mãe
que gestou, apesar de Andressa ter
acompanhado a gravidez desde o início. “Sem
papel, não sou nada”, diz. O doador de
sêmen, diz ela, foi intimado a participar da
audiência e explicou que abria mão da
paternidade. O CNJ não tem prazo para
decidir sobre isso, mas pediu posicionamento
de outras entidades. A Associação de Direito
de Família e das Sucessões (ADFAS) se
manifestou, no mês passado, contrária por
entender que o fim da exigência de laudo da
clínica de reprodução assistida incentivaria a
inseminação caseira, o que é prejudicial à
saúde coletiva.
Reprodução assistida
Da Reprodução Assistida
Por fim, para ilustrar todo o cenário aqui trazido e a relevância do tema, vejam
matéria no site da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro:
SUGESTÕES DE LEITURA
Íntegra do Provimento nº 63/2017 do CNJ:
https://atos.cnj.jus.br/files/compilado00430220210303603edb96ccae9.pdf
https://www.tjmt.jus.br/noticias/66835
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/inseminacao-caseira-para-engravidar-
cresce-no-brasil-entenda-os-riscos/
10
QUESTÃO 02 Jurandir, que se encontra há 8 anos em regime fechado
cumprindo pena de 29 anos relativa a homicídio qualificado e estupro de
vulnerável, é indiciado de novo crime, baseado no uso de seu material
genético constante em base de informações genéticas catalogadas, que fora
colhido faz 4 anos. O fato imputado a ele, estupro e homicídio qualificado,
ocorreu há 10 anos. Através da Defensoria ele busca retirada de seu material
genético desse catálogo. Pensando em tese defensiva para o senhor Jurandir,
analise a legalidade da providência a luz da Lei nº 12.654/12?
Padrão de Resposta
ESPELHO
Aspectos microestruturais (adequação ao – 0,0 a 10,00
I número de linhas, coesão, coerência, ortografia, pontos
morfossintaxe e propriedade vocabular);
COMENTÁRIOS
Padrão de Resposta
ESPELHO
ESPELHO DE CORREÇÃO TOTAL ALUNO
Impossibilidade da condenação 20
Vedação da LGPD 20
COMENTÁRIOS
É o ato pelo qual uma pessoa afirma como certa a identidade de outra, ou
a qualidade de uma coisa. Trata-se de um meio de prova. A pessoa descreve a
pessoa a ser reconhecida; posteriormente, a pessoa cujo reconhecimento se
pretende é colocada ao lado de outras pessoas, se possível com
características semelhantes, convidando-se quem tiver que fazer o
reconhecimento a apontá-la.
29
Por fim, cabe mencionar o PL 676/2021, que busca dar um tratamento
mais adequado ao reconhecimento pessoal previsto no art. 226 do CPP, à luz
da jurisprudência dos Tribunais superiores.
Julgados relevantes
31
O Julgado a seguir diz respeito à uniformização da jurisprudência da 3ª
Seção do STJ acerca do reconhecimento fotográfico.
Padrão de Resposta
Toda pessoa que sofra prisão em flagrante, qualquer que tenha sido a
motivação ou a natureza do ato criminoso, deve ser obrigatoriamente
conduzida, à presença da autoridade judiciária competente, para que esta,
ouvido o custodiado sobre as circunstâncias em que se realizou sua prisão e
examinados os aspectos de legalidade formal e material do auto de prisão em
flagrante, possa: (i) relaxar a prisão, se constatar a ilegalidade do flagrante, (ii)
conceder liberdade provisória, se estiverem ausentes as situações referidas no
art. 312 do CPP ou se incidirem, na espécie, quaisquer das excludentes de
ilicitude previstas no art. 23 do CP, ou, ainda, (iii) converter o flagrante em
prisão preventiva, se presentes os requisitos dos arts. 312 e 313 do CPP.
Nesse sentido, decidiu o STF que a audiência de custódia (ou de
apresentação) possui natureza jurídica de direito público subjetivo, de caráter
fundamental, assegurado por convenções internacionais de direitos humanos a
que o Estado brasileiro aderiu, já incorporadas ao direito positivo interno
(Convenção Americana de Direitos Humanos e Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos). Traduz, assim, prerrogativa não suprimível
assegurada a qualquer pessoa. Encontra ressonância na jurisprudência (ADPF
347) e no ordenamento positivo (Lei 13.964/2019 e Resolução 213/2015 CNJ).
Quanto a não realização, a ausência da audiência de custódia qualifica-se
como causa geradora da ilegalidade da própria prisão em flagrante, com o
consequente relaxamento da privação cautelar da liberdade. Se o magistrado
42
deixar de realizar a audiência de custódia e não apresentar uma motivação
idônea para essa conduta, ele estará sujeito à tríplice responsabilidade, nos
termos do art. 310, § 3º do CPP, qual seja a administrativa, civil e penal.
Já no tocante a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, de
ofício, cabe ressaltar que de acordo com a redação do art. 310, II, do CPP,
dada pela Lei 13.964/19, verificada a legalidade da prisão em flagrante, o juiz
poderá fundamentadamente converter a prisão em flagrante em preventiva,
quando presentes os requisitos constantes do art. 312 do CPP, e se revelarem
inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão,
hipótese em que deverá ser expedido um mandado de prisão. Para tanto, é
indispensável que seja provocado nesse sentido, pois jamais poderá fazê-lo de
ofício, sob pena de violação aos arts. 3º-A, 282, §§2º e 4º, e 311, todos do
CPP, com redação dada pela Lei 13.964/19. Nesse sentido, já decidiu o STJ
que a Lei 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art.
282, § 2º, e do art. 311, ambos do CPP, vedou, de forma absoluta, a
decretação da prisão preventiva sem o prévio requerimento das partes ou
representação da autoridade policial.
ESPELHO
Prisão em flagrante 20
COMENTÁRIOS
43
Prisão preventiva
Legitimados:
• Ministério público
• Querelante
• Assistente de acusação,
• Autoridade policial
Pressupostos e requisitos:
Exige prova da existência do crime e indício suficiente de autoria (fumus
comissi delicti), associado ao periculum libertatis (consubstanciado em uma
das situações listadas abaixo).
44
Audiência de custódia
O art. 306, §1o do CPP dispõe que em até 24 horas o auto de prisão em
flagrante deve ser encaminhado ao juiz, porém não prevê a possibilidade de
eventual contato físico do preso com o juiz.
Esse citado provimento foi objeto da ADI 5240 proposta pela Associação
dos Delegados de Polícia do Brasil, que foi julgada improcedente:
Nota-se que as decisões proferidas pelo STF nos citados julgados tiveram
um papel relevante para a efetivação das Audiências de Custódia. Um efeito
prático de sucesso do projeto inicial do Estado de São Paulo e das decisões do
STF foi a que até o final de 2015, todos os Tribunais de Justiça do país já
haviam instituído a Audiência de Custódia nas capitais dos Estados brasileiros.
50
O STF não reconheceu a legitimidade ativa ad causam da ANAMAGES:
53
Além do mais, o projeto demonstra o seu viés social e humanitário com os
presos ao disponibilizar uma assistência psicossocial, através da equipe
multidisciplinar na Central da Audiência de Custódia (nas próprias
dependências do TJ/RJ) que, a partir da abordagem feita através de uma
“entrevista social” com o conduzido/detido, encaminha-o para uma rede de
tratamento específico visando a sua reinserção na sociedade e evitando a sua
reincidência. Em que pese o acórdão proferido no bojo do HC 0064910-
46.2014.8.19.0000, prolatado pela 6a Câmara Criminal do TJ/RJ ter concedido
a ordem de relaxamento da prisão preventiva, tendo em vista que esta foi
decretada sem a prévia realização da Audiência de Custódia, este não é o
entendimento majoritário adotado pelo referido Tribunal.
54
“HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO
PRÓPRIO. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO
PARA O TRÁFICO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO
FLAGRANTE. AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA DE
CUSTÓDIA. QUESTÃO SUPERADA. FLAGRANTE
HOMOLOGADO PELO JUIZ E CONVERTIDO EM
PRISÃO PREVENTIVA. PRISÃO PREVENTIVA.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. GRAVIDADE CONCRETA.
PERICULOSIDADE SOCIAL. NECESSIDADE DA
PRISÃO PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.
IRRELEVÂNCIA. MEDIDAS CAUTELARES DO ART. 319
DO CPP. INVIABILIDADE. COAÇÃO ILEGAL NÃO
DEMONSTRADA. 1. O habeas corpus não pode ser
utilizado como substitutivo de recurso próprio, a fim de
que não se desvirtue a finalidade dessa garantia
constitucional, com a exceção de quando a ilegalidade
apontada é flagrante, hipótese em que se concede a
ordem de ofício. 2. A não realização da audiência de
custódia, por si só, não é apta a ensejar a ilegalidade da
prisão cautelar imposta ao paciente, uma vez respeitados
os direitos e garantias previstos na Constituição Federal e
no Código de Processo Penal. Ademais, operada a
conversão do flagrante em prisão preventiva, fica
superada a alegação de nulidade na ausência de
apresentação do preso ao Juízo de origem, logo após o
flagrante. Precedentes. 3. A privação antecipada da
liberdade do cidadão acusado de crime reveste-se de
caráter excepcional em nosso ordenamento jurídico, e a
medida deve estar embasada em decisão judicial
fundamentada (art. 93, IX, da CF), que demonstre a
existência da prova da materialidade do crime e a
presença de indícios suficientes da autoria, bem como a
55
ocorrência de um ou mais pressupostos do artigo 312 do
Código de Processo Penal. Exige-se, ainda, na linha
perfilhada pela jurisprudência dominante deste Superior
Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, que a
decisão esteja pautada em motivação concreta, vedadas
considerações abstratas sobre a gravidade do crime. 4.
Na hipótese, é necessário verificar que a decisão do
Magistrado de primeiro grau e o acórdão impetrado
encontram-se fundamentados na garantia da ordem
pública, considerando, sobretudo, a expressiva
quantidade e variedade das drogas apreendidas – 321,8 g
de maconha, distribuídas em 253 sacos plásticos, 570,85
gramas de cocaína, acondicionados em 640 frascos do
tipo eppendorf e 130,5 g de crack, divididos em 435
invólucros plásticos -, circunstâncias essas que
evidenciam a gravidade da conduta perpetrada e a
periculosidade social do acusado, justificando-se, nesse
contexto, a segregação cautelar como forma de
resguardar a ordem pública. 5. Eventuais condições
subjetivas favoráveis ao paciente, tais como primariedade,
bons antecedentes e residência fixa, por si sós, não
obstam a segregação cautelar, quando presentes os
requisitos legais para a decretação da prisão preventiva.
Precedentes. 6. Mostra-se indevida a aplicação de
medidas cautelares diversas da prisão, quando a
segregação encontra-se fundada na gravidade concreta
do delito, indicando que as providências menos gravosas
seriam insuficientes para acautelar a ordem pública 7.
Habeas corpus não conhecido. (HC 344989/RJ)”.
Natureza jurídica da audiência de custódia - HC 188888/MG
A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz dos arts. 282,
§§ 2º e 4º, e 311, do mesmo estatuto processual penal, a significar que se
tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de
ofício, da prisão em flagrante de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo
necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal provocação do
Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante
ou do assistente do MP.
QUESTÃO 05 Após intenso trabalho investigativo, a autoridade policial
instaurou inquérito para relatar que, valendo-se do medo, traficantes estariam
utilizando casas de diversos moradores de determinada localidade de uma
favela, para guardar armas e munições. De posse do inquérito, o Ministério
58
Público requereu ao juízo a expedição de um mandado de busca e apreensão
coletivo, uma vez que, embora o inquérito informe a localidade, não se sabe
com precisão quais residências seriam. A par das informações, e com base na
eficiência e na economia processual, o magistrado deferiu o mandado. Acerca
do caso narrado, discorra:
a) O mandado de busca e apreensão coletivo é lícito?
b) Qual seria o instrumento jurídico apto a neutralizar seus efeitos?
Padrão de resposta
Busca e apreensão 20
Apresentar a jurisprudência 20
COMENTÁRIOS
61
O defensor público Pedro Carriello, que representa a DPRJ nas ações
judiciais em tramitação nos tribunais superiores, destacou que a busca e
apreensão genérica violou uma série de direitos dos moradores e que a
decisão do STJ vem restabelecer a ordem constitucional.
62
tranquilidade.
se a:
um indivíduo:
1.Com o consentimento do morador;
antes das 5h (cinco horas). Logo, atualmente considera-se “dia” o horário que
64
5º:
65
Cabimento
rol exemplificativo, haja vista que a própria Carta Magna diz que o HC é o
LXVIII).
determina a lei;
para fazê-lo;
coação;
66
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO
TOTAL: ALUNO:
Definir o desaparecimento forçado; 25
COMENTÁRIOS
SISTEMA INTERAMERICANO
O Brasil faz parte desse sistema desde o seu advento (1948), bem como é parte
da Convenção Americana desde 1992 (vide melhor adiante).
Assim, o defensor público utilizará em seu cotidiano as normas interamericanas
de direitos humanos aceitas pelo Brasil, bem como as decisões proferidas por
esse sistema, sobretudo as decisões envolvendo o Brasil. Não procede a ideia
de que os direitos humanos são para poucos, afinal, as normas protetivas
interamericanas de direitos humanos também são parte de todo ordenamento
jurídico brasileiro.
De modo geral, o sistema interamericano pode ser definido como o “conjunto de
órgãos, entidades e mecanismos de variados propósitos e estruturas, assim
como de tratados e outros instrumentos que regulam uma infinidade de matérias
a nível regional” (F.V. García Amador apud TRINDADE, Antônio Augusto
Cançado, 2012, p. 320).
70
Tal sistema é ilustrado sobretudo pela ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS
AMERICANOS, denominada comumente pela sua sigla: OEA.
Visite o site da OEA: http://www.oas.org/pt/.
Atualmente, essa organização internacional, de caráter intergovernamental
(portanto, detentora de personalidade jurídica de Direito Internacional), se
localiza em Washington – Estados Unidos. Saliente-se que o sistema
interamericano não cuida tão somente de matéria de direitos humanos, mas
também analisa temas ligados à DEMOCRACIA, SEGURANÇA E
DESENVOLVIMENTO. Por certo, esses quatro pilares “conversam” entre si,
sendo que um assunto envolvendo direitos humanos pode, também, dizer
respeito à democracia, por exemplo. Juridicamente, envolvendo a temática de
direitos humanos, são documentos básicos: - A Carta da OEA, aprovada em
1948, com vigência em 1951 e posteriormente reformada pelo Protocolo de
Buenos Aires (1967), pelo Protocolo de Washington (1992) e pelo Protocolo de
Managuá (1993).
- Convenção Americana sobre Direitos Humanos (=Pacto de San José da Costa
Rica), conhecida como o “tratado regente de todo o sistema interamericano dos
direitos humanos”, que surge oficialmente em 1969 e entra em vigor em 1978.
→O Brasil é parte da Convenção Americana desde 25 de setembro de 1992,
sendo que tal documento internacional promulgado no país por meio do Decreto
nº 678 de 06 de novembro de 1992.
- Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos (= Protocolo
de San Salvador), que cuida dos direitos sociais, econômicos e culturais. Surge
em 1988, mas só entra em vigor em 1999.
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS - ESTRUTURA:
PARTE I – DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS PROTEGIDOS →Art. 1º a
art. 32. → Destaque para:
*Artigos 1º e 2º (obrigação de respeitar os direitos e dever de adotar as 71
No Caso Gomes Lund vs Brasil uma das exceções preliminares alegadas pelo
Brasil foi a incompetência da Corte IDH para apreciar o caso, considerando que
os fatos ocorreram após o Brasil reconhecer a competência contenciosa da
Corte (que foi em 10/12/1998), mais de 20 anos após os acontecimentos dos
fatos na região do Araguaia.
Então, em tese, como os fatos se deram ANTES do reconhecimento da função
contenciosa (jurisdicional) da Corte pelo Brasil, eles não poderiam ser julgados
pela Corte Interamericana? A resposta da Corte foi negativa.
Recentemente, em março de 2021, o STJ aprovou a Súmula 647, no sentido
de que são imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e
materiais decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos
fundamentais ocorridos durante o regime militar:
Uma das determinações da Corte IDH no Caso Gomes Lund vs Brasil foi a
instituição da denominada Comissão Nacional da Verdade.
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1
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Desejamos sorte neste seu objetivo e que este material possa continuar te
ajudar a alcançar a função de Residente Jurídico da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro!
Coordenação da turma
PRISCI LA COT TA
ANALISTA PROCESSU AL DA DPE-RJ
EX-RESIDENTE J URÍDICA DA DPE-RJ
RAONI ARAUJ O
COORDENADOR ACADÊMICO DO PED
MESTRE PELA FND/UFRJ
2
TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARAA PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA – RODADA VIII
ESPELHO
PADRÃO DE RESPOSTA
O direito ao esquecimento trata sobre a possibilidade de desconsiderar fatos
vexatórios que aconteceram no passado, considerados danosos à honra e à
privacidade do indivíduo. Mesmo que verídicas, essas informações não devem
ser de conhecimento público após determinado tempo decorrido.
Contudo, em 2021, o Supremo Tribunal Federal firmou a tese em repercussão
geral que o direito ao esquecimento é incompatível com a Constituição Federal,
se entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a
divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em
meios de comunicação social. Eventuais excessos ou abusos no exercício da
liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, a
partir dos parâmetros constitucionais, especialmente os relativos à proteção da
honra, da imagem, da privacidade e da personalidade em geral.
Logo, no caso em questão, levando em consideração o caso paradigmático
julgado pelo STF, seria improcedente a demanda.
ESPELHO
TOTAL: ALUNO:
COMENTÁRIOS
2
A questão tratou do Caso Aída Curi (REsp 1.335.153)
O segundo caso analisado pelo STJ foi o dos familiares de Aída Curi, abusada
sexualmente e morta em 1958 no Rio de Janeiro. A história desse crime, um
dos mais famosos do noticiário policial brasileiro, foi apresentada pela rede
Globo, também no programa “Linha Direta”, tendo sido feita a divulgação do
nome da vítima e de fotos reais, o que, segundo seus familiares, trouxe a
lembrança do crime e todo sofrimento que o envolve. Em razão da veiculação
do programa, os irmãos da vítima moveram ação contra a emissora, com o
objetivo de receber indenização por danos morais, materiais e à imagem.
A 4ª Turma do STJ entendeu que não seria devida a indenização, considerando
que, nesse caso, o crime em questão foi um fato histórico, de interesse público
e que seria impossível contar esse crime sem mencionar o nome da vítima, a
exemplo do que ocorre com os crimes históricos, como os casos “Dorothy
Stang” e “Vladimir Herzog”.
Mesmo reconhecendo que a reportagem trouxe de volta antigos sentimentos
de angústia, revolta e dor diante do crime, que aconteceu quase 60 anos atrás,
a 4ª Turma do STJ entendeu que o tempo, que se encarregou de tirar o caso
da memória do povo, também fez o trabalho de abrandar seus efeitos sobre a
honra e a dignidade dos familiares.
Na ementa, restou consignado: “(...) o direito ao esquecimento que ora se
reconhece para todos, ofensor e ofendidos, não alcança o caso dos autos, em
que se reviveu, décadas depois do crime, acontecimento que entrou para o
domínio público, de modo que se tornaria impraticável a atividade da imprensa
para o desiderato de retratar o caso Aída Curi, sem Aída Curi.”
Em suma, atualmente, o ordenamento jurídico brasileiro não consagra o
denominado direito ao esquecimento.
Importante saber que os direitos das novas gerações convivem com os direitos
das gerações anteriores, isto é, os direitos mais antigos não se extinguem ou
apagam pelo simples surgimento de novos direitos; no máximo, podem ter seu
sentido adaptado aos novos anseios constitucionais, por isso alguns autores
preferem a expressão “dimensões de direitos” em vez de “gerações de
direitos”, já que a expressão “geração de direitos” pode dar a entender que o
direito de uma categoria substitui o anterior.
Pode ocorrer, ainda, de “novos direitos” serem, na realidade, nada mais que
antigos diretos adaptados às novas exigências do momento. Poderia, talvez,
ser o caso dos direitos decorrentes da “engenharia genética”, que Noberto 4
Bobbio entende como de “quarta geração”; para outros autores são nada mais
que novas manifestações do clássico direito à vida.
PADRÃO DE RESPOSTA
COMENTÁRIOS
Hoje, o direito à moradia está previsto expressamente como direito social no art.
6º da CF/88. Porém, ele não está lá desde 1988.
Padrão de resposta:
15
O constitucionalismo latino-americano é um novo modelo de constitucionalismo
decorrente de reivindicações sociais de parcelas historicamente excluídas do
processo decisório nesses países, notadamente a população indígena. O
constitucionalismo latino-americano pode ser chamado de “constitucionalismo
pluralista”. O movimento propõe uma nova institucionalização do Estado,
propõe um Estado plurinacional. Este Estado deve ser baseado em novas
autonomias, no pluralismo jurídico, em um regime político calcado na
democracia intercultural e em novas individualidades particulares e coletivas.
Espelho de correção:
Total: Aluno:
Total 100
Comentários sobre o assunto tratado na questão:
16
Padrão de resposta
Por fim, importante mencionar que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem
jurisprudência firmada no sentido de serem inadmissíveis as provas digitais
sem registro documental acerca dos procedimentos adotados pela polícia
para a preservação da integridade, autenticidade e confiabilidade dos
elementos informáticos.
Diante do exposto cabe o relaxamento da prisão de Lucas diante de sua
flagrante ilegalidade.
Espelho de correção: 18
Total: Aluno:
II Habeas corpus 30
Total 100
Comentários
PADRÃO DE RESPOSTA
A postura da seguradora de saúde não está adequada à melhor interpretação
viola a boa-fé objetiva, notadamente pela ausência de confirmação acerca do
recebimento de notificação para o pagamento da parcela em atraso. Essa
medida consiste em procedimento prévio à rescisão do contrato, conforme já
decidiu o STJ. Ademais, a conduta é eivada de má-fé pois quebra a confiança
depositada pela beneficiária do contrato e a deixa sem assistência em período
tão sensível, qual seja, a necessidade de realização de exames para fins
cirúrgicos. Diante do cancelamento arbitrário e unilateral, deverá ser proposta
ação de obrigação de fazer para o reestabelecimento do plano, cumulado com
pedido de danos morais pelo constrangimento sofrido e com cabimento da
tutela de urgência (art. 300, CPC/15), pleiteando desde logo a cobertura pelos
exames necessários. É nesse sentido que se manifesta o STJ, mas também é
a ratio da nova redação da Lei 9656/98 (Lei dos Planos de Saúde), que com as
alterações promovidas em 2022 pela Lei nº 14.454/2022, previu em seu art. 1º
a submissão dos contratos à sistemática protetiva do Código de Defesa do
Consumidor.
ESPELHO
Aspectos microestruturais (adequação ao – 0,0 a 10,00
I número de linhas, coesão, coerência, ortografia, pontos
morfossintaxe e propriedade vocabular);
TOTAL 100
COMENTÁRIOS
{grifos nossos}
Sobre a aplicação do CDC aos contratos de planos de saúde:
Não pairam dúvidas hoje que há relação jurídica de consumo nos planos de
saúde. Muito já se discutiu acerca da natureza jurídica desses contratos, tendo
pacificado a doutrina e jurisprudência que indubitavelmente se trata de relação
de consumo, com assimetria informacional, vulnerabilidade e hipossuficiência.
Esse problema se resolveu em 2022, ano em que a Lei nº 9.656/98 foi alterada
para prever em seu art. 1º a aplicação do CDC e seus princípios aos contratos
de saúde. Se não, vejamos:
LEI Nº 9.656, DE 3 DE JUNHO DE 1998
Dispõe sobre os planos e seguros privados de
assistência à saúde.
Art. 1º Submetem-se às disposições desta Lei as
pessoas jurídicas de direito privado que operam
planos de assistência à saúde, sem prejuízo do
cumprimento da legislação específica que rege a sua
atividade e, simultaneamente, das disposições
da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código
de Defesa do Consumidor), adotando-se, para fins
de aplicação das normas aqui estabelecidas, as
seguintes definições: (Redação dada pela Lei nº
14.454, de 2022)
TÍTULO II
DA TUTELA DE URGÊNCIA
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
A respeito dos entraves que enfrentam os consumidores, vale dizer que o STJ 33
(...)
2
www.conjur.com.br/2021-dez-21/stj-manda-reativar-plano-saude-notificacao-
insuficiente#:~:text=Segundo%20o%20artigo%2013%2C%20parágrafo,operadora%20não%20cumpriu%
20esse%20prazo. Acesso em: 14.ago.2023
(...)
35
QUESTÃO 06 Fernanda, inimputável, condenada por crime cuja pena em
abstrato é de 12 (doze) anos, foi identificada como vítima de maus tratos após
visita da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro no Hospital de
Custódia onde cumpria Medida de Segurança. Devido ao seu estado
36
desorientado e confuso, e por estar com sinais de maus tratos físicos, foram
realizadas pesquisas a seu respeito, onde se verificou que a mesma já estava
no estabelecimento há 20 (vinte) anos.
Diante dos fatos, disserte sobre o caso de Fernanda, em especial sobre o
prazo de cumprimento de sua medida de segurança, justificando, de acordo
com a jurisprudência, se a sua internação pode se dar por tempo
indeterminado.
PADRÃO DE RESPOSTA
ESPELHO
TOTAL: ALUNO:
COMENTÁRIOS
Medida de segurança
DETENTIVA (INTERNAÇÃO)
Consiste na internação do agente em um hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico.
Obs.: se não houver hospital de custódia, a internação deverá ocorrer em outro
estabelecimento adequado.
É chamada de detentiva porque representa uma forma de privação da
liberdade do agente.
RESTRITIVA (TRATAMENTO AMBULATORIAL)
Consiste na determinação de que o agente se sujeite a tratamento
ambulatorial.
39
O agente permanece livre, mas tem uma restrição em seu direito, qual seja, a
obrigação de se submeter a tratamento ambulatorial.
Art. 97 (...)
§ 1º A internação, ou tratamento ambulatorial, será por
tempo indeterminado, perdurando enquanto não for
averiguada, mediante perícia médica, a cessação de
periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3
(três) anos.
Desse modo, pela redação literal do CP, a medida de segurança poderia durar
por toda a vida do indivíduo já que, enquanto não ficasse provado que cessou
a periculosidade, ele ainda teria que permanecer internado ou em tratamento
ambulatorial.
Desse modo, atualmente, tanto o STJ como o STF afirmam que existe sim
40
prazo máximo de duração das medidas de segurança porque estas possuem
caráter punitivo.
Posição do STF:
40 anos*
O STF possui julgados afirmando que a medida de segurança deverá
obedecer a um prazo máximo de 40 anos*, estabelecendo uma analogia ao
art. 75 do CP, e considerando que a CF/88 veda as penas de caráter perpétuo.
(...) Esta Corte já firmou entendimento no sentido de que o prazo máximo de
duração da medida de segurança é o previsto no art. 75 do CP (...) (STF. 1ª
Turma. HC 107432, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/05/2011)
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de
liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) anos. (redação
dada pela Lei 13.964/2019)
§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de
liberdade cuja soma seja superior a 40 (quarenta) anos, devem
elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.
(redação dada pela Lei 13.964/2019)
Posição do STJ:
Máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.
Súmula 527-STJ: O tempo de duração da medida de segurança
não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente
cominada ao delito praticado.
Ex.: João, inimputável, pratica fato previsto como furto simples (art. 155, caput,
41
do CP); o juiz aplica a ele medida de segurança de internação; após 4 anos
cumprindo medida de segurança, o magistrado deverá determinar a
desinternação de João, considerando que foi atingido o máximo da pena
abstratamente cominada para o furto (“reclusão, de um a quatro anos, e
multa”).
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ajudar a alcançar a função de Residente Jurídico da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro!
Coordenação da turma
PRISCILA COTTA
ANALISTA PROCESSUAL DA DPE-RJ
EX-RESIDENTE JURÍDICA DA DPE-RJ
RAONI ARAUJO
COORDENADOR ACADÊMICO DO PED
MESTRE PELA FND/UFRJ
2
TURMA DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES PARAA PROVA DA DPERJ - RESIDÊNCIA JURÍDICA – RODADA IX
ESPELHO
criar um vídeo para o seu canal no YouTube, que tem milhões de seguidores.
Elas planejam realizar um "experimento social" que envolve crianças negras e
apresentam-no como uma brincadeira divertida. As influencers selecionam
duas crianças negras, uma menina e um menino, ambos com
aproximadamente 10 anos de idade, para participar do vídeo. No vídeo, as
influencers começam por apresentar presentes atraentes para as crianças,
como brinquedos e dinheiro. As crianças são informadas de que podem
escolher entre receber dinheiro imediatamente ou um presente misterioso que
está embrulhado em papel colorido. As crianças, empolgadas, escolhem os
presentes misteriosos. As influencers entregam os presentes às crianças, que
desembrulham com ansiedade. Para a surpresa e choque das crianças e da
audiência, os presentes revelam-se uma banana e um macaco de pelúcia. As
influencers começam a rir e fazem comentários desagradáveis sobre como
esses presentes são perfeitos para as crianças, insinuando estereótipos raciais
que associam pessoas negras a macacos. As crianças, inicialmente
entusiasmadas, ficam visivelmente desconfortáveis e confusas com a situação.
Elas não compreendem por que estão sendo alvo de risos e comentários
discriminatórios. A audiência nas redes sociais fica dividida, com alguns
espectadores defendendo o vídeo como uma brincadeira inofensiva e outros
condenando-o como racista e prejudicial.
PADRÃO DE RESPOSTA
O racismo recreativo ocorre quando as pessoas fazem piadas ou ações que
perpetuam estereótipos raciais e causam dano emocional ou psicológico às
pessoas de determinada raça ou etnia. Isso geralmente é feito de forma
disfarçada como uma brincadeira, mas tem um impacto prejudicial real. A partir
de janeiro de 2023, foi incluído o art. 20-A na Lei de crimes raciais, que agora
dispõe expressamente que quando o crime racial ocorrer em contexto ou com
2
intuito de descontração, diversão ou recreação, as penas devem ser
aumentadas até a metade.
ESPELHO
TOTAL: ALUNO:
COMENTÁRIOS
3
Assim, em tese, uma piada de cunho homofóbico ou envolvendo negros,
judeus, etc. pode, a depender do caso concreto, enquadrar-se como
manifestação racista gerando a punição pelos crimes do art. 2º-A ou do art. 20
com a causa de aumento de pena do art. 20-A da Lei nº 7.716/89:
QUESTÕES:
* O que foi o caso Simone André Diniz?
R: Foi um caso que chegou ao sistema interamericano de direitos humanos, no
qual a Comissão avaliou a denúncia feita por Simone Andre Diniz e
recomendou uma série de medidas reparadoras ao Brasil, em 2006. A situação
versou sobre Simone Andre Diniz, candidata a uma vaga de empregada
doméstica em São Paulo, sendo que ao pleitear emprego e mencionar que era
negra, o recrutador avisou que ela não preencheria os requisitos da vaga, que
solicitava expressamente uma pessoa branca.
OBS: A Comissão Interamericana, percebendo que situações ligadas à raça
eram uma constante na América, fez uma Relatoria especial sobre os direitos
Afrodescendentes e contra a Discriminação Racial (2005), no qual examina a
situação dos afrodescendentes nas América.
5
Saiu no site da DPERJ:
PADRÃO DE RESPOSTA
Não está correto o posicionamento da mãe da jovem, pois os bens
administrados pelos pais do menor a ele exclusivamente pertencem, o que
desautoriza a livre disposição por parte dos pais. Ademais, não há que se falar
em direito à repartição do patrimônio administrado, justamente pela distinção
axiológica entre gestão de bens e transferência de patrimônio. No caso, os
bens jamais pertenceram aos pais, mas sim à jovem que, por força da
menoridade e das implicações civis na sua autonomia da vontade, estaria
representada pelo poder familiar de seus pais (art. 1.630 a 1.638 CC/02),
maiores e capazes de tomar decisões que melhor salvaguardassem o
patrimônio da filha. Não há, contudo, que se conferir qualquer repartição de
patrimônio em razão da gestão exercida. Por força do art. 1.689 do CC/02, os
pais da jovem poderiam apenas usar e fruir do patrimônio, percebendo seus
frutos, mas reservando a parcela de patrimônio para a jovem, quando
alcançada a maioridade. Ademais, frise-se que a partir dos 16 e até os 18
anos, tem a menor capacidade relativa para o exercício de atos da vida civil,
sendo-lhe conferido direito de opinar na gestão de seus bens. Por fim, caso os
pais, no exercício da administração dos bens dos filhos, transfiram para si o
patrimônio destes, isto pode, mediante análise judicial, ser anulado, em razão
de vedação expressa (art. 117 CC/02) em prol da proteção contra conflito de
8
interesses na administração dos pais sobre o patrimônio dos filhos, bem como
da necessidade de autorização judicial expressa.
ESPELHO
Aspectos microestruturais (adequaçãoao – 0,0 a 10,00
I pontos
número de linhas, coesão, coerência, ortografia,
morfossintaxe e propriedade vocabular);
- 0,0 a 30
II pontos
Afirmar que não assiste razão à mãe da menor,
em razão de ser o patrimônio desta última,
cabendo a seus pais apenas a percepção dos
frutos (art. 1689 CC/02.
II - 0,0 a 30
Mencionar o Poder Familiar (art. 1.630, CC/02) e
pontos
abordar que este confere aos pais prerrogativa,
sob presunção relativa, de gestão dos bens do
filho menor atendendo aos seus melhores
interesses.
COMENTÁRIOS:
A questão versa sobre um tema que está popular na mídia pelo recente caso
da atriz Larissa Manoela, de 22 anos, que decidiu romper com os pais e
abordar as questões que enfrenta acerca da gestão patrimonial de sua fortuna.
A jovem revelou não possuir independência financeira, enfrentando sérios
9
embates com os pais para gastos triviais do cotidiano. Esse caso nos leva a
reanalisar a legislação civilista, notadamente o artigo 1.689 e seguintes do
CC/02. Vejamos, então, o que diz o Código Civil:
SUBTÍTULO II
Do Usufruto e da Administração dos Bens de
Filhos Menores
I - os filhos;
II - os herdeiros;
III - o representante legal.
É dizer, os pais podem gerir os bens do menor, que não possui plena
capacidade de direito para manifestar transferência de poderes através de
mandato, mas são administradores e usufrutuários no sentido de usar, possuir,
fruir, receber os frutos dessa gestão patrimonial. Trata-se do exercício do
PODER FAMILIAR (antigo pátrio poder, cuja nomenclatura foi alterada
recentemente, à luz de uma interpretação conforme à Constituição).
Do Poder FAMILIAR
Seção I - Disposições Gerais
Nestes termos, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2020, p. 585)
aduzem que:
Por isso que caso os pais, exercendo a administração dos bens dos filhos,
transfiram para si o patrimônio destes, o ato estará passível de convalidação
judicial, sob pena de ser anulado em razão da vedação expressa, proteção do
menor ao conflito de interesses na administração dos pais sobre o patrimônio
dos filhos, bem como a necessidade de autorização judicial expressa.
É bom dizer que não serão objeto de administração e/ou usufruto pelos pais o
patrimônio adquirido pelos filhos após estes completarem 16 anos, no exercício
de suas atividades profissionais. Atingida a maioridade (18 anos), o menor terá
plena autonomia para administrar seu próprio patrimônio sem a ingerência dos
pais, inclusive aqueles constituídos na menoridade.
É essencial que se compreenda que mesmo a representação legal da menor
não autorizaria aos pais, sem análise do judiciário, transferir e/ou dilapidar seu
patrimônio.
15
No caso de Larissa Manoela, para contextualizar, seus pais haviam constituído
empresa em nome próprio para explorar a carreira da filha, empresa cuja
participação da jovem era ínfima em relação a dos pais, o que pode suscitar
dúvidas acerca de um conflito de interesses nessa gestão.
SUGESTÃO DE LEITURA:
Reler a parte de direitos da personalidade do espelho da questão sobre
nascituro – RODADA 4
https://www.migalhas.com.br/depeso/391727/o-caso-larissa-manoela-e-a-
violencia-patrimonial
https://www.migalhas.com.br/quentes/391714/caso-larissa-manoela-
advogadas-analisam-o-que-lei-pode-garantir
16
QUESTÃO 03 A esposa de Emilson procura a Defensoria Pública para
“processar por dano moral” um veículo midiático que divulgou as seguintes
informações a respeito de seu marido:
1) Nome completo
2) Nível de escolaridade
3) Local onde trabalhava (mesmo local do crime)
4) Sua relação com crime cometido na última semana em estabelecimento
industrial e
5) Resultado de investigação policial concluída, em que se confirmava a
autoria de crime de furto de materiais de alumínio.
Uma amiga da família ouviu falar em LGPD, e que segundo essa lei não
poderiam ser divulgados dados pessoais, caso contrário haveria dever de
indenizar a parte que teve suas informações amplamente divulgadas. A par
dessa orientação, então, a esposa de Emilson indaga se haveria possibilidade
de ingresso em juízo para pleitear algum tipo de retratação, ou indenização.
Responda fundamentadamente com base no enunciado descrito.
PADRÃO DE RESPOSTA:
Não há qualquer interesse juridicamente tutelável no caso em tela pois o
ordenamento jurídico expressamente excetua a divulgação das informações
arroladas na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Trata-se de exceção
prevista no art. 4º, suscetível de enquadramento tanto no inciso II, ‘a’ bem
como inciso III, ‘d’. Não existe sequer direito a esquecimento no ordenamento
jurídico brasileiro, o que poderia ensejar retratação ou até mesmo reparação
civil caso fosse o fato muito antigo e sem relevância atual. No caso narrado, ao
revés, o crime fora cometido na semana que antecedeu a notícia, servindo a
matéria apenas para aclarar os fatos e prestar um papel informativo à
sociedade a respeito da repressão de ilícitos. É dizer, trata-se de informação
cuja função extrapola o mero entretenimento, se revelando como verdadeira
prestação de contas à sociedade e aferindo os padrões de eficiência da polícia
local, trazendo mais segurança aos expectadores. Há que se mencionar, ainda,
que nenhum dado fornecido é enquadrado como sensível à luz da LGPD, e a
17
informação acerca da ocupação profissional de Emilson se revela proporcional
a medida que demonstra o liame relacional entre ele e a empresa, sendo
informação relevante pois se trata do mesmo local do crime cometido.
ESPELHO:
Aspectos microestruturais (adequação ao – 0,0 a 10,00
I número de linhas, coesão, coerência, ortografia, pontos
morfossintaxe e propriedade vocabular);
COMENTÁRIOS:
Padrão de Resposta:
ESPELHO DE CORREÇÃO
COMENTÁRIOS
25
Direito da Criança e do Adolescente
A Lei 13.431/17 visa evitar que crianças e adolescentes que foram vítimas
ou testemunhas de alguma forma de violência (física, sexual, psicológica, entre
outros) sofram de qualquer modo nova violação dos seus direitos (art. 1º).
33
O art. 4º da Lei elenca 4 formas distintas de violência, das quais se
destaca a violência institucional, a qual fica suscetível a criança e o
adolescente no contexto de sua oitiva quando vítima ou testemunha de um
crime, provocando um processo de revitimização.
Essas varas apuram crimes contra criança e adolescente mesmo que não
sejam delitos contra a dignidade sexual
35
Em suma: Havendo juízo especializado para apurar e julgar crimes
praticados contra criança e adolescente, é este o competente
independentemente do tipo de crime. STJ. 5ª Turma. HC 807.617-BA, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 11/4/2023 (Info 773).
Padrão de Resposta:
A pena de multa
A pena de multa pode ser abstrata, quando cominada no próprio tipo penal
e aplicada diretamente pelo juiz na sentença, ou substitutiva (vicariante),
quando aplicada em substituição a uma pena privativa de liberdade, ainda que
não prevista no tipo penal (art. 60, §2º).
40
Valor da multa:
A pena de multa é estabelecida com base no critério dos dias-multa. O juiz
irá arbitrar a pena de multa dentro do patamar de 10 a 360 dias-multa.
A multa arbitrada pode ainda ser triplicada, caso o juiz considere que ela
seja ineficaz (art. 60, §1).
41
Destinatário da multa:
A multa é paga em favor do Fundo Penitenciário Nacional, que é um fundo
mantido pela União, com parte da renda revertida aos Estados-membros.
A pena pode ser paga de forma parcelada, desde que isto seja requerido
pela parte interessada (o próprio condenado). O juiz, observando o caso
concreto, vai deferir ou não o parcelamento.
Não!
42
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa
será executada perante o juiz da execução penal e será
considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à
dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às
causas interruptivas e suspensivas da prescrição. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019).
Importante esclarecer que, mesmo com essa mudança feita pela Lei nº
9.268/96, a multa continua tendo caráter de sanção criminal, ou seja,
permanece sendo uma pena, por força do art. 5º, XLVI, “c”, da CF/88:
Art. 5º (...)
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as
seguintes:
c) multa;
Assim, a única coisa que a Lei nº 9.268/96 fez foi mudar a forma de
cobrança da multa não paga: antes, ela virava pena de detenção; agora, deve
ser cobrada por meio de execução.
Art. 51. Transitada em julgado a sentença Art. 51. Transitada em julgado a sentença
condenatória, a multa será considerada condenatória, a multa será executada
dívida de valor, aplicando-se-lhes as perante o juiz da execução penal e será
normas da legislação relativa à dívida considerada dívida de valor, aplicáveis as
ativa da Fazenda Pública, inclusive no que normas relativas à dívida ativa da
concerne às causas interruptivas e Fazenda Pública, inclusive no que
suspensivas da prescrição. concerne às causas interruptivas e
suspensivas da prescrição.
Padrão de Resposta:
ESPELHO DE CORREÇÃO
COMENTÁRIOS:
Internação:
A internação pode ser vista como:
53
A internação sujeita-se aos princípios da (art. 121, caput):
54
Essa operação deve nortear a aplicação da medida socioeducativa de
internação, dado o seu caráter excepcional. Nesse sentido, informa o art. 122,
§2º:
CABIMENTO
APLICAÇÃO E Isolada ou cumulativa, e Isolada ou cumulativa
substituída a qualquer (inclusive com medidas
SUBSTITUIÇÃO tempo protetivas) e substituída a
qualquer tempo
55
QUEM APLICA Juiz e Juiz, com Juiz, com exclusividade
exclusividade Conselho
Tutelar (art. 101, I a VII)
(...)
(...)
foi suficiente para que ele refletisse sobre os graves atos que cometeu.
Ocorre que esse argumento não possui amparo legal. Além disso, a
alegada insuficiência do período em que acautelado não está ancorada em
qualquer critério legal aferível, controlável. Pouco tempo de internação é um
argumento muito subjetivo.
Desse modo, como esse fundamento invocado não tem previsão legal,
torna-se arbitrária a manutenção da medida de internação.
W W W .P O R T A L E S T U D A N D O D IR E I T O . C O M . B R
@ C U R S O P E D
1
W W W .P O R T A L E S T U D A N D O D IR E I T O . C O M . B R
@ C U R S O P E D
Desejamos sorte neste seu objetivo e que este material possa continuar te
ajudar a alcançar a função de Residente Jurídico da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro!
Qualquer dúvida, não deixe de nos procurar! Até breve e boa prova,
Coordenação da turma
PRISCI LA COT TA
ANALISTA PROCESSU AL DA DPE-RJ
EX-RESIDENTE J URÍDICA DA DPE-RJ
RAONI ARAUJ O
COORDENADOR ACADÊMICO DO PED
MESTRE PELA FND/UFRJ
2
QUESTÃO 01 É possível Medida Provisória para organizar a Defensoria Pública? Por
quê?
Padrão de Resposta
COMENTÁRIOS
Processo Legislativo
Leis Complementares
Por fim, cabe ressaltar que em dezembro de 2019 foi publicado um importante
julgado tratando sobre a temática das leis complementares. A questão foi debatida na
ADI 5003, na qual o STF entendeu que a Constituição estadual só pode exigir lei
complementar para tratar das matérias que a Constituição Federal também exigiu
lei complementar. Na oportunidade, os Ministros afirmaram que: “A aprovação de leis
complementares depende de mobilização parlamentar mais intensa para a criação de
maiorias consolidadas no âmbito do Poder Legislativo, bem como do dispêndio de
capital político e institucional que propicie tal articulação, processo esse que nem
sempre será factível ou mesmo desejável para a atividade legislativa ordinária, diante
da realidade que marca a sociedade brasileira – plural e dinâmica por excelência – e da
necessidade de tutela das minorias, que nem sempre contam com representação
política expressiva. A ampliação da reserva de lei complementar, para além daquelas
hipóteses demandadas no texto constitucional, portanto, restringe indevidamente o
arranjo democrático-representativo desenhado pela Constituição Federal, ao permitir
que Legislador estadual crie, por meio do exercício do seu poder constituinte
decorrente, óbices procedimentais – como é o quórum qualificado – para a discussão
de matérias estranhas ao seu interesse ou cujo processo legislativo, pelo seu objeto,
deva ser mais célere ou responsivo aos ânimos populares.”
Medidas Provisórias
Assim, por exemplo, seria inviável a edição de medida provisória sobre matéria
de iniciativa legislativa exclusiva de outro Poder ou de competência exclusiva
do Congresso ou de suas Casas, conquanto a Emenda Constitucional n.
32/2001 não tenha estabelecido tal vedação de forma expressa.
Seguindo essa linha, o STF entendeu recentemente que o art. 225, § 1º, inc. III,
da Constituição da República, ao dispor que apenas a lei pode alterar ou
suprimir espaços territoriais especialmente protegidos (dos quais são espécie
as unidades de conservação) afasta a possibilidade de utilização da medida
provisória para este fim. Assim, não pode haver a edição de MP para
alteração ou supressão de espaços territoriais protegidos, muito embora o tema
não esteja no rol do art. 62, §1º.
Por fim, é necessário ressaltar que caso o decreto legislativo não seja editado em
até sessenta dias após a rejeição ou perda da eficácia da medida provisória, esta
continuará produzindo seus efeitos para preservar as relações jurídicas por ela
estabelecidas.
CF, Art. 62, § 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere
o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de
medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes
de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela
regidas.
- Súmula Vinculante 54: A medida provisória não apreciada pelo congresso nacional
podia, até a Emenda Constitucional 32/2001, ser reeditada dentro do seu prazo de
eficácia de trinta dias, mantidos os efeitos de lei desde a primeira edição.
(…)
Padrão de Resposta
a) Conforme prevê o art. 39, §2º da lei 4.320/64, as tarifas e os preços públicos
constituem dívida ativa não tributária da fazenda pública, podendo assim, serem
cobradas através do rito executivo fiscal previsto na lei 6.830/80 (LEF).
Nesse sentido, a defesa cabível seriam os embargos à execução fiscal, na forma do art.
16 da LEF, e seus requisitos intrínsecos são o prazo próprio de 30 dias e a garantia da
execução, segundo o §1º do art. 16. Porém, já decidiu o STJ que, embora a garantia do
juízo continua a ser uma condição específica da ação, se não houver a garantia ou esta
for insuficiente, os embargos não devem ser rejeitados de plano. Deve ser concedido
um prazo para que o executado apresente ou reforce a garantia. Na mesma linha,
também já decidiu o STJ que deve ser afastada a exigência da garantia do juízo para a
oposição de embargos à execução fiscal, caso comprovado inequivocadamente que o
devedor não possui patrimônio para garantia do crédito exequendo, tudo em
homenagem à garantia fundamental do acesso a justiça (art. 5º, XXXV CF).
b) Como se sabe, para que a Defensoria Pública patrocine uma pessoa, esta, em linha
gerais, precisa demonstrar que não possui condições de contratar um advogado
particular. Isso se dá através do preenchimento de alguns requisitos específicos, como
a comprovação de renda. Entretanto, decidiu o STJ pela possibilidade do recebimento
dos embargos à execução fiscal sem a apresentação de garantia do juízo, quando
efetivamente comprovado o estado de hipossuficiência patrimonial do devedor, não
sendo suficiente, para esse mister, a concessão da assistência judiciária gratuita por
parte da Defensoria Pública. Para a Corte, caso assim fossem admitidos os embargos,
ocorreria uma injustificada inversão do ônus probatório em face do exequente, o que
inverte a lógica do art. 16 §1º da Lei de Execuções fiscais, enquanto norma especial.
Nesse sentido, apesar de ser beneficiária da assistência judiciária gratuita, para que
seus embargos sejam admitidos, Teresa deve comprovar, na ação de execução fiscal,
sua hipossuficiência, para assim ser dispensada da apresentação de bens à garantia.
ESPELHO DE CORREÇÃO
COMENTÁRIOS
Execução fiscal
De acordo com o art. 1º da LEF, também poderá ser aplicado o NCPC (norma
geral) em caso de lacuna. No entanto, em alguns casos, a LEF não é lacunosa,
trazendo um tratamento diferenciado. Nesse ponto, há discussões nas ocasiões em
que o regime do NCPC é mais favorável ao credor do que aquele trazido pela LEF
para o credor fazendário. Assim, defende-se que seja aplicável a norma geral do
NCPC, aplicando-se a teoria do diálogo das fontes, para dar coerência ao sistema,
uma vez que não haveria sentido que o credor fazendário tivesse um regramento
menos benéfico que o credor geral. Veremos algumas situações mais à frente.
Legitimidade Ativa:
Veja que a LEF só diz respeito a pessoas jurídicas de direito público, que se
inserem no conceito de fazenda pública.
ATENÇÃO Nos créditos não - tributários, não há lançamento e, portanto, aqui não há
a presunção de legitimidade que encontramos nos créditos tributários. Assim, o STJ
entende que, para se inscrever em dívida ativa, o crédito precisa ser exigível, líquido
e certo; é necessário um processo de liquidação do crédito, em que se assegure a
ampla defesa e o contraditório. O ente não pode simplesmente pegar a obrigação
contratual e inscrever em dívida ativa.
Faltando um desses requisitos, aquela inscrição não será válida, mas sim nula
por vício de forma (art. 2º, §8º da LEF e art. 203 do CTN). No entanto, essa nulidade
pode ser sanada até a decisão de primeira instância.
§ 8º - Até a decisão de primeira instância, a Certidão de Dívida Ativa
poderá ser emendada ou substituída, assegurada ao executado a
devolução do prazo para embargos.
Ademais a jurisprudência tem aplicado o brocardo “pas de nullité sans grief” (não
há nulidade sem prejuízo), pois se a CDA indica perfeitamente o devedor e
especifica a exigência fiscal, eventual omissão incapaz de gerar prejuízo ao
executado (Ex: ausência de indicação do livro ou da folha de inscrição) não gera a
nulidade do processo.
Legitimidade Passiva:
A Lei de Execução Fisca traz, em seu art. 4º, os legtimados passivos, senão
vejamos:
Art. 8º, I - a citação será feita pelo CORREIO, com aviso de recepção,
se a Fazenda Pública não a requerer por outra forma;
II - a citação pelo correio considera-se feita na data da entrega da carta
no endereço do executado, ou, se a data for omitida, no aviso de
recepção, 10 (dez) dias após a entrega da carta à agência postal;
De acordo com os incisos III e IV, também é possível a citação por edital. No
entanto, de acordo com o Resp 1103050 e a Súmula 414 do STJ, não se trata de uma
alternativa à fazenda. Primeiro tem que citar por oficial de justiça e só vai se chegar à
citação por edital quando esgotadas as tentativas de citação pessoal. A citação por
edital, por ser ficta, precisa ser vista como última opção.
O art. 20 da Lei 6.830/80 ainda menciona a citação por carta precatória, quando
a pessoa está localizada em uma outra comarca.
Não existe na LEF a previsão de citação por carta rogatória. E não se trata de
uma lacuna: se a pessoa está fora do país, a solução dada pela LEF é a citação por
edital, independentemente de estar em local certo e sabido:
Art. 8º, § 1º - O executado ausente do País será citado por edital, com
prazo de 60 (sessenta) dias.
Também não há menção na LEF à citação por hora certa. Assim, alguns
autores, como Mauro Luis Rocha Lopes, entendem que a mesma não seria possível,
de modo que frustrada a citação pessoal, o caminho será a citação editalícia. No
entanto, a jurisprudência tem entendido ser possível, como uma forma de citação por
oficial de justiça.
Embargos à execução:
Prazo:
O STJ também tem uma jurisprudência pacifica entendendo que o prazo para
embargar começa a contar da intimação da primeira penhora, ainda que esta tenha
sido insuficiente. Assim, o prazo começa da primeira penhora, e não da data do
eventual reforço de penhora ou da substituição do bem, que não irão reabrir o prazo
para embargos. Ademais, só seriam possíveis novos embargos se estes versarem
sobre algum vício da nova penhora ou do reforço ou sobre matérias cognoscíveis de
ofício:
Garantia da Execução
Não havendo garantia do juízo, qual o termo inicial de contagem do prazo para
embargos?
Padrão de Resposta
ESPELHO DE CORREÇÃO
Apontar a inconstitucionalidade da LC 20
COMENTÁRIOS
A Defensoria na Constituição
Princípios institucionais da DP
1. Unidade
2. Indivisibilidade
O art. 4º-A da Lei Complementar nº 80/94 prevê o patrocínio dos direitos e interesses
dos assistidos da Defensoria pelo defensor natural.
Art. 4º-A. São direitos dos assistidos da Defensoria Pública,
além daqueles previstos na legislação estadual ou em atos
normativos internos:
(...)
IV – o patrocínio de seus direitos e interesses pelo defensor
natural;
3. Independência funcional
Garantias e Prerrogativas
As garantias institucionais são normas que buscam garantir a plena liberdade de
atuação dos Defensores Públicos, independentemente de pressões internas ou
externas que possam prejudicar o exercício das atribuições legais.
As garantias não devem ser vistas como privilégios corporativos, mas sim como
mecanismos destinados a preservar o interesse público na boa atuação da Defensoria
Pública.
De acordo com Diogo Esteves e Franklyn Roger, para garantir a plena proteção
dos direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais da
sociedade, a Defensoria Pública deve dispor dos mecanismos jurídicos que lhe
permitam realizar suas finalidades legais. Assim, lecionam:
ATENÇÃO DPE/RJ
Na ADI 230 (2010), o STF julgou inconstitucional o art. 178, IV, da Constituição
Estadual do Rio de Janeiro, que assegurava o poder de requisição dos Defensores
Públicos estaduais em face de entidades públicas e privadas.
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
O art. 134 da Constituição Federal, com redação dada pela EC 80/2014, configura
concretização do direito constitucional ao acesso à justiça, insculpido no art. 5º, LXXIV.
Nesse sentido, assim como ocorre com o Ministério Público, igualmente legitimado
para a proteção de grupos vulneráveis, os poderes previstos à Defensoria Pública, seja
em sede constitucional - como a capacidade de se autogovernar - ou em âmbito
infraconstitucional - como a prerrogativa questionada de requisição - foram atribuídos
como instrumentos para a garantia do cumprimento de suas funções institucionais.
Além disso, esse poder de requisição serve como um auxílio para o assistido
conseguir obter os documentos que necessita para a garantia de seus direitos,
diminuindo o tempo que os hipossuficientes precisarão esperar para serem atendidos.
CF/88
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
CPP
Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será
iniciado:
I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério
Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver
qualidade para representá-lo.
Não se poderia dizer que essa norma trata sobre procedimentos e sobre
Defensoria Pública, matérias que são de competência concorrente (art. 24, XI e
XIII, da CF/88)?
PADRÃO DE RESPOSTA
A injúria racial implica uma conduta discriminatória direcionada dolosamente a uma só
pessoa, capaz de ferir sua honra subjetiva, ao passo que o racismo seria direcionado a
um grupo todo de pessoas (ainda que proferido contra uma só pessoa).
Desde janeiro deste ano, a partir de uma alteração legislativa, o crime de injúria racial
passou a ser equiparado ao de racismo. Isso significa a possibilidade de aplicação de
penas maiores àqueles que são responsabilizados por cometerem atos de
discriminação em função de cor, raça ou etnia, e o fato de tornar-se imprescritível,
podendo ser julgado a qualquer tempo. Além disso, deixou de haver a possibilidade de
os réus desses casos responderem ao processo em liberdade, a partir do pagamento
de fiança, que antes podia ser fixada pela autoridade policial.
Logo, na situação fática descrita, o crime em comento é imprescritível.
ESPELHO
TOTAL: ALUNO:
COMENTÁRIOS
Desde 12 de janeiro de 2023, com a sanção da Lei 14.532, a prática de injúria racial
passou a ser expressamente uma modalidade do crime de racismo, tratada de acordo
com o previsto na Lei 7.716/1989. Até então, a injúria racial estava prevista apenas no
Código Penal, com penas mais brandas e algumas possibilidades que agora deixam de
existir.
A mudança foi importante por reconhecer que a injúria racial também consiste em ato
de discriminação por raça, cor ou origem que tem como finalidade, a partir de uma
ofensa, impor humilhação a alguém. A alteração legislativa acompanha recentes
entendimentos dos Tribunais Superiores que já vinham afirmando que o crime de
injúria racial não prescreve e que poderiam ser enquadrados como racismo.
Prescrição e fiança
Uma das alterações diz respeito a não ser mais possível àqueles que cometem o crime
de injúria racial responderem ao processo em liberdade, a partir do pagamento de
fiança arbitrada pelo Delegado de Polícia – o que antes era possível.
Outra mudança importante é que agora a injúria racial é um crime imprescritível, ou
seja, a qualquer tempo, independente de quando o fato aconteceu, o mesmo pode ser
investigado e os responsáveis processados pelos órgãos do sistema de justiça e, se
condenados, receberam as penas previstas na legislação.
Penas aumentadas
Com o novo texto, a pena prevista para o crime de injúria racial – caracterizado quando
a motivação é relacionada a raça, cor, etnia ou procedência nacional – que era de um
a três anos, passou a ser de dois a cinco anos de reclusão.
Racismo recreativo
Também houve mudança para o tratamento do chamado racismo recreativo, que
consiste em ofensas supostamente proferidas como “piadas” ou “brincadeiras”, em
contexto ou com intuito de descontração, diversão ou recreação, mas que tenham
caráter racista. Para esses casos, a pena foi aumentada de um terço até a metade,
podendo ainda ser agravada se cometida ou difundida por meio de redes sociais ou
publicações de qualquer natureza.
OBS: O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o crime de injúria racial
configura uma forma de racismo e é imprescritível. Por maioria de votos, o colegiado negou
o Habeas Corpus (HC) 154248, em que a defesa de uma mulher condenada por ter ofendido
uma trabalhadora com termos racistas pedia a declaração da prescrição da condenação,
porque tinha mais de 70 anos quando a sentença foi proferida.
Injúria qualificada
Equivalência
Crime inafiançável
Inferiorização da vítima
Foi o homicídio de George Floyd, 46, um homem negro, em Minnesota, nos Estados
Unidos, causou uma onda de indignação depois da divulgação de um vídeo que mostra
um policial branco usando o joelho para asfixiá-lo.
3. RACISMO ESTRUTURAL/INSTITUCIONAL:
PADRÃO DE RESPOSTA
No caso narrado, Pedro era reincidente, mas não em crime com violência/grave
ameaça (reincidente específico).
Só incidirá a porcentagem de 30% se o apenado for reincidente específico. No caso da
questão ele era reincidente genérico porque sua condenação anterior era por um crime
de furto. Assim, errado o entendimento do juiz, já que diante da lacuna deixada pelo
legislador, impõe-se a analogia in bonam partem, para aplicação, inclusive retroativa, do
inciso III do artigo 112 da LEP (lapso temporal de 25%) ao condenado por crime
cometido com violência à pessoa ou grave ameaça reincidente não específico.
Conforme já decidido pelo STJ, ao sentenciado que cometeu crime com violência
contra a pessoa ou grave ameaça, mas não é reincidente em delito da mesma
natureza (reincidente específico) – portanto, primário ou reincidente genérico –, deve
ser aplicado o patamar de 25% de cumprimento da pena, como prevê o inciso III do
artigo 112 da LEP.
ESPELHO
TOTAL: ALUNO:
COMENTÁRIOS
Falta Grave
Lei de Execução Penal - LEP
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de
liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a
disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a
integridade física de outrem;
IV - provocar acidente de trabalho;
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo
39, desta Lei.
VII - tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico,
de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos
ou com o ambiente externo. (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007)
REGIMES DE CUMPRIMENTO
Se faz necessário ainda versar sobre um regime especial, sendo aplicável às mulheres
em razão de suas condições e direitos pessoais:
Somado aos requisitos objetivos gerais, o art. 112, § 1º, da LEP, exige também um
requisito objetivo para a possibilidade de progressão.
PADRÃO DE RESPOSTAS
ESPELHO:
TOTAL 100
COMENTÁRIOS:
O gabarito dessa questão foi enfrentado pelo STJ recentemente, motivo pelo qual
achamos interessante abordar aqui e trazer para a preparação de vocês.
Apreciando o Tema 983 sob a sistemática dos recursos repetitivos, o colendo STJ
sedimentou o entendimento de que, nos casos de violência contra a mulher praticados
no âmbito doméstico e familiar, é possível a fixação de valor mínimo indenizatório por
danos morais, ainda que não especificada a quantia, e independentemente de instrução
probatória para esse fim.
Ademais, sendo o direito penal a ultima ratio, toda e qualquer infração penal também é
um ilícito civil, que causa, in re ipsa, ao menos dano moral, de modo que a fixação de
valor mínimo sob esse título não macula o processo penal.
E isso por quê? Porque o principal objetivo da ordem jurídica é proteger o lícito e
reprimir o ilícito. Nesses termos, vejam o que leciona Sérgio Cavalieri filho:
Sobre esse ponto, vale frisar que em uma prova, é importante classificar a
responsabilidade civil como acessória ao dever originário de não causar dano a
ninguém, é secundária, portanto, somente existindo após a violação.
Tanto é assim que o Código Civil faz essa distinção entre obrigação e responsabilidade
no seu art. 389.
{grifos nossos}
(p. 29/30)
TÍTULO III
CAPÍTULO I
Da Obrigação de Indenizar
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Portanto, cabe ao juiz fixar o valor, o que nos responde a pergunta acerca da
(des)necessidade da parte autora indicar o valor que deseja, bastando que explicite nos
pedidos o desejo de pleitear a indenização por danos morais cabível.
Sobre essa fixação, vale colacionar alguns julgados, com as seguintes premissas: 1 –
deve haver proporcionalidade na fixação do valor, 2 – o caráter pedagógico impõe que
o valor não seja irrisório e 3 – desnecessidade da estimativa de valor pela parte, por
conta do próprio art. 387, IV, do CPP:
Vejamos que o STF (no ARE 1260888/MS) determinou que, em razão do caráter
pedagógico do valor fixado para indenização por danos morais no caso de violência
doméstica, este não poderá ser nem irrisório e nem elevado demais a ponto de reduzir
o devedor ao mínimo existencial.
In verbis:
O nexo causal é o liame subjetivo que interliga os dois elementos supra, de modo a
vincular a causalidade entre a conduta do agente e o resultado, comprovando que sem
que aquele tenha praticado o ato, não haveria resultado danoso apto a ensejar o dever
de indenizar.
O Código Civil estabelece que qualquer pessoa que cometa um crime contra outra,
causando algum tipo de dano, é obrigada a repará-lo. Vejam ainda trechos de alguns
julgados do STJ em que a responsabilidade civil foi atraída para a esfera penal, como
decorrência lógica do dever de indenizar pela violência causada à vítima: