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EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA 9ª VARA CÍVEL FEDERAL

DE SÃO PAULO-SP.

Distribuição por dependência ao


Processo: 5018263-71.2021.4.03.6100

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx,
2006 AP 102, Vila Ivone, SÃO PAULO/SP, CEP: 3275000., já
devidamente qualificados nos autos do processo principal em
epígrafe, vem, por meio de seus advogados in fine assinados, com o
devido respeito, apresentar

EMBARGOS À AÇÃO MONITÓRIA em face de:

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, instituição


financeira sob a forma de empresa pública federal, inscrita no
CNPJ/MF sob nº 00.360.305/0001-04, com o seu Jurídico Regional
de São Paulo situado na Avenida Paulista nº 750, 14º andar, Bela
Vista, Capital/SP - CEP 01310-908.

Aduz a embargada em suas razões,


pretensão fundada nos Contratos de números
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, que segundo a embargada
perfazem o montante atualizado de R$ 124.134,56(Cento e vinte e
quatro mil e cento e trinta e quatro reais e cinquenta e seis
centavos), dos quais foram objetos de cédula de créditos bancários.

Excelência, a embargante comprovará, de


forma inequívoca, a gama de nulidades que viciam o contrato
celebrado e a presente demanda e ainda que, a embargada afronta e
desrespeita as regras contratuais e consequentemente desrespeita
as regras constitucionais, ordinárias, entre outras, o Código de
Defesa do Consumidor bem como as Instruções do Banco Central do
Brasil.

INEXIGIBILIDADE DO INSTRUMENTO APRESENTADO

Nobre e Respeitadíssimo Julgador, buscando


instituir uma pretensão forçada, a embargada apresentou contrato de
abertura de crédito, consoante documento acostado aos autos de
ação monitória, bem como de maneira falaciosa narrou que a
embargante “simplesmente” não quis efetuar o pagamento, uma
absurda inverdade.

A embargante vem insistentemente tentando


pagar o valor correto, o valor justo a embargada.

Tal pretensão não há como prosperar, mas


não meramente por “amor ao debate”, mas sim para que essa
Justiça Efetiva possa prevalecer e definitivamente a instituição
bancária, ora embargada, possa receber o justo e o correto, situação
que por vezes a embargante tentou, mas, no entanto, não logrou
êxito.

NO MÉRITO

Mister se faz ressaltar o mérito da ação


principal, o qual, não pode prosperar face à ilegalidade das taxas de
juros e forma de atualização pretendida pelo exequente.

A embargante não deve em absoluto a


importância expressa na inicial dos autos principais. Sob a ótica legal
deve-se efetuar o recálculo das transações, levando-se em conta
principalmente as taxas de juros legais.

Os juros praticados são insuportáveis, pois,


são capitalizados, incorporam-se ao saldo devedor sempre que
apurados.

Vale destacar MM. Juiz, que para a obtenção


do saldo devedor atualizado, deve-se proceder ao recálculo
considerando-se a reposição do poder de compra da moeda, através
do IGPM e juros remuneratórios de 1% a.m.
Portanto, inconcebíveis os valores pretendidos
pela embargada.

Destarte, sendo indevida a quantia expressa


na ação monitória, se viu a embargante impedida de efetuar o
pagamento amigavelmente, ante a intransigência da exequente em
adequar os valores de acordo com o pactuado e com o permitido
pela legislação, razão pela qual apresenta os presentes embargos à
ação monitória, que espera mui Respeitosamente e por uma questão
de Justiça, sejam julgados procedentes.

A QUESTÃO VISTA SOB O ANGULO DO CÓDIGO DE DEFESA


DO CONSUMIDOR

Os elementos que integram a relação de


consumo estão presentes no instrumento contratual que é objeto de
análise, o que implica na aplicação do Código de Defesa do
Consumidor.

A embargada enquadra-se na definição do


artigo 3º do CDC, ao subsumir-se à condição de comerciante de
produtos e prestador de serviços. As instituições financeiras são
comerciantes de produtos por força de disposição do artigo 119 do
Código Comercial e artigo 2º § 1º da Lei das Sociedades Anônimas.

Dos produtos que a instituição financeira


comercializa - o dinheiro - tem especial relevância, enquanto bem
juridicamente consumível, assim como as demais mercadorias em
geral. Quanto à natureza dos serviços prestados pela embargada na
situação em exame, o legislador foi expresso ao incluir como objeto
da relação de consumo a expressão "natureza bancária", ao
conceituar serviço no § 2º do artigo 3º do CDC. É nesse sentido a
primorosa lição do eminente professor Nelson Nery Júnior:

"Os bancos são comerciantes de


produtos (art. 119, do Código Comercial;
art. 2º § 1º da Lei das S/A) e também
prestadores de serviços, de sorte que
sempre são considerados fornecedores
para o CDC (art. 3º, caput, para o BANCO
COMERCIANTE DE PRODUTOS, e art. 3º §
2º, para o BANCO PRESTADOR DE
SERVIÇOS). Dos produtos vendidos pelo
banco, o dinheiro tem relevância como
bem juridicamente consumível (art. 51, do
Código Civil), como são as mercadorias em
geral." (in Os princípios Gerais do Código
Brasileiro de Defesa do Consumidor,
Revista de direito do consumidor nº 03,
Revistas do Tribunais: São Paulo, 1992).

No outro polo da relação, encontra-se a


embargante, como consumidora, nos termos da definição do artigo 2º
do CDC. É pessoa jurídica, tendo adquirido os produtos e serviços
da instituição financeira, como destinatário final, para incremento de
suas atividades produtivas. Está presente, pois, o requisito finalístico
contido na norma.

Assim sendo, as irregularidades apontadas


também deverão ser consideradas sob a ótica do CDC, a fim de que
se de a efetiva e adequada tutela que se faz merecedora a
embargante, em razão do polo que ocupa na relação jurídica em tela,
sendo-lhe devido todos os direitos e garantias de ordem material e
processual propiciados pelo CDC.

NORMAS DE ORDEM PÚBLICA

As disposições exaradas no CDC são normas


de ordem pública, impedindo, portanto, que as partes disciplinem
relações de forma diversa aos princípios e comandos dispostos no
aludido diploma.

A principal consequência de uma norma


jurídica de ordem pública é a impossibilidade das partes contratantes
afastarem sua incidência. Segundo Miguel Reale "quando certas
regras amparam altos interesses sociais, os chamados interesses de
ordem pública, não é lícito às partes contratantes dispor de maneira
diversa."

É exatamente o que pretende a embargada ao


estipular regras contratuais que desrespeitam regras constitucionais,
ordinárias, entre outras, o CDC e Instruções do Banco Central do
Brasil, como adiante se verá.
DAS TAXAS DE JUROS ABUSIVAS

O contrato estabelece juros reais exorbitantes,


muitas vezes acima dos limites aceitos pelo sistema financeiro
instituído pela Constituição Federal. A embargada pretende cobrar
juros abusivos. Sobre o tema da nocividade de juros reais elevados e
aplicabilidade imediata do dispositivo constitucional, o eminente
Ministro do Supremo Tribunal Federal Paulo Brossard teve a
oportunidade de assinalar:

"Por maiores que sejam as


referências dadas às autoridades
monetárias, não posso fechar os
olhos para o fato certo e irremovível
que está diante de nós e que a todos
envolve a atormenta: não é de hoje
que se pretende combater a inflação
tornando o dinheiro mais caro. O
expediente tem sido recomendado e
praticado em toda parte. Mas creio
que em nenhuma parte ele tem sido
usado nas doses brutais aqui
empregadas - em meia dúzia de
semanas as taxas subiram a 4.000%.
O mais grave não determina lhe é
supérfluo o auxílio supletivo da lei,
para exprimir tudo de que o intenta, e
realizar tudo que exprime...Quando
essa regulamentação normativa é tal
que se pode saber, com precisão,
qual a conduta positiva ou negativa a
seguir, relativamente ao interesse
descrito na norma, é possível afirmar-
se que está completa e juridicamente
dotada de eficácia plena, embora
possa não ser socialmente eficaz.
Isso se reconhece pela própria
linguagem do texto, porque a norma
de eficácia plena dispõe
peremptoriamente sobre os
interesses regulados." (Artigo in
Jornal Zero Hora, edição de 04/11/91,
p.04 TB LEX JSTJ e TRF, vol. 41, p.13)
Nesse sentido citamos trecho de artigo de
autoria do eminente jurista Adriano Kalfelz Martins:

"Em nenhum momento da história


econômica e jurídica do Brasil houve
tão expressamente determinada a
limitação da taxa de juros reais, como
na atual Constituição. O art. 192, § 3º,
não excetua ninguém de seu espectro
de eficácia, não deixa lacunas e,
muito menos, cria expectativas de
exceção. Pelo contrário, é taxativo e
deve-se conceder-lhe um mínimo de
eficácia, pois senão é melhor que
risquemos a Carta Magna, sob pena
de nós, estudantes dos fatos
jurídicos, compactuarmos com a
hipocrisia e a imoralidade que se
assentou em alguns setores da
sociedade.""(in LEX JSTJ e TRF, vol
41, p. 7-34).
Ora, observa-se que a norma multicitada tem
eficácia plena, posto que seus efeitos estão claramente colocados,
regulando uma conduta que pode ou não ocorrer. A eficácia imediata
da norma constitucional é regra, necessitando de lei complementar
apenas aquelas disposições que por seu conteúdo são insuficientes,
o que não vem a ser o caso. O referido preceito contém uma
proibição, está é imperativa, sendo totalmente ilógico que se
argumente a necessidade de lei complementar que o regule.

Tal é o entendimento do Tribunal de Alçada


de Minas Gerais através de sua 3ª Câmara Cível:

"É autoaplicável o § 3º, do art. 192, da


Constituição da República, que
proíbe cobrança de juros acima de
12% do valor atualizado do débito,
pelo que exerce agiotagem quem
infrinja a regra." (Apelação Cível nº
11115947-7, Relator Ximenes
Carneiro).
Também assim entendeu a 2ª Câmara Cível
do Tribunal de Alçada do Paraná:

"JUROS - Limite Constitucional. Art.


192, § 3º da CF. Norma autoaplicável.
Necessidade de regulamentação
somente no tocante à definição da
ilicitude penal, naturalmente em
respeito ao princípio da reserva
legal." (Apelação Cível nº 43000-4,
relator Walter Borges Carneiro).

Conclui-se, que referida norma possui


aplicabilidade imediata devido ao seu caráter limitativo e impositivo,
por menos que queiram alguns setores da nossa sociedade, como os
banqueiros, que desejam continuar cobrando taxas de juros imorais
e exorbitantes.

Percebe-se, pois, que a taxa de juros cobrada


pela casa bancária é muito superior ao limite Constitucional, devendo
ser adequada.

Cumpre destacarmos ainda, a ilegalidade da


capitalização de juros.

A prática da cobrança de juros sobre juros,


constitui crime de usura. A jurisprudência dominante tem pôr preceito
que a capitalização de juros é expressamente vedada, mesmo em se
tratando de instituições financeiras.

SÚMULA 121 DO STF: "É vedada a


capitalização de juros, ainda que
expressamente convencionada."

O posicionamento do STJ sobre o tema é o


seguinte:

"A capitalização de juros é vedada,


mesmo em favor das instituições
financeiras." (Resp. 2293 - AL - Rel.
Min. Cláudio Santos, 3ª T. DJU
07/05/90, p. 3830 - RS TJ 13/352,
22/157 - in Theotônio Negrão - Código
Civil. Ed. Saraiva, p. 677).

No mesmo sentido, o entendimento do tribunal


de Alçada do Estado do Paraná:

"EMBARGOS DO DEVEDOR -
EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL - CHEQUE
ESPECIAL - JUROS

CAPITALIZADOS -
INADMISSIBILIDADE - nos chamados
cheques especiais, é inviável a
capitalização mensal de juros, dada a
natureza contratual." (Ac. Un. Do 2º
G. de Ca. Cíveis T.A - PR, nº535 - Rel.
Juiz Fernando Vidal de Oliveira - D.J.
PR. 05.05.95, p.85).

CONCLUSÃO

A embargante nunca teve e não tem


pretensão de deixar de cumprir sua obrigação. Contudo, a gama de
nulidades que viciam o contrato, e as exigências extracontratuais da
instituição bancária, tirou o equilíbrio entre as partes, sendo
necessário que o Poder Judiciário restabeleça esse equilíbrio

Justifica-se assim, diante de todo o exposto e


do mais que oportunamente se provará, a propositura do presente
embargos tem por finalidade a declaração da inexistência de relação
jurídica que obrigue os embargantes ao pagamento dos juros acima
do limite legal permitido, quiçá extorsivos.

Pelo exposto, Respeitosamente requer:

I) - Sejam os presentes embargos processados e julgados


procedentes, ante as flagrantes abusividades impostas e declinadas
no decorrer desta petição, para o fim de:

a) declarar a ilegalidade da taxa de juros cobrada além do que a


Constituição Federal permite, na forma apresentada pelo anexo
relatório de análise de transações;
b) declarar a vedação à cobrança de juros capitalizados por parte da
embargada;

c) sucessivamente aos pedidos anteriores e, a caso ultrapassado, a


impossibilidade da embargada cobrar taxa de juros acima do
pactuado;

d) a impossibilidade de cobrança cumulativa e capitalizada de juros


legais, moratórios e multa contratual;

e) que todas as publicações inerentes a presente demanda sejam


encaminhadas aos
patronosxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Requer outrossim;

1.) Depoimento pessoal, ouvida de testemunhas e realização de


perícia, se necessária;

2) - A procedência da ação e a condenação da embargada ao


pagamento das custas processuais, honorários advocatícios e
demais cominações legais.

Nestes termos
pede deferimento.

São Paulo, 22 de agosto de 2022.

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