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ISOLADA COMEÇANDO DO ZERO

PROCESSO CIVIL DE ACORDO COM O NOVO CPC


AULA 08

DA TUTELA PROVISÓRIA

A tutela provisória é temática tratada no livro V da parte geral do Código de


Processo Civil de 2015, abrangendo os artigos 294 a 311.

Na verdade, a expressão “Tutela Provisória” é gênero, do qual são espécies as


tutelas de urgência e a tutela de evidência. As Tutelas de urgência, por sua vez, se
dividem em tutela de urgência de natureza cautelar e tutela de urgência de natureza
antecipada.

1. DAS TUTELAS DE URGÊNCIA

O Estado realiza a jurisdição sob duas formas: pela cognição, quando o


magistrado, diante dos elementos trazidos aos autos pelas partes (provas), faz a
concreção da norma ao caso abstrato, dizendo a vontade da lei; e pela execução,
quando torna efetiva, vale dizer, real, esta mesma vontade.

Acontece que a prestação não surge instantaneamente, sendo certo que o


adequado decisório apenas se dará após uma longa sequência de atos que levarão
ao convencimento do juiz.

E é justamente nesse interregno (demora-tempo) que o estado de pessoas e


bens pode sofrer mutações (desvio, deterioração, alienação etc.) que, se não
obstadas, levam à inutilização do provimento jurisdicional.

De nada adiantaria determinar a partilha de bens em divórcio se um dos


cônjuges já tivesse dilapidado os bens ao tempo da prolação da sentença; ou
determinar que o devedor pagasse dívida quando este, no curso do processo de
conhecimento, já tivesse dissipado os bens que possuía.

Tanto pessoas quanto os bens podem, em virtude da demora, enfrentar


situação de risco de dano, por conduta de um dos litigantes ou por evento ocasional,
casos que poderão comprometer o resultado útil do processo. Para a proteção
provisória de todos eles tem cabimento a atuação da tutela de urgência de natureza
cautelar.

Existem situações, entretanto, em que a urgência vai mais além, justificando


a entrega imediata do próprio objeto da relação litigiosa, sob pena de perecimento do
direito postulado pela parte: são os casos de tutela de urgência de natureza
antecipada.

Imagine, por exemplo, que o plano de saúde negasse autorização de cirurgia


a determinado paciente, levando-o a ajuizar ação de obrigação de fazer. Sendo a
cirurgia de urgência, não poderia o autor esperar todo o transcorrer da relação
processual para só ao final poder submeter-se a intervenção cirúrgica. Assim, seria
necessária providência de urgência que possibilite o gozo imediato do próprio objeto
do litígio (no caso, a obrigação de fazer).

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Dentro de uma perspectiva do amplo acesso, o objetivo da jurisdição é


conceder a solução justa, ou seja, apta a produzir efeitos que restabeleça, em efetivo,
a ordem jurídica abalada.

O CPC de 2015 tratou das tutelas de urgência (de natureza cautelar e


antecipada) em sua parte Geral, Livro V.

1.1. ASPECTOS COMUNS ÀS TUTELAS DE URGÊNCIA

A) Considerações gerais

A tutela de urgência de natureza cautelar é baseada na necessidade de


prevenir situações de perigo de dano ou risco o resultado útil do processo. Ressalte-
se que a mesma não tem caráter satisfativo, uma vez que não chega a antecipar o
objeto do litígio.
No sistema do CPC de 1973 a tutela cautelar era fornecida através de um
processo autônomo, de natureza cautelar. Assim, ele era apresentado como um
terceiro gênero de manifestação da jurisdição, ao lado dos processos de
conhecimento e de execução. A postulação de uma medida de urgência de natureza
cautelar demandava a apresentação de petição inicial, endereçada ao juízo vinculado
ao processo principal, com a necessidade de distribuição e recolhimento das
respectivas custas processuais.
Visando promover a celeridade e simplificação dos procedimentos, o CPC de
2015 passa a possibilitar a concessão de tutela de urgência de natureza cautelar
dentro da mesma relação processual que visa preservar, sem que haja, portanto,
a necessidade de instaurar novo processo, com os pagamento das respectivas custas.
É o que chamamos de “sincretismo processual”. Portanto, diante da
sistemática atual, é possível que, dentro de uma mesma relação processual,
tenhamos providências de natureza cognitiva, executiva ou cautelar.
Por outro lado, a tutela antecipada é medida de urgência de caráter
satisfativo que visa conferir à parte o gozo imediato e provisório do objeto perseguido
na demanda.

B) Requisitos

Considerando que as medidas de urgência têm caráter, muitas vezes,


restritivo de direitos, não podem ser as mesmas concedidas sem que estejam
preenchidos certos requisitos.
Destarte, é mister que haja a presença de dois requisitos, previstos no artigo
300 do CPC, a saber: probabilidade do direito (conhecido tradicionalmente como
fumus boni iuris) e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (conhecido
como periculum in mora).
A probabilidade do direito pode ser traduzida como a aparência do bom
direito. Aqui o direito da parte requerente necessita ser plausível, provável, verossímil.
Destarte, o magistrado deverá verificar, através das provas disponíveis, se
existem resquícios de um direito merecedor de proteção.

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O periculum in mora é requisito que se relaciona ao risco efetivo de que a


ausência da medida cause dano ou comprometa o resultado útil do processo. A parte
não pode simplesmente alegar um risco. Ela tem de provar a sua alegação. O risco,
ademais, tem de ser relevante. A mera suposição de risco ou ameaça é pouco para o
deferimento da medida.

C) Características

As tutelas de urgência possuem as seguintes características:

 Revogabilidade: Não obstante tenham sido deferidas, as medidas de


urgência podem ser revogadas a qualquer tempo, quando não estiverem presentes
os requisitos que as ensejaram, a teor do disposto no artigo 296 do CPC.
Imaginemos que numa ação de divórcio, a esposa, com receio de ver frustrada
uma futura partilha de bens, tenha requerido uma tutela de urgência cautelar de
sequestro dos bens do casal, sob a alegação de que o esposo estaria vendendo os
bens. O magistrado deferiu o pedido. Ocorre que, posteriormente, o marido demonstra
que, na verdade, apenas teria vendido um bem do casal que se encontrava em
péssimo estado de conservação e o dinheiro da alienação teria sido depositado numa
conta conjunta do casal. Verificando tal fato, por óbvio, não haveria mais razões para
tal medida permanecer perante o mundo jurídico, haja vista que o perigo de dano
restaria ausente. Destarte, a medida de urgência mereceria revogação.
Ressalte-se que, consoante os termos do artigo 298 do CPC, na decisão que
revogar a medida de urgência, o juiz deverá fundamentar o seu convencimento de
modo claro e preciso.

 Provisoriedade: conforme afirmado alhures, a medida de urgência de


natureza cautelar, ao lado da medida de urgência de natureza antecipada, estão
inseridas como espécies de “tutela provisória”.
Significa dizer que a medida já nasce com a vocação para sobreviver por
tempo delimitado, precisamente entre a sua efetivação e o fim do processo em que
a mesma fora deferida.
Assim, por exemplo, uma medida cautelar de arresto futuramente
desaparecerá e será substituída pela penhora. Da mesma forma, uma medida de
natureza antecipada que tenha fixado uma obrigação de fazer será futuramente
substituída por uma decisão definitiva que julgar o mérito da demanda.

 Sumariedade: decorrente do caráter perfunctório, superficial, do juízo de


cognição exercido. Aqui o magistrado decide com base num juízo de mera
probabilidade (fumus boni iuris). Tanto o é que, após o transcorrer da demanda e a
coleta exaustiva dos elementos de prova, a medida de urgência poderá ser revogada.

D) Distinção

A tutela de urgência cautelar não tem o escopo de satisfazer antecipadamente


o direito material posto em questão na causa principal. O que se obtém na tutela de
urgência de natureza cautelar é tão somente uma prevenção contra risco de dano

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imediato que afeta interesse litigioso da parte e que compromete a eficácia da tutela
definitiva a ser outorgada no processo de mérito.
Já a tutela de urgência de natureza antecipada busca conceder à parte o gozo
provisório e imediato do próprio direito perseguido.
Assim, enquanto a tutela cautelar visa apenas assegurar o objeto do
processo, a tutela de urgência antecipada concede, de imediato, tal objeto. Noutros
termos, a tutela cautelar “assegura para, ao final, “satisfazer”, ao passo que a tutela
antecipada “satisfaz” para, ao final, “assegurar”.

1.2. DA TUTELA ANTECIPADA

A tutela de urgência de natureza antecipada visa conceder, de imediato, à


parte, o gozo provisório da tutela pretendida no pedido inicial.
Cabe-nos, nas próximas linhas, analisar o procedimento para o seu
deferimento, seja em caráter incidental, seja em caráter preparatório.

A) Tutela de natureza antecipada requerida em caráter incidental

A tutela antecipada em caráter incidental será pleiteada através de simples


requerimento, desde que preenchidos os requisitos legais. De igual modo, aqui não
haverá necessidade de recolhimento de custas adicionais.

B) Tutela de natureza antecipada requerida em caráter antecedente

Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, o


procedimento observará o seguinte:

 petição inicial: pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação


do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e
do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.
Na petição inicial, o autor terá de indicar o valor da causa, que deve levar em
consideração o pedido de tutela final.

 indeferimento da tutela: caso entenda que não há elementos para a concessão


de tutela antecipada, o órgão jurisdicional determinará a emenda da petição inicial em
até 5 (cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de o processo ser extinto sem
resolução de mérito.

 deferimento da tutela e aditamento: concedida a tutela antecipada, o autor


deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a
juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15
(quinze) dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar. Não realizado o aditamento, o
processo será extinto sem resolução do mérito.

Vale salientar que o aditamento dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas
custas processuais.

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 procedimento comum: o réu será citado e intimado para a audiência de


conciliação ou de mediação. Não havendo autocomposição, seguir-se-á o
procedimento, com a apresentação da contestação e demais termos.

 estabilização da medida de urgência de natureza antecipada: A tutela


antecipada torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o
respectivo recurso, caso em que o processo será extinto.

Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar
ou invalidar a tutela antecipada estabilizada. A tutela antecipada conservará seus
efeitos enquanto não revista, reformada ou invalidada por decisão de mérito proferida
na ação ajuizada.

Para instruir a petição inicial da ação, qualquer das partes poderá requerer o
desarquivamento dos autos em que foi concedida a medida, devendo a demanda ser
distribuída por dependência perante o juízo em que a tutela antecipada foi concedida.

O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada extingue-


se após 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo.

A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos
respectivos efeitos só será afastada por decisão que a revir, reformar ou invalidar,
proferida em ação ajuizada por uma das partes.

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