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AO DOUTO JUÍZO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE -________/MG

PROCESSO N° XXXXXXXXXXX

XXXXXXXXXXXX, já qualificado nos autos do processo,


através de sua advogada, vem a presença de Vossa Excelência
apresentar

IMPUGNAÇÃO A CONTESTAÇÃO

Pelos motivos de fatos e de direito a seguir aduzidos.

RESUMO DA REPLICA

 Da realidade do contrato;

 Repetição de indébito;

 Ato ilícito – condenação por dano moral;

 Da inversão do ônus da prova.

I – NECESSÁRIA SINTESE DA CONSTESTAÇÃO

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A presente demanda, trata de ação de obrigação de fazer
cominada com danos morais, repetição de indébito e pedido de tutela,
contra o banco requerido, haja vista, que foi realizado um contrato de
cartão de crédito consignado sem a autorização da requerente.

Em apertada síntese, a autora, beneficiário do INSS, se


surpreendeu ao entrar em contato com o INSS e ser informada que o
contrato de empréstimo consignado, o qual acreditava ter contratado,
era empréstimo na modalidade cartão de crédito RMC.

Em sua contestação, o requerido afirmou que a contratação é


válida, afirmou a inexistência do ato ilícito, impossibilidade de
restituição dos valores e, a não configuração de danos morais.

“Data máxima vênia”, as alegações do Requerido não merecem


prosperar, devendo a presente demanda ser julgado totalmente
precedente, nos mesmos moldes da exordial, conforme restará abaixo
demonstrado:

II – DO MÉRITO

Para não alongar a demanda e por entender que todos os


fundamentos articulados na peça vestibular são suficientes,
esclareceremos apenas sobre alguns pontos específicos da contestação
apresentada pelo requerido.

Assim, as alegações do requerido não merecem prosperar,


senão vejamos.

II.1 – DA REALIDADE DO CONTRATO.

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O requerente celebrou um contrato e acreditou, confiando no
requerido banco em estar contratando um empréstimo consignado,
conforme no ato do atendimento lhe foi informado.

O valor que acreditava ter contratado, na modalidade


empréstimo consignado, foi liberado via TED, na conta corrente em
nome do autor e seria pago em 30 parcelas fixas de R$ 52,25 (cinquenta
e dois reais e vinte e cinco centavos).

Ocorre Excelência, que após acreditar e confiar no requerido


banco, o requerente entrou em uma dívida impagável, diferente do que
lhe foi informado no atendimento, e o produto não lhe foi explicado de
forma clara e adequada, aproveitando da idade e falta de entendimento,
não sabe e não entende de crédito, sempre confiou e acreditou no
atendimento.

Com as informações prestada pelo requerido, o requerente


contratou o empréstimo confiando na boa-fé e na informação,
acreditando estar de forma adequada.

A instituição Reclamada alega que o contrato foi celebrado em


consonância com as normas legais e de boa-fé, não havendo que se
falar em nulidade ou modificação dos termos.

No presente caso, o abuso praticado pela instituição fica


claro ao induzir o Reclamante a erro e os vícios de informação e
consentimento.

Em uma simples análise do caso, a VULNERABILIDADE do


consumidor, fica perfeitamente demonstrada pela
HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA E IDADE AVANÇADA, o total
desconhecimento por parte do Reclamante sobre as nuances e detalhes
do serviço contratado, confirmando o distanciamento técnico entre
ambas as partes, pois, quando celebrado o contrato, o Reclamante
acreditou tratar-se de empréstimo consignado convencional, e não um
cartão de crédito.
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O Código de Defesa do Consumidor dispõe expressamente o
dever de informação no âmbito contratual, vejamos:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de
seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de
vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios:
(...)
IV - educação e informação de fornecedores e
consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com
vistas à melhoria do mercado de consumo;

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


(...)
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes
produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade,
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
(...)

Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem


assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas
e em língua portuguesa sobre suas características,
qualidades, quantidade, composição, preço, garantia,
prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como
sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos
consumidores.
(...)

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não


obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a
oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu
conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem
redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu
sentido e alcance.

O professor Bruno Miragem ao disciplinar sobre a


matéria, esclarece:

"O vício de informação caracteriza-se como sendo o


originário direito de informação do consumidor
que termina atingindo a finalidade legitimamente
esperada por um determinado produto ou serviço .
Assim o é, por exemplo, no caso de um aparelho
elétrico cuja voltagem, não informada
adequadamente na embalagem (...). Em todos estes
casos, existe violação ao dever de informar do
fornecedor e, portanto vício do produto qualificado
como vício de informação (...)" (in Curso de Direito
do Consumidor, 6ª ed. Editora RT, 2016. p.660)

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No presente caso, ao adquirir o serviço oferecido, o
Reclamante recebeu informações claras de que o contrato
celebrado se tratava de um empréstimo consignado convencional,
onde o valor seria creditado diretamente em sua conta corrente, e
o valor das parcelas seriam descontadas mensalmente.

Em momento algum a preposta da instituição Reclamada


informou tratar-se de cartão de crédito consignado, tampouco
informou como funcionava referido tipo de empréstimo, muito menos
disponibilizou uma cópia do contrato.

Sendo assim, houve a violação ao princípio da boa-fé


objetiva pela instituição financeira Reclamada, vez que não atendeu
à norma implícita de conduta consistente em informar previamente o
consumidor sobre as consequências da contratação a prazo.

O princípio da boa-fé objetiva é o fundamento jurídico do


direito à informação plena, inclusive sobre o preço que é pago pelo
produto/serviço que se adquire.

A instituição Reclamada em momento algum alertou o


Reclamante que os valores descontados em sua folha de pagamento
corresponderiam ao mínimo de uma fatura de cartão de crédito, ao
contrário, a correspondente bancária informou que se trata de um
empréstimo convencional.

Portanto, caracterizada a FALHA NA INFORMAÇÃO (art.


51, IV, XV, §1º, III, do CDC), ou seja, configura um vício da lesão
consumerista que afasta por completo a função social dos contratos
(arts. 421 e 2035, Parágrafo Único, do CC) e prejudica o equilíbrio das
relações de consumo, incorrendo em significativo dano à parte
Reclamante, gerando inclusive o dever de indenizar em razão do
princípio da reparação objetiva nos termos do art. 14, do CDC.

O requerente não quer levar vantagem contra o requerido,


porem está lesada pela atuação do réu. A intenção da autora não é se
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eximir de sua obrigação, mas ver seus direitos preservados diante da
falta de informação e boa-fé por parte do requerido.

Por esta razão, serve a presente demanda para requere que


seja declarado nulo o contrato, com a transformação da dívida em
empréstimo consignado tradicional, devendo assim, o contrato ser
recalculado pela taxa média de mercado e, conforme cálculos
trazidos juntos a inicial já se encontra plenamente quitado.

II.2 – DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO

Com a recente mudança de entendimento do STJ, PARA QUE


HAJA CONFIGURAÇÃO DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO, NÃO É
NECESSÁRIA A COMPROVAÇÃO DA MÁ-FÉ, conforme a tese fixada no
EAREsp 676.608 paradigma, julgado no dia 21.10.2020:

A restituição em dobro do indébito (parágrafo único do artigo


42 do CDC) independe da natureza do elemento volitivo do fornecedor
que cobrou valor indevido, revelando-se cabível quando a cobrança
indevida consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva

Basta que seja contrária à boa-fé objetiva, fator que está no


DNA de todas as relações contratuais e nas normas do CDC que a
devolução em dobro é válida.

Pode-se dizer, em linhas gerais, que a boa-fé subjetiva é


aquela que analisa a intenção do agente, se contrapondo à má-fé, já a
boa-fé objetiva a um comportamento, ao respeito à intenção do
pactuado ou da promessa, ao agir com lealdade jurídica.

Ainda que a comprovação da má-fé seja prescindível, está


plenamente demonstrado a má-fé e falta de informação por parte do
requerido.

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Portanto, deverão ser devolvidas em dobro todas as parcelas
descontadas indevidamente da folha de pagamento da autora.

II.3 DO DANO MORAL

Esclarecido, antes, que a relação jurídica entabulada entre as


partes é consumo, aplica-se, por isso, a teoria da responsabilidade
objetiva.
No plano do direito civil, para a configuração do dever de
indenizar, segundo as lições de Caio Mário da Silva Pereira, faz-se
necessária a concorrência dos seguintes fatores:
em primeiro lugar, a verificação de uma conduta
antijurídica, que abrange comportamento contrário a
direito, por comissão ou por omissão, sem
necessidade de indagar se houve ou não o propósito
de malfazer; b) em segundo lugar, a existência de
um dano, tomada a expressão no sentido de lesão a
um bem jurídico, seja este de ordem material ou
imaterial, de natureza patrimonial ou não
patrimonial; c) e em terceiro lugar, o estabelecimento
de um nexo de causalidade entre um e outro, de
forma a precisar-se que o dano decorre da conduta
antijurídica, ou, em termos negativos, que sem a
verificação do comportamento contrário a direito não
teria havido o atentado ao bem jurídico [ ... ]

Com essa perspectiva, reza a Legislação Substantiva Civil que:

Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, viola direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito. “

Ademais, aplicável ao caso sub examine a doutrina do “risco


criado” (responsabilidade objetiva), igualmente posta no Código Civil, o
qual assim prevê:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

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Parágrafo único - Haverá obrigação de reparar o
dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.

Nesse compasso, lúcidas as lições de Pablo Stolze


Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho:

Muitos desconhecer, mas KARL LARENZ, partindo


do pensamento de HEGEL, já havia desenvolvido a
teoria da imputação objetiva para o Direito Civil,
visando estabelecer limites entre os fatos próprios e
os acontecimentos acidentais.
No dizer do Professor LUIZ FLÁVIO GOMES: ‘A teoria
da imputação objetiva consiste basicamente no
seguinte: só pode ser responsabilizado penalmente
por um fato (leia-se a um sujeito só poder ser
imputado o fato), se ele criou ou incrementou um
risco proibido relevante e, ademais, se o resultado
jurídico decorreu desse risco. ‘
Nessa linha de raciocínio, se alguém cria ou
incrementa uma situação de risco não permitido,
responderá pelo resultado jurídico causado, a
exemplo do que corre quando alguém da causa a um
acidente de veículo, por estar embriagado (criado do
risco proibido), ou quando se nega a prestar auxílio
a alguém que se afoga, podendo fazê-lo,
caracterizando a omissão de socorro (incremento do
risco).
Em todo as essas hipóteses, o agente poderá ser
responsabilizado penalmente, e, porque não dizer,
para aqueles que admitem a incidência da teoria no
âmbito do Direito Civil.

Nesses termos, configurados os pressupostos à


responsabilidade civil: conduta lesiva, nexo causal e dano.

O Requerido alega em sua contestação que inexiste ato ilícito


imputável a ele, assim, não teria a obrigação de indenizar a autora,
entretanto tal alegação não merece guarida.

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No presente caso, o dano moral se mostra manifesto,
decorrente do ato ilícito em contratar cartão de crédito consignado, e
informando a requerente se tratar de empréstimo consignado.

Ainda que o dano moral neste caso seja in re ipsa, o autor


ciente do seu dever processual, trouxe inúmeras provas do latente dano
moral que sofreu, portanto, de rigor a condenação do Requerido em
danos morais.

E tal indenização não deve somente levar em conta os danos


causados à Autora, mas também o caráter punitivo, pois o golpe
aplicado diariamente afronta o direito à liberdade, transfere aos
consumidores o ônus da prova, pode induzir os consumidores a cair em
outro golpe e proporciona o enriquecimento ilícito do requerido em
detrimento dos menos afortunados.

Além do dano moral causado pela contratação indevida, houve


ainda o desvio produtivo do consumidor.

Devemos observar a teoria do desvio produtivo do consumidor


deixa claro que o consumidor, por ficar absolutamente vulnerável e
tendo em vista as práticas abusivas por parte dos bancos, evidencia que
a autora sofreu com a PERDA DE SEU TEMPO PRODUTIVO, ou seja, o
tempo que o mesmo teria para outras atividades (seja descansar ou
trabalhar) não foi utilizado para o seu devido fim, por um problema
ocasionado NÃO por sua culpa, mas por culpa da empresa.

Além da reparação pela falha na prestação de serviço, a teoria


do Desvio Produtivo do Consumidor, criada pelo advogado Marcos
Dessaune, defende que todo tempo desperdiçado pelo consumidor para
a solução de problemas gerados por maus fornecedores constitui dano
indenizável.

Tal teoria deixa claro que o consumidor, por ficar


absolutamente vulnerável e tendo em vista as práticas abusivas por
parte dos fornecedores de produtos e serviços, evidência que a Autora
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sofreu com a PERDA DE SEU TEMPO para outras atividades (seja
trabalhar ou descansar). O seu tempo não foi utilizado para o seu
devido fim, por um problema ocasionado NÃO por sua culpa, mas por
culpa da empresa.

E vale ressaltar que entrar em contato com o requerido é uma


tarefa árdua e perigosa.

Ora, Excelência, exigir que o consumidor que está sendo


golpeado tenha que percorrer todo este caminho para se ver livre de um
empréstimo que não contratou, é desestimulador, pois na maioria das
vezes, ao tentar resolver seu problema extrajudicialmente, não vê seu
pedido atendido ou é preciso gastar horas de seu precioso tempo ou até
pode ser vítima de um novo golpe.

Por outro lado, é estimulante ao Banco, já que o consumidor,


TENDO CIÊNCIA DA LONGA JORNADA QUE PERCORRERÁ PARA SE
VER LIVRE DE UM PROBLEMA QUE NÃO CAUSOU, muitas vezes não
questiona e realiza a simples e prazerosa tarefa de aceitar aquilo que
lhe é imposto.

Salienta-se, que não se quer, de forma alguma, estimular o


litígio desmedido, mas como comprovado está nos autos, tentar resolver
amigavelmente não só se mostrou infrutífero, como também só fez a
Autora despender tempo em vão.

II.4 – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

In casu, há uma relação consumerista. Em regra, o ônus da


prova incumbe a quem alega o fato gerador do direito mencionado ou a
quem o nega fazendo nascer um fato modificativo, conforme disciplina o
artigo 333, incisos I e II do Código de Processo Civil.

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No entanto, o Código de Defesa do Consumidor,
representando uma atualização do direito vigente e procurando
amenizar a diferença de forças existentes entre polos processuais onde
se tem num ponto, o consumidor, como figura vulnerável e noutro, o
fornecedor, como detentor dos meios de prova que são muitas vezes
buscados pelo primeiro, e às quais este não possui acesso, adotou
teoria moderna onde se admite a inversão do ônus da prova justamente
em face desta problemática.

Havendo uma relação onde está caracterizada a


vulnerabilidade entre as partes, como de fato há, este deve ser
agraciado com as normas atinentes na Lei no. 8.078-90, principalmente
no que tange aos direitos básicos do consumidor, e a letra da Lei é
clara.

Ressalte-se que se considera relação de consumo a relação


jurídica havida entre fornecedor (artigo 3º da LF 8.078-90), tendo por
objeto produto ou serviço, onde nesta esfera cabe a inversão do ônus da
prova, especialmente quando:

“ O CDC permite a inversão do ônus da prova em


favor do consumidor, sempre que for hipossuficiente
ou verossímil sua alegação. Trata-se de aplicação do
princípio constitucional da isonomia, pois o
consumidor, como parte reconhecidamente mais
fraca e vulnerável na relação de consumo (CDC 4º,
I), tem de ser tratado de forma diferente, a fim de
que seja alcançada a igualdade real entre os
participes da relação de consumo. O inciso
comentado amolda-se perfeitamente ao princípio
constitucional da isonomia, na medida em que trata
desigualmente os desiguais, desigualdade essa
reconhecida pela própria Lei.” (Código de Processo
Civil Comentado, Nelson Nery Júnior et al, Ed.
Revista dos Tribunais, 4ª ed.1999, pág. 1805, nota
13).

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Diante exposto com os fundamentos acima pautados,
requer a autora a inversão do ônus da prova, incumbindo o réu à
demonstração de todas as provas referente ao pedido da petição
inicial.

III - REQUERIMENTOS

ISTO POSTO, a Autora impugna amplamente a contestação


apresentada pelo REQUERIDO, e, respeitosamente requer:

a) Requer que seja julgado totalmente procedente a presenta


ação, reiterando os pedidos elencados na inicial;

b) A condenação do requerido no pagamento de custas


processuais e aos honorários advocatícios na forma da lei.

Termos em que

Pede e espera deferimento

XXXXXXXXXXXX, 23 de agosto de 2021

XXXXXXXXXXXX OAB/MG

XXXXXXXXXXXX.

XXXXXXXXXXXX

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