Tutela provisória prosseguimento do processo para,
posteriormente, haver ou não a
1. Tutelas provisórias e berço
constitucional (art. 5º, XXXV e LXXVIII, da
CF)
• As tutelas provisórias, de modo
geral, têm berço constitucional. A
doutrina sustenta que há duas
garantias previstas na CF que
justificam a disciplina da tutela
provisória: acesso à justiça e
razoável duração do processo. A
partir do momento em que a CF
estabelece, no art. 5º, XXXV, que
não podem ser excluídas da
proteção do Poder Judiciário
situações de ameaça a direitos,
nascem as tutelas provisórias de
urgência.
• O inciso LXXVIII, art. 5º, CF, por sua
vez, estabelece o princípio da
razoabilidade temporal ao
asseverar que os processos, no
Brasil, devem durar por um tempo
razoável. Há situações em que o
direito da parte é tão evidente que
seria irracional conceder a tutela
jurisdicional apenas ao final do
processo. Por essa razão, justifica-
se a criação das tutelas de
evidência. Em suma, o princípio do
acesso à justiça sustenta as tutelas
de urgência. O princípio da razoável
duração do processo sustenta as
tutelas de evidência.
2. Tutelas provisórias na doutrina
(diferenças)
a) Tutela antecipada (satisfativa
provisional de urgência):
• a tutela provisória antecipada é
aquela que concede, de imediato, o
bem da vida àquele que tem o
direito. Ela é satisfativa porque
permite a obtenção dos efeitos da
tutela final. Ela é provisional, pois
não afasta a necessidade do
Júlia Santa Rosa de Luna
confirmação da tutela concedida.
• Por fim, é de urgência, pois está
fundada no “periculum in mora”.
Ex.: tutela antecipada para concessão de
cirurgia cardíaca.
b) Tutela cautelar (conservativa
provisional de urgência):
• o modelo da tutela cautelar
também é provisional e de
urgência. Entretanto, esta tutela é
conservativa, ou seja,
protege/conserva/assegura o bem,
as partes ou as provas do processo
para que, no futuro, a tutela
jurisdicional ainda seja útil.
Ex.: no arresto, os bens do devedor são
bloqueados para conservação de forma que
a execução seja viabilizada.
➢ Pontes de Miranda falava que a tutela
antecipada satisfaz para garantir e a tutela
cautelar garante para, oportunamente,
satisfazer.
c) Tutela de evidência (satisfativa
provisional):
• A tutela de urgência é satisfativa
tanto quanto a antecipada, mas
sem o caráter de urgência. Trata-se
de situação em que o juiz tutela o
direito, sem que haja perigo ou
urgência, de modo antecipado e
satisfativo, em função da evidência
do direito alegado.
Exemplo 1: artigos 3º e 4º do Decreto-Lei
911/1969 - trata da busca e apreensão do
bem dado em alienação fiduciária.
Determina o decreto que o juiz,
liminarmente, deve conceder busca e
apreensão do bem dado em alienação
fiduciária, pois se considera que o direito é
evidente (direito altamente provável).
Exemplo 2: a liminar da possessória,
prevista no artigo 562 do novo CPC,
também constitui uma tutela de evidência.
Se o esbulho ou a turbação ocorreu no
prazo de ano e dia, há o direito à
reintegração liminar da posse (não depende
da análise do “periculum in mora”).
3. Disciplina das tutelas provisórias no CPC
(294)
CPC, art. 294: “A tutela provisória pode
fundamentar-se em urgência ou evidência.
Parágrafo único. A tutela provisória de
urgência, cautelar ou antecipada, pode ser
concedida em caráter antecedente ou
incidental.”
• O CPC/2015 seguiu o modelo
doutrinário e disciplinou as tutelas
de urgência e de evidência.
a) Tutela de urgência (300/302 CPC) (com
periculum in mora).
Pode ser dividida em:
i) satisfativa/antecipada (303/304 CPC)
(incidental/antecedente)
ii) conservativa/cautelar (305/310CPC)
(incidental/antecedente)
Obs.: esses dois modelos podem ser
requeridos de modo incidental (ou seja, no
decorrer do próprio processo) ou de modo
antecedente (antes do pedido principal).
b) Tutela da evidência (311 CPC +
procedimentos especiais) (sem periculum
in mora) (só incidental)
• Neste caso, não há “periculum in
mora” e o requerimento só pode
ser feito de modo incidental, ou
seja, no bojo do processo.
• Além das hipóteses de tutela da
evidência previstas em
procedimentos especiais (como no
caso dos exemplos citados), o CPC
Júlia Santa Rosa de Luna
trouxe, no art. 311, mais quatro
casos:
CPC, art. 311: “A tutela da evidência será
concedida, independentemente da
demonstração de perigo de dano ou de
risco ao resultado útil do processo, quando:
I - ficar caracterizado o abuso do direito de
defesa ou o manifesto propósito
protelatório da parte;
II - as alegações de fato puderem ser
comprovadas apenas documentalmente e
houver tese firmada em julgamento de
casos repetitivos ou em súmula vinculante;
III - se tratar de pedido reipersecutório
fundado em prova documental adequada
do contrato de depósito, caso em que será
decretada a ordem de entrega do objeto
custodiado, sob cominação de multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova
documental suficiente dos fatos
constitutivos do direito do autor, a que o
réu não oponha prova capaz de gerar
dúvida razoável.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II
e III, o juiz poderá decidir liminarmente.”
Obs.1: o nome “tutela de evidência” só
aparece nesses casos do art. 311, CPC. Nos
procedimentos especiais, apesar de serem
também tutela de evidência, não são assim
intitulados.
Obs.2: no modelo revogado, falava-se em
cautelar satisfativa. No sistema atual, esse
modelo não existe mais.
4. Principais questões
4.1. Fim das tutelas cautelares em espécie
(poder geral de cautela do juiz - arts. 300 a
301). Exceções
• No CPC revogado, além da previsão
das cautelares gerais, havia
 cautelares em espécie. O CPC de
2015 não prevê tutela cautelar em
espécie. Assim, não há rito
específico mais para arresto,
sequestro, busca e apreensão etc.
Qualquer tutela conservativa pode
ser dada com base no poder geral
de cautela de juiz.
Obs.: o poder geral de cautela é poder
integrativo de eficácia global do magistrado,
o qual permite a concessão de qualquer
espécie de tutela conservativa com base na
probabilidade e na urgência.
Exceções: há uma parte da doutrina que
sustenta a existência de duas cautelares em
espécie (tema controverso):
1º) cautelar do atentado – previsão no art.
77, VI, CPC, c/c o art. 77, § 7º, CPC.
• O professor concorda que se trata
de uma cautelar em espécie.
2º) produção antecipada de provas – art.
381, incisos, CPC.
• Nesse caso, apesar do art. 381, I,
CPC, ter uma certa natureza
cautelar, os incisos II e III são
reconhecidos pela doutrina como
“direito autônomo à produção da
prova”.
4.2. Sumariedade da cognição
(probabilidade) (cognição vertical)
• Cognição é, segundo o professor
Kazuo Watanabe, aquilo que é
apreciado/conhecido/avaliado pelo
juiz. Ele divide a cognição em dois
planos: horizontal e vertical.
➢ No plano horizontal, a cognição analisa a
extensão em que as matérias são
apreciadas pelo juiz.
Júlia Santa Rosa de Luna
• Se não há limite na extensão, a
cognição é plena. É a regra geral do
sistema brasileiro.
• Há casos em que o sistema não
permite que a parte alegue
qualquer coisa. Nesse caso, a
cognição será limitada. É exceção
no sistema. Exemplo: art. 525, §1º,
CPC.
➢ No plano vertical, a cognição é analisada
do ponto de vista da profundidade.
• Se o juiz esmiúça toda a matéria,
analisa todos os argumentos e faz
ampla instrução, diz-se que é
cognição profunda/exauriente.
Nesse caso, há mais segurança e
menos celeridade.
• Se o sistema permitir que o juiz
profira decisões com base em
cognição mais sucinta, fala-se em
cognição sumária/superficial. Nos
juízos de probabilidade, faz-se uso
da cognição sumária. Nesse caso,
há menos segurança e mais
celeridade.
Obs.1: nas três espécies de tutela
provisória, o sistema brasileiro trabalha
com a cognição sumária.
4.3. Reversibilidade: precariedade,
revogabilidade e mutabilidade (art. 300, §
3º e 296 - Enunciados 25 ENFAM e 45 CJF)
(mesmo no caso de estabilização)
• Como a tutela é provisória, em
princípio, ela só pode ser concedida
se puder ser revertida
posteriormente. Essa é a
característica da reversibilidade.
• Apesar de o art. 300, §3º, CPC, ter
uma redação que leva a crer ser a
reversibilidade inerente apenas à
 tutela antecipada, entende-se que
a reversibilidade é exigida nas três
modalidades de tutela provisória.
Anote-se, entretanto, que a
reversibilidade pode ser in pecunia,
não necessariamente in natura.
• Em caráter excepcional, mesmo nos
casos em que há irreversibilidade
(in natura ou in pecúnia), a doutrina
e a jurisprudência sustentam que é
possível a concessão das tutelas
provisórias. Trata-se da teoria do
mal menor.
Enunciados
“18. Na estabilização da tutela antecipada,
o réu ficará isento do pagamento das custas
e os honorários deverão ser fixados no
percentual de 5% sobre o valor da causa
(art. 304, caput, c/c o art. 701, caput, do
CPC/2015).”
“25. A vedação da concessão de tutela de
urgência cujos efeitos possam ser
irreversíveis (art. 300, § 3º, do CPC/2015)
pode ser afastada no caso concreto com
base na garantia do acesso à Justiça (art. 5º,
XXXV, da CRFB).”
Obs.1: há julgados do STJ que chamam o
requisito da reversibilidade de “periculum
in mora inverso”.
Obs.2: nos termos do art. 296, CPC, as
tutelas provisórias serão sempre precárias
(com data certa para acabar), revogáveis e
mutáveis.
Atenção: as três características citadas são
válidas, inclusive, em caso de estabilização
da tutela.
4.4. Inexistência de coisa julgada material
(310 CPC). Exceções
• Como a tutela provisória não é
definitiva, inexiste coisa julgada
material. Assim, todas as decisões
Júlia Santa Rosa de Luna
proferidas no âmbito das tutelas
provisórias não são dotadas de
coisa julgada material.
• Entretanto, há duas exceções a essa
regra: decisões que reconhecem a
prescrição e a decadência. Nesses
casos há coisa julgada material.
Essas duas hipóteses estão
fundadas na economia processual.
4.5. Urgência ou preventividade
(periculum in mora) (300 CPC)
• Com exceção à tutela da evidência,
o sistema brasileiro trabalha com
tutelas fundadas na urgência ou na
preventividade. Como regra, as
tutelas provisórias caracterizam-se
pela urgência/preventividade,
porque ambas são fundadas no
periculum in mora. Isto é, o nosso
sistema estabelece a possibilidade
de tutela provisória para se evitar
risco de dano ou ao resultado útil
do processo (art. 300, CPC).
Obs.: segundo o artigo 300 do novo CPC, o
juiz concederá tutela provisória de urgência
quando, havendo probabilidade de direito,
existir perigo de dano ao direito material ou
risco ao resultado útil do processo. Acerca
do tema, há acalorada discussão doutrinária
sobre a identidade de periculum in mora
entre a tutela cautelar e a tutela antecipada.
4.6. Fungibilidade (art. 305, parágrafo,
CPC)
• O juiz pode, na prática, conceder a
tutela antecipada quando for
pedida a tutela cautelar e vice-
versa. Trata-se de fungibilidade.
• A maioria da doutrina entende que
a fungibilidade é inerente às tutelas
provisórias de urgência e, portanto,
não está presente na tutela de
evidência.
 4.7. Responsabilidade objetiva por dano
processual (302, CPC) Exceções
• Todas as tutelas provisórias
(inclusive a de evidência) geram ao
requerente a responsabilidade
objetiva por dano processual nos
casos de efetivação da medida.
Exceção: o entendimento dominante é que
essa regra não se aplica ao processo
coletivo.
4.8. Recurso cabível da decisão (art. 1015,
I; 1.021; 1.012, V, CPC)
• Da decisão interlocutória que
aprecia a tutela provisória (em
primeiro grau), cabe agravo de
instrumento. Da decisão
interlocutória do relator que
aprecia a tutela provisória, cabe
agravo interno. O juiz pode
conceder, ainda, a tutela provisória
na sentença. Neste caso, o recurso
é a apelação.
4.9. Confirmação, revogação (e o
silêncio?) ou concessão na sentença –
recurso e efeitos (1.012 § 1º, V, CPC)
• O juiz pode confirmar, cassar,
revogar ou conceder a tutela
provisória na sentença. Nesses
casos, o recurso é de apelação, mas
não possui efeito suspensivo.
• O entendimento majoritário na
doutrina é de que, em caso de
improcedência do pedido do autor,
ainda que o juiz fique silente, a
tutela provisória é revogada.
4.10. Tutela antecipada antecedente (art.
303, CPC)
a) Inicial sumarizada (06 requisitos)
Júlia Santa Rosa de Luna
• Se o pedido de tutela provisória é
feito de forma incidental, não há
nenhuma formalidade
(particularidade) em relação ao
requerimento.
• Em caso de requerimento de tutela
provisória em caráter antecedente,
há requisitos. A petição inicial será
sumária e terá seis requisitos.
“Art. 303. Nos casos em que a urgência for
contemporânea à propositura da ação, a
petição inicial pode limitar-se ao
requerimento da tutela antecipada e à
indicação do pedido de tutela final (2), com
a exposição da lide (3), do direito que se
busca realizar (4) e do perigo de dano ou do
risco ao resultado útil do processo (5).
§ 1º Concedida a tutela antecipada a que se
refere o caput deste artigo:
I - o autor deverá aditar a petição inicial,
com a complementação de sua
argumentação, a juntada de novos
documentos e a confirmação do pedido de
tutela final, em 15 (quinze) dias ou em outro
prazo maior que o juiz fixar;
II - o réu será citado e intimado para a
audiência de conciliação ou de mediação na
forma do art. 334;
III - não havendo autocomposição, o prazo
para contestação será contado na forma do
art. 335.
§ 2º Não realizado o aditamento a que se
refere o inciso I do § 1º deste artigo, o
processo será extinto sem resolução do
mérito.
§ 3º O aditamento a que se refere o inciso I
do § 1º deste artigo dar-se-á nos mesmos
autos, sem incidência de novas custas
processuais.
§ 4º Na petição inicial a que se refere o
caput deste artigo, o autor terá de indicar o
valor da causa, que deve levar em
consideração o pedido de tutela final (6).
§ 5º O autor indicará na petição inicial,
ainda, que pretende valer-se do benefício
previsto no caput deste artigo (1).
§ 6º Caso entenda que não há elementos
para a concessão de tutela antecipada, o
órgão jurisdicional determinará a emenda
da petição inicial em até 5 (cinco) dias, sob
pena de ser indeferida e de o processo ser
extinto sem resolução de mérito.”
Requisitos da inicial sumarizada:
(1) Deve constar a natureza de tutela
antecipada antecedente.
(2) Deve constar o pedido principal para
que o juiz possa verificar a
correspondência com o pedido de tutela
antecipada;
(3) Exposição da lide principal;
(4) Direito que se busca realizar,
apontando para o juiz a probabilidade do
direito.
(5) “Periculum in mora”: perigo do dano ou
do risco ao resultado útil do processo.
(6) Na petição inicial do pedido de tutela
antecipada antecedente, o autor
informará o valor da causa do pedido
principal.
• Assim, no momento da conversão
do pedido de tutela antecipada
antecedente nos autos do pedido
principal, não será exigido
recolhimento de novas custas.
b) Decisão e aditamento/emenda nos
mesmos autos (s/novas custas - §§ 3º e 4º)
Júlia Santa Rosa de Luna
i) deferimento da TA – aditamento (art.
303, § 1º - 15 dias): em caso de deferimento
da tutela antecedente, há o prazo de 15 dias
para o aditamento da inicial de modo a
transformar o pedido antecipado em
pedido principal.
ii) indeferimento da TA – emenda (art. 303,
§ 6º - 05 dias): em caso de indeferimento da
tutela antecipada, há a determinação de
emenda da inicial no prazo de 5 dias para
transformar o pedido antecipado em
pedido principal.
c) Não aditamento/emenda – extinção
(485, CPC)
• Se, eventualmente, a parte não
fizer o aditamento ou a emenda no
prazo estabelecido (15 dias/5 dias),
o juiz extinguirá o processo sem
análise do mérito.
4.11. Estabilização da tutela antecipada
antecedente
a) Funcionamento da técnica da
estabilização no Brasil (304 e § 1º)
• Se for concedida a tutela
antecipada antecedente sem que
haja impugnação do réu, são
estabilizados os seus efeitos,
tornando-se perenes. Entretanto,
no prazo de dois anos, qualquer das
partes poderá solicitar a revisão da
tutela antecipada estabilizada por
motivos diversos (em outro
processo).
b) Extinção e honorários (304, § 1º)
• Estabilizados os efeitos da tutela
antecipada, será o processo extinto
(artigo 304, § 1º, do CPC). Obs.: a
doutrina afirma que se aplica ao art.
304, §1º do CPC, analogicamente, o
disposto no art. 701, caput, CPC.
c) Hipóteses de não cabimento da
estabilização
• Não há estabilização da tutela
antecipada fora das hipóteses do
art. 303, CPC. O artigo citado só fala
de tutela antecipada em caráter
antecedente.
• Assim, não há estabilização nos
casos de tutela cautelar, tutela de
evidência nem na tutela antecipada
incidental.
d) Condição para não ocorrência da
estabilização: recurso? (304, caput)
• Conforme o art. 304, caput, CPC,
para não ocorrer a estabilização da
tutela, deve haver recurso. Nesse
caso, há duas interpretações para a
palavra “recurso”:
1º) acepção técnica – é a acepção jurídica,
ou seja, trata-se do recurso em si: agravo de
instrumento ou embargos de declaração.
2º) acepção atécnica: nesse caso, o réu
poderia evitar a estabilização por qualquer
meio. O termo recurso, nesse caso, não foi
utilizado em sua acepção técnica, sendo
sinônimo de qualquer tipo de impugnação,
tais como petição do réu expondo sua
discordância, contestação, etc. Assim,
qualquer destas manifestações seria
suficiente para impedir a estabilização da
decisão. Esta é a posição dominante (STJ, 3ª
Turma, Resp. 1.760.966-SP, Rel. Min. MA
Belizze, j. 04.12.2018).
e) Revisão, reforma ou invalidação da TA
estabilizada (304, §§ 2º a 4º CPC) (s/limite
temático – diferente da rescisória)
(concessão de TA - 26 ENFAM)
• O fato de a tutela ter se estabilizado
não tira o seu caráter provisório.
• O CPC estabelece que qualquer das
partes poderá ajuizar uma nova
Júlia Santa Rosa de Luna
ação para revisar, reformar ou
invalidar a tutela estabilizada.
Nessa nova ação revisional,
qualquer motivo pode ser alegado,
inexistindo limite temático.
f) Prazo para a ação revisional (304, § 1o e
§ 5º, CPC) (02 posições)
• Existem duas grandes posições
acerca do prazo para a ação de
reforma, revisão ou invalidação:
1ª Corrente - prazo de dois anos contados
da sentença do 304, § 1º (304, § 5º, CPC).
• De acordo com o artigo 304, § 5º, o
prazo para ação revisional é de 2
anos contados da sentença do
artigo 304, § 1º, CPC, período no
qual não existe coisa julgada
material. Posição majoritária.
2ª Corrente: Teresa Arruda Alvim Wambier
afirma que inexiste prazo para a revisão,
dada a inconstitucionalidade do prazo de 2
anos estabelecido pelo novo CPC. Isto
porque toda tutela provisória é emitida a
partir de um juízo de cognição sumária,
logo, não tem capacidade de se perenizar
eternamente. Ademais, em se tratando de
juízo de probabilidade, a impossibilidade de
revisão violaria o princípio constitucional do
acesso à justiça.
g) Coisa julgada e cabimento de ação
rescisória após 02 anos (27 ENFAM) (03
posições)
• É outra discussão polêmica, a qual
possui três posições:
1ª Corrente: não faz coisa julgada e,
portanto, não cabe rescisória (sempre cabe
revisional).
2ª Corrente: não faz coisa julgada e não
cabe rescisória (só ação revisional no prazo
de 2 anos – Enunciado 27 ENFAM). É a
posição que prevalece na doutrina. Após o
prazo de 2 anos, não se tem coisa julgada,
tem-se estabilidade dos efeitos da decisão
de forma imutável e definitiva
3ª Corrente: faz coisa julgada e cabe
rescisória após o prazo de 2 anos da
revisional (casos do art. 966). Segundo essa
posição, no prazo de 2 anos cabe revisional,
podendo ser alegado qualquer tema. Após
esse prazo, há mais 2 anos para a ação
rescisória (apenas nas hipóteses do artigo
966 do CPC).
h) Juizados Especiais (enunciado 163
FONAJE), Fazenda Pública (Enunciado 130
CJF) e rescisória (Enunciado 43 CJF)
• O Enunciado 163 do FONAJE afirma
que, nos juizados especiais, não
cabe estabilização de tutela
antecipada. Isso porque o pedido
de tutela antecipada antecedente é
incompatível com o sistema dos
juizados.
Obs.1: é possível a estabilização de tutela
antecipada antecedente em face da
Fazenda Pública (Enunciado 130, II JDPC).
Obs.2: conforme Enunciado 43, CJF, não
ocorre a estabilização da tutela antecipada
requerida em caráter antecedente quando
deferida em ação rescisória.
4.12. Tutela cautelar antecedente
(conservativa)
• A tutela cautelar, tanto quanto a
antecipada, integra o gênero das
“tutelas provisórias de urgência”,
que são decisões precárias dadas
com base em situação de risco
(perecimento do direito ou
resultado útil do processo)
conforme art. 300, CPC.
• A diferença entre tutela antecipada
e tutela cautelar está na natureza
Júlia Santa Rosa de Luna
da medida. Se ela for satisfativa,
será tutela antecipada. Entretanto,
se a decisão proferida conservar os
bens, pessoas ou provas do
processo, será tutela cautelar.
Assim, o traço característico da
tutela provisória cautelar é a
conservatividade.
Exemplos de tutela cautelar: arresto e
separação de corpos.
Observação: as tutelas cautelares de
urgência podem ser pedidas em caráter
antecedente ou incidental. Elas serão
incidentais quando, no bojo do pedido
principal, for feito o pleito cautelar. Assim,
não há menção de rito de cautelares
incidentais no CPC (nem de tutela
antecipada incidental), pois elas seguem o
rito do pedido principal. Entretanto, para a
tutela cautelar antecedente, o CPC
disciplina o assunto entre os artigos 305 a
310.
a) inicial sumarizada (extrema urgência)
(valor da causa – Enunciado 44, CJF)
O art. 305, CPC, traz quatro requisitos da
petição inicial da tutela cautelar
antecedente:
• Indicação da lide e seu fundamento
(indicação do pedido principal);
• Exposição sumária do direito que se
objetiva assegurar (verossimilhança);
• “Periculum in mora” - perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo;
• Indicação do valor da causa (Enunciado
44, CJF).
CPC, art. 305: “A petição inicial da ação que
visa à prestação de tutela cautelar em
caráter antecedente indicará a lide e seu
fundamento, a exposição sumária do direito
que se objetiva assegurar e o perigo de dano
ou o risco ao resultado útil do processo.
Parágrafo único. Caso entenda que o pedido
a que se refere o caput tem natureza
antecipada, o juiz observará o disposto no
art. 303.”
ENUNCIADO 44 – “É requisito da petição
inicial da tutela cautelar requerida em
caráter antecedente a indicação do valor da
causa.”
b) procedimento (306 e 307)
• O procedimento da tutela cautelar
antecedente é variável.
“Art. 306. O réu será citado para, no prazo
de 5 (cinco) dias, contestar o pedido e
indicar as provas que pretende produzir.”
“Art. 307. Não sendo contestado o pedido,
os fatos alegados pelo autor presumir-se-ão
aceitos pelo réu como ocorridos, caso em
que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias.
Parágrafo único. Contestado o pedido no
prazo legal, observar-se-á o procedimento
comum.”
i) COM LIMINAR: contraditório após o
pleito principal.
• Se o pedido de tutela cautelar
antecedente for concedido
liminarmente, não haverá
contraditório na cautelar
antecedente. O requerido será
intimado para cumprir a decisão,
podendo interpor agravo de
instrumento.
• A parte (autor), nesse caso, terá 30
dias para transformar o pedido
antecedente em pedido principal.
ii) SEM LIMINAR: citação, contestação (05
dias), provas e decisão.
• Se o pedido de tutela cautelar
antecedente não for concedido
Júlia Santa Rosa de Luna
liminarmente, o réu será citado
para contestar em 5 dias, podendo
haver produção de provas e, no
final, o juiz proferirá decisão. Essa
decisão poderá conceder ou negar
a tutela cautelar antecedente.
c) formulação do pedido principal em 30
dias (sem novas custas) e consequências da
não formulação/efetivação da tutela
concedida (308 e 309)
• O autor tem, a partir da efetivação
da tutela antecedente, o prazo de
30 dias (úteis) para, no próprio
pedido de tutela cautelar
antecedente, formular o pedido
principal - CPC, art. 308.
• Caso o autor não formule o pedido
principal no prazo de 30 dias úteis,
o juiz extinguirá o processo sem
julgamento do mérito.
• Se o juiz não conceder a tutela
cautelar antecedente, o prazo de 30
dias não começa a correr. Assim,
esse prazo de 30 dias só existe
quando houver deferimento da
tutela cautelar. Se, efetivamente,
não houver esse deferimento, a
qualquer momento a parte poderá
entrar com o pedido principal.
“Art. 308. Efetivada a tutela cautelar, o
pedido principal terá de ser formulado pelo
autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em
que será apresentado nos mesmos autos
em que deduzido o pedido de tutela
cautelar, não dependendo do
adiantamento de novas custas processuais.
§ 1º O pedido principal pode ser formulado
conjuntamente com o pedido de tutela
cautelar.
§ 2º A causa de pedir poderá ser aditada no
momento de formulação do pedido
principal.
§ 3º Apresentado o pedido principal, as
partes serão intimadas para a audiência de
conciliação ou de mediação, na forma do
art. 334, por seus advogados ou
pessoalmente, sem necessidade de nova
citação do réu.
§ 4º Não havendo autocomposição, o prazo
para contestação será contado na forma do
art. 335.”
“Art. 309. Cessa a eficácia da tutela
concedida em caráter antecedente, se:
I - o autor não deduzir o pedido principal no
prazo legal;
II - não for efetivada dentro de 30 (trinta)
dias;
III - o juiz julgar improcedente o pedido
principal formulado pelo autor ou extinguir
o processo sem resolução de mérito.
Parágrafo único. Se por qualquer motivo
cessar a eficácia da tutela cautelar, é
vedado à parte renovar o pedido, salvo sob
novo fundamento.”
4. Principais questões
4.13. Tutela da evidência (SATISFATIVA)
• A tutela de evidência não é fundada
na urgência.
a) Funcionamento da técnica
• A técnica da tutela de evidência
funciona com base em duas
premissas:
1º) O direito do autor é altamente provável;
e decretada a ordem de entrega do objeto
Júlia Santa Rosa de Luna
2º) O réu não será capaz de formular defesa
séria/idônea.
• Diante da combinação desses dois
elementos, o sistema, em razão da
razoabilidade temporal, possibilita
a concessão da tutela de evidência,
de modo que o autor usufrua do
“bem da vida” pretendido.
b) Inicial completa (formulação do pedido
principal) (Tutela de evidência SÓ
INCIDENTAL)
• A tutela de evidência só existe na
modalidade incidental, pois não há
urgência.
c) Hipóteses de cabimento (04 + parte
especial) (ampliação e intepretação
extensiva - 30 e 31 ENFAM e 48 do CJF)
Além das hipóteses de tutela de evidência
da parte especial (ex.: busca e apreensão do
Decreto Lei 911/1969; liminar das
possessórias do art. 562, CPC), existem
quatro outras hipóteses previstas na parte
geral do CPC:
“Art. 311. A tutela da evidência será
concedida, independentemente da
demonstração de perigo de dano ou de
risco ao resultado útil do processo, quando:
I - ficar caracterizado o abuso do direito de
defesa ou o manifesto propósito
protelatório da parte;
II - as alegações de fato puderem ser
comprovadas apenas documentalmente e
houver tese firmada em julgamento de
casos repetitivos ou em súmula vinculante;
III - se tratar de pedido reipersecutório
fundado em prova documental adequada
do contrato de depósito, caso em que será
custodiado, sob cominação de multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova
documental suficiente dos fatos
constitutivos do direito do autor, a que o
réu não oponha prova capaz de gerar
dúvida razoável.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II
e III, o juiz poderá decidir liminarmente.”
Enunciados 30 e 31, ENFAM:
“30) É possível a concessão da tutela de
evidência prevista no art. 311, II, do
CPC/2015 quando a pretensão autoral
estiver de acordo com orientação firmada
pelo Supremo Tribunal Federal em sede de
controle abstrato de constitucionalidade ou
com tese prevista em súmula dos tribunais,
independentemente de caráter vinculante.
31) A concessão da tutela de evidência
prevista no art. 311, II, do CPC/2015
independe do trânsito em julgado da
decisão paradigma.”
Enunciado 48, CJF: “ENUNCIADO 48 – É
admissível a tutela provisória da evidência,
prevista no art. 311, II, do CPC, também em
casos de tese firmada em repercussão geral
ou em súmulas dos tribunais superiores.”
para todos os casos do art. 927,
CPC.
3ª) O inciso III, art. 311, CPC, cita a hipótese
da ação de depósito. Trata-se de medida
rápida e adequada para recuperação da
coisa pelo depositante.
4ª) O inciso IV, art. 311, CPC, trata dos casos
em que a petição inicial possui elementos
suficientes dos fatos constitutivos do direito
do autor, seguida de contestação que não
traz os elementos mínimos que provem o
direito do réu.
• A hipótese do inciso IV, art. 311,
CPC, autoriza o julgamento
antecipado do mérito (art. 355,
CPC), mas também autoriza a tutela
de evidência.
c) Possibilidade de concessão liminar (311,
parágrafo único)
• De acordo com o art. 311, § único,
CPC, a concessão da liminar só pode
ocorrer nas hipóteses dos incisos II
e III do art. 311. As hipóteses dos
outros incisos dependem da
resposta do réu.

Observações:

1ª) Boa parte da doutrina chama a hipótese

do art. 311, I, CPC, de tutela da evidência
sanção, pois o juízo castiga o abuso.

2ª) O inciso II, art. 311, CPC, trata dos casos

em que há prova documental suficiente
para comprovar o direito do autor somada
à existência de tese firmada em julgamento
de casos repetitivos ou em súmula
vinculante.

• Sobre essa segunda hipótese, há os

Enunciados 30 e 31 (ENFAM) e
Enunciado 48 (CJF), que permitem a
ampliação do inciso II, art. 311, CPC,

Júlia Santa Rosa de Luna