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Cada abordagem conceitual traz uma diferente compreensão a respeito do que é tutela provisória e
representa diferentes estágios do pensamento da doutrina sobre o tema. Vamos à cada uma dessas fases. -
Tutela provisória ou de cognição sumária como tutela cautelar. No CPC/73, a tutela provisória foi concebida
como provimento cautelar, a partir dos ensinamentos de Piero Calamandrei (obra: Introdução ao estudo
sistemático dos procedimentos cautelares) e de Carnelutti. A tutela cautelar deveria ser prestada em um
processo cautelar autônomo com, basicamente, dois propósitos: o de conservar bens e situações jurídicas
para fruição futura ou o de proporcionar, desde logo, a fruição dessa proteção. Por isso, o tema foi
organizado com base na diferença de estrutura dos provimentos jurisdicionais: enquanto nos processos de
conhecimento e execução, os provimentos eram definitivos, o processo cautelar dava lugar a provimentos
provisórios. No mais, a tutela cautelar era marcada pela acessoriedade, pois vista como um instrumento a
assegurar o resultado útil do processo (instrumento do direito material).
→ Traço essencial da tutela cautelar: a provisoriedade, para conservar ou satisfazer de forma
antecipada. Portanto, tudo que é provisório, é cautelar e deve ser postulado em um processo autônomo.
Os autores, da doutrina nacional, que tratam melhor do tema sobre essa perspectiva são Galeno
Lacerda e José Roberto dos Santos Bedaque.
- Tutela provisória ou de cognição sumária como tutela de urgência. Em 1974 (um ano após a
publicação do Código Buzaid), uma parcela minoritária da doutrina, representada por Ovídio Baptista da
Silva, propôs novo critério distintivo da tutela provisória, não mais em termos estruturais, mas sim em
virtude de sua função. Assim, a tutela cautelar tinha como escopo acautelar dano irreparável ou de difícil
reparação (conservativa e temporária), ao passo que a antecipação de tutela se destinava a satisfazer desde
logo o direito. E as distinções não terminam por aí. Além disso, enquanto a cautelar seria veiculada por
processo autônomo, a tutela antecipada assumiria essencialmente a forma incidental no processo de
conhecimento, já que se pretenderia à mesma tutela, mas antecipadamente TUTELA CAUTELAR -
TUTELA ANTECIPADA Conservativa Satisfazer o direito da parte Contra um dano irreparável ou de
difícil reparação Contra o perigo da demora Temporária Provisória.
Em suma, verificou-se uma bipartição, pois uma parte da tutela provisória foi tratada no processo
cautelar e a outra como uma fase do processo de conhecimento. Em 1994, o legislador encampou, em parte,
a tese de Ovídio Baptista da Silva e fez nítida separação entre antecipação de tutela (art. 273, do CPC/73) e
tutela cautelar (Livro III – CPC/73, arts. 796 a 812). Nessa fase, a tutela provisória acabou sendo sinônimo
de tutela de urgência, a qual assumiria a forma de tutela antecipada ou cautelar.
- Tutela provisória ou de cognição sumária como tutela adequada e efetiva. O terceiro estágio do
conceito de tutela provisória se deve a um desenvolvimento feito por Luiz Guilherme Marinoni a partir da
teoria de Ovídio Baptista da Silva. Com efeito, Marinoni aceitou parte do conceito de tutela cautelar
proposto por esse autor, no que tange às suas características de tutela temporária e voltada ao dano
irreparável ou de difícil reparação. Porém, para Marinoni, a cautelar não seria preventiva, como para Ovídio
Baptista, mas assecuratória ou repressiva. A tutela com fins preventivos, para aquele autor, seria a inibitória.
No mais, Marinoni concorda com a divisão fundamental sob o ponto de vista funcional: uma coisa é
satisfazer e outra é acautelar. Entretanto, o autor destaca particularidades no fundamento e nas hipóteses em
que é permitida a antecipação de tutela, propondo a diferenciação entre tutela de urgência e evidência do
direito já em 1992.
→ O requisito comum das tutelas deixa de ser a urgência e passa a ser a necessidade de distribuição
isonômica do tempo do processo. Trata-se de outorgar tutela efetiva aos direitos, levando em conta a
necessidade de diferenciar situações de urgência e de evidência, a fim de que o tempo do processo fosse
distribuído entre os litigantes a partir da ideia de maior ou menor probabilidade do direito. E o art. 273,
inciso II, do CPC/73, encampa essa ideia da tutela da evidência diante do abuso do direito de defesa ou do
manifesto propósito protelatório do réu.
- Tutela provisória ou de cognição sumária como técnica antecipatória. O quarto passo, na verdade,
parte de uma crítica ao conceito de tutela cautelar como tutela temporária. Parcela da doutrina passou a
entender a tutela cautelar como definitiva, mas de objeto naturalmente instável (se comparado com os
objetos da tutela de conhecimento ou de execução). Ao partir da premissa de que a cautelar pode ser
definitiva, os seus resultados poderão ser provisoriamente fruídos pela parte mediante técnica antecipatória.
É o que dá lugar à tutela provisória. Não se trata de instituto do processo de conhecimento ou de execução,
mas visa obter provimentos que misturam cognição e execução para acautelar ou satisfazer os direitos. Por
isso, o NCPC optou por disciplinála na parte geral do código, já que incide no processo de conhecimento ou
no de execução.
→ Sempre que for necessário distribuir o ônus do processo a partir da ideia de urgência ou evidência,
caberá a utilização da tutela provisória dos artigos 294 a 311.
→ Conceito de tutela provisória à luz do NCPC: é uma proteção provisória (que será,
necessariamente, substituída por uma tutela definitiva), normalmente concedida com base em cognição
sumária (juízo de probabilidade do direito) e cuja função é distribuir o ônus do processo a fim que se possa
satisfazer ou acautelar direitos enquanto o processo não chega ao seu fim.
TUTELA DE EVIDÊNCIA
Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de
dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando: I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou
o manifesto propósito protelatório da parte; II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas
documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante; III -
se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em
que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa; IV - a petição inicial
for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não
oponha prova capaz de gerar dúvida razoável. Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz
poderá decidir liminarmente.
O dispositivo do NCPC aumentou as hipóteses de concessão da tutela satisfativa de evidência, se
comparado com o art. 273 do CPC/73, que positivou apenas a hipótese contida no inciso I do dispositivo
acima transcrito.