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PROCESSO CIVIL IV

6ª Apostila

FACE
7º PERÍODO - CURSO DE DIREITO
PROFª: KATHE MENEZES 
OBS.: A leitura deste roteiro não exime o aluno da leitura dos livros
indicados pelo professor, que se faz necessária para o devido
aprendizado e resultado nas avaliações desta matéria.

TUTELA ANTECIPADA X MEDIDA LIMINAR

Fredie Didier Jr. discorre sobre o tema: “Por medida liminar deve-se
entender medida concedida in limine litis, no início da lide, sem que tenha
havido ainda a oitiva da parte contrária.

A medida liminar origina-se deriva do Poder Geral de Cautela do


Judiciário e tem como finalidade principal a garantia de que o provimento
jurisdicional final, seja ele qual for, estará garantido, tendo por requisitos
o fumus boni iuris e o periculum in mora

A medida liminar é, portanto, um provimento judicial de caráter


meramente acautelador do direito agravado no instante do ajuizamento
da respectiva ação.

A medida liminar muito se assemelha a tutela antecipada, no


entanto, esta possui requisitos mais rígidos por força da sua
natureza ANTECIPATÓRIA DO PROVIMENTO JURISDICIONAL.

Considerando a relevância da natureza antecipatória, o legislador fixou


requisitos mais sólidos para que tal provimento possa ser concedido,
sendo pressupostos: prova inequívoca, a verossimilhança das
alegações e a possibilidade de reversibilidade da medida.

Prova inequívoca, é aquela robusta, hábil a convencer o Juiz sobre as


alegações do requerente, trazendo ao conhecimento do magistrado
meios para o seu suficiente convencimento acerca do direito material e
processual posto em litígio.

Carreira Alvim, leciona que: Prova inequívoca deve ser considerada


aquela que apresenta um grau de convencimento tal que, a seu respeito,
não possa ser oposta qualquer dúvida razoável, ou, em outros termos,
cuja autenticidade ou veracidade seja provável.

A verossimilhança é a aparência de realidade, o juiz deve ser capaz, por


meio da análise das provas apresentadas, de se convencer de que os
fatos ocorreram da forma como narrados e comprovados.

1. TUTELAS PROVISÓRIAS – Lei 13.105/2015

Ainda que com todas as inovações trazidas pela Lei 13.105/15, observa-
se que os conceitos balizares foram mantidos quanto as tutelas
provisórias. Permanecendo a tutela antecipatória como aquela que
proporciona a realização de um direito, e a tutela cautelar aquela
que assegura que o direito da parte eventualmente e futuramente
tenha condições de ocorrer.

O Diploma Processual Civil de 2015 trouxe em seu Livro V as


denominadas tutelas provisórias, que englobam as tutelas de urgência e
as tutelas de evidência.

No parágrafo único do artigo 294, está previsto que ambas a tutelas


podem ser cautelar ou antecipada, concedidas em caráter antecedente
ou incidental no processo. Preservou-se o principio da, não podendo o
juiz conceder a tutela provisória de ofício, mas, fundamentando na
estrutura cooperativa do novo Código, pode consultar a parte se há
interesse.

O CPC de 2015 ressaltou em diversos dispositivos a necessidade da


fundamentação das decisões prolatadas, aplicável também às tutelas
provisórias. Nessa nova temática, o julgador obrigatoriamente tem que
enfrentar todos os fundamentos arguidos pelas partes, tanto em decisões
interlocutórias, como em sentenças e acórdãos, conforme disposto no
artigo 489.

O artigo 297 do CPC/2015, com base no Poder Geral de Cautela,


possibilita ao juiz determinar, incidentalmente no processo, as medidas
que julgar necessárias para efetivação da tutela provisória, visando a
efetividade do processo.
2. DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nas tutelas antecipadas, é preciso demonstrar para o juiz que, além da


urgência, o direito material estará em risco se não conseguir a concessão
da medida. Já nas cautelares, é preciso demonstrar, além da
emergência, que a efetividade de um futuro processo estará em risco se
eu não obtiver a medida de imediato.

Já na tutela cautelar, o risco está na efetividade do processo futuro.


Exemplo: a credora de uma dívida pretende ajuizar ação de cobrança
contra o devedor. Antes de procurar o advogado que cuidará da ação de
cobrança, verifica que o devedor, inadimplente, está vendendo os únicos
bens que possui e que garantiriam o pagamento da dívida que pretende
cobrar.

Como se vê, as tutelas cautelares não garantem a si mesmas,


estando sempre condicionadas a assegurar o resultado útil de outro
processo.

O legislador unificou os procedimentos de tutela cautelar e a antecipação


dos efeitos da tutela, visando simplificá-las e acabar com qualquer dúvida
quanto ao cabimento de uma em detrimento da outra.

Os requisitos para concessão da tutela antecipada ou da tutela cautelar,


antecedente ou incidental, são os mesmos: a) probabilidade do direito, b)
perigo de dano, e c) risco ao resultado útil do processo.

Tem-se assim que há urgência sempre que dividida as alegações e as


provas com os elementos dos autos, concluindo-se sucintamente que há
maior grau de confirmação do pedido, e que a demora poderá
comprometer o direito provável da parte.

Com relação à tutela de urgência antecipada de natureza satisfativa,


para sua concessão, estabeleceu o legislador ser necessária também a
reversibilidade jurídica da tutela, nos termos do § 3º do artigo 300.

Leciona Marinoni, ainda que o artigo refira-se apenas as tutelas


provisórias antecedentes, sopesando os princípios da duração razoável
do processo e da economia processual “e a necessidade de se privilegiar
as decisões de mérito em detrimento de decisões puramente formais
para causa (...) há fungibilidade entre as tutelas que podem ser obtidas
mediante a técnica antecipatória” (2015, 308.

O CPC/2015 inova na tutela de urgência quando exige a garantia do


juízo, conforme § 1º do artigo 300, ficando ao crivo do julgador.
O CPC prevê a responsabilização da parte por eventuais danos à parte
contrária que a efetivação da tutela de urgência causar (art. 302), sendo
unificado os regimes, aplicando-se a tutela cautelar e a tutela
antecipatória, e a indenização prevista será liquidada nos mesmos autos.

Grande inovação verificada é a estabilidade dos efeitos da tutela


concedida antecipadamente, tornando estável a decisão se o réu, citado,
não interpõe o recurso cabível, autorizando a extinção do processo
liminarmente.

O § 6º do artigo 304 dispõe que a decisão que extingue o processo


quando o réu, devidamente citado, não interpõe o recurso cabível, não
faz coisa julgada material, pois inexiste cognição exauriente, porém, não
influi na estabilidade dos respectivos efeitos.

Segundo Marinoni “nada obsta que a tutela de urgência seja


concedida em qualquer momento do procedimento, inclusive na
sentença”.

2.1. DA TUTELA ANTECIPADA ANTECEDENTE

Trata-se de tutela provisória de natureza satisfativa antecedente a


propositura da ação, através da qual possibilita-se manejar o pedido, tão
somente, para a antecipação da tutela satisfativa, expondo o direito que
se busca e demonstrando o perigo da demora.

Nesse caso, a petição inicial limitar-se-á ao requerimento da tutela


antecipada, expondo amplamente seus fatos e fundamentos, com
apenas a indicação do pedido de tutela final, vinculado o valor da causa
ao valor do pedido final.

Na nova sistemática do código, antes de iniciar o processo, o réu será


citado e intimado para audiência de conciliação ou mediação (artigo 334),
iniciando seu prazo de defesa a partir da realização desta. Assim, após
aditamento da inicial, o réu será citado nesses termos, e não havendo
autocomposição, inicia-se seu prazo para contestação (artigo 335).

Importante consignar que o CPC 2015 trás a possibilidade das partes


manifestarem o desinteresse pela audiência de conciliação ou mediação,
devendo o autor fazê-la na própria exordial, e o réu através de petição
apresentada com 10 (dez) dias de antecedência da data da audiência
(art. 334, § 5º).

A não interposição do recurso fará com que a tutela se torne estável (art.
304), mas não faz coisa julgada material, conservando seus efeitos
enquanto não for revista, refornada ou invalidada por decisão de mérito
proferida em ação autônoma, proposta perante o mesmo juízo por uma
das partes (art. 304, § 2º), no prazo de 2 (dois) anos, contados da ciência
da decisão que extinguiu o processo.

2.2 DA TUTELA CAUTELAR ANTECEDENTE

O legislador dispôs no artigo 301 algumas das tutelas cautelares


previstas no antigo código. Porém trata-se de rol exemplificativo, pois é
possível obter-se tutela cautelar atipicamente, pois são cabíveis outras
medidas idôneas a assegurar o direito, sempre que preenchido os
requisitos comuns a todas as tutelas cautelares.

Os tramites iniciais da propositura da ação com pedido de tutela cautelar


antecedente assimilam-se com os da tutela antecipada antecedente,
limitando-se a demonstrar os requisitos para concessão da tutela
assecuratória, com indicação da tutela final.

Concedida a tutela, será aberto prazo de 30 (trinta) dias para que o autor
formule o pedido principal nos mesmos autos e independente do
recolhimento de novas custas processuais (art. 308).

Nesse procedimento, o réu será citado para no prazo de 5 (cinco) dias


contestar o pedido, sob pena de presunção de aceitação dos fatos (art.
306 e 307).

As partes serão intimadas para audiência de conciliação ou de mediação


(art. 308, § 3º), sendo esta infrutífera, será concedido prazo de 15
(quinze) dias para contestação (art. 308, § 4º), prosseguindo a ação pelo
rito comum.

A tutela cautelar concedida se tornará estável, porém, o legislador


discriminou no artigo 309 o rol de hipóteses as quais cessará os efeitos
da tutela.

A principal inovação da lei 13.105/15 com relação aos processos


cautelares foi a unificação das ações, deixando de existir as ações
cautelares propriamente dita, passando a ser um procedimento na
própria ação principal.

2.3 DA TUTELA DE URGÊNCIA INCIDENTAL

A tutela de urgência, quando incidental no processo, será requerida


através de petição nos próprios autos, demonstrando os requisitos do
fumus boni iuris e o periculum in mora, estabelecidos no artigo 300 do
CPC de 2015.

3 DA TUTELA DE EVIDÊNCIA

A tutela de evidência, prevista no artigo 311 do CPC/2015, pode ser


requerida independentemente da comprovação do perigo de dano ou de
risco ao resultado útil do processo.

São quatro hipóteses:

1) abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da


parte;
2) alegações de fato passíveis de comprovação apenas
documentalmente e se houver tese firmada em julgamento de
casos repetitivos ou em súmula vinculante;

3) pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do


contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de
entrega do objeto custodiado, sob pena de multa;

4) petição inicial instruída com prova documental suficiente dos fatos


constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova
capaz de gerar dúvida razoável.

É possível perceber que a concessão para as tutelas de evidência,


ocorre segundo dois critérios básicos:

1) quando o direito (material) da parte que pleiteia a tutela é evidente, daí


o nome e,

2) quando uma das partes está manifestamente protelando o processo


ou abusando do exercício do direito de defesa, caso em que a tutela da
evidência está vinculada não necessariamente à evidência do direito
material pleiteado, mas à evidência de que é preciso pôr um fim ao
processo.

Nas tutelas da evidência é preciso demonstrar para o juiz que,


independentemente da urgência, o direito é tão evidente, que o caminho
do processo pode ser encurtado. Ou então precisa-se demonstrar que o
ex adverso está protelando tanto o processo, que a sua maior punição
será adiantá-lo, apressando os atos processuais que ele está tentando
retardar.
Por exemplo: O requerido, litigante habitual do Judiciário, apresenta
defesa-padrão fundamentada em jurisprudência ultrapassada e em leis
declaradas inconstitucionais, além de não apresentar impugnação
específica, contestando pedidos que sequer constam da petição inicial e
requerendo a produção de diversas provas. O juiz não precisa observar
todos os procedimentos processuais e marcar audiência de instrução e
julgamento, considerando que está demonstrada a intenção da defesa e
os pedidos de provas representam abuso do requerido.

Na tutela da evidência não existe medida em caráter antecedente, pois,


pela sua própria natureza, a pretensão está relacionada com a
antecipação da sentença de forma que, desde o início do processo, a
pretensão já foi elaborada com fins à obtenção de uma sentença de
mérito e sem urgência.

4 ESTABILIDADE DAS TUTELAS

Algo que ocasionou bastante discussão e que foi alvo de criticas dos
doutrinadores, foi em relação à inovação da estabilidade das tutelas
provisórias, o que não se pode confundir com a coisa julgada.

A estabilidade da tutela ocorre quando o réu não se manifesta visando


exaurimento da cognição, sendo ela por tempo indeterminado.

Sobre a estabilidade das tutelas provisório, ensina MARINONI que:

Apenas a tutela provisória satisfativa fundada na urgência pode ser


automatizada e estabilizada. A tutela da evidência não pode ser
autonomizada e, por conseguinte, estabilizada. A tutela cautelar,
embora possa ser autonomizada, não pode ser estabilizada.

Para desconstituir a estabilidade da tutela, o legislador empregou a


técnica do contraditório eventual, invertendo a iniciativa para o debate,
podendo qualquer das partes, propor ação com intuito de rever, reformar
ou invalidar a tutela estabilizada, denominada por Marinoni de “ação
exauriente”, prevista no § 2º do artigo 304.

O parágrafo 4º do artigo 304 do CPC aponta a obrigatoriedade da ação


exauriente ser instruída com a ação antecedente, na qual foi concedida a
tutela, pois, conforme alhures, aquela ação é uma continuação do debate
iniciado nesta.

Em relação à força da estabilidade após decorrido o prazo para


propositura da ação exauriente, considerando que o legislador vinculou a
afastabilidade da estabilidade à propositura da ação exauriente, se
decorrido seu prazo decadencial, certamente a estabilidade torna-se
indiscutível e imutável.

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